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MULTIVIX – FACULDADE NORTE CAPIXABA DE SÃO MATEUS CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO. DIREITOS HUMANOS, DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO Livro por Boaventura de Sousa Santos e Marilena Chaui ANA CLARA FERREIRA VIEIRA DAVI RODRIGUES DOS SANTOS LOPES GABRIEL SILVA TINELI LUYS FELIPE NOGUEIRA CAVALCANTI PALOMA FRANCISCA PANCIERI DE ALMEIDA SÃO MATEUS – ES 2022 DIREITOS HUMANOS, DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO Livro por Boaventura de Sousa Santos e Marilena Chaui ANA CLARA FERREIRA VIEIRA DAVI RODRIGUES DOS SANTOS LOPES GABRIEL SILVA TINELI LUYS FELIPE NOGUEIRA CAVALCANTI PALOMA FRANCISCA PANCIERI DE ALMEIDA Trabalho de Teoria da Constituição e Direitos Humanos do Curso de Graduação em Direito apresentado à Faculdade Brasileira – MULTIVIX, abordando o livro Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento. Professor: Bruno Pereira Nascimento. SÃO MATEUS – ES 2022 SÚMARIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................. 4 2. DESENVOLVIMENTO .................................................. 6 2.1. Direitos Humanos: ilusões e desafios ................. 6 2.2. As tensões nos direitos humanos ....................... 11 3. CONCLUSÃO .............................................................. 19 1. INTRODUÇÃO. Escrito a honraria a Boaventura de Sousa Santos, o texto elaborado a fim de, trazer para a universidade, em foco a Universidade de Brasília (UnB) para convencimento necessário do Conselho Universitário, o conhecimento de um fragmentado, mas que só nos seus termos revela-se na continuidade crítica e propositiva que é a marca de modo radical de contribuição da personalidade distinguida. A homenagem retrata a marcante influência do Boaventura de Souza Santos junto a Darcy Ribeiro em levar e fazer parte a democrática e socialmente inclusiva, através da universidade. Tratando do texto, o mesmo, com efeito, os libertários privilegiavam duas formas principais de luta: as greves e a imprensa como expressão de uma plataforma cultural para o aumento de uma prática educativa baseada na liberdade. Diante dos alcances de consolidação de saberes emancipatórios, Boaventura refere-se a um certo esgotamento dos espaços convencionais de produção de conhecimento —as Universidades e os centros de pesquisa —, em geral vinculados ao que ele designa de monocultura do científico que suprime, outros saberes socialmente constituídos. Surgindo assim a proposta de um projeto popular de Universidade, que pressupõe, segundo ele, a promoção de diálogos significantes entre diferentes tipos de saberes, em que a própria ciência, para poder identificar diversas de conhecimento e também criadores alternativos de conhecimento e fazer experiências com critérios alternativos de rigor e relevância à luz de objetivos partilhados de transformação social emancipatória. Aborda-se, nessa linha, o mesmo continua, de apelar a saberes contextualizados, centrados e úteis, amarrados nas práticas transformadoras e, que, por isso, “só podem exercer-se em ambientes tão próximos quanto possível dessas práticas e de um modo tal que os protagonistas da ação social sejam também protagonistas da criação de saber”. Nos últimos anos, acirraram-se nos as mobilizações, sobretudo provocadas pelos movimentos antirracistas e por organizações que sustentam pela ampliação dos acessos sociais especialmente à educação, como a Educafro (que possui como missão, promover a inclusão da população negra (em especial) e pobre (em geral), nas universidades públicas e particulares), salientando a necessidade de coordenar princípios e procedimentos, para atribuir razoabilidade nos métodos de execução das ações afirmativas. Com isso, o objetivo do escrito, foi de apresentar através dos fundamentos jurídicos, que os Direitos Humanos, a democracia e desenvolvimento, são trabalhados com o diálogo e com a ação transnacionalmente organizada de grupos de oprimidos que se distinguirá uma política emancipatória de uma política meramente regulatória, buscando um “universalismo concreto” construído por meio de diálogos interculturais sob diferentes concepções de dignidade humana. 2. DESENVOLVIMENTO. 2.1. Direitos Humanos: ilusões e desafios. No dia 10 de dezembro de 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O documento, em seus trinta artigos, define os direitos básicos para a promoção de uma vida digna para todos os habitantes em qualquer parte do mundo, independente de nacionalidade, cor, sexo, política e religião. Os direitos humanos são normas que regem não só o modo como os seres humanos vivem em sociedade, como também a sua relação com o Estado e as obrigações que o Estado tem em relação a eles. Essas normas garantiram direitos sociais para muitos grupos de baixa relevância social como, por exemplo, as minorias que, geralmente, são pessoas que de algum modo e em algum setor das relações sociais se encontram numa situação de dependência ou desvantagem e que, em casos mais graves, sofrem processos de estigmatização e discriminação, resultando em diversas formas de desigualdade ou exclusão sociais, mesmo quando constituem a maioria numérica em relação a outro grupo. Por isso, em 1648, a fim de reduzir essa desigualdade, foi assinado uma série de tratados, como o Tratado de Vestefália, que puseram um fim na Guerra dos 30 anos e, consequentemente, concedeu direitos a determinadas minorias religiosas. Assim, a proteção de minorias ganhou uma relevância especial para as minorias religiosas ao passo que, posteriormente, a atenção mudou para as minorias étnicas. Paralelo a isso, com o final da Primeira Guerra Mundial, surgiu-se o princípio da autodeterminação nacional e foram criadas novas leis para as minorias, como o direito a cláusulas de não discriminação e a função da Sociedade das Nações de monitorizar os níveis de proteção concedidos a grupos minoritários. Após isso, com o fim da Segunda Guerra Mundial a proteção das minorias foi substituída por instrumentos que protegiam os direitos humanos individuais e liberdades, baseados nos princípios da não discriminação e igualdade. A proteção das minorias e o reconhecimento dos seus direitos reemergiu, assim, na agenda política, de modo que a proteção dos direitos das minorias tornou-se uma das condições para a obtenção da qualidade de se tornar membro do Conselho da Europa e, posteriormente, a União Europeia, seguindo os mesmos passos, exigiu a proteção das minorias como condição para o estabelecimento de relações diplomáticas entre a União e os novos Estados. Diante desses argumentos, surgem questionamentos sobre a validade dos Direitos Humanos na sociedade atual, se realmente tais direitos alcançam as minorias e os indivíduos marginalizados, tendo em vista, que há mazelas no atual cenário social que não são atingidas pelos direitos humanos. Logo, Boaventura de Sousa Santos, autor da obra “Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento”, reitera tais questionamentos, trazendo a concepção contra hegemônica dos direitos humanos, começando pela hermenêutica de suspeita defendida por Ernest Bloch, que em sua teoria, a partir do século XVIII, “o conceito de utopia como instrumento de uma política liberal foi sendo superado e convertido pelo conceito de direitos”. Ernest Bloch reconhece que os direitos “nascem” de uma dualidade na modernidade ocidental. O primeiro lado foi conceituado como uma genealogia abissal, que dividiu o mundo entre duas sociedades, a metropolitana e a colonial. A colonial não tinha o mesmo acesso e nem a mesma eficácia de teorias epráticas que eram vigentes na metrópole, se tornando invisíveis as lutas e conquistas coloniais. De outro modo, no teor do discurso de emancipação, os direitos humanos foram devidamente contemplados para vigorarem nas sociedades metropolitanas, acentuando a atual realidade, na qual essa linha abissal ainda existe, não tendo a sua finalidade no período histórico colonial, sendo reproduzida de outras formas (racismo, xenofobia, candidatos a asilo ou vítimas de governos totalitaristas, invisibilidade do registro civil, políticas migratórias opressivas, entre outras) e, gerando exclusões drásticas no âmbito social. Nesse contexto, convém analisar a origem histórica dos direitos humanos no Brasil e suas consequências na contemporaneidade. Conforme o entendimento do sociólogo Raymundo Faoro na obra “Os donos do poder”, a sociedade brasileira se caracteriza por um estamento burocrático que beneficia especialmente grupos de elites ligados ao Estado, angariando para si poder, riqueza e distinção social. Essa concentração impede que a democracia se desenvolva de forma perene por meio dos grupos de pressão na sociedade civil que façam frente ao Estado e estimule que o poder, os recursos e principalmente que os direitos sejam distribuídos às parcelas excluídas pela burocracia estatal. Ou seja, desde a formação do país, existe uma estrutura social que não atende aos interesses dos grupos marginalizados e as minorias. Sendo assim, os direitos humanos têm sido utilizados como garantias frente a essa realidade. O segundo lado da teoria de Bloch, foi definido como genealogia revolucionária da sociedade metropolitana. A revolução americana e a revolução francesa, foram criadas em nome da lei e do direito. Sendo assim, Bloch entende que a hegemonia do conceito de direito é relacionada ao individualismo produzido no período histórico em que a burguesia estava surgindo, e que já conquistada a hegemonia econômica, alcançava-se a hegemonia política que se estabeleceu a partir das revoluções supramencionadas. Logo, o conceito de lei e de direito produzidos em meio ao individualismo burguês emergente inspiraram o capitalismo, bem como a teoria liberal. Destarte, a atual sociedade se deleita na ilusão de que a supremacia dos direitos humanos como linguagem da dignidade humana foi conquistada de forma uniforme, se tornando tal utopia um consenso entre os grupos sociais, se manifestando de várias formas, dentre elas, destaca-se cinco: a teologia, o triunfalismo, a descontextualização, o monolitismo e o antiestatismo. A ilusão teológica consiste em interpretar o contexto histórico em que os direitos humanos e o bem condicional foram conquistados, de frente para trás. Ou seja, ler o presente como resultado de um caminho linear e orientado do passado. Tal ilusão cega os grupos sociais sobre o fato de que tanto o passado quanto o futuro contracenaram juntos, com diferentes filosofias e correntes ideológicas, e que os direitos humanos caracterizado como uma de tais correntes é o resultado contingente que pode ser explicado a posteriori, mas que não poderia ser previsto, tendo em vista que os direitos humanos traduziu-se em intensas mudanças históricas. A segunda ilusão, nomeada como triunfalismo tem como principal ideia a vitória dos direitos humanos como bem humano incondicional. Desse modo, a ilusão teológica tem raízes triunfalistas, ressaltando que as outras linguagens de dignidade humana são inferiores, em termos éticos e políticos, ao competirem com os direitos humanos. Nesse contexto, cabe analisar as razões de tal superioridade. A princípio, nota-se que as correntes ideológicas de libertação nacional no âmbito político e econômico (socialismo, comunismo, revoluções e nacionalismo), utilizaram de linguagens alternativas de dignidade humana e, em determinado espaço e tempo estiveram no domínio. No entanto, não constituíram a gramática dos direitos humanos para justificarem suas lutas e causas. Desse modo, mesmo com o fato de que outras gramáticas e linguagens de emancipação estiveram no domínio, a longo prazo, elas foram derrotadas. Com isso, o triunfo dos direitos humanos pode ser considerado um progresso para alguns, e para outros, um retrocesso histórico. A terceira ilusão, a descontextualização, caracteriza-se pelo ideal de que os direitos humanos foram usados como arma política, em contextos contrarrevolucionários, ao passo de legitimarem práticas contraditórias e opressivas. Diante disso, deixando de ser parte do imaginário revolucionário e se tornando hostis e hipócritas, legalizando ações que violam os reais direitos humanos, sendo cada vez mais evidente os discursos de retrocesso na sociedade atual. Nesse contexto, os direitos humanos, nos meados do século XIX, se tornou uma gramática despolitizada de transformação social, sendo integrado ao Estado, e o Estado se responsabilizou pelo monopólio do direito e da administração da justiça. Com isso, o discurso dos direitos humanos significou diferentes coisas e diversos contextos históricos, tendo suas raízes em revoluções modernas ou em ruínas dessas revoluções. A quarta ilusão é o monolitismo. A declaração da revolução francesa dos direitos do homem coexiste dois valores, o direito do homem o do cidadão. Sendo assim, os direitos humanos semeiam dois grupos de coletividade. A primeira coletividade consiste em ser supostamente mais inclusiva à humanidade, nascendo os direitos humanos. E a segunda coletividade, consiste em ser mais restrita, abrangendo a coletividade dos cidadãos de um determinado Estado. Dessarte, ao longo dos anos os direitos humanos foram sendo introduzidos nas constituições e nas práticas jurídico-políticas dos países e foram nomeados como direitos fundamentais, garantidos pelo Estado e efetivados pelos tribunais. Mas, na prática a efetivação dos direitos de cidadania sempre foi precária na maioria dos países, principalmente os emergentes. Sendo assim, os direitos humanos foram suplicados através de uma necessidade em situações de erosão ou violação grave dos direitos de cidadania, surgindo em um nível inferior de inclusão, e sucedendo da comunidade mais densa para a mais dissolvida da humanidade. Por fim, temos a quinta ilusão, o antiestatismo. Os direitos humanos têm raízes na modernidade ocidental, a fim de combater os Estados absolutistas. Essa luta teve um avanço histórico após as revoluções francesa e americana, que consolidou um caráter negativo, ou seja, o Estado tinha que deixar de agir de modo que infringissem os direitos. Porém, com a emergência gradativa dos direitos humanos, passou-se a adquirir um caráter positivo, ou seja, o Estado deve agir de modo que realize as prestações em que se traduzem os direitos. Com esses pensamentos, o Estado tem sido colocado como centro de diversos debates dentro dos direitos humanos e deve continuar, mas, de maneira moderada, pois essa centralidade inviabiliza abordar outros assuntos, como o de teor econômico, que está de forma exacerbada, dominando o mundo e contribuindo para reorganizar o Estado, diluindo seu poder. Com essa reconfiguração de poder do Estado, a identificação e a punição das violações dos direitos humanos são forçadas a serem incluídas nas ações do poder econômico, que é forte o bastante para tornar o Estado em um instrumento de seus interesses. Essas ilusões são fundamentais para a construção da prática contra hegemônica, assentando-se em dois pilares: o trabalho político e o trabalho teórico. O trabalho político tem com característica os movimentos e organizações que lutam por uma sociedade mais justa e mais digna. E o trabalho teórico tem como objetivo a construção alternativa dos direitos humanos. Nesse sentido, o presente trabalho faz referência as lutas enfrentadas pela população brasileira e outras populações mundiais para contribuir para areflexão. Por fim, pode-se analisar que práticas que ferem os direitos humanos, colabora para a perpetuação do problema e se configura como um fato social. Este conceito, criado pelo sociólogo e antropólogo francês Émile Durkheim, afirma que valores exteriores e gerais são impostos de modo coercitivo pela vida em sociedade e assim, moldam o comportamento dos indivíduos. 2.2. AS TENSÕES NOS DIREITOS HUMANOS. Nos direitos humanos, pontua-se nove tensões, a tensão entre o universal e o fundacional; entre o individual e o coletivo; entre o Estado e o anti- Estado e o seu desdobramento na questão das gerações de direitos humanos; entre o secular e o pós-secular; entre direitos humanos e deveres humanos; entre a razão de Estado e a razão dos direitos; entre os direitos dos humanos e os direitos dos não humanos; entre igualdade e reconhecimento da diferença; e entre desenvolvimento e autodeterminação. Inicialmente define-se tensão, de forma superficial, como algo que se está ameaçado de se romper. Para introduzir o assunto trata-se a tensão entre o universal e o fundacional. Os dois tem significados homônimos, o universal é para o tudo, e fundacional é para algo específico, que pode ser uma força tão poderosa quanto a universalidade e generalidade do universal. De acordo com Santos (2006), eles hoje estão na origem da tensão entre o princípio da igualdade e o princípio do reconhecimento da diferença e mesmo da tensão entre desenvolvimento e autodeterminação. Ambos têm origem histórica ocidental, questionando a definição de tais, uma vez que se tem uma origem se tem o questionamento se é de fato para todos. O mundo se encontra em um período transitório, e a revisão da história é cada vez mais credível. A tensão entre o individual e o coletivo é a de conhecimento mais amplos, há diversas discussões entre o direito do indivíduo e o direito do Estado, baseia-se primariamente através da Declaração Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas, que é a primeira grande declaração universal do século passado, à qual se seguiriam várias outras. Só conhece dois sujeitos de direito, antes da Declaração datada em 1948, havia várias nações, comunidades e povos que não tinham Estado, logo, foi um marco para os Direitos Humanos. Ao longo do tempo, depois de muitos tabus, a Declaração passou a abranger mais povos, atendendo as particularidades culturais de cada um. Tratando sobre os direitos coletivos, eles não entram institucionalmente nos direitos humanos, a tensão entre direitos individuais e direitos coletivos decorre da luta histórica dos grupos sociais que, por serem excluídos ou discriminados enquanto grupos, não podiam ser adequadamente protegidos por direitos humanos individuais, são eles, a luta pelas mulheres, homossexuais e indígenas por exemplo. Não há especificamente uma contradição entre direitos individuais e direitos coletivos, mais que não seja exclui o fato de existirem muitos tipos de direitos coletivos, que existem para eliminar ou reduzir os direitos e injustiças de coletivos que são discriminados ou vitimados. No que tange a tensão entre o Estado e o anti-Estado, permanece e tem uma validade específica na tensão entre as chamadas gerações de direitos humanos. Este é o domínio em que os direitos humanos mais se confundem com os direitos de cidadania, na ascendência dos direitos humanos está uma pulsão anti-Estado, e essa pulsão teve ao longo dos últimos duzentos anos significados políticos contraditórios. A efetivação destes direitos humanos depende totalmente do Estado e por isso implica uma transformação na natureza política da ação do Estado. Porém, os últimos trinta anos demostraram-se bem que a aceitação da ideia da indivisibilidade dos divergentes tipos de direitos humanos tem ocorrido mais no nível dos princípios do que no nível das práticas, já que a versão neoliberal dos direitos humanos em vigor nos últimos trinta anos veio a repor a doutrina liberal com mais extremismo e hostilidade, quando comparado à ascensão dos direitos sociais e econômicos por parte do Estado. É importante salientar que, enquanto na sua formulação original, liberal e oitocentista, a posição anti-Estado tinha alguma razão de ser democrática em face do autoritarismo que as sequelas do ancien régime geravam, a posição neoliberal anti-Estado, da década de 1980 em diante, é reacionária e antidemocrática porque o seu objetivo é desmantelar o Estado social, o conjunto de políticas sociais que deram efetividade aos direitos sociais e econômicos e consolidaram no imaginário popular a ideia de soberania (que fora crucial no pensamento liberal), hoje convertida em anátema, vista como um obstáculo ao livre comércio e à globalização. Já a tensão entre secularismo e pós-secularismo, foi o momento em que se transferiu a religião para com um direito privado, de modo a que o domínio público fosse um domínio secularizado onde os conflitos religiosos não teriam lugar, podendo assim, ser possível a liberdade religiosa, porém na pratica, as igrejas católica e protestante, de continuarem a exercer uma influência importante nos negócios públicos. A tensão entre direitos humanos e deveres humanos, por mais que ambas foram arquitetadas juntas, os direitos humanos não comportam uma cultura de deveres. E para compreender tal assimetria é necessário considerar as diferentes arqueologias de cada uma das gramáticas em presença. Ademais, há a tensão entre a razão de estado e a razão de direito. Direito não é justiça, mas uma realidade social que deve estar a serviço da justiça. É sob a perspectiva dos direitos que se afirma o Estado e não sob a perspectiva do Estado que se afirmam os direitos. Os direitos representam uma das decisões básicas do constituinte, através da qual os principais valores éticos e políticos de uma comunidade alcançam expressão jurídica. Vale destacar ainda que são dotados de especial força expansiva, projetando-se por todo o universo constitucional e servindo como critério interpretativo de todas as normas do ordenamento jurídico. Segundo o preâmbulo da Constituição Federal de 1988, o estado é destinado a assegurar, ou seja, proteger o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. Logo, não existe democracia se o Estado não cumpre a sua função de aplicar a justiça e o direito na sociedade, sem exceções. No decorrer dos anos o homem desenvolveu diversas perspectivas acerca do conhecimento jurídico e social, criando novas formas de governo, uma delas é o governo autoritário derivado do Estado Moderno de Nicolau Maquiavel. Um conceito fundamental para se compreender o Estado moderno é a razão que o Estado estabelece ao governante para utilizar da força estatal e dos demais meios necessários para contornar decisões condicionadas por normas prévias e atingir o principal objetivo do “estado de exceção”, que é a manutenção do poder. Entretanto, esse tipo de governo, geralmente, dependendo do seu teor, podem se chocar com os direitos e garantias fundamentais do ser humano e essa tensão pode igualmente ser definida como a tensão entre a continuidade dos direitos humanos e as descontinuidades dos regimes políticos. Paralelo a isso, é nítido que as Constituições anteriores tratavam primeiro do Estado, para, depois, disciplinarem os direitos. Foram consolidados temas benéficos ao Estado e não aos direitos. Mas, a nova visão constitucional da Constituição de 1988 assume como ponto de partida a gramática dos direitos e, assim, altera o paradigma de um Direito inspirado pela ótica do Estado para um Direito inspirado pela ótica da cidadania, radicado nos direitos dos cidadãos. No que diz respeito entre a tensão do humano e não humano.A universalidade dos direitos humanos possui, no decorrer da história, diversas controvérsias. A ideia de que, na época da escravidão, nem todos os seres humanos eram plenamente humanos e, por isso, não deviam ser contemplados com a dignidade conferida à toda humanidade é incontestável. Outra grande polêmica quanto a esse assunto é que os sujeitos de direitos são exclusivamente os humanos. Entretanto, para outras gramáticas de dignidade, o conceito de ser humano é muito mais amplo, abrangendo como, por exemplo, a ordem cósmica e a natureza, visto que, se não forem preservadas, a luta a favor de direitos concedidos à humanos será em vão. Além disso, devemos pontuar a tensão entre o conhecimento da igualdade e da diferença. O debate acerca da igualdade e da diferença se fez presente desde os tempos antigos, sendo mais contundente na sociedade contemporânea. Não se trata somente de uma igualdade socioeconômica cultural, mas também da igualdade jurídico-política e do princípio da isonomia, ou seja, a igualdade de todos perante a lei. Segundo o artigo 5º da Constituição Federal de 1988 (CF88) “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Entretanto, por melhor que sejam as leis, elas sozinhas não chegam ao objetivo final. Tendo em vista os fatos mencionados anteriormente, a luta pela igualdade, enquanto luta pela redução das desigualdades socioeconômicas, veio muito mais tarde com os direitos sociais e econômicos. Este paradigma começou a ser questionado quando grupos sociais discriminados e excluídos se organizaram, não só para lutar contra a discriminação e a exclusão, mas também para pôr em causa os critérios dominantes de igualdade e diferença e os diferentes tipos de inclusão e exclusão que legitimam. Paralelo a isso, segundo Nery Junior, advogado e professor brasileiro, o princípio da igualdade pressupõe que as pessoas sejam colocadas em situações diferentes e, também, sejam tratadas de forma desigual, surgindo a assim a sua famosa frase: “Tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades”. Destarte, temos a tensão entre o direito ao desenvolvimento e outros direitos humanos individuais e coletivos, nomeadamente o direito à autodeterminação, o direito a um ambiente saudável, o direito à terra e o direito à saúde. Segundo o artigo inaugural da Declaração do Direito ao Desenvolvimento de 1986, o direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável e confere a toda pessoa humana e a todos os povos a participação no desenvolvimento econômico, social, cultural e político. O direito ao desenvolvimento teve em sua base teórica ideias semelhantes às da teoria da dependência, que tratava sobre as trocas desiguais nas relações econômicas de dependência entre os países subdesenvolvidos e desenvolvidos, do mercado internacional. A dependência expressa subordinação, a ideia de que o desenvolvimento desses países está subordinado ao desenvolvimento de outros países, devido ao desenvolvimento capitalista do país e sua inserção no capitalismo mundial. A filosofia do movimento dos países não alinhados - fórum de 120 países que não estão alinhados formalmente à um bloco de poder de internacional – surgiu durante o período da Guerra Fria – período cujo o mundo tinha a possibilidade de escolha entre o capitalismo em processo de globalização e a alternativa socialista – e auxiliou os países de periferia a alcançar a reivindicação de garantias indispensáveis para o seu desenvolvimento. Ademais, essa reivindicação se manifestou no movimento para uma Nova Ordem Econômica Internacional em que os países desenvolvidos fizeram uma oposição frontal, intensificada após a queda da União Soviética, as possibilidades de desenvolvimento que se não pautassem pelas normas do Consenso de Washington - conjunto de dez políticas econômicas liberais que foram sugeridas e aplicadas para acelerar o desenvolvimento de vários países. Logo, os custos sociais do desenvolvimento tornaram-se mais e mais evidentes. Há ainda a tensão entre o direito ao desenvolvimento e os direitos ambientais e em especial o direito à saúde. O desenvolvimento é um processo econômico, social, cultural e político que objetiva o bem-estar de toda a população e de todos os indivíduos com base em sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e na distribuição justa dos benefícios daí resultantes. Entretanto, no início do século XXI, o desenvolvimento encontrou- se ameaçado, visto que o desenvolvimento capitalista toca os limites de carga do planeta Terra, como, por exemplo, em 2012, ano em que diversos recordes de perigo climático foram ultrapassados nos EUA, na Índia, no Ártico. Em consonância com os fatos mencionado, o perigo climático pode desencadear secas, inundações, crise alimentar, especulação com produtos agrícolas, escassez crescente de água potável, entre tantos outros malefícios. Paralelo a isso, segundo o Art. 197 da Constituição Federal de 1988 é de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Entretanto, não só no Brasil, mas também em vários países é nítido o acumulo de terras e os vastos espaços destinados à monocultura alimentar, agrocombustível, ou reserva alimentar de países estrangeiros. No Brasil, este fenômeno ocorre no contexto da fronteira agrícola para a exportação de commodities negociação em escala global, com preços definidos por oferta e demanda. Segundo pesquisas estatísticas, nos últimos cinco anos o Brasil aumentou o consumo de produtos agrícolas, ocupando o lugar de maior consumidor de agrotóxicos no mundo, comprovando, assim, que o processo produtivo agrícola brasileiro está cada vez mais dependente dos agrotóxicos e fertilizantes químicos. Em relação aos fatos mencionados, tendo em vista os agrotóxicos no contexto da saúde pública, os impactos do uso intensivo são amplamente desastrosos, pois atingem vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais, como os trabalhadores que atuam nos setores da cadeia produtiva do agronegócio, a população residente nos arredores das fábricas e fazendas e, obviamente, todos os consumidores desses alimentos. Além disso, a degradação nos ecossistemas derivada do uso prolongado dos agrotóxicos afeta, principalmente, as populações dependentes da natureza, como indígenas e agricultores dedicados à agroecologia. Ainda convém lembrar que, segundo pesquisas, é comprovado a intoxicações humana, malformações e doenças de pele decorrentes da contaminação com agrotóxicos e fertilizantes químicos no ecossistema. Por fim, temos a tensão entre a autodeterminação indígena e o desenvolvimento neoliberal e a tensão com os direitos dos povos de se libertarem do colonialismo e neocolonialismo. Segundo a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, os índios têm o direito à conservação e à proteção do meio ambiente e da capacidade produtiva de suas terras ou territórios e recursos. Em contradição com a afirmação anterior, cabe destacar que a violência contra os povos indígenas tem se manifestado de modo alarmante no agronegócio e, principalmente, na exploração de recursos naturais, exatamente no ponto focal da Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas. Logo, incitando o anseio pelo direito à autodeterminação dos povos - princípio que visa garantir a todo povo de um país o direito de se autogovernar - , representando objetivamente pela Convenção 169 da OIT que enfatizava o direitode participação dos povos indígenas no uso, gestão e conservação de seus territórios, além do direito a indenização por danos e proteção contra despejos e remoções de suas terras tradicionais. O modelo de desenvolvimento econômico baseado nos recursos naturais é devastador, tendo em vista os riscos à terra e ao território. Além disso, a constante expansão desse ramo cria possibilidades para a reprimarização da economia, ou seja, há chances de exportar mais produtos primários do que produtos industrializados, consequentemente, transformando a população indígena em obstáculo, visto que a população indígena luta pelos seus direitos e tentar defender os seus territórios da entrada de empresas capitalizadas. Como resultado desse cenário, os estereótipos somados juntamente com o conflito de interesses entre empresas e comunidades indígenas, poderá resultar em assassinatos de lideranças e influenciadores que lutam a favor da causa, assim, funcionando como obstáculos. A Constituição de 1988, instituída no Brasil, garantiu por lei o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas aos seus territórios. E a partir de então muitos de tais territórios foram reconhecidos, porém sempre envolvidos em problemas devido á dramatização política, como a resistência, legal e ilegal, o sistema judicial conservador, governantes que veem nos povos indígenas apenas sua garantia de peso eleitoral e o racismo. No continente latino-americano, Ruy Mauro Marini definiu a luta dos povos pela libertação colonialismo como sub imperialismo – estratégia econômica para adquirir monopólios e capital financeiro. Na sua opinião do autor, no final dos anos 70 o Brasil era a principal potência capitalista, visto que o ponto de vista do Brasil na divisão internacional do trabalho permitia-lhe criar uma relação de cooperação com os países de primeiro mundo, tendo, como objetivo, desenvolver uma política expansionista autônoma, ou seja, criando uma esfera de influência regional própria. Logo, o Brasil tendia a reproduzir atos imperialistas nas suas relações econômicas internacionais. O sub imperialismo, em sua essência, possui uma composição de média de capital, em comparação à na escala mundial dos aparatos produtivos nacionais, e, também, a aplicação de uma política expansionista que integra o sistema produtivo imperialista. Entretanto, o Brasil, ao assumir essa posição, transmite ao mundo que as lições dos colonizadores são mais eficientes, ou seja, mais benéficas em relação as dos antepassados que lutaram contra o colonialismo em nome da autodeterminação dos povos e da justiça social. 3. CONCLUSÃO. Conclui-se que os direitos humanos são normas que regem não só o modo como os seres humanos vivem em sociedade, mas também a sua relação com o Estado e as obrigações que o Estado tem em relação a eles. A universalidade dos direitos humanos possui, no decorrer da história, diversas controvérsias. As regras atuais do capitalismo-global-sem-regras ajuramentam a ver, na batalha ambiental, a batalha dos povos indígenas e quilombolas; na luta pelos direitos econômicos e sociais, a luta pelos direitos cívicos e políticos; na luta pelos direitos individuais, a luta pelos direitos coletivos; na luta pela igualdade, a luta pelo reconhecimento da diferença; na luta contra a violência doméstica, a luta pela liberdade de orientação sexual, a luta dos camponeses pobres; na luta pelo direito à cidade, a luta contra a violência no campo, a luta pelo direito à saúde coletiva.
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