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14
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – UNESA
CURSO SUPERIOR TECNÓLOGICO EM SEGURANÇA PÚBLICA – CSTSP
FRANCISCO FAGNER XIMENES SAMPAIO
A GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA: CONCEPÇÕES ACERCA DA FUNÇÃO DO ESTADO E DA SOCIEDADE
Artigo a ser apresentado à Banca do Exame do Curso Superior de Tecnólogo em Segurança Pública da Universidade Estácio de Sá – CSTSP/UNESA, como requisito para aprovação na disciplina de TCC em Segurança Pública.
ORIENTADOR(A):
Profª Kátia de Mello Santos
FORTALEZA – CE
JUNHO DE 2021
A GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA: CONCEPÇÕES ACERCA DA FUNÇÃO DO ESTADO E DA SOCIEDADE
PUBLIC SECURITY MANAGEMENT: CONCEPTIONS ABOUT THE FUNCTION OF THE STATE AND SOCIETY
[Francisco Fagner Ximenes Sampaio][footnoteRef:1] [1: Graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá. E-mail: fagnerximenes@gmail.com
] 
[Kátia de Mello Santos][footnoteRef:2] [2: Professora orientadora Kátia de Melo Santos pela UNESA – Universidade Estácio de Sá. E-mail: Katia.mello@estacio.br	
] 
RESUMO
O presente artigo visa estabelecer uma discussão sobre as estratégias de enfrentamento da violência pelo Poder Estadual e sua gestão da Segurança Pública, para tal fim, atentando para a importância da participação da comunidade no processo decisório, haja vista a presença de novos sujeitos sociais que buscam exercer sua cidadania no campo da gestão partilhada do interesse público. Esta pesquisa visa também analisar o atual modelo de gestão da segurança pública e seus reflexos na administração dos conflitos interpessoais, com base nas normas e princípios orientadores de Direitos Internacionais Humanitários e na proposta de aperfeiçoamento do novo conceito de Segurança Humana. Neste contexto, abordam-se os papéis da polícia, representando o Estado, e da sociedade no efetivo exercício da cidadania e do direito e responsabilidade na Segurança Pública. Assim, a violência é um fenômeno social, multidimensional, imprevisível e pluricausal (ZALUAR, 2000). Há entre os estudiosos da violência uma dificuldade de formular um simples conceito que abarque a complexidade do tema violência, é por essa razão que neste artigo científico será construído com base em autores como Zaluar (2000), Pinheiro (2003) e Foucault (2002), e com o auxílio da percepção dos atores sociais que compõem os Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEG): comunidade, policiais, comerciantes, escolas, igrejas, sindicatos, associações de moradores, etc.
Palavras-chave: Gestão Pública; Segurança Pública; Violência.
ABSTRACT
The present article aims to establish a discussion about the strategies of coping with violence by the State Power and its management of Public Security, to that end, considering the importance of community participation in the decision process, given the presence of new social subjects who seek Exercise their citizenship in the field of shared management of the public interest. This research also aims to analyze the current model of public security management and its reflexes in the management of interpersonal conflicts, based on norms and guiding principles of Humanitarian International Rights and the proposal to improve the new concept of Human Security. In this context, the roles of the police, representing the State, and the society in the effective exercise of citizenship and of the right and responsibility in Public Security are addressed. Thus, violence is a social phenomenon, multidimensional, unpredictable and pluricausal (ZALUAR, 2000). There are among the scholars of violence a difficulty to formulate a simple concept that encompasses the complexity of the theme of violence, which is why in this scientific article it will be constructed based on authors such as Zaluar (2000), Pinheiro (2003) and Foucault (2002) , And also with the help of the social actors who make up the Community Safety Councils (CONSEG): community, police, merchants, schools, churches, trade unions, residents' associations, etc.
Keywords: Public Management; Public security; Violence.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo visa constituir uma análise sobre as táticas de combate a violência pelo Poder Estadual e sua gestão da Segurança Pública para isso, levando-se em consideração a importância da participação da sociedade no processo de regulamentação com relação às diretrizes da segurança pública, haja vista a presença de novos personagens sociais que visam desempenhar sua cidadania na área da gestão compartilhada do interesse público.
A Constituição Federal do Brasil de 1988 trouxe inovações importantes no campo da segurança pública se comparada ao padrão tradicional de Segurança Pública incorporado à Segurança Nacional, ao estabelecer novas missões às instituições policiais, bem como os princípios da gestão participativa na resolução dos problemas da violência, conforme se pode observar pela redação do texto constitucional em seu Art. 144.
O modelo tradicional da polícia brasileira caracteriza-se por uma ação meramente reativa (repressiva) ao problema da violência, ou seja, a polícia só deve agir após o cometimento do delito e em casos de crimes considerados realmente “graves” pelo aparelho policial. A Polícia Comunitária é o contraponto a tal sistema, atuando de modo preventivo.
Até então, antes de 1988, a missão da Polícia era simplesmente “açoitar escravos”, no período imperial, e reprimir os movimentos sociais que contestavam o regime militar (1964-85), considerados pelos militares como nocivos à Segurança Nacional, em conformidade com a Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170, de 14/12/83).
As inovações das políticas de controle social e prevenção do delito devem ser compreendidas à luz dos processos de reorganização das competências estatais, que se tornam mais acessíveis à interação com instituições do setor privado e do setor público não governamental.
Trata-se de uma nova dinâmica social que questiona posturas centralizadas e desafia a abertura para o novo, construído no cotidiano das ações humanas que envolvem o pensar, o criar, o fazer, o agir, o interagir, o confrontar-se e o indignar-se. 
No contexto das políticas públicas da gestão participativa, observa-se a necessidade da participação cada vez mais da sociedade nas discussões, sugestões e gestão da coisa pública, em especial, na área da segurança pública. 
Apesar de sua limitada capacidade de produzir segurança – por fazer uma leitura descontextualizada dos conflitos sociais e por intervir em seu nível sintomatológico, respondendo retroativamente a ações puníveis de indivíduos – as chamadas “políticas de segurança pública” não têm sido avaliadas no plano de sua eficácia. 
Contudo, a ineficácia da resposta repressiva costuma reforçar a demanda punitiva, como se o problema estivesse na baixa dosagem do remédio (número de prisões, rigor da pena, idade da maioridade penal) e não na escolha do remédio em si. 
Assim, é com os pressupostos acima que se pretende discutir a cerda da gestão da segurança pública no Brasil, observando quais os pontos relevantes e suas participações dentro da sociedade, exercendo um papel fundamental, o qual não está restrito apenas em gerenciar ou administrar as leis que fazem valer a sua definição, mas cumprir, na medida do possível, o seu papel dentro do poder de decisão da sociedade como participante de tal ação.
Com isso, é de pretensão desta pesquisa abordar tal temática dentro do aspecto bibliográfico, para que se possa retirar o maior número de informações possíveis a fim de contribuir para uma análise crítica mais apurada das possibilidades de se construir uma prática mais justa e participativa da segurança pública.
2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE SEGURANÇA PÚBLICA
Conforme preceitua a Constituição Federal de 1988, em seu art. 144, a Segurança Pública, dever do Estado e direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública (isto é, conjunto de condições necessárias ao regular funcionamento das instituições, e ao efetivo exercício dos direitos e liberdades dos indivíduos) e da incolumidade das pessoas,bem como do patrimônio. E, para realizar tais atividades, o Estado tem a disposição alguns órgãos, todos taxativa e exaustivamente arrolados em seus incisos (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar).
Em sociedades democráticas, a instituição policial deve corresponder ao desejo justificado de proteção das liberdades individuais e coletivas, assim como de representar a necessidade de garantir a harmonização dessas liberdades.
Ao considerar ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas para o progresso social, e melhores condições de vida para uma liberdade mais ampla, a Declaração Universal dos Direitos Humanos assim estabelece em seu art. 28: “Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efetivos os direitos e liberdades.” 
Visto isso, por segurança, em linhas gerais, entende-se como sendo a condição em que o Estado, a sociedade ou os indivíduos não se sentem expostos a riscos ou ameaças.
2.1 A participação da sociedade no combate a violência
No mundo atual, a questão da prevenção da violência vem se tornando cada vez mais uma prioridade na gestão da segurança pública e da defesa social, tendo em vista que os modelos tradicionais de Segurança Pública se limitam apenas ao aparelho repressor do Estado (a Polícia). 
Assim, esta situação provocou uma reação da sociedade civil organizada que reivindicou mudanças na postura da Polícia e uma maior participação na busca de soluções para a violência, conforme foi constatado por pesquisas no Reino Unido (BAYLEY E SKOLNICK, 2001). 
Sob a ótica da administração pública, prevenir custa significativamente menos do que tratar as consequências de fenômenos sociais adversos, caso, por exemplo, da delinquência.
Na tentativa de conceituar o que é violência a Organização Mundial de Saúde (OMS) fez uma definição ampla desse fenômeno social complexo. O uso intencional da força física ou do poder, real ou potencial, contra si próprio, contra outras pessoas ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. (OMS, 2000).
No que se refere à participação da sociedade em tal discussão, pesquisas desenvolvidas por Bayley e Skolnick (2001) demonstraram fissuras no modelo tradicional de Segurança Pública que previa como único remédio às questões da violência a ação policial repressiva. A mesma pesquisa verificou experiências positivas com um outro perfil de atuação policial no enfrentamento da violência através da parceria com a sociedade, com uma atitude proativa, a chamada doutrina de Polícia Comunitária.
As políticas de gestão comunitária da segurança pública vão ao encontro de uma tendência, nesse sentido, surgida nos Estados Unidos da América (EUA) por volta da década de 1980, a partir dos estudos de Herman Goldstein, professor emérito da Universidade de Wisconsin, autor da obra clássica “Policiando Uma Sociedade Livre” – obra essa, inclusive, já traduzida para o português pela Editora USP (EDUSP). 
Tais políticas têm como corolário a premissa de que a comunidade conhece seus problemas de segurança pública, melhor inclusive que a própria polícia. Assim, é preciso dar poder à comunidade, ou “emponderá-la”, num anglicismo (derivado da expressão “empowerment”) já de uso comum entre brasileiros. A comunidade passa a ser, assim, objeto e sujeito das ações de prevenção, o que conota a expressão “Segurança Comunitária”.
Com o modelo de gestão comunitária, as autoridades da segurança pública passam a aprender com a comunidade, bem como com pesquisadores sociais que investigam, com rigor científico, questões relativas à violência. 
A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) vem buscando induzir, nos entes federativos, algumas práticas da segurança pública (gestão comunitária inclusive), disponibilizando, para tanto, verbas especificamente destinadas para tal finalidade, e incentivando a participação da sociedade.
Precisamente por isso, existem motivos de sobra para se imaginar que a implementação efetiva de um modelo de gestão descentralizada e participativa não só encontrará inúmeras resistências políticas e culturais, como também far-se-á acompanhar, por um lapso de tempo difícil de estimar, da sobrevivência de práticas, mentalidades e valores nostálgicos de uma época pretérita, mais centralizadora (NOGUEIRA, 1997, p. 9).
Com o passar do tempo, bem como com a realização de estudos de avaliação, espera-se a sedimentação de uma cultura de prevenção, nos moldes da moderna gestão científica, com os atuais programas, e outros, sendo devidamente avaliados para que sejam ampliados e/ou descontinuados. O horizonte disso, segundo as práticas mundiais adotadas Cultura de prevenção aqui utilizada se refere ao engajamento da sociedade civil organizada às questões relacionadas à prevenção da violência, conforme prevê o Art. 144 da Constituição Federal do Brasil: “segurança pública dever do Estado, direito e responsabilidade de todos [...]”. 
O conceito referência para compreender a cultura de prevenção é o de Polícia Comunitária que se consubstancia pelo estreitamento da relação Polícia e Sociedade na resolução dos conflitos geradores da insegurança, haja vista o isolamento estatal não ter produzido os efeitos desejados em relação à prevenção da violência.
3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA X POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA
Na discussão das possíveis soluções para o problema de segurança pública, apesar de já cristalizada a ideia de que o problema é de todos, é bastante comum a armadilha do efeito gangorra entre o “discurso social” e o “discurso repressivo”. As duas posturas são, geralmente, vistas como excludentes. Se uma está em foco, a outra fica de lado.
A divergência entre prevenção e repressão é estimulada e justificada pelas crenças pôr vezes até inconscientes, que dominam a percepção do problema. Para equacionar bem a questão e torná-la produtiva, para fugir da tentação e do comodismo dos discursos excludentes e superficiais, um bom começo é estabelecer a distinção entre políticas de segurança pública e políticas públicas de segurança.
Políticas de segurança pública é expressão referente às atividades tipicamente policiais, é a atuação policial “strictu sensu”. Políticas públicas de segurança é expressão que engloba as diversas ações, governamentais e não governamentais, que sofrem impacto ou causam impacto no problema da criminalidade e da violência (OLIVEIRA, 2002).
A ausência desta distinção clara acaba por ocasionar graves equívocos. Estes equívocos manifestam-se no encaminhamento das demandas e nas propostas de soluções práticas (com alguma frequência podemos testemunhar tentativas, até bem-intencionadas de resolver o problema no endereço errado). Manifesta-se também comprometendo a autocrítica de cada responsável – é sempre mais fácil ver a omissão do outro que a própria.
A gestão da segurança pública deve compatibilizar o respeito a regras comuns de civilidade com o exercício da diversidade que é pressuposto de uma gestão democrática da segurança. Ao contrário de uma proposta centrada na exclusão, na imposição coativa da “tolerância-zero” em relação a valores desviantes ou estilos de vida minoritários, o que se alvitra é um modelo de máxima tolerância urbana que possa servir de sustentação a uma segurança fundada.
3.1 O papel do Estado através da polícia, cultura e sociedade
Nas sociedades contemporâneas, o policial configura-se, antes de qualquer coisa, como um cidadão, e é nessa cidadania que deve nutrir sua razão de ser. Contudo, esse agente policial por sua condição, isto é, por emblematizar o Estado em suas atividades diárias, configura-se como um cidadão qualificado.
Por outro lado, sendo a autoridade mais comumente encontrada, e de maior acesso, tem a missão de ser um “porta-voz” popular. O impacto sobre a vida dos indivíduos e na paz social, exercido poresse cidadão qualificado influencia, diretamente no bem ou no mal-estar da comunidade. Contudo, há que se destacar que muitas pessoas, no Brasil, têm uma relação ambígua com a polícia, uma mistura de medo com necessidade de segurança. 
A delegacia de polícia é uma repartição pública que assusta algumas pessoas, e que, por conta disso, os serviços acabam sendo prestados sob uma
relação de desconfiança mútua. O exercício da prática policial, uma das mais complexas atividades profissionais desempenhadas nas sociedades contemporâneas, carece de sentido, conceito e compreensão tanto por parte dos cidadãos quanto por parte dos próprios agentes responsáveis pela aplicação da lei.
A polícia é, ainda hoje, algo desconhecido para a maioria dos cidadãos. Na realidade, é um paradoxo que, tendo a polícia, por imposição constitucional, que defender a legalidade democrática e garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos, estes tenham permanecido numa negligente atitude de indiferença perante a natureza, forma e condições da atividade policial. O distanciamento existente torna-se gerador de incompreensões, suspeições e preconceitos que afetam o relacionamento entre a polícia e o cidadão.
No que se refere ao relacionamento dos policiais com o conjunto da sociedade, cabe à polícia atender as demandas lícitas de todas as partes envolvidas, embora haja uma forte demanda pela atuação ilícita, que ganha mais força quando em um cenário de medo e crise social.
A compreensão do papel de polícia, vai depender do conceito de polícia que se tem. Os conceitos guiam e priorizam a seleção de papéis, e envolvem a concepção do trabalho policial. Uma das dificuldades na abordagem das questões propostas neste trabalho reside justamente na falta de um razoável suporte teórico.
Os estudos não acompanharam suficientemente as transformações ocasionadas pela alteração das condições de vida em sociedade, tendendo a fornecer respostas casuísticas. Não existe, quanto às atribuições policiais, um pensamento claro e pacífico entre todos.
Esta falta de definição acaba sendo compensada por regras concretas de atuação, mas impede a pré-compreensão do papel que as polícias devem desempenhar numa democracia e não esclarece em que medida esse papel deve ser-lhes exclusivo, comunicar-se a outros órgãos do Estado ou ser por eles tutelado ou fiscalizado.
A análise do papel da polícia requer entender as cidades como sendo um campo de relações e conflitos sociais permanentes, resultantes da diversidade de pessoas e interesses que nela habitam. Neste contexto, a polícia se interpõe, e se espera mesmo que ela se interponha, entre as vontades em oposição ou interesses em conflito, mas somente se essas situações ameaçarem a continuidade da paz social implícita no pacto social original, ou seja, somente naqueles problemas que causem dano, ameaça ou medo, ou que possam evoluir para um real distúrbio.
Por sua natureza política, a polícia configura-se como o instrumento legal e legítimo do uso da força para administração dos conflitos interpessoais, cujo respaldo advém do contrato social de uma determinada comunidade política. De outra forma, toda polícia é instituída como força a serviço de uma ordem preestabelecida, de um poder legítimo e de representação popular e de sua lei.
A polícia se vê envolvida com os mais graves problemas comportamentais que ocorrem nas comunidades. Muitos dos itens relacionados ao trabalho policial estão mesclados à simples desorganização social, colocando os policiais em contato direto com pessoas que representam características extremas: as mais pobres, os desnormatizados, as subculturas criminosas, os etiquetados etc.
No texto “A Polícia ao serviço dos cidadãos”, elaborado na Conferência Internacional 2004 realizada em Portugal, cita-se o comentário de um juiz canadense sobre o comportamento policial:
Não sou tão ingênuo ao ponto de afirmar que todos os policiais são, em todas as ocasiões, perfeitos cavalheiros. (...) Os tribunais devem estar sempre vigilantes e atentos para quaisquer excessos indevidos por parte de um organismo de execução da lei. Contudo, devemos ter presente que os agentes policiais, no cumprimento das suas responsabilidades de impor a ordem, são chamados a lidar fisicamente com indivíduos sob a influência do álcool ou de drogas, difíceis de controlar e por vezes perigosos. São alvos de injúrias verbais, de blasfêmias e ameaçados de modo bastante insolente. Arriscam-se frequentemente a sofrer danos pessoais muito graves. Apesar dos riscos e perigos óbvios que fazem parte das suas funções e que aceitam naturalmente, espera-se que sejam corteses e bem-educados, que não usem força excessiva ou desnecessária e que não ripostem motivados pela vingança ou temperamento. É óbvio que ser agente policial requer o mais elevado grau de auto-domínio. Espera-se que atuem com uma grande dose de senso comum e discrição. É um padrão elevado. Trata-se de um papel extremamente responsável e vital na nossa sociedade. Os policiais que não preenchem estes requisitos não deviam ser policiais. (Portugal, 2004, p. 9)
Tensões e hostilidades fazem parte do trabalho policial. Os agentes devem, como exigência de suas obrigações, deter pessoas quando estiverem violando as leis, e possivelmente cercear-lhes a liberdade, e levantar elementos a fim de que sejam elaboradas acusações que possam levar à imposição de punições.
Contatos entre policiais e cidadãos muitas vezes são iniciados sob condições carregadas de emoções. Não importa a quão justa, correta, zelosa e íntegra seja a polícia ao cumprir suas responsabilidades, suas ações estão sempre propensas, predispostas a sofrer com a inconformidade e a ira das pessoas contra quem ela precisa tomar providências. 
Para tanto, os agentes devem ser conscientizados de todos os riscos aos quais serão expostos, e devem ser preparados e equipados para responder adequadamente a isso. 
A percepção social do crime e do perigo, qualquer que sejam as realidades, exerce uma pressão cada vez maior, e muitas vezes dispare, para que a polícia responda. E, quanto mais as forças policiais, por meio de seus administradores, sentirem essa pressão, mais provável será que o imediatismo dessa pressão vá destruir as possibilidades de redirecionar os recursos policiais para programas inovadores e mais eficazes. O plano ideológico exerce um papel fundamental, uma vez que a população, a vítima e o próprio agente policial também são envolvidos por valores e crenças.
Assim, o trabalho policial não pode ser visto como uma mera obrigação de resultados a serem alcançados. A obsessão pelo resultado imediato, e este resultado devendo ser obtido a todo e qualquer custo, pode conduzir à arbitrariedades e ilegalidades. O aumento da eficácia policial não pode, em caso algum, fazer-se à custa do sacrifício dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Assim, é necessário conciliar a operacionalidade da polícia com a preocupação de não fazer perigar os direitos dos cidadãos.
3.2 Os conselhos comunitários de segurança como estratégias para implementação de políticas públicas de segurança
Os Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEGs) compreendem o problema da violência e das questões relacionadas à segurança pública com um olhar multidimensional e um enfoque multicausal, o que colabora para a prevenção da violência. (MARIANO, 2004). 
Esta é uma situação, ademais, que justificou a própria constituição dos Conselhos Comunitários de Segurança. Como apreender, das diversas áreas de conhecimento e experiências nele representadas, uma aplicação pragmática do conceito unânime da multicausalidade?
Este questionamento justificou a formação dos CONSEGs na busca de soluções para a prevenção da violência. A ideia é envolver sociedade e polícia na prevenção da violência. A certeza de que o problema de segurança pública não é só um problema de polícia não pode servir para distrair as atenções. É de fato necessário identificar as responsabilidades específicas e as atuações possíveis.
Um passo é necessário antes da realizaçãode um encontro com o imaginado. É preciso traçar com objetividade o grande quadro, o contexto das medidas possíveis. Com frequência se diz que o diagnóstico do problema da segurança já está feito e agora as ações são necessárias.
No entanto, de acordo com Neto (2005) o diagnóstico muitas vezes não passa de repetição de chavões e o grande repertório de conhecimento é muito disperso. A situação é bem, ilustrada pela crise atual de paradigmas do saber criminológico. Para isso apontam-se indagações básicas: 
a) se as causas da violência são múltiplas, é preciso focar as mais relevantes? 
b) quais são as intervenções mais eficazes para cada uma delas? Se for possível atingir respostas precisas a estas perguntas, estará feita a síntese possível entre o saber teórico e a intervenção concreta. 
O mais importante, neste quadro, é a possibilidade de identificar o contexto das medidas já em execução e das propostas, bem como os organismos responsáveis por suas execuções. Limitar os escopos de cada um deles talvez seja a única forma de atingir algum resultado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A eficácia do Estado na gestão de uma sociedade pluralista está altamente relacionada à democratização de seus processos decisórios. Ao organizar-se em linha de continuidade com as esferas públicas e viabilizar canais de comunicação política com os diversos setores da vida social, o Estado se habilita, enquanto mediador de conflitos, como catalisador de recursos e articulador de políticas voltadas à afirmação de direitos fundamentais, contribuindo assim para o fortalecimento dos alicerces de uma sociedade civil autônoma e democrática.
A política da nova prevenção não deve ser vinculada às construções analíticas e às soluções institucionais associadas à etiqueta criminal. O envolvimento de novas instituições, o olhar e a experiência das diversas ciências e culturas profissionais, favorecem a construção de modelos explicativos mais abrangentes do que os oferecidos pelo código binário crime-pena e mais apostas a compreender os conflitos em sua inteira complexidade causal. 
Dessa autonomia em relação às classificações penais resultam inúmeras possibilidades de construção e enfrentamento dos problemas. A desvinculação da pauta policial em relação às classificações penais estimula a criatividade social para novas possibilidades de interpretação e gestão de conflitos.
Criminalidade juvenil, violência sexual, violência doméstica ou dependência química são problemas que adquirem contornos bastante distintos se analisados pelo prisma policial, terapêutico, médico, assistencial, sociológico, educacional ou urbanístico. Nem sempre a resposta mais correta do ponto de vista do aplicador da lei penal, seja ele o policial ou o juiz, será conciliável com a resposta mais adequada nos planos terapêuticos ou médico. (SOARES, 2006).
A formulação de respostas apropriadas aos problemas que levam a sociedade a demandar a intervenção policial depende de amplo esforço analítico de reagrupamento dos conflitos, com base em critérios mais coerentes e elucidativos do que os oferecidos pela legislação penal. 
A ação policial se desvincula da questão criminal. Da mesma forma que um problema de natureza criminal não deve ser de competência exclusiva da polícia, mas de diversas instituições atuando coordenadamente, um problema não necessita estar previsto na legislação penal para suscitar a intervenção policial.
A descentralização do poder decisório do Estado por meio da participação direta dos cidadãos no planejamento da segurança urbana constitui um dos pilares da nova prevenção. A transformação cultural necessária a uma nova política de prevenção é que o tema da segurança urbana deixe de ser simplificado sob a forma de demanda por repressão estatal contra indivíduos e seja assumido em sua complexidade causal, como questão política que requer o envolvimento do conjunto das instituições sociais.
A malha social urbana constitui-se de inúmeras realidades de insegurança e inúmeras expectativas de segurança, que correspondem à diversidade de interesses, experiências e posições que os indivíduos assumem em suas vidas públicas e privadas. 
O potencial inovador do conceito de participação, compatível com as experiências mais inovadoras dos CONSEGs, através da filosofia da Polícia Comunitária, não está na constituição de uma sociedade de “controle”, em que o cidadão atua como policial, mas na possibilidade de democratização da atividade da polícia, para que o policial atue como cidadão.
REFERÊNCIAS
BARATA, Francesc. “La violencia y los mass media: entre el saber criminológico y las teorias de la comunicacion”. Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano 8, n. 29, jan/mar, 2000.
BAYLEY, D. H; SKOLNICK, J. H. Nova Polícia: inovações nas polícias de seis cidades norte-americanas. Tradução de Geraldo Gerson de Souza. São Paulo: Editora da USP, 2001.
BEATO, Cláudio. Reinventando a polícia – a implementação de um programa de policiamento comunitário. Belo Horizonte: CRISP/UFMG, 2001.
FOUCALT, Michel. Vigiar e punir: nascimento das prisões. Petrópolis, Vozes, 2002.
MARIANO, Benedito Domingos. Por um novo modelo de polícia no Brasil: a inclusão dos municípios no sistema de segurança pública. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.
NETO, Theodomiro Dias. Segurança Urbana: o modelo da nova prevenção. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. Fundação Getúlio Vargas, 2005.
NOGUEIRA, Marco Aurélio. A dimensão política da descentralização participativa. In: São Paulo em perspectiva, vol 11, n° 3, 1997.
OLIVEIRA, Ana Sofia Schmidt de. Políticas Públicas de Segurança e Políticas de Segurança Pública: da teoria à prática. São Paulo: ILANUD, 2002.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Relatório mundial sobre violência e saúde. E. G. Krug. Brasília: OMS/ Opas/ UNDP/ Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, 2002.
PINHEIRO, Paulo Sérgio; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Violência urbana. São Paulo: Publifolha, 2003.
PIRES, Álvaro P. “La ´línea Maginot’ en el derecho penal: la protección contra el crimen versus la protección contra el príncipe”. Revista Brasileira de Ciências Criminais, 46: 11-45. 2004.
SILVA, Maria do Rosário de F. e. A revitalização do local como espaço de constituição de uma nova noção de cidadania. In. BAPTISTA, Dulce. (Org) Cidadania e Subjetividade: novos contornos e múltiplos sujeitos. São Paulo: Editora Imaginário, 1997.
SOARES, Luiz Eduardo. Segurança tem saída. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2006.
ZALUAR, Alba. A globalização do crime e os limites da explicação local: In: VELHO & ALVITO, Gilberto e Marcos (org.). Cidadania e violência. 2ª ed. Ver. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, Editora FGV, 2000.

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