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( Vitória Campos )Gasometria Arterial Considerações Gerais Exame no qual se coleta uma amostra de sangue arterial com finalidade de estudar os componentes ácido-básico. A gasometria arterial é o exame que avalia a composição ácido-base sanguínea, essencial ao atendimento de pacientes que apresentam insuficiência respiratória. É necessário sangue arterial periférico, que pode ser obtido, mais comumente, por punção radial ou femoral. Considerações anatômicas O procedimento pode ser feito nas artérias radiais, braquiais e femorais, dependendo das condições do paciente e da destreza de quem realiza o procedimento. Prefere-se a artéria radial por ser mais superficial, fácil de ser localizada e passível de ser comprimida contra a estrutura óssea, além da existência da circulação colateral pela artéria ulnar e menor índice de complicações. A artéria femoral é fácil de ser palpada em hipotensos, embora a arteriosclerose possa atrapalhar a punção. Manutenção da homeostase A produção de ácidos se dá por diversos mecanismos: · Produção de CO2 · Reações metabólicas · Ácidos não metabolizados Eliminação de ácidos em excesso: · Mecanismos respiratórios; · Mecanismos metabólicos; · Sistema tampão O organismo trabalha com sistemas tampão para manter a homeostase em seus diversos compartimentos. Tampões são substâncias capazes de remover ou restituir íons H+ de acordo com a necessidade, mantendo a composição do líquido extracelular e impedindo variações abruptas no pH. Geralmente, os tampões são formados por um ácido fraco e seu respectivo sal, ou por uma base igualmente fraca e seu sal correspondente. Alterações no sistema extracelular provocam modificações no sistema intracelular e, após algum tempo, no sistema ósseo, levando o organismo a um estado de equilíbrio. O bicarbonato é o principal tampão presente no líquido extravascular. Indicações · Avaliação de distúrbios ácido-base: · Choque: · Hipovolemia · Choque séptico · Cetoacidose diabética · Intoxicações exógenas · Insuficiência renal · Estados de perfusão tecidual inadequada · Insuficiência respiratória aguda ou crônica: · Taquipneia · Dispneia · Embolia pulmonar · Ventilação mecânica (determinar pO2 e pCO2). · Inalação de fumaça · Taquicardia · Queimaduras · Avaliação pré-operatória e observação pós-anestésica · Investigação clínica: · Insônia · Ansiedade · Confusão mental, que pode ser secundária à hipoxia ou hipovolemia · Cateter de Swan-Ganz · Determinação de oxigênio liberado e consumido. Contra-indicações · Manobra de Allen anormal, indicando um arco palmar incompleto. · Fenômeno de Reynald ativo · Infecção no local da punção · Coagulopatia grave · Anomalias arteriais no local de punção, como diminuição do pulso, sopro, aneurisma ou arterite. Material · Principal: · Seringas de 3 e 5 ml · Heparina 10.000 UI/ml · Coxim (compressa dobrada ou enrolada) · Álcool · Duas agulhas de 26 1⁄2 G 0,45×13 (insulina) ou de 22 1⁄2 G 0,70×30 (cinza) · Recipiente com água gelada para acondicionamento da amostra · Assepsia: · Gazes estéreis · Polivinilpirrolidona-iodo (PVP-I; Povidine®) ou clorexidina · Luvas estéreis · Campo fenestrado esterilizado · Algodão · Anestesia: · Seringa de 10 ml · Lidocaína a 1% sem vasoconstritor · Curativo/fixação: · Tintura de benjoim (opcional) · Esparadrapo ou Micropore®. Técnica Colocar 0,5 ml de heparina na seringa de 3 ml. Apontar a seringa para cima, retirar o ar e a heparina. A heparina que ficar na agulha é suficiente para manter o sangue anticoagulado sem baixar o pH. O excesso de heparina pode alterar o resultado. Radial · Fazer a prova de Allen · Puncionar a artéria radial na altura do punho · Posicionar a mão do paciente espalmada para cima, mantendo o punho em extensão ampla, para facilitar a palpação da artéria · Palpar a artéria radial · Limpar a pele no local da punção com gaze embebida na solução antisséptica escolhida e colocar o campo fenestrado. · Fazer um pequeno botão anestésico no local da punção, com agulha de 25 G, permitindo várias tentativas sem produzir dor no local (opcional) · Palpar a artéria com a mão não dominante, com os dedos indicador e médio, enquanto a mão dominante empunha a seringa com agulha de 20 ou 21 G; ao encontrar o pulso, separar os dedos · A agulha deve entrar em direção ao pulso, fazendo um ângulo de 30 a 60° com a pele, para perfurar a artéria em posição oblíqua, facilitando, posteriormente, a hemostasia natural pelas fibras musculares da parede arterial. · Ao alcançar o lúmen da artéria, observar o fluxo sanguíneo no interior da seringa que, em geral, empurra o êmbolo, o que ocorre mais facilmente quando se usam seringas de vidro e não de plástico, por causa do menor atrito. Com seringas plásticas, costuma ser preciso fazer pressão negativa, puxando levemente o êmbolo para estabelecer o fluxo sanguíneo no interior da seringa: · Se a punção transfixar a artéria, a agulha deverá ser retirada vagarosamente, até que a ponta alcance o lúmen do vaso, quando se estabelecerá o fluxo sanguíneo. · A aspiração vigorosa com o êmbolo favorece a entrada de ar na amostra e deve ser evitada. Quando necessário, aspirar o sangue suavemente. · Após coletar 2-3 ml de sangue, retirar a agulha e comprimir o local da punção com algodão embebido em álcool ou álcool- iodado, por 5 min, para evitar a formação de hematomas. Equipamentos modernos podem efetuar a análise com menos de 2 ml; portanto, é prudente conhecer o limite do equipamento existente no serviço. · Remover o ar da amostra e agitá-la delicadamente, para evitar coagulação. Encapar a agulha, por segurança · Nomear a amostra, com identificação completa do paciente · Colocar curativo oclusivo compressivo · Encaminhar a amostra para gasometria em recipiente apropriado. Femoral · Colocar o paciente em posição de decúbito dorsal · Limpar a pele no local da punção com gaze embebida na solução antisséptica escolhida e colocar o campo fenestrado · Palpar o pulso femoral. · Palpar a artéria com a mão não dominante, usando os dedos indicador e médio, enquanto a mão dominante empunha a seringa com agulha. Ao achar o pulso, afastar os dedos · Inserir a agulha, com a mão dominante, em um ângulo de 60°, entre seus dedos indicador e médio. · Avançar a agulha em direção ao pulso palpado. · Ao alcançar o lúmen da artéria, observar o fluxo sanguíneo no interior da seringa que, em geral, empurra o êmbolo · Após coletar 2-3 ml de sangue, retirar a agulha e comprimir o local da punção com algodão embebido em álcool ou álcool-iodado, por 15 min, para evitar a formação de hematomas ou pseudoaneurismas. · Remover o ar da amostra e agitá-la delicadamente para evitar coagulação. Encapar a agulha, por segurança. · Marcar a amostra com identificação completa do paciente · Colocar curativo oclusivo compressivo · Encaminhar a amostra para gasometria em recipiente apropriado. Complicações · Dor e parestesia local e temporária · sangramento · Espasmo ou oclusão da artéria radial ou da femoral · Hematoma · Embolização de ar, coágulo ou placa aterosclerótica · Fístula arteriovenosa · Pseudoaneurisma · Isquemia e gangrena · Celulite · Flebite · Bacteriemia e sepses. Cuidados após o procedimento · Avaliação em até 15min; · Transporte em local adequado; · Gasômetro calibrado; · Hemólise; · Coagulação; · Diluição heparínica. Interpretação Para definir o distúrbio ácido-base do paciente, primeiramente devem-se analisar o pH, a pressão parcial de dióxido de carbono (CO2) e o bicarbonato (HCO3). O bicarbonato é calculado indiretamente pela fórmula de Henderson-Hasselbalch, e obtém-se um valor mais preciso com a análise do dióxido de carbono venoso total. Os distúrbios do equilíbrio ácido-base ativam os mecanismos de compensação. Dessa maneira, quando os distúrbios se prolongarem, os exames poderão mostrar também o resultado da ação dos mecanismos compensadores. O resultado dos exames laboratoriais representa o distúrbio primário e as tentativas de compensação do organismo. Por essa razão, quando a alteração primária tem duração suficiente, os exames podem expressar a resultante dacompensação do distúrbio. Esses distúrbios são chamados de compensados ou parcialmente compensados. Nas fases agudas, comumente em unidades de pronto-socorro e terapia intensiva, a compensação é rara, pelo menos a ponto de mascarar o resultado dos exames. # A interpretação do resultado da gasometria de sangue venoso pode evidenciar pH menor (0,05 unidade menor), PCO2 maior (6 mmHg maior) e PO2 por volta de 50% (35 a 50 mmHg). Valores normais Distúrbios · Simples · 1º passo – pH: · Valor de referência: 7,40 · Alcalose: >7,45 · Acidose: <7,35 · 2º passo – avaliar comportamento respiratório: · Ácido carbônico (PCO2) normal: valor de referência = 40 mmHg · Acidose respiratória (retém CO2): > 45 mmHg · Alcalose respiratória (eliminação excessiva de CO2): < 35 mmHg · 3º passo – metabolismo: · Bicarbonato (HCO3): valor de referência = 25 mmol/l · Alcalose metabólica: > 28 mmol/l · Acidose metabólica: < 22 mmol/l (reserva de bases consumidas) · Excesso de base (BE): valor de referência = 0 · Alcalose metabólica: excesso de base > + 2 · Acidose metabólica: déficit de base < –2 · Determinar o distúrbio primário baseado no pH. Considerar o valor médio 7,4 e, se estiver abaixo, o distúrbio primário é acidose respiratória (PCO2 > 45 mmHg) ou metabólica (HCO3 < 22). Se estiver acima, o distúrbio primário é alcalose respiratória (PCO2 < 35 mmHg) ou metabólica (HCO3 > 28). O princípio dessa regra é que o organismo não consegue compensar completamente um distúrbio ácido-base. · Mistos Calcular o ânion gap com valores em mmol/l séricos: [(Na+)] – [(Cl–) + (HCO3–)]. O normal é 12 ± 2 mmol/l. Se o ânion gap estiver maior ou igual a 20 mmol/l, existe acidose metabólica independentemente do pH ou da concentração sérica de bicarbonato. O princípio dessa regra é que o organismo não cria um grande ânion gap para compensar nem mesmo uma alcalose crônica; portanto, aumento significativo nos ânions não medidos indica distúrbio primário. Quanto maior o ânion gap, maior a probabilidade de existir acidose metabólica. Calcular o excesso do ânion gap: (ânion gap) – (ânion gap normal: 12) + [(HCO3)]. O valor da concentração de bicarbonato deve ser pelo dióxido de carbono venoso total e não pela fórmula de Henderson-Hasselbalch. Se esse valor for maior que o valor normal de concentração sérica de bicarbonato (23 a 30 mmol/l), existe alcalose metabólica independentemente do valor do pH ou medida da concentração de bicarbonato. Se o valor for menor que o valor normal de concentração sérica de bicarbonato, existe acidose metabólica sem gap. Os distúrbios ácido-base devem orientar o tratamento da causa do distúrbio e não simplesmente sua conseqüência. Complicações da acidemia Sistema cardiovascular · Redução do débito cardíaco; · Maior risco para arritmias; · Vasodilatação arterial; · Diminuição a resposta de drogas vasoativas. Sistema respiratório · Aumento da freqüência respiratória; · Aumento do esforço respiratório; · Reduz a afinidade de Hb-O2; · Vasoconstrição pulmonar. Sistema urinário · Maior demanda funcional (consumo de O2); · Hipercalemia; · Aumento da produção de amônia; · Diurese osmótica
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