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DEPRESSÃO, DELIRIUM, DISTURBIOS DO SONO, QUEDAS, TONTURA 2 Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4 DEPRESSÃO ................................................................................................ 12 DELIRIUM ..................................................................................................... 33 DISTÚRBIOS DO SONO ............................................................................... 52 QUEDAS ....................................................................................................... 70 TONTURA ..................................................................................................... 87 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 91 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 INTRODUÇÃO A carga de doenças relacionadas aos agravos não-transmissíveis tem se elevado rapidamente e sua prevenção tem sido o maior desafio para a saúde pública. Nessa perspectiva, as quedas de idosos são atualmente uma das preocupações por sua frequência e por trazerem consequências negativas à qualidade de vida dessas pessoas. As quedas em idosos possuem significado muito relevante, pois podem levá-los à incapacidade, injúria e morte; seu custo social é elevado e torna-se maior quando o idoso tem diminuição da autonomia e da independência, ou passa a necessitar de institucionalização. Estudo transversal, com amostra composta por 4.003 idosos (65 anos ou mais) residentes na área de abrangência de unidades básicas de saúde de 41 municípios com mais de 100 mil habitantes, de sete estados brasileiros, mostrou que a prevalência de quedas entre idosos foi de 34, 8%, sendo significativamente maior em mulheres (40,1%); a prevalência de quedas associou-se com idade avançada, sedentarismo, auto percepção da saúde sendo ruim e referência a maior número de medicações de uso contínuo. No Brasil, em 2000, as quedas foram responsáveis por 2.030 mortes na faixa de 60 anos ou mais, ocupando o terceiro lugar na mortalidade por causas externas, tanto entre homens quanto entre mulheres. Em relação à morbidade, as quedas aumentam sua importância, ocupando o primeiro lugar nas internações. Neste mesmo ano, 48.940 pessoas foram hospitalizadas devido à ocorrência de quedas. Em relação às lesões determinadas por esses acidentes, 68,3% são fraturas, chamando a atenção as fraturas de fêmur. Considerando-se sua natureza etiológica múltipla, é importante compreender os fatores relacionados a quedas e traçar o perfil de ocorrência das mesmas, procurando investigar as variáveis envolvidas, uma vez que a eficácia de medidas para prevenção de quedas depende da identificação das variáveis relacionadas com risco de quedas em idosos. 5 Além das variáveis de saúde, de capacidade funcional e relacionadas ao contexto ambiental, outro fator de risco tem sido mencionado na literatura. Trata-se de problemas do sono que, por sua vez, são associados às mudanças fisiológicas do envelhecimento normal, à presença de comorbidades, à depressão e ao uso de medicamentos, entre outros. Há poucos estudos avaliando a relação entre distúrbios do sono no envelhecimento e sua relação com a ocorrência de quedas em indivíduos idosos. Entretanto, vem aumentando o interesse pela compreensão do fenômeno do sono na pessoa idosa, com o intuito de melhorar a qualidade de vida desta população. O sono é um processo fisiológico vital. São caracterizados dois padrões fundamentais de sono: sem movimentos oculares rápidos (NREM, do inglês Non- rapid eyes moviment) e com movimentos oculares rápidos (REM). O sono NREM é composto por quatro etapas em grau crescente de profundidade: os estágios I e II, superficiais, e os estágios profundos III e IV, ou sono delta. No sono NREM há relaxamento muscular comparativamente à vigília, porém é mantida alguma tonicidade basal. O sono REM ou sono paradoxal, embora seja um estágio profundo no tocante à dificuldade de despertar, o indivíduo nessa fase exibe padrão eletroencefalográfico que se assemelha à vigília, sendo este um dos seus aparentes paradoxos. Além disso, apesar da atonia muscular que acompanha este estágio, observam-se movimentos corporais fásicos e erráticos, de diversos grupamentos musculares, principalmente na face e nos membros, bem como emissão de sons. Ou seja, mesmo em meio à inibição motora, há liberação fásica de atividade muscular de localização multifocal. Quanto à arquitetura do sono, em condições normais um indivíduo inicia o sono noturno pelo estágio I do sono NREM, após uma latência aproximada de 10 minutos. Seguindo-se uns poucos minutos no estágio I, ocorre o aprofundamento para o estágio II. Depois de 30 a 60 minutos, instala-se o sono delta. Aproximadamente 90 minutos após o início do sono, acontece o primeiro sono REM, que costuma ter curta duração no início da noite (5 a 10 minutos), completando-se o primeiro ciclo NREM-REM. A saída do sono REM para os estágios superficiais do sono NREM pode ocorrer com intrusão de microdespertar (3 a 15 segundos de duração), sem um despertar completo do indivíduo. 6 Desta forma, cumprem-se cerca de cinco a seis ciclos de sono NREM-REM, durante uma noite de oito horas de sono. A velhice, por si só, não é causa direta de problemas relacionados ao sono, embora torne o idoso mais vulnerável a essas ocorrências.18 Com o envelhecimento, ocorrem mudanças quantitativas e qualitativas do sono. O tempo total de sono noturno diminui significantemente com o avançar da idade, porém tende a manter-se após os 65 anos. A principal mudança ocorre na arquitetura do sono, com a redução percentual do sono de ondas lentas e REM.21 O estágio IV não mais se registra, havendo redução do estágio III e aumento dos despertares noturnos, o que traz como consequência direta sua menor eficiência, principalmente na presença de comorbidades, e do uso de medicamentos para tratar essas condições. As principais doenças relacionadas à má qualidade do sono em idosos são: Depressão, Alterações de humor e ansiedade, Cardiopatia, Diabetes, Doença pulmonar obstrutiva crônica, Dor crônica, Doença gastrointestinal, Alzheimer e Doença de Parkinson. A insônia é a queixa de alteração do sono mais comum entre idosos. De acordo com o DSM IV27 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – IV), a insônia é definida como uma queixa de insatisfação com a qualidade e quantidade do sono, composta por um ou mais dos seguintes sintomas: dificuldade em iniciar o sono, dificuldade em mantero sono, que se caracteriza por frequentes despertares noturnos ou dificuldade em retomar o sono após despertar, despertar precoce e sono não restaurador. 7 Essas queixas, coletivamente denominadas de problemas do sono, são acompanhadas por prejuízo no desempenho de atividades diurnas, indicado por pelo menos um dos seguintes sintomas: fadiga ou baixa energia, sonolência diurna, déficits de atenção, concentração e memória, irritabilidade, hiperatividade e agressão, diminuição no rendimento profissional e nas relações sociais. A insônia pode ser classificada como autoinduzida, secundária ou primária. Os fatores relacionados à insônia autoinduzida são estilo de vida (estresse e fatores ambientais) e interrupção abrupta ou uso abusivo de substâncias psicoativas (álcool, cafeína, hipnóticos, ansiolíticos, sedativos, anfetaminas e opióides); Quanto à insônia Secundária, as principais relações referem-se aos distúrbios do humor (depressão, ansiedade), doenças (artrite, cardiopatia, doença de Parkinson), distúrbios respiratórios durante o sono (apneia do sono) e outros distúrbios do sono (síndrome das pernas inquietas, distúrbios do ritmo circadiano); quanto à insônia primária, ainda não foram identificados os fatores causais relacionados à sua ocorrência. Desta forma, a insônia parece representar a queixa maior de alterações do sono, e envolve um grupo vasto de fatores causais. Em idosos não-institucionalizados, a dificuldade em iniciar o sono foi relatada por 15 a 45% da população; sono fragmentado, em aproximadamente 20 a 65%; despertar precoce em 15 a 54%; e cansaço após noite de sono em aproximadamente 10% da população estudada. O estudo também afirma que a prevalência de insônia é maior em mulheres do que em homens. As consequências clínicas dos problemas do sono em idosos podem resultar frequentemente em desorientação, alteração cognitiva, retardo psicomotor e diminuição da função física, com implicações diretas nas atividades de vida diária (AVDs), risco aumentado de acidentes e traumas, pior estado de saúde e aumento do risco de morte. Há uma associação direta entre noites de sono de má qualidade e o desempenho funcional diurno. Desta forma, sugere-se que a má qualidade do sono constitui fator independente de risco de queda em idosos. 8 Sendo assim, buscou-se com esta revisão sistematizar os estudos que examinaram a relação entre distúrbios do sono, desempenho funcional e ocorrência de quedas em idosos da comunidade. 9 10 Problemas do sono são comuns com o avançar da idade, e ocorrem em mais da metade dos indivíduos acima dos 65 anos. Apesar da prevalência elevada, a velhice por si só não é causa de distúrbios do sono. Essas alterações comumente estão associadas à comorbidades e a piores escores de qualidade de vida. Intervir preventivamente pressupõe a realização de investigações detalhadas e bem direcionadas. Ações preventivas baseadas em evidências claras e pontuais 11 trazem como consequência melhor condição de vida e bem-estar da população- alvo. Neste sentido, percebe-se que ainda se destina pouca atenção a avaliação da qualidade do sono em idosos e seus possíveis desdobramentos. Por outro lado, tanto os distúrbios do sono, quanto a ocorrência de quedas comprometem a qualidade de vida dos idosos. Investigar esta interação torna-se relevante por revelar possíveis associações ainda pouco conhecidas, cuja melhor compreensão pode trazer benefícios a esta população. Até o presente, a maioria dos estudos que investigaram a relação entre distúrbios do sono e quedas em idosos são de caráter transversal. Entretanto, a ocorrência de quedas em idosos possui natureza etiológica multifatorial, e assim os estudos prospectivos são mais refinados para determinar e explorar os fatores de risco de quedas em idosos. As amostras de conveniência não são generalizáveis; portanto, determinados resultados não podem ser aplicados a grupos específicos, como idosos institucionalizados, ou os adultos jovens. Entretanto, mesmo diante de algumas limitações, os estudos são consistentes, de amostras consideráveis, e apontam para um cuidado especial, e a necessidade de avaliação e observação mais criteriosa da qualidade do sono do idoso, e suas possíveis consequências. 12 DEPRESSÃO Envelhecer. Uma fase do ciclo da vida pela qual, provavelmente, todos nós iremos passar um dia. Aliás, uma fase que está ficando cada vez mais larga na pirâmide etária, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os avanços tecnológicos e a melhora na qualidade vida estão aumentando a expectativa de vida das pessoas, fazendo com que o número de idosos cresça a cada ano. Em 1980 a população brasileira com 60 anos ou mais de idade era de 7.197.964 pessoas, em 2010 este número saltou para quase 20 milhões. E a previsão é de que em 2050 a população com 60 anos ou mais seja de mais 60 milhões de brasileiros. A pirâmide está se invertendo, característica de países desenvolvidos, por isso é importante pensarmos em como queremos envelhecer e nos males que mais acometem os idosos. Fonte: IBGE A depressão é uma das doenças mentais que mais atinge os idosos. A prevalência da doença e como ela se manifesta pode variar de acordo com a situação vivida pelo idoso. “Para aqueles que vivem com a família e estão inseridos na comunidade, a prevalência de sintomas depressivos gira em torno de 15% da 13 população idosa. Esse número pode dobrar quando nos deparamos com idosos institucionalizados, que estão em casas de repouso ou asilos. Em pacientes hospitalizados por problemas de saúde, a prevalência chega a quase 50%”, explica Fabio Armentano, coordenador da equipe de psicogeriatria do AME Psiquiatria Dra. Jandira Masur. A depressão consiste em enfermidade mental frequente no idoso, associada a elevado grau de sofrimento psíquico. Na população geral, a depressão tem prevalência em torno de 15% (Kaplan et al., 1997); em idosos vivendo na comunidade, essa prevalência situa-se entre 2 e 14% (Edwards, 2003) e em idosos que residem em instituições, a prevalência da depressão chega a 30% (Pamerlee et al., 1989). No idoso, a depressão tem sido caracterizada como uma síndrome que envolve inúmeros aspectos clínicos, etiopatogênicos e de tratamento. Quando de início tardio, frequentemente associa-se a doenças clínicas gerais e a anormalidades estruturais e funcionais do cérebro. Se não tratada, a depressão aumenta o risco de morbidade clínica e de mortalidade, principalmente em idosos hospitalizados com enfermidades gerais. As causas de depressão no idoso configuram-se dentro de um conjunto amplo de componentes onde atuam fatores genéticos, eventos vitais, como luto e abandono, e doenças incapacitantes, entre outros. Cabe ressaltar que a depressão no idoso frequentemente surge em um contexto de perda da qualidade de vida associada ao isolamento social e ao surgimento de doenças clínicas graves. Enfermidades crônicas e incapacitantes constituem fatores de risco para depressão. Sentimentos de frustração perante os anseios de vida não realizados e a própria história do sujeito marcada por perdas progressivas - do companheiro, dos laços afetivos e da capacidade de trabalho - bem como o abandono, o isolamento social, a incapacidade de reengajamento na atividade produtiva, a ausência de retorno social do investimento escolar, a aposentadoria que mina os recursos mínimos de sobrevivência, são fatores que comprometem a qualidade de vida e predispõem o idoso ao desenvolvimento de depressão. 14 Aspectos Clínicos da Depressão e Diagnóstico O diagnóstico da depressão passa por várias etapas: anamnese detalhada, com o paciente e com familiares ou cuidadores, exame psiquiátricominucioso, exame clínico geral, avaliação neurológica, identificação de efeitos adversos de medicamentos, exames laboratoriais e de neuroimagem. Estes são procedimentos preciosos para o diagnóstico da depressão, intervenção psicofarmacológica e prognóstico, especialmente em função da maior prevalência de comorbidades e do maior risco de morte. Em pacientes idosos, além dos sintomas comuns, a depressão costuma ser acompanhada por queixas somáticas, hipocondria, baixa auto-estima, sentimentos de inutilidade, humor disfórico, tendência autodepreciativa, alteração do sono e do apetite, ideação paranóide e pensamento recorrente de suicídio. Cabe lembrar que nos pacientes idosos deprimidos o risco de suicídio é duas vezes maior do que nos não deprimidos (Pearson & Brown, 2000). Os sintomas (Tabela 1), em geral, estão associados à presença de doenças físicas ou ao uso de medicamentos. 15 As pessoas que têm depressão na terceira idade estão divididas em dois grupos. Aqueles que nunca tiveram depressão e passam e ter. Aqueles que já vêm de um quadro de depressão ao longo da vida. No primeiro caso, o componente hereditário é menor, a doença fica muito mais relacionada a dificuldades trazidas pelo envelhecimento em si, tais como a problemas cognitivos e quadros demenciais, perda de papel social e limitações trazidas por doenças físicas. Já o segundo grupo envolve pacientes cujo histórico nos remete a quadros depressivos prévios, tratados ou não, e que podem apresentar características de cronificação. PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A DEPRESSÃO QUE ATINGE A POPULAÇÃO IDOSA FRENTE À QUE ACOMETE OS MAIS JOVENS Clinicamente, uma das principais diferenças entre a depressão que atinge a população idosa frente à que acomete os mais jovens são as queixas somáticas, muito mais intensas e freqüentes nos mais velhos. “Frequentemente os sintomas depressivos nesta população traduzem-se por queixas de dores pelo corpo, falta de apetite e insônia, perda de energia para realizar as tarefas do dia-dia, sendo a tendência ao isolamento e a apatia dois sinais de alerta para a identificação da doença. Em um primeiro momento, muitas vezes não há a exteriorização de sintomas depressivos mais clássicos, como tristeza, angústia, crises de choro. Em geral, o quadro de depressão no idoso é menos exuberante”, destaca Armentano. 16 6 FATORES PRINCIPAIS ASSOCIADOS À DEPRESSÃO: Fator 1: aspectos sociodemográficos. Os fatores sociodemográficos que apresentaram algum tipo de associação foram a idade, a escolaridade, a au- topercepção de situação financeira ruim e o sexo feminino. Os eventos estressores da vida, possivelmente, são mais esperados e, por isso, melhor tolerados por idosos mais velhos, podendo, dessa maneira, não mais evocar depressão nesses indivíduos. Além disso, os idosos com menos idade que vivem em (ILPI- Instituição de Longa Permanência para Idosos) geralmente são os que apresentam mais doenças graves ou comprometimento cognitivo severo e, por isso, podem ser mais propensos a desenvolver sintomatologia depressiva. O grau de instrução, associado à depressão, pode ser justificado por uma reação em cadeia, em que o baixo nível de escolaridade pode levar à inadequação de renda e impedir o acesso a cuidados de saúde, lazer e apoio social. Fator 2: condições de saúde. A depressão é mais frequentemente associada à autopercepção de saúde ruim, à dor, à deficiência visual, à presença de comorbidades, ao Acidente Vascular Cerebral (AVC) e ao maior risco de desnutrição. A auto avaliação da saúde é uma variável complexa que capta múltiplas dimensões da relação entre saúde física e outras características pessoais e sociais. No idoso, a autopercepção de saúde é influenciada pelas condições de suporte familiar, estado conjugal, oportunidades de educação e emprego, renda, capacidade funcional, condições crônicas de saúde, estilo de vida, dentre outros. O processo de institucionalização favorece a vivência de perdas em vários desses aspectos da vida, aumentando a vulnerabilidade a quadros depressivos e contribuindo para uma pior percepção do estado de saúde. A dor é uma experiência vital que afeta de maneira integral o ser, ocasionando sofrimento, que quando prolongado e severo, como na maioria dos casos de dor crônica, afeta a qualidade de vida de quem a sofre de maneira significativa, gerando maior risco de comorbidade psiquiátrica, podendo esta relação ser de dupla via, sendo a dor fator de risco ou consequência de transtornos 17 psíquicos. Em pessoas idosas, os mecanismos de cronificação da dor estão relacionados à diminuição da capacidade de adaptação que acompanha o envelhecimento, ao aumento da sensibilidade dolorosa, às comorbidades médicas e psiquiátricas e ao isolamento social. Idosos com déficits visuais estão mais propensos a desenvolver quadros depressivos, uma vez que podem precisar alterar seu estilo de vida e sua independência funcional, requerendo mais assistência nas atividades básicas de vida diária, quando comparados com aqueles que não têm tal deficiência. A associação entre doenças crônicas e sintomas depressivos é bimodal, de modo que a depressão pode precipitar o surgimento de doenças crônicas ou estas podem exacerbar sintomas depressivos por meio dos efeitos diretos na função cerebral ou através de alterações psicológicas e psicossociais. A depressão está diretamente relacionada ao estado nutricional, uma vez que interfere no centro de controle neural, responsável pela fome, ansiedade e compulsões alimentares, podendo levar à desnutrição ou à obesidade. As questões econômicas, sociais, biológicas, psíquicas e alimentares também são determinantes do estado nutricional dos indivíduos idosos institucionalizados, tendo a depressão sido identificada como a maior causa de perda de peso nesse grupo populacional. A relação entre depressão e AVC é complexa e também pode ocorrer nos dois sentidos. O surgimento de quadro depressivo em pacientes pós-AVC tende a ser visto como uma reação psicológica compreensível resultante da perda ou das incapacidades associadas à doença, sendo, por este motivo, subdiagnosticado . No primeiro ano após o AVC, considerado o período agudo, a depressão é a 18 complicação psiquiátrica mais prevalente e a que tem sido mais associada a um pior prognóstico, uma vez que os pacientes com essa complicação apresentam recuperação funcional mais lenta, comprometimento das atividades da vida diária, internação hospitalar mais longa na fase aguda e maior mortalidade. Fator 3: capacidade funcional. Baixa capacidade ou incapacidade funcional e limitação funcional pela dor. Define-se como capacidade funcional a condição que o indivíduo possui de viver de maneira autônoma e de se relacionar em seu meio. Pessoas idosas com depressão tendem a apresentar maior comprometimento físico, social e funcional, afetando sua qualidade de vida, cursando em redução ou perda da independência funcional. Fator 4: comportamento. Vários tipos de comportamento foram associados à depressão, desde agressão física, abuso verbal e agir psicótico, neuroticismo, pensamentos suicidas recentes, indisponibilidade em ajudar aos outros e em participar de atividades, dificuldade em resolver problemas e em estabelecer bons relacionamentos. Dentre esses fatores, a ideação suicida, tentativas de suicídio e o suicídio merecem especial atenção, uma vez que representam instâncias da vida — expectativas, doença, sofrimento — que se tornaram difíceis de suportar, representando o auge da insatisfação com o viver. Investigações a respeito da ideação suicida são problemáticas, uma vez que esse fenômeno é pouco per- guntado por pesquisadores e também muito pouco relatado pelos idosos, e, quando isso ocorre, pode ser confundido com processos depressivos.A população institucionalizada tende a declarar com mais frequência a presença de pensamentos suicidas do que a não institucionalizada. Fator 5: cognição. Os estudos também apresentaram divergências quanto a este aspecto. Em quatro deles, a depressão foi associada a um pior estado cognitivo e em duas pesquisas a um melhor estado cognitivo. A grande frequência de queixas cognitivas em idosos depressivos levou à criação do termo pseu- dodemência depressiva, caso em que os sintomas de depressão são acompanha- dos pelas dificuldades de concentração e atenção e pela falta de memória. Muitas alterações cognitivas observadas em idosos com depressão se assemelham às observadas em quadros demenciais, enquanto outras se assemelham ao envelhe- cimento normal. 19 Fator 6: medicamentos. A polifarmácia e o uso de antidepressivos e de psicotrópicos foram associados à sintomatologia depressiva. Os pacientes internados em (ILPI- Instituição de Longa Permanência para Idosos) merecem atenção especial quanto ao consumo de psicofármacos, tendo em vista seu uso corriqueiro em quadros demenciais, depressões e distúrbios comportamentais. Estima-se que a prevalência de psicofármacos em asilados chegue a 63%, sendo esses medicamentos usualmente prescritos por médicos não psiquiatras em decorrência da necessidade de controle comportamental, presença de sintomas de depressão e transtornos do sono. Outros fatores associados que merecem destaque são: a solidão, depressão prévia e a falta de apoio social ou insatisfação com o mesmo. Na velhice, o fenômeno depressivo em si pode representar a recorrência de episódios ante- riores que se manifestaram em outras épocas da vida: pode ser a continuidade de uma depressão crônica anterior do tipo Distimia, pode ser uma depressão reativa, pode ainda surgir como consequência do prejuízo na qualidade de vida proporcionada por alguma outra doença orgânica concomitante ou, simplesmente, pode ser um episódio originado após os 60 anos. Vivenciar a solidão pode indicar uma rede social insatisfatória e tem sido um dos fatores de risco para a depressão mais citado pelos diferentes investigadores, além de um dos principais motivos para a admissão em instituições. Os eventos es- tressores, como o luto, situações em que há dificuldade de se estabelecer relações interpessoais e a falta de apoio social e familiar, também podem contribuir para a manifestação de sintomas depressivos. Como isso afeta a vida do paciente? A depressão não tem uma causa específica, podendo ser desencadeada por uma mistura de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Além de fatores ambientais, inerentes ao envelhecimento, a depressão em idosos pode se manifestar a partir de uma série de problemas relacionados à terceira idade como o afastamento da família, a perda do papel social com a aposentadoria, falecimento do cônjuge e solidão. Limitações físicas e fatores clínicos como AVC, infarto e 20 doenças cardiovasculares também podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro de depressão. Além da qualidade de vida, a doença pode também interferir em aspectos físicos à medida que leva o indivíduo a uma menor disponibilidade para colocar em prática medidas essenciais para a manutenção de uma boa qualidade de vida e para controle de outros problemas de saúde, tais como manter uma dieta saudável e praticar exercícios físicos regularmente. A depressão dificulta o tratamento de outras doenças físicas. Estudos mostram que a depressão tem uma influência muito negativa no prognóstico de pacientes que sofreram infarto, por exemplo. Aspectos Neurobiológicos da Depressão A identificação do início e das condições específicas em que surge um quadro depressivo constitui fator de extrema importância para o diagnóstico etiológico da depressão e das comorbidades, para o tratamento e prognóstico. Assim, o paciente idoso, cuja depressão tenha tido início em épocas remotas de sua vida e se prolongado na velhice, tende a apresentar componente genético significativo. Por outro lado, naquele cuja depressão tenha iniciado após os 65 anos, a interferência genética tende a ser menos intensa e os fenômenos neurobiológicos tendem a ser mais importantes. Obviamente, não se pode excluir a ação de componentes de natureza psíquica que se acumulam ao longo da vida. Determinados fatores neurobiológicos podem conduzir à depressão de início tardio por aumentarem o risco e a vulnerabilidade do idoso à depressão, tais como alterações neuroendócrinas (redução da resposta ao hormônio estimulador da tireóide), alterações de neurotransmissores (redução da atividade serotoninérgica e noradrenérgica), alterações vasculares e processos de degeneração de circuitos corticais e subcorticais responsáveis pelo processamento e elaboração da vida afetiva e emocional. 21 A produção diminuída de serotonina pelos Núcleos da Rafe e a diminuição dos receptores para estes neurotransmissores representam fatores de vulnerabilidade à depressão no idoso. Comprometimento dos Núcleos da Base, particularmente do Núcleo Caudado e do Tálamo, tem sido associado com depressão de início tardio. Hipofrontalidade, constatada por neuroimagem funcional, como o SPECT cerebral (Single Photon Emission Computerized Tomography), demonstrando a redução da atividade cortical pré-frontal, também tem sido correlacionada com depressão de início tardio. Na depressão com sintomas psicóticos (delírios e alucinações), os recursos de neuroimagem estrutural e funcional podem ser aplicados. Kim et al. (1999) desenvolveram estudo comparativo de volumetria de diversas estruturas cerebrais, com a utilização de ressonância magnética, entre dois grupos - 19 idosos com depressão acompanhada de sintomas psicóticos (delírios) e 26 idosos com depressão, porém, sem sintomas psicóticos. Eles constataram volumes significativamente menores nas regiões corticais pré-frontais no grupo de pacientes deprimidos com delírios. No idoso, a depressão com sintomas psicóticos, ansiedade, irritabilidade e instabilidade emocional tendem a predizer o surgimento de distúrbios de comportamento, principalmente, agressividade e agitação psicomotora. Figura: Depressão na terceira idade. Crédito: freshidea – Fotolia. Direitos autorais: freshidea - Fotolia 22 Depressão e Doenças Clínicas Gerais A depressão no idoso costuma manifestar-se por meio de queixas físicas freqüentes e associada a doenças clínicas gerais, sobretudo aquelas que imprimem sofrimento prolongado, levando à dependência física e à perda da autonomia, e que induzem à hospitalização ou institucionalização. Por outro lado, a depressão nesses pacientes agrava as enfermidades clínicas gerais e eleva a mortalidade. Embora com prevalência elevada nas doenças clínicas gerais, a depressão não tem sido adequadamente diagnosticada e tratada. Muitas vezes, os sintomas depressivos são confundidos com a própria doença clínica geral ou como uma consequência “normal” do envelhecimento, sendo pouco valorizados. Depressão e doença clínica geral exercem influência recíproca na evolução clínica do paciente. Em algumas condições específicas, freqüentes no idoso, a prevalência da depressão mostra-se bastante elevada: Doença de Parkinson (40 a 60%); Demência de Alzheimer (30 a 40%); Acidente vascular cerebral (30 a 60%); Doença de Huntington (30 a 40%); Esclerose múltipla (20 a 60%) e Epilepsia (10 a 50%). Quadros como síndrome de Cushing, hipotireoidismo, diabetes mellitus, doenças cardíacas e doenças auto-imunes também possuem prevalência elevada de depressão Cabe lembrar que medicações de ação central podem causar sintomas depressivos, como anti-hipertensivos (alfa-metildopa, clonidina, nifedipina, propranolol, digoxina), antiparkinsonianos (L-dopa, amantadina),benzodiazepínicos (diazepam e outros), além de corticóides. O paciente deprimido diminui o autocuidado, recusa-se a se alimentar e a seguir as recomendações do clínico, permanecendo por maior tempo restrito ao leito 23 ou com pouca mobilidade física. Estes fatores, associados à debilidade clínica geral, podem diminuir a imunidade, com maior vulnerabilidade a processos infecciosos. Depressão e Funções Cognitivas O aparecimento de transtornos depressivos em idosos tem sido considerado um fator de risco para o desenvolvimento posterior de processo demencial. Alguns estudos sugerem que 50% dos pacientes com depressão evoluem para quadro demencial num período de cinco anos. A comorbidade de depressão e demência contribui para o comprometimento de suas capacidades funcionais. A depressão pode conduzir a alterações das funções cognitivas temporariamente, muitas vezes dificultando o diagnóstico diferencial entre este quadro e demência. Por outro lado, em muitos pacientes, o início de um processo demencial do tipo Alzheimer apresenta-se com sintomas depressivos. Além disso, há associação entre sintomas depressivos e comprometimento das funções cognitivas em idosos, com ou sem demência. Queixas de memória são comuns em pacientes deprimidos, sugerindo, tradicionalmente, o aparecimento do termo “pseudodemência depressiva”. De acordo com Stoppe Jr e Louzã Neto (1999), a relação recíproca entre depressão e demência manifesta-se da seguinte maneira: a) Depressão na demência: os sintomas depressivos constituem parte integrante do processo demencial; b) Demência com depressão: coexistência de ambos os fenômenos, sendo que os sintomas depressivos instalam-se em um quadro demencial preexistente; c) Depressão com comprometimento cognitivo: a depressão evolui com dificuldades cognitivas, particularmente, de concentração e de memória recente; 24 d) Demência na depressão: onde o comprometimento cognitivo resulta do processo depressivo (“pseudodemência depressiva”). Tratamento da Depressão no Idoso O tratamento da depressão no idoso tem por finalidade reduzir o sofrimento psíquico causado por esta enfermidade, diminuir o risco de suicídio, melhorar o estado geral do paciente e garantir uma melhor qualidade de vida. O tratamento da depressão, como também de outras doenças neuropsiquiátricas no idoso, constitui um desafio que envolve intervenção especializada. As estratégias de tratamento, comentadas a seguir, envolvem psicoterapia, intervenção psicofarmacológica e, quando necessário, eletroconvulsoterapia. O papel terapêutico da atividade física será analisado em item específico. Inicialmente, há a necessidade da identificação de fatores que estariam desencadeando o surgimento de um processo depressivo, ou mesmo, agravando uma depressão já existente. Assim, é pertinente verificar se o paciente possui alguma doença clínica que esteja relacionada com a depressão e observar se o uso de algum medicamento (antiinflamatório, anti-hipertensivo, remédio para insônia, etc.) não estaria levando ao surgimento de sintomas depressivos. A seguir, convém investigar aspectos de natureza psicológica e psicossocial, como lutos, isolamento social, abandono e outros fatores que tendem a desencadear sintomas depressivos. 25 A intervenção psicoterapêutica, preferencialmente com profissionais especializados em idosos, ajuda a identificar os fatores desencadeadores do processo depressivo, contribuindo para a orientação dos familiares, dos cuidadores e do próprio paciente. Atividades do tipo terapia ocupacional, participação em atividades artísticas e de lazer também têm seu papel no tratamento do idoso deprimido. A intervenção psicoterapêutica, particularmente indicada para idosos, é a modalidade denominada de psicoterapia breve. Esta modalidade, além de minimizar o sofrimento psíquico do paciente, ajuda o idoso deprimido a reorganizar seu projeto de vida. É uma terapia prospectiva, voltada para o presente e para o futuro, com duração, em geral, de seis meses. Quando os sintomas da depressão colocam em risco a condição clínica do paciente e quando sofrimento psíquico é significativo, faz-se necessária a intervenção psicofarmacológica. Recomendam-se os antidepressivos de segunda geração, por constituírem medicamentos mais seguros para os idosos. A depressão não tratada coloca em risco a vida do paciente e eleva muito seu sofrimento, como visto anteriormente, não se justificando o não tratamento da depressão. O tratamento psicofarmacológico da depressão no idoso depende essencialmente do perfil de tolerabilidade do paciente em relação aos antidepressivos. 26 Os ISRS (inibidores seletivos da recaptação de serotonina) constituem a primeira escolha, sobretudo, citalopram e sertralina. Dentre os medicamentos desta categoria, estes dois têm sido os mais estudados na população idosa. Paroxetina e fluoxetina, além de outros menos comuns em idosos, como venlafaxina, também têm sido prescritos. Em geral, os antidepressivos tricíclicos não constituem a primeira escolha para pacientes idosos devido aos efeitos adversos, principalmente anticolinérgicos. Quando necessário prescrever medicamento dessa classe, recomenda-se a nortriptilina, iniciando-se com baixas doses e com elevação cautelosa das mesmas. Deve-se ter atenção para os efeitos adversos dos medicamentos prescritos e para o risco de interação medicamentosa. Devido à presença de várias enfermidades que comumente acometem os idosos, eles tendem a fazer uso de vários medicamentos, com risco elevado de interação medicamentosa com potencialização de efeitos adversos. Especialmente, deve-se evitar drogas que produzam ou potencializem efeitos anticolinérgicos, hipotensão postural, distúrbios do sistema de condução cardíaca e delirium. A associação do tratamento psicofarmacológico com psicoterapia tem demonstrado bons resultados. Quando o paciente tem risco iminente de suicídio e uma resposta rápida é necessária, em quadros catatônicos que não respondem ao tratamento medicamentoso e quando o paciente não tem tolerabilidade aos psicofármacos, a eletroconvulsoterapia (ECT) constitui opção valiosa e segura para o tratamento da depressão. Eventualmente, podem ocorrer episódios de delirium e de distúrbios cognitivos, em geral transitórios. Cabe salientar que a eletroconvulsoterapia somente pode ser efetuada dentro dos parâmetros determinados pelo Conselho Federal de Medicina, entre eles, a realização do ECT em ambiente hospitalar, sob anestesia geral e com equipe especializada, respeitando-se a condição clínica geral do paciente. Consideram-se contra- indicações absolutas ao ECT os quadros de hipertensão intracraniana e a ocorrência de infarto agudo do miocárdio (3 meses) ou acidente vascular cerebral (6 meses). 27 Obviamente, recomenda-se exame clínico completo do paciente e de laboratório antes da realização do procedimento, para verificar a existência de outras contra-indicações. Depressão e Atividade Física O fato do paciente com a depressão permanecer no leito por muito tempo, sem praticar atividade física, traz prejuízos acentuados à saúde geral, particularmente no idoso. Do ponto de vista biológico, a não mobilidade física compromete a atividade pulmonar e isto leva ao acúmulo de secreções nas vias respiratórias, predispondo o idoso a desenvolver pneumonias bacterianas. A permanência excessiva no leito, somada à lentificação psicomotora que a depressão provoca, com freqüência desmotiva o idoso andar ou praticar exercícios físicos, e isto leva ao descontrole da pressão arterial com agravamento do quadro hipertensivo, além do comprometimento da circulação periférica, da perfusão cerebral e do próprio funcionamento cardíaco, artrose e outros distúrbios articulares tambémse agravam devido à falta de atividade física do idoso deprimido. Segundo Cooper (1982), o exercício físico, em particular o chamado aeróbio, realizado com intensidade moderada e longa duração (a partir de 30 minutos) propicia alívio do estresse ou tensão, devido a um aumento da taxa de um conjunto de hormônios denominados endorfinas que agem sobre o sistema nervoso, reduzindo o impacto estressor do ambiente e com isso pode prevenir ou reduzir transtornos depressivos, o que é comprovado por vários estudos. Em um estudo desenvolvido por Blumenthal et al. (1999), 156 idosos com desordem depressiva principal (maior ou igual a 13 na escala de Hamilton), com duração de 4 meses, foram divididos em três grupos: Grupo de Medicamento (GM) – cloridrato de sertralina (inibidor seletivo de recaptura de serotonina); 28 Grupo de Exercício (GE) – a uma intensidade de 70 a 85% da freqüência cardíaca de reserva, com duração de 45 minutos (10 minutos de aquecimento; 30 minutos pedalando ou andando forçadamente ou correndo levemente; 5 minutos de volta à calma), com 3 sessões semanais, e Grupo Combinado – medicamento associado ao exercício. Ao final de 16 semanas, os três grupos apresentaram resultados semelhantes, com redução dos níveis de depressão, conquanto os pacientes sob medicamento tenham mostrado uma resposta inicial mais rápida. Os autores concluem que a atividade física regular deve ser considerada como uma alternativa não-farmacológica do tratamento do transtorno depressivo. Estes mesmos sujeitos foram acompanhados durante os seis meses seguintes, concluindo-se, ao final, que os sujeitos do GE apresentaram menores taxas de recaída que os sujeitos do GM, evidenciando que a terapia através da atividade física é viável e é associada com benefício terapêutico, especialmente se o exercício é mantido ao longo do tempo (Babyak et al., 2000). Miranda et al. (1996) também verificaram, em 27 idosos com média de idade de 70 anos, que 45 minutos de atividade física aeróbia diminuíram a tensão e a depressão. A atividade física regular deve ser considerada como uma alternativa não-farmacológica do tratamento do transtorno depressivo. O exercício físico apresenta, em relação ao tratamento medicamentoso, a vantagem de não apresentar efeitos colaterais indesejáveis, além de sua prática demandar, ao contrário da atitude relativamente passiva de tomar uma pílula, um maior comprometimento ativo por parte do paciente que pode resultar na melhoria da auto-estima e auto-confiança. Strawbridge et al. (2002), objetivando comparar os efeitos de níveis mais elevados de atividade física em depressão prevalente ou incidente em indivíduos portadores e não-portadores de incapacidades, realizaram estudo longitudinal de acompanhamento, por cinco anos, em 1947 adultos [idade média - 63 anos; amplitude de 50 a 94 anos; 56 % mulheres] envolvidos no Alameda County Study. Os achados (resumidos na Tabela 2) mostraram efeitos protetores da atividade 29 física na depressão em indivíduos idosos, independentemente de portarem ou não incapacidades. São vários os mecanismos que têm sido propostos, através dos quais a atividade física pode reduzir a incidência de depressão; contudo, sem ainda mostrarem conclusões definitivas, dois mecanismos constantemente discutidos incluem níveis aumentados de dois tipos de neurotransmissores pós-exercício, as monoaminas e as endorfinas. Os aspectos preventivos da atividade física para Doenças e Agravos Não- Transmissíveis (DANT), tais como diabetes e doenças cardíacas, podem ser importantes devido à forte associação entre saúde física e prevenção da depressão na velhice. Outros mecanismos possíveis incluem aptidão funcional melhorada e aumento da auto-estima, como resultado de maiores níveis de atividade física; idosos fisicamente ativos podem interagir mais e estabelecer relações com aqueles que entram em contato em razão da própria atividade física. Do ponto de vista da saúde mental, no idoso, a lentificação psicomotora e a não mobilidade física provocam baixa auto-estima, diminuição da sua participação na comunidade e a redução do círculo das relações sociais. 30 Como consequência, são agravados o sofrimento psíquico, a sensação de incapacidade funcional e os sentimentos de isolamento e de solidão. Por outro lado, a atividade física tem sido associada a vários fatores favoráveis a uma melhor qualidade de vida no idoso, implementando melhor perfusão sanguínea sistêmica e, particularmente, cerebral. É evidente o benefício da atividade física para a redução dos níveis de hipertensão arterial, para a implementação da capacidade pulmonar e para prevenção de pneumopatias. Ganho de força muscular e de massa óssea e desempenho mais eficiente das articulações são outros benefícios que o idoso obtém com a prática regular e adequada de atividade física, constituindo-se em importante fator de prevenção de quedas e outros acidentes, que também se apresentam como comorbidades em relação à depressão. Do ponto de vista mental, a atividade física, sobretudo quando praticada em grupo, eleva a autoestima do idoso, contribui para a implementação das relações psicossociais e para o reequilíbrio emocional. Capacidade de atenção concentrada, memória de curto prazo e desempenho dos processos executivos (planejamento de ações sequenciais logicamente estruturadas e capacidade de autocorreção das ações) constituem funções cognitivas imprescindíveis na vida cotidiana e que são estimuladas durante a prática de exercícios bem planejados. Embora haja necessidade de maior clareza quanto aos mecanismos neurobiológicos e psicológicos envolvidos na recuperação do paciente, admite-se que a atividade física regular contribua para a minimização do sofrimento psíquico causado pelo quadro depressivo. A influência do sexo na terceira idade Muitos ainda vêem o sexo na terceira idade como um tabu, mas uma vida sexual saudável faz parte da qualidade de vida de qualquer pessoa, inclusive dos 31 idosos. Por isso, problemas relacionados ao sexo também podem contribuir para o desenvolvimento de depressão. Homens que passam por cirurgia de próstata e que podem vir a ficar impotentes, por exemplo, mulheres na menopausa e que experimentam a sensação de perda da libido e dor durante a relação, baixa autoestima ou até mesmo o cansaço trazido pela velhice, são fatores que podem mexer com o psíquico de forma determinante. Além da satisfação física, prazer e libertação, o sexo na terceira idade também ajuda o idoso a se manter bem nesta fase. O fato de sair com o parceiro, namorar, demonstrar afeto, tudo isso contribui para uma boa qualidade de vida. Mas, é importante lembrar que, assim como em qualquer outro momento da vida, sexo exige proteção. A presença da família e o tratamento Nunca considerar uma alteração no comportamento do idoso como sendo algo normal do envelhecimento. Se existe alteração no comportamento, na forma como o idoso se apresenta, se está mais quieto e isolado, comendo menos, mais apático, menos ativo, tudo isso precisa ser sempre levado em consideração. Ainda enfrentamos grandes dificuldades pelo fato de as pessoas considerarem o aparecimento de sintomas depressivos, alterações cognitivas e declínio funcional como sendo próprios do processo natural de envelhecimento e que, portanto, não requerem atenção e tratamento. Isso atrasa a busca por ajuda especializada e prejudica intensamente o tratamento. O envelhecimento normal é o envelhecimento saudável, e a família pode e deve oferecer ajuda ao perceber mudanças. 32 O tratamento une a combinação de medicamentos antidepressivos, outras medicações acessórias, se for preciso, e a abordagem de outros aspectos da vida, como a psicoterapia, a retomada de atividadesque contribuam para um papel social na comunidade, a retomada do convívio social, estimular os exercícios físicos e o bom cuidado da saúde. Comentários Finais A depressão constitui condição mental nem sempre diagnosticada, o que favorece a cronificação desta enfermidade, agravando o sofrimento psíquico do paciente. Além disso, devido à íntima relação entre depressão e doenças clínicas gerais no idoso, a não identificação e o não tratamento da depressão contribuem para o agravamento de eventuais doenças orgânicas que acometem o paciente, aumentando a morbidade e o risco de morte. Por outro lado, a atividade física contribui de diferentes maneiras para melhorar a condição clínica geral e a condição mental do idoso deprimido. Do ponto de vista biológico, a atividade física tem sido associada a vários fatores favoráveis a uma melhor qualidade de vida no idoso, principalmente no que tange à perfusão sanguínea sistêmica e cerebral com redução dos níveis de hipertensão arterial; implementação da capacidade pulmonar com prevenção de pneumopatias; ganho de força muscular e de massa óssea com melhor desempenho das articulações. 33 DELIRIUM Delírio é um distúrbio agudo, transitório e em geral reversível, flutuante da atenção, da cognição e do nível de consciência. As causas incluem quase todos os distúrbios ou drogas. O diagnóstico é clínico, com testes laboratoriais e imagens para identificar a causa. O tratamento consiste em correção da causa e medidas de suporte. Altera a capacidade de atenção, cognição e consciência dos indivíduos afetados. Trata-se ainda de uma desordem grave, sub-reconhecida e, frequentemente, fatal que pode afetar qualquer faixa etária. No entanto, é muito comum entre os idosos principalmente em internações de longa permanência como um sinal de alguma desordem aguda que necessita de investigação. Ou ainda como trajetória natural de doenças avançadas que seguem para fase final de vida. O delírio pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum entre idosos. Pelo menos 10% dos pacientes idosos internados em hospital têm delirium; 15 a 50% apresentam delirium em algum período durante a hospitalização. O delírio também é comum depois de cirurgia e em residentes de clínicas de repouso e pacientes de UTI. Quando ocorre delirium em pessoas mais jovens, geralmente resulta de uso de drogas ou distúrbios sistêmicos com risco de morte. 34 Um estudo realizado nos EUA indica que as taxas de incidência em pacientes idosos internados após fratura podem ser de 28% a 61%, após procedimento cirúrgico 15% a 53% e durante hospitalizações comuns pode chegar a 3% a 29%. Já a prevalência de idosos que apresentam delirium em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) com ventilação mecânica pode chegar de 60% a 80%. Sem ventilação, essa taxa reduz para 20% a 50%. Por outro lado, cerca de 83% dos pacientes idosos que possuem doenças avançadas podem apresentar delirium na trajetória da doença para a fase final de vida que, primeiramente, deve ser investigado e tratado ou compreendido como o processo natural dessa fase. DELIRIUM X DEMÊNCIA O delírio, algumas vezes, é denominado estado confusional agudo ou encefalopatia tóxica ou metabólica. O delírio e a demência são distúrbios distintos, às vezes difíceis de serem diferenciados. A cognição é afetada em ambos os distúrbios, mas o seguinte ajuda a diferenciá-los: O delirium afeta principalmente a atenção, costuma ser causado por enfermidade aguda ou toxicidade por fármacos (às vezes com risco de morte) e, em geral, é reversível. Demência afeta principalmente a memória, costuma ser causada por alterações anatômicas no encéfalo, tem início mais lento e, em geral, é irreversível. Muitas vezes ocorre delírio em pacientes com demência. Deve-se evitar confundir delirium com demência em pacientes idosos — um erro clínico comum —, em particular quando o delirium se sobrepõe à demência crônica. Nenhum teste laboratorial pode estabelecer definitivamente a causa do comprometimento cognitivo; história e exame físico completos assim como o conhecimento da função basal são essenciais. 35 VISÃO GERAL DO DELÍRIO Etiologia As causas mais comuns do delirium são: Fármacos, particularmente anticolinérgicos, drogas psicoativas e opioides Desidratação Infecção Várias outras condições podem causar delirium. Em cerca de 10 a 20% dos pacientes a causa não é identificada. Os fatores predisponentes incluem distúrbios encefálicos (p. ex., demência, AVC, doença de Parkinson), idade avançada, déficit sensorial (p. ex., visão ou audição prejudicada), intoxicação alcoólica e múltiplos distúrbios coexistentes. Os fatores precipitantes incluem o uso de drogas (particularmente ≥ 3 drogas novas), infecção, desidratação, choque, hipoxia, anemia, imobilidade, desnutrição, uso de cateteres vesicais (se retenção urinária estiver ou não presente), hospitalização, dor, falta de sono e estresse emocional. Insuficiência hepática ou renal não reconhecida pode causar delirium e toxicidade por fármacos prejudicando o metabolismo e reduzindo o clearance de um fármaco previamente bem tolerada. A exposição recente à anestesia também aumenta o risco, em especial se a exposição for prolongada e ocorrer administração de anticolinérgicos durante a cirurgia. Após cirurgia, dor e uso de analgésicos opioides também podem contribuir para o delirium. A diminuição de estímulos sensitivos à noite pode deflagrar o delirium em pacientes de risco. Para pacientes idosos em UTI, o risco de delirium (psicose de UTI) é particularmente alto. Estado epiléptico não convulsivo é cada vez mais reconhecido como uma causa do estado mental alterado em pacientes de UTI. 36 Fisiopatologia Os mecanismos não são completamente compreendidos, mas podem envolver: Comprometimento reversível do metabolismo oxidativo cerebral Múltiplas alterações dos neurotransmissores, especialmente deficiência colinérgica Geração de marcadores inflamatórios, incluindo proteína C-reativa, interleucina-1 beta e 6 e fator de necrose tumoral alfa O estresse de qualquer tipo regula positivamente o tônus simpático e negativamente o parassimpático, prejudicando a função colinérgica e, portanto, contribuindo para o delirium. Os idosos são particularmente vulneráveis à transmissão colinérgica reduzida, aumentando o risco de apresentarem delirium. Independentemente da causa, os hemisférios cerebrais ou os mecanismos de alerta do tálamo e do SAR do tronco encefálico se tornam deficientes. SINAIS E SINTOMAS Delírio é caracterizado principalmente por Dificuldade de focalizar, manter ou desviar a atenção (desatenção). O nível de consciência flutua; os pacientes são desorientados em relação a tempo, e às vezes espaço ou pessoas. Podem ter alucinações, delírios e paranoia. A confusão relacionada a eventos cotidianos e rotinas diárias é comum, assim como alterações de personalidade e afeto. O pensamento torna-se desorganizado e, em geral, a fala é desordenada com evidência de pronúncia indistinta, rapidez, neologismos, erros afásicos ou padrões totalmente caóticos. Os sintomas do delirium oscilam por minutos a horas; podem diminuir durante o dia e piorar à noite. 37 Outros sintomas podem incluir comportamento inadequado, medo e paranoia. Os pacientes podem se tornar irritados, agitados, hiperativos e hiperalertas, ou podem ficar quietos, introvertidos e letárgicos. Pacientes muito idosos com delirium tendem a se tornar quietos e isolados — as alterações podem ser confundidas com depressão. Alguns pacientes alternam entre as duas possibilidades. Em geral, os padrões de sono e alimentação são bastante distorcidos. Em razão dos vários distúrbios cognitivos, a percepção é precária e o julgamento deficiente.Outros sinais e sintomas dependem da causa. DIAGNÓSTICO Exame do estado mental Critérios diagnósticos padrão para confirmar delirium História completa Exame físico direto e testes selecionados para determinar a causa O delírio, particularmente em idosos, em geral é negligenciado pelos médicos. Os médicos devem considerar delirium em paciente idoso que apresenta comprometimento da memória ou atenção. Considerar delirium, bem como demência, em idosos com comprometimento da memória. 38 EXAME DO ESTADO MENTAL Os pacientes com qualquer sinal de comprometimento cognitivo necessitam um exame formal do estado mental. A atenção é avaliada primeiro. Os testes simples incluem repetição imediata do nome de 3 objetos, amplitude de dígitos (capacidade de repetir 7 dígitos em ordem direta e 5 em ordem inversa) e nomear os dias da semana nas ordens certa e inversa. Falta de atenção (paciente não registra instruções ou outras informações) deve ser diferenciado da memória de curto prazo reduzida (em que os pacientes registram as informações, mas as esquecem rapidamente). Os testes cognitivos adicionais são inúteis em pacientes que não conseguem registrar informação. Após a avaliação inicial, pode-se usar um critério padrão de diagnóstico, como Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th Edition (DSM-5) ou Confusion Assessment Method (CAM). As seguintes características são necessárias para o diagnóstico do delirium usando os critérios DSM-5: Perturbação da atenção (p. ex., dificuldade de concentração ou de acompanhar o que é dito) e consciência (i.e., orientação reduzida em relação ao ambiente) A perturbação se desenvolve ao longo de um curto período de tempo (ao longo de horas a dias) e tende a oscilar durante o dia. Alteração aguda na cognição (p. ex., déficits de memória, linguagem, percepção, pensamento) Além disso, deve haver evidências a partir da história, exame físico e/ou testes laboratoriais sugerindo que a perturbação é causada por uma doença médica, uma substância (incluindo fármacos ou toxinas), ou interrupção de substâncias. 39 CAM usa os seguintes critérios: Nível alterado de consciência (p. ex., hiperalerta, letárgico, estuporoso, comatoso) ou o pensamento desorganizado (p. ex., divagação, conversação irrelevante, fluxo ilógico de ideias). EXAME DO ESTADO MENTAL O exame do estado mental é o conhecimento da capacidade mental ativa por meio da avaliação de aspecto geral, comportamento, qualquer crença e percepção incomum ou bizarra (p. ex., delírios, alucinações), humor e todos os aspectos da cognição (p. ex., atenção, orientação, memória). O exame do estado mental é realizado em qualquer indivíduo com alteração do estado mental ou comprometimento da cognição, seja agudo ou crônico. Há várias ferramentas de triagem disponíveis; as seguintes são especialmente úteis: Montreal Cognitive Assessment (MOCA) para triagem geral porque abrange uma ampla variedade de funções cognitivas Miniexame do estado mental ao avaliar pacientes para doença de Alzheimer porque focaliza testes de memória Os resultados basais são registrados e o exame é repetido anualmente e sempre que houver suspeita de alteração do estado mental. Deve-se avisar os pacientes que o registro do estado mental é rotina e que eles não devem ficar constrangidos com a realização do exame. O exame é realizado em uma sala silenciosa, e o examinador deve ter certeza de que o paciente pode ouvir claramente as perguntas. Os pacientes que não falam português como língua principal devem ser questionados na língua em que são fluentes. O exame do estado mental avalia os diferentes parâmetros da função cognitiva. Inicialmente, o examinador deve constatar que o paciente está atento — 40 p. ex., avaliando seu nível de atenção enquanto a história está sendo tomada ou solicitando que ele repita 3 palavras imediatamente. Não é apropriado testar um paciente desatento. Os parâmetros da função cognitiva a serem testados e exemplos de como testá-los incluem: Orientação Teste os 3 parâmetros de orientação: Pessoa (qual é seu nome?) Data/hora (qual é a data hoje?) Local (qual é o nome desse local?) Memória a curto prazo Pedir que o paciente repita o nome de 3 objetos após aproximadamente 2 a 5 minutos. Memória a longo prazo Fazer uma pergunta ao paciente sobre seu passado, como: “Que cor de terno você usou em seu casamento?” ou “Qual era a marca de seu primeiro carro?” Cálculos matemáticos Utilize qualquer teste matemático simples. O teste “7 seriado” é comum: peça ao paciente para começar com 100, subtrair 7 e com os resultados subtrair 7 sucessivamente. Alternativamente pergunte quantas moedas de cinco centavos há em R$ 1,35. Procura de palavras 41 Peça ao paciente para nomear, em 1 min, o máximo de palavras possível em uma única categoria, como artigos de vestuário ou animais. Atenção e concentração Peça ao paciente para soletrar uma palavra de 5 letras em ordem natural e inversa. Em geral, usa-se a palavra “Mundo”. Identificação de objetos Mostrar um objeto, como uma caneta, um livro ou uma régua, e peça que o paciente nomeie o objeto e uma parte dele. Obedecer a comandos Começar com um comando de uma fase, como: “Toque seu nariz com a mão direita”. Depois, um comando de 3 fases, Pegue esse pedaço de papel com a mão direita. Dobrá-lo pela metade. Colocar o papel no chão”. Escrita Pedir ao paciente para escrever uma frase. A sentença deve conter um sujeito e um objeto e deve fazer sentido. Erros ortográficos devem ser ignorados. Orientação espacial Solicite que o paciente desenhe uma casa ou um relógio e marque o relógio com uma hora específica. Ou peça que o paciente desenhe 2 pentágonos se interseccionando. Raciocínio abstrato Peça ao paciente para identificar o tema em comum entre 3 ou 4 objetos (p. ex., são todas frutas, são todos meios de transporte, são todos instrumentos musicais). Peça ao paciente para explicar um provérbio como: “Quem tem telhado de vidro não deve atirar pedras no do vizinho”. 42 Julgamento Peça ao paciente para explicar o que faria em uma situação hipotética: “O que você faria se encontrasse uma carta com selo na calçada?” A resposta correta é colocar no correio; abrir a carta sugere um distúrbio de personalidade. Figura: Para que a consulta tenha bons resultados é necessário que ela seja feita forma mais detalhada, pois o idoso tem mais demandas que outros pacientes. Criador: didesign021. Crédito: Getty Images/iStockphoto. Direitos autorais: didesign021 HISTÓRIA A história é obtida por entrevista com familiares, cuidadores e amigos. Pode determinar se a alteração do estado mental é recente e distinta de qualquer demência basal. A história ajuda a distinguir distúrbio mental de delirium. Ao contrário do delirium, os distúrbios mentais raramente causam desatenção ou consciência flutuante e o seu início quase sempre é subagudo. A deterioração comportamental durante o entardecer (sundowning), que é comum em pacientes institucionalizados com demência, pode ser difícil de diferenciar; novas deteriorações sintomáticas devem ser interpretadas como delirium, até que se prove o contrário. A história também deve incluir o uso de álcool, todas as drogas ilícitas e fármacos comercializados com e sem prescrição, concentrando-se principalmente nos fármacos com efeitos anticolinérgicos e/ou sobre o SNC e em novas adições, 43 interrupções ou alterações na dose, incluindo overdose. Suplementos nutricionais (p. ex., produtos fitoterápicos) também devem ser incluídos. EXAME FÍSICO O exame, particularmente em pacientes que não cooperam completamente, deve enfocar o seguinte: Sinais vitais Estado dehidratação Focos potenciais de infecção Pele, cabeça e pescoço Exame neurológico Resultados podem sugerir a causa como a seguir: Febre, meningismo, sinais de Kernig e Brudzinski sugerem infecção no SNC. Tremor e mioclonia sugerem uremia, insuficiência hepática, ou intoxicação medicamentosa ou certos distúrbios eletrolíticos (p. ex., hipocalcemia, hipomagnesemia). Oftalmoplegia e ataxia sugerem síndrome de Wernicke-Korsakoff. Anormalidades neurológicas focais (p. ex., paralisias de nervos cranianos, déficits motores ou sensitivos) ou papiledema sugerem doença estrutural do SNC. Lacerações na face ou no couro cabeludo, hematomas, edemas e outros sinais de traumatismo craniano sugerem lesão cerebral traumática. EXAMES Os testes geralmente incluem TC ou RM 44 Testes para infecções suspeitas (p. ex., hemograma completo, hemoculturas, radiografia de tórax, exame de urina) Avaliação para hipóxia (oximetria de pulso ou gasometria arterial) Medição de eletrólitos, ureia, creatinina, glicose plasmática e níveis sanguíneos de qualquer droga suspeita de ter efeitos tóxicos Triagem de drogas na urina Se o diagnóstico não está claro, outros testes podem incluir testes de função hepática; medição de cálcio sérico e albumina; TSH, vitamina B12, velocidade de hemossedimentação, AAN; reações sorológicas para sífilis (p. ex., RPR) ou VDRL. Se o diagnóstico ainda permanecer não esclarecido, os exames podem incluir análise do LCR (particularmente para excluir meningite, encefalite ou hemorragia subaracnoidea), medida de amônio sérico e teste para verificar a presença de metais pesados. Se houver suspeita de atividade epilética não convulsiva (sugerida por alterações motoras sutis, automatismos e padrão oscilante de perplexidade e torpor), deve ser realizado o monitoramento do EEG. PROGNÓSTICO As taxas de morbidade e mortalidade são altas em pacientes com delirium e que são hospitalizados ou naqueles que desenvolvem delirium durante a hospitalização; 35 a 40% dos pacientes hospitalizados com delirium morrem em 1 ano. As taxas podem ser parcialmente altas porque esses pacientes tendem a ser mais velhos e ter outras doenças graves. O delirium devido a certas condições (p. ex., hipoglicemia, intoxicação por droga ou álcool, infecção, fatores iatrogênicos, toxicidade por fármacos, desequilíbrio eletrolítico) em geral é rapidamente corrigido com o tratamento. No entanto, a recuperação pode ser lenta (dias e até mesmo semanas ou meses), em especial em idosos, resultando em períodos mais longos de internação, mais complicações, custos mais altos e incapacidade prolongada. Alguns pacientes 45 nunca se recuperam totalmente do delirium. Há maior risco de déficit cognitivo e declínio funcional, institucionalização e morte em até 2 anos após o delirium. TRATAMENTO Correção da causa e remoção de fatores agravantes Cuidados de suporte Tratamento da agitação O tratamento consiste na correção da causa (p. ex., tratar infecção, administrar líquidos e eletrólitos para desidratação) e na remoção de fatores agravantes (p. ex., interrupção do uso de drogas, tratamento de infecção), que podem levar à resolução do delirium. As deficiências nutricionais (p. ex., carência de tiamina ou vitamina B12) devem ser corrigidas e devem ser fornecidas nutrição e hidratação adequadas. MEDIDAS GERAIS O meio ambiente deve ser estável, tranquilo e bem iluminado e incluir sinais visuais para orientar o paciente (p. ex., calendário, relógios, fotografias da família). A frequente reorientação e tranquilização, pela equipe médica do hospital ou pelos membros da família, também pode ajudar. Os déficits sensitivos do paciente devem ser minimizados (p. ex., substituindo-se a bateria de aparelhos auditivos, encorajando os pacientes que necessitam de óculos ou aparelhos auditivos a usá- los). A abordagem deve ser multidisciplinar (com um médico, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes sociais); deve envolver estratégias para aumentar a mobilidade e a amplitude de movimento, tratar a dor e o desconforto, prevenir lesões na pele, melhorar a incontinência e minimizar o risco de aspiração. A agitação pode ameaçar o bem-estar do paciente, de um cuidador ou um membro da equipe médica. Simplificar o regime de medicamentos e evitar o máximo 46 possível o uso de acessos IV, cateteres de Foley e métodos de contenção física (em particular no ambiente do tratamento prolongado) pode ajudar a prevenir a exacerbação da agitação e reduzir o risco de lesão. No entanto, em certas circunstâncias, pode ser necessária a contenção física para impedir que os pacientes causem danos a si mesmos ou a outros. A contenção deve ser realizada por um membro da equipe médica treinado para tal, devendo ser interrompida pelo menos a cada 2 h para prevenir lesão e descontinuada o mais breve possível. O uso de assistentes hospitalares (cuidadores) como observadores constantes pode ajudar a evitar a necessidade de contenção. Explicar a natureza do delirium para os membros da família pode auxiliar a enfrentar a situação. Eles devem ser informados de que habitualmente o delirium é reversível, porém os déficits cognitivos em geral levam semanas ou meses para desaparecerem após a resolução da doença aguda. FÁRMACOS Fármacos, como haloperidol em dose baixa (0,5 a 1,0 mg, VO, IV ou IM, 1 vez e então repetido a cada 1 a 2 h, se necessário). Entretanto, os fármacos não corrigem o problema de base e podem prolongar ou exacerbar o delirium. Antipsicóticos de segunda geração ou atípicos (p. ex., risperidona 0,5 a 3 mg, VO, a cada 12 h, olanzapina 2,5 a 15 mg, VO, 1 vez/dia, quetiapina, 25 a 200 mg, VO, a cada 12 h) podem ser preferíveis porque têm menos efeitos adversos extrapiramidais; no entanto, o uso prolongado em pessoas idosas pode aumentar o risco de AVC e morte. Normalmente, esses fármacos não são administradas por via intravenosa ou intramuscular. Benzodiazepinas (p. ex., lorazepam 0,5 a 1,0 mg VO ou IV, 1 vez, então repetido a cada 1 a 2 h, como necessário) são os fármacos de escolha para delirium causado pela interrupção de álcool ou benzodiazepínicos. Seu início de ação é mais rápido (5 minutos após a administração parenteral) do que os antipsicóticos. Benzodiazepínicos deve ser evitadas se o delirium resulta de outras condições porque esses fármacos agravam a confusão e sedação. 47 PREVENÇÃO Como o delirium agrava muito o prognóstico de pacientes hospitalizados, a prevenção deve ser enfatizada. Os membros da equipe devem ser treinados para adotar medidas para manter a orientação, mobilidade e cognição, bem como assegurar um sono de qualidade, boa nutrição, hidratação e alívio suficiente da dor, particularmente em pacientes idosos. Os membros da família devem ser estimulados a ajudar nessas estratégias. O número e a dose dos fármacos devem ser reduzidos, se possível. PONTOS-CHAVE Delírio, que é muito comum em idosos hospitalizados, é frequentemente causado por fármacos, desidratação e infecções (p. ex., ITU), mas pode ter muitas outras causas. Considerar o delirium em pacientes idosos, particularmente aqueles que manifestam comprometimento da memória ou atenção. A história é feito de familiares, cuidadores e amigos e o exame do estado mental são fundamentais para reconhecer delirium. Avaliar cuidadosamente em pacientes com delirium possíveis causas neurológicas e sistêmicas e gatilhos. Fazer uma revisão meticulosa do uso de fármacos e interromper todos os fármacos potencialmente contributivos. Cerca de 35 a 40% dos pacientes hospitalizados com delirium morrem em 1 ano. Tratar a causa do delirium e fornecer tratamento de suporte, incluindo sedação quando necessário. TABELA 4849 Como avaliar instrumentos para medição da gravidade do delirium? Particularmente em idosos, muitas vezes o diagnóstico é negligenciado. Pois mesclam-se outras doenças, por exemplo, síndromes demenciais com manifestações clínicas semelhantes. Então, é de extrema importância que durante a avaliação do idoso em que haja comprometimento cognitivo, o delirium seja levado em consideração. Uma das recomendações de melhores práticas assistências é que toda a equipe de profissionais da saúde inseridos no cuidado e, principalmente, a equipe de Enfermagem estejam aptos na prevenção, identificação e prestação dos melhores cuidados. Porém uma das maiores dificuldades entre os profissionais é a identificação precoce desta condição. 50 Sendo assim, os principais sinais e sintomas são: Flutuação do nível de consciência; Perda da capacidade de manter um diálogo; Dificuldade de manter atenção; Desorientação tempo espaço; Hipoatividade: os pacientes podem permanecer quietos, isolados e olhar parado ou apresentarem Hiperatividade: com agitação, inquietude e falas desconexas; Alterações no padrão de sono: sonolência diurna e agitação no período noturno; Alucinações, delírios ou paranoias; Alterações de personalidade e de capacidade de demonstrar afeto. Principais intervenções para prevenção e tratamento de delirium: Investigar e tratar as causas; Avaliar sintomas que possam exacerbar o delirium (ex: dor). Atenção especial aos idosos não comunicantes; Identificação precoce dos fatores de risco e precipitantes. Eliminá-los conforme seja possível; Contenção química, se necessário. Contenção mecânica está contraindicada, pois aumenta a agitação e fere o princípio da dignidade humana; Monitoração de sinais vitais e manifestações clínicas que indiquem complicações; Revisar medicações que possam causar ou aumentar o delirium; Administrar medicações prescritas e monitorar resposta; Vincular um profissional que realizará a assistência, evitar muitos profissionais realizando o cuidado no mesmo paciente; 51 Incentivar a presença de um familiar ou pessoa em que o paciente sinta confiança; Educar a família sobre as causas e tratamento; Promover ambiente com iluminação adequada e ausência de ruídos que possam causar incomodo; Retirar equipamentos desnecessários e ruidosos do ambiente; Adaptar objetos de uso diário, por exemplo, livros com letras grandes ou telefones com números maiores; Fornecer acesso a um relógio e calendário; Orientar e reorientar sobre onde eles estão, cada procedimento e cuidados a serem realizados e a condição de saúde; Se identificar sempre ao se apresentar ao paciente; Promover atividades que estimulem a cognição; Incentivar a ingestão de líquidos caso não haja restrições; Considerar a hidratação via intravenosa ou subcutânea aos pacientes incapazes de ingerir por via oral se indicado; Incentivar exercícios de amplitude de movimento mesmo em pacientes acamados e ainda a mobilização precoce sempre que possível; Evitar procedimentos e realização de cuidados durante repouso. Os episódios devem ser levados em consideração durante a história clínica da pessoa. Pois é um importante marcador de vulnerabilidade cerebral de idosos com potencial de desenvolver danos cognitivos permanentes. E ainda como indicador de segurança dos pacientes em hospitais, ambulatórios, domicílio e instituições de longa permanência. Deve ser levado em conta no desenvolvimento tanto de protocolos hospitalares quanto na construção do plano de cuidados individuais. 52 DISTÚRBIOS DO SONO Mais da metade dos idosos que têm acima de 60 anos que moram em casa e 2/3 dos institucionalizados experimentam algum tipo de dificuldade para dormir A perda do sono pode ter sérias consequências nos idosos comprometem a atenção, a capacidade de planejar e de tomar decisões. FATORES QUE INTERFEREM NO SONO DOS IDOSOS: Distúrbios psiquiátricos (depressão/ansiedade); Síndromes demenciais - doenças neurológicas (DP); Inatividade física; Dor crônica; Doenças osteoarticulares; Doenças cardiovasculares/respiratórias; Medicamentos; Causas ambientais; Álcool; 53 Existem aproximadamente 100 tipos de problemas do sono. Os distúrbios mais freqüentes nos idosos são: Insônia; Apnéia do sono; Distúrbios dos movimentos noturnos; Distúrbios do ciclo circadiano; INSÔNIA Insônia pode ser definida como a dificuldade em conciliar e manter o sono. Inclui-se aqui (indevidamente?) também, os casos onde a pessoa julga que seu sono não está sendo suficiente. É bom lembrar que a Insônia, apesar de referida sempre como um estado isolado, normalmente é apenas um sintoma e não a doença em si. Uma das classificações mais simples é quanto à parte do sono comprometida. Assim sendo, teríamos Insônia Inicial, quando a pessoa custa a pegar no sono, a Insônia Intermediária, quando acorda durante a noite e a Insônia Final, quando acorda muito cedo. Assim sendo, a Insônia pode ser tanto a dificuldade de iniciar o sono como de manter o sono ou mesmo a percepção de que o sono não foi reparador. Para alguns autores, o diagnóstico de Insônia exige que, além do dormir mal ou não dormir, exista também as perturbações do bem-estar no dia seguinte. Estas perturbações seriam: fadiga, cansaço fácil, ardência nos olhos, irritabilidade, ansiedade, fobias, incapacidade de concentrar-se, dificuldades de atenção e memória, mal-estar e sonolência. Surpreendentemente, porém, alguns pacientes que relatam passar a noite em claro, dizem-se bem dispostos de dia. Tais pacientes não poderiam ser classificados como verdadeiros insones mas como pessoas com baixa necessidade de sono. Essas pessoas que dormem pouco não se queixam de Insônia e nem mesmo reconhecem a má qualidade do sono como um problema sério em suas vidas. 54 Em termos de gravidade podemos dizer que a Insônia "não mata mas maltrata". Isso quer dizer que a Insônia afeta mais o aspecto psíquico e social da vida do que ameaça o seu componente biológico. Idosos com Insônia tendem a ter mais acidentes. Em relação aos dados estatísticos, podemos dizer que todos os grupos etários, raciais e socioeconômicos apresentam Insônia mas, de modo geral, são as mulheres que mais referem o problema, o qual aumenta com a idade e nas pessoas que vivem sós. O sintoma Insônia tem múltiplas causas que podem ser reunidas em seis grupos. As causas situacionais, as psiquiátricas, as clínicas, as disritmias circadianas, os fatores comportamentais e os distúrbios do sono primários. CAUSAS FARMACOLÓGICAS DE INSÔNIA As drogas consideradas metilxantinas, tais como a cafeína e a teofilina, as drogas simpatomiméticas como a efedrina, o álcool, os corticóides, as tiroxinas, alguns neurolépticos e antidepressivos, particularmente os modernos inibidores seletivos de recaptação da serotonina, todas elas têm grande potencial para causar 55 a Insônia. Uma das informações muito úteis aos clínicos, é em relação aos anti- histamínicos e tranqüilizantes diazepínicos (Valium®, Diempax®, Diazepam®, Lorax®, Dormonid®...) podem causar efeito paradoxal em idosos, ou seja, podem produzir mais Insônia ao invés de melhorá-la. Também o álcool, utilizado em pequenas doses por alguns idosos para induzir ao sono, pode ser uma das causas do sono fragmentado e de má qualidade. CAUSAS MÉDICAS DE INSÔNIA Em geral, qualquer doença crônica capaz de causar dor ou desconforto pode produzir alterações na qualidade do sono. Nos idosos, as causas clínicas mais freqüentemente relacionadas às alterações do sono são: dificuldades urinárias, doenças articulares, bursites, refluxo gastro-esofágico, dificuldades digestivas com flatulência
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