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Fisiologia da dor 1 Fisiologia da dor Dor e nocicepção A nocicepção refere-se aos sinais que chegam ao sistema nervoso central como resultado da ativação de receptores sensoriais especializados, os chamados nociceptores, que iniciam as respostas protetoras, uma vez que respondem a vários estimulos nocivos intensos (químicos, mecânico ou térmico) que causam ou têm potencial para causar dano tecidual. Por sua vez, a dor é a experiência emocial e sensorial desagradável que acompanha a nocicepção, ela é uma percepção subjetiva, a interpretação do encéfalo sobre a informação sensorial transmitida pelas vias que se iniciam nos nociceptores. 💡 Em síntese, a dor é a percepção subjetiva de um estimulo nocivo, ela é individual e multidimensional, e pode variar de acordo com o estado emocional/coguinitivo da pessoa, além de fatores sociais e sensoriais. Logo, a dor não pode ser determinada exclusivamente pela atividade dos neurônios sensoriais. Uma pode sentir dor mesmo que o estímulo sensorial não cause lesão ao seu organismo, por exemplo, apertar a mão com uma certa força. Entretanto, embora a dor seja desagradável, ela é necessária para proteger o organismo. Receptores sensoriais livres 💡 Na pele há mecanorreceptores do tato, além disso há terminações nervosas livres algumas sensíveis a temperaturas não-nocivas e são chamadas de termorreceptores, enquanto outras são sensíveis à estimulos nocivos os nociceptores. Fisiologia da dor 2 Nociceptores são neurônios com terminações nervosas livres que convertem uma variedade de estimulos em impusos nervosos (alteração no potencial de membrana, chamado de potencial receptor). O potencial receptor pode disparar potencial de ação na zona de gatilho do neurônio sensorial primário. Uma vez disparados, esses potenciais de ação podem seguir para os centros de processamento no sistema nervoso central e, aí sim, gerar uma experiência sensorial e emocional desagradável, a dor. 💡 Os nociceptores estão presentes na pele, nos músculos, nas articulações e nas víseras em densidades variadas. Tipos de nociceptores Fisiologia da dor 3 1. Mecânicos: São senciveis a estímulos mecânicos nocivos, como levar um soco na cara, tapa. 2. Térmicos: São sensíveis a estimulos termicos nocivos, como colocar a mão dentro de um balde com gelo, ou dentro de uma água fervendo. 3. Químicos: Sensíveis à estimulos químicos nocivos, como substâncias encontradas no veneno de cobras, aranhas e escorpiões, além de bradicinina, serotonina, histamina, íons potássio, ácidos, acetilcolina e enzimas proteolíticas 4. Polimodais: Os quais são sensíveis aos estimulos térmicos, mecânicos e químicos. 💡 Só estimulos intensos podem ativar os nociceptores Os nociceptores são receptores de alto limiar, ou seja, eles precisam de estímulos mais intensos, mais fortes, pra disparar potenciais de ação. Ao pressionar suavemente a minha pele, eu vou provocar a abertura de alguns canais mecânicos tanto nos mecanorreceptores do tato, como nos nociceptores mecânicos. Isso causa uma entrada discreta de cátions, como por exemplo íons sódio, causando um potencial receptor de baixa amplitude. Como os mecanorreceptores do tato são receptores de baixo limiar, esse pequeno potencial receptor pode ser o suficiente pra levar o potencial de membrana ao limiar na zona de gatilho, e alguns potenciais de ação podem ser gerados e conduzidos até o córtex somatossensorial, assim, uma pessoa pode sentir um toque suave na sua pele, mas não pode sentir dor, pois nos nociceptores esse pequeno potencial receptor não foi suficiente pra disparar potenciais de ação já que o limiar é mais alto, isto é, tem valores mais positivos. Vias ascendentes A ativação do nociceptor segui duas vias: respostas protetoras reflexas, que são integradas na medula espinal (reflexos espinais), e vias ascendentes para o córtex cerebral, responsáveis pela sensação consciente (dor ou prurido) Fisiologia da dor 4 💡 Respostas nociceptivas e os reflexos de retirada As respostas nociceptivas integradas na medula espinal iniciam reflexos protetores inconscientes rápidos que, automaticamente, retiram a área estimulada, afastando-a da fonte do estimulo. Os neurônios nociceptivos primários fazem sinapses com interneurônios nas respostas reflexas espinais ou em neurônios secundários que se projetam ao encéfalo. Nas vias ascendentes, os neurônios sensoriais primários da nocicepção terminam no corno dorsal da medula espinal e fazem sinapse com os neurônios sensoriais secundários que cruzam a linha média do corpo na medula espinal até a via anterolateral/ espinotalâmica (processa a dor ) e ascendem ao tálamo onde as vias sensoriais fazema a sinapse com neuronios terciários e sobem para áreas sensoriais no cortex, no qual a sensação são percebidas e é gerado a resposta doloroza. Fisiologia da dor 5 💡 As vias ascendente da nocicepção são similares às outras vias somatossemsoriais. 💡 A via anterolateral é dividida em duas a via da dor lenta/paleoespinotalamica (parte anterior do trato anterolateral, fibra C) e a via da dor rápida/ neoespinotalâmica (divisão posterior do trato anterolateral, fibras A delta). Fisiologia da dor 6 Dor rápida e dor lenta 💡 Fibras dolorosas periféricas Os sinais aferentes dos nociceptores são levados ao SNC (ao cortex somatosensorial) por dois tipos de fibras sensoriais primárias: fibras A (A- delta) e fibras C. A sensação mais comum transmitida por essas vias é percebida como dor, mas quando a histamina ou algum outro estímulo ativa um subgrupo de fibras C, percebe-se a sensação chamada de prurido (coceira). A dor rápida é descrita como aguda e localizada, é rapidamente transmitida ao SNC por fibras finas milienizadas do tipo A delta. Essa dor é desencadeada por tipos de estímulos mecânicos e térmicos. 💡 A dor é sentida quando tido quando agulha é introduzida na pele, quando a pele é cortada por faca, ou quando a pele é agudamente queimada. Ela também é sentida quando a pele é submetida a choque elétrico. A dor pontual rápida não é sentida nos tecidos mais profundos do corpo. Fisiologia da dor 7 💡 As fibras A delta faz sinapse com apenas um neurônio secundário, a fibra A delta chega pelo dorso da medula e faz sinapse com um neurônio secundário que cruz a linha média do corpo até a via anterolateral, na qual ascende até o tálamo, no qual o neurônio secundário faz sinapse com neurônio terciário que leva a informação até neuronios específicos no cortex , por isso que a dor aguda é bem localizada. A dor lenta descrita como surda e mais difusa, é transmitida por fibras finas não mielinizada do tipo C. É desencadeada pelo estímulos dolorosos mecânicos, térmicos e químicos (polimodais) 💡 Esse tipo de dor geralmente está associado à destruição tecidual. Ela pode levar a sofrimento prolongado e quase insuportável e pode ocorrer na pele e em quase todos os órgãos ou tecidos profundos, quando depois de bater o pé fica “latejando”, uma dor difusa, as fibras do tipo C fazem sinapses com mais de um neurônio secundário, ou seja, ocorre uma divergencia de informação, o que acaba ativando mais campos receptivos e a localização do estímulo nocivo não é tão precisa assim, o indivíduo tem a sensação de que a dor se espalha, irradia ao redor do local que sofreu o estímulo. 💡 Muitos autores considera a dor crônica como sinônimo de dor lenta, mas para alguns a dor crônica é uma dor patológica e é também chamada de dor neuropática, esse tipo de dor frequentemente se estende mais do que a ativação do nociceptor, refletindo lesões ou mudanças de longa duração no sistema nervoso (mais de 3 meses). Dor referida A dor pode ser classificada quanto a localização em dor somática quando é uma dor causada pela ativação de nociceptores localizados na pele, músculos, tendões, articulações e ossos; e a dor visceral, isto é, uma dor causada pela ativação de Fisiologia da dor 8 nociceptores localizados nas vísceras ou nos órgãos internoscomo coração, estômago, rins e etc. 💡 A dor visceral é difícil de ser localizada e, muitas das vezes, pode ser referida em outras áreas superficiais do corpo, surgindo a chamada dor referida. A dor referida refere-se a quando a dor em orgãos internos é frequentemente mal localizada e pode ser sentida em áreas distantes do local do estímulo. Aparentemente a dor referida ocorre porque entradas de dor visceral e samatossensorial convergem para um único trato ascendente na medula espinal, ou seja, segurão pela mesma via aferente e ao chegar no córtex somatossensorial essa informação pode chegar nos neurônios que representam uma região específica, por exemplo, da pele. Hipersensibilidade A via nervosa para a dor algumas vezes se torna excessivamente excitável. A possível causa para hipersensibilidade são a hiperexitação dos receptores propriamente ditos Fisiologia da dor 9 para dor que é chamada facilitação da transmissão sensorial, uma vez que há a diminuição do limiar do receptor. A hipersensibilidade pode ser primária aumento da sensibilidade na área lesionada devido à sensibilização dos nociceptores periféricos e pode ser hipersensibilidade secundária nas áreas não afetadas que rodeiam a área lesionada mediada centralmente na medula ou cortex. O que acontece em uma lesão é o rompimento de várias células, isso causa o extravasamento de vários componentes intracelulares como os íons potássio, que somados a outros mediadores químicos produzidos localmente, como a bradicinina e as prostaglandinas, mais histamina, produzida por células do sistema imune os mastócitos, podem atuar sobre as terminações nervosas livres das fibras C, deixando o potencial de membrana desses nociceptores mais positivo (diminuição do limiar). 💡 Com o baixo limiar qualquer estimulo pode facilmente despolarizar a membrana e gerar um potencial de ação nos nocireceptores (dor fácil) Hipersensibilidade leva a alodonia que é quando estimulos não nocivos são processados como nocivos gerando dor, como água cair no ferimento e a hiperalgesia que significa hipersensibilidade à dor, aumento da resposta a um estímulo normalmente doloroso. 💡 Os mediadores que causam hiperalgesia e alodinia no tecido lesado, causam o que chamamos de inflamação. Por isso esse tipo de dor pode ser chamada de dor inflamatória. Modulação da dor A dor determinada pelo sistema de ação da dor ou, simplesmente, nociceptivo, pode ser modulada, ou seja, experimentar modificações adaptativas que tomem a sensação nociceptivamais flexível, no sentido de atenuá-la ou exagerá-la, de acordo com os propósitos que visa a nocicepção concebida como mecanismo basicamente protetor. Fisiologia da dor 10 Em condições de emergências que dor precisa ser suprimida, vias descendentes que trafegam pelo tálamo inibem neurônios nociceptores na medula espinal, além disso a dor também pode ser suprimida no corno dorsal da medula espinal, antes que os estímulos cheguem aos tratos espinais ascendentes. Fisiologia da dor 11 💡 Os interneurônios inibidores tonicamente ativos da medula espinal geralmente inibem as vias ascendentes da dor.. A teoria do portão tem esse nome pois pra informação nociva seguir pro encéfalo ela, primeiro, precisa passar por um “portão” que existe no corno dorsal da medula espinal. Esse portão é na verdade um interneurônio inibitório que pode liberar neurotransmissores inibitórios sobre o neurônio Fisiologia da dor 12 sensorial secundário da via ascendente da dor, inibindo assim a transmissão da informação nociva. Quando batemos o ombro, a pancada é detectada pelos nociceptores e a informação nociva segue pelas fibras C até o corno dorsal da medula espinal. Essas fibras C, além de excitarem o neurônio sensorial secundário, inibem o interneurônio inibitório, ou seja, inibem a inibição, abrem a porta, liberam a passagem pra informação nociva (b). Quando você esfrega o local dolorido, há a ativação de mecanorreceptores do tato, e essa informação não nociva segue por fibras A beta até o corno dorsal da medula espinal. De lá, essas fibras podem conduzir essa informação de tato pro encéfalo, e além disso também podem excitar o interneurônio inibitório que irá diminuir ou inibir a transmissão da informação nociva, ou seja, fecha o portão (c). Neroadrenalina e serotonina Noradrenalina e serotonina podem se ligar e ativar receptores específicos nas terminações do neurônio sensorial primário inibindo a despolarização da membrana, inibindo assim a liberação de neurotransmissores que iriam passar a informação nociva pro neurônio sensorial secundário. Além disso, noradrenalina e serotonina também podem se ligar e ativar outros receptores específicos presentes em interneurônios inibitórios, causando despolarização da membrana, ou seja, geram PEPS, que pode disparar potenciais de ação e essa activação do sistema descendente da dor inibe a transmissão dos estímulos dolorosos nas sinapses no corno dorsal da medula pela ação dos opióides endógenos, exemplo a encefalinas. Fisiologia da dor 13 💡 As encefalinas agem via receptores específicos presentes tanto nos neurônios sensoriais primários como nos secundários da via ascendente da dor, inibindo a despolarização da membrana desses neurônios, inibindo assim a transmissão da informação nociva nessa sinapse. 💡 Os opioides tem potente ação analgésica, uma vez que além de inibir a transmissão da informação nociva inibindo diretamente a primeira transmissão sináptica da via ascendente da dor, os opioides podem ativar os neurônios da substância cinzenta periaquedutal, ativando a via descendente de inibição da dor, contribuindo pro efeito analgésico desse tipo de substância . 💡 A morfina é um opóide exogeno, ela age nos mesmos receptores que os opioides endógenos, como as encefalinas, ela apresenta os mesmos efeitos, isto é, causa analgesia, pois inibi a transmissão sináptica que ocorre entre os neurônios sensoriais primário e secundário da via ascendente da .dor
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