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TUTORIA 1 – INTERNATO DE GO VINÍCIUS MATHEUS PEREIRA ASSUNÇÃO MEDICINA X HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA Referências: FEBRASGO, FEMINA, Zugaib; PAS ≥ 140 mmHg ou PAD > 90 mmHg ou ambas, precedentes a gestação ou manifestadas antes da 20ª semana de gestação, persistindo após 12ª semana pós parto. Classificada como primária (90%) e secundária (10%); colocar esquema de HAS comum aqui. Classificação (ACOG) Leve a moderada: PAS 140-159 mmHg e PAD 90-109 mmHg; Grave: PAS ≥ 160 mmHg e PAD ≥ 110 mmHg. Epidemiologia Em países em desenvolvimento, maioria das mortes maternas estão relacionadas às intercorrências hi- pertensivas. Presente em 0,9-1,5% das grávidas. HAC complica em ~ 6 a 8% das gestações; PE sobreposta em 13 a 40% dos casos. Complicações: PE sobreposta, síndrome HELLP, maior incidência de cesariana, edema pulmonar, IR, RCF, DPP e óbito fetal. Aspectos pré-natais → Consultas e exames pré-natais Rotina individualizada: HAC leve sem complicações = mensais até 28ª semana; quinzenais entre 28ª e 34ª semana; semanal após 34ª semana. Caso necessite de aumento da dose do anti-hipertensivo ou quadros suspeitos de PE sobreposta: retorno no máximo em 1 semana. Suspeita de PE, PA > 160x110 mmHg ou iminência de eclâmpsia: encaminhar a serviço terciário; caso esteja indicado sulfato de magnésio, já iniciar no local de atendimento. Além dos exames do pré-natal, solicitar avaliação da função renal ainda no primeiro trimestre = RELAÇÃO P/C (1ª OPÇÃO), proteinúria de 24 h (2ª opção) – ver se perda é por causa renal. Fundoscopia, ECG, ECO, RX tórax, USG renal devem ser solicitados de forma individualizada. → USG (revisão de USG parte da Ana Flavia!!!) Realizados da mesma forma que o habitual, acrescidos de exames mensais no terceiro trimestre. USG transvaginal inicial, morfológico de 1º trimestre entre 11-13 semanas, morfológico de 2º tri- mestre entre 20-24 semanas (se possível com avaliação cervical). Após 24ª semana e mensalmente: realizar USG obstétrico para avaliar crescimento fetal (risco de RCF pode chegar a 40%; detecção precoce diminui risco de morte fetal em 20%). o Casos suspeitos de RCF: realizar dopplervolocimetria quinzenalmente, além de ou- tros exames para vitalidade fetal (reduz mortalidade perinatal em ~ 30%). o Na prática: dopplervelocimetria 1x/mês em HAC com RCF ou não; com RCF quinze- nal ou semanal. → Prevenção da pré-eclâmpsia Reduzem de 10 a 30% as chances de desenvolver PE em grupos de alto risco*. História prévia de PE, DM prévio, gemelaridade, HAC, SAF, LES e DRC. AAS 60-150 mg/dia após 12ª semana. Cálcio 1,5 a 2 g/dia na 20ª semana; investigar ingesta pelo uso de laticínios e derivados. Manter ambas até o trabalho de parto. → Diagnóstico de PE sobreposta Pacientes com elevação nos níveis tensionais, ganho de peso acima de 1 kg por semana, edema de mãos ou face ou sintomas como cefaleia persistente = realizar exames para afastar PE. Terapia não farmacológica → Dieta e exercícios Dietas pobres em sódio não tem mostrado associação com melhora dos desfechos perinatais e en- saios clínicos randomizados não evidenciaram redução significativa na incidência de PE, PORÉM, essas medidas auxiliam no bom controle pressórico e na redução da necessidade de drogas hipotensoras. Não existem evidencias clinicas claras que contraindiquem atividades físicas leves na gestação = atentar para adequações em frequência e intensidade dos exercícios. Terapia farmacológica → Quanto tratar (na prática, não reduz a dose da medicação que ela já tomava) HAC com níveis pressóricos normais: utilização de fármacos hipotensores não promove benefícios para pacientes ou seu concepto. É consenso na literatura mundial necessidade de hipotensores em pacientes com hipertensão se- vera (PA ≥ 160x110 mmHg). Em gestantes sintomáticas (iminência de eclâmpsia) = associar sulfato de magnésio ao hipotensor (administração do sulfato de magnésio deve preceder o hipotensor, nunca o inverso). ACOG: recomenda iniciar terapia durante o pré-natal mediante PAS ≥ 160 mmHg ou PAD ≥ 105 mmHg. No Brasil: HAC moderada (PAD ≥ 100 mmHg e < 110 mmHg) ou até HAC leve (PAD < 100 mmHg), principalmente se já apresentar lesões de órgãos-alvo. Fazer MRPA 3x/dia na unidade de saúde. → Tipos de anti-hipertensivas Alfametildopa Inibidor adrenérgico de ação central. 1ª escolha no Brasil e em outros vários países. Doses 750 mg a 2000 mg ao dia, divididas em no mínimo 3x/dia (não tem vantagens na uti- lização de doses menores ou com intervalos acima de 8 h entre elas). Diuréticos TZD: seguros na gestação. Consideradas opção, exceto no período da lactação. Considerada 3ª opção medicamentosa. Pacientes hipertensas crônicas que já usavam e engravidam: pode encorajar a manter o uso. Betabloqueadores Existe tendência preocupante de RCF, porém, em revisão sistemática recente, essa tendência não foi comprovada. Uso em outras situações clínicas: propranolol na profilaxia de migrânea na gestação e no tratamento de crise tireotóxica; metoprolol em cardiopatias maternas. Hidralazina Medicação vasodilatadora e atua relaxando a parede muscular arterial de uma forma direta. Quando por VO, apresenta-se como hipotensor fraco e com muitos efeitos colaterais. o Estudo recente associou a hidralazina VO a complicações fetais como RCF, parto prematuro e baixo peso ao nascimento. Bloqueadores de canal de cálcio (BCC) Uso seguro na gestação e lactação. Há registros que a nifedipina poderia resultar em hipotensão materna e sofrimento fetal. Em recente publicação da ACOG, nifedipina foi recomendada como hipotensor de 1ª linha, principalmente em casos de emergência hipertensiva. IECA/BRA: não devem ser usados na gestação, não havendo restrições não uso durante a lactação. → Hipertensão arterial no puerpério Complicações fatais: EAP, ICC, disfunção renal, crises hipertensivas e eclâmpsia pu-erperal. Causas iatrogênicas podem elevar a PA: medicações como AINES, agentes ergotamínicos ou ini- bidores de lactação (bromocriptina, cabergolina). Não existe consenso sobre qual o melhor hipotensor no puerpério. Alfametidopa: droga inicial para tratamento de gestantes com HAC ou gestacional. Captopril: uma das primeiras opções no puerpério (uso contraindicado na gestação). Losartana: uso compatível com a lactação, porém devido a suas características farmacocinéticas, não deve ser 1ª escolha. Nifedipina e anlodipina: uso seguro na gestação e na lactação. Propranolol. → Crise hipertensiva (quem aplica hidralazina e sulfato de magnésio é o médico e não a enfermeira) Níveis pressóricos elevados (PAS ≥ 160 mmHg ou PAD ≥ 110 mmHg) capazes de causar lesões permanentes no SNC, sequelas e morte. Urgência ou emergência (presença de sintomatologia – intervenção imediata). Objetivo: não é normalização dos níveis de PA, mas redução de PA (preservar mecanismos de auto- controle e evitar danos permanentes no parênquima cerebral). Hidralazina IV: 1ª linha no tratamento da emergência hipertensiva na gestação e puerpério. EC: taquicardia e hipertermia. Contraindicações: ICC, cardiopatias graves. Nifedipina VO: segura e eficaz; 1ª linha no tratamento da emergência hipertensiva. EC: taquicardia e cafaleia. Nitroprussiato de sódio: droga de exceção na emergência hipertensiva; 1ª opção em casos de emer- gência hipertensiva associados a ICC ou EAP. Assistência ao parto em gestantes com HAC VIA DE PARTO: seguir princípios obstétricos = HAC não é condição determinante para indi- cação de cesariana. Todas devem receber orientações sobre planejamento familiar: uso de contraceptivos de longa duração deve ser incentivada nesse grupo de pacientes de risco (DIU decobre – OMS recomenda inserção no momento do parto ou nas primeiras 48 h, ainda na maternidade). PRÉ-ECLÂMPSIA Doença multifatorial e multissistêmica, específica da gestação, diagnosticada pela presença de hi- pertensão arterial associada à proteinúria, que se manifesta em gestante normotensa, após 20ª semana de gestação (na ausência de proteinúria, ocorre disfunção de órgão-alvo). Epidemiologia Constituem importante causa de morbidade grave, incapacidade a longo prazo e mortalidade tanto materna quanto perinatal. No Brasil, hipertensão é a principal causa de óbito materno. 10 a 15% das mortes maternas diretas no mundo são relacionadas à PE/eclâmpsia (99% dessas ocorrem em países de baixa e média renda). Incidência (revisão de dados de 2002-2010): 1,2 a 4,2% para a PE e de 0,1 a 2,7% para eclâmpsia. Taxas mais elevadas em regiões com menor desenvolvimento sócio-econômico. Nos países desenvolvidos sua ocorrência é em torno de 2 a 8%. Doenças hipertensivas complicam em até 10% das gestações. Morbidades graves associadas a PE/eclâmpsia que podem determinar a morte: IR, AVC, IC, EAP, coagulopatia e IH; complicações fetais e neonatais resultam de insuficiência placentária e da frequente necessidade de antecipação do parto. Fatores de risco Maioria dos casos ocorre em NULÍPARAS (75%): prevalência de 3-7% (multíparas de 0,8 a 5%). DHEG é mais comumente observada em pacientes com hiper- tensão arterial pré-gravídica ou quando há troca de parceiro. Nível socioeconômico desfavorável: não há evidências de correlação com a pré-eclâmpsia leve, mas a eclâmpsia e síndrome HELLP são mais frequentes. Falta de assistência pré-natal ou assistência precária impe-dem reconhecimento dos fatores de risco e propiciam evolução das formas leves para as formas mais graves. Idade materna avançada: abaixo dos 18 e acima dos 40 anos. Como maioria das gestações ocorrem em mulheres jovens, maioria dos casos de DHEG se dá nessa faixa etária = quando excluídos outros fatores de risco comuns nessa faixa (nuliparidade, obesidade, estresse biopsicossocial, pré-natal deficiente), idade não constitui risco para DHEG. História familiar de DHEG. Obesidade (quanto maior o IMC pré-gesta-cional, maior o risco de DHEG). Gestação múltipla (incidência de 30%): nessas gestações tende a ocorrem em ida-des gestacionais mais precoces (mais gra-ves) quando comparadas a gestações únicas. Doenças trofoblástica gestacional: única situação em que DHEG pode se manifestar em IG inferiores a 20 semanas. DHEG em gestação pregressa (recorrência de 14-39%). Hidropsia fetal (50%). DM (20%): maior incidência quanto maior a duração do DM ou quanto maior o com-prometimento vascular e/ou renal. Doença renal. Doenças do colágeno. Trombofilias (SAF – adquirida). Etiologia Etiologia completa permanece desconhecida (impede que atue de maneira realmente efetiva na pre-venção de seu desenvolvimento – prevenção primária). Identificação de fatores de risco (prevenção secundária): atuação para impedir manifestação das formas graves da doença. Teorias mais importantes foram integradas em 2 estágios (descrito por Redman e Sargent): PRÉ-CLÍNICO: alterações do desenvolvimento placentário e insuficientes modificações na circulação uterina respondem por hipóxia do tecido placentário e principalmente pelo fenô- meno de hipóxia e reoxigenação. o Determina o desenvolvimento de estresse oxidativo e produção excessivo de fatores inflamatórios e antiangiogênicos. o Gestantes com fatores predisponentes (obesidade, SM, doenças responsáveis por resposta inflamatória crônica basal) = alterações sutis e até mesmo próximas a nor- malidade são suficientes para induzir segundo estágio (forma clínica). CLÍNICO: disfunção placentária e fatores liberados por ela lesam endotélio sistematicamente = paciente manifesta clinicamente hipertensão arterial e comprometimento de órgãos alvo (glo- meruloendoteliose são as mais características e responsáveis pela proteinúria). Mulheres com obesidade ou IMC > 30 Kg/m2 tem maior risco estado crônico de inflamação sis- têmica; à medida que o IMC aumenta, a ativação de vias inflamatórias na interface materno-fetal também se exacerba. → Pré-eclâmpsia de início PRECOCE (< 34 semanas) Associada a maior comprometimento do desenvolvimento placentário e da circulação uteroplacentária, com avaliação dopplervelocimétrica anormal das artérias uterinas, fetos com RCF. Piores desfechos maternos e perinatais. Baixa incidência em geral, mas no Brasil representa 40% dos casos de PE assistidos em centros ter- ciários. → Pré-eclâmpsia de início TARDIA (≥ 34 semanas) Associado a síndromes metabólicas, inflamação e comprometimento endotelial crônicos. É comum presença de obesidade e doenças crônicas. Avaliação do compartimento uteroplacentário muitas vezes dentro da normalidade ou pouco alterada. Desfechos maternos e perinatais são mais favoráveis, principalmente se for mais próxima ao termo. → Teoria da placentação anormal Placenta desenvolve-se primariamente de células chamadas trofoblastos, que se diferenciam inicia- lmente em citotrofoblasto (precursor de todos os trofoblastos) e sinciciotrofoblasto (responsável pela invasão da decídua e das artérias espiraladas). Invasão dessas artérias pelo sincício leva a alargamento do diâmetro do vasos de 4-6x = aumento do fluxo sanguíneo, que desenvolverá feto e placenta. Na pré-eclâmpsia: invasão trofoblástica e remodelamento subsequente das artérias espiraladas (principalmente na 2ª onda) é deficiente = resulta em diâmetros 40% menores que na gravidez normal e com alta resistência = isquemia placentária. Na gestação sem anormalidades, migração trofoblástica acontece em 2 ondas = convertem as artérias em vasos de baixa resistência. 1ª onda: ocorre destruição da capa musculoelástica das artérias espiraladas no seu seg- mento decidual. 2ª onda (16ª e 18-20ª semanas): consome segmento miometrial. Em grávidas com pré-eclâmpsia, a 2ª onda de migração trofoblástica não ocorre = resistência arterial não cai adequadamente, vasos permanecem estreitos e desenvolve-se isquemia placentária. Hipoperfusão se torna mais pronunciada com progressão da gestação = vascularização uterina anormal é incapaz de acomodar o crescimento do fluxo sanguíneo para o feto e placenta que ocorre com o progredir da gestação. Evento isquêmico leva à injúria do endotélio vascular por mecanismos pouco compreendidos (radicais livres e toxinas) = síndrome clínica aparece, resultando de alterações generalizadas na função da célula endotelial. Durante gravidez, endotélio placentário intacto produz quantidade equilibradas de substâncias vasodilatadoras e anticoagulantes (PGI2) e vasoconstritoras e pró-coagulantes (TXA2). Endotélio lesado, em decorrência de isquemia, promove coagulação e aumenta sua sensi- bilidade aos agentes vasopressores. Produção placentária de PGI2 está reduzida e a TXA2 aumentada na pré-eclâmpsia (relação TXA2/PGI2 > 7) = promove vasoconstrição e agregação plaquetária e sensibiliza os vasos à ação da AGT II e noradrenalina = espasmo arteriolar placentário e sistêmico (evento básico dos distúrbios hipertensivos da gestação). Lesão endotelial, além de aumentar a reatividade vascular e causar desenvolvimento de hipertensão, favorece a deposição de fibrina nos leitos vasculares, deflagrando eventos da CIVD (responsável pelas lesões orgânicas e morbidade de grávidas com distúrbios hipertensivos). As lesões características das eclâmpsia são em grande parte causadas por trombose de arteríolas e capilares por todo organismo (fígado, cérebro e placenta). Permeabilidade vascular se encontra aumentada secundariamente a lesão endotelial = responsávelpelo edema periférico generalizado (exacerbado pela hipertensão (aumento da pressão hidrostática) e menor pressão coloidosmótica). → Teoria da má adaptação Baseada numa resposta imune materna deficiente aos antígenos paternos, que parece ser regulada pelo sistema HLA = quando há atuação deficiente desse sistema, há adaptação inadequada ao tecido placentário. Teoria apoiada pela diminuição na ocorrência de pré-eclâmpsia após primeira gravidez normal, aborto ou transfusão (perde-se essa proteção se houver troca do parceiro ou quando há inseminação com sêmen de doador). → Teoria do estresse oxidativo Hipoxemia placentária como responsável pela geração de radicais livres derivados de oxigênio, que ganham a circulação e levam a danos endoteliais. → Teoria da suscetibilidade genética Pré-eclâmpsia é mais observada em mulheres com HF, gêmeas e da raça negra. Genes envolvidos na placentação e no remodelamento vascular são os mais envolvidos; outros ge- nes implicados são o da mutação de Leiden (fator V mais resistente a inativação da proteína C), gene do angiotensinogênio e gene EPHX (regula a produção da epóxido hidrolase, envolvida no meta- bolismo de toxinas). Repercussões sistêmicas → Alterações cardiovasculares Atividade contrátil do coração raramente está alterada. Hemoconcentração, com elevação do Hct é ocasionada pela vasoconstrição (que eleva a pressão hidrostática) e pelo aumento da permeabilidade vascular = característica marcante do distúrbio hipertensivo. Uma mulher de peso mediano deve ter um volume plasmático de cerca de 5.000 ml ao final da gravidez (comparado com os 3.500 ml pré-gravídicos) Em pacientes com distúrbios hipertensivos não se observa ganho de 1.500 ml, e a paciente chega ao final da gestação com mesmo volume plasmático de antes da gravidez = insu- ficiente para padrões gravídicos, resultando em hemoconcentração. No entanto, não há hipovolemia, pois vasoespasmo diminui o leito vascular a ser preenchido = volume plasmático não deve ser corrigido, podendo agravar hipertensão e precipitar EAP. → Alterações hematológicas Ocorre aumento do turnover plaquetário = trombocitopenia é decorrente da formação de micro- trombos. TP e TTPa e concentração de fibrinogênio não são afetados (exceto se complicações do acome- timento hepático). Apesar dos outros fatores de coagulação encontrarem-se normais, atividade de protrombina III e dosagem de fibronectina encontram-se alteradas já no início do processo patológico. Hemólise microangiopática pode ocorrer e ser detectada pelo exame de esfregaço periférico ou ele- vação da LDH e queda do Hct. Queda do Hct se relaciona à hemólise; elevação do Hct se relaciona com hemoconcentração. → Alterações renais Lesão renal na pré-eclâmpsia não é mediada por fatores imunológicos. Endoteliose capilar glomerular (lesão mais característica) = comprometimento difuso se apresenta a microscopia eletrônica como acentuada tumefação das células endoteliais que oblitera à luz dos capi- lares. Deposição de material semelhante à fibrina por todo citoplasma da célula endotelial e abaixo dela. Proliferação do mesângio; não há espessamento da membrana basal. Todos os distúrbios funcionais renais (proteinúria não seletiva, redução do fluxo plasmático e TFG) são secundários à lesão glomerular e agravados por um componente pré-renal devido ao espasmo vascular intrarrenal. TFG cai 30%; níveis de ácido úrico sobem (> 5,5 a 6 mg/dl) devido a reabsorção proximal aumentada de sódio e urato induzida pela injúria renal; elevam-se a creatinina e desenvolve-se hipocalciúria. Na ausência de complicações, costumam ser reversíveis após término da gestação. → Alterações endócrinos e metabólicas Gravidez normal: concentração e atividade dos componentes do SRAA estão aumentados (hiperal- dosteronismo secundário da gravidez). Entretanto, a resposta vascular a maioria dos vasopressores permanece reduzida devido à secreção equilibrada de PGI2 e TXA2. Pré-eclâmpsia: em resposta à retenção primária de sódio pelos túbulos renais e à hipertensão, a secreção de renina pelo aparelho justaglomerular decresce e os níveis de AT-II e de aldosterona reduzem para valores pré-gravídicos. Embora os níveis de AGT-II sejam menores, estão associados a maior resposta pressora do músculo liso vascular devido ao aumento das concentrações de TXA2. → Alterações cerebrais Disfunção endotelial, semelhante à que ocorre na placenta e rins, é responsável pelo depósito de fi- brina e formação de trombos plaquetários no SNC = levam a isquemia cerebral. Hiperreatividade vascular com vasoespasmo de artérias do SNC, se encontra presente e acentua a baixa perfusão cerebral. Convulsões: são ocasionadas por fenômenos isquêmicos do SNC (vasoespasmo + trombos plaque- tários). É raro uma mulher com eclâmpsia não acordar após convulsão. Achado tomográfico comum é a presença de edema cerebral, além de áreas hipodensas (indica isquêmica). Causa frequente de morte em pacientes com pré-eclâmpsia é a hemorragia cerebral = geralmente petequial ou assume forma de grandes hematomas; causado por aumento da permeabilidade vascular seguida de rotura do vaso (anóxia determina lesão endotelial e enfraquecimento da parede vascular). Outras: cefaleia, turvação visual, escotomas, amaurose (rara). → Alterações hepáticas Lesão endotelial hepática pelo vasoespasmo e depósito de fibrina leva a hemorragia periportal, lesões isquêmicas e depósitos de gordura. Dor em QSD, dor epigástrica, elevação das transaminases, hemorragia subcapsular ou rotura hepática (casos mais graves). → Alterações uteroplacentárias Vasoespasmo generalizado e ausência de 2ª onda de migração trofoblástica aumentam resistência vas- cular do leito placentário e diminuem circulação uteroplacentária (40-60%). Expressiva incidência de infartos placentários, crescimento restrito da placenta e seu descolamento prematuro = sofrimento fetal crônico. Hipertensão é o principal fator de risco para descolamento prematuro da placenta. Isquemia causa queda nos níveis de estrogênio e do hormônio lactogênio-placentário (hPL). Atividade uterina está aumentada, alcançando valores semelhantes aos do parto antes do termo da gestação (grande incidência de prematuridade). Útero é mais sensível ao estímulo da ocitocina; durante o trabalho de parto, ocorre hipersistolia. Diagnóstico HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA: hipertensão (PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD ≥ 90 mmHg) reportada pela gestante ou identificada antes de 20 semanas. PRÉ-ECLÂMPSIA: manifestação de hipertensão arterial identificada após a 20ª semana de gestação, associada a proteinúria significativa. Presença de proteinúria não é mandatória: considerar PE caso hipertensão após 20 semanas acompanhada de comprometimento sistêmico ou lesão de órgãos-alvo (trombocitopenia, dis- função hepática, IR, EAP, iminência de eclâmpsia ou pré-eclâmpsia). Associação de hipertensão com sinais de comprometimento placentário, como RCF e/ou alte- rações dopplervelocimétricas deve chamar atenção para diagnóstico de PE, mesmo na ausência de proteinúria. Hipertensão arterial: PA ≥ 140 e/ou 90 mmHg, avaliada após período de repouso, com paci- ente sentada e manguito apropriado (na falta de manguito apropriado usar tabela de correção de PA de acordo com circunferência do braço da paciente). Proteinúria significativa o Presença de pelo menos 300 mg em urina de 24 h (tendência a favor da substituição do exame de proteinúria de 24 h na prática clínica). o Relação proteína/creatinina urinárias ≥ 0,3 mg/dl (sensibilidade suficiente para identificar proteinúria, mais fácil e menor custo). o Avaliação qualitativa de proteína em amostra isolada de urina com 1+ (compatível com cerca de 30 mg/dl). Pré-eclâmpsia com sinais e/ou sintomas de deterioração clínica: recentemente, a estratifi- cação em PE leve e grave passou a receber críticas. o Pode induzir a erro, uma vez que todas as pacientes com PE podem evoluir com des- fechos desfavoráveis de maneira inesperada ou levar a antecipação do parto de maneira inadvertida (iatrogênica) naquelas com diagnóstico de PE grave. o Avaliar quanto à presença ou não de sinais ou sintomas de comprometimento clí- nico e/ou laboratorial e ser prontamente conduzido de acordo com eles. Presença de crise hipertensiva: PA ≥ 160 e/ou 110 mmHg (confirmado por intervalo de 15 minutos, após período de repouso e com paciente sentada). Sinais de iminência de eclâmpsia: cefaleia, fotofobia, fosfenas, escotomas; hiper-reflexia (perifericamente); náuseas, vômitos, dor epigástrica ou no HD = relacionados ao comprometimento hepático. Eclâmpsia: convulsões tônico-clônicas em pacientes com diagnóstico de PE. Síndrome HELLP: associação de intensa hemólise (esquizócitos e equinócio- tos em sangue periférico e/ou DHL > 600 UI e/ou bilirrubinas indiretas > 1,2 mg/dl), comprometimento hepático (AST/ALT > 2x) e consumo de plaquetas (< 100.000/mm3) em pacientes com PE. Oligúria: diurese < 500 ml/24 h; pode ser decorrência de intenso extravasa- mento de líquido para o 3º espaço (anasarca). IRA: Cr ≥ 1,2 mg/dl. Dor torácica: dor em região torácica, associada ou não à respiração; representa tanto o comprometimento endotelial pulmonar quanto da parte cardíaca (quei- xa frequentemente desvalorizada). EAP: intenso comprometimento endotelial pulmonar, associado ou não à ICC e/ou HAS grave. ACOG: retirou os níveis de proteinúria como critério de gravidade = não devem ser desvalorizados completamente, mas vistos em consonância com a clínica materna e provas de vitalidade fetal (principalmente se ≥ 10 g/24 h). o Classificação segundo o Ministério da Saúde (2010): considera-se grave quando pre-sente um ou mais dos seguinte critérios. PAD ≥ 110 mmHg. Proteinúria ≥ 2 g em 24 h ou 2+ em fita urinária. Oligúria (menor que 500 ml/dia, ou 25 ml/h). Creatinina > 1,2 mg/dl. Sinais de encefalopatia hipertensiva (cefaleia e distúrbios visuais). Dor epigástrica ou no HD (não usar antiácidos). Evidência clínica e/ou laboratorial de coagulopatia. Plaquetopenia (< 100.000/mm3). Aumento das enzimas hepáticas (TGO, TGP, DHL) e de bilirrubinas. Presença de esquizócitos em esfregaço de sangue periférico. Outros sinais que podem sugerir diagnóstico: AVC, sinais de ICC ou cianose, presença de RCIU e/ou oligodrâmnio. PRÉ-ECLÂMPSIA SOBREPOSTA À HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA Aparecimento ou piora da proteinúria após 20 semanas já detectada na primeira metade da gravidez (atenção se aumento for maior que 3x do valor inicial). Gestantes portadoras de HAC necessitam de associação de anti-hipertensivos ou incremento das doses terapêuticas iniciais. Ocorrência de disfunção de órgãos-alvo. HIPERTENSÃO GESTACIONAL: identificação de hipertensão arterial, em gestante previamente normotensa, porém, sem proteinúria ou manifestação de outros sinais/sintomas relacionados à PE (lesão de órgão-alvo). Desaparece até 12 semanas após o parto: se níveis pressóricos permanecerem elevados, re- classificar como HAC mascarada pelas alterações fisiológicas da primeira metade da gestação. Até 25% dessas pacientes apresentarão sinais e/ou sintomas relacionados à PE, alterando seu diagnóstico. HIPERTENSÃO DO JALECO BRANCO: presença de hipertensão arterial ≥ 140 x 90 mmHg du- rante consultas pré-natais, porém inferior a 135 x 85 mmHg em avaliações domiciliares. Considerada apenas quando presente na primeira metade da gestação. Pode evoluir para pré-eclâmpsia. ECLÂMPSIA: ocorrência de convulsão tônico-clônica generalizada ou coma em gestante com sinais ou sintomas de pré-eclâmpsia, excluindo-se aquelas de outras causas ou alterações do SNC, podendo ocorrer na gravidez, parto e puerpério imediato. É mais frequente em condições socioeconômicas desfavoráveis, atendimento pré-natal deficiente e acompanhamento inadequado da pré-eclâmpsia. Entre as formas hipertensivas, constitui a princi-pal causa de morte materna e perinatal. Nos países desenvolvidos ocorrem 4-6 casos em 10 mil partos e tem se mantido estáveis; em popula-ções socioeconomicamente desfavorecidas 6-100 casos em 10 mil partos. É responsável por pelo menos 10% de todas as mortes maternas em países desenvolvidos e por cerca de 50 mil mortes maternas por ano em todo o mundo. Complicações maternas: hemorragia cerebral, EAP, IR, insuficiência respiratória e coagu- lopatia; causas diretas mais frequentes de morbimortalidade perinatais: convulsões mater- nas e DPP. Diagnóstico diferencial de crises convulsivas Em gestantes, a manifestação de convulsões após a 20ª semana de IG deve ser interpretada como eclâmpsia. Investigação por exames de imagem: Déficit neurológico; Coma; Convulsões de difícil controle; Alterações visuais persistentes; Convulsões antes de 20 semanas de IG sem associação com doença trofoblástica gestacional. o Ocorrência de PE/eclâmpsia antes da 20ª semana de gestação é rara = se ocorrer pensar na possibilidade de associação com gestação molar. Ausência de diagnóstico prévio de epilepsia. Alterações neurológicas persistentes e casos refratários ao tratamento: sugerem comprometimento anatômico = sempre que estiver diante de quadro de convulsões de difícil controle, principalmente se tiver em uso de sulfato de magnésio, investigar AVC. Sinais e sintomas neurológicos que desenvolvem de forma repentina: AVC, lesão cerebral expansi- va, encefalopatia tóxicas e metabólicas, síndrome da vasoconstrição cerebral reversível, púrpura trombocitopênica trombótica e infecção do SNC. Crises convulsivas sem déficits neurológicos: anormalidades metabólicas (hipocalcemia, hiponatremia, hipoglicemia), toxinas (abstinência de drogas ou álcool, intoxicação com drogas), infecção (meningite, encefalite, sepse) ou trauma cefálico recente. Ausência de déficits neurológicos não exclui anormalidade anatômica cerebral. Gestação é fator desencadeante para alguns distúrbios associados à atividade convulsiva (PTT e síndrome hemolítica urêmica) e LES. Predição de pré-eclâmpsia Predição: identificação de riscos de desenvolver um problema, ou seja, suposição de que os fenômenos se repetirão de forma constante. Esbarra em várias questões: lacunas na fisiopatologia, diversidade de formas clínicas e hete- rogeneidade entre as populações. Todos os testes preditivos não oferecem sensibilidade razoável = OMS, ACOG, FEBRASGO recomendam que a predição seja baseada na história clínica da paciente. o Fornece dados importantes e permanece como forma efetiva para identificar gestantes com maior risco de desenvolver PE. o Deve servir para orientar a ampliação da vigilância pré-natal (ter cautela para não cri- ar ansiedade na paciente). Todos pacientes que apresentam pelo menos uma das características apresentadas na tabela podem re- ceber formas de prevenção de PE. OMS recomenda atenção especial: antecedente de PE (pessoal ou familiar), HAC, obesidade, doenças renais, doenças autoimunes, SAF e gravidez múltipla. Biomarcadores: não há evidências que devem ser incorporados de forma rotineira (limitações de sensibilidade e custos). Estreita relação entre fatores antiandrogênicos (sFtl-1 liberado pela placenta) e PE: alto VPN para valores de sFtl-1/PLGF < 38 em pacientes com suspeita de PE = ajuda a excluir diag- nóstico de PE por até uma semana = não deve ser considerado exame de predição para PE. Predição de desfechos adversos na PE Conduta expectante é desejada sempre que se encontra diante de prematuridade fetal ou quando háes- cassez de recursos para suporte materno e do RN no local do atendimento. Permite promoção da maturidade pulmonar fetal com uso de corticoides e remoção para centro mais qualificado (porém, transporte pode favorecer agravamento das condições clinicas, porque as decisões são baseadas em graus de subjetividade). o Para reduzir essas incertezas: CALCULDORA DE RISCO (PIERS – Preeclampsia Integrated and Estimated Risks): chance de desfechos adversos em até 48 h a partir de admissão da paciente. Prevenção Não recomendadas: orientar repouso, restrição de sal na dieta, uso de antioxidantes (vitaminas C e E), vitamina D, ômega-3 ou enoxaparina. AAS 100-150 mg para pacientes identificadas como de risco. Deve ser administrado o mais precoce possível e durante a noite. Iniciar em torno de 12 semanas, ainda que não exista nenhum risco associado, caso seja ini- ciado antes disso. Pode ser mantido até o final da gestação; sua suspensão após a 36ª semana parece ser racional (permite renovação de plaquetas com plena capacidade funcional para demandas do parto). Cálcio Todas as mulheres devem ser orientadas a ter dieta rica em cálcio. 1 a 2 g de cálcio ao dia para aquelas com risco de pré-eclâmpsia e/ou dieta pobre em cálcio. Redução de 55% no risco de PE; redução de 74% em mulheres com dieta pobre em cálcio. Sulfato de magnésio: melhor alternativa para prevenção e tratamento da eclâmpsia. Preconizado diante de quadros de eclâmpsia e ainda de forma liberal em pacientes com PE com sinais de gravidade, especialmente para aquelas com PA de difícil controle e síndrome HELLP. Condutas → Princípios gerais Fundamental estabelecer o diagnóstico de PE: atenção ao ganho de peso, principalmente quando se acontece de maneira rápida e se acompanhada de edema de mãos e faces (atentar aos níveis pressóricos e queixas relacionadas a sinais e sintomas de comprometimento de órgãos-alvo). PREVENÇÃO DE MORBIMORTALIDADE materna e perinatal Orientação sobre os sinais de comprometimento da doença, de encaminhamento e assistência em serviços terciários e com assistência neonatal qualificada. Bom controle pressórico. Prevenção da eclâmpsia ou da sua recorrência. Identificação precoce das alterações laboratoriais (principalmente aquelas relacionadas a sín- drome HELLP). Avaliação do bem-estar fetal. Na vigência de ECLÂMPSIA Evitar trauma por queda. Manter permeabilidade das vias aéreas. Garantir suporte de oxigênio. Prevenir aspiração em casos de vômitos. Colocar gestante em DLE ou semissentada em cama com grades laterais, utilizar a cânula de Guedel, fornecer O2 nasal 5L/min e obter acesso venoso. Tratamento não farmacológico → Dieta Dieta normal, sem restrição de sal (não há evidências para se preconizar essa conduta no auxílio do controle pressórico ou na prevenção de desfechos adversos). HC-FMUSP: dieta hipossódica contendo 2-3 g sal/dia. Manutenção da mínima qualidade da dieta nessas pacientes é importante pois muitas vão precisar de longos períodos de internação. Restrição na ingesta de sódio pode reduzir o volume intravascular. → Repouso hospitalar ou domiciliar Redução da atividade física: melhora no fluxo sanguíneo uteroplacentário e previne exacerbação da hipertensão (particularmente se a PA não estiver bem controlada). Não há evidências de que melhore os principais desfechos maternos e perinatais. Zugaib: afastamento das atividades profissionais, redução dos afazeres domésticos e repouso em DLE por pelo menos uma hora no período da manhã e tarde (ou 2 h após almoço). Não há evidências para se recomendar repouso absoluto. → Acompanhamento laboratorial Identificar precocemente o comprometimento de órgãos-alvo e diagnosticar a síndrome HELLP ainda em seu estágio inicial (sem sinais e sintomas clínicos). Frequência depende da evolução e gravidade de cada caso = de modo geral, 1x/semana. Hemograma (Hct, Hb, plaquetas), DHL, BT ou haptoglobina (padrão-ouro para anemia micro- angiopática), creatinina e AST. Não há necessidade de avaliações repetidas da proteinúria. Dosagem da ureia não deve ser realizada se não houver nítido comprometimento renal ou suspeita de síndrome hemolítico-urêmica. Para avaliar comprometimento hepático: apenas dosagem de AST. Dosagem de ácido úrico apresenta correlação com desfechos adversos (se solicitada, não cons- titui marcador único para decisões clínicas). → Acompanhamento hospitalar ou ambulatorial Internação assim que haja forte suspeita ou confirmação do diagnóstico de PE = avaliar as condições materno-fetais, introduzir/adequar doses de anti-hipertensivos, orientar pacientes e familiares sobre ris- cos e complicações. Após período inicial (variável em cada paciente): preconizar “licenças” hospitalares e a paciente pode intercalar períodos de internação (ou avaliação hospitalar) com períodos em domicílio. Decisão de acompanhamento hospitalar ou ambulatorial dependerá muito das condições socioculturais das pacientes = diante de quaisquer problemas que possam comprometer a adequada vigilância de casos, internação torna-se imprescindível. Tratamento farmacológico → Anti-hipertensivos Introdução deve considerar benefícios para mãe e feto: tomar como fatores principais o valor da PA e presença ou não de sinais e sintomas relacionados aos níveis pressóricos. Pacientes hipertensas crônicas muitas vezes toleram níveis elevados de PA sem apresentar quaisquer manifestações clínicas. Pacientes jovens com níveis de PA anteriores considerados baixos, podem até mesmo evoluir para quadros graves e eclâmpsia, ainda com níveis pouco elevados de PA. CLASSIFICAÇÃO DA PA Hipertensão arterial leve: PAS ≥ 140 e < 150 mmHg e/ou PAD ≥ 90 e < 100 mmHg. Hipertensão arterial moderada: PAS entre ≥ 150 e < 160 mmHg e/ou PAD ≥ 100 e < 110 mmHg. Hipertensão arterial grave (crise hipertensiva): PAS ≥ 160 mmHg e/ou PAD ≥ 110 mmHg. o Devem ser internadas e/ou encaminhadas a centros de referência, a fim de investigar comprometimento de órgãos-alvo e as condições fetais. Diante de níveis de hipertensão considerados não graves, maior preocupação é com redução exces- siva e/ou brusca da PA: ainda que a redução da PA melhore as condições circulatórias sistêmicas, pouco efeito é obtido com relação à circulação uteroplacentária. Diante da redução agressiva da PA poderiam contribuir negativamente para nutrição e/ou oxigenação fetais. Todos os anti-hipertensivos atravessam a barreira placentária; escolha dependerá da familiaridade que cada obstetra tem com eles e da forma de administração possível a cada situação (VO ou IV). Introduzir anti-hipertensivos sempre que PA atingir níveis ≥ 150 e/ou 100 mmHg, níveis ≥ 140 e/ou 90 mmHg persistentes ou ainda se a paciente se mostrar sintomática. Objetivo do tratamento é manter níveis de PAD EM TORNO DE 85 mmHg. Cuidados iniciais Manter paciente em ambiente tranquilo. Monitorização contínua dos dados vitais. Decúbito lateral esquerdo (DLE): aumento do fluxo plasmático renal, intensifica natriurese, diminui os níveis de PA, melhor o fluxo uteroplacentário. Manter vias aéreas pérvias e elevação do tronco. Oxigenação materna. Proteção contra trauma materno (elevação de guarda da maca). Bom acesso venoso. Manter sonda vesical de demora. Propedêutica laboratorial: hemograma completo, TGO, TGP, BI, LDH, creatinina e proteinúria de fita. * 3ª droga para associação de medicamentos para controle pressórico ou no caso de impossibilidade de uso de drogas de primeira escolha (labetolol (não disponível no Barasil) e pindolol). CONTRAINDICAÇÕES: IECA, BRA e inibidores diretos da renina (alisquireno) = se associam a anormalidades no desenvolvimento dos rins fetais quandousados a partir do 2º trimestre de gestação. Suspender e/ou substituir a medicação no 1º trimestre, assim que recebem diagnóstico de gestação. Tranquilizar paciente: essas drogas não são teratogênicas e sim fetotóxicas (não há riscos de utilização no 1º trimestre); por isso, seria adequado a avaliação pré-concepcional. Podem determinar diminuição do fluxo sanguíneo placentário, resultando em oligoâmnio, RCIU, falência renal, além de malformações cardiovasculares, craniofacial e de membros. Diuréticos TZD: controverso, embora algumas diretrizes sugiram que podem ser mantidos em mu- lheres com HAC que faziam uso antes da gestação. Tais diretrizes apoiam-se no fato de que a reducão do volume circulatório, alteração que acom- panha essas medicações nas primeiras semanas de uso, provavelmente não ocorreria nessa situação. Uso deve ser interrompido se houver oligoâmnio ou superposição de PE (uma vez que esta por si só determina contração do volume circulatório). o EXCEÇÕES: casos de EAP ou diante de comprometimento funcional renal = diuré- tico de escolha é a FUROSEMIDA. → Hipertensão arterial grave Objetivo: DIMINUIR PA EM 15-25%, atingindo valores da PAS entre 140 a 150 mmHg e PAD entre 90 e 100 mmHg. Se queda brusca da PA: risco materno de AVC e risco fetal de redução demasiada da perfu- são uteroplacentária. Uma vez obtidas as reduções desejadas na pressão, inicia-se ou otimiza-se rapidamente a utilização de anti-hipertensivos de manutenção por via oral. *Agentes recomendados para CRISE HIPERTENSIVA em gestantes Hidralazina Vasodilatador periférico. Amplamente usado na situação de pré-eclâmpsia para tratamento de hipertensão grave. Ação máxima ocorre em 20 minutos. Monitoramento da PA deve ser rigoroso (riscos de hipotensão) = prontamente corrigida com elevação dos MMII e remoção de medicações ou fatores que possam estar agindo como poten- cializadores; não conseguindo o retorno da PA, recomenda-se hidratação (deve ser cuidadosa). o Reavaliar a PA em 20 minutos: se PAD < 110 mmHg – manter monitorização; se PAD ≥ 110 mmHg – repetir 5 mg a cada 20 minutos (dose máxima é 45 mg). Nifedipino (nifedipino oral de liberação lenta) É um BCC. Usado como 1ª linha, especialmente quando o acesso intravenoso não está disponível. Ação máxima em 30-40 minutos. Comprimidos não devem ser mastigados e não devem ser usadas formulações pela via SL. 1 cp 10 mg VO = reavaliar PA em 30 minutos, se necessário repetir 10 mg a cada 20-30 mi- nutos (dose máxima de 30 mg). Nitroprussiato de sódio Potente vasodilatador arterial e venoso. Não há evidências que suportam risco fetal (receio de intoxicação por cianeto restringiu seu uso por muito tempo). Recomendado para gestantes com EAP associado a comprometimento funcional cardíaco (exercem benefícios na redução no pós-carga e na pré-carga). Sulfato de magnésio Altamente recomendada para casos de iminência de eclâmpsia, eclâmpsia, síndrome HELLP, pré-eclâmpsia com deterioração clínica e/ou laboratorial, incluindo hipertensão de difícil controle. Deixar de administrar é mais temerário que ocorrência de qualquer risco (complicações são raras). Deve-se usar o sulfato de magnésio hepta-hidratado. Concentração de magnésio disponível. Se houver necessidade de referenciar para outro serviço, preferir esquema de Pritchard (IM) – maior segurança para transporte. Concentração terapêutica do magnésio varia de 4 a 7 mEq/L (4,8 a 8,4 mg/dl). o 8 a 10 mEq/L: reflexo patelar abolido. o Acima de 12 mEq/L: risco de parada respiratória. o MONITORAR: reflexo patelar presente, FR ≥ 16 ipm e diurese ≥ 25 ml/h = se alteração nesses parâmetros, recomenda-se redução ou parada infusão endovenosa ou não realização da dose IM = avaliar função renal e níveis de MgSO4 = se valores dentro da normalidade, pode reiniciar o tratamento. o Em caso de sinais de intoxicação: GLUCONATO DE CÁLCIO (1g por via IV – 10 ml a 10%) – administrar lentamente. Em CASO DE RECORRÊNCIA da crise convulsiva: administrar mais 2g de sulfato de mag- nésio IV (bolus) e utilizar dose de manutenção de 2g/h. o Se DOIS desse bolus não controlarem as convulsões = droga de escolha é a DIFENIL- HIDANTOÍNA (esquema clássico para tratar crises convulsivas). o Investigar complicações cerebrais (hemorragias intracranianas). Pacientes com IR (Cr ≥ 1,2 mg/dl): dose de manutenção deve ser metade da dose recomen- dada; interromper infusão apenas se diurese for < 25 ml. Recomenda-se manutenção do sulfato de magnésio durante 24 h após resolução da gestação ou após última crise convulsiva. Conduta obstétrica → Pré-eclâmpsia sem sinais de deterioração clínica ou laboratorial Conduta expectante somente até as 37 semanas: a partir do momento que o diagnóstico de PE for realizado no termo, resolução da gestação deve ser indicada (reduz riscos maternos sem alterar os resul- tados perinatais). Manter o controle da PA. Orientar e monitorar sinais e sintomas de iminência de eclâmpsia. Monitorar periodicamente as alterações laboratoriais (hemograma, função hepática e renal) – rea- valiação semanal ou diante de alterações clinicas e/ou descontrole pressórico. Manter vigilância do bem-estar e crescimento fetal = avaliações biofísicas (CTG) e hemodinâmica (dopplervelocimetria). É comum que diferentes centros tenham protocolos específicos, baseados na disponibilidade dos métodos de avaliações. → Pré-eclâmpsia com sinais e sintomas de deterioração clínica e/ou laboratorial Muitas vezes os sinais e sintomas de gravidade da PE são transitórios = sempre prudente instituir tratamentos pertinentes para cada caso e reavaliar paciente clínica e laboratorialmente antes de proceder à indicação do parto. Situações de deterioração clínica que indicam resolução da gestação: Síndrome HELLP, eclâmpsia, DPP. Hipertensão refratária ao tratamento com três drogas anti-hipertensivas. EAP/comprometimento cardíaco. Alterações laboratoriais progressivas (trombocitopenia, elevação de enzimas hepáticas). IR, evidenciada principalmente por elevação progressiva dos níveis de ureia e creatinina, oligúria e anasarca. Alterações na vitalidade fetal. → IG inferior a 24 semanas Conduta expectante está relacionada a alta mortalidade perinatal (> 80%) e materna (27 a 71%). Diante de quadros de deterioração clínica, recomenda-se interromper a gestação (viabilidade neonatal é baixa e cercada de complicações e sequelas) = decisão compartilhada com pacientes e seus familiares. Manter controle pressórico adequado. Utilizar sulfato de magnésio. Atentar para sinais e sintomas de iminência de eclâmpsia. Manter monitoramento laboratorial de acordo com cada caso (hemograma, função renal ou hepática). → IG ≥ 24 semanas e < 34 semanas Ônus da prematuridade é muito alto nessa fase. Resolução da gestação só deve ocorrer se paciente tiver quadros de deterioração clínica. Manter controle pressórico adequado. Utilizar sulfato de magnésio (se não houver indicação absoluta para parto, pode-se manter medicação por 24 h ou de acordo com juízo clínico). Atentar para sinais e sintomas de iminência de eclâmpsia. Manter monitoramento laboratorial de acordo com cada caso (hemograma, função renal ou hepática). Realizar vigilância do bem-estar e do crescimento fetal (CTG e dopplervelocimetria). CORTICOTERAPIA (maturação pulmonar): betametasona 12 mg IM a cada 24 h por 48 h ou de- xametasona 6 mg IM a cada 12 h por 48 h. Sulfato de magnésio entre 24 e 32 semanas (neuroproteção fetal). Ainda nos casos de indicação absoluta para resolução da gestação, estabilização clínica materna é man- datória (principalmente com introdução de sulfato de magnésio). → IG entre 34-37 semanas Condução igual a descrita para idades entre 24-34 semanas. Diante de melhora clínica e laboratorial materna, bem como vitalidade fetal preservada, parto seja postergado para mais próximo do termo. Via de parto INDICAÇÃO OBSTÉTRICA: parto transpélvico sempre desejado, tanto na prematuridade quanto no termo (podem ser realizados procedimentos de preparo do colo diante da vitalidade fetal preservada). Em casos de pré-eclâmpsia com deterioração clínica e/ou laboratorial e colo uterino desfavorável, alterações na vitalidade fetal: CESÁREA É JUSTIFICÁVEL (pouca segurança para aguardar evo- lução do trabalho de parto). Em situações de PE sem sinais de deterioração e evidentemente no termo, com colo uterino desfavorável = promover preparo do colo uterino com misoprostol ou sonda de Foley (a fim de obter maior sucesso no parto vaginal). Atentar ao uso de ocitocina: promove retenção hídrica e hiponatremia = usar soluções concentradas e SF 0,9% (10 UI de ocitocina em 500 ml de SF, iniciando infusão com 12 ml/h). Quando indicar cesárea na síndrome HELLP, com plaquetas < 50.000/mm3, tomar alguns cuidados: Avaliar coagulograma. Realizar anestesia geral. Repor plaquetas no ato cirúrgico (5 UI se mostram suficientes). Realizar hemostasia cuidadosa. Cuidados no puerpério Monitorização da PA a cada 4 horas ou mais frequente de acordo com casos específicos. Suprimir avaliação da PA noturna se paciente estiver controlada (descanso diante da complexa atividade inicial da maternidade). Evitar AINES para controle da dor (principalmente em pacientes com comprometimento da função renal e/ou perda sanguínea importante). Evitar uso de medicações supressoras de lactação (bromoergocriptina e carbegolina) – aumento do risco de eventos vasculares cerebrais. Em caso do uso de sulfato de magnésio, manter medicação por 24 h. Se paciente apresentar PA de difícil controle e/ou sinais e sintomas de iminência de eclâmpsia, sulfato de magnésio também deve ser usado no puerpério (principalmente nos primeiros 5 dias). Utilizar anti-hipertensivos já no puerpério imediato, principalmente nos casos de maior gravidade (exceto se PA < 110 x 70 mmHg); IECA e BRA já podem ser utilizados. Hipertensão pré-existente que fazia uso de anti-hipertensivo e apresentava bom controle da PA com ela = reiniciar no pós parto imediato se não houver contraindicação à amamentação. Se referir mau controle pressórico com medicação prévia = substituir. Não usar diuréticos no puerpério (pode haver redução do volume vascular e comprometi- mento da amamentação). Atentar para deterioração clínica e/ou laboratorial: reavaliação laboratorial em até 24 h após parto. Monitoramento hospitalar pelo menos até o 3º dia após parto. Orientar sobre os riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares ou renais = acompanha- mento multidisciplinar (acompanhar PA, função renal, perfil lipídico e glicêmico). Desmame da metildopa: começa reduzindo a metade (500 a 1000 mg); a partir daí diminui de 250 mg em 250 mg; desmame da nifedipina: 10 mg em 10 mg da nifedipina; fazer reduções semanalmente; ao final do puerpério tem que estar sem nenhum medicamento; caso perceba que não pode ser retirado, introduzir terapia pra HAS comum. Maioria não dar alta antes de 5 dias. SÍNDROME HELLP É uma forma grave de PE, cuja disfunção endotelial manifesta-se pela ativação da coagulação e pela disfunção hepática (detectadas por exames laboratoriais). É possível se apresentar clinicamente com PA normal e/ou sem proteinúria. HEMÓLISE + ELEVAÇÃO DAS ENZIMAS HEPÁTICAS + PLAQUETOPENIA. Epidemiologia Frequência de 20% entre pacientes com PE. HELLP parcial: presença de apenas um ou dois critérios de definição. Quanto mais precoce (< 34 semanas) maior gravidade do quadro clínico e dos riscos maternos e fetais. Identificação de anormalidades laboratoriais em pacientes com PE é bastante comum: não há razões aceitáveis para antecipar o parto baseado exclusivamente nesse parâmetro (princi- palmente em IG prematuras). Porém, é recomendável cautela de forma a não subestimar essa situação (essa alteração inicial pode sinalizar um quadro de evolução). Etiologia Situação peculiar na qual predomina a disfunção endotelial = expressa comprometimento universal do organismo materno. HEMÓLISE Vasoconstrição na doença instalada danifica endotélio vascular formando matriz de fibrina = prejudica dinâmica da circulação das hemácias na microcirculação. o Essas hemácias sofrem modificações estruturais e emergem da circulação formas anômalas (equizócitos e equinócitos) = esfregaço de sangue periférico (indicativas de anemia hemolítica microangiopática). ELEVAÇÃO DAS ENZIMAS HEPÁTICAS Deve-se a lesão de hepatócitos por obstrução de sinusoides com fibrina. Dificuldades circulatórias levam à congestão da cápsula de Glisson (causa dor no HD). Pode haver necrose periportal, focos hemorrágicos difusos e confluentes com capacidade de formação de hematomas de grandes proporções que podem se manter restritos em posição subcapsular ou romper para a cavidade (hemorragias castastróficas e fatais). PLAQUETOPENIA Lesões endoteliais ativam plaquetas, induzindo agregação, formação de trombos e libera- ção de aminas vasoativas que agravam o vasoespasmo. Consumo exacerbado não consegue ser compensado pela medula óssea. Ativação da coagulação pode progredir para CIVD e quadros hemorrágicos de difícil controle. Quadro clínico Expressão clínica pode ser discreta, muitas vezes confundindo-se com sintomas comuns da gravidez. Queixas de mal-estar pouco definido, náuseas, cefaleia, icterícia, dor epigástrica e/ou em HD. Muitos pacientes não apresentam hipertensão arterial nem proteinúria. Todas as gestantes com IG > 20 semanas que procuram assistência com queixas de dor no HD, eventualmente associada a vômitos = consideradas elegíveis para diagnósticos de HELLP e devida- mente investigadas. Diagnóstico Pesquisa laboratorial de plaquetopenia, hemólise e alterações hepáticas deve ser recomendada em todas pacientes com PE. Hemólise: BT > 1,2 mg/dl, esfregaço de sangue periférico com formas anômalas de hemácias ou DLH > 600 UI). Disfunção hepática: transaminases > 70 UI ou o dobro do valor normal do método usado. Plaquetopenia: plaquetas < 100.000/mm3. Presença de trombocitopenia em paciente com PE é sinal laboratorial de alerta. Sinal mais precoce de modificação laboratorial; alteração do TP, TPTa e fibrinogênio apenas irão correr nas fases avançadas (quando queda das plaquetas vai além de 30.000/mm3) = pode apresentar CIVD, hemorragia difusa (petéquias, gengivorragia, hematúria, hematêmese, sangramento de locais de punção), além de riscos para procedimentos operatórios (episiotomia e cesárea). Hemólise e acúmulo de bilirrubina são responsáveis pela síndrome hemolítico-urêmica, que pode ser agravada pela redução da PA decorrente de quadros hemorrágicos (responsáveis pela instalação de IRA e consequente elevação da creatinina (> 1,1 mg/dl) e ureia). Dano epitelial é universal (comprometimento funcional de múltiplos órgãos): desconforto res- piratório ou EAP decorrente de danos nos capilares perialveolares, edema, hemorragias cerebrais e problemas do território placentário = pode culminar no DPP. Oligúria (47%), necessidade de hemotransfusão (33%), hemorragias (34%), IRA (20%), EAP (7%), óbito materno (4%). Diagnóstico diferencial Hepatites virais agudas, colecistite aguda, pancreatite, lúpus, fígado gorduroso da gestação, púrpura trombocitopênica, síndrome hemolítica-urêmica e choque séptico ou hemorrágico. Possibilidade de arboviroses como febre amarela e dengue hemorrágica. Aspectos terapêuticas Não é possível afirmar que existem medidas terapêuticasefetivas, com exceção da antecipação do parto. Para situações em que a conduta conservadora pode ser adotada de forma a otimizar as condições de assistência materna (programar remoção em centro especializado) ou qualificar prognóstico fetal através da administração de corticoides = modelo PIERS (preditor de desfechos maternos graves). Levar em conta que na calculadora de risco os parâmetros na definição de HELLP tem peso considerável para predição de desfechos adversos em 48 h. Para sistematizar a assistência = protocolos devem ser criados nos diferentes serviços para racionalizar uma sequência de passos. Em pacientes com HELLP sem hipertensão ou sem comprometimento cerebral sugestivo de eclâmpsia = não há evidências que apoiem o uso rotineiro de hipotensores ou de sulfato de magnésio. Em pacientes com quadro clássico de emergência hipertensiva e sinais cerebrais = uso de hipotensor de ação rápida como hidralazina ou nifedipina e sulfato de magnésio. Uso de corticoide: ainda controverso. É razoável seu uso em pacientes graves com contagem < 50.000 plaquetas/mm3, princi- palmente em locais onde a disponibilidade de sangue e de plaquetas não é adequada. Conduta obstétrica Não há razoes aceitáveis para postergar o parto em pacientes com IG > 34 semanas. Preparo do colo uterino com misoprostol ou com sonda de Foley pode resultar em parto vaginal = considerado desfecho altamente positivo em termos de redução de risco materno. Conduta conservadora pode ser adotada nos casos com IG < 34 semanas em que a utilização do corticoide antenatal representa redução consistente nos riscos neonatais (atenção: qualificação fetal nunca pode estar a frente dos riscos maternos). Via de parto Via de parto preferencial é VAGINAL. Nunca deve ser postergado com intuito de melhorar a qualificação fetal frente a situação materna grave. Indicações de cesárea Condições fetais avaliadas por métodos biofísicos (US e Doppler). Apresentações anômalas do feto em IG < 34 semanas. Presença de 2 ou mais cicatrizes de cesárea. Casos graves com contraindicação ao parto vaginal devem receber preparo do colo o mais rápido possível. Não realizar episiotomia (riscos de hemorragias e formação de hematomas no local). Parto instrumentado deve ser realizado apenas em situações especiais. Anestesia: contagem de plaquetas é o elemento essencial. Raqui e peridural contraindicadas com < 100.000 plaquetas/mm3 (risco de hemorragias e hematomas) = indicada anestesia geral. Plaquetas < 50.000/mm3: transfusão de plaquetas precedendo o início do ato operatório (doses preconizadas de 1U para cada 10 kg de peso). Transfusão está indicada em todas pacientes com trombocitopenia grave (< 20.000 plaque- tas), mesmo sem sangramento e independente do tipo de parto planejado. Manter plaquetas > 50.000/mm3 para cesárea e de 20.000/mm3 para parto normal. o Solicitar reserva de plaquetas e/ou concentrado de hemácias de forma antecipada. Incisão uterina Diante de IG muito precoces = incisão de segmento corporal pode ser necessária para facilitar a extração fetal e reduzir riscos de hemorragia materna. Não raro pode ocorrer atonia uterina: para prevenir usar 10 UI IM ou EV de ocitocina ime- diatamente após extração fetal; caso persista, misoprostol via retal (600 mcg). Assistência ao puerpério Primeiras 72 h do período pós-parto são extremamente críticas: possibilidade de piora da situação ma- terna decorrente do consumo de plaquetas e fatores de coagulação (mais acentuada depois de cesariana). Manter paciente em unidade de tratamento intensivo ou sob vigilância judiciosa da equipe assistencial. Acompanhar evolução clínica e laboratorial até que haja melhora da função hepática e tendência a elevação da contagem de plaquetas. Controle laboratorial a cada 24 h: hemograma com plaquetas, DLH, transaminases hepáticas e creatinina. Diurese controlada e mantida > 25 ml/hora. PA mantida < 150/100 mmHg. Caso pertinente, o sulfato de magnésio deve ser mantido por pelo menos 24 h. Remissão do processo: diurese espontânea > 25 ml/h e normatização gradativa dos exames laborato- riais. Prevenção Não há prevenção primária para síndrome HELLP. Melhor prevenção ainda é antecipar-se ao quadro, diagnosticando precocemente, amenizando a gravidade e complicações da doença. Pacientes devem ser alertadas para risco de recorrência da doença em gravidez subsequente + orientação para uso de AAS e reposição de cálcio + seguimento pré-natal em centro de referência, iniciando acompanhamento o mais precoce possível. Obs.: Aula com os residentes - HAC: fazer proteinúria basal; se aumentar 3x após 20 semanas: PE sobreposta. - PE/eclâmpsia fazer dose de ataque e transferir para cidade com boa capacidade. - Caso PA caia muito: suspender medicação, hidratação, elevação dos MMII. - Avaliar se Mg está adequado apenas pela clínica (não ficar dosando). - Sempre sondar paciente em uso do sulfato de magnésio para acompanhar a diurese. - Não diluir o gluconato de cálcio em RL pois ocorre cristalização. - Paciente deve ser mantida por 5 dias no hospital em observação. - DESMAME: retirar um cp de metildopa e um cp de nifedipino por semana, com controles; na última semana já pode associar metildopa com losartana. - Após puerpério em pacientes com HELLP ver a função renal (sequela renal?). MATERIAL ADELAIDE PARA DISCUSSÃO Referências: Manual do ALSO; Protocolos Assistenciais da FMUSP; Manual SOGIMIG de Ginecologia e Obstetrícia 6ª edição 1. Hipertensão Arterial Crônica Conceituar HAC Descrever sua etiologia e epidemiologia Citar os fatores de risco e classificação de risco destas pacientes Descrever a fisiopatologia Citar a propedêutica do pré-natal de uma paciente com HAC explicitando sua periodicidade Traçar o plano terapêutico para a assistência pré-natal da paciente do caso I, incluindo a periodicidade das consultas Citar as drogas não poderão ser utilizadas durante a gravidez e o porquê. Definir quais as situações clínicas iriam indicar a interrupção da gravidez 2. Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia Conceituar pré-eclâmpsia e eclâmpsia Classificar e definir os tipos clínicos leve, grave e eclâmpsia Citar a epidemiologia e os fatores de risco Descrever as hipóteses para a fisiopatologia Descrever as manifestações clínicas e a evolução da doença Citar a propedêutica no pré-natal e na internação para esclarecimento diagnóstico dos três tipos Definir as evitabilidades em prevenções primárias, secundárias e terciárias Traçar o plano terapêutico para a assistência da paciente do caso II Definir o melhor momento para interrupção da gravidez Falar sobre os cuidados durante o parto, incluindo via de parto e cuidados anestésicos e como RN Descrever os cuidados puerperais hospitalares e ambulatoriais para as pacientes com os três tipos de diagnóstico. 3. Síndrome HELLP: Conceitue Síndrome HELLP Citar os fatores de risco e epidemiologia Descrever a fisiopatologia e o que ocorre nos órgãos alvos Descrever as manifestações clínicas da Síndrome HELLP Definir as possíveis evitabilidades Descrever a propedêutica para o diagnóstico Definir a terapêutica e acompanhamento da paciente do caso III Falar sobre qual o melhor momento para interromper a gravidez Falar sobre os cuidados durante o parto, incluindo via de parto e cuidados anestésicos e como RN Descrever os cuidados puerperais hospitalares e ambulatoriais para as pacientes com os três tipos de diagnóstico. CASOS CLÍNICOS Caso I Paciente 37 anos, G5PN3A1, HAC em uso de hidroclorotiazida e propranolol, chega a unidade de saúde com gravidez de 15 semanas. Está assintomática e deseja iniciar o pré-natal. PA140/90mmHg, BEG, fundo uterino pouco acima da borda superior do pubis, colo fechado, BCF inaudível ao sonar. O pré-natal foi iniciado com as solicitações de exames de rotina para pré natal de risco habitual e a paciente não foi referenciada para o alto risco. Diagnóstico: HAC crônica leve. Pré-natal Consultas até 28ª semana, mensais; de 28ª a 34ª semana, quinzenais; após 34ª semana, semanais (retorno no máximo em uma semana casa haja troca da medicação). Solicitar avaliação da função renal: relação P/C (1ª opção); 2ª opção seria solicitar proteinúria de 24h. Exames complementares de forma individualizada: fundoscopia, ECG, RX tórax, USG renal. USG entre 20-24 semanas; a partir de 24 semanas mensalmente fazer USG para acompanhar o crescimento fetal (risco de RCF); em casos suspeitos, doppler quinzenal, além de outros exame spara vitalidade fetal. A partir de 20 semanas, atentar para sinais que indiquem PE sobreposta: ganho de peso de 1 kg, edema de face e mãos, cefaleia persistente, elevação dos níveis tensionais. Medidas de prevenção: AAS 100 mg 1 cp à noite (a partir de 12ª semana); cálcio 1-2 g a partir da 20ª semana (além de orientar ingesta adequada de cálcio). Tratamento não farmacológico Dieta normossódica, porém, balanceada. Exercícios físicos leves. Tratamento farmacológico Suspender o uso do propranolol (usado apenas na migrânea e risco de crise tireotóxica). Uso de HCTZ pode ser mantido, já que a paciente fazia uso (cessar uso na lactação). No Brasil: HAC moderada (PAD ≥ 100 mmHg e < 110 mmHg) ou até HAC leve (PAD < 100 mmHg), principalmente se já apresentar lesões de órgãos-alvo = não recomendar associar outro medicamento. Se mantiver quadro leve, parto com 40-41 semanas. Suspender a HCTZ no puerpério, substituindo pelo IECA/BRA. Caso II N.F.S 33 anos, G1P0A0, casada, professora era saudável antes da gestação, apenas possuía ovários policísticos e precisou de metformina para ajudar na ovulação. Engravidou no terceiro mês de tentativa. O pré-natal de risco habitual transcorria normalmente até que com IG 32 semanas começou edemaciar e ganhou 10kg no mês. A pressão arterial que era de 100/60 mmHg aumentou para 120/90 mmHg. Ela permanecia assintomática e seu obstetra decidiu manter consultas mensais. Com 36 semanas apresentou edema generalizado, cefaleia que não respondia com analgésicos comuns e epigastralgia. Por telefone foi orientada a usar sintomáticos pois o médico remarcou a consulta para 15 dias e viajou. No entanto a paciente foi piorando a cefaleia, o edema e a epigastralgia. Com 36.6 semanas o marido leva para uma avaliação na UPA e lá observaram a pressão arterial de 150/100 mmHg. Foi medicada com metildopa e ranitidina sem melhora. Nesta mesma noite ela começa a perder a visão e o seu marido resolve leva-la para o hospital de referência. Ao chegar no pronto atendimento, após 6 horas de viagem, ela com cefaleia incapacitante informa que não conseguia mais enxergar, estava um pouco obnubilada e em anasarca. Ao exame físico apresentava edema generalizado em especial periorbital, a PA foi aferida em 190/130 mmHg, BCF 160bpm, colo grosso fechado posterior. Diagnóstico: investigar PE Edema não é fator diagnóstico, mas é suspeito. Deveria ter solicitado exames: proteinúria de 24 h ou relação P/C ou proteinúria de fita. Inicialmente, na ausência de proteinúria, suspeitar de PE se tivesse trombocitopenia, disfunção hepática, EAP, IR, iminência de eclâmpsia ou PE. A partir de 28 semanas, as consultas deveriam ser quinzenais. Posteriormente, apresentou sinais de iminência de eclâmpsia: diagnóstico de PE com sinais/sintomas de gravidade (grave); distúrbios visuais + cefaleia persistente = encefalopatia hipertensiva. Solicitar exames laboratoriais para investigar síndrome HELLP: hemograma com plaquetas, LDH, creatinina, AST, bilirrubina. Deveria estar fazendo o tratamento preventivo com AAS 100 mg (0-0-1) e cálcio 1-2 g. PACIENTE COM CRISE HIPERTENSIVA: hidralazina 5 mg IV (repetir em 20 min); dose máxima: 45 g (monitoramento rigoroso da PA). Internação para avaliar as condições materno-fetais, introduzir/adequar doses de anti-hiper-tensivos, investigar comprometimento de órgãos-alvo, orientar pacientes e familiares sobre riscos e complicações. Objetivo: DIMINUIR PA EM 15-25%, atingindo valores da PAS entre 140 a 150 mmHg e PAD entre 90 e 100 mmHg. Iniciar sulfato de magnésio + monitorização do magnésio sérico. Caso III Paciente 35 anos, negra, G4PN3A0, IG 29 semanas, procura o pronto atendimento porque percebe que o feto está sem movimentação fetal. Informa que não faz pré-natal devido a dificuldade de marcação de consulta na sua unidade e que trabalha como diarista não tendo tempo para ir agendar sua consulta. Durante o atendimento informa ser tabagista 20cig/dia, e era nítido o edema palpebral e de MMII. Relata não ter comorbidades anteriores à gestação. Ao exame físico foi observado PA de 180/110mmhg, BCF 140bpm colo grosso fechado sem perdas vaginais. Foi aberto o protocolo para pré-eclâmpsia e os exames no hospital apresentavam diminuição de plaquetas e aumento das transaminases, LDH e bilirrubinas. Diagnóstico: síndrome HELLP. Usar hidralazina 5 mg IV ou nifedipino 10 mg VO + sulfato de magnésio. Corticoide se plaquetas < 50.000 plaquetas/mm3. Adotar conduta conservadora por ter < 34 semanas (?): iniciar corticoterapia neonatal (24-34 semanas) e uso de sulfato de magnésio para neuroproteção fetal (24-32 semanas).
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