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Prévia do material em texto

2 
Versão eletrônica do livro 
 
HARMONIZAÇÃO 
MENTAL 
 
O CASO DE MARIANA 
 
 
Autor 
© Guilherme Tavares, 2021 
 
 
Edição e revisão: Cláudia Rezende 
Projeto gráfico e capa: Christiane Costa 
Ilustrações: Rikearaujo 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara 
Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Tavares, Guilherme 
Harmonização Mental : O caso de Mariana / Guilherme Tavares. -- Belo 
Horizonte, MG : Ed. do Autor, 2021. 
ISBN 978-65-00-35165-1 
1. Autoajuda 2. Autoconhecimento 3.Hipnose – Uso terapêutico 4. Saúde 
mental 5. Trauma (Piscanálise) 21-90680 CDD 615.8512 
Índices para catálogo sistemático: 
1. Hipnose: Uso terapêutico 615.8512 
Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 
Este livro não pode ser reproduzido, no todo ou em partes, sem a prévia autorização 
do autor. 
 
 
 
 
3 
Você pode escutar o audiobook completo deste livro em 
 
 
 
https://www.harmonizacaomental.com.br 
 
 "A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. 
Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz." 
Sigmund Freud 
 
Sumário 
Prefácio ................................................................................................. 4 
Sessão 1 - Mariana ................................................................................ 5 
Sessão 2 – Objetivo ............................................................................. 13 
Sessão 3 – Energia .............................................................................. 19 
Sessão 4 – Hábito ................................................................................ 27 
Sessão 5 – Neura ................................................................................. 35 
Sessão 6 – Sexo ................................................................................... 43 
Sessão 7 – Regressão .......................................................................... 49 
Sessão 8 – Descoberta ........................................................................ 60 
Agradecimentos .................................................................................. 68 
 
 
 
4 
Ensinou a amar a vida, não desistir de lutar, renascer da 
derrota, renunciar às palavras e pensamentos negativos. 
Acreditar nos valores humanos e a ser otimista. 
Aprendi que mais vale tentar do que recuar… 
Antes acreditar que duvidar, o que vale na vida não é o 
ponto de partida, e sim a nossa caminhada. 
Cora Coralina 
PREFÁCIO 
 
Este livro conta a história fictícia de uma jovem mulher de 33 
anos chamada Mariana. Ela sofre com crises de ansiedade que a 
acompanham desde a juventude. Essas crises lhe provocaram 
dificuldade para dormir, para se relacionar e problemas de saúde, como 
obesidade e pressão alta. 
O caso de Mariana, contado neste livro, serve como exemplo de 
superação e coragem, o qual todos precisamos ter, na procura pelo 
equilíbrio entre as ações que tomamos em nosso dia a dia e as nossas 
mais profundas emoções. Acompanhe agora as 8 sessões terapêuticas 
de Mariana na busca do renascimento. 
 
 
 
 
5 
SESSÃO 1 - MARIANA 
 
Minha agenda, graças a Deus, está sempre lotada de pacientes, 
cada um vivendo o que eu considero seu próprio “inferno” pessoal. Seja 
paralisado pelo medo ou lutando contra nossos demônios, todos nós 
passamos grande parte da vida buscando resolver conflitos internos, 
para assim, podermos alcançar o nosso “céu”. 
Refiro-me ao “céu” e ao “inferno” como metáforas de como 
lidamos com nossas preocupações e de como elas atrapalham a nossa 
vida e a nossa paz. Não foi diferente com a Mariana. Quando alguém 
resolve buscar ajuda, isso é porque, de certa forma, o sofrimento 
interno dessa pessoa foi grande o suficiente para lhe demonstrar que há 
algo errado com as ações e escolhas que tem feito. Isso ocorre quando, 
conscientemente ou não, nos damos conta de que estamos doentes ou 
adoecendo, quando percebemos que sozinhos não conseguimos nos 
curar. Quando não conseguimos entender nossos atos, ou não 
encontramos uma saída, a melhor escolha é buscar ajuda. Esse passo é 
muito importante e deve ser celebrado, pois é o início de uma 
caminhada de descobertas e autoconhecimento. 
 Meu nome é Guilherme Tavares, eu sou hipnoterapeuta e 
psicanalista. E este é meu quarto livro sobre o comportamento e a 
mente humana, assunto que sempre me fascinou. São anos de 
experiência lidando com as mais diversas personalidades. Hoje o 
convido para uma jornada que irá mudar a sua vida. Seja muito bem-
vindo à Harmonização Mental. 
Todo paciente representa um novo desafio. Não há como prever o 
futuro ou identificar o melhor caminho para o tratamento dele, no 
entanto, busco demonstrar-lhe que ele não está sozinho. A verdade é 
que somos todos irmãos, cada um preso no próprio ciclo infernal, 
caminhando cegos até que um dia, por fim, buscamos um meio de nos 
orientar. 
— Mariana, entre, por favor. 
Ela me parecia abatida, um pouco descrente, como se não 
soubesse o que estava fazendo ali, tentando entender se é tudo coisa da 
cabeça dela ou se realmente estava precisando de alguma ajuda 
terapêutica. Ela me olhou com um olhar desconfiado, procurando 
encontrar onde estava o charlatão que, a qualquer momento, a passaria 
para trás. 
— Oi. Eu não sei bem ao certo o que preciso fazer aqui, mas já 
deixo claro que estou ótima, eu não tenho problema nenhum. As 
 
 
6 
pessoas é que me tiram do sério! Preciso sempre me controlar, porque 
perco a paciência muito fácil. Perco não! Na verdade, eu não a tenho. 
Então, vamos rápido! Não quero perder tempo com bobagens. 
— Entendo. Mas antes preciso conversar um pouco com você, 
tudo bem? Sente-se e busque desligar-se um pouco dessa agitação do 
dia a dia, encare aqui como um refúgio, onde nada de ruim pode atingi-
la, aqui é um lugar seguro. Eu não estou aqui para criticar ou julgar 
nenhuma de suas atitudes nem para cobrar algo de você. Nada que 
puder me dizer irá me fazer pensar algo errado de você. Estou aqui, 
antes de tudo, para ajudá-la no que precisar. Podemos construir juntos 
um laço de confiança? 
— Acho difícil. Não costumo confiar em ninguém. 
— Por quê? 
— Porque todos em quem eu um dia confiei acabaram me traindo, 
e eu me cansei de ser passada para trás! De ser enganada! 
— Mas ao menos você pode me dar uma chance? Até mesmo 
porque não somos amigos, você está me pagando para eu escutá-la, 
somos terapeuta e paciente. Preciso que você também saiba que eu não 
estou aqui para curar você, estou para auxiliá-la em sua jornada, mas 
só você tem a chave nas mãos. 
— Que chave? 
— A chave para encontrar o que procura. 
— Eu não procuro nada! 
— Procura! Todos nós procuramos algo. A questão é que a 
maioria ainda não sabe o que e, assim, fica perdida em um ciclo 
cansativo atrás de algo e sem perceber acaba perdendo o que nos é 
mais valioso, o tempo. Bom, que tal começarmos do começo, então? 
Feche os seus olhos por um instante, respire fundo, acalme os seus 
pensamentos e busque se lembrar da sua infância. Qual é a primeira 
recordação que tem? Me conte, por mais boba que possa parecer. 
— Me lembro do meu pai brincando comigo, tomando chá comigo 
enquanto fazia as minhas brincadeiras de criança. Me lembro de como 
era bom ter meu pai em casa. 
— O que aconteceu? Ele deixou você? 
— Deixou. Quando eu tinha 7 anos, a minha mãe pegou ele 
traindo ela. Eles eram sócios na fábrica de doces da minha família. Mas, 
também, quem aguentaria aquele general que é a minha mãe? Não 
estou falando que ele está certo em trair. Mas minha mãe é complicada. 
Não tenho como repreendê-lo. Eu mesma já fiz isso, não posso julgar. 
— Me conte sobre seu pai, vocês hoje têm algum tipo de relação? 
 
 
7 
— Sim! Meu pai me ajuda bastante! Sempre que eu preciso de 
algo, ele está lá, pronto para ajudar. Claro que não tenho um contato 
tão direto com ele. Assim que saiu de casa, ele se mudou para a casa da 
minha avó e cuidou dela durante os seus últimos anos de vida. Nesse 
meio-tempo,arrumou uma nova esposa, casou-se, e tenho dois irmãos 
frutos desse casamento, o Nicolas e a Lavínia. Gosto muito deles! Mas, 
como todo adolescente, acabam demandando muito do meu pai hoje em 
dia. Por isso, evito enchê-lo com meus problemas. Na verdade, eu 
sempre fui assim com todo mundo. 
— O quê você sempre foi? 
— Sempre busquei proteger as pessoas de que eu gosto. Evito 
levar meus problemas para elas e, quando percebo que elas passam por 
alguma injustiça, eu logo me prontifico a ajudar. 
— E sobre a sua mãe? Você mora com ela? Como vocês se 
relacionam? 
— Minha mãe é uma mulher durona, acho que a vida não foi 
muito fácil para ela, nasceu no interior, tem outra mentalidade. 
Acabamos batendo muito de frente. Minha avó materna começou no 
ramo de doces em uma cidadezinha, e minha mãe precisou pegar a 
responsabilidade de administrar o negócio muito cedo. 
— Você não me disse se ainda mora com a sua mãe. Ainda mora 
com ela? 
— Moro, tentei morar sozinha. Já fui noiva, mas as coisas não 
foram muito bem. Minha mãe é uma pessoa difícil de se conviver, eu até 
tento ajudar, mas perco a paciência. Então, às vezes moramos juntas, 
às vezes eu junto minhas coisas e vou para o meu apartamento. Ele não 
fica muito longe da casa dela, então, de certa forma, sempre estamos 
próximas. 
— E a sua infância? 
— Não me lembro de muita coisa para falar a verdade. Lembro 
que minha mãe nunca deu muito certo com os namorados, devo ter 
puxado isso dela, às vezes eram pessoas, como eu diria…, sem 
ambição? Não sei se é a melhor forma de descrever, mas basicamente 
ou eram homens pacatos demais, e logo minha mãe perdia o interesse, 
ou eram homens também “bicudos” como ela. E você sabe, como dizem, 
dois bicudos não se beijam, né? Eu e ela sempre brigamos, ela não é 
carinhosa, sempre foi mais prática, acho que acabei puxando isso dela. 
— Você disse que não se lembra muito da sua infância, mas qual 
é a primeira lembrança que você tem de morar sozinha com a sua mãe? 
— Bom, foi difícil. Eu sentia muita falta do meu pai. Ele era meu 
herói, meu protetor, e isso foi tirado de mim de uma forma abrupta. Eu 
 
 
8 
me lembro de chorar, de me sentir triste e com medo, acho que, desde 
aquela época, eu comecei a comer compulsivamente. Não era gorda 
desse jeito! Antes dos 7 anos, eu era magrinha! De repente, ficou difícil 
emagrecer. Vivo em uma luta diária! Mariana versus a balança, e 
normalmente a balança ganha. 
— Você e sua mãe moraram sozinhas por muito tempo? 
— Não. Lembro que minha mãe teve muitos namorados. Alguns 
duravam um pouco mais, e, às vezes, éramos um “protótipo” de família. 
Mas sinceramente é um período da minha vida de que eu não tenho 
grandes recordações. Talvez por ser um momento que não me remeta a 
coisas boas. Acabei crescendo revoltada, fui uma adolescente muito 
problemática. 
— Acredito que a maioria de nós foi problemática nessa fase. 
Adolescência é um período da vida realmente complexo. Sabia que é 
nessa fase que buscamos a nossa individualidade? Por isso é tão 
complicada. Começamos a descobrir o mundo, a entender a sociedade 
e, então, ficamos aflitos, pois sentimos que não nos encaixamos. Antes 
disso, o nosso mundo era somente o ambiente familiar, aí, de repente, 
precisamos enfrentar o mundo e nem sabemos ao certo quem somos 
nós. 
— Nossa! Nem me fala. Dei muito trabalho para a dona Beatriz! 
Isso eu reconheço, coitada! 
— Você fala que a sua mãe é um general. Por quê? 
— Porque ela sempre teve esse jeito mandão! Sempre foi a típica 
chefe mandona. Cercada de gente, de afazeres e de “responsabilidades”, 
como ela diz. Minha mãe nunca foi uma dona de casa, tanto que eu 
sempre tive babá ou empregada. Ela sempre ficou pouco em casa. 
— E o que você acha disso? 
— Eu a admiro por isso. Não sei se já falei isso para ela, acaba 
que nós não temos tanta demonstração de afeto uma com a outra, como 
eu disse, ela é mais prática. Quando eu surgia com algum problema, 
algo que estava me incomodando ou que me dava medo, as respostas 
da minha mãe sempre eram mais frias. 
— Como assim? 
— Mais secas, sabe? Às vezes, um filho só quer um abraço, não 
um sermão. Normalmente sabemos que erramos e estamos aflitos com o 
resultado ruim da escolha que fizemos. Às vezes, só queremos um 
alento, saber que temos alguém com quem podemos contar. Minha mãe 
normalmente chuta o “cachorro morto”, se é que você me entende. 
— Entendo. 
 
 
9 
— Eu tenho problemas de saúde. Sou ansiosa demais e acabo 
comendo muito. Estou muito acima do peso e com pressão alta 
também. Fico muito nervosa. Pareço a versão feminina do “Incrível 
Hulk”, eu “vivo com raiva”, sei que isso é ruim, por isso resolvi te 
procurar. Tenho só 33 anos e percebo que o tempo está passando 
rápido, escorrendo entre meus dedos, e nada que eu faço tem dado 
certo. 
— Você consegue me dizer por que você sente tanta raiva? 
— Não sei, parece que sou uma espécie de “imã” de problemas! 
Toda hora alguém me liga. Querem que eu ajude com os seus 
problemas. Eu vou ajudando, me envolvendo e quando vejo o problema 
do outro já faz parte dos meus problemas e eu acumulando tudo isso! 
Estou cansada! 
— Do que você está cansada? 
— De ficar engolindo todo tipo de injustiça! Não consigo evitar! Às 
vezes, vou ao supermercado, e lá tem alguma promoção. Aí, vejo alguém 
que está agindo errado, ou tirando o meu direito, e não consigo deixar 
de me posicionar. Não posso permitir que algo injusto aconteça comigo 
ou com quem eu gosto. 
— E com os outros? 
— Que outros? 
— Com as outras pessoas, as que você não conhece. 
— Aí, depende! Se eu acho que estão certas, ajudo, mas já tenho 
problemas demais para resolver. Não vou ficar resolvendo o problema 
de pessoas que eu nem conheço. 
— Você me disse que também já fez como seu pai. O que isso 
quer dizer? Você também já traiu? É isso? 
— Então… Já. Mas foi em uma situação diferente. Nunca fui 
casada, não faria o que meu pai fez, ele vacilou demais. Ficar com uma 
funcionária, na empresa da minha mãe. Mas meu pai, coitado, é meio 
pacatão também. Eu sinceramente não sei o que acontece com os 
homens, não têm atitude nenhuma. São todos “frescos”. 
— Até o seu pai? 
— Meu pai é um pouco, sim. Tudo bem, estamos em épocas 
diferentes, parece que as coisas só pioraram. 
— Você gosta de homens com atitude? 
— Gosto, mas também é difícil. Eles têm que saber o limite deles. 
Eu não vou deixar nenhum homem mandar em mim! Eu me garanto! 
Sempre me garanti! Não preciso de homem. 
— Como aconteceu? Pode me contar? 
 
 
10 
— O quê? 
— Como você traiu. 
— Sério? Bom, não vou contar os detalhes… Eu estava 
namorando havia alguns meses. Fomos morar no meu apartamento. 
Antes ele morava com os pais, aí decidimos mudar para o meu 
apartamento. Trabalho com minha mãe na fábrica, e ele estava 
trabalhando em uma empresa de engenharia, como estagiário. 
— Quantos anos vocês tinham? 
— Eu acho que uns 26, não lembro muito bem. Sou um pouco 
mais velha que ele. Ele devia ter seus 24 ou 23 anos. 
— Como era o relacionamento? 
— No início foi bom. Depois que ele se mudou para o meu 
apartamento, as coisas começaram a ficar ruins. Primeiro, ele não me 
ajudava em nada! Nem financeiramente, nem com as despesas da casa. 
Eu passei a ser empregada dele! E ele lá! Encostado no sofá, jogando 
videogame. Levei o relacionamento por algum tempo, mas acabei 
perdendo o interesse por ele. Me sentia mal por ter feito a cabeça dele 
para sair da casa da mãe. Eu nunca gostei dela! Na época foi uma 
briga, porque enfrentei a mãe dele. Sei que sou grossa, mas que homem 
sem atitude! O cara está encostado na mãe até hoje! 
— Mas ele acabou “encostando” em você, certo? 
— Olhando por esse ângulo, sim! Está vendo? Não adianta! Bom, 
eu fiquei sem jeito de tirar ele de casa. Ele é romântico, cheio de 
conversa mole, daquelas que nós, mulheres, gostamos de escutar. 
Muito carinhoso. Preguiçoso, mas carinhoso. Só que o tesão foi indo 
embora, eu dava as dicas, mas ele estava envolvido demaiscomigo. 
Cheguei até a forçar algumas brigas, mas ele não ligava, e não consegui 
dar um ponto-final, ficava com dó na verdade. Fui levando até que 
conheci outro rapaz. Por fim, o meu namorado descobriu, ficou muito 
chateado, e acabamos terminando. 
— Na psicanálise chamamos isso de objeto transitório. 
— O quê? A traição? 
— Não a traição em si. Mas o ato que faz com que o inconsciente 
trabalhe a seu favor, forçando-a a se apaixonar por outra pessoa. 
Fazendo, assim, com que você tenha a força necessária para abandonar 
aquilo que a incomoda. Essa é uma defesa que nós todos temos. 
Entenda que a mente racional vive para dar vazão ao seu desejo 
irracional, mesmo que você não perceba. As coisas, Mariana, nem 
sempre são como parecem. 
— Não entendi. 
 
 
11 
— Quando analisamos as coisas de forma rasa, só vemos a 
traição em primeiro plano e às vezes até nos culpamos, achamos que 
somos traidores, infiéis e não merecedores de confiança ou amor. No 
entanto, sobre outro aspecto, mais profundo, a partir do momento em 
que você está vivendo um relacionamento que lhe faz mal e o mantém, 
na verdade, essa situação acaba sendo uma traição a você mesma, 
concorda? Seu corpo, então, através da sua mente, passa a agir 
inconscientemente a seu favor. Ele produz hormônios que fazem com 
que você se apaixone por outras pessoas, ainda que amando o parceiro 
atual. Somos capazes de nos apaixonar por uma pessoa, mesmo 
amando outra. Amar e se apaixonar são mecanismos diferentes em 
nosso cérebro. 
— Então, a minha traição foi de certa forma um boicote que eu fiz 
a mim mesma, me forçando a terminar com o meu namorado? 
— Não! Você já estava em autoboicote quando estava vivendo um 
relacionamento em que não nutria mais nenhum desejo ou, pior, 
nenhuma idealização de planos para o futuro com a pessoa. Sua mente, 
inconscientemente, trabalhou a seu favor, quebrando o seu autoboicote 
com um objeto transitório, gerando a força necessária para que você 
pudesse se apoiar para sair da inércia na sua relação. Nesse caso, se 
existiu alguma infidelidade, foi de você com você mesma. Você vai 
perceber, ao longo de nossas sessões, que a grande questão sempre 
será “nós contra nós mesmos”. Não sei se você se culpa por algo ou se 
sente-se uma traidora. Mas, nesta primeira sessão, o meu conselho é 
para que você olhe as suas atitudes com novo olhar, quem sabe um 
pouquinho mais egoísta. Você acabou se priorizando, e isso, para a 
maioria de nós, é muito difícil de aceitar. Vivemos um conflito, em que 
não nos sentimos dignos e merecedores, e isso desencadeia todas as 
escolhas inconscientes ruins que temos ao longo da vida. É como se 
precisássemos nos punir por sermos maus. Na verdade, parece que 
vivemos tentando esconder o monstro que acreditamos ser dos outros e 
fazemos isso criando personagens. Buscamos nossa redenção por meio 
de grandes ou pequenas penitências que aplicamos a nós mesmos. 
— Nunca tinha pensado assim. 
— Bem, nossa sessão de hoje termina aqui. Quero deixar um 
exercício para você. Busque se lembrar dos erros que cometeu na vida e 
tente enxergá-los com um novo olhar. Nossos erros, normalmente, 
servem como aprendizado ou são ações do nosso inconsciente para nos 
fortalecer nas decisões que não conseguimos tomar, em virtude de 
nossas crenças morais, sociais ou religiosas. Busque libertar-se aos 
poucos de algumas de suas crenças. Todos nós, seres humanos, 
merecemos e temos o direito universal de gozar de uma vida plena, 
 
 
12 
então busque mudar o seu foco, o seu olhar, para algo mais positivo. 
Revise tudo o que considera como erro e, se possível, anote, faça uma 
lista com o que encontrar. Hoje obtivemos grandes avanços, eu estou 
muito satisfeito. Foi ótimo conversar com você. Eu a aguardo em breve, 
em sua próxima sessão. 
 
 
 
13 
SESSÃO 2 – OBJETIVO 
 
— Seja bem-vinda, Mariana! Como está se sentindo? 
— Eu estou bem, estou aqui de volta. Entenda isso como uma 
prova de confiança da minha parte. 
— Que assim seja. Devo agradecer? 
— Não precisa, eu aceito seu entendimento. 
— Sinto você um pouco mais agitada hoje, estou correto? 
— Sim. Eu consegui anotar algumas coisas que me pediu. Mas 
existe uma questão que não me sai da cabeça. 
— Qual seria? 
— Qual o objetivo disso tudo? Por que você não me hipnotiza de 
uma vez, e acabamos logo com isso? Você não está me enrolando, está? 
— (Risos) Não! Não estou enrolando você. É que precisamos 
preparar um pouco a sua mente, você consegue me entender? 
Infelizmente, não funciona assim. Seria fantástico poder reprogramar o 
cérebro de alguém simplesmente com uma sessão de hipnose, mas não 
é assim que a nossa mente funciona. Entretanto, estamos muito bem! 
Se estiver bom para você, continuamos, e posso ir esclarecendo todos os 
principais segredos da mente humana, o que acha? 
— Eu preciso entender o que acontece comigo. 
— Exatamente! Quanto mais descobrimos a verdade por trás dos 
conceitos que criamos, por não terem nos contado os verdadeiros 
segredos da vida, mais angustiados nós ficamos. O segredo acaba nos 
adoecendo, porque é carregado de emoções e sentimentos. Essas 
sensações precisavam ser colocadas para fora, mas foram reprimidas, 
guardadas dentro de nós. Com o tempo, os segredos e as emoções vão 
se empilhando como lixo em um canto da casa. Tentamos esconder, 
mas, em algum momento, o cheiro ruim acaba tomando conta, 
escapando pelas frestas da casa. Quando o cheiro é ruim demais, 
dificulta o nosso dia a dia, os nossos pensamentos racionais. 
— O que precisamos fazer, então? Como posso limpar minha 
mente de todo esse lixo? 
— Antes disso, é preciso que você entenda o objetivo da terapia, o 
porquê. Essa foi a sua primeira pergunta, e ela é extremamente 
importante para todo o nosso processo terapêutico aqui, no consultório. 
O grande objetivo de qualquer terapia é compreender as motivações 
ocultas que fazem com que você tome as atitudes que vem tomando 
 
 
14 
diante dos desafios que se colocam a sua frente, para que, assim, 
possamos fazer o que chamamos de ressignificação. 
— Ressignificação? 
— Sim. Para dar um novo significado a algum pensamento seu 
que alimenta um hábito antigo e enraizado. Assim, podemos ajustar e 
melhorar esse hábito, de forma que as suas ações deixem de ser 
mecanismos de autoafirmação de suas verdades absolutas e passem a 
ser alinhadas com o que você realmente busca para se sentir feliz e 
realizada. 
— Você falou coisas que eu não entendi muito bem. Sobre meus 
hábitos ruins, eu até compreendo, mas o que eles têm a ver com essa 
tal verdade absoluta? Não tenho verdade nenhuma, eu nem sei na 
verdade o que eu quero. 
— Isso é mentira. Uma mentira comum que contamos a nós 
mesmos, todos os dias. “Eu não sei o que eu quero”. Todos nós sabemos 
o que queremos, o que nos fará verdadeiramente felizes. O que acontece 
é que nós, ao percebermos que não seremos capazes conquistar o que 
queremos, negamos esse algo. Criamos justificativas, ou desculpas, 
para negarmos o que, para nós, é impossível de obter, por exemplo, 
uma família feliz, um amor verdadeiro, um bem material ou uma saúde 
perfeita. 
— Não sei. 
— Talvez você tenha tanto medo de admitir, que não se permite 
enxergar aquilo de que precisa neste momento, mas, não se preocupe, 
esse é o nosso objetivo. Sem pressa, vamos chegar à origem de tudo que 
a incomoda. A partir daí, podemos pavimentar o caminho para uma 
nova era da sua vida. 
— Espero que sim. Às vezes me sinto tão diferente das outras 
pessoas que acabo não me sentindo bem. 
— Mas isso é totalmente verdade! Você é única. Sabia que a 
nossa personalidade é formada por 3 aspectos individuais muito 
importantes? E a mistura desses aspectos nos torna únicos. 
— Como assim? 
— Primeiro, vêm as suas características genéticas. Quer dizer que 
parte do seu comportamento vem de coisas que você herdou de seus 
pais, avôs, bisavôs e por aí vai. Por isso, muitas coisas acabam se 
repetindo por gerações. Pense um pouco na história da sua família, vocêvai notar que alguns erros que seus antepassados cometeram acabaram 
se repetindo. Como uma espécie de ciclo cármico, que é difícil de 
quebrar. Você sabe o que é carma, Mariana? 
— Carma é algo ruim. 
 
 
15 
— Não necessariamente. Carma é como nos referimos a esses 
ciclos. Imagine o carma como ondas em um lago. Sabe quando jogamos 
uma pedra no lago? As ondas se formam da origem energética inicial e 
vão se dissipando, à medida que o tempo passa. Entretanto, como elas 
seguem um padrão lógico, nós conseguimos prever onde a onda passará 
no futuro. As ondas se direcionam seguindo um padrão. 
— Verdade. 
— Com a nossa família, acaba sendo a mesma coisa. Por 
gerações, a energia transita seguindo os mesmos caminhos, fazendo 
com que os eventos se repitam, mesmo que em intensidade diferente. 
Isso acontece até que algum membro da família consegue “surfar nessa 
onda” e sair do ciclo, direcionando toda uma geração a uma nova fase. 
— Uau! Sua terapia é bem filosófica, hein? 
— Na verdade, é na filosofia que encontramos as grandes 
explicações para os dilemas que vivemos no mundo moderno. Freud 
dizia que, aonde ele chegava, por meio de seus estudos, sempre 
encontrava alguém que já tinha falado antes sobre o que ele estava 
pesquisando. Tanto que uma das teorias mais famosas dele, a da 
sexualidade infantil, utiliza a mitologia grega, o mito de Édipo, para se 
apoiar. 
— Muito interessante. 
— Por enquanto, vamos voltar ao nosso foco, a formação da 
personalidade, para que você possa se compreender melhor. 
— Sim! Você disse que a genética é um ponto importante, mas 
falou que são 3 características, quais as outras 2? 
— O segundo aspecto que influencia a personalidade é o ambiente 
familiar. Imagine que a carga genética é como o combustível, mas é o 
meio ambiente, principalmente o familiar, que gera a combustão. Então, 
se você possui uma tendência genética para ser mais ansiosa e 
porventura é criada em um ambiente em que a sua ansiedade é 
estimulada, você se tornará cada vez mais ansiosa, até que isso esteja 
tão integrado a sua personalidade que você passa a se identificar assim 
e a acreditar com toda a certeza que é, sempre foi e sempre será uma 
pessoa ansiosa. 
— Ansiedade é meu sobrenome, você nem imagina. 
— Posso imaginar, mas o importante é você compreender que 
tudo isso são fatores da sua mente e influenciam a dimensão que você 
dá aos dilemas que enfrenta na vida. O terceiro aspecto é o cultural, ou 
seja, a cidade em que você mora, o país e a base religiosa em que foi 
criada. Esse aspecto serve como um “selante” e determina o seu 
posicionamento social. Isso determina a forma com que você se sente 
 
 
16 
integrada e pertencente a um grupo social. São as normas, convenções 
e restrições comuns a todos na sociedade em que você foi criada que 
acabam também sendo integradas a sua personalidade. Sendo assim, 
esses 3 aspectos são determinantes na formação do individuo. Agora 
você percebe que, mesmo sendo únicos, nós compartilhamos coisas em 
comum com as demais pessoas com quem compartilhamos: nossa 
genética, nosso ambiente familiar e até nosso país? 
— Sim, eu entendi. Quer dizer que a minha educação e a minha 
religião são aspectos que eu incorporo a minha personalidade, além de 
serem aspectos que eu herdei dos meus parentes? 
— Exatamente! A forma com que você lida com esses aspectos 
durante a vida, principalmente com relação aos proibitivos que você 
recebeu, foram fundamentais para gerar as crenças pessoais que você 
carrega e determinantes para a forma com que você lidará com as 
adversidades que você enfrenta na vida. Digo mais! Nossa personalidade 
se sustenta em 3 pilares fundamentais. O primeiro pilar é a nossa 
saúde, física e mental. É seguido do pilar correspondente a nossa 
percepção de prosperidade, que é como nos enxergamos qualificados 
perante o nosso grupo social. Por último, mas não menos importante, 
está o nosso pilar dos relacionamentos afetivos. 
— Você está falando que, para que eu tenha equilíbrio na minha 
vida, eu preciso estar com minha saúde, minha vida material e meus 
relacionamentos saudáveis? Isso explica muita coisa! É praticamente 
impossível alguém que não tenha problema em ao menos um desses 
pilares. 
— Muito bem! É basicamente isso! Agora imagine que a sua 
personalidade se equilibra em uma plataforma sobre esses 3 pilares. 
Em certos momentos da vida, um ou mais pilares ficam desnivelados 
em relação aos outros. Pode-se sentir a tensão, mas a pessoa continua 
funcional. No entanto, se porventura um desses pilares cair, a pessoa 
passa a ficar disfuncional. A disfuncionalidade da personalidade dá-se 
quando a pessoa passa a tomar atitudes incoerentes, como se estivesse 
presa em uma espécie de redemoinho, onde cada atitude leva cada vez a 
mais tensão, gerando uma sucessão de escolhas ruins. Quando nos 
atentamos à personalidade de uma pessoa, devemos buscar 
compreender quais desses 3 pilares estão “tensionados” no momento, 
para que, então, possamos entender de forma mais clara e efetiva o que 
tem levado a pessoa a determinado tipo de comportamento. Você 
consegue identificar, em você, qual o nível de tensão que tem sofrido em 
cada um desses pilares? 
— Bom, eu acho que, em primeiro lugar, vem a minha saúde. Eu 
me sinto muito mal, com muitas dores, tenho dificuldade para dormir, 
 
 
17 
estou acima do peso e com problemas de pressão alta. Pensando nesse 
efeito dominó, é muito difícil, para mim, admitir isso, mas eu não estou 
satisfeita com meu corpo. Acabo me sentindo insegura, o que me 
atrapalha em meus relacionamentos pessoais, não só com meus 
parentes, mas na busca de um parceiro. Financeiramente, tive a sorte 
de estar em uma família que já possuía um negócio próprio. Reconheço 
isso. Minha mãe, por mais durona e fria que possa ser, conseguiu 
construir para mim uma situação financeira que nunca me deixou 
preocupada. Tive condição de estudar, e na área que sempre quis, e de 
poder aplicar esse conhecimento na empresa da minha família. Apesar 
disso, não consigo controlar minha ansiedade, fico triste, me sinto 
sozinha e acabo descontando tudo na comida. 
— Parabéns, Mariana! Acabamos de dar um passo fundamental 
para a busca da harmonia em sua mente e na sua vida! Reconhecer que 
uma atitude ruim desencadeia outras e que isso torna-se um círculo 
vicioso é o primeiro passo para a mudança. Veja como funciona a nossa 
mente. Você se sente ansiosa e começa a comer compulsivamente, algo 
que acaba com a sua saúde, tira a sua disposição e a sua autoestima. O 
que sua mente faz? Acaba gerando hábitos cada vez mais 
autodestrutivos, como se você estivesse se penalizando por não se sentir 
capaz. 
— Verdade. 
— Vamos trabalhar um pilar por vez, você consegue me entender? 
Cada passo que represente um mínimo de mudança positiva também 
servirá como apoio para hábitos cada vez melhores. É importante você 
compreender que não precisa mudar tudo de uma vez ou mudar seu 
jeito de ser de uma hora para outra. Comece com pequenos passos, 
mas constantes. Que tal procurar um bom médico e começar uma nova 
rotina, saudável? Quem sabe uma nova rotina alimentar ou a prática de 
alguma atividade de que goste? Isso já será o suficiente para iniciar 
uma grande mudança na sua vida. 
— Eu não sei se consigo mudar assim. 
— Claro que consegue! Não precisa mudar tudo de uma vez, só 
trocar um pequeno hábito negativo por um positivo. Sei que parece um 
grande desafio, mas é totalmente possível. Busque fazer algo que não 
seja tão penoso, o mínimo de mudança já será suficiente como impulso 
motivador para o início de muitos outros hábitos positivos! Acredite! 
Talvez você só retire o arroz do seu prato ou troque uma refeição do seu 
dia por algo mais leve. Quem sabe, em vez de entrar para uma 
academia, você simplesmente se exercite fazendo algo de que gosta, 
como uma dança, ou comece a utilizar a escada ao invés do elevador… 
 
 
18 
Qualquer pequeno ato serve, mas precisa ser constante. Firme um 
compromissocom você. 
— Prometo que vou tentar. 
— Eu acredito! Tenho orgulho de você! Agora, o mais importante: 
enxergue cada um de seus avanços, por menores que possam parecer! 
Sinta orgulho da pessoa na qual você está se tornando. Lembre: cada 
pequeno ato positivo serve. Seu objetivo não precisa, e não deve ser, 
grandioso, porque isso poderá desmotivar você. O que você precisa é de 
pequenos passos, um após o outro, até sair da dinâmica atual da sua 
vida. Sinta o que você precisa mudar e o que é mais fácil para você fazer 
em prol da mudança neste momento. Não tenha medo da mudança, se 
você está aqui, significa que deseja de todo o coração dar um basta às 
coisas que tem vivido. Disse e repito: a chave está com você e mais 
ninguém! Seja um pouquinho mais egoísta, se dê um pouco mais de 
prioridade, você merece! Te vejo na próxima sessão. 
 
 
 
19 
SESSÃO 3 – ENERGIA 
 
— Mariana! Que bom revê-la! Quer dizer que já posso me 
considerar um amigo? 
— Claro que sim. Mas não aproveite, ok? Você ainda está no 
período de teste. 
— Está certo! Hoje você está bem melhor! Vejo um brilho nos seus 
olhos. Pode me contar o porquê? 
— Sim. Venho pensando no que você me disse, principalmente 
sobre os pilares. Fez muito sentido para mim. Fui ao médico e estou 
fazendo uma dieta, ou melhor, uma reeducação alimentar. Também 
comecei a caminhar, levo minha cachorrinha ao parque ao menos duas 
vezes por semana. Sinto-me melhor e com mais energia. 
— Energia! Está aí uma coisa muito importante. Sabia que Freud 
estudou essa energia da qual você está falando? 
— Como assim? Ele era físico ou médico? 
— Médico, neurologista. Mas a energia que ele identificou é 
psíquica. É uma força interior que move todo ser vivo. Freud deu o 
nome de libido a essa força, ou ao menos se apropriou do termo, “libido” 
vem do latim e significa desejo ou anseio. 
— Libido tem a ver com desejo sexual? 
— Não necessariamente. A libido é normalmente extravasada no 
ato sexual, no entanto, em todos nós, existe uma energia libidinal que 
representa o nosso desejo em busca de satisfação imediata. A libido não 
segue crenças morais, sociais ou religiosas, sendo assim, conflita muito 
com nossa personalidade. Sabe aquele “diabinho” nos desenhos 
animados? É ele! Ele existe e agita bastante a nossa mente. A essa 
energia, esse desejo que buscamos controlar, foi dado o nome de ID por 
Freud. A força que ele exerce em nossas escolhas vem dos tipos de 
pulsões que nós temos, entenda pulsão como força de vontade. Quanto 
maior a pulsão, mais difícil fica controlar esse “diabinho” que habita em 
nós. 
— Credo! Não dá para exorcizar isso, não? 
— (Risos) Não! Na verdade, acredito que grande parte dos nossos 
problemas existe justamente porque tentamos, a nossa vida inteira, 
controlá-los, visando “exorcizar” os nossos desejos. Do que nós 
precisamos, em primeiro lugar, é compreender que o ID, o nosso 
“diabinho” interior, existe e que tem desejos, para, então, aprender a 
como negociar com ele, de uma forma que não seja dura demais, mas 
 
 
20 
que também não nos faça infringir nenhum espaço alheio. O equilíbrio 
entre a suas vontades e o respeito à vontade dos outros é a chave para 
uma relação saudável entre os seres humanos. 
— Como consigo usar esse “diabinho” ao meu favor? 
— Como disse, ele é a origem da energia que você possui. Você 
precisa dele, precisa desejar algo para se mover. Entenda também o 
local de onde surge essa energia, ela surge de dentro de você e não 
pertence a ninguém mais. 
— Como assim? 
— O desejo é seu e de mais ninguém! Sendo assim, somente você 
é responsável por todas as atitudes que toma na vida. 
— Mesmo quando eu sou enganada por outra pessoa? 
— Sim. Sei que é difícil de assimilar, mas você é a única culpada 
por todas as atitudes que toma, mesmo quando é enganada ou 
principalmente quando é provocada. Se você cai na provocação de 
outros, dá a eles o controle sobre seus atos, então a culpa é sua de todo 
jeito. Mas veja pelo lado positivo! Se a culpa e a responsabilidade são 
suas, significa que também está com você toda a capacidade de superar 
as dificuldades e tomar para si o controle da sua vida. Isso se chama 
lócus de controle interno, quando você determina ser o dono do próprio 
destino. 
— Então, a responsabilidade é minha? 
— Isso é outra verdade! A responsabilidade é somente sua. Todo 
mundo corre do peso que essa palavra representa, mas é a mais pura 
verdade. Assumir a sua responsabilidade é outro grande passo para a 
sua mudança de vida. Costumamos evitar a responsabilidade, 
principalmente porque é muito mais cômodo negar nossos erros e 
colocar a culpa no outro, ou desviamos o foco, gastando nosso tempo 
resolvendo o problema dos outros, e com isso fugimos da 
responsabilidade na solução dos nossos problemas. A responsabilidade 
é o leme que direciona a sua vida, assumi-la é fundamental para o seu 
processo de crescimento pessoal. 
— Entendo. Mas como consigo manter a minha motivação e 
assumir as minhas responsabilidades? Esses são passos difíceis, 
concorda? 
— Concordo plenamente. Sair do ciclo de hábitos a que estamos 
acostumados é difícil, mas compreender que os hábitos criados por falta 
de responsabilidade a conduzem a situações que não podem satisfazê-la 
plenamente dá a noção da importância de ser dona de suas escolhas. 
Uma dica muito importante e ao mesmo tempo simples é se 
recompensar. 
 
 
21 
— Me recompensar? Por quê? 
— Por cada passo bem-sucedido. Isso ajuda o cérebro a entender 
que o novo hábito compensa. Então, crie pequenos marcos, por 
exemplo: “Se eu conseguir perder 3 quilos em 1 mês, vou me permitir ir 
a uma pizzaria!” ou “Vou me presentear com um sapato novo!”. 
— Como esses hábitos vão se formando em nossa mente? Para 
mudá-los de maneira efetiva, preciso entender melhor sobre eles, certo? 
— Sim, precisa. Imagine que, em nossa mente, as memórias das 
lembranças que vivenciamos durante a vida, e principalmente durante a 
infância, são “coladas” com sensações e emoções que tivemos. Se eu me 
senti bem com alguma experiência vivida e a emoção foi forte, eu vou 
querer repetir essa experiência com mais vontade. 
— Como quando damos nosso primeiro beijo? 
— Isso! Da mesma forma, se eu me senti mal com alguma 
experiência e a emoção foi também forte, eu vou querer fugir, me 
defender ou me proteger com mais intensidade. Essas sensações criam 
em nós simbologias. 
— Guilherme, me explica isso melhor. 
— Por exemplo: imagine que, quando criança, você estava no 
shopping conversando alto, fazendo aquela bagunça, com muita gente 
ao redor, e a sua mãe a xingou, lhe deu uma palmada e falou: “Você 
não vê que está atrapalhando? Não sente vergonha de estar 
incomodando os outros?”. Isso fica gravado no seu inconsciente como 
um evento traumático, se acontece algo similar, e sua mãe repete a 
frase, essa crença (de ser inconveniente) vai se acumulando em sua 
mente. 
— Acho que toda mãe já falou isso para o filho. 
— Vai depender do tipo de personalidade da mãe, mas o 
importante é que, anos mais tarde, ao fazer uma apresentação na 
escola, a criança sente-se desconfortável, e esse desconforto faz com 
que a classe comece a rir. À medida que essa sensação vai sendo 
reforçada, mesmo com alguns anos de diferença, chega um ponto em 
que a pessoa não se sente mais confortável falando em público. 
Contudo, a origem desse trauma ficou tão distante que ela nem lembra 
mais. A mente grava os aspectos mais sutis dos eventos que foram 
traumáticos para nós, sendo assim, toda vez que o cérebro assimila um 
ou mais aspectos, ocorridos em contexto similar, ele traz à tona as 
memórias inconscientes responsáveis por despertar a ansiedade. Então, 
você cria uma crença, a crença de que não gosta de falar em público. 
Assim, quando você precisa falar em público, de alguma forma, a sua 
mente e principalmente o seu comportamento irão buscar um meio de 
 
 
22 
reforçar essa crença, até que ela se torne uma verdade absoluta para 
você. 
— Então,você está dizendo que eventos que aconteceram quando 
eu era criança, coisas das quais eu nem me lembro, tornam-se verdades 
para mim, e eu, inconscientemente, acabo reforçando isso com meu 
comportamento? 
— Eu não poderia descrever melhor! É isso mesmo! E tem mais! 
Isso torna-se um hábito, que vira um padrão. Um padrão que fica tão 
enraizado na sua mente que você nem se questiona mais. Por isso 
falamos que as pessoas vivem cheias de bloqueios e crenças limitantes 
criadas por eventos de antes da formação completa do cérebro. 
— Formação completa do cérebro? Como assim? 
— Estamos tão acostumados com a nossa maneira de pensar e de 
agir, que eventos de certa forma óbvios, passam batido na análise das 
ações que tomamos. O que acontece é que quando éramos crianças, o 
nosso cérebro não estava completamente formado, negligenciamos este 
fato em nossa vida adulta. 
— Como assim? Nascemos sem o cérebro estar pronto? 
— Não é bem assim. O cérebro, em sua constituição básica, está 
formado e funcionando perfeitamente. No entanto, precisamos 
acrescentar duas variáveis a essa equação. A primeira é que o cérebro é 
um órgão muito complexo, responsável não só por nossos pensamentos 
conscientes e inconscientes, como também por coordenar todas as 
funções vitais para o funcionamento do nosso corpo. Ele está formado, 
mas a arquitetura neurológica dele ainda está em desenvolvimento. O 
cérebro é considerado completamente formado e está com capacidade 
máxima de processamento somente quando completamos 25 anos. O 
segundo aspecto é o contexto do aprendizado. O cérebro infantil, por 
mais que esteja formado, não entende, ou melhor, ainda não 
compreende o contexto do mundo na abrangência com que um adulto o 
entende, simplesmente por não haver informações suficientes, ou 
experiências teórica e prática, para uma criança compreender o mundo 
e a sociedade. 
— Como uma criança aprende? 
— Da mesma forma que um adulto, no entanto, como tem muito 
mais o que aprender, o processo acontece mais vezes. Isso também se 
aplica aos traumas sofridos. Uma mente jovem de criança não tem 
experiência suficiente para lidar com os traumas como nós, adultos, 
que já temos um contexto mais bem entendido. Então, eventos que, 
para nós, são insignificantes, para uma criança, têm um peso enorme e 
causam traumas. Como o exemplo da palmada da mãe no shopping. O 
 
 
23 
adulto sabe que o barulho e a necessidade, por parte da criança, de se 
fazer notada acabam incomodando os outros. A frase que a mãe falou e 
a palmada têm o intuito de alertar a criança sobre a sua atitude 
inconveniente naquele ambiente ou momento, no entanto, a criança não 
entende assim, ela se sente repreendida e compreende a frase com 
outro contexto. Como se a expressão dela fosse inconveniente. Então, 
ela fica atenta quando se expressa novamente, se percebe um 
incômodo, passa a vincular aquela situação a uma sensação ruim, e 
isso a acompanha pelo resto da vida. 
— O meu comportamento foi formado quando eu era criança? 
— A maioria, sim. Por exemplo, qual é a sua profissão? Você disse 
que trabalha na fábrica da sua família, que é de doces, correto? 
— Sim, eu sou formada em Gastronomia, com especialização em 
doces e sobremesas. 
— Percebe? Na sua mente consciente, você fez Gastronomia 
porque era o mais lógico, visto que você vem de uma família que produz 
doces. No entanto, talvez a escolha da sua profissão seja por outro 
motivo e tenha sofrido outra influência. Provavelmente você reconheceu, 
em algum momento, que a arte de cozinhar servia como um modo de 
sentir-se valorizada por seus pais ou avós, então a escolha da sua 
profissão, no fundo, é fruto da sua necessidade de sentir-se amada por 
seus entes queridos. Foi uma forma de afagar o seu ego na sua busca 
pelo amor deles. Mas isso são apenas hipóteses, claro que não é uma 
regra. O importante é você notar que todos nós, quando criança, 
armazenamos sensações, que são os sentimentos com as emoções que 
formam a nossa memória infantil e que estão carregadas de simbologias 
e despertam em nós recordações boas ou ruins. 
— Mas eu não me lembro de quase nada da minha infância. 
— Depois que o padrão é criado, ele fica automatizado, o nosso 
cérebro não gosta de gastar energia com o processamento de novos 
pensamentos. Na verdade, ele aproveita o que já foi vivenciado e 
coordena as memórias em grupos de sentimento com suas 
intensidades. Sempre que você tem uma experiência, positiva ou 
negativa, ela tem um peso para você, quanto mais peso emocional 
envolvido, mais marcada ela fica na sua mente. Assim, você passa a ter 
uma reação equivalente de defesa instintiva, que é o processamento 
emotivo da experiência. Se ela é nova, você dá um destaque maior, pois 
o cérebro precisou analisar uma situação nunca vivenciada, mas, se já 
ocorreu no passado, o cérebro busca lidar com ela da mesma maneira 
que antes, para evitar o gasto energético de um novo processamento. 
Como você pode ver, tudo se resume à energia, ou melhor, ao gasto 
eficiente que a natureza, inclusive no que se refere ao ser humano, 
 
 
24 
emprega dela, como uma lei de mínimo esforço, visando atingir o 
melhor resultado. Coisas da nossa evolução. 
— As simbologias de que você falou, como são armazenadas? 
— Bom, antes disso, preciso falar que o nosso cérebro pode ser 
dividido em 3 grandes áreas: o reptiliano, ou instintivo, o mamífero, ou 
límbico, e o neocórtex, ou efetivamente a nossa porção racional. Tudo 
isso é fruto de milhares de anos de evolução, mas, basicamente, a 
melhor forma de explicar é o exemplo do susto. O que acontece quando 
você leva um susto? 
— Eu? Bem, eu normalmente dou um grito ou um pulo. 
— Isso mesmo! E depois? 
— Depois? Depois eu busco entender o que aconteceu, fico brava 
ou me acalmo. Mas normalmente eu fico brava. 
— Esse é o melhor exemplo para entender a conexão entre as 3 
áreas do nosso cérebro. O ato de pular é instintivo, ele aconteceu antes 
do pensamento emotivo ou racional. Por instinto, você pulou ou gritou. 
Isso porque você ativa o seu mecanismo de defesa mais básico, 
instintivamente. Depois ocorre uma descarga hormonal de adrenalina, 
que acelera o seu coração e ativa o seu corpo, deixando-a pronta para 
correr ou lutar. Tudo isso faz parte do nosso instinto de sobrevivência. 
Então, vêm o a emoção, o medo, a raiva… e só depois vem o 
processamento racional, em que você identifica se existe uma ameaça 
real ou se foi apenas um simples susto. 
— Eu odeio levar susto! 
— Note que existe um pequeno atraso entre o processamento 
instintivo de defesa e o racional, são alguns microssegundos, mas o 
suficiente para você compreender que o nosso cérebro tem regiões 
diferentes de processamento, dependendo do que ele está vivenciando, 
ou melhor, percebendo em volta. Voltando, então, às simbologias, elas 
são um conjunto de sensações que ficam na área da emoção e dos 
sentimentos. Se formos definir o local que isso ocorre em nosso cérebro, 
seria em nosso cérebro límbico ou mamífero. Desse modo, a sensação e 
a emoção sempre vêm antes da razão. Sendo assim, se uma lembrança 
traz da memória uma sensação boa, prazerosa, a vontade será de 
repeti-la. Da mesma forma, uma memória que traz à tona uma 
sensação ruim precisa ser tratada pelo cérebro, que entra em modo de 
defesa e busca expurgá-la, ou seja, colocá-la para fora. Isso tudo 
acontece na área da emoção, ou seja, antes da razão. 
— Quando eu choro, estou colocando para fora uma sensação 
ruim? 
 
 
25 
— Exatamente! O choro é uma expressão comum que o corpo usa 
para colocar para fora o que não foi bem aceito pelo Ego. O problema 
acontece justamente quando você, por algum motivo, não consegue, ou 
pior, não pode colocar para fora a sensação ruim que sentiu e acaba 
“engolindo” essa emoção sentida. Freud chamava esse evento de 
introjeção, e, quando a mente não consegue resolver essa introjeção, ela 
acaba absorvendo o problema e criando uma justificativa para lidar com 
o ocorrido. 
— Então, o cérebropode criar algo só para que eu possa justificar 
um fato ruim que aconteceu comigo? 
— Sim. Se um evento foi muito traumático, você pode até mesmo 
esquecê-lo completamente. Bom, na verdade, você não esquece, não 
inconscientemente, mas o cérebro bloqueia o acesso a essa informação 
da sua porção racional. Assim, algo muito chocante para você pode ter 
sido completamente bloqueado ou criado, como uma fantasia, nessa 
memória. A sua mente pode criar todo um novo enredo, menos 
traumático e mais fácil de ser assimilado por você. 
— Como assim? Eventos do meu passado podem ser obra 
exclusivamente da minha mente? Eu não acho possível! Se eu vivi, é 
real. 
— Você falou certo! Se na sua mente você os viveu, é real. Real 
para você, mas, se formos analisar o que é a realidade de fato, 
ficaremos horas e horas divagando sobre isso. A realidade, como a 
verdade, é subjetiva. A verdade tem o lado de quem conta, 
simplesmente porque não temos todos os elementos necessários para 
compreender o contexto geral no qual se aplica. Da mesma forma, a 
realidade é baseada em nossas percepções e sentidos. Contudo, como 
você verá em breve, ao ser hipnotizada, essas percepções e sentidos 
podem ser alterados. Engana-se quem acha que a hipnose acontece 
somente quando realizada por um hipnólogo. Nós estamos a todo o 
momento sendo hipnotizados, quando prestamos atenção em um filme, 
quando lemos um livro ou quando fazemos qualquer coisa na qual 
focamos a nossa atenção. Sempre que nos concentramos em alguma 
coisa, entramos em estado hipnótico. Sendo assim, a realidade depende 
de valores mutáveis. Mas uma coisa é certa: se a sua mente os tem 
como reais e verdadeiros, nada nem ninguém poderão provar o 
contrário. 
— Ok. Mas o que isso tudo tem a ver com os meus problemas 
reais? Com minha ansiedade, com minha dificuldade para dormir, para 
controlar esse meu jeito duro com as pessoas? 
— Eu expliquei como funciona o armazenamento das nossas 
sensações para você, porque lá reside a raiz de todo o mal que você 
 
 
26 
sente. Acredito que compreender a origem é a forma mais eficaz de 
acabar de uma vez por todas com os sentimentos que a afligem. Não 
acho que tratarmos o resultado é tão eficiente quanto tratarmos a 
causa. Quando uma angústia causa um sofrimento psicológico e não é 
tratada adequadamente, ela acaba causando ou agravando doenças 
físicas na pessoa. Toda sensação negativa incomoda, e isso, às vezes, 
fica dentro de nós por muitos anos. Identificar a origem é crucial para 
podermos fazer uma limpeza definitiva, ou ao menos trazer uma melhor 
qualidade de vida para você. Infelizmente, nosso tempo hoje acabou, 
mas aguardo você em nossa próxima sessão. Como exercício, busque 
entender a origem de tudo que a incomoda e veja quais ações, ou 
hábitos, tem adotado cada vez que uma situação ruim ocorre com você. 
Até nossa próxima sessão! 
 
 
 
 
27 
SESSÃO 4 – HÁBITO 
 
— Seja bem-vinda mais uma vez, Mariana, como tem passado? 
— Bem, muito bem! Pensei no que você me disse, sobre meus 
hábitos. Percebo agora que, sempre que me sinto sozinha, acabo me 
abrigando na casa da minha mãe. Também passo a me sentir cansada e 
com muita fome. Esses seriam meus hábitos? 
— Se você identificou uma origem ou, como chamamos, um 
gatilho comum e automaticamente uma ação rotineira, sim, esses são 
alguns de seus hábitos. Hábitos vão desde coisas muito simples, como 
sempre pegar um copo de água e deixá-lo ao lado da cama antes de 
dormir, a coisas mais complexas, como, a cada término de 
relacionamento, o desencadeamento de uma série de eventos. No seu 
caso, juntar suas coisas e sair do seu apartamento para voltar a morar 
com a sua mãe. 
— Então, todo hábito é algo que eu faço com frequência? 
— Normalmente sim. Essa repetição se dá de forma consciente ou 
inconsciente. Podemos ter hábitos bons, saudáveis, ou hábitos ruins. 
Você percebe que os tem se analisar suas ações com calma, 
principalmente se estiverem atrapalhando sua rotina. Ao identificá-los, 
você pode trocá-los. 
— Como assim, trocá-los? 
— Um hábito ruim pode ser convertido em um hábito bom. 
Lembra que eu disse que, além de um comportamento repetido diversas 
vezes, o hábito tem um gatilho? Algo que desencadeia os eventos 
posteriores? Por exemplo, toda vez que eu almoço, gosto de uma 
sobremesa, no entanto essa sobremesa fica em um local diferente, 
fazendo com que eu tenha que me deslocar de carro. Às vezes, nem é 
pela sobremesa, é pelo deslocamento. Se eu então conseguir identificar 
o porquê das ações que eu tomo e qual é o meu real desejo por trás 
desse hábito, posso redirecioná-lo para algo menos prejudicial para 
mim. Talvez eu continue me deslocando de carro, mas opte por ir para 
outro local, quem sabe para uma praça, para ler um livro? O importante 
é você compreender que um hábito pode ser modificado, o que é 
diferente de uma dependência. 
— Dependência? Tipo em drogas? 
— Isso! Na dependência você está tão ansioso pela gratificação 
que aguarda, após o gatilho mental ser acionado, que fica impossível se 
controlar. Você acaba se tornando escravo da situação, e isso é 
 
 
28 
extremamente prejudicial, porque não há o mínimo de controle, mesmo 
que haja risco de vida envolvido. Como ocorre na dependência de 
drogas. 
— O que fazer nesse caso? 
— No caso da dependência, talvez a pessoa precise de uma ajuda 
profissional, de um médico que possa prescrever medicamentos que 
auxiliem o cérebro a diminuir a dependência química gerada pela 
substância, ou até ser internada. 
— Graças a Deus, eu não tenho esse problema! Essa 
dependência! Não uso drogas, não fumo, só bebo socialmente. Ao 
menos dessa vez, eu me livrei. 
— Bem, comida e açúcar em excesso também causam 
dependência. 
— Nem brinca! Nunca pensei por esse ângulo, eu adoro comer, 
mas não me sinto dependente. Posso parar de comer açúcar a qualquer 
momento. 
— Fique tranquila! Aos poucos, vamos mudando sua rotina de 
hábitos. Até mesmo uma dependência química, se houver dedicação e 
desejo real de mudança, pode ser revertida. O que precisamos é de 
muita disciplina e autocontrole, atributos que iremos conquistar, e eu 
estarei ao seu lado durante essa jornada. Você tem todas as armas para 
lutar contra seus demônios, isso é o mais importante. Estou feliz com a 
sua evolução ao longo de nossas sessões. Chegamos até aqui, e isso 
significa, para mim, que você tem entendido todo o processo e, 
principalmente, acreditado nele. 
— Muito obrigada. Sinto que vacilo às vezes, mas busco ser forte 
e manter o foco no meu objetivo de ser uma pessoa melhor. Entendo 
que estou passando por uma fase ruim, que tem origens antigas, e que 
já basta desse sofrimento. Eu sei que mereço uma vida melhor, com paz 
e tranquilidade. 
— Que orgulho poder escutar você dizer essas palavras! Você não 
sabe o quanto eu me sinto grato pela oportunidade de ser este farol que 
auxilia no caminho, às vezes sombrio, do despertar da mente em busca 
do equilíbrio. 
— Sabe de uma coisa que você não falou, mas que fiquei 
pensando…? 
— Sim? 
— As nossas manias. Eu sou cheia delas. 
— Quais, por exemplo? 
 
 
29 
— Bem, eu confiro as torneiras duas ou três vezes antes de sair 
de casa. Na empresa, eu sempre verifico se o gás está fechado. Teve 
uma vez que eu já estava em casa e voltei para a empresa, só para 
conferir se estava tudo fechado. Sabia que não conseguiria dormir. 
— A mania é um comportamento diferente do normal, que pode, 
em algumas vezes, ser considerado uma doença, um transtorno 
compulsivo, como esse de verificar duas ou três vezes as torneiras. A 
mania é uma compulsão, um desejo incontrolável da neurose que 
possuímos. Você fica com medo das consequências de seus erros, o 
medo toma conta, e você fica tão ansiosa que não consegue relaxar 
enquanto não tem certeza de que conseguiu corrigi-los. Todos nós 
temos algumas manias, tudo bem, é normal. Mas, se ela se tornar 
muito compulsiva a ponto de atrapalhar a sua rotina, será preciso 
tratá-la, porque você acabatambém perdendo qualidade de vida. Os 
pensamentos compulsivos nunca são saudáveis. 
— O que você pode falar dos meus jeitos pessoais? 
— Como assim jeitos pessoais? 
— Das minhas qualidades! Até agora, você falou só de hábitos e 
coisas que podem me prejudicar, mas eu tenho qualidades! Sou uma 
excelente cozinheira! Tudo bem, posso até concordar que, lá no fundo, 
escolhi a gastronomia como forma de receber mais afeto da minha mãe, 
que sempre elogiava os incríveis dotes culinários da minha avó, mas 
isso não tira de mim o mérito de ser uma excelente profissional na 
cozinha! Sabia que eu já fui chamada para trabalhar em outros locais? 
Não tenho essa dependência de estar só na empresa da família, não, 
viu? 
— (Risos) Eu tenho certeza! Até mesmo pelo tamanho da empresa 
da sua família, seria um risco muito grande colocar alguém, em um 
setor tão crucial, que não tivesse aptidão verdadeira para desempenhar 
a função de forma excepcional. 
— Isso aí! Eu tenho muita aptidão! Seja lá o que isso realmente 
queira dizer. 
— Aptidão é um talento natural, algo que você desenvolve com 
facilidade, que você aprende rápido e no qual, por isso, 
consequentemente, tem facilidade para fazer, além de gostar de fazer. 
— Verdade! Isso é verdade! Minha avó sempre me elogiou! Eu 
aprendi tudo com ela, desde pequena! Sei tudo sobre a arte de fazer 
doces! 
— Isso é o que chamamos de sublimação. Quando uma aptidão 
nata, ou seja, de nascimento, é colocada em prática com excelência! 
 
 
30 
Puxou a genética da sua avó para desempenhar com maestria toda a 
rotina necessária para fazer os doces. 
— Bons tempos esses com a minha avó. 
— É mesmo? Do que você se lembra? Ela está viva? 
— Dona Maria Flor? Sim! Firme e forte. Acho que a rotina de 
mexer o tacho deu muita vitalidade para ela. 
— Você se dá bem com a sua avó? 
— Muito! Ela é um exemplo para mim, aguentou coisas que eu 
certamente não aguentaria, mas soube lidar com as situações muito 
bem. Somos uma família de mulheres fortes, determinadas e 
independentes. Eu me orgulho disso. 
— Por que você fala isso? 
— Então… Somos 3 mulheres sozinhas, batalhando em um 
mundo machista. Odeio essa visão machista do mundo, sabe? 
— Entendo. Você odeia os homens? 
— Não, não é isso. Os homens são necessários, mas não são isso 
tudo que eles acham que são. Às vezes, eu prefiro realmente continuar 
solteira. 
— E seu avô? 
— Ele faleceu há muito tempo. Minha avó disse que foi logo após 
o meu nascimento. Não me lembro dele, minha mãe também não toca 
muito nesse assunto, acho que eles eram meio que brigados na época. 
— Sua avó não se casou mais? 
— Não. Nunca mais teve outro homem. 
— E a sua mãe? Tem alguém? 
— A minha mãe é complicada nessa questão de homens. Como eu 
disse, às vezes ela se enjoava e terminava, às vezes ela os confrontava, e 
eles brigavam até não ter mais jeito. Em nossa família, não damos 
moral para os homens. 
— E você? Você falou que não gosta de se sentir sozinha, que 
normalmente termina uma relação e volta para a casa da sua mãe, 
como você é em seus relacionamentos? 
— Sério? Jura que vamos precisar tocar nesse assunto agora? Eu 
não gosto de falar sobre isso. Devo ter algum bloqueio, porque eu nunca 
dou certo com ninguém. Os homens acabam sendo uns grandes filhos 
da puta comigo. Desculpa as palavras, mas é a melhor forma de 
descrever. 
 
 
31 
— Tudo bem, não precisa ficar assim. Tudo no seu tempo, 
quando se sentir confortável você me conta sobre a sua relação com os 
homens, que tal? 
— Realmente prefiro esperar um pouco mais. Que tal falarmos 
sobre a minha saúde? Lá daqueles pilares? Detesto admitir que tenho 
inveja dessas moças magrinhas. Como elas conseguem? Vivem de 
vento, só pode! Eu chupo uma bala, viro este balão. 
— Não se menospreze desse jeito, isso não é verdade. Não faz seu 
tipo o papel de vítima. 
— Não é vitimismo! É fato! Eu já fiz de tudo e não consigo 
emagrecer, isso me corrói, acaba com a minha autoestima. Às vezes é 
por isso que eu só arrumo homem de merda. Quem vai querer uma 
gorda? 
— Mariana, isso não tem nada a ver. As suas escolhas de 
parceiros ruins não estão ligadas as suas características físicas. Da 
mesma forma que tem homem mau-caráter que gosta de magrinhas, 
tem muito homem bom que prefere uma mulher mais cheinha, por 
assim dizer. A aparência física não determina o caráter de ninguém, 
nem a aparência, nem o género e nem a raça da pessoa, não existe essa 
vinculação genética. O desvio do caráter é outra coisa, posso lhe 
explicar em outra sessão. 
— Gostaria de entender melhor sobre isso, porque eu tento, mas 
não encontro ninguém que valha a pena. 
— Então, voltamos aos maus e velhos hábitos. 
— Os hábitos de novo? 
— Claro! Uma ação rotineira é um hábito. Se você escolhe 
repetidamente homens que não a valorizam ou que não servem para 
você, a culpa é do hábito que você criou, e não dos homens, porque 
consciente ou inconscientemente você os vem selecionando há anos. 
— Nossa! Então, eu tenho muito problema mesmo! Que seleção 
ruim, viu!? 
— Na verdade, isso tudo tem a ver com o medo que nós 
carregamos. 
— Que medo? Eu não tenho medo nenhum! 
— O medo da solidão é um medo muito comum nas pessoas. 
— Eu não tenho esse medo! Não gosto de me sentir sozinha e me 
mudo para a casa da minha mãe quando estou solteira, porque é mais 
conveniente para mim e para ela. 
 
 
32 
— Está tudo bem. Mas todos nós temos 3 grandes medos, e, 
contra isso, não há nada que possamos fazer, a não ser compreender 
qual o impacto que eles causam em nossa na vida adulta. 
— Já vem você com as crianças novamente. 
— Mas é verdade! (Risos) E não sou eu quem está afirmando isso, 
OK? Tudo tem o dedo do nosso querido Freud, só estou explicando que, 
de acordo com ele, todos nós temos medos inconscientes e que 
influenciam o nosso comportamento ao longo dos anos. Eu falo 
bastante das teorias de Freud porque as acho muito coerentes. 
— OK! OK! Não vou negar que essas ideias às vezes me 
perturbam. Poxa! A gente acaba sendo sempre tão errada. Ainda bem 
que não tenho filhos! É simplesmente impossível criar uma criança sem 
que ela se torne um adulto problemático. 
— De acordo com Freud, isso é verdade. Ele dizia: “Eduque-os 
como quiser; de qualquer maneira há de educá-los mal”. Acho que na 
verdade o que ele quis dizer é que cada um deve enfrentar os próprios 
desafios e não cabe a mais ninguém, a não ser a nós mesmos, vencer 
nossos medos e derrotar nossos demônios, para então sair do “inferno” 
que criamos em nossa mente. 
— Pode ser. 
— Sobre os medos, que geram grande parte dos nossos hábitos 
ruins, eles são chamados medos atávicos ou medos ancestrais, sendo 
de 3 tipos. O primeiro medo que todo ser humano carrega desde o 
nascimento é o medo de ser preterido ou humilhado. Esse medo nos 
impulsiona na busca por nos sentirmos aceitos e valorizados. Então, 
nós naturalmente buscamos comportamentos nos quais sejamos 
reconhecidos pelas pessoas que são importantes para nós. Quem tem 
esse medo mais acentuado vai buscar evitar atritos desnecessários. O 
que torna essa pessoa normalmente mais otimista. O segundo medo 
que todos nós temos é o da perda do status quo. Que nada mais é que o 
medo de perder o que já está garantido. Assim, a pessoa que tem esse 
medo mais acentuado tem uma resistência maior a mudança e não lida 
muito bem com as coisas novas, pois vai desejar manter sempre tudo 
como está, o que torna essa pessoa mais insegura. Ela só faz algo 
quando tem certeza, assim acaba tendo metas elevadas, estuda muito e 
prefere fazer as coisas sozinho. O terceiro medo é o da perda de 
controle. É um grande medo de situações nas quais não se consegue 
prever um resultado, é um medo de sentir-se vulnerável e dependente. 
— Esse aí é minha mãe total! Esse medo de ser dependente dos 
outros! 
 
 
33 
— Verdade? Então, a fortaleza que ela demonstra esconde uma 
menina frágil, que ela busca proteger do mundo externo. Você me 
entende? Talvez ela tenha sofrido um traumamuito grande, algo que a 
fez sentir-se impotente. Isso se tornou um medo tão intenso que a fez 
perder a inocência da infância cedo demais. Normalmente, quem 
empreende desde cedo passou por situações de abandono ou 
impotência que fizeram essa pessoa perceber que não poderia aguentar 
viver na insegurança da dependência do outro. Acabou, assim, 
despertando-se mais cedo para a necessidade de buscar autonomia em 
seus projetos pessoais. Isso acaba realmente afetando a relação desse 
indivíduo com os outros, porque ele acaba não confiando muito nas 
pessoas. Ele acredita, inconscientemente, que aquilo irá acontecer 
novamente, que, ao precisar contar com alguém, esse alguém pode 
faltar. 
— Talvez seja por isso que a minha mãe nunca fala do meu avô. 
Ele pode ter feito alguma coisa que a deixou insegura. 
— Pode ser ou pode ser que ela sofreu algum tipo de abuso… 
Pode acontecer… 
— Minha mãe? Não! Ela é toda neurótica com essa questão de 
deixar a gente sozinha com homem. Uma preocupação terrível! Meus 
namorados sofreram. O que ela podia fazer para me “proteger”, ela fez. 
Se tinha homem no local, eu não ficava sozinha nem um minuto. Não, 
minha mãe, não! Isso eu não acredito que seja a causa, até mesmo 
porque ela nunca ficaria sozinha com algum homem, ela não daria esse 
mole. 
— Não temos como saber, isso já faz parte da história da sua 
mãe, não é verdade? Talvez um dia você converse com ela e pergunte 
mais sobre a infância dela. Acredito que lá você encontrará muitas 
respostas para o comportamento atual da sua mãe. 
— É, talvez, não sei se chegaremos um dia a ter esse nível de 
intimidade. Como disse, minha mãe é um general, não se abre tão 
facilmente. 
— Em minha experiência, quanto mais demonstramos força, mais 
fragilidade escondemos. Nós sempre buscamos demonstrar o contrário 
daquilo de que temos medo. Por exemplo, se eu tenho muito medo da 
solidão, estarei sempre rodeado de amigos e serei muito comunicativo. 
Se eu tenho muito medo de perder o controle, vou sempre dar um jeito 
de ter as pessoas dependentes de mim, se eu sinto muito medo de 
demonstrar uma imagem frágil, me fecharei em torno da minha 
fortaleza interior e buscarei não relevar muito dos meus sentimentos 
para as pessoas. De toda forma, esses 3 medos crescem de forma 
diferente dentro de nós, depende do estímulo do ambiente. Eles 
 
 
34 
misturam-se em proporções diferentes, mas um sempre fica pouco mais 
evidente. 
— Não é bem assim, eu sou forte e não escondo essas bobeiras de 
fragilidade, não, dificilmente você vai me ver chorar, isso é muito raro. 
— Como eu lhe disse, Mariana, tudo a seu tempo. Até mesmo 
porque não há problema algum em demonstrar fragilidades. Na 
verdade, as pessoas mais fortes são as que conseguem demonstrar seus 
medos e suas fraquezas sem temerem o julgamento dos outros, elas 
reconhecem suas fragilidades e buscam meios de fortalecê-las. Quando 
você aceita seus defeitos e reconhece seus medos, acaba notando que, 
ao invés de críticas e julgamentos, você descobre uma compaixão 
enorme das pessoas ao seu redor, pois isso gera uma conexão. A 
empatia acontece na demonstração de fragilidade, a força e o sucesso 
não conectam, eles geram mais inveja que conexão, já a fraqueza torna 
você humana perante os outros. Nós falamos diversas vezes que errar é 
humano, mas morremos de medo de errar. Incoerente isso, não acha? 
Errar e aceitar o erro como parte da aprendizagem são os principais 
fatores de crescimento para uma pessoa. Só erra quem tenta, e só tem 
sucesso quem aprende por meio da prática, da experiência. Não existe 
experiência sem erro, o erro é parte inerente da aprendizagem. Espero 
que você consiga compreender isso, Mariana, você não precisa fechar-se 
em uma fortaleza. O lado mais bonito do conto de fadas não é o castelo; 
é a história do príncipe e da princesa que torna o momento mágico. Sua 
princesa está lá, aterrorizada, você acreditando nisso ou não. Ela grita 
por liberdade, e talvez esse grito de liberdade seja a origem de toda a 
ansiedade que você carrega dentro de si. Pense nisso enquanto aguardo 
você para a nossa próxima sessão. 
 
 
35 
SESSÃO 5 – NEURA 
 
— Olá, Mariana, como você está? 
— Você fala coisas que me perturbam, sabia? 
— Que bom! Quer dizer que a tocaram. Quando algo nos 
incomoda, também nos indica o local que devemos trabalhar em nós 
mesmos. Em alguns momentos, você pode não concordar comigo, quem 
sabe até sentir raiva de mim, mas entenda que este é o meu papel: 
mostrar a você uma nova perspectiva sobre aspectos da sua vida com 
que você até lida corriqueiramente, no entanto estão em modo 
automático. 
— Em modo automático? 
— Sim. Quando paramos de analisar o motivo das nossas ações, 
os nossos pensamentos automáticos fazem com que as sugestões da 
mente passem para o campo da razão, sem que haja nenhum 
processamento mental, é aí, então, que você começa a se boicotar, a 
repetir as mesmas escolhas inconscientes, aguardando um resultado 
diferente. 
— Você descreveu algo que eu entendo como a definição de 
loucura. Fazer uma coisa diversas vezes, esperando um resultado 
diferente. Por acaso, você está me chamando de doida? 
— Não! Ao menos não de uma forma pejorativa. Quando falamos 
que “de perto, ninguém é normal”, dizemos porque, em nosso íntimo, só 
nós sabemos de verdade os demônios que enfrentamos. Às vezes isso, 
ao olhar do outro, pode parecer loucura, mas, no que se diz respeito à 
psique humana, o normal não existe, somos como loucos presos em 
uma realidade que nós mesmos criamos, o cérebro é o único órgão que 
precisa entender, por si mesmo, que está doente e buscar a própria 
cura. Repetir durante anos os mesmos hábitos e aguardar resultado 
diferente é na verdade um padrão seguido por muitos, mas, quando 
negadas e negligenciadas, essas rotinas vão ferindo cada vez mais o 
nosso psicológico. Despertar-se para isso é mais um passo que você 
deve dar para encontrar a sua verdadeira essência. Ter a coragem para 
analisar e até romper alguns de nossos dogmas morais, sociais e 
religiosos, crenças muitas vezes enraizadas por gerações e gerações, e 
buscar por a própria verdade são os atos mais libertadores que 
podemos nos conceder. 
— Você fala que vivemos em uma prisão mental? Onde estão 
esses círculos intermináveis e infernais que vivemos repetindo? 
 
 
36 
— Eles residem no seu inconsciente, a parte responsável por, 
acredite, mais de 95% do seu comportamento no dia a dia. É o 
inconsciente, aquele “diabinho” astuto, que se preocupa unicamente 
com a sua vontade. A nossa porção mais egoísta, a essência da 
expressão mais pura dos desejos da nossa alma. 
— Você está falando que é esse “diabinho” que devemos soltar 
para nos libertarmos do nosso “inferno” pessoal? 
— A ideia não está totalmente errada, mas infelizmente não é tão 
fácil assim. Não é assim tão permissivo, precisamos do controle real 
sobre nossas ações e emoções. Se não houvesse controle, a vida em 
sociedade desabaria. Imagine todo mundo se preocupando 
exclusivamente com as próprias vontades, sem se preocupar com as 
consequências da realização dessas vontades. As consequências 
existem, devem ser entendidas e respeitadas, mas um acordo deve ser 
feito com o seu “diabo” interior, pois a sua liberdade deve se limitar ao 
ponto onde começa a liberdade do outro. Compreenda isso. O problema 
maior é que, na maioria dos casos, o nosso Superego é muito rígido, e 
tudo que não é flexível tem um risco maior de se quebrar sob pressão. 
— Superego? 
— Sim, eu venho falando sobre a sua força impulsionadora, sobre 
a sua energia vital, que Freud chamava de ID e eu apelidei de 
“diabinho”, para você entender melhor, mas, como tudo na natureza, 
também existe a contraforça, a razão frente a emoção, que Freud 
chamava de Superego, e eu, para manter o contexto, vou chamar de 
“anjinho”. Todos nós também o carregamos, ele é o nosso juiz, que julga 
e determina o que é o certo e o que é o errado, o que se pode ou não 
fazer, e determina a pena quedevemos cumprir quando falhamos, e 
você já deve saber que nós falhamos muito. Por nos sentirmos culpados 
por nossos erros, acabamos também nos condenando. Então, você pode 
perceber agora que chegamos à razão mais profunda de vivermos em 
nosso “inferno” pessoal, uma prisão mental, criada por nós mesmos, 
para nos punir. Nos punimos por atos que consideramos como nossos 
erros e nossas falhas, somos condenados por nosso “anjinho”, que é o 
guardião das nossas crenças. 
— Se eu entendi bem, então, como pessoa, tenho um lado egoísta, 
que busca só prazer e satisfação, e um lado moral, que analisa a todo o 
momento a conduta do meu lado egoísta? Vivo uma luta constante 
entre o bem e o mal dentro de mim? 
— Não é bem assim, o “bem” e o “mal” são convenções criadas 
pelos homens. O que você chama de “seu lado mal” na verdade são 
somente os seus desejos, mais puros e verdadeiros. Como isso pode ser 
mal? Você estaria falando que o ser humano é mal por natureza… Eu 
 
 
37 
sinceramente não concordo, acho que são somente desejos. Claro, 
devem ser ponderados, mas não crucificaria alguém por desejar. Eu não 
acho certo me punir por ter meus desejos, mas, sim, devo ter controle 
do que efetivamente possa agir contra a minha autopreservação. Um ato 
de desejo inconsequente é, para mim, uma irresponsabilidade com a 
própria vida, um ato de autopunição muito grande, que impõe ao outro 
o direito legal de responsabilizar você. Nós nunca devemos deixar que 
nossos desejos venham a ferir a integridade ou a liberdade de outro ser 
humano. No entanto, às vezes nosso “anjinho” age muito mais contra 
nós que a nosso favor. A falta de equilíbrio, de harmonia entre esse lado 
bom e esse lado mau de que você fala, dentro de você, é a raiz dos 
problemas emocionais das pessoas, pois, sem desejo, não há vida. Você 
precisa da energia vital do ID pulsando e a impulsionando em suas 
realizações, como também precisa do Superego, ponderando sobre o 
que realmente é um limite aceitável para as suas vontades. Um não 
existe sem o outro. 
— E o Ego? 
— O Ego é o mediador. É o guardião da sua mente, ele busca 
servir aos dois lados, equilibrando os desejos e organizando as crenças. 
Ele não é perfeito, muitas vezes falha. Mascara algumas informações 
para nos agradar e nos torna atores de nossa vida. A intensão é boa, ele 
faz isso para que possamos encarar os desafios do mundo, para nos 
proteger. O problema é que acabamos fixando tanto essas máscaras de 
proteção que “um general”, como você intitula a sua mãe, passa a atuar 
24 horas por dia, enquanto a estratégia inicial do Ego era que você 
utilizasse a máscara só em momentos oportunos. Fica, assim, criado 
um conceito prévio sobre você, da mesma forma, você também cria 
diversos conceitos sobre as pessoas que conhece. Entenda, a intenção 
do Ego é legítima, esse terceiro “eu” em você visa à sua 
autopreservação. Mas mesmo ele precisa e deve ser dosado. Fixar um 
personagem gera em nós uma sensação de nos sentirmos uma fraude. 
— Eu preciso estar em constante negociação com esses 3 “eus” 
para encontrar o equilíbrio mental? Diga como isso é possível, se é que 
isso é possível. Como eu posso realizar meus desejos, controlar minhas 
vontades e não viver um personagem? Não me impressiona agora tudo o 
que acontece no mundo. Somos crianças revoltadas vivendo o 
personagem que criamos, para encontrar meios de extravasar nossos 
desejos ocultos. 
— A ideia é quase essa, a sua explicação é muito boa. Na verdade 
Freud deu o nome de “neuróticas” para as pessoas com esses conflitos 
internos. Ser neurótico é um bom sinal, pois significa que você carrega 
o medo dos julgamentos e anseia por amor, por ser aceita no seu grupo 
 
 
38 
social, como qualquer ser humano normal. Como você pôde perceber, o 
normal é bem relativo. 
— Eu? Neurótica? Me explica melhor isso! 
— As neuras que todos nós temos são de origem psíquica. Muitas 
vezes, elas estão ligadas a situações externas, a experiências que foram 
traumáticas e que, no decorrer dos anos, acabaram causando algum 
tipo de transtorno na área mental, física ou na personalidade. De 
acordo com Freud, as nossas neuroses são frutos de tentativas 
frustradas de lidar com alguma situação angustiante para nós. Esses 
traumas estão gravados em nosso inconsciente, mas têm manifestações 
conscientes, através de sentimentos, muitas vezes, autodestrutivos. Isso 
gera os nossos comportamentos, que acabamos não analisando muito 
bem, pois se tornaram rotinas por meio dos hábitos que carregamos ao 
longo da vida. 
— Mas como eu posso agir contra o meu bem-estar? 
— Isso ocorre porque deixamos que a neurose, ou os nossos 
medos inconscientes, tome conta das nossas ações. Mesmo que 
conscientemente você esteja ciente que atitudes autodestrutivas vão 
prejudicar você no futuro, como na saúde, os impulsos e a força do 
hábito fazem com que você continue repetidamente tomando as 
mesmas atitudes que tomava quando criança, mas que agora, na vida 
adulta, acabam cobrando um preço alto. 
— Mas eu não me sinto assim! Eu não me sinto vítima! 
— A comida que você ingere em acesso é um tipo de 
autossabotagem que você carrega. Por algum motivo, você extravasa 
suas angústias no prazer proporcionado pela ingestão da comida, mas 
esse mesmo prazer também é uma forma de condenação. 
— Condenação? Eu me sinto condenada? 
— Pior, você sente-se culpada. Culpada por coisas que 
aconteceram na sua vida, sobre as quais nem tivesse controle. E, como 
forma de punição, você talvez não se permita ter o corpo que sempre 
desejou, por não se sentir merecedora. Estamos falando nesse caso da 
alimentação, mas isso ocorre em vários aspectos da nossa vida: nas 
escolhas que tomamos em nossos relacionamentos, na forma com que 
lidamos com os riscos que corremos na vida, nas decisões 
fundamentais que afetam a nossa sensação de felicidade e realização. 
— A culpa faz tudo isso? 
— Se a culpa for grande demais para a pessoa, ela 
inconscientemente não se permite ser feliz, pois não acredita de verdade 
que mereça a felicidade. O não merecimento gera a autossabotagem, 
que faz com que, a cada passo mais próximo da realização de um 
 
 
39 
avanço em alguma área da sua vida, você acabe fazendo escolhas que 
jogam por terra todo o seu esforço. Isso faz com que você tenha de 
recomeçar, diversas e diversas vezes. É um fator que mantém você no 
seu ciclo infernal, levando-a a se sentir muito feliz ao achar que 
encontrou o caminho. Porém, ao encontrar a chave que irá libertá-la, é 
como se você a visse escapando de suas mãos, o que conduz você à 
tristeza e à depressão e reforça a sua crença pessoal de que não é 
merecedora de um relacionamento ou de um corpo saudável. E isso vai 
se tornando a sua verdade absoluta. 
— Já vem você com esse papo de relacionamento novamente! Eu 
não me sinto preparada para falar sobre isso! Os homens não prestam! 
Isso para mim é um fato, e será difícil você me convencer do contrário! 
— Não se preocupe, temos meios de chegar às respostas que irão 
esclarecer o porquê desse seu trauma com os homens. 
— Me hipnotiza, então! Quero entender melhor como isso 
aconteceu. Não vim aqui para isso? 
— Você veio para que eu pudesse auxiliá-la a perceber as coisas 
por outros ângulos, para, assim, trabalhar os assuntos que a 
incomodam. Em breve, vamos, sim, por meio da hipnose, acessar com 
mais facilidade as suas memórias pessoais. Mas nem sempre a hipnose 
é necessária. Ela só potencializa os resultados, mas, antes disso, 
preciso lhe explicar como a nossa mente funciona. Quero que você 
compreenda o mecanismo que o seu cérebro e a sua mente utilizam não 
só para armazenar as suas lembranças, mas também para que você 
veja como elas influenciam no seu dia a dia. Um resultado de sucesso é 
obtido, a meu ver, quando entendemos a origem daquilo que nos 
adoece, que nos incomoda. Tratarmos o resultado do trauma sem 
compreender a fonte dele não trará a você, no longo prazo, o que 
realmente importa, que é a sensação de felicidade