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Equilíbrio Ácido-Base APRESENTAÇÃO A regulação do equilíbrio ácido-base é uma tarefa fundamental do corpo. As perturbações de tal equilíbrio estão entre os problemas mais importantes confrontados pelos profissionais da saúde em nível hospitalar. A regulação dos níveis sanguíneos de ácidos e bases é realizada pela ação conjunta dos rins e do sistema respiratório. Nessa Unidade de Aprendizagem, abordaremos como o sistema respiratório e o sistema renal regulam o pH do sangue. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Listar os principais tampões no sangue, líquido intersticial e líquido intracelular.• Explicar os mecanismos do sistema respiratório e renal da regulação do equilíbrio ácido- base. • Descrever as alterações que ocorrem durante o desenvolvimento de acidose e alcalose do sangue. • DESAFIO Acidose e alcalose são estados anormais resultantes de excesso de ácidos ou de bases no sangue. O pH normal do sangue deve ser mantido dentro de uma faixa estreita (7,35-7,45) para o funcionamento adequado dos processos metabólicos. Acidose é um excesso de ácido no sangue, com pH abaixo de 7,35, e alcalose é um excesso de base no sangue, com pH acima de 7,45. Muitos distúrbios e doenças podem interferir no controle do pH do sangue, causando acidose ou alcalose. E ambas levam a consequências de alterações do bom funcionamento dos tecidos, principalmente do sistema nervoso. Sendo assim, Questiona-se: Qual o efeito de uma acidose e de uma alcalose sobre o sistema nervoso? INFOGRÁFICO Veja neste Infográfico os principais sistemas envolvidos com a regulação do equilíbrio ácido- base. CONTEÚDO DO LIVRO O sistema respiratório e o sistema renal desempenham um papel fundamental na regulação do equilíbrio ácido-base. No Capítulo Equilíbrio Ácido-Base, da obra Biofísica e Fisiologia, você verá mais sobre as principais tampões no sangues, no líquido intersticial e no líquido intracelular. Além aprender que o controle de massas sinaliza que a manutenção, de forma constante, de determinada substância no corpo depende da relação entre o volume de ingestão ou produção e o metabolismo ou excreção dessa mesma substânci Boa leitura. BIOFÍSICA E FISIOLOGIA Mariluce Ferreira Romão Equilíbrio ácido-base Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Listar os principais tampões no sangue, no líquido intersticial e no líquido intracelular. � Explicar os mecanismos do sistema respiratório e renal da regulação do equilíbrio ácido-base. � Descrever as alterações que ocorrem durante o desenvolvimento de acidose e alcalose do sangue. Introdução O equilíbrio acidobásico, ou a homeostasia do pH sanguíneo, é um dos controles essenciais do corpo humano. Perturbações desse equilíbrio es- tão entre os problemas mais importantes confrontados pelos profissionais da saúde em nível hospitalar. A regulação dos níveis sanguíneos de ácidos e bases é realizada pela ação conjunta dos rins e do sistema respiratório. Neste capítulo, você vai estudar os principais tampões no sangue, no líquido intersticial e no líquido intracelular, bem como os mecanismos do sistema respiratório e renal que realizam a regulação do equilíbrio ácido-base. Também vai ver quais são as alterações que ocorrem durante o desenvolvimento de acidose e alcalose do sangue. Principais tampões no sangue, no líquido intersticial e no líquido intracelular Quando dentro dos padrões normais, a concentração dos níveis plasmáticos arteriais apresenta 0,00004 mEq/L de hidrogênio (H+). Esse número é con- siderado baixo, quando comparado à outros íons, como o sódio (Na+), com concentração plasmática em torno de 135 mEq/L (SILVERTHORN, 2017). Em razão de o nível plasmático de H+ ser baixo no organismo humano, ele é expresso, em geral, por uma escala logarítmica de pH que vai de 0 a 14, e um pH de 7 é considerado neutro, transitório entre ácido e base. Quando o pH é inferior a 7, o nível de H+ é maior do que 1 × 10−7 M, e isso define a solução como ácida. Quando o pH é superior a 7, o nível de H+ é menor do que 1 × 10−7 M, o que define a solução como alcalina ou básica. No corpo humano, o pH considerado normal é de, aproximadamente, 7,4, ou seja, “pouco” alcalino. Uma alteração de 1 unidade de pH significa uma alteração de 10 vezes nos níveis plasmáticos de H+ (SILVERTHORN, 2017). Vejamos mais a seguir. Mudanças no pH podem desnaturar proteínas Como vimos, a concentração plasmática normal do pH é de, aproximadamente, 7,4 — algo entre 7,38 a 7,42. No meio extracelular, o pH, geralmente, é reflexo do pH encontrado no meio intracelular, e o oposto também ocorre. Por causa da dificuldade de monitorização do meio intracelular, os níveis plasmáticos referenciais sob o ponto de vista clínico são os sinalizadores do pH do líquido extracelular (LEC) e do pH do corpo como um todo. Os líquidos corporais reconhecidos como “externos”, em relação ao meio interno corporal, como os que são encontrados no lúmen do canal alimentar ou nos túbulos renais, podem ultrapassar, significativamente, a faixa normal prevista para a concentração de pH. A secreção gástrica ácida, por exemplo, pode diminuir o pH do estô- mago para 1. A urina pode apresentar um pH entre 4,5 a 8,5, dependendo da necessidade de excreção de H+ ou HCO− (ânion proveniente do sal) do corpo (SILVERTHORN, 2017). O nível de H+ no corpo é, “cuidadosamente”, regulado. Há proteínas dentro das células, como enzimas e canais de membrana, com estrutura tridimensional e alta sensibilidade ao pH. Alterações nas concentrações plasmáticas de H+ modificam a estrutura reconhecida dessas proteínas, devido às suas ligações com o hidrogênio. Isso interfere na sua forma tridimensional e, consequente- mente, reflete nas suas ações. Um pH fora da normalidade afeta, diretamente, a atividade nervosa sis- têmica. Quando o pH está muito baixo, isso indica uma situação conhecida como acidose, ou seja, os neurônios ficam menos ativos, deprimindo o sis- tema nervoso central (SNC). Nesses casos, os indivíduos ficam confusos e desorientados, resultando em estado de coma. Quando o estado depressivo do SNC avança, os centros respiratórios ficam com as atividades severamente prejudicadas, levando à morte (SILVERTHORN, 2017). Equilíbrio ácido-base2 Já quando o pH se eleva muito, isso sinaliza uma situação conhecida como alcalose, ou seja, os neurônios ficam excitados acima do limiar e, portanto, extremamente sensíveis. Trata-se de manifestação primária com alteração sensorial, indicando formigamento, seguido por musculatura abalada. Em casos graves, o músculo entra em tetania (contrações musculares susten- tadas), paralisando a musculatura relacionada com a respiração. Os distúrbios do equilíbrio acidobásico estão relacionados com os distúrbios no equilíbrio dos níveis de potássio (K+). Em partes, isso ocorre por causa do transporte renal, que desloca os íons K+ e H+ em um antiporte. Na acidose, os rins excretam H+ e reabsorvem K+, com utilização de uma H+-K+-ATPase. Na alcalose, os rins reabsorvem H+ e excretam K+. Normalmente, a manifestação de desequilíbrio do K+ acontece por distúrbios em tecidos excitáveis, como o coração (SILVERTHORN, 2017). O transporte ativo secundário utiliza a energia cinética de uma molécula, que se move a favor do seu gradiente de concentração, para empurrar outras moléculas contra seus gradientes de concentração. As moléculas Co trans- portadas podem ir na mesma direção, através da membrana (simporte), ou em direções opostas (antiporte). Os sistemas de transporte ativo secundário, mais comuns, são impulsionados pelo gradiente de concentração do sódio (SILVERTHORN, 2017, p. 143). Os ácidos e as bases no corpo são provenientes de muitas fontes Diariamente, o corpo “luta” com a ingestão mais alta de ácidos do que de bases. O hidrogênio tem origem, tanto na alimentação quanto nas açõesmetabólicas internas. Manter o balanço de massas em homeostase, exige equilíbrio entre a ingestão e a produção de ácido, mediada pela excre- ção de ácido. A Figura 1 mostra um resumo do equilíbrio do hidrogênio (SILVERTHORN, 2017). 3Equilíbrio ácido-base Figura 1. Equilíbrio do pH no corpo. Fonte: Silverthorn (2017, p. 642). Dieta M et ab ol ism o Ve nt ila çã o Rins Ganho de ácidos Diversos produtos, que são metabolizados pelos alimentos ingeridos, têm origem orgânica. Eles passam por processo de ionização, contribuindo para que hidrogênios sejam liberados no corpo, como, por exemplo, aminoácidos, ácidos graxos, intermediários do ciclo do ácido cítrico, bem como o lactato, que é resultado do metabolismo anaeróbio (SILVERTHORN, 2017). O metabolismo dos ácidos orgânicos resulta em níveis diários “considerá- veis” de H+, realçando a necessidade de haver excreção para manter o equilíbrio no balanço de massas. Em situações especiais, pode ocorrer aumento na produção de ácidos orgânicos, como produtos do metabolismo, provocando uma “crise” orgânica (SILVERTHORN, 2017). Equilíbrio ácido-base4 Uma “crise” orgânica refere-se a várias situações graves envolvendo o metabolismo anaeróbio. Trata-se de situações importantes, como, por exemplo, um choque circu- latório, que produz níveis excessivos de lactato, de maneira que os meios de excreção não conseguem agir para restabelecer a homeostase. Isso resulta em um estado conhecido como acidose láctica. No diabetes melito, por exemplo, o metabolismo atípico de gorduras e aminoácidos resulta em ácidos fortes, ou cetoácidos. Esses ácidos fortes provocam um estado de acidose metabólica conhecido como cetoacidose (SILVERTHORN, 2017). Ganho de bases Os mecanismos ácido-base se concentram nos ácidos, porque a dieta e o metabolismo humano possuem poucas fontes de “bases”. Poucas frutas e ve- getais possuem ânions, que se diferenciam em HCO−, por isso, a interferência desses alimentos é superada pela acidez das frutas, aminoácidos e ácidos graxos. Além disso, os desequilíbrios acidobásicos pelo excesso de ácido são mais frequentes, quando comparados aos excessos de “base”. Por essas duas razões, o corpo é munido de mais recursos para otimizar a remoção de ácidos em excesso (SILVERTHORN, 2017). Mecanismos do sistema respiratório e renal para a regulação do equilíbrio ácido-base O corpo enfrenta as alterações no pH por três mecanismos, descritos a seguir. � Tampões: representam a chamada primeira linha de defesa, estando sempre em prontidão para combater alterações significativas do pH (Quadro 1). � Ventilação: é considerada a segunda linha de defesa do corpo, que possui ação rápida e reflexa, conseguindo controlar em torno de 75% das mudanças no pH. 5Equilíbrio ácido-base � Regulação da função renal de H+ e HCO−: a última linha de defesa, no controle do pH, fica sob reponsabilidade dos rins. A ação renal é a mais lenta em relação aos mecanismos dos tampões e aos mecanismos ventilatórios, entretanto, tem alta eficiência no combate aos distúrbios restantes das alterações no pH, em situações consideradas normais. Os três mecanismos auxiliam no equilíbrio dos ácidos de maneira tão eficiente que as alterações no pH normal corporal, quando não envolvem situações extremas, costumam ser leves e ligeiras (SILVERTHORN, 2017). Fonte: Adaptado de Tortora e Derrickson (2016). Sistema tampão proteico Sistema tampão ácido carbônico- bicarbonato Sistema tampão do fosfato O sistema tampão proteico é o tampão mais abundante no líquido intracelular (LIC) e no plasma sanguíneo. Por exemplo, a proteína hemoglobina é um tampão especialmente bom dentro dos eritrócitos, e a albumina é a principal proteína de tamponamento no plasma sanguíneo. O sistema tampão ácido carbônico- bicarbonato se baseia no íon bicarbonato (HCO3 –), que pode agir como uma base fraca, e no ácido carbônico (H2CO3), que pode agir como um ácido fraco. O HCO3 – é um ânion importante tanto no LEC quanto no LIC. O sistema tampão do fosfato age por intermédio de um mecanismo semelhante àquele do sistema tampão ácido carbônico-bicarbonato. Os componentes do sistema tampão do fosfato são os íons fosfato de di- hidrogênio (H2PO4 –) e fosfato de mono- hidrogênio (HPO4 2–). Quadro 1. Resumo dos sistemas de tampão Equilíbrio ácido-base6 Expiração de dióxido de carbono A respiração é essencial para ajudar a manter o nível “ideal” do pH nos líqui- dos do corpo humano. A elevação de dióxido de carbono (CO2) nos líquidos corporais aumenta os níveis de H+, levando à redução do pH, ou seja, os líquidos corporais ficam mais ácidos. Como o ácido carbônico (H2CO3) pode ser excretado como CO2, ele é considerado um ácido volátil. Em contrapartida, a redução de CO2 nos líquidos corporais promove o aumento do pH, tornando os líquidos corporais mais básicos ou alcalinos. Essa interação química que pode ser ilustrada pelas reações reversíveis mostradas na Figura 2. Figura 2. Interação química: a redução de CO2 nos líquidos corporais promove o aumento do pH, tornando os líquidos corporais mais básicos ou alcalinos. Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 1042). Alterações na ventilação podem interferir no pH dos líquidos corporais em poucos minutos. Assim, automaticamente, uma maior quantidade de CO2 é exalada. Quando ocorre a redução na concentração de CO2, os níveis de H + diminuem e o pH sanguíneo se eleva. A duplicação da respiração, por exemplo, eleva o pH em torno de 0,23 unidade, ou seja, de 7,4 para 7,63. Caso a ventilação esteja mais devagar do que é considerado normal, uma menor quantidade de CO2 é exalada. Assim, se os níveis de CO2 se elevam, os níveis de H + também aumentam e o pH sanguíneo se reduz. Quando a ventilação se reduz para 25% em relação ao nível normal, o pH se reduz 0,4 unidade, de 7,4 para 7,0. Essas situações demonstram os potenciais efeitos das modificações respira- tórias no pH dos líquidos corporais. Um sistema de feedback negativo promove a interação entre o pH dos líquidos corporais e a frequência e a intensidade respiratórias, conforme demonstra a Figura 3 (TORTORA; DERRICKSON, 2016). 7Equilíbrio ácido-base Figura 3. Regulação por feedback negativo do pH sanguíneo pelo sistema respiratório. Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 1042). Equilíbrio ácido-base8 Quando a acidez sanguínea se eleva ocorre a redução do pH, aumentado os níveis de H+. Essa condição é percebida pelos quimiorreceptores centrais, localizados no bulbo, e pelos quimiorreceptores com localização periférica, nos glomos para-aórticos e caróticos, estimulando o grupo respiratório dorsal, no bulbo. Isso resulta na contração mais forte, tanto do diafragma quanto dos músculos respiratórios auxiliares, exalando maior quantidade de CO2. A medida que menor quantidade de H2CO3 é sintetizado, menor, também, é a quantidade de H+, e a consequência disso é a elevação do pH do sangue (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Em casos de normalização do pH, acontece o equilíbrio acidobásico. O mesmo esquema ocorre no feedback negativo, quando o CO2 se eleva. A ventilação sobe, removendo maior quantidade de CO2, diminuindo os níveis de H+ e aumentando o pH do sangue. Em contrapartida, caso o pH do sangue se eleve, o centro respiratório fica inibido e tanto a frequência quanto a intensidade respiratória se reduzem. A diminuição de CO2 no sangue ocasiona o mesmo efeito. Com a diminuição da respiração, o CO2 se acumula, aumentando a concentração de H+ (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Excreção renal de H+ O metabolismo responsável pela produção de ácidos não voláteis, como, por exemplo, o ácido sulfúrico (H2SO4), produzem, em níveis diários, em torno de 1 mEq de H+ por quilograma de massa corporal. A única forma de excretar uma quantidade alta de carga ácida é por meio da eliminação de H+ pela urina. Assim, fica nítida a contribuição do equilíbrio acidobásico, e óbvio que a insuficiência renal pode ocasionar uma morterápida (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Tanto as células dos túbulos contorcidos proximais (TCP) quanto dos ductos coletores renais fazem a secreção de H+ no líquido dos túbulos. A secreção de H+ nos TCP acontece com a reabsorção de Na+, via contratransportadores Na+-H+ (Figura 4). 9Equilíbrio ácido-base Figura 4. Reabsorção de glicose pelos simportadores Na+ glicose nas células do túbulo contorcido proximal (TCP). Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 1005). No entanto, há destaque para as células intercaladas do ducto coletor na regulação do pH dos líquidos corporais, uma vez que as membranas apicais de determinadas células intercaladas têm bombas de próton (H+-ATPases). Estas, por sua vez, secretam H+ no líquido dos túbulos, como mostra a Figura 5, mais adiante. As células intercaladas conseguem secretar H+ contra o gradiente de con- centração, de maneira que a urina pode exceder em até é mil vezes, ou seja, em três unidades de pH, sinalizando maior acidez. O HCO3 – sintetizado a partir da clivagem do H2CO3 no interior das células intercaladas passa pela membrana basolateral, via contratransportadores Cl–-HCO3 –. Assim, ocorre a difusão para os capilares peritubulares (Figura 5a). O HCO3 – que atinge o sangue dessa forma é novo, ou seja, não filtrado. Por isso, o sangue que sai dos rins pela veia renal pode ter maiores concentrações de HCO3 –, quando comparado ao sangue que chega nos rins via artéria renal (TORTORA; DER- RICKSON, 2016). Equilíbrio ácido-base10 Outro tipo de células intercaladas também tem bombas de prótons na sua membrana basolateral e contratransportadores Cl–-HCO3 –, localizados na sua membrana apical. Trata-se de células intercaladas secretoras de HCO3 –, que fazem a reabsorção de H+. Dessa forma, ambas as células intercaladas auxiliam na manutenção do pH dos líquidos corporais, tanto por excreção do excesso de H+, em condições do pH muito baixo, quanto por excreção do excesso de HCO3 –, em condições do pH é muito elevado. Uma fração do H+, que é secretado no líquido tubular do ducto coletor, passa por tamponamento; entretanto, não por HCO3 –, visto que a maior parte passa por filtração e rea- bsorção (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Mais dois tipos de tampões são combinados com o H+ no ducto coletor (Figura 5b). O tampão encontrado com maior abundância no líquido tubular do ducto coletor é o íon fosfato de mono-hidrogênio (HPO4 2–). Sobretudo, há pouca amônia (NH3). O H + combinado com o HPO4 2– forma o íon fosfato de di-hidrogênio (H2PO4 –) e, associado ao NH3, forma o íon amônio (NH4 +). Esses íons são excretados na urina, porque não conseguem retornar, por difusão, para as células tubulares (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Figura 5. Secreção de H+ pelas células intercaladas no ducto coletor. (a) Secreção de H+. (b) Tamponamento de H+ na urina. Legenda: HCO3 – = íon bicarbonato; CO2 = dióxido de carbono; H2O = água; H2CO3 = ácido carbônico; Cl – = íon cloreto; NH3 = amônia; NH4 + = íon amônio; HPO4 2– = íon fosfato de mono-hidrogênio; H2PO4 – = íon fosfato de di-hidrogênio. Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 1043). 11Equilíbrio ácido-base O Quadro 2, a seguir, resume os mecanismos que mantêm o pH dos líquidos corporais. Fonte: Adaptado de Tortora e Derrickson (2016). Mecanismos Descrição Sistema de tampão A maioria consiste em um ácido fraco e seu sal, que age como uma base fraca. Eles evitam alterações drásticas no pH dos líquidos corporais. Proteínas Tampões mais abundantes nas células corporais e no sangue. A hemoglobina dentro dos eritrócitos é um bom tampão. Ácido carbônico-bicarbonato Regulador importante do pH sanguíneo. Os tampões mais abundantes no líquido extracelular (LEC). Fosfatos Tampões importantes no líquido intracelular e na urina. Exalação de CO2 Com o aumento da exalação de CO2, o pH se eleva (menos H+). Com a diminuição da exalação de CO2, o pH diminui (mais H +) Rins Os túbulos renais secretam H+ na urina e reabsorvem HCO3 – de modo que ele não seja perdido na urina Quadro 2. Resumo dos mecanismos que mantêm o pH dos líquidos corporais Conhecer os mecanismos que agem na manutenção do pH dos líquidos cor- porais é importante, tendo em vista a correlação com as funções vitais, como, por exemplo, as consequências das alterações no “simples” ato de respirar, bem como, compreender por que uma insuficiência renal pode levar à morte. Na sequência vamos relacionar e descrever as alterações que acontecem no sangue em situações de acidose e alcalose. Equilíbrio ácido-base12 Alterações que ocorrem durante o desenvolvimento de acidose e alcalose do sangue O padrão considerado dentro da normalidade em relação ao nível do pH san- guíneo arterial sistêmico é de 7,35 (= 45 mEq de H+/litro) até 7,45 (= 35 mEq de H+/litro). Uma acidose, ou acidemia, é sinalizada por um pH do sangue inferior a 7,35; uma alcalose, ou alcalemia, é sinalizada por um pH do sangue superior a 7,45. A principal manifestação corporal de uma acidose é que o SNC fica “de- primido” por disfunção nas sinapses. Se o pH sanguíneo arterial sistêmico estiver inferior a 7, a pessoa acometida fica desorientada por causa da depres- são intensa do SNC, podendo chegar ao óbito. Indivíduos com quadros de acidose grave, em geral, chegam à morte, quando estão em estado de coma. Uma ação importante da alcalose é a excitação em excesso do SNC e da inervação periférica. Os neurônios passam a conduzir os potenciais de ação repetidamente, ainda que não sejam estimulados pelas vias “normais”. Isso resulta em nervosismo, espasmos musculares, podendo ocasionar convulsões e óbito (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Alterações no pH do sangue que levem à acidose ou à alcalose podem ser compensadas pelas respostas fisiológicas previstas para essas mudanças. Trata-se de uma compensação, que pode ocorrer em partes (com o pH inferior a 7,35, ou acima de 7,45), ou por completo (se o pH for restabelecido aos níveis normais). Se alguém tiver alteração no pH por causas metabólicas, a ventilação aumenta ou diminui, com o objetivo de auxiliar no retorno do pH para os valores normais. Esse evento indica uma compensação respiratória, que pode acontecer em poucos minutos e ter o alcance de algumas horas. No entanto, se a causa da mudança do pH sanguíneo for respiratória, a com- pensação passa a ser renal, ou seja, acontecem mudanças tanto na secreção de H+ quanto na reabsorção de HCO3 – pelos túbulos renais, ajudando na reversão da alteração. Esse tipo de compensação inicia em poucos minutos, mas permanece por dias, até atingir a sua máxima eficácia (TORTORA; DERRICKSON, 2016). 13Equilíbrio ácido-base Windows10 Realce Windows10 Realce Windows10 Realce Windows10 Realce Acidose respiratória A acidose respiratória é caracterizada por uma pressão parcial de gás carbônico (PCO2) alta no sangue arterial sistêmico, superior a 45 mmHg. A exalação ou expiração anormal de CO2 provoca a redução do pH sanguíneo. Qualquer situação que provoque a diminuição de movimentação de CO2 do sangue para os alvéolos dos pulmões e, logo, para o ar atmosférico, faz com que CO2, H2CO3 e H + sejam acumulados. Essa situação pode indicar, por exemplo, um enfisema, um edema pulmonar, uma lesão ao centro respiratório no bulbo, obstruções das vias respiratórias e, ainda, distúrbios com a musculatura en- volvida com a respiração. Caso a alteração respiratória seja importante, a compensação renal entra em ação, conforme já mencionado. O tratamento da acidose respiratória visa a elevar exalação de CO2 por meio, por exemplo, de terapias ventilatórias, associadas a administrações intravenosas de HCO3 – (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Alcalose respiratória A alcalose respiratória sinaliza uma PCO2 do sangue arterial sistêmico inferior a 35 mmHg. Normalmente, a causa da redução na PCO2 e da elevação que resulta do aumento da ventilação é o estímulo do grupo respiratório dorsal, localizado no tronco encefálico. Entre essas situaçõesestá, por exemplo, o nível deficiente de oxigênio devido a maiores altitudes e/ou doenças pul- monares, acidentes vasculares cerebrais e, ainda, ansiedade grave. Nesses casos, o mecanismo de ação é a compensação renal, que, por sua vez, faz com que o pH retorne aos níveis normais, caso consiga reduzir a excreção de H+ e a reabsorção de HCO3 –. A alcalose respiratória é tratada visando a elevar a concentração sanguínea de CO2. Uma forma considerada simples de tratamento é que o indivíduo faça inalação utilizando um saco de papel, por pouco tempo. Dessa forma, será inalada uma concentração de CO2 acima dos níveis normais (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Equilíbrio ácido-base14 Acidose metabólica A acidose metabólica sinaliza uma concentração de HCO3 – no sangue arterial sistêmico reduzida ou inferior a 22 mEq/litro. Essa redução provoca, também, diminuição no pH do sanguíneo. Três eventos, descritos a seguir, provocam a redução da concentração de HCO3 – no sangue (TORTORA; DERRICKSON, 2016): 1. A perda “real” de HCO3 –, como acontece em diarreias fortes ou graves e em disfunções renais. 2. A cetose, que pode favorecer o acúmulo de ácidos diferentes do ácido carbônico. 3. A falha do funcionamento renal, tendo em vista a excreção de H+, causada por condições metabólicas relacionadas às proteínas dietéticas. Se a alteração não for, destacadamente, “importante”, a compensação respiratória (aumento da ventilação) conseguirá restabelecer o nível normal do pH do sangue. A acidose metabólica é tratada com soluções intravenosas de bicarbonato de sódio, sobretudo, corrigindo a origem da descompensação. Alcalose metabólica A alcalose metabólica sinaliza uma concentração de HCO3 – no sangue arterial sistêmico superior a 26 mEq/litro. Ácidos perdidos por via não respiratória, ou uma grande ingestão de fármacos alcalinos, também elevam o pH, inclusive, superior a 7,45. Vomitar muito conteúdo do estômago, por exemplo, acaba resultando em perdas grandes de ácido clorídrico, com provável causa pro- veniente de alcalose metabólica. Outras causas de alcalose incluem aspiração gástrica, uso de determinados diuréticos, distúrbios endócrinos, grande inges- tão de fármacos alcalinos, como os antiácidos, e desidratação grave ou severa. A compensação respiratória por redução da ventilação pode ser o suficiente para restabelecer o pH do sangue, aos níveis normais. A alcalose metabólica é tratada com soluções líquidas, capazes de corrigir as deficiências de Cl– e de K+, entre outros eletrólitos, sobretudo, corrigindo a origem da alcalose (TORTORA; DERRICKSON, 2016). 15Equilíbrio ácido-base As causas de alterações do equilíbrio acidobásico podem ser identificadas, com fre- quência, por uma avaliação criteriosa dos seguintes aspectos, em amostras sanguíneas: pH, concentração de HCO3 – e PCO2. Esses indicadores no sangue são examinados na seguinte sequência: 1. Se o pH está alto, indica alcalose; quando está baixo, indica acidose. 2. O valor — PCO2 ou HCO3 — fora dos limites normais pode sinalizar a causa da alteração de pH, como, por exemplo, pode ser provocada por PCO2 reduzida ou HCO3 – elevado. 3. Se uma alteração da PCO2 sinalizar a causa, o comprometimento é de origem respiratória; entretanto, se o HCO3 – for o causador, o prejuízo é metabólico. 4. É importante observar o valor que não corresponde à mudança de pH identificada. Se ele estiver dentro da faixa da normalidade, não há compensação. Se ele estiver fora da faixa da normalidade, uma compensação está ocorrendo e corrigindo parcialmente o desequilíbrio do pH. Fonte: Adaptado de Tortora e Derrickson (2016). Neste capítulo, conhecemos os mecanismos cujo objetivo é manter a ho- meostase do volume de líquidos corporais, bem como dos níveis de eletrólitos e do pH sanguíneo, que se organizam de acordo com o controle de massas. Esse controle de massas sinaliza que a manutenção, de forma constante, de determinada substância no corpo depende da relação entre o volume de ingestão ou produção e o metabolismo ou excreção dessa mesma substância (SILVERTHORN, 2017). Se quiser se aprofundar no assunto sobre as alterações que ocorrem durante o de- senvolvimento de acidose e alcalose do sangue, leia o Capítulo 30 do livro Fisiologia humana: uma abordagem integrada, de Dee Unglaub Silverthorn (2017). Equilíbrio ácido-base16 SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Leituras recomendadas MAURER, M. H. Fisiologia humana ilustrada. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. WIDMAIER, E. P.; RAFF, H.; STRANG, K. T. Vander: fisiologia humana. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 17Equilíbrio ácido-base DICA DO PROFESSOR Nesta Disca do Professor, você verá sobre a regulação do pH através de tampões, do sistema respiratório e do sistema renal. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Qual das seguintes frases não é verdadeira com relação ao equilíbrio ácido-base do corpo? A) A acidose respiratória caracteriza-se por um nível alto de gás carbônico nos fluídos corporais. B) Os tampões são mecanismos importantes na manutenção do equilíbrio de pH. C) Um pH sanguíneo de 7,2 é chamado de alcalose. D) O pH normal do sangue é de 7,35 – 7,45. E) Um aumento do pH do sangue aumenta a frequência respiratória. 2) Qual das seguintes opções é o principal tampão no líquido intersticial? A) Hemoglobina. B) Tampão proteico. C) Ácido carbônico - Bicarbonato. D) Hemoglobínico e bicarbonato. E) Proteico e bicarbonato. 3) O pH do sangue varia diretamente com: A) Concentração de ácido lático. B) Pressão de gás carbônico (PCO2). C) Concentração de Íons de hidrogênio. D) Concentração de bicarbonato (HCO3). E) Todas as alternativas estão corretas. 4) Quando a respiração diminui, a concentração sérica de dióxido de carbono aumenta e o sangue torna-se mais ácido. Se a condição persistisse, que tipo de resposta renal seria esperada? A) Maior acidez na urina. B) Mais bicarbonato na urina. C) Menos amônia na urina. D) Um aumento do pH da urina. E) Menos número de íons de hidrogênio (H+) na urina. 5) Qual dos sistemas de regulação equilíbrio ácido-base do sangue promove uma eliminação de íons e manutenção lenta do pH? A) Excreção renal. B) Tampão proteico. C) Tampão hemoglobínico. D) Tampão ácido carbônico-bicarbonato. E) Respiração. NA PRÁTICA Uma overdose de narcóticos pode provocar a depressão do centros respiratórios, resultando em hipoventilação e parada respiratória, o que leva a uma troca gasosa prejudicada ou à eliminação de gás carbônico inadequada (a pressão de gás carbônico é maior que 45 mmHg e o pH menor que 7,45), levando a uma acidose respiratória. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Bioquímica: Aula 5 -Tampões biológicos Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Fisiologia Médica de Ganong. Capítulo 35 (Transporte de Gases e pH) e 39 (Acidificação da urina e excreção de bicarbonato) Fisiologia Médica: uma abordagem integrada Capítulo 47 (Regulação do equilíbrio ácido-base)
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