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ARRANCAR MASCARAS!ARRANCAR MASCARAS!
ABANDONAR PAPÉIS!ABANDONAR PAPÉIS!
 
DO MESMO AUTOR 
 Aborto: o holocau sto silencioso
 As estações do coração Por que
não viver melhor Um estranho
em sua porta
 
 JOHN POWEL, SJ
LORETA BRADY, MSW 
 Tradução
BÁRBARA THEOTO LAMBERT
ARRANCARMASCARAS!ARRANCARMASCARAS!
ABANDONAR PAPÉIS!ABANDONAR PAPÉIS!
 
Edições LoyolaEdições Loyola
ARRANCARMASCARAS!ARRANCARMASCARAS!
ABANDONAR PAPÉIS!ABANDONAR PAPÉIS!
 
Título srcinal
Will the Real Me Please Stand up?
25 Guideline for Good Communication
C) John Powell, 1985
Edições Loyola
Rua 1822 tf 347 — Ipiranga
04216-000 São Paulo, SP
Caixa Postal 42.335 — 04218-970 — São Paulo, SP
(11) 6914-1922
(11) 6163-4275
Home page e vendas. www.loyola.com.br 
Editorial: loyola@loyola.com.br Vendas:
vendas@loyola.com.br 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra
 pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma
elouquaisquermeios(eletrônicoou mecânico,incluindofotocópiae
 gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de
dados sempermissãoescrita da Editora.
ISBN: 85-15-00038-5
14' edição: março de 2006
© EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 1998
 
SOBRE OS AUTORES E PRONOMES . . .SOBRE OS AUTORES E PRONOMES . . .
As ideias e expressões deste livro têm uma história progressiva.
Loretta Brady é psicoterapeuta com clínica particular e John Powell
ensina na Universidade Loyola de Chicago.
Reuniram neste livro seus pensamentos e experiências em acon-
selhamento e em sala de aula.
Também apresentaram juntos este material em seminários reali-
zados nos últimos anos.
A fim de proporcionar uma leitura corrente, não se faz distinção
entre os textos de Loretta e os de John. Quando houver exceções, serão
claramente identificadas.
 
OQUE É REAL?
"O que é REAL?", perguntou o Coelho um dia, quando
estavam deitados lado a lado, perto da grade do quarto das crianças,
antes de Naná vir arrumar o quarto. "Signif ica ter coisas que
murmuram dentro de você e uma alça do lado de f ora?"
"Real não é a forma com que você é feito", respondeu o Cavalo
de Pele. "É uma coisa que acontece com você. Quando uma criança
gosta de você por muito, muito tempo, não somente para brincar,
mas gosta REALMENTE de você, aí você se torna Real."..
"Nã o aco nte ce de rep ent e", conti nuo u o Cav alo de Pele.
"Você se transforma. Leva bastante tempo. É por isso que nem
sempre acontece para quem se quebra com facilidade ou tem bordas
ásperas ou precisa ser guardado com cuidado. Geralmente, até você
se tornar Real, a maior parte de seu pêlo já caiu de tanto carinho,
você já perdeu os olhos, está com as juntas moles e bastante gasto.
Mas essas coisas não têm a mínima impo rtânc ia, porque quando
você é Real, não pode ser feio, a não ser para quem não entende."
The Velveteen Rabbit,por Margery Williams
 
INTRODUÇÃO
A comunicação entre dois seres humanos é reconhecidamente
difícil. Quando nos comunicamos, partilhamos alguma coisa. Como
resultado, essa alguma coisa torna-se posse comum. Por exemplo, se
comunico uma piada ou uma receita, esse ato de partilhar tornará a
 piada ou a receita nossa posse comum; possuiremos alguma coisa
 juntos. Mas este partilhar um artigo ou uma coisa não é a comuni-
cação ou o partilhar sobre o qual desejamos escrever. Através da
comunicação relacional humana, o que obtemos como posse comum
somos nós mesmos. Através de nossos atos de partilhar ou comunicar,
conhecemos e somos conhecidos. Você partilha o dom de si mesmo
comigo e eu partilho o dom de mim mesmo consigo. É sobre essa
comunicação relacional humana q ue falaremos nestas páginas.
Parece óbvio que a comunicação humana é a alma e o impulso
vital de todo relacionamento. Também parece claro que o dom de si
mesmo, através do partilhar da auto-revelação, é o dom essencial do
amor. Todos os outros dons — jóias, águas-de-colônia, flores e
gravatas — são apenas símbolos. O verdadeiro dom de amor é o
dom de si.
De alguma forma, percebemos que aossas vidas parecem ter a
mesma qualidade dos nossos relacionamentos. Somos aproximada-
mente tão felizes quanto felizes são nossos relacionamentos. Um "ser 
humano solitário" é uma contradição em termos. A existência de um
ser humano isolado dos outros é como uma planta tentando
sobreviver sem sol ou sem água. Nenhum novo crescimento pode
ocorrer e a vida que existe começa a murchar e lentamente morre rá.
Para nós, existir é existir com um outro ou outros. A qualidade de
nossa existência humana depende de nossos relacionamentos.
Apesar de tudo isso, a comunicação humana não tem um bom
registro de realizações. Muitas pessoas, até mesmo muitos casais,
 
 pa rec em es ta r emp en ha dos em se rel ac io na r um co m o outro sem
o conhecimento mútuo que resulta da boa comunicação. Muitos de
nós nos contentamos com uma trégua, uma acomodação em vez de
um verdadeiro relacionamento.
Quando acabei de assistir ao filme "Kramer versus Kramer",
senti um impulso de me levantar na platéia e protestar. Queria dizer 
aos Kramer: "Na verdade vocês não precisam se divorciar. O que
 pr ecisam mesmo é se conhecer um ao ou tro. Prec isam ap rend er a se
comunicar. Ambos são pessoas boas e decentes, mas parece que não
 percebem ne m reconhecem a bondade e as qu al idades um do outro" .
Dizem que "a arte imita a vida" e, infelizmente, há na vida real
muitas situações como a retratada em "Kramer". Muitos de nós se
angustiam com relacionamentos que chegam ao fim. "Breaking up is
hard to do" (Um rompimento é sempre difícil), diz a letra da canção.
Talvez nos deva preocupar o fato de nossos relacionamentos nunca
terem um verdadeiro começo nem experimentarem um verdadeiro
crescimento. Talvez estejamos prontos a nos contentar com uma
farsa, enquanto sonhamos com o que poderia ser.
Para dificultar ainda mais a consecução de relacionamentos reais,
existe o problema da fantasia ou imaginação. Imagine, se quiser, duas
 pessoas tentando se comunicar uma com a outra. Se fôssemos
repre sentar grafi cament e a comuni cação, poderíam os fazê-l o com um
fio ou fios esticados entre as duas pessoas. O tráfego da comunicação
tem dois sentidos. Por isso o partilhar que passa pelos fios movimenta-
se de A para B e de B para A. Mas, em toda a extensão,
o material realment e transmitido é exagerado pela fantasi a ou ima-
gin açã o. Fan tasi amos mui to além da ver dadei ra comun icaç ão. Aimaginação sempre impera onde termina a verdadeira comunicação.
Digo-lhe, por exemplo:
 — Sabe, ac ho que es se ti po de ca be lo nã o fica be m em vo cê .
Suponh amos que eu tenha dito exatam ente isso, nada mais que
isso. Mas você não consegue deixar de imaginar outras coisas que
suspeita estarem subentendidas em minha observação: "Acho que ele
não gosta de mim; não é só do meu penteado". Ou você poderia
imaginar: "Ele está se desforrando de mim, porque eu disse que
aquela cor de cami sa não lhe caía bem". Estes são apenas exempl os
 po ssívei s dos perigos da fantas ia . O certo é que, onde cessa a comu-
nicação, a fantasia ou a imaginação tomam conta. Muitas vezes isso
nos causa grandes danos.
Outro exemplo: de alguma forma, estou certo de que todos com quem
você ou eu tivemos contato prolongado têm idéia bem-definida
 
de se gostamos ou não deles. É muito provável que nunca lhes
tenhamos dito explicitamente como nos sentimos verdadeiramente.
Mas, de alguma forma, a imaginação substituiu os fatos, quase sem-
 pre distorcendo-os. Quando um homem está ajudando uma mulher a
vestir o casaco, sua mão pode roçar-lhe acidentalmente o rosto. Ela
 pode imaginar que isso foi deliberado e envolver-se em um rela-
cionamento todo irreal (literalmente fantástico). "Ele me tocou! E
depois disso tudo mudou. Tenho certeza de que fez de propósito. É
um sinal evidente de que me ama." O pobre homem ficaria muito
surpreso ao saber de tudo isso, pois estava apenas ajudando-a a
vestir o casaco. (Até que ela lhe diz: "Sei que você me ama!")
Uma mulher sentada à mesma mesa que um homem podeencostar acidentalmenteseu pé no dele, sob a mesa. Ele pode
facilmente imaginar que foi intencional. Interpreta isso como um
sinal secreto , mas seguro, que afirma o que palavras jamai s podem
dizer. "Ela acariciou meus pés! Acho que está apaixonada por mim."
Tais suposições podem nos levar a um mundo de ilusão. No final, o
choque é sempre doloroso.
Parece óbvio que quanto mais freqüentemente usarmos a comu-
nicação verbal exata, menos probabilidade haverá de mensagens
imaginárias e conseqüentes mal-entendidos. É quando mantemos nos-
sos verdadeiros pensamentos e sentimentos dissimulados — quando
somos insinceros, usamos máscaras e fingimos certos estados de
espírito —, que os outros têm de imaginar o que queremos dizer. O
resultado é sempre um mal-entendido, geralmente de desastrosas
conseqüências.
A clara comunicação verbal não apenas nos Poupa esse sofri-
mento desnecessário por causa de mal-entendidos. De modo mais
 positivo, resulta em profundos e duradouros relacionamentos. E os
relacionamentos são a fonte de nosso crescimento como pessoas.
Paul Tournier, médico e escritor suíço, sabiamente sugeriu o que
muitos de nós acreditamos. Para uma pessoa alcançar pleno poten-
cial, é necessário haver pelo menos outra pessoa com quem seja
totalmente franca e, ao mesmo tempo, se sinta totalmente segura.
Somos seres sociais. Estamos nisso juntos. Para ser tudo o que
 podemos ser, são necessários profundos e permanentes
relacionamentos. E, para conseguir esses relacionamentos, a
comunicação efetiva é absolutamente essencial.
 já se disse que uma obra de arte é acima de tudo um trabalho .
Os relacionamentos trabalham para os que trabalham neles. Sem
dúvida, o principal trabalho de um relacionamento verdadeiro é a
 
comunicação. A comunicação gradualmente ocasiona
relacionamentos profundos e claramente definidos, mas só se
continuarmos a trabalhar para isso. Como muitas outras realizações
humanas, a comunicação é uma questão de prática contínua. Todas as
fórmulas verbais são inúteis, a menos que com a prática a arte da
comunicação se torne parte de nós. Não existe fórmula para o sucesso
que funcione se não trabalharmos para isso.
A maioria de nós aprendeu a falar durante os dois primeiros anos
de vida e, segundo os neonatologistas, começamos a ouvir antes
mesmo do nascimento. Infelizmente , muita gente p ensa que, porque
aprendemos a falar e a ouvir, automaticamente aprendemos a nos
comunicar. É o mesmo que dizer que, porque posso tocar as teclas deum piano, automaticamente consigo tocar música. Não se consegue a
 boa comunicação automática ou facilmente. Pense em suas próprias
dificuldades para compreender e ser compreendido. Está comprovado
que nunca se alcança realmente uma boa comunicação antes que duas
 pessoas se decidam a trabalhar para isso. Precisamos de estudo e
 prática para aprender a difícil arte da comunicação. Precisamos
aprender a reconhecer e evitar as ciladas. (E, se você concorda com
isso, achamos que este livro l he servirá!)
 Nestas páginas, gostaríamos de comentar e interpretar simplifi-
cadamente as atitudes e práticas que parecem estimular o partilhar 
humano. Algumas dessas atitudes e práticas poderão ter um imediato
reconhecimento e aceitação. Outras mostrar-se-ão mais desafiadoras.
Porém todas exigirão prática constante até se tornarem uma questão de
hábito.
Foi assim que aprendemos a tocar piano ou a andar de bicicleta.
O mesmo nos aconteceu com as regras da gramática. Tivemos de
 praticar essas regras até se tornarem um hábito. Entretanto, assim que
a prática constante transformou as regras em "uma parte de nós",
 pudemos conversar à vontade e com segurança. De alguma forma,
tenho certeza de que se praticarmos as regras básicas de boa comu-
nicação descritas neste livro, elas se tornarão uma questão de instinto
e de hábito. Então, seremos capazes de nos comunicar mais cor-
retamente e de nos relacionar com os outros mais à vontade e com
mais segurança. E isso é essencial, se quisermos conhecer a
felicidade de uma vida plena.
Freqüentemente ouvimos a queixa de que a psicologia se
 preocupa com os doentes, sempre investigando as srcens das doen-
ças mentais e emocionais. Mas recentemente tem havido uma nova
tendência para estudar as pessoas sadias e felizes e investigar as
 
fontes da felicidade e da saúde humanas. Minhas próprias experiên-
cias, observaçã o e pesquisa levam-me a crer que a comunicação é a
mais importante de todas as fontes de saúde e felicidade. A comu-
nicação é a base essencial de nossa felicidade.
Quando as pessoas começam efetivamente a se comunicar, inicia-
se uma mudança total que afeta essencialmente todas as áreas da vida.
Os sentidos parecem reviver. O colorido nunca antes observado é
 percebido de modo novo. A música nunca antes ouvida passa a ser um
acompanhamento da vida. A paz nunca antes sentida passa a morar no
coração humano. É claro que a única prova é experimental. Para saber 
se isso tudo é verdade, você tem de experimentar. Como diz o velho
ditado: "Experimente. Pode ser que goste".
A falta de comunicação em um relacionamento traz um sofrimento
muito real e doloroso. Freqüentemente,' as linhas de comunicação em
nossos relacionamentos humanos são malconstruídas e caem
rapidamente durante a crise de uma tempestade. O resultado é a solidão,
o flagelo do espirito humano. Todavia, quando essas linhas são
restabelecidas, é como uma segunda primavera de amor e alegria. A
saúde e a alegria do espírito começam a florescer nessa primavera de
comunicação.
Recentemente, uma senhora do sul de Illinois fez-me a
excitante revelação de que eu salvara sua vida. Como nunca a vira
antes, naturalmente tive de fazer-lhe algumas perguntas. Explicou-
me que, alguns anos depois de casada e de ter alguns filhos, sofrera
um colapso nervoso e fora hospitalizada. Depois de repouso e
medicamentos, obteve alta e passou aos cuidados de um psiquiatra.
Sendo mulher simples, prontamente admitiu que não entendia o que
o médico estava tentando lhe dizer. Por isso, continuou à beira de
outro colapso. Então, acrescentou:
‰‰ Um dia o médico deu-me seu livro, Why Am 1 Afraid to Telt 
You Who 1 Am? ("Por que receio dizer-lhe quem sou?"). Eu o li e
 percebi que podia ter meus sentimentos, que podia e devia partilhar 
meus sentimentos com os 'outros.
Continuou:
‰‰ Bem, de qualquer maneira, comecei a fazer isso. A princípio,
meu pobre marido não sabia o que acontecera. Eu recobrar a a vida,
não era mais uma estátua. Mas, mais importante, comecei a me
sentir melhor. Logo não precisei mais de médico, nem de remédios.
Isso aconteceu há vários anos e agora crio meus filhos alegremente e
sou voluntária no hospital da cidade. Pela primeira vez na vida,
sinto-me realmente viva.
 
Mais recentemente, um homem contou-me a história de sua vida.
Compartilhou o trauma do divórcio dos pais quando tinha sete anos.
Quando suas constantes preces para a reconciliação dos pais
quedaram aparentemente sem resposta, decidiu "ser um diabo".
Embora houvesse evidências de uma profunda bondade, nunca per-
dida, insistiu que passara a vida indo para o mau caminho e levando
outros consigo. Finalmen te se casou, mas depois de três filhos, enjoou
do casamento e da família e "quis dar o fora".
 — Disse a minha mulher que queria o divórcio, que estava farto.
Quaisquer perguntas sobre meus motivos deixavam-me indignado.
Tudo o que eu sabia era que sentia uma dor interior.
Então alguém sugeriu um fim-de-semana de comunicação,
 patrocinado pelo Movimento de Encontro de Casais. No escrever e
 partilhar daquele fim-de-semana, extravasei trinta anos de dor e res-
sentimentos reprimidos. Como último partil har, escrevi durante
uma hora e meia sem parar. Escrevi um pequeno tomo. Uma vez
que as comportas baixaram um pouquinho, não havia o que me
 pudesse segurar. Depois do fim-de-semana, senti-me como se trinta
anos de história pessoal dolorosa tivessem sido tirados dos meus
ombros. Senti-me livre e inteiro novamente. Foi realmente o
 primeiro dia de uma nova vida para mim.
Essas duas histórias sãoverdadeiras, mas são apenas duas entre
muitas dessas experiências. Os efeitos da comunicação são tão óbvios e
imediatos que passei a considerá-la como o início de toda mudança
verdadeira. É o alimento essencial da saúde humana e o único ingresso
 para uma vida nova feliz.
Há ainda outro benefício muito valioso quando se aprende e se
 pratica a arte da boa comunicação: a matur idade pessoal. Se
fielmente acreditarmos nas verdades e aceitarmos as atitudes que
fundamentam a comunicação franca e honesta, iniciaremos um con-
tato saudável com a realidade. Desistindo dos papéis que represen-
tamos e dos jogos que fazemos, logo estaremos lidando mais
eficientemente com nós mesmos como realmente somos e com os
outros como realmente são. Começaremos a ser autênticos e
verdadeiros, com nós mesmos e com os outros. O resultado óbvio de
tudo isso é a maturidade.
 Ninguém (inclusive eu) gosta de ser imaturo, mas de fato o
somos. Somos seres em desenvolvimento e ainda não atingimos tudo
o que podemos ser. Condição absoluta para nosso crescimento
humano é o contato com a realidade. A comunicação franca e honesta
é o único caminho que nos leva ao mundo real. Sua contrapartida é
 
contentar-se com uma vida que é apenas uma representação, um fingimento
sem sentido,
A questão da comunicação talvez seja a mais importante que
você ou eu tenhamos analisado. Os capítulos que se seguem des-
crevem as teorias, atitudes e práticas que ajudam a efetiva comuni-
cação humana. Mas este livro exige mais que uma simples leitura.
Como as regras de gramática ou as técnicas de datilografia, as regras
da boa comunicação também exigem prática. Somente quando se
tornarem instintivas e habituais começaremos a gozar de relaciona-
men tos pro fun dos e per man ent es. Ent ão, com eçar emo s a cres cer 
como nunca, po is , ur na vez que es teja mos nesse camin ho, a
felicidade não poderá estar muito longe.
 
PARTE 1
 
ïï
DEVEMOS NOS EMPENHAR NA COMUNICAÇÃO
O início de toda comunicação bem-sucedida é o desejo — 
desejo de se comunicar. Esse desejo não pode ser vago e
transferível. Tem de ser um firme estado de espírito, uma resolução
interior, uma promessa concreta feita a nós mesmos e àqueles com
quem estamos tentando nos relacionar.
Est ou dis pos to a tra bal har para ist o, a ded ica r-m e ao
máximo. Este comprom isso é incond icio nal: nenhum con-
trato bem-impresso, com "se" ou "mas" ou limites de p razo.
Trabalharei nisto quando for fácil e quando for difícil.
Tentarei revelar-lhe quem sou eu e ouvirei, para aprender,que m é você. Farei isso qua ndo estiv er dis pos to e até
quando não estiver. Prometo continuar ali com você, mes-
mo quando a criança que existe em mim prefira fingir, ficar 
amu ada ou mal tra tá- lo. Pro met o con tin uar ali , mes mo
quando estiver com vontade de desistir. Juntos nos esfor-
çaremos para partilhar, até que tenhamos construído fortes
linhas de comunicação. Somente então poderemos sentir a
realização pessoal que surge com a efetiva comunicação.
Tudo isso pode dar a impressão de que o compromisso da
comunicação exige uma vontade de ferro. A verdade é que não
existe essa coisa de vontade forte. O que é forte ou fraco em nós é
a motivação. Quando alguém está altamente motivado parece ter 
vontade forte e determinada. Mas o segredo da força de vontade é
a força da motivação. Diga a uma pessoa que deve deixar de
fumar, do contrário morrerá e, de repente, a vontade parece ficar 
impregnada de grande força. Na realidade, não é a vontade que
 
se fortaleceu. A vontade reage em proporção direta aos motivos
 propostos e compreendidos.
Se uma pessoa realmente quer viver, a ameaça de morte pode
ser uma poderosa motivação. Podemos fazer coisas incríveis se esti-
vermos suficientemente motivados. Quase sempre o motivo toma a
forma de fuga ao sofrimento ou antecipação da recompensa. Quando
a presença de sofrimento torna nossas vidas seriamente desconfor-
táveis, somos movidos a mudar. Ou quando as recompensas pela
realização parecem bastante grandes, somos motivados a pagar o
 preço e ganhar as recompensas.
É muito importante que você e eu nos perguntemos: querorealmente me comunicar? Quais serão os sofrimentos e as desvan-
tagens se não o fizer? Quais serão as recompensas se o fizer? Essas
 perguntas podem estar dentre as mais importantes que tenhamos feito
a nós mesmos.
A dificuldade de se propor motivação está em que diferentes
motivos interessam a diferentes pessoas. Algumas pessoas são muito
atraídas pela "fama", enquanto outras querem apenas ficar no anonimato.
Alguns de nós somos altamente motivados pela aparência pessoal.
Descansamos bastante e não comemos demais, porque queremos
"parecer bem". Outros pouco se importam com isso.
Entretanto, há algumas coisas que todos nós achamos muito
dolorosas, como, por exemplo, a solidão. A solidão é a prisão do
espírito humano. Quando estamos solitários, andamos para lá e para
cá, em pequenos mundos introvertidos. Cremos que ninguém nos
compreende e realmente não nos importamos muito em compreender os outros. Do outro lado da moeda, a maioria de nós já sentiu, mesmo
que de maneira efêmera, a alegria de partilhar. Talvez tenhamos
ficado com outra pessoa na praia, apreciando um magnífico pôr-de-
sol. Significou tanto poder virar para o outro e dizer: "Não é lindo?"
Ou talvez tenhamos partilhado uma alegria ou dor secreta com outra
 pessoa. Lembramo-nos da profunda consolação de nos sentir 
compreendidos. Foi tão bom saber que alguém se importava, que não
estávamos sozinhos.
Em outras palavras, há um sistema de recompensa e um sistema
de sanção embutidos na natureza humana. Temos uma necessidade
interior de conhecer e ser conhecidos e a satisfação dessa
necessidade nos traz uma sensação de realização humana. Quando
construímos muros de separação entre nós e os outros, pode ser que
nossa reação interior imediata seja de segurança, mas o resultado
inevitáve l é a angústia espiritual, uma difusa sensação de solidão.
 
Construímos nossas próprias prisões. Não nos importamos com ninguém
e ninguém se importa conosco. Estamos sozinhos.
Contudo, a experiência humana é altamente pessoal. Cada um
de nós experimenta a intimidade e a solidão de forma única e muito
 pessoal. Assim, cada um de nós deve, de algum modo, definir sua
motivação para se comunicar. Seria de grande auxilio neste ponto
fazer uma lista de nossos motivos: as necessidades, os desejos, os
impulsos, os sofrimentos e os p razeres. Lembre-se de que nossa
vontade é tão forte quanto nossa motivação. A probabilidade de
sucesso é tão grande quanto nossa co mpreensão das forças que nos
guiam para alcançar os objetivos desejados.
Entretanto, antes de fazer uma lista das forças motivadoras que
o levam à comunicação, seria de grande auxílio lembrar-se de outras
coisas nas quais esteve empenhado. Lembra-se da resolução de
 perder peso, de deixar de fumar, de conseguir um diploma de curso
superior ou um emprego fixo? Lembre-se das forças propulsoras (a
motivação) que animavam e fortaleciam sua resolução. Talvez isto
seja óbvio demais para ser mencionado, mas as melhores razões para
se fazer alguma coisa podem não ser os motivos mais poderosos para
você ou para mim. Por exemplo, as melhores razões para deixar de
fumar ou perder peso podem ser relacionadas com a saúde. Mas
alguns de nós podemos ser mais poderosamente motivado s pelo fato
de que fumar deixa cheiro em nossas roupas ou que a obesidade não
fica bem em uma roupa de banho.
Assim, depois desse preparo, aqui está a jogada: faça uma lista
das coisas que o estimulam à comunicação. Lembre-se de que asmelhores razões nem sempre são os melhores motivos. Lembre-se
também de que seus motivos determinam seu empenho. A menos
que estejamos realmente empenhados, haverá pouca comunicação
real. Haverá uma dolorosa solidão. Entretanto, se nos empenharmos
realmente, no final obteremos sucesso e encontraremos a plenitude
da vida.
Paul Tournier afirma que esse desejo interior, essa determinação,
está no centro detoda comunicação bem-sucedida. No livro To
Understand Each Other ("Para entender uns aos outros"), ele conta a
história de duas pessoas que queriam se comunicar, mas não falavam a
mesma língua. Por gestos, desenhos, sinais e outros meios criativos,
conseguiram completar uma troca bem-sucedida. Finalmente se
entenderam, mas só porque realmente queriam se comunicar.
Empenhar-se é claramente uma questão de prioridades. Todos
conhecemos a importância das prioridades, por experiência pessoal.
 
Se temos cinco coisas a fazer no mesmo dia, de alguma forma con-
seguimos realizar apenas aquelas às quais demos prioridade. Fazemos
aquilo que consideramos especialmente importante. Por isso é impor-
tante e sensato relacionar, ensaiar e refletir sobre nossos estímulos
 pessoais. Se realmente desejarmos uma boa comunicação, dar-lhe-emos
alta prioridade. E se lhe dermos alta prioridade, alcançaremos sucesso.
Uma vez que nos tenhamos empenhado, o principal obstáculo à
 perseverança é o fracasso. É experiência humana comum que o
fracasso obscurece e enfraquece uma decisão. Decidimos fazer re-
gime. É grande nossa determinação, nossa força de vontade é esti-
mulada por motivos óbvios e entusiasmo emocional. Aí
fracassamos. Comemos uma sobremesa de alto teor calórico. E, de
repente, nos encontramos comendo em demasia. A palpitante
sensação de empenho, a vibração dos estímulos, o entusiasmo
emocional, tudo parece um sonho vago e distante.
É importante lembrar que, para nós, o caminho do sucesso está
geralmente coberto de fracassos. Abraham Lincoln perdeu pelo me-
nos várias eleições antes de ser finalmente eleito president e.
Thomas Edison fez experiências durante dois anos com muitos
materiais, antes de descobrir um filamento que servisse para a
lâmpada elétrica. Quando Marconi sugeriu a poss ibil idade da
transmissão do som sem fio (o rádio), foi internado em um
hospício. Mas pessoas como Lincoln, Edison e Marconi estavam
fortemente motivadas. Por isso não desistiram. De alguma forma,
sabiam que o único fracasso real é aquele do qual não tiramos lição
alguma. Pareciam prosseguir na suposição de que não há fracassomaior do que o fracasso de não tentar e, por isso, continuaram a
tentar, mesmo em face de repetidos fracassos.
Existe uma definitiva "síndrome do fracasso" que pode se tornar 
o câncer da comunicação. Planejamos partilhar, conhecer e ser 
conhecidos. É claro, tendemos a fantasiar até certo ponto o processo
que dá srcem à intimidade entre dois seres que a procuram. Então,
acontece um mal-entendido. De repente, os colaboradores da magní-
fica obra de comunicação tornam-se adversários na arena de uma luta
 para ganhar ou perder. Em uma disputa para ver quem ganha, todos
 perdem. E, tristemente, uma vez começada a luta, surge uma imediata
sensação de frustração emocional. Se não for reprimida, essa
frustração rapidamente se transforma em raiva e agressão. Então
surge a projeção da culpa, mesmo que não seja declarada. "É sua
culpa. Foi você quem começou." Não existe mais a sensação con-
fortável de partilhar, somente uma agitada sensação de hostilidade.
 
O desânimo de tais reveses parece afastar muitos de nós do
empenho de nos comunicar. Racionalizamos que é impossível a comu-
nicação com esse parceiro ou que um profundo partilhar só acontece
em romances, não na vida real.
Lou Holtz, o treinador de futebol americano da Universidade de
Minnesota, insistiu publicamente em que a chave do sucesso em
qualquer empreendimento é empenhar-se. Confessa que nos
 primeiros anos de casamento estava procurando "dar o fora". Então
descobriu que o problema não estava em seu casamento, mas dentro
de si. Não estava profunda mente empenha do em fazer o casamento
dar certo. E o casamento só dá certo para os que se empenham. Mais
tarde, experim entou ser treinador de futebol profissio nal (os Jets de
 Nova Iorque). "Vamos ver como é", disse à família. Realmente viu
como era e esse homem honesto perceb eu tardiamente que isso não
era o que realmente queria, que não estava realmente interessado.
Assim, voltou a ser treinador na universidade. Holtz insiste que
aprendeu esta verdade: todo sucesso humano é resultado de um
grande empenho.
Parece que a primeira coisa que devemos examinar em nós
mesmos é nosso entendimento e desejo de uma boa comunicação.
Devemos nos perguntar honestamente sobre nossas prioridades. A
comunicação é importante para mim? Se eu fosse relacionar as dez
 prioridades mais importantes da minha vida atualmente, a comuni-
cação estaria incluída? Quero realmente conhecer e ser conhecido?
Existem falsos receios de que a comunicação termine tragicamente?
Se eu fosse me revelar honestamente a alguém, o que receio pudesseacontecer? Alguém disse, brincando, que nove entre dez problemas
humanos resultam da má comunicação. O décimo resulta da boa
comunicação. Se eu tivesse de descrever meu "medo catastrófico" da
 boa comunicação, qual seria a pior coisa que poderia acontecer? O
que considero o maior perigo na franqueza e honestidade t otais?
Um grande amigo meu foi piloto da Força Aérea Naval durante a
Segunda Guerra Mundial. Contou-me que estudos revelam que os
 pilotos mais bem-sucedidos eram reconhecidos antes mesmo de entra-
rem em um avião. Parece que os candidatos a piloto eram convidados
a responder um questionário. A pergunta (e resposta) mais importante
que infalivelmente predizia o sucesso (ou o fracasso) era esta:
 — Você deseja muito ser piloto da Força Aérea Naval?
Obviamente, o desejo e a determinação são as raízes de todo
sucesso humano.
 
Por isso, queremos que você pense bem na próxima pergunta:
deseja muito se comunicar? Se você realmente o deseja e quer tra-
 ba lh ar par a is so , o su ce sso não está muit o lo nge de você. E as
recompensas do sucesso são o crescimento pessoal, bons e efetivos
relacionamentos e, por fim, a vida feliz que todos procuramos.
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DEVEMOS NOS CONVENCER DE QUE SOMOS UM DOM A
SER FEITO E QUE, POR MEIO DE SUA AUTO-REVELAÇÃO, OS
OUTROS SÃO UMA DÁDIVA QUE NOS É OFERECIDA
Somerset Maugham escreveu em O fio da navalha:
Pois os homens e as mulheres não são somente eles mes-
mos. São a região onde nasceram, o apartamento da
cidade onde aprenderam a andar, as brincadeiras que brin-
caram na infância, as conversas fiadas que ouviram por 
acaso, os alimentos que comeram, as escolas que freqüen-
taram, os esportes que praticaram, os poemas que leram e
o Deus em que creram.
Às vezes podemos achar que não, mas cada um de nós é um
mistério único. O mistério que é você e o mistério que sou eu nunca
existiram antes. Jamais existirá alguém exatamente como você ou
como eu. A combinação de qualidades e talento que é você é uma
embalagem que nunca antes foi feita. É tão singular quanto suas
impressões digitais. E só você pode partilhar seu mistério e talento
comigo. Também é verdade que assim como cada floco de neve e
cada grão de areia na praia têm uma estrutura singular, assim também
sou diferente de todos os seres humanos de toda a história humana. O
tesouro de minha singularidade é meu para doar ou recusar.
O poeta e . e. cummings escreveu certa vez:
e agora você é e agora eu sou e somos um
mistério que nunca acontecerá de novo.
 
Se você preferir recusar-me seu dom, serei privado de partilhar 
do mistério e experiência singular que é você. Da mesma forma,
 posso negar-lhe a experiência indireta de como é ser eu. Exatamente
como ficaremos privados para sempre por causa dessa mútua recusa,
o oposto também é verdadeiro. Podemos ficar para sempre enrique-
cidos por uma franqueza e um partilhar mútuos. A participação
indireta na existência humana singular de outra pessoa é sempre
enriquececlora. Essa é a grande dádivada comunicação.
Quando me disser quem é você, quando partilhar sua singu-
laridade comigo, levar-me-á a um mundo diferente, a um tempo e
lugar diferentes, a uma família diferente. Você partilhará sua antiga
izinhança comigo e me contará as histórias que ouviu quando
criança. Levar-me-á a vales e a cumes de montanhas que nunca vi
antes. Você me conduzirá a arcas secretas de experiências que não
eram parte de minha vida. Apresentar-me-á as emoções, esperanças
e sonhos que nunca foram meus. E isso só poderá ampliar as dimen-
sões de minha mente e meu coração. Ficarei para sempre
enriquecido pelo nosso partilhar. Meu mundo de experiências ficará
 para sempre ampliado, por causa de sua bondade para comigo.
A maioria das pessoas não se sente assim. Comumente se supõe
que "se eu desabafar com você, vou afligi-lo". Alguns dizem a mesma
coisa sob outro aspecto: "As pessoas não desejam me ouvir. Já têm
 bastantes problemas". Existe verdade nisso?
A auto-revelação em si e por si nunca é um peso. É importante
 perceber que em mim e por mim mesmo sou um dom. Se eu lhe fizer 
esse dom como um ato de amor por meio de uma honesta auto-revelação, ela não será um peso. Será o dom incondicional da
comunicação. Dádivas nunca são um peso, a não ser que imponham
condições. Ao partilhar, não lhe pedirei nada, apenas que escute com
empatia. Minha auto-revelação não lhe fará outras exigências,
apenas que acolha meu partilhar com delicadeza e agrado. Ao lhe
fazer o dom de mim, estou, na verdade, dando-me a você. É minha
dádiva mais preciosa, talvez minha única dádiva verdadeira.
Há algum tempo, deram-me um escrito anônimo denominado
"As pessoas são dádivas". Gostaria de desenvolve r algumas partes
dele aqui.
As pessoas são dádivas de Deus para mim. Já vêm em-
 brulhadas, algumas lindamente e outras de modo menos
atraente. Algumas foram danificadas no correio; outras
chegam por "entrega especial". Algumas estão desamar-
radas, outras hermeticamente fechadas.
 
Mas o invólucro não é a dádiva e essa é uma importante
descoberta. Ë tão fácil cometer um erro a esse respeito, julgar 
.o conteúdo pela aparência.
Às vezes a dádiva é aberta com facilidade; às vezes é
 preciso a ajuda de ou tro s. Talvez porque tenham med o.
Talvez já tenham sido magoados antes e não queiram ser 
magoados de novo. Pode ser que já tenham sido abertos e
depo is jogados fora. Pode ser que agora se sintam mais
como "coisas" do que "pessoas humanas".
Sou uma pessoa; como todas as outras, também sou uma
dádiva. Deus encheu-me de uma bondade que é só minha. E
contudo, às vezes, tenho medo de olhar dentro de meu
invólucro. Talvez eu tenha medo de me desapontar. Talvez eu
não confie em meu próprio conteúdo. Ou pode ser que eununca tenha realmente aceitado a dádiva que sou.
Todo encontro e partilhar de pessoas é uma troc a de
dádivas. Minha dádiva sou eu; a sua é você. Somos dádivas
um para o outro.
Alguns meses atrás, um homem de aparência triste procurou-me
durante um encontro. Disse-me que já lera muitos dos meus livros, mas
admitiu continua r com uma dúvida.
‰‰ Por que deveria contar-lhe quem sou? De que adiantaria isso?
Apelei para o privilégio supostamente irlandês de responder a uma
 pergunta fazendo outra:
 — Você acha que eu ficaria enriquecido se você partilhasse sua
história comigo?
‰‰ Oh! — sacudiu a cabeça com tristeza. Nem imagino isso.
‰‰ Ah! — respondi, numa tentativa desajeitada de aplicar terapia de
choque — aí é que você se engana.
Às vezes receio que a maioria de nós somos como esse caro
senhor. Achamos que precisamos ter uma história estrelada como
uma noite junina para contar. Imaginamos que uma dádiva real
deveria ter o perfume das rosas e um bordado de ouro nas pontas. A
verdade é que toda históri a humana, se partil hada com outra pessoa
como um ato de amor, alarga a mente e aquece o coração dessa
 pessoa .
Lembro-me de várias ocasiões em que pessoas de quem eu não
gostava (mas que procurava amar) abriram-se comigo e me deixaram
 boquiaberto. Um senhor , com aparência de durão e modos empeder-
nidos, confiou-me que tudo que tentara terminara em fracasso.
 
Contou-me tintim por tintim um fracasso arrasador depois de outro.
Terminou admitindo:
 — Tenho sido um tolo, não acha? Passei a atacar os outros, para
que não prestassem atenção à minha história de fracassos. Acho que
imaginei que a melhor defesa era uma boa ofensa.
Aprendi muito sobre o coração humano e o significado de um
espírito humano desalentado com ele. Sei que me tornei mais to le-
rante, menos ansioso para julgar ou rotular os outros, porque esse
 bom homem uma vez par tilhou seu dom "incerto" comigo.
As pessoas realmente são dádivas, não são?
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DEVEMOS DECIDIR-NOS A SER HONESTOS COM
 NOS MESMOS
O falecido Dag Hammarskjold, que foi secretário geral da
Organização das Nações Unidas, sugeriu que nos tornamos peritos
em explorar o espaço sideral, mas não desenvolvemos habilidades
semelhantes para explorar nossos próprios espaços interiores
 pessoais. De fato, escreveu: "A mais longa viagem de alguém é a
viagem para dentro de si". E em "Hanilet", Ato I, Cena 3, o idoso
Polônio dá este conselho a seu filho Laerte:
 Isto acima de tudo: sej as verdadeiro contigomesmo; e deverá suceder, como a noite ao dia, que
não poderás então ser falso com ninguém.
A princípio parece supérfluo o conselho para ser honesto comigo
mesmo. Pergunto: como posso mentir para mim mesmo? E, contudo,
os gurus da comunicação insistem em que o primeiro obstáculo à
comunicação com um outro não é um obstáculo entre mim e essa outra
 pessoa. O primeiro obstáculo encontra-se dentro de mim mesmo. É
óbvio que, se não conto a verdade a mim mesmo, não posso contá-la a
você. Não posso contar-lhe o que não conto nem a mim mesmo. Se eu
não estiver em contato com os sentimentos e atitudes que estão dentro
de mim, ser-me-á impossível partilhá-los com você. Se eu estiver 
enganando a mim mesmo, certamente o enganarei.
Logo no início de sua carreira como psiquiatra, Siginund Freud
descobriu que cada um de nós tem em realidade três planos na mente:
 
(1) o consciente (que inclui as percepções das quais estamos cônscios
de momento a momento); (2) o pré-consciente ou subconsciente (que
é o centro de armazenagem de materiais que podem ser lembrados
quando necessários); e (3) o inconsciente (o armazém para as memó-
rias, os impulsos e as emoções com as quais não podemos viver 
comodamente). Freud achava que os planos do consciente e do pré-
consciente eram relativamente sem importância, porque o incons-
ciente exerce muito mais influência em nossas vidas. Um psiquiatra
meu amigo uma vez especulou que 90% de nossa motivação é tirada
do plano inconsciente.
Como se observou, a mente consciente obviamente contém
somente nossas percepções atuais. O plano subconsciente da mente éo centro de armazenagem de materiais que podemos trazer ao
consciente quando necessários. Por exemplo, a maioria de nós pode
se lembrar das tabuadas de multiplicação se e quando necessário.
Mas o inconsciente é o armazém daquelas memórias, emoções e
motivos com os quais "simplesmente não podemos viver". O incons-
ciente é chamado de porão da mente, onde as coisas ofensivas ou
desagradáveis são guardadas. Estão enterradas bem no fundo de nós.
Infelizmente, estão enterradas vivas, não mortas. E, por isso, con-
tinuam a nos influenciar. O processo de sepultamento é chamado de
repressão. A repressão não é um processo consciente ou deliberado.
Enterramos nossos pertences indesejáveis sem nem ao menos
 perceber isso e sem lembrá-los.
 Não sei o porquê
 De não gostar de você.
 Mas sei muito bem que Não gosto de você.
A repressão em nosso inconsciente sempre tende a nos fazer 
 perder o equilíbrio. Desenvolvemos preconceitose intolerâncias. O
complexo de inferioridade é um desses preconceitos. É possível
que esse preconceito autodir igido tenha surgido na primeira
infância com a negligência dos pais, mas que o consciente não
esteja a par disso. Entreta nto, nossa forma de ver as coisa s, nossa
escolha de palavras, nossos "lapsos freudianos" e mesmo nossos
infortúnios podem todos ser resultado de coisas que não estamos
contando a nós mesmos.
Exemplo: um filho mais velho pode passar a vida ressentindo-se de
um irmão ou irmã mais novo porque "você tirou mamãe de mim. Antes
de você chegar eu tinha todo o carinho e atenção". Semelhante
ressentimento pode permanecer no inconsciente a vida toda, dando
 
motivo para mesquinhez vingativa e rancor que transbordarão em
momentos inusitados e por razões igualmente inusitadas. Nesse caso,
o filho mais velho nunca terá consciência da srcem de sua aversão,
enquanto ela permanecer enterrada no inconsciente. À medida que
nos reprimimos, perdemos contato com nós mesmos.
Fel izm ente , as rea lid ade s que rep rim imos no inc ons cien te
estão sempre tentando vir à tona para serem reconhecidas. São
como madeira mantida debaixo d'água. Entre tanto, se acolhe mos o
autoco nhecim ento, elas virão gradual mente à tona. O import ante é
querer conhecer o que está em nós. Devemos cultivar o desejo de
ser honestos com nós mesmos.
A honestidade consigo mesmo é um hábito de autoconsciência
que deve ser pratica do diari ament e. E esta autocon sciê ncia é mais
um processo do q ue um simples fato. Devemos habitualmente tentar 
tornar-nos cônscios da forma altamente pessoal e individual em que
funcionamos para processar nossas sensações, percepções, emoções
e motivos. Devemos examinar com mais cuidado a forma como
chegamos a nossas decisões e por fim a nossas ações. Este é o pro-
cesso geral:
(1) Ant es de tud o, nosso s sen tidos rec ebe m mi lhões de
 peda cinhos de da do s (a s co isas que ve mos, ou vi mos, tocamos ,
 pr ovamos e ch eira mos) . Pa rte da autoco nsciência é to rnar -se mais
conscientemente a par dessas sensações.
(2) Então organizamos essas sensações em percepções mentais
ou idéias. Devemos tentar entender melhor nossa forma pessoal de
fazer isso.
(3) D e nos sas per cep ções resultam nos sas emoçõ es. Nosso
modo de pensar geralm ente controla o modo como nos sentimos. Em
conseqü ênc ia, essas emoç ões ou sent iment os, noss as aleg rias e
trist ezas podem nos dizer muit o sobre nosso modo de pensar e sobre
nós, se estivermos dispost os a aprender. Ê óbvio que os sentiment os
em si não são nem bons nem maus, mas são sintomáticos. Dizem-nos
muit a coisa sobre nossa forma de organiza r e interpre tar os dados de
nossos sentidos em percepções.
(4) Então vem a questão de nossos motivos. Ê um truísmo
 ps icológico que fazemo s tudo po r uma razão , mas freq üe ntemen te
essa razão está escondida de nós. Procurar e r econhecer esses mo-
tivos é parte essencial da autoconsciência.
(5) Qual o processo pelo qual chegamos a nossas decisões
interiores? Cada um de nós faz isso de forma diferente. Alguns são
 
mais controlados pelos sentimentos; outros pelas percepções e motivos
intelectuais. Alguns são mais influenciados pelo planejamento; outros
 pelas experiências pessoais anteriores.
(6) E finalmente, como preferimos expressar em ações essas
decisões interiores? Por exemplo, pode ser que eu decida interiormente
continuar a nutrir rancor por você. Então opto por expressar essa
decisão interior recusando-me a falar com você. Por que optei por 
representar meu rancor mostrando-me amuado?
A fim de ser honestos com nós mesmos, devemos continuamente
 buscar uma percepção mais profunda da forma individual pela qual
 procedemos nessas seis etapas. Somente assim obteremos uma per-cepção cada vez maior de nossos processos pessoais e um controle
mais consciente sobre nossas ações e reações. Devemos, é claro, du-
rante todo esse processo, nos responsabilizar por nossas próprias
decisões e comportamento. Sabemos que são o resultado de alguma
coisa dentro de nós. Ao mesmo tempo, devemos prestar atenção e
 procurar descobrir o que é essa alguma coisa. Devemos tentar apren-
der quem somos realmente, em vez de tentar dizer a nós mesmos
quem deveríamos ser.
Um bom começo poderia ser desenvolver uma intensa percepção
de meu "ato" ou "papel" escolhido. Por que decido usar esta minha
"máscara"? Porque cada um de nós escolhe o ato, o papel, a máscara
que escolhemos pode continuar para sempre um mistério. Entretanto,
deveríamos tentar localizar as raízes desta escolha. E embora esse ato
ou papel possa ter diversas variações e diferir durante vários períodos
da vida, há sempre um "fim" de alguma espécie. Meu ato ou papel
ajuda-me a enfrentar a realidade e obter seja o que for que busco.
Meu ato leva-me pela vida com um mínimo de dificuldade ou
vulnerabilidade pessoal.
Certa vez fiz uma lista jocosa de alguns dos atos ou papéis
mais comuns. Acho que os nomes dispensam explic ação. Esta é a
minha lista (aposto que você é capaz de acrescentar alguns):
Agda Hortelã Agradável
Alcino Auxiliar 
Bonifácio Bom Sujeito
Caio Capacho
Cândida Capaz
Cristiano Crânio
Élcio Incrível
Expedito Esperto
 
Filomena Figurino
Francelina Fraca
Francisco Frágil
Jacó Jocoso
Mário "Amigo de todo mundo" Mascote
Max Macho
Murilo Músculos
Patrícia Pateta
Porcina Porco-espinho
Plácida Pacífica
Salomé Sedutora
Sônia Sorrisos
Tânia Tímida
Tarsila Tagarela
Mesmo se você não se encontrou nessa lista, penso que podemos
com razão presumir que você e eu representamos também. Qualquer 
que seja essa representação, geralmente ela se torna um obstáculo à
auto-honestidade e à boa comunicação. Como meu papel é ensaiado
todos os dias, gradualmente perco o contato com quem sou realmente.
 Não percebo com facilidade onde termina minha representação e
começa meu verdadeiro eu.
 No que diz respeito à comunicação, faço a revisão de minha
auto-revelação e reconheço apenas os pensamentos-sentimentos-
motivos que são compatíveis com minha representação. Por exemplo,
alguns de nós, como Francelina Fraca, escolhemos a fraqueza como
representação, a fim de que os outro -s — nos sustentem pela vida.
Patrícia Pateta nunca será sincera sobre sua força pessoal e sua
capacidade de tomar decisões e de assumir tarefas difíceis. Francisco
Frágil não vai comunicar nada sobre o cerne de agressividade que de
fato possui. Não quer ser provocado. Não revela sua força para que
nunca precise usá-la. Depois de algum tempo, até Francisco perderá o
contato com suas forças "ocultas".
* * *
Meu próprio ato (John) era ser um ajudante. Geralmente eu
tentava tornar isso claro desde o início em todo relacionamento. "Eu
sou o ajudante, você o ajudado." Eu também me desdobrava em
facilitar: fazendo coisas pelos outros, tomando decisões por eles,
 possibilitando que permanecessem fracos. Eu não desafiava os que
vinham a mim para que desenvolvessem seus próprios músculos,
tomassem suas próprias decisões, agissem contra seus medos incapa-
 
citan tes. Eu falav a por eles, agia como substit uto deles, dizia o que
faria se est ivess e no lugar de les. É claro, o pag amento de um
"ajudante" é o consolo da gratidão expressa por toda a clientela
dependente. Ele realmente se sente bem sendo um ajudante. De fato,
o ajudante ajuda e favorece a dependência infantil, mas não tem de
enfrentar isso porque tanta gente está pronta a tecer-lhe elogios e
agradecer-lhe por seus esforços.
Quando se trata de comunicação, o "ajudante" é como todo
mundo que tem um "ato " em cena. Ele faz a revisão de sua comu -
nicação, nunca admitindo sua própria necessidade de ajuda. Ele se
 pa ssa po r algué m que "t em tu do sob co nt ro le", po rqu e, de outra
forma, alguém poderia tentar ajudá-lo e isso acabaria com seu dis-
farce. Algum dia gostaria de es crever um livro intitulado Confissões
de um antigo ajudante. Tal estado de espírito tem seus aspectos
exa ust ivos . Aqu ele s den tre nós que ten taram ban car o Mes sias
sabem que é difícil ter respostas para todasas perguntas, soluções
 pa ra to dos os pr obl emas . Vi si ta s do micil ia re s e no tu rnas to rnam-se
rot ina . Ent ret ant o, desi st ir do pap el ser ia quas e com o per der a
identidade. A "clientela dependente" também insiste firmemente em
que o Mess ias continue no monte Olimpo. Têm a sens ação de que
"Deus está ao meu lado", quando podem buscar conselhos e receber 
orientação do autodesignado guru, o ajudante.
Cara cter izado ness e ângu lo, eu nunc a podia admitir que estav a
com medo ou que meus sentimentos estavam feridos. Nunca podia
confessar que estava tão intrigado com a situação quanto o consulente.
Sentiment os de fraqueza, insuficiência e falibilidade humana pareciam
muito ameaçadores. Eu não podia dizer "não" a nenhum pedido de
ajuda. Era "conserve o papel a q ualquer custo".
A tragédia é que ninguém jamais chegava a conhecer meu
verdadeiro eu, nem mesmo eu próprio. Eu não podia ter um rela-
cionamento verdadeiro porque relacionamentos verdadeiros exigem
igualdade. O ajudante não pode permitir isso. Arruinari a tudo.
E eu (Loretta) escolhi o papel de possibilitadora. Assumia a
responsabilidade pessoal por todas as situações. Era eu, responsável,
digna de confiança, quem sempre fazia as coisas darem resultado,
quem se erguia acima da emotividade e do caos. Eu assumia a tarefa
de restaurar a ordem, a certeza e a paz a todas as situações em que
estas tivessem si do perdidas. E quando todos os meus esforços ainda
assim não produziam uma solução positiva, eu assumia a responsa-
 bi lida de por isso ta mbém, pe nsando : "Devo te r co meti do um erro ou,
talvez, não me tenha esforçado o bastante".
 
Como possibilitadora, eu tinha de ter bastante resignação. Não
havia limites para os fardos que estava disposta a carregar. Tornei-me
o maior e mais forte cesto do mundo, para poder pegar e carregar 
todos os problemas imagináveis. Eu achava que tinha uma resistência
ilimitada. É claro que quanto mais problemas eu assumia, mais a vida
se tornava um peso. Mas, acreditem se quiserem, era isso que me dei-
xava satisfeita comigo mesma. Eu estava "colhendo o que plantara".
Enquanto eu insistia em ser a possibilitadora, todo mundo de
fato se transformava em perdedor. Os outros perdiam a
oportunidade de carregar seus próprios fardos, desenvolver suas
 próprias forças, tornar-se responsáveis por si mesmos e suas vidas.É óbvio que eu também era uma perdedora. Tinha de aceitar a
aparente recompensa de ser considerada uma "pessoa muito
responsável". Manter essa posição me deixava tão preocupada que
era impossível cuidar de mim mesma adequadamente. Meu processo
de crescimento pessoal ficou "suspenso" para que eu pudesse
continuar a ser reconhecida a curto prazo como possibilitadora. Não
 podia cuidar de mim mesma, não podia dar atenção a minhas
 próprias necessidades e sentimentos. Tinha até de negar meus
verdadeiros sentimentos. Como resultado, fui lentamente perdendo
o contato comigo mesma. Não existia mais um verdadeiro eu para
ser ofertado aos outros como dom. Havia apenas o papel que eu
representava. O verdadeiro eu perdeu-se em alguma parte do papel.
Somente agora estou começando a reencontrá-lo.
* * *
Ser honesto consigo mesmo exige que se desista desses nossos
atos e papéis. Mas, antes da renúncia, deve haver o reconhecimento.
Qual é meu ato? Já se disse que todos nós levamos um letreiro a
nossa frente. Nós mesmos o construímos, ele nos anuncia. Somos
tratados de acordo. Se o letreiro diz "Pateta", os outros não nos
 procuram para uma conversa séria. Se nosso letreiro diz "Capacho",
os outros tenderão a passar por cima de nós.
O curioso é que os outros conseguem ler nossos letreiros muito
claramente, embora muitas vezes nossa autopropaganda nos passe
despercebida. Essa, creio, é a razão de um dos receios mais comuns
que temos da intimidade. Se eu o deixar chegar perto de mim, você
verá através do meu ato, lerá meu próprio letreiro para mim. Exporá
minha charada, o que poderia fazer com que eu me sentisse com-
 pletamente nu.
 
Assi m, mais uma vez minha pergunta se volta para mim: creio
realmente que dev o ser hon est o com igo mesmo, a fim de ser 
autêntico com você? Quero realmente ser honesto comigo mesmo?
Que ro real men te ser hon est o com você ? Que ro par til har min ha
verdadeira dádiva com você ou quero agir com cautela e mostrar-lhe
apenas minha charada? Meu ato é o preço que pago por minha
segurança e meus golpes. É a armadura que evita que eu seja ferido,
mas é também uma barreira dentro de mim, que interrompe meu
crescimento. Da mesma forma, é também um muro entre nós que o
impedirá de conhecer meu verdadeiro eu. Para desistir de meu ato
 pr ecisarei de muita coragem. Es tare i corr endo um ri sco real , saindo
de trás de meu muro. Terei de reescr ever meu letreiro : "Este é meu
verdadeiro eu. O que você vê é o que você recebe". Seja paciente
comigo . Isso não será fáci l. Acho que o velho Polôni o sabia disso,
quando aconselhou Laerte: "Sejas verdadeiro contigo mesmo".
Entretanto, se eu estiver disposto a correr esse risco, minha
coragem colherá magníficas recompen sas: a estátua ganhará vida; a
Bel a Ador meci da acor dará . Fic arei conh ecend o quem real mente
sou. Talvez pela primeira vez perceba onde termina o papel e
começa o verdadeiro eu. O verdadeiro eu sairá de trás da máscara,
da tapeaçã o, do fin gimen to. Com eça rei a pro spera r em meu s
rel aci oname ntos e a cres cer como meu melhor possív el eu. Os
gregos antigos sabiam tudo isso quando consideraram o "conhece-te
a ti mesmo" como o resumo de toda a sabedoria.
A viagem mais longa é a viagem para dentro de si. Boa viagem!
Ü»ª»³±- ¬»²¬¿® ¿°®»²¼»® ¯«»³ ®»¿´³»²¬» -±³±-Ü»ª»³±- ¬»²¬¿® ¿°®»²¼»® ¯«»³ ®»¿´³»²¬» -±³±-
» ²=± ¼·¦»® ¯«»³ » ²=± ¼·¦»® ¯«»³ ¼»ª»®3¿³±- -»®ò¼»ª»®3¿³±- -»®ò
 
PARTE 2
 
AOAO NONOSS REVREVELELARAR AOAOSS OUOUTRTROSOS,, DEVDEVEMEMOSOS ASASSUSUMIR MIR 
TOTOTALTAL RESRESPOPONSANSABILBILIDAIDADEDE PORPOR NOSNOSSASASS PRÓPRÓPRIPRIASAS AÇÕAÇÕESES
EE REAREAÇÕEÇÕES.S. EMEM CONCONSEQSEQUÊNUÊNCIACIA,, FARFAREMOEMOSS AFAFIRMAIRMAÇÕEÇÕESS
COCOMM OO PRPRONONOMOMEE "E"EU"U",, NÃNÃOO "V"VOCOCÊ"Ê"
A maioria de nós crescemos sendo "acusadores". Acusávamos os
outros de nos deixar zangados. Racionalizávamos muitas de nossas
reações, dizendo aos outros: "Você mereceu isso". Ou insistíamos
que haviam provocado nossa reação: "Não pude evitar". "Eu estaria
 bem, se ela não tivesse começado." Para a maioria de nós é difícilolhar para trás e reconhecer que nossas ações e reações não eram
causadas pelos outros, mas sim por algo dentro de nós. Contudo, a
verdade é sempre essa. Se eu conseguir apenas atravessar a linha que
separa os "acusadores " dos que aceitam a plena responsabi lidade por 
seu comportamento, essa será, provavelmente, a coisa mais ama-
durecida que já terei feito. No mínimo, isso me porá em contato
honesto com a realidade e essa é a única maneira de crescer e se
tornar um ser humano amadurecido.
Para ilustrar essa verdade da responsabilidade pessoal, freqüen-
temente sugiro uma situação hipotética em minhas aulas:
 — Se alguém desta classe saísse de repente da sala, batendo
os pés, zangado e afirmando que nunca mais voltaria, nunca mais
me escutaria, como vocês acham que eu reagiria? O que acham
que eu faria? Como me sentiria?
 
Geralmente surge uma variedade de respostas:
‰‰ Você ficaria zangado. Anotaria o nome e o número dessa
 pessoa e ameaçaria uma represália. Diria: "Você não vai escapar 
impune".
Com freqüência outra pessoa sugere:
‰‰ Não, acho que você se sentiria magoado. Faria uma cara de
ofendido e perguntaria com ar de tristeza: "Como pôde fazer isso
comigo? Eu estava fazendo o melhor que podia".
Outro aluno freqüentemente retruca:
‰‰ Imagino que você reagiria sentindo-se culpado. Pensaria no que
teria feito para provocar reação tão hostil. Provavelmente perguntaria aos
outros alunos: "O que foi que eu fiz?" Ou correria atrás da pessoa e
 pediria desculpas. Pedir-lhe-ia que voltasse, que lhe desse outra
oportunidade.Sempre fico aliviado quando outro aluno insiste que eu sentiria
compaixão.
— Você sentiria dó dessa pessoa e provavelmente pensaria: "Ê uma
 pena que esteja tão agitado. Provavelmente ainda não está pronto para
isto".
E assim por diante. Há um número quase infinito de reações
 possíveis: "Rejeição ... depressão... ansiedade.. . compaixão ... medo .. .
sentir-se um fracasso" etc.
Sempre me alegra receber uma tão grande variedade de respostas, porque isso me permite mencionar que qualquer uma das reações
sugeridas é possível. Porém, observe que a reação não será deter-
minada pela pessoa que abandonou a sala, mas sim por alguma coisa
dentro de mim. Também sei que outra pessoa em meu lugar pro-
vavelmente teria uma reação diferente. De fato, minhas reações
emocionais e de comportamento serão determinadas por minhas pró-
 prias atitudes ou perspectiva pessoal. Se eu me considerar boa pessoa
e considerar importante a matéria que estou lecionando, provavelmen-
te reagirei com compaixão. Se me considerar um imbecil que sempre
mete os pés pelas mãos, provavelmente reagirei pedindo desculpas. Se
minhas atitudes e perspectiva forem paranóicas, terei certeza de que
"esse jovem está querendo me provocar".
Com muita freqüência, é difícil descobrir sob uma reação as
atitudes e perspectivas que a explicam . Entreta nto, esse é um outro
 problema, que não é diretamente pertinente à questão da respon-
 
sabilidade pessoal. O que é pertinente é a admissão íntima de que,
seja qual for a minha reação, ela não é causada pelo agente estim u-
lador, mas sim por alguma coisa dentro de mim. Talvez já tenham
ouvido falar do cartaz que Eleanor Roosevelt tinha na parede de seu
escritório: "Ninguém pode fazê-lo sentir-se inferior, a menos que
você lhe dê permissão". De fato, ninguém pode fazer-nos sentir ou
agir de determinada maneira. Alguma coisa dentro de nó s sempre
 pe rmanece responsável por nossas reações emocio nais e de compo r-
tamento. Out ras pes soas, circu nst âncias ou situações podem
estimular uma reação, mas nós determinamos qual será essa reação.
O contrário do reconhecimento das próprias reações é a acusação
ou, para usar a palavra mais técnica, a projeção. A projeção é um
meca nismo de defesa comum e muit o usado . Quando projet o, cul po
alguém ou alguma coisa por meus fracassos ou reações indesejáveis.
 Não assu mo a responsabi lid ade pessoal po r minhas reações, mas
atribuo essa respons abil idade a outra pessoa. Obv iamente a
comunicação torna-se apenas um jogo se não for honesta, e a projeção
simplesment e não é honesta.
Como dissemos, outra pessoa ou circunstância podem estimular 
uma reação em mim. Mas a maneira específica pela qual reajo é
dete rmi nada por min has pró pri as ati tude s e pers pec tiv a pess oal .
Estas, por sua vez, foram moldadas pelas mensagens gravadas em
minha mente e pelas experiências de minha vida. Atitudes são tão
 pessoa is quanto impr essões digi ta is. Conseqüentemente, não exis tem
duas pessoas que vejam as coisas exatamente da mesma maneira e,
assim, não existem duas pessoas que reajam da mesma maneira. Pode
ser que você ache engraçada uma coisa que eu leve a sério. Pode ser 
que você tenha uma reação compassiva a uma pessoa com quem eu
me zangue. Suponhamos que a mesmíssima coisa aconteça a nós
dois. É bem possível que você se sinta estimulado pelo desafio,
enquanto eu me sinta arrasado pela catástrofe.
Um acusador que projeta a responsabilidade por suas reações
nunca cresce realmente. A vida de tal pessoa é um perpétuo exercício
de projeção e racionalização. É uma vida de fingimento onde nunca
entra a realidade. Os acusadores insistem que outra pessoa os está
controlando. Assim, nunca chegam realmente a conhecer a realidade
interior de si mesmos. "Não é dos astros, caro Brutus, a culpa, mas de
nós mesmos, se nos rebaixamos ao papel de instrumentos" (Júlio
César, Ato 1, cena 2).
Se realmente nos compenetrarmos da verdade, tudo isso ficará
imediatamente aparente em nossa comunicação. Faremos afirmações
 
com o pronome "eu", não "você". Isso terá muito mais valor do que uma
simples escolha de palavras.
Suponhamos que eu reaja com raiva a alguma coisa que você
fez ou disse. Nesse caso posso falar-lhe sobre minha raiva de um
destes modos:
(1) "Você me deixou com raiva!" (Essa é uma afirmação com o
 pronome "você".)
(2) Ou posso dizer: "Quando você contou o que fez, fiquei com
raiva". (Essa é uma afirmação com o pronome "eu").
A primeira expressão, afirma ção com o pronom e "você", negadiretamente a verdade de tudo que dissemos sobre responsabilidade
 pessoal por nossas próprias reações. Porém, mais do que isso, pas-
sa-lhe uma rasteira de culpa. É uma tentativa maldisfarçada de ma-
nipulação . Eu o estou empur rando para a posição de "sujeito mau".
Certo? Tal observaçã o, se você for do t ipo combativo, o convidará
a uma discussão acalora da para vencer ou perder. Certamente pro-
vocará mais calor do que luz.
Entretanto, se faço uma afirmação com o pronome "eu" "Fiquei
com raiva" —, assumo a responsabilidade pela minha reação.
Reconheço que outra pessoa em minha situação podia perfeitamente
ter uma reação diferente. Pode ser que eu não entenda com facilidade
ou presteza todas as atitudes e a perspectiva de que moldaram minha
reação. Mas sei que minha reação foi o resultado de alguma coisa
dentro de mim. Quando faço uma declaração com o pronome "eu",
admito isso a mim mesmo e a você.
De fato, observo que fico com raiva de algumas pessoas, en-
quanto outros sentem pena delas. Fico transtornado por algumas
circunstâncias, enquanto outros enfrentam-nas sem esforço. Considero
algumas situações "absolutamente horríveis", mas percebo que outros
consideram essas mesmas situações como "uma oportunidade para ser 
criativo".
O importante efeito pessoal de tudo isso é que, se eu de fato
reconhecer minhas próprias reações e aceitar a responsabilidade por 
elas, descobrirei meu verdadeiro eu. Aos poucos perceberei que tenho
algumas atitudes deformadas e inibidoras que devem ser revistas. E
essa espécie de honestidade mostrar-se-á uma irresistível iniciação à
maturidade. Direi coisas como:
 — Ajo como criança quando as coisas não acontecem como quero.
 
Terei de ser honesto e lhe dizer:
 — Quando você bocejou enquanto conversávamos, interpretei isso
como desinteresse e me senti triste e com pena de mim mesmo.
Se eu continuar com essa franqueza e honestidade de afirmações
com o pronome "eu", crescerei e estarei realmente me comunicando.
Pode ser que agora mesmo eu e você estejamos presos em uma
areia movediça de projeção e acusação. Pode ser que nunca tenhamos
realmente conhecido a nós mesmos porque sempre procuramos uma
compreensão de nossas pessoas e nossas reações fora de nós mesmos. Se
 pudermos mudar esse modo de pensar, os resultados serão muito
compensadores:
п--¿®»³±- ¿ ²±- ½±²¸»½»® ½±³± ®»¿´³»²¬»Ð¿--¿®»³±- ¿ ²±- ½±²¸»½»® ½±³± ®»¿´³»²¬»
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DD EEVV EEMM OO S S FFAA LL AA R R AAPPEE NN AA S S PPOO R R NN ÓÓS S MMEE
COMUNICAR, DEVO TORNAR CLARO QUE ESTOU COMUNICAR, DEVO TORNAR CLARO QUE ESTOU FA-FA-LANDO APENASLANDO APENAS MINHA VERDADE, NÃO VERDADE, NÃO A VERDADE VERDADE
A maioria de nós somos tentados a generalizar nossa experiência
 pessoal. Esquecemos que os ou tro s são realmente outros , diferentes
de freqüência pr esumimos er ron eamente que todos reagem
exatamente da mesma maneira que nós. Assim, ao descrever nossas
reações pessoais dizemos coisas como:
 — Uma repórt er me abordo u na rua hoje . Perguntou- me o que
achava de nosso novo prefeito. Comecei a tagarelar sem pensar. Sabe
como é. Sabe , você fica muito ans ioso e ent usiasmado e então
dispa ra a fa la r antes de sua mente começar a funcion ar. Entã o
 percebe qu e meteuos pés pe las mãos . Sabe que conseguiu de novo.
Certo?
Errado! Embora eu pessoalmente possa me identificar com a
maior parte dessa experiência, há muitas pessoas mais espertas que
simplesmente não se • reconheceriam, ou a suas tendências, nessa
descrição. Há mesmo alguns tipos calados que nunca falam muito,
mesmo quando suas mentes estão zumbindo. Posso falar por mim
mesmo, mas certamente não por elas. De fato, só posso falar por mim
mesmo. Sou perito apenas a meu respeito. Quando projeto minhas
reações nos out ros , freqü ent emen te a sit uaç ão se torna dif ícil.
Imponho a meu ouvinte a responsabilidade embaraçosa de dizer:
 — Oh! não , não rea jo ass im, de jeit o al gu m.
²-ò ݱ³²-ò ݱ³
ÓÛÍÓÑÍò ÝÑÓÓÛÍÓÑÍò ÝÑÓ
 
Ao que a pessoa que insiste em falar por todo mundo prova-
velmente sorrirá calmamente e dirá:
 — Oh! você diz que não, mas, na verdade, se estivesse em minha
situação, reagiria da mesma maneira.
E é aí que muitas pessoas se perguntam: "Que posso dizer?"
A tentação de generalizar indica que descobri a "diversidade"
apenas de maneira imperfeita.
Ainda não percebi plenamente como cada um de nós é único e
individual. Por causa disso ainda sou tentado a projetar minhas
reações nos outros. Se alguma coisa me ofende ou aborrece, presumo
que ofende ou aborrece todo mundo. Se uma dada situação estimula
uma reação de preocupação em mim, presumo que todos ficariam
 preocupados em tal situação. Um tal hábito de pensar e falar faz de
mim o modelo de toda a realidade humana. Lembra-se do per-
sonagem de desenho animado chamado General Bullmoose? Seu
lema era: "O que é bom para Bullmoose é bom para a nação". Ele era
um homem que pensava e falava por todo mundo.
 Na verdade, nós temos muito em comum, mas nunca somos
menos que indivíduos. A maneira como reagimos às coisas, mesmo
coisas como beleza e humor, é diferente em cada um de nós. Em
outras palavras, posso contar-lhe apenas minha experiência, minha
reação. E você só pode contar-me a sua. Nenhum de nós pode
 presumir que conhece as complexas atividades da mente e do
coração do outro. Muito menos podemos presumir que nossas mentes
e corações funcionam exatamente da mesma maneira.
A pessoa que percebeu nossa individualidade e singularidade
não somente falará mais cuidadosamente e somente por si, como
também perguntará antes de presumir. Lembro-me de certa vez ter 
observado uma pessoa realizando uma tarefa de u ma forma que na
minha opinião gastava muito tempo. Meu próprio modo de vida é
"construir melhores ratoeiras", planejar maneiras novas e criativas
de fazer as tarefas diárias.
‰‰ Gostaria de aprender uma forma mais fácil de fazer isso?
Presumindo que a resposta seria "sim" comecei a demonstrar. Meu
amigo assumiu uma atitude de resistência.
‰‰ Já lhe ocorreu que gosto deste método e não estou procurando
uma forma mais fácil de fazer isto?
Zás. Uma nova aplicação da lição de "diversidade".
 
Há uma séria conseqüência dessa individualidade humana, quan-
do discutimos o que é verdadeiro e o que é falso. Em nossos tribunais,
mandam que as testemunhas digam "somente a verdade, toda a
verdade e nada mais que a verdade". Mas as testemunhas são chama-
das a testemunhar somente o que viram e ouviram pessoalmente.
Presume-se que nenhuma testemunha conhece toda a verdade. Acho
que em teoria todos reconhecemos isso. Na prática esse reconheci-
mento é muito mais difícil, para a maioria de nós. Caímos na arma-
dilha de atribuir infalibilidade a nossas observações, interpretações, ao
modo como nos lembramos das coisas. Como resultado, caímos em
freqüentes erros de comunicação.
Dizemos coisas assim:
 — Você disse isso. Disse. Lembro-me claramente.
Se eu estivesse falando minha verdade e não a verdade, prova-
velmente diria algo assim:
 — Parece-me que você disse isso ou aquilo. Pelo menos é isso que
me lembro de ter ouvido. Você realmente disse isso ou minha memória
está me enganando?
Se falássemos dessa maneira, certamente facilitaríamos a boa
comunicação e promoveríamos uma agradável troca de palavras.
Freqüentemente nos envolvemos em uma diferença de opinião.
Seria falar apenas minha verdade e um atraente convite à comunicação,
se eu dissesse:
 — Este é o modo como vejo as coisas ... Ou
 poderíamos dizer:
 — Sempre tive a impressão que...
As pessoas que pensam que são capazes de falar a verdade tendem
a pontificar:
 — É desta maneira. Foi assim no início, é assim agora, e sempre
será assim.
Essa espécie de arrogância é, para a maioria de nós, um convite à
contradição, não à comunicação.
 Nenhum ser humano na face da terra possui toda a verdade.
Cada um de nós tem só uma pequena parte; mas se estivermos
dispostos a partilhar nossas pequenas partes, nossos pedaços de ver-
dade, todos possuiremos uma realidade muito mais plena, um quinhão
muito maior da verdade total.
 
Vem à ment e o quadr o de duas pessoas em lados opost os de
um sólido muro. Um lado está pintado de marrom e o outro de
verde. Se a pessoa do lado verde ficar insistindo:
‰‰ Este muro é verde, provocará contradição da pessoa que está do
outro lado do muro.
‰‰ Não, não é. É marrom.
Obviam ente cada uma tem uma parte da ver dade, exatame nte
como todos temos, na maioria de nossas divergências. É difícil
imagi nar que uma pes soa pos sa est ar com ple tam ent e err ada a
respeito de qualquer questão complexa. Todos têm uma parte da
verdade para partilhar.
Faz sentido, não faz? Então onde é que erramos com tanta
freqüência? As vezes penso que as questões que discutimos e debate-
mos nunca estão isoladas de um contexto maior. Na maioria dos
relacionamentos hu manos , existem "mar cado res de po ntos"
invisíveis. Uma mulher que está ansiosa por afeto ou afirmação pode
muito bem provocar um ponto de discórdia apenas para desabafar um
 pouco. Um ho mem que acha que seu ego fo i en fraq uecido ou dimi-
nuído pode fazer o mesmo.
Alguém já disse sabiamente que a maioria de nós não discute as
quest ões rea is: des locamo s nos sos sen timent os e os lig amo s a
supostas questões. Um marido queixa-se do quanto sua mulher gastou
em um par de sapatos novos e ela, por sua vez, lembra-lhe que não
consertou a porta como prometera. Mas o preço dos sapatos e a porta
não é o q ue realmente os aborrece. Em tais circunstânci as, um triunfo pessoal p arece mais desejável do que a verdade. Assim, acabamos por 
corrigir o registro no marcador invisível. Conseguimos uma vitória
imaginári a sobre uma insignifi cância e dizemos aos outros a verdade,
toda a verdade, nada mais que a verdade!
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DEVEMOSDEVEMOS PARTILHAR CPARTILHAR COM AQUELES COM QOM AQUELES COM QUEMUEM
NONOS S RELRELACACIONIONAMOSAMOS TODTODOSOS OSOS NOSNOSSOSSOS
SENTIMENTSENTIMENTOS OS SIGNIFICATSIGNIFICATIVOSIVOS
 Não somos simples. Exis tem em nó s muitas pa rtes complexas.
Tem os per cepç ões sen sor iai s que noss as men tes org aniz am em
idéias. Nossas vontades exercem o poder de escolha. E tanto a mente
como o corpo produzem nossas emoções. Naturalmente é verdade
que ess es sent iment os ou emoçõ es não são nossas partes mais
importantes. Eles vêm e vão, às vezes em direções opostas. São
afetados pela quantidade de sono que tivemos, pela hora do dia, pelo
"nível de açúcar" em nosso sangue e, às vezes, pelo barômetro. Masno ato de comunicação, ao nos revelar uns aos outros, são o âmago
da questão. Por quê?
Tenho certeza de que, quando você ou eu confiamos nossos
 sen timentos a outrem, temos a sensação de estar realmente
 part ilhando nosso verdad eiro eu. Não temos muit os pensam ent os
completamente srcinais. Eu, pelo menos, não me lembro de ter tido
nenhum. E não fazemos muitas escolhas srcinais. Mas ninguém na
história da humanidade já teve exatamente os mesmos sentimentos
que você. Ninguém já sentiu como eu sinto. Nossos sentimentos são
tão sin gul are s e ori gin ais com o nos sasimp res sõe s dig ita is. Por 
exemplo, uma pessoa pode resumir a si mesmo afirmando:
 — So u cr is tão e ad vo gado, e minh a famí li a é minh a vida.
Correto e conciso. Porém você não fica conhecendo a pessoa
individual por meio de tais afirmações sumárias. A maioria das
 
 pessoas identifica-se com o cristianismo e há muitos advogados entre
nós. Os devotados à família também são bastante comuns.
As pessoas que estão dispostas a partilhar conosco somente
seus pensamentos e opções, da mesma maneira, poderiam partilhar o
último livro que leram. Mas se uma pessoa confia e descreve seus
sentimentos — a solidão e a luta, os temores e as alegrias, a paz da
certeza e a dor da dúvida —, então teremos a sensação de que vamos
conhecer quem essa pessoa é realmente. Diga-me o que pensa e
 poderei classif icá-lo: diga-me o que sente e o conhecerei.
De certo modo, nossos sentimentos são as expressões sumárias
de toda nossa história pessoal. Não são apenas nossa reação altamen te
 personalizada a uma dada pessoa ou situação. Originam-se de nossas
mais remotas experiências humanas, as por assim dizer "influências
 paternas" (mensagens recebidas no início da vida, dos pais e de outras
 pessoas significativas). Também modelamos nossas reações emocio-
nais pelas de nossos pais, nossos irmãos e irmãs. Todavia, nossas
reações emocionais nunca são cópias exatas, porque são também a
expressão de nossas próprias experiênc ias humanas únicas. Resumem
as vezes em que fomos intimidados ou humilhados por adversários
 juvenis. Reúnem e comentam a segurança ou insegurança dos lares,
escolas e vizinhanças de nossa infância. De fato, resumem e expres-
sam todas as raízes de nossa existência humana altamente individual.
Consideradas apenas em um contexto de atualidade, nossas emo-
ções são as reações psicofísicas a nossas percepções. Se perceber que
você é meu amigo, sentir-me-ei seguro quando estiver com você. A percepção surge primeiro. A emoção resulta da percepção. Histo-
ricamente, nossas percepções, a maneira como vemos ou percebemos
um dado objeto, foram amplamente moldadas por outras pessoas e
acontecimentos significativos em nossas vidas. Essas pessoas e acon-
tecimentos são como que mensagens gravadas que foram deixadas em
nossos mecanismos mentais.
Em conseqüência, ao contar-lhe meus sentimentos estou, de certa
forma, partilhando toda a minha vida com você: as pessoas que me
influenciaram, as experiências que me moldaram. É verdade que
meus sentimentos podem ser inclinados em uma ou outra direção
 pelas quantidades de sono ou alimento recentes, pelo que deu certo
ou errado durante meu dia. Ainda assim, o partilhar de meus sen-
timentos é minha máxima auto-revelação. Ao lhe confiar meus sen-
timentos, posso estar dizendo que uma pessoa que teve meus pais e
minhas experiências reage dessa forma quando está cansada ou
 
com fome. Sempre lhe digo onde estive e quem sou quando partilho
meus sentimentos com você.
Em pleno ato de me revelar a você, não posso simplesmente jogar 
minhas emoções a seus pés. Como seria desconcertante se eu
simplesmente lhe dissesse: "Estou furioso!" Se é para você entender,
devo oferecer-lhe um contexto de completa cer-
teza, isso presume que eu me dedique à auto-revelação, preste atenção
às coisas que se passam dentro de mim. O pleno contexto de auto-
revelação seria mais ou menos assim:
(1) Primeiro transmito-lhe os dados de minhas sensações: Vi e
o ouvi rindo enquanto eu fazia meu importante pronunciamento para os participantes de nosso encontro.
(2) Depois transmito-lhe minha interpretação provisória desses
dados sensoriais. (Por favor, observe que essas interpretações devem
ser sempre apresentadas como provisórias. Interpretação provisória é a
maneira como, subjetiva e provisoriamente, interpreto o que vi e ouvi.)
Interpretei que você considerou tolas ou estúpidas as minhas idéias.
Pelo menos pensei que você não estava dando o apoio de ouvir com
seriedade. Pensava que você era meu amigo, mas lá estava você, rindo
de mim. Esses foram meus pensamentos interiores quando
o vi e ouvi rindo. É claro que eu poderia estar longe da verdade e
talvez estivesse me levando muito a sério, mas essa é minha inter-
 pretação. Observe que uma interpretação provisória também lhe dá a
oportunidade de ajudar-me a rever minha interpretação, se ela
 precisar ser revista. Entretanto, se não lhe contar minha
interpretação provisória, continuarei a pensar o pior e você nunca
saberá o que está me aborrecendo.
(3) Transmito-lhe os sentimentos que resultaram em mim de
minha interpretação.
 — E fiquei com raiva de você.
Mas a raiva é apenas a primeira emoção, cobrindo camadas e
camadas de outros sentimentos. Da forma como entendo esses sen-
timentos, senti-me "abandonado" por você, meu bom amigo. "Et tu,
 Brutus?" (Até tu, Brutus?) Foi o velho choque de Júlio César, que ficou
triste e surpreso ante a presença de seu amigo Brutus entre seus
atacantes. Verdadeiramente dramático, não?
(4) Finalmente, sempre que possível, acrescento um contexto
adicional pela minha reação.
 — Sabe, foi a primeira vez que falei em um encontro. Foi minha
estréia como orador e por isso fiquei tão envolvido. Em vez de pensar 
¿«¬±ó®»ª»´¿9=±ò ݱ³¿«¬±ó®»ª»´¿9=±ò ݱ³
 
na platéia, só estava pensando em mim mesmo. Fiquei imaginando
como estaria me saindo. Também é verdade que eu estava tão
nervos o com aquele maldito discu rso que não comia nem dormia
direito. Por favor, não pense que tem de concordar ou discordar ou
mesmo explicar alguma coisa. Não estou realmente tentando che-
gar a uma conclusão ou desafiá-lo. Só quero partilhar meu íntimo
com você. Espero que po ssa me aceitar. De qualquer forma, muito
obrigado por ouvir tudo isso.
Aliás, ao compartilhar todos os nossos sentimentos significativos,
é muito importante partilhar nossos sentimentos "positivos" ou "afir-
mat ivos" bem como noss os sen timent os "neg ati vos". No diá logo
acima, o falante poderia ter dito:
 — Quan do ol he i pa ra a platéia e o vi e note i co mo pr es tava
atenção a tudo o que eu dizia, senti-me seguro e confiante. De fato,
cada vez que sentia o pânico de pensar: "O que estou fazendo aqui
em cima?", olhava para você. Muito obrigado mesmo, por ser um
 bo m amigo quando eu real mente pr ec isava de um.
Mais que qualquer outra coisa, as pessoas precisam de nossas reações
emocionais afirmativas.
Já discutim os a motivaç ão para a comunicaçã o. O difícil em se
tratando de comunicação é que muitas vezes nossa motivação está
"
oculta". Às vezes tentamos disfarçar ou negar nossa verdadeira
motivação, não somente para os outros, mas até de nós mesmos.
Quase todos nós em alguma ocasião já passamos pela experiência
de alguém nos assegurar:
 — Só es tou lhe di zend o is so pa ra seu pr óp ri o be m. Então só
faltaram nos lamber, porque supostamente era "para o nosso bem".
A questão aqui é esta: meu motivo pode ser desabafo, manipu-
lação ou comunicação. Se lhe conto meus sentimen tos porque quero
desabafar, não estou me revelando como uma dádiva a ser oferecida,
mas estou usando-o como uma lata de lixo para meu refugo emo-
cional, para que possa me sentir melhor (e você muito provavelmente
se sentir pior). Se meu motivo é a manipulação, estou, consciente ou
inconscientemente, manobrando-o. Posso querer que você se sinta
responsável por mim e por minhas emoções, sinta-se culpado por 
haver causado minhas emoções ou mesmo dê-me a solidar iedade que
estou procurand o. Mais uma vez, isso não é uma dádiva sendo ofere-
cida, mas apenas um estrat agema. Embora possamos tentar disfarç ar 
ou negar tais motivos, no fim transparecerão e causarão sofrimento,
como os espinhos de uma roseira.
 
O único motivo aceitável para que eu compartilhe meus senti-
mentos é a comunicação. Conto-lhe meus sentimentos porque quero
que você conheça meu verdadeiro eu e quero ter um relacionamento
verdadeiro com você, não um "arranjo" erroneamente chamado de
"amizade". Sei por experiência pessoal que já senti o ímpeto de con-

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