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Livro - Saude Mental e Servico Social

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Prévia do material em texto

SAÚDE MENTAL E 
SERVIÇO SOCIAL
Fernanda Cristina Kopka 
Roberta Weber Lunardon
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Curitiba
2021
Fernanda Cristina Kopka 
Roberta Weber Lunardon
Saude Mental e 
Serviço Social
´
Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael.
K83s Kopka, Fernanda Cristina.
Saúde mental e serviço social / Fernanda Cristina Kopka, Roberta 
Weber Lunardon – Curitiba: Fael, 2021.
212 p.
ISBN 978-65-86557-70-1
1. Saúde mental - Brasil I. Lunardon, Roberta Weber II. Título
CDD 362.20981
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona
Revisão Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Stock.adobe.com/sewcream
Arte-Final Hélida Garcia Fraga
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1. Processo histórico da saúde mental | 7
2. Reforma psiquiátrica | 23
3. A Política de Saúde Mental Brasileira | 43
4. As Redes de Apoio Psicossocial (RAPS) e o Matriciamento 
em Saúde Mental: atuação, serviço e articulação | 57
5. Saúde mental e preconceito na sociedade | 75
6. Serviço Social e Política de Saúde Mental | 97
7. A desinstitucionalização e o serviços do Centro de 
Atenção Psicossocial (CAPS) como equipamento 
de saúde e assistência aos usuários | 111
8. Dependência Química e Saúde Mental | 129
9. Interdisciplinaridade: Articulação e Saúde Mental | 149
10. Família, Política Pública e Codependência | 163
Gabarito | 179
Referências | 189
Prezado(a) aluno(a),
Neste momento histórico, fomos surpreendidos pela pande-
mia da Covid-19 que trouxe inúmeros desafios e preocupações 
para o campo da saúde e para a sociedade, por se tratar de uma 
nova doença sem um tratamento específico que desafiou cien-
tistas a desenvolver ligeiramente vacinas para proteger a popu-
lação. Logo, constatou-se a sua eficácia e a relevância do Sis-
tema Único de Saúde - SUS em nosso país, beneficiando toda a 
população brasileira. Foi um período marcado pela necessidade 
do cuidado pessoal, higienização das mãos, uso de máscaras e 
do isolamento social, proporcionando um modo totalmente dife-
rente do que estávamos acostumados a relacionar-se. Tal modo 
que, nos reinventar foi a única opção, e nossos relacionamentos 
Carta ao Aluno
– 6 –
Saúde Mental e Serviço Social
tornou-se por meio do uso de celulares, internet e etc. Frente a essa reali-
dade, o campo da saúde mental também precisou ser revisto na sociedade, 
conduzindo a novos desafios, uma vez que elevou-se o aumento de casos 
de pessoas em relação às questões da saúde mental. Tendo em vista esses 
fatos recentes, nunca se valorizou tanto o debate da importância da saúde 
mental como nos tempos atuais. Portanto, para esta leitura convidamos 
a conhecer o contexto sócio-histórico da saúde mental, o progresso e a 
implantação da Política de Saúde Mental no Brasil e a importância do 
Serviço Social inserido nesta política. Por meio de revisão bibliográfica 
e um intenso diálogo entre as áreas do Serviço Social e da Psicologia, 
construímos esse material com a finalidade de aproximar os(as) alunos(as) 
neste contexto. Almejamos contribuir para seu crescimento pessoal e inte-
lectual, possibilitando novas visões e pensamentos críticos sobre esta área 
da saúde tão pouco valorizada. É com muito entusiasmo e satisfação, 
caros leitores, que desejamos bons estudos!
Valorize a Saúde Mental!
Viva o SUS!
1
Processo histórico 
da saúde mental 
Analisar a historicidade do campo da saúde, de imediato, 
é instigante no nível do conhecimento para a humanidade. Era 
desse modo que as antigas sociedades, antes de Cristo, aduziam 
em seus ensinamentos da prática sobre cuidado com o bem-estar 
do ser humano, buscando alternativas para a cura e tratamentos 
com base em suas culturas e crenças.
Neste capítulo, buscamos contemplar temáticas pertinentes 
à saúde mental, trazendo características das antigas civilizações 
entre outros períodos como: Idade Média, Idade Moderna e Con-
temporânea. Faremos um breve resgate histórico na perspectiva 
da busca pelo saber do campo da saúde mental, desde as primiti-
vas formas do cuidar da mente até as lutas e enfrentamentos por 
um reconhecimento digno do cuidado humanizado sob a ótica da 
saúde mental no mundo.
Ao elucidarmos assuntos pertinentes que se referem a ques-
tões da insanidade, é implicada a compreensão sobre o contexto 
da loucura, da saúde, dos distúrbios mentais e a relação disso 
com as crenças e preconceitos. Afinal, esse conteúdo, sob a ótica 
Saúde Mental e Serviço Social
– 8 –
da atual sociedade, enfrenta muitos empecilhos, estereótipos, e a falta de 
compreensão da temática na coletividade. No entanto, além de complexo, 
é um elemento importante no contexto sócio-histórico da saúde.
Para adentrarmos nessa discussão, trazemos o significado da palavra 
saúde. Para o dicionário brasileiro da língua portuguesa, Michaelis, saúde 
é o “Estado do organismo com funções fisiológicas regulares e com carac-
terísticas estruturais normais e estáveis, levando-se em consideração a 
forma de vida e a fase do ciclo vital de cada ser ou indivíduo” e/ou estado 
de “bem-estar físico, psíquico e social” (s/p). A integralidade envolve a 
saúde, principalmente no que refere às condições socioeconômicas, cultu-
rais e ambientais.
Para Servalho (1993, p. 352), “A história das representações de saúde 
e doença foi sempre pautada pela inter-relação entre os corpos dos seres 
humanos e as coisas e os demais seres que os cercam”.
A humanidade busca por um viver salutar ininterrupto. No entanto, 
desde os primeiros povos antigos, a batalha por melhores condições de 
vida permeia até a contemporaneidade. Segundo Scliar (2007, p. 30), “O 
conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e cultu-
ral. Ou seja: saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas. 
Dependerá da época, do lugar, da classe social”.
Na antiga Mesopotâmia, por volta de 2000 a.C., o povo hebreu acre-
ditava que “a doença era sinal de desobediência ao mandamento divino’’. 
(SCLIAR, 2007, p. 30). Os primeiros livros bíblicos do antigo testamento 
exibem o modo como as primeiras sociedades da Mesopotâmia compreen-
diam as causas da loucura, sendo eles: os sumérios, os assírios, os egípcios 
e os babilônios.
O povo hebreu acreditava que “a doença não era necessariamente 
devida à ação de demônios, ou de maus espíritos, mas representava, de 
qualquer modo, um sinal da cólera divina, diante dos pecados humanos” 
(SCLIAR, 2007, p. 30).
Nos primeiros escritos bíblicos do antigo testamento, notamos 
vigorosamente a representatividade das leis divinas em relação às ações 
humanas, consideradas um pecado associado à doença, como no caso da 
– 9 –
Processo histórico da saúde mental 
hanseníase, popularmente conhecida como lepra. Segundo Moacyr Scliar 
(2007, p. 30):
O Levítico detém-se longamente na maneira de diagnosticar a 
lepra, mas não faz uma abordagem similar para o tratamento. Em 
primeiro lugar, porque tal tratamento não estava disponível; em 
segundo, porque a lepra podia ser doença.
Na civilização hebraica, a doença nem sempre foi foco de espíritos 
malignos. Eles consideravam, ainda, esse fenômeno, uma forma de puni-
ção divina ou comportamento pecaminoso do ser humano, pois era atra-
vés do contato físico com outra pessoa a forma de contágio. Todavia, era 
o caso da doença popularmente conhecida na época como “lepra”¹, por 
se tratar de uma doença contagiosa e sem recurso à cura naquele perí-
odo. A saber, para Sevalho (1993, p. 352): “Entre os povos sem escrita, 
a doença era vista como o resultado de influências de entidades sobre-
naturais, externas, contra as quais a vítima comum, o ser humano não 
iniciado, pouco ou nada podia fazer”. Além do entendimento das doenças 
ligadasao sobrenatural, expressavam suas crenças nos elementos da natu-
reza (ar, fogo, terra e água), correlacionando-as a motivos como os que 
expressavam sentimentos de culpa, medo, superstições, que envolvem os 
elementos citados, absolutamente associados à organização da natureza e 
ao modo de expressão de doenças, como ao fator de ocorrência de epide-
mias, dor e sofrimento, desgaste físico e mental, à visão da deterioração 
dos corpos e à perspectiva da morte (SERVALHO, 1993).
Considerando as informações sobre as doenças mentais nas primeiras 
civilizações, como foram apresentadas anteriormente, compreende-se que 
os povos primitivos também acreditavam no poder do sobrenatural con-
forme seus costumes sagrados ou mitológicos.
As antigas civilizações assemelhavam-se no que conduz a crer nas 
doenças como alvo do sobrenatural, entre o divino e a mente humana. Ape-
sar dos avanços do campo do conhecimento, elucidando os históricos das 
primeiras civilizações, ainda há procura de explicações ao que se refere à 
insanidade mental (CASTRO; LANDEIRA-FERNANDES, 2010).1
1 Conhecida atualmente como hanseníase. “Lepra” era considerada uma doença contagiosa 
crônica causada pelo Mycobacterium leprae, também conhecido como bacilo de Hansen. 
PINTO, Gabriel Hilu da Rocha. O estigma do pecado: a lepra durante a idade média. Re-
vista de Saúde coletiva Physis, Rio de Janeiro, Vol. 5, n. 1, p. 1-14, 1995. disponível em: 
https://doi.org/10.1590/S0103-73311995000100007. Acesso em: 06/07/2021.
Saúde Mental e Serviço Social
– 10 –
De acordo com Lewoy, Mendes e Silveira (2008), os povos primiti-
vos encontravam explicações para a desordem mental de um indivíduo ao 
acreditar que espíritos malignos habitavam os corpos, devido à alteração 
do comportamento.
Desse modo, no período neolítico, aproximadamente nos anos de 
7000 a.C. até 2500 a.C, conhecido, ainda, como período da Pedra Polida, 
surgem as primeiras configurações primitivas de sociedade que apontam 
a crença do homem pré-histórico no poder sobrenatural relacionado à 
saúde, bem como espíritos impuros e punição dos deuses diante de doen-
ças. Sendo assim, Valente [s.d] expõe “evidências de que os humanos 
do período neolítico acreditavam que a abertura de um buraco no crânio 
permitiria que o espírito maligno, que habitava a cabeça dos enfermos 
mentais fosse libertado, curando assim suas aflições”. Essas eram técnicas 
utilizadas no trato para fraturas no crânio, dores de cabeça, e outras enfer-
midades que acreditavam ser oriundas do sobrenatural.
Destacando a sociedade egípcia, que viveu aproximadamente 3100 
anos a.C. é demonstrado o conhecimento no campo da ciência. Nesse con-
texto, há evidências históricas sobre a humanidade em relação à saúde, 
sendo que o escrito mais antigo da palavra cérebro está em destaque em um 
papiro datado de 1700 a.C. (CASTRO; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2010).
Seus ensinamentos trouxeram benefícios para a sociedade naquele 
período, enriqueceram e contribuíram para a área do conhecimento e para 
a saúde com métodos e técnicas que foram aprimorados, perpassando 
séculos, sendo reconhecidos pela medicina nos dias atuais. Do mesmo 
modo, acreditavam, ainda, que, o coração, e não o cérebro, era responsá-
vel pelas emoções. Para esse povo, o coração era o centro do organismo, 
sendo, assim, o órgão que estaria ligado ao sistema nervoso central.
As técnicas e habilidades ligadas à medicina, e também a cura men-
tal, eram condicionadas às suas crenças em deuses e deusas e no misti-
cismo. Castro e Landeira-Fernandez (2010, p. 145):
“Deve-se reconhecer, entretanto, que os antigos egípcios demons-
traram também a preocupação em descrever algumas doenças de 
forma exclusivamente racional. Por exemplo, um papiro médico 
datado de cerca de 1500 a.C (papiro de Ebers) contém a descrição 
– 11 –
Processo histórico da saúde mental 
de um transtorno emocional que seria mais tarde denominado de 
histeria2 na Grécia Antiga”.
Os egípcios contribuíram para a medicina de modo geral, mas ainda 
na mesma condição de acreditar que algumas doenças eram associadas a 
encantos e efeitos de feitiçaria. Acreditavam que espíritos entravam nas 
pessoas através de seus orifícios como, por exemplo, nariz, boca e ouvido. 
Ao mesmo tempo, acreditavam na cura mental sob a conexão do transcen-
dente e do tratamento terapêutico. Os egípcios, a partir do conhecimento, 
conseguiram pôr em prática as suas crenças para tratar ferimentos físicos 
e mentais, tornando-se exemplo no tratamento da alma e do corpo, con-
forme destacam Silva e Rufino (2017).
Nesse sentido, os estudos no campo da saúde mental advindos das 
antigas civilizações contribuíram para o despertar da área do conheci-
mento e estudos contínuos nessa seara. Ressaltamos, ainda, uma impor-
tante civilização que se destacou na antiguidade ao originar saberes no 
campo biológico e apresentar diferentes formas de reflexões sobre o corpo 
e a mente, a Grécia. Para os gregos, a loucura era privilégio, sendo reco-
nhecida como forma de manifestação e expressão dos deuses. Em contra-
partida, para outras sociedades, a doença mental também era vista como 
causa de possessões diabólicas ou feitiçaria.
A partir das reflexões de Sócrates e Platão, que pontuaram sobre a 
existência de uma forma de loucura, utilizando inclusive a palavra manikê 
para caracterizar o que é relativo ao divino e ao delírio, esses filósofos 
percebiam que “era através do delírio que alguns privilegiados podiam ter 
acesso a verdades divinas”. (BRAGA; SILVEIRA (2005, p. 592).
Dessa forma, a civilização Indiana que viveu no período de 3300 a.C. 
também observa o corpo filosófico-religioso intensamente complexo, ao 
modo que os conceitos sobre a mente, corpo e universo se misturavam. 
2 O termo “histeria” é derivado da palavra grega hystera e significa matriz. No atual Manual 
de Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10, a histeria é cita-
da na categoria dos transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes, mais 
especificamente na subcategoria transtornos dissociativos (ou conversivos). BELINTANI, 
Giovani. Histeria. Psic, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 56-69, dez. 2003. Disponível em <http://
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-73142003000200008&lng=
pt&nrm=iso>. Acesso em 08 jul. 2021.
Saúde Mental e Serviço Social
– 12 –
Essa civilização, sendo uma das mais antigas, também trouxe para área 
do conhecimento as suas técnicas desenvolvidas sobre teorias da mente, 
estrutura e função do sistema nervoso, além das funções do cérebro (CAS-
TRO; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2010).
A civilização Chinesa (2200 a.C.) também ofertou seu conhecimento 
e cultura à humanidade de forma semelhante a outras sociedades anti-
gas. Ela considerava o cérebro um órgão peculiar, denominado “mar da 
medula” (CASTRO; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2010).
É evidente que os transtornos mentais não passaram despercebidos 
pelas antigas sociedades. Assim como é irrefutável a influência ideoló-
gica e religiosa do entendimento dos conceitos de saúde/doença mental 
nesta sociedade. Dessa forma, devemos admitir a grande contribuição des-
ses pensamentos para a visão mais humanizada de pessoas portadoras de 
transtorno nos dias de hoje, uma vez que, como divindades, eram vistas de 
forma positiva e passíveis de relações.
Ao adentrar na Idade Média, aproximadamente 500-1500 d.C., e ana-
lisar sua conjuntura no campo da saúde, percebe-se a escalada do regime 
feudal nesse período devido à queda do Império Romano. Conforme Car-
los Batistella (2007), fica evidente a redução da cultura urbana e a deca-
dência da organização e práticas de saúde pública. Esse período ainda traz 
consigo a marca da tradição médico-grego-romana, inúmeras epidemias 
e pestes, que trouxeram sofrimento à população, principalmente aos que 
viviam na pobreza. Apresenta-se, nessa época, fortes registros do poder da 
igreja-cristianismo e a junção entre doença e pecado.
Assim como nas primeiras antigas sociedades, a Idade Média denotasimilarmente as crenças divinas, ou seja, as doenças eram entendidas 
como expiação dos pecados, possessão do demônio. Segundo Batistella 
(2007, p. 34), “Como este mundo representava apenas uma passagem 
para purificação da alma, as doenças passaram a ser entendidas como 
castigo de Deus”.
A percepção da igreja, naquele período, diante das questões relacio-
nadas às doenças, considerava-as como repreensão de Deus à humanidade 
ou causa do sobrenatural. Da mesma forma, eram julgados os indivíduos 
que sofriam com transtornos mentais.
– 13 –
Processo histórico da saúde mental 
Ao analisar o contexto desse período, marcado por forte influências 
da igreja católica, Millani e Castro Valente (2008, p. 3) destacam que:
Nos tempos da inquisição, a loucura foi entendida como manifesta-
ção do sobrenatural, demoníaca e até satânica, e classificada como 
expressão de bruxaria cujo tratamento caracterizou-se pela perse-
guição aos seus portadores, tal como se praticava com os hereges.
Dessa forma, as premissas exigidas pelo poder da igreja, no que tange 
às condutas médicas, deixam de ser realizadas pela fundamentação da 
medicina como medidas terapêuticas, in loco a igreja assume suas ações 
do cristianismo, bem como, descreve Batistella (2007, p. 34): “rezas, peni-
tências, invocações aos santos, exorcismo, unções ou outros procedimen-
tos para purificação da alma [...]”.
As circunstâncias desse período foram marcadas pela rigidez, exclu-
são social, pré-julgamentos e olhares opressores ao indivíduo em sofri-
mento mental, até mesmo sob a ótica da própria família, que se posicionava 
de forma a desqualificar o indivíduo de sua linhagem familiar, devido ao 
tamanho estigma lançado pela sociedade. Do mesmo modo, o seio fami-
liar apresentou dificuldades nas relações, tendo em vista o reflexo da ins-
tabilidade. Esses indivíduos enfrentaram a exclusão social e a fragilidade 
dos vínculos parentais, sendo a causa a doença mental. Os seios familiares 
que mantinham pessoas consideradas em sofrimento mental não escon-
diam a vergonha. Sendo assim, abandonavam essas pessoas pelas ruas, 
sem as mínimas condições sociais (VALENTE, [s.d.]).
Assim, homens e mulheres excluídos da sociedade e estigmatizados 
passam a viver confinados em grandes asilos, leprosários, e hospitais des-
tinados a pessoas com outros tipos de doenças. As instituições conhecidas 
popularmente como leprosários, na época, eram instituições que acolhiam 
pessoas contaminadas pela doença da lepra e outras excluídas da socie-
dade. Para Michel Foucault (1972, p. 7), “A partir da alta Idade Média, 
e até o final das Cruzadas3, os leprosários tinham multiplicado por toda a 
superfície da Europa suas cidades malditas”.
3 As Cruzadas foram todas as expedições militares organizadas pela Igreja Católica que 
aconteceram entre os séculos XI e XIII. O objetivo dessas expedições era conquistar a cha-
mada Terra Santa (modo como os cristãos referem-se à Palestina) para que fossem criados 
reinos cristãos na região.
Saúde Mental e Serviço Social
– 14 –
As adversidades sofridas pelos doentes mentais, mediante uma socie-
dade movida pela dominação da igreja católica e da classe burguesa, inci-
tavam situações desumanas e vexatórias de exposição do sujeito. A res-
peito dessa conjuntura, Michel Foucault (1972, p. 15-16) expressa que:
Assim é que o acesso às igrejas é proibido aos loucos, enquanto o 
direito eclesiástico não lhes proíbe o uso dos sacramentos. A Igreja 
não aplica sanções contra um sacerdote que se torna insano; mas 
em Nuremberg, em 1421, um padre louco é expulso com uma par-
ticular solenidade, como se a impureza se acentuasse pelo caráter 
sacro da personagem, e a cidade retira de seu orçamento o dinheiro 
que devia servir-lhe de viático. Acontecia de alguns loucos serem 
chicoteados publicamente, e que no decorrer de uma espécie de 
jogo eles fossem a seguir perseguidos numa corrida simulada e 
escorraçados da cidade a bastonadas.
Por sua vez, cidadãos considerados loucos inseridos em leprosários 
e asilos eram considerados, para a sociedade, ‘violentos’. Eram acorren-
tados e a alguns era permitida a saída dessas instituições, porém, esta-
vam condicionados a permanecer nas ruas, sujeitos à fome e ao relento 
(FOUCAULT, 1972).
Na literatura europeia do período Renascentista, entre os séculos XV 
e XVI, os indivíduos considerados loucos eram atirados rio abaixo, como 
cargas insanas em embarcações que recebiam o nome de Nau dos Loucos4. 
Essa conotação surge na literatura europeia em uma obra ficcional do 
século XVI. As Naus de Loucos expressam exatamente a fragilidade da 
população considerada insana nesse período a partir de práticas desuma-
nas, arbitrárias e de exclusão social. Elas existiram nas sociedades euro-
peias dos séculos XIV, XV e XVI (JABERT, 2001). Essa práxis utilizada 
não era universal, pois havia cidades desse período em que eram organiza-
dos donativos e pessoas comprometidas mentalmente eram acolhidas para 
prestar auxílio em necessidades básicas.
4 A Nau de Loucos era um tipo de obra ficcional vinculada a uma tradição literária herdeira do 
ciclo dos argonautas, que fora revivido pelos escritores renascentistas. JABERT. Alexander. 
DA NAU DOS LOUCOS AO TREM DE DOIDO: As formas de administração da loucura 
na Primeira República – o caso do estado do Espírito Santo. (Tese Mestrado em Saúde Pú-
blica) - Fundação Oswaldo Cruz , FIOCRUZ, Rio de Janeiro, 2001, p. 1-153.Disponível em: 
<http://https://teses.icict.fiocruz.br/pdf/jabertam.pdf. Acessado em 23/06/2021
– 15 –
Processo histórico da saúde mental 
Na Europa, buscou-se reorganizar os serviços de assistência após o 
início do desenvolvimento das cidades e a partir do contágio da lepra, uma 
vez que todo amparo social foi destinado aos leprosários. Esta organiza-
ção passou a influenciar de modo hegemônico a forma de encarceramento 
e isolamento das pessoas em sofrimento mental, popularmente conhecidas 
como insanas. Inicia-se, nesse período, o modelo de internação para essas 
pessoas, o que anteriormente era destinado apenas à população leprosa. 
Conforme aponta Jabert (2001, p. 8):
Gradualmente os loucos passaram a ser recolhidos nas grandes 
casas de internamento, destinadas anteriormente ao isolamento e 
à exclusão social dos leprosos. Para Foucault, o ano de 1656 pode 
servir de referência para essa reorganização da assistência pública.
A Revolução Burguesa, no início do século XVI, também apresenta 
influências para o campo da saúde mental. A medicina passa a dedicar-se, 
em síntese, às doenças mentais. A saber, o médico Johan Weyer foi quem 
tentou desmistificar a crença em bruxaria, possessões demoníacas como 
causas de transtornos mentais, passando a ter um olhar crítico sustentando 
que a pessoa fora de si tem uma doença (FERREIRA et al., 2016). Além 
disso, nessa época, inserem-se nesse contexto outras opções de alojamento 
para o cuidado e atenção às necessidades básicas dos menos favorecidos e 
mentalmente debilitados, as chamadas Casas de trabalho. Esses alojamen-
tos, em paróquias ligadas à igreja, atendiam os mais pobres e aqueles em 
sofrimento mental em troca de trabalho.
A dinâmica das casas de trabalho não foi capaz de atender toda a 
população com sofrimento mental, sendo necessário estender esses aten-
dimentos para a abertura de asilos. O asilo, lugar de liberação dos alie-
nados, transformou-se no maior e mais violento espaço da exclusão, de 
sonegação e mortificação das subjetividades. Não ofereciam as mínimas 
condições para atender de forma humanizada essa demanda. Sabe-se, 
ainda, que não era ofertado conforto ou a mínima dignidade, os asilos eram 
verdadeiros aprisionamentos e cárcere, incluindo, além de pessoas debi-
litadas mentalmente, pessoas com outros tipos de doenças, criminosos, 
entre outros, que, segundo a sociedade, eram marginalizados. (MILLANI; 
VALENTE, 2008).
Saúde Mental e Serviço Social
– 16 –
Entendemos, então, que essas primeiras instituições não estariam 
preparadas para o atendimento dosindivíduos considerados “loucos”, 
uma vez que essas casas e asilos aprisionavam e condicionavam essas 
pessoas a cárcere privado.
A condição exposta para o cuidado com os loucos nas primeiras ins-
tituições tinha a característica de cárcere privado, onde eram aprisionadas 
as pessoas em vulnerabilidade social e doentes mentais. Logo, no século 
XVIII, no advento do capitalismo, marcado pelo cenário da Revolução 
Francesa e Industrial, o indivíduo rotulado como “louco” não pertencia a 
esse espaço. Para aquela sociedade, essa pessoa não possuía a racionali-
dade exigida, portanto, passava a ser excluída (FOUCAULT, 1972).
Para Amarante (1995, p. 491):
No contexto da Revolução Francesa, com o lema “Liberdade, 
Igualdade e Fraternidade”, o alienismo veio sugerir uma possí-
vel solução para a condição civil e política dos alienados que não 
poderiam gozar igualmente dos direitos de cidadania, mas que, 
também, para não contradizer aqueles mesmos lemas, não pode-
riam ser simplesmente excluídos.
Em 1652, em Paris, é registrado o decreto que fundou o primeiro 
Hospital Geral, uma forma administrativa de reorganizar as relações da 
sociedade francesa com os excluídos sem classificação, ou seja, eram 
inseridos nessa instituição os considerados pela sociedade da época como: 
criminosos, “mendigos”, “loucos” e os mais pobres (FREITAS, 2004).
Sendo assim, outros hospitais gerais construídos eram, em síntese, 
estabelecimentos de internamento que se dispunham a resolver a questão 
do tempo ocioso do indivíduo para os considerados desocupados, que 
eram retirados das ruas como forma higienista. Desse modo, quando o 
indivíduo estivesse internado na instituição, e para evitar a ociosidade, 
deveriam ser submetidos a um regime de trabalho dentro do próprio 
espaço asilar (JABERT, 2001).
Em seguida, Souza e Valeirão (2016, p. 12) discorrem sobre o con-
texto expondo que: “em poucas palavras, o confinamento tinha mais a ver 
com o problema econômico do desemprego, da inatividade e da mendi-
cância, em síntese, da moralidade burguesa”. As pessoas em sofrimento 
– 17 –
Processo histórico da saúde mental 
mental, sujeitas a internamento, e que apresentavam condições de cura, 
foram submetidas ao tratamento na França no Hotel-Dieu (Albergue de 
Deus) e em Londres, no Bethleen. Segundo Millani e Castro (2008), por 
meio de banhos, sangrias e purgações em busca de cura.
Contudo, no Hotel-Dieu, as pessoas inseridas para internamento eram 
separadas em alas, feminina e masculina. No entanto, eram abrigadas de 
forma inadequada, com pouco espaço físico e condições sub-humanas, 
sendo obrigadas a manter-se aglomeradas. Dentro deste mínimo espaço, 
institucionalizou-se esses indivíduos tratados como loucos, tornando-os 
um mundo à parte, privando-os do acesso à liberdade e às relações exte-
riores. Valente (s.d) ressalta que, para os doentes considerados perigosos 
e difíceis, eram oferecidas drogas e, muitas vezes, os funcionários utiliza-
vam camisas de força e repressão para conter o indivíduo.
Com a revolução burguesa na Europa, entre os anos de 1640 e 1850, 
aparecem também as crises políticas e econômicas. Para Millani e Valente 
(2008), nesse contexto, destaca-se que:
Com a revolução burguesa e o surgimento de crises políticas, entre-
tanto, o internamento sofreu mudanças e passou a ser visto como 
medida econômica inviável, Pois, além da crítica política, com a 
crise econômica e a miséria, a sociedade acreditava que quanto 
menos numerosa uma população, mais pobre ela se tornaria, já que 
a produção seria mais escassa (p. 8).
Esse momento foi marcado pela crise política, econômica e a miséria, 
caracterizou-se, ainda, pelo modo de acumulação de capital, visto que, 
valores, associados à mentalidade da era moderna, são fundamentados no 
trabalho e no capital (VIETTA; KODATO; FURLAN, 2001). Refletindo 
a partir dessa perspectiva, para a economia, incluir pessoas ao interna-
mento era um processo desfavorável. Os mais pobres passaram a ser inse-
ridos nesse contexto por questões econômicas, uma vez que já haviam 
sido excluídos da sociedade. Sendo assim, ser mantido em regime fechado 
cabia àqueles que apresentavam perigo e risco à sociedade (MILLANI; 
VALENTE, 2008).
Diante da contextualização, foi necessário repensar as políticas 
públicas e sociais sob a perspectiva da saúde mental. Logo, as refor-
Saúde Mental e Serviço Social
– 18 –
mas políticas e sociais iniciaram no final do século XVIII, sobretudo no 
século XIX, trazendo novos olhares sob o ponto de vista do sofrimento 
mental. A área da psiquiatria elaborou uma nova explicação para a lou-
cura e a responsabilidade no trato com doença mental passa a ser da medi-
cina na sua essência. Destacamos que, em 1792, na Inglaterra, foi fundado 
um ‘hospício’ na cidade de York, com o intuito de prestar atendimento 
humanitário e religioso às pessoas em sofrimento mental. Entretanto, o 
modelo de reforma, de fato, começaria em Paris, com os estudos do Dr. 
Philippe Pinel, conhecido como ‘pai da psiquiatria’, médico, e desenvol-
vedor da tese de que pessoas psicologicamente enfermas precisariam de 
cuidados gentis para melhorar suas condições de saúde mental, ao contrá-
rio da recorrente violência (VALENTE, [s.d.]).
Pinel foi pioneiro no tratamento de pessoas com enfermidades men-
tais. Em 1786, passou a atender essa população. De acordo com Millani 
e Castro (2008), ele foi médico no asilo de Bicêtre, quando esse local era 
destinado ao tratamento de transtornos mentais do sexo masculino, e na 
cidade de Salpêtriêrie, em um asilo feminino.
De fato, observamos as grandes mudanças oriundas do início da 
reforma da saúde mental. Ademais, o tratamento de Pinel deslocou-se por 
apresentar outro olhar diante das causas mentais. Passou a basear-se em 
medidas humanitárias em prol dos doentes. Utilizou-se de estudos e obser-
vações para desvincular o tratamento repressor e comum a outros doentes. 
E, conforme destacam Millani e Castro (2008, p.10):
Dessa forma, os transtornos mentais foram considerados como resul-
tado das tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditárias 
ou, ainda originadas de acidentes físicos, desprezando a crendice popular 
de que fossem resultado de possessão demoníaca.
Nesse novo olhar, constitui-se o início do rompimento com a aliena-
ção, a partir do pressuposto de que há outros tipos de sintomas e sofrimen-
tos mentais, bem como alucinações e psicoses, obtendo novas análises e 
formas de tratamento para o indivíduo. Assim, é introduzido o papel da 
terapia como forma de contato próximo com o doente mental. Em contra-
– 19 –
Processo histórico da saúde mental 
partida, o asilo teve a função homogênea sob o desejo da classe burguesa, 
conforme aponta Millani e Castro (2008):
Por outro lado, a principal função do asilo era homogeneizar a 
sociedade em nome da vontade burguesa como apenas um local de 
repressão, condenação, julgamento dos indivíduos, portanto, sem 
nenhuma prática terapêutica, sua atuação deve ser ressaltada, pois 
foi em torno do tratamento moral como núcleo da nova prática e do 
novo saber que seu trabalho foi valorizado (p. 10).
A chegada da família real no Brasil deixou registros na história da 
saúde mental. De uma forma repressora e preconceituosa, os conside-
rados ‘loucos’, ou que apresentassem comportamentos agressivos, não 
eram mais permitidos circulando pelas ruas, principalmente aqueles em 
situação socioeconômica de extrema pobreza. Essas pessoas eram enca-
minhadas aos porões das Santas Casas de Misericórdia, onde permane-
ciam amarradas e vivendo sob péssimas condições de higiene e cuidados 
(OKA; SANTOS E COSTA, 2019).
No Brasil, há, nesse período, os primeiros registros da história da 
saúde mental, como o decreto que criou o primeiro hospício em 1841, 
nomeado “O Hospício de Pedro II”, além da instauração do regime repu-
blicano em 1889, quando o Hospício de Pedro II, antes administrado pela 
Santa Casa de Misericórdia, foi estatizado e passou a contar com uma 
direçãoexclusivamente médica conforme explica Jabert (2001).
Durante e após a Segunda Guerra Mundial, inicia-se o cenário que 
receberia os movimentos reformistas na contemporaneidade. Começam 
a surgir questionamentos quanto ao modelo hospitalocêntrico, seguido 
do diálogo para a transformação desse modelo para adesão da humani-
zação. Ocorreram tentativas de transformar ou extinguir os hospícios. 
Esse momento evolui para o retorno do crescimento econômico e rear-
ranjo social, período de movimentos sociais, intolerâncias com as dife-
renças de classes e que traz à tona, conforme destacado, o diálogo para 
a mudanças de formato do tratamento pacientes com transtornos mentais 
em hospitais psiquiátricos. Esse diálogo é intensificado de acordo com 
as manifestações sociopolíticas de cada país e de seu sistema sanitário. 
Saúde Mental e Serviço Social
– 20 –
Já os argumentos médicos contemporâneos revelam que o método moral 
utilizado anteriormente não era funcional como parecia ser estabelecido 
no tratamento com o doente mental em isolamento. Conforme exposto por 
Millani e Castro (2008, p. 12):
O tratamento moral é visto como “Tudo o que possa agir sobre o 
cérebro, direta ou indiretamente, e modificar nosso ser pensante, 
tudo o que possa dominar e dirigir as paixões, será objeto do tra-
tamento moral.
No decurso do século XX, os psiquiatras passaram a pesquisar e 
buscar explicações ao que se refere às desordens do comportamento do 
indivíduo a partir do relato de resultados referentes a conceitos e méto-
dos essenciais ao tratamento das doenças físicas e mentais. Salientamos, 
ainda, que, nesse período contemporâneo, Sigmund Freud contribuiu com 
suas reflexões e análises diante da conjuntura apresentada. Ele transferiu 
seus pensamentos sobre a ação moral no campo da saúde mental.
Acerca das contribuições para a saúde mental, Freud teve um extenso 
currículo e piedade para fomentar o assunto. Além de médico neurologista, 
o austríaco, no período de 1856 a 1939, foi o protagonista da psicanálise5 e 
da psicologia social. Aos 17 anos de idade, ele ingressou na universidade 
de medicina e foi pesquisador no campo da histologia do sistema nervoso 
no período de 1876 a 1882. Trabalhou em uma clínica neurológica para 
crianças e, devido ao seu trabalho nessa área, destacou-se por descobrir 
um tipo de paralisia cerebral. Em 1885, obteve o mestrado em neuropa-
tologia. No ano de 1897, passou a estudar a natureza sexual dos traumas 
infantis. Ele foi, portanto, o precursor nas perspectivas para o desenvolvi-
mento da psicanálise (FRAZÃO, 2020).
Face ao processo sócio-histórico da saúde mental no mundo, desde 
as antigas civilizações e perpassando pela Idade Média e Moderna, 
5 O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, método de investigação 
e a uma prática profissional (KOBORI, 2013).
– 21 –
Processo histórico da saúde mental 
foram trazidas contribuições no campo da saúde que abriram brechas 
para desvelar estudos científicos a fim de aprimorar conceitos sobre o 
sofrimento mental, desmistificando a figura do indivíduo como o sujeito 
‘louco’ na sociedade.
Ao refletir acerca da saúde mental enquanto doença, abordaremos 
novos olhares para reformulações sobre o cuidado à pessoa em sofri-
mento mental na atualidade. Neste recorte, abordaremos a importância da 
Reforma Psiquiátrica no Brasil, um movimento iniciado há, aproximada-
mente, 30 anos atrás, que visa a compreensão do processo sociopolítico 
de direito na sociedade, bem como a desinstitucionalização, o cuidado e o 
tratamento humanizado ao paciente com doença mental.
O conteúdo deste capítulo teve como finalidade aproximar o conheci-
mento sócio-histórico do processo da saúde mental. Compreende-se que o 
cuidado, a inclusão, o acolhimento, a cidadania e a superação das práticas 
de opressão às pessoas com transtorno mental propõem uma reflexão sobre 
o respeito diante da pessoa na sua individualidade e no contexto social.
Atividades
1. Qual era a interpretação das antigas civilizações referente ao com-
portamento do indivíduo em relação às doenças mentais?
2. Na Idade Média, a influência da igreja teve fortes influências no 
campo da saúde. Quais eram as características desse período a res-
peito dos cuidados com as pessoas em sofrimento mental?
3. Qual era a função do Hospital Geral na sociedade?
4. Qual a relação dos conceitos pré-existentes sobre o olhar da 
saúde mental no período histórico? E quais fragmentos restam 
na atual sociedade?
2
Reforma psiquiátrica 
Contexto da reforma psiquiátrica no Brasil e seus avanços 
na sociedade.
2.1 Introdução sobre a 
reforma psiquiátrica
Antes de adentrar o tema propriamente dito, faz-se neces-
sária uma breve incursão histórica para que tenhamos a compre-
ensão das condições políticas, econômicas, sociais e religiosas 
que serviram como pano de fundo para a convivência da socie-
dade com os portadores de doenças mentais ou psicológicas no 
passado, bem como os motivos que ensejaram a reforma, cujo 
significado está indelevelmente atrelado à mudança, transfor-
mação, evolução.
Saúde Mental e Serviço Social
– 24 –
A loucura sempre teve no mundo um lugar de mistério e de dúvida 
em relação ao seu pertencimento.
Como em qualquer ramo do saber, das correntes de pensamento e 
da evolução da própria ciência, os distúrbios mentais, os métodos de sua 
observação e tratamento também sofreram agudas modificações ao longo 
das eras e séculos.
Da mesma forma, a saúde mental nem sempre foi assim denominada. 
Existiam, antigamente, os insanos, qualificados como os anormais, lou-
cos, transtornados e, depois, os alienados.
As enfermidades mentais estiveram, durante a história da civilização 
ocidental, pelo menos, impregnadas dos valores sociais, antropológicos e 
éticos vigorantes em determinados períodos temporais e espaciais. Por-
tanto, o seu conceito não está imune a essas mutações.
Por exemplo, sabemos que, na Idade Média, que vai do século V até o 
século XV, o ocidente vivia sob o predomínio da religião que tudo liderava, 
inclusive o Estado. Deus e natureza eram as coisas de que se tinha conhe-
cimento, por isso, embasavam o comportamento e a observação dos grupos 
que compunham a civilização à época (MARVIN, 2002, p. 153-154).
A insanidade era vista como uma expressão da natureza. Sendo assim, 
aquelas pessoas, de qualquer sexo ou idade, que tivessem manifestações 
de discursos delirantes ou expressões fora de algo comum, passavam a 
ser excluídas e não pertencentes. Isso abrangia a modalidade de loucura, 
na qual eram intituladas de “bruxarias” as atitudes que contrariassem os 
postulados impostos pelo catolicismo, o que também caracterizou a Idade 
das Trevas como era de perseguição e inquisição aos que revelassem pos-
sessão por espíritos malignos.
O isolamento dos “doentes” era tido como a única maneira de sal-
vaguardar a sociedade de seus arroubos e comportamentos endemonia-
dos. Assim, por todo esse tempo, os estabelecimentos que os recolhiam 
eram, em tudo, semelhantes às prisões e masmorras, em condições 
sub-humanas, em que eram tratados como verdadeiras “bestas enfure-
cidas”, sujas, mal alimentadas e acorrentadas. O tratamento incluía a 
segregação, a privação e a restrição, para que fosse obtido bom compor-
tamento (CUNHA, S. d., p. 341).
– 25 –
Reforma psiquiátrica 
Não era raro, nos primórdios dessa era, antes de serem instalados os 
primeiros hospitais psiquiátricos, que os familiares de pessoas tidas como 
“loucas” escondessem essa condição de toda a sociedade para evitar ver-
gonha e humilhação, por vezes, escondendo-os em seus sótãos e porões, 
ou mesmo deixando-os vagar pelas ruas como andarilhos.
Como consequência desses fatos e atos, o doente que apresentasse com-
portamento disconforme com os padrões sociais e fosse caracterizado como 
demente seria para sempre banido e exilado do convívio com os demais. 
Essa característica de exclusão vigorou por muitos e muitos anos. Aliás, a 
palavra “demente”, que foi popularizada a partirde então, expressa, em sua 
origem latina, a circunstância de “fora ou afastado da mente”.
Tratava-se do isolamento com toda a sua força representado pelos 
leprosários, depois pelos abrigos e asilos, antes mesmo do apareci-
mento dos nosocômios (estabelecimento hospitalar para retiro dos lou-
cos) ou hospícios.
Esse estigma foi tão intenso e tão interligado com os dogmas e sím-
bolos religiosos que os doentes mentais, em qualquer medida ou expres-
são, foram incompreendidos e considerados párias por muito tempo, pois 
a visão de mundo, seja dos cientistas, seja dos filósofos, não permitiria a 
compreensão ou o trato mais humanizado.
Não se pode responsabilizar ou culpar os atores desse cenário então 
posto, que agiam de acordo com os parâmetros de racionalidade conheci-
dos e vigentes, isto é, somente com a evolução dos conhecimentos cientí-
ficos, psiquiátricos, psicológicos e até mesmo éticos o panorama poderia 
ser modificado.
Sob forte influência do racionalismo1 (ARRUDA; PIRES, 2003, p. 134) 
e do iluminismo2 (PERRY, 2002, p. 314), uma centelha de alteração no conhe-
cimento e na abordagem das doenças mentais foi se instalando.
1 Corrente que se inicia por volta do Século XVII como sistema de pensamento e conheci-
mento dos fenômenos, limitando o ser humano ao âmbito da razão.
2 Iluminismo ou renascimento, época histórica de novas perspectivas científicas, po-
líticas e filosóficas, instaurada no Século XVIII, onde é afirmada a capacidade do ser 
humano em pensar de maneira independente da autoridade, livrando-o das amarras da 
ignorância e superstição.
Saúde Mental e Serviço Social
– 26 –
Até quase o final do século XVIII, pela visão mercantilista, em que 
pessoas trazem lucro, progresso, e pessoas “loucas” não os trazem, man-
tém-se ainda mais a visão isolacionista.
O marco apontado como divisor de águas em torno do assunto vem 
com o movimento iniciado por Phillippe Pinel (1745-1826), propondo 
alguma mudança de rumo:
“É com a reforma psiquiátrica de sua inspiração que o tratamento 
dos alienados segue outro rumo. Em 1794, Pinel inicia o movi-
mento “no-restraint”, em que ele retira as correntes dos alienados 
em Paris. Assim, começa a contestar as terríveis condições dos 
manicômios (Pessotti, 1996).” (TOCCHETTO; BOHMGAHREN, 
2007) (grifo nosso, significa “não encarcerar”)3
O estudioso é chamado “fundador da clínica psiquiátrica”. Suas teo-
rias eram muito avançadas para a época, portanto, nem sempre tiveram 
plena aceitação. Isso porque, com seus métodos, contrapunha-se aos valo-
res anteriormente adotados para tratamento dos “alienados”, absorvendo 
os ideais igualitários da Revolução Francesa, fazendo com que se per-
mitisse aos loucos a incorporação à nascente sociedade burguesa (LOU-
REIRO, 2019).
Pode-se dizer que o médico, em seu tratado sobre a alienação men-
tal, inaugurou o saber psiquiátrico com a análise da institucionalização da 
loucura, revelando uma outra face, a possibilidade da emergência de um 
saber, a partir do individual que se confunde com formas de existência. 
Até o advento de Pinel, a chamada loucura era perceptível pelo método 
explicativo. Confundia-se a própria observação com os fenômenos, orde-
nando-os e classificando-os em função de suas analogias e diferenças, 
recebendo, com isso, o nome que lhes dava a ciência. Daí para frente, o 
psiquiatra francês estabeleceu uma distância metodológica entre obser-
vação e explicação, constituindo a clínica como um método consistente e 
sistemático (SOUZA, 2000).
Há, por consequência, com esse movimento, uma evolução evidente 
no trato ou mesmo na observação e convivência do científico com a saúde 
mental, pois, apesar da categorização e agrupamento segundo semelhan-
3 Michaelis. Dicionário Escolar Inglês- Português. São Paulo: Melhoramentos, 2001, p. 248.
– 27 –
Reforma psiquiátrica 
ças e diferenças da realidade, já é possível antever uma visão individua-
lista do ser que, mesmo “louco”, pode pensar e falar. Tal individualismo 
encontra suas fontes em premissas cartesianas em torno da possibilidade 
da busca da verdade primeira, convertendo a dúvida em método, inaugu-
rando a corrente moderna de pensamento (DESCARTES, 2005) em subs-
tituição, por exemplo, ao nominalismo (SOUZA, 2015) em voga na Idade 
Média, quando todas as coisas e seres seriam particulares, inclusive as 
ideias, negando-se a existência dos “universais”.
Não obstante as contestações científicas resumidamente expostas, foi 
somente após a segunda guerra mundial (1939-1945) que se começou a 
ver a questão da loucura com algum viés de doença, tendo em vista o 
caminho aberto por Pinel.
Pinel, em 1793, já no final do século XVIII, inicia o movimento para 
que os loucos passassem a integrar novamente a sociedade. Reorganizou 
os espaços hospitalares, reformulando o atendimento que neles era pres-
tado, instituiu o tratamento moral, buscando recuperar esses indivíduos 
e, se isso não fosse possível, deveriam ser tutelados em condições espe-
ciais, forjando, além dos modelos espirituais e metafísicos da loucura, um 
espaço de atuação e atenção científica (TEIXEIRA, 2019).
Cite-se, ainda, como embrião da luta antimanicomial, que veio pos-
teriormente a se desenvolver com a pós-modernidade, Franco Basaglia 
(1924-1980), visto que o italiano se mobilizou como cientista e pensador 
no sentido da desinstitucionalização desses doentes.
Foi esse médico psiquiatra italiano que promoveu alterações profun-
das na maneira de tratar os pacientes, buscando, por todas as vias, garantir 
aos loucos a característica de indivíduos, que deveriam, desse modo, con-
tinuar pertencendo às famílias e à sociedade.
Em 1968, publicou o livro “A instituição negada” detalhando o seu 
método (FRANCO, 2009).
Feitos esses apontamentos, conclui-se que a herança clínica preva-
lente e que serviu durante muito tempo como referência institucional 
psicológico-psiquiátrica foi de enquadrar, digamos assim, a relação 
médico-paciente em uma classificação ou psicopatia já existente, um “a 
Saúde Mental e Serviço Social
– 28 –
priori”, sem considerar meio ambiente, condições sociais e econômicas, 
bem como características hereditárias, ou seja, verificação dos sintomas 
acompanhada somente por um receituário de medicamentos. Em outras 
palavras, diante dessa metodologia, tem-se a “forma” e busca-se pre-
encher o seu conteúdo com as evidências postas em foco pelo doente 
(KANT, 2003).4
Portanto, com a modernidade, período que sucede a Idade Média 
e se fortalece grandemente no século XVIII (MARIAS, 2004, p. 297), 
encontravam-se abertas as portas para a crescente humanização do tra-
tamento das chamadas doenças mentais na busca da saúde da mente de 
forma mais ampla.
Nesse sentido, iniciando-se na Europa e depois ratificando-se na 
América do Norte, a “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, 
oriunda da ONU, em 1948, no pós-guerra, normatizada nas constituições 
de diversos países, foi o solo fértil para o chamado “corte epistemológico” 
quanto ao tema, iniciando mudanças de paradigma observados pelos cien-
tistas médicos, psicólogos, assistentes sociais, antropólogos, entre outras 
áreas que hoje participam tanto do diagnóstico como do prognóstico na 
clínica psiquiátrica-psicológica multidisciplinar.
Diz-se que, para estabelecimento eficaz de novo paradigma, em qual-
quer ramo do conhecimento, opera-se a mudança que carrega em si ele-
mentos do saber passado, agregando a ele novos elementos desconhecidos 
ou não utilizados até então. Não é diferente no que concerne à reforma psi-
quiátrica. A equação entre liberdade da pessoa humana, tratamento justo, 
limpo, tal seja, em boas condições sanitárias, de higiene e humanitárias, 
aliada à terapêutica resultaram em inúmeras escolas e movimentos psi-
quiátricos nas últimas décadas, desencadeando o que viria a ser denomi-
nado, no mundo todo, de “Luta antimanicomial”, em complementação à 
reforma psiquiátrica que, como apontado, já é longeva.
4 Como já foi dito, as ciências biológicas, médicas e sociais tendema seguir as correntes 
filosóficas estabelecidas espacial e temporalmente, e, no caso, é muito fácil deduzir que o 
tratamento apriorístico está enraizado nas categorias kantianas, como foi mencionado no 
corpo do texto, a análise do doente e seu respectivo “enquadramento”, está dentro das 
classificações de doenças mentais conhecidas.
– 29 –
Reforma psiquiátrica 
2.2 A luta antimanicomial
Eram tão extremas as concepções universalmente aceitas no olhar 
e no tratamento dos doentes mentais, bem como o preconceito em torno 
da saúde psicológica ou emocional, que o termo luta, mesmo que forte, é 
adequado para descrever o movimento que se instalou em prol não só da 
humanização do cárcere a que eram submetidos os doentes, como também 
em desfavor das internações em manicômios e hospitais psiquiátricos.
Trata-se, portanto, de um movimento estabelecido primeiramente 
na Europa na metade do século XX, com mais força, trazendo uma crí-
tica severa à institucionalização dos doentes mentais e, ao mesmo tempo, 
propondo a humanização, a inclusão e a socialização alinhadas com as 
demais posologias (FERREIRA, 2016, p. 300)5 e terapias.
A discussão desses elementos travou-se em fóruns, encontros, even-
tos, slogans, marchas, passeatas para fechamento de abrigos específicos, 
ações de conselhos médicos e de psicologia etc. Aqui no Brasil, deve ser 
mencionada a obra de Paulo Amarante, em que é descrito o movimento 
nas décadas de 70 e 80, com análise e informações inclusive dos bastido-
res, tensões e divergências que marcaram a história da luta em nosso país 
(AMARANTE, 2020).
Cita-se, de forma exemplificativa, em 1976, a criação do Centro 
Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), o Movimento de Renovação 
Médica (REME), o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental, o V 
Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em outubro de 1978, a Conferência 
Nacional de Saúde Mental, o II Congresso Nacional do Movimento dos 
Trabalhadores de Saúde Mental, em 1993, o I Encontro Nacional da Luta 
Antimanicomial em Salvador, BA, e, já em 2003, a constituição da Rede 
Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial, entre outros (Lüchmann; 
Rodrigues, 2007).
Certamente, todas essas manifestações aconteceram dentro do con-
texto de abertura da sociedade para repugnar qualquer tipo de violência 
5 A posologia é um termo médico que significa medicação, preparado, produto químico ou 
farmacêutico, remédio.
Saúde Mental e Serviço Social
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que pudesse ser dirigida aos que não portassem saúde mental condizente 
com os parâmetros vigentes.
Destaca-se, também, que foi no século XX que se ampliaram os 
males ou as desordens de nível psicológico ou psiquiátrico, seja diante 
da dinâmica das relações sociais, econômicas e familiares que se altera-
ram em velocidade até então não vista, seja porque as pessoas passaram a 
transmitir – tornar público – o que ocorria nas suas mentes ou no interior 
dos seus lares (Andrade, 1999).
Por tais motivos, em que o cenário é tanto a revolução industrial 
quanto tecnológica e de ambiente, passaram a ser vistos ao revelar distúr-
bios em sua saúde mental também os portadores de depressão, síndromes 
ou condições referentes à alteração de humor e, o que até os séculos passa-
dos era improvável, os dependentes químicos, os alcoólatras e os adictos.
Trata-se de um processo, não um fato isolado e, por se tratar de um 
processo, não é estático, é um processo histórico que não se deu de uma 
hora para outra com alteração de paradigmas em busca da verdadeira cida-
dania para todos, inclusive para aqueles que estão em sofrimento psíquico, 
que, de forma alguma, poderiam obter melhoras se estivessem vivendo o 
caos da miséria humana.
De qualquer modo, o centro das controvérsias reside na liberdade 
“versus” clausura, com embasamento em diversas escolas e suas formu-
lações, cabendo citar o organodinamismo6 da escola francesa, a psiquia-
tria democrática italiana, o conceito de “transtorno mental”, que vem da 
psiquiatria americana, encimados pela temática da liberdade da pessoa 
humana que foi assumida para a saúde mental, a do constitucionalismo e 
6 Em 1946, no período pós Segunda Guerra Mundial, o “Colóquio de Bonneval”, rea-
lizado na França, contou com a Conferência de Henry Ey expondo sua teoria segundo 
a qual as funções psíquicas alteradas teriam origem em aspectos orgânicos, biológicos, 
infecciosos, endocrinológicos ou traumáticos, acreditando, por outro lado, na relação 
entre psiquismo e moral, o que seria denominado como “teoria da hierarquia estrutural”. 
Em Nassif, Lilian Erichsen. Origens e desenvolvimento da Psicopatologia do Trabalho 
na França (século XX): uma abordagem histórica. Memorandum: Memória e História 
em Psicologia, v. 8, 79-87. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/memo-
randum/article/view/6764.
– 31 –
Reforma psiquiátrica 
dos primados da liberação humana codificada em Declaração Universal da 
ONU (SOUZA, 2000).
Sendo assim, esse movimento enfrentou o dilema de que só a huma-
nização no tratamento não bastaria, tornando-se necessário banir a inter-
nação, o trancafiar, a exclusão em prol da liberdade.
A luta veio antes dos psiquiatras e psicólogos, significando desinsti-
tucionalizar ou deslocar o trato da saúde mental da instituição, hospital, 
hospício ou manicômio para comunidade. O termo desinstitucionalização 
significa mover o centro da atenção da instituição para a comunidade, 
distrito, território. Esse termo tem sua origem no movimento italiano de 
reforma psiquiátrica.
“Para Rotelli e colaboradores, o mal obscuro da psiquiatria está 
em haver separado um objeto fictício, a “ doença”, da “ existên-
cia global complexa e concreta” dos pacientes e do corpo social. 
Sobre esta separação artificial se constrói um conjunto de apa-
ratos científicos, legisladores, administrativos (precisamente a “ 
instituição”), todos referidos à “doença”. A desinstitucionaliza-
ção tem uma conotação muito mais ampla do que simplesmente 
deslocar o centro da atenção do hospício, do manicômio, para a 
comunidade. Enquanto este existir como realidade concreta, as 
ações perpassarão, necessariamente, por desmontar este aparato, 
mas não acabam aí. Para o autor acima referido e também ator do 
processo, é o conjunto que é necessário desmontar (desinstitucio-
nalizar) para o contato efetivo com o paciente na sua existência” 
doente”. (HIRDES, 2009)
Segundo as mesmas autoras, Rotelli e seus colaboradores evidenciaram 
que o problema não seria o de curar para obter uma vida produtiva, mas sim 
produzir vida no sentido da sociabilidade, da convivência, ou seja, deveriam 
ser diferenciadas, porque são diferentes quanto aos métodos e efeitos as 
categorias de desinstitucionalização: uma como desospitalização, e outra 
como desassistência ou mesmo como desconstrução, sendo que somente a 
compreensão dessas medidas poderia determinar a forma prática e teórica 
de lidar com a abertura do enclausuramento (HIRDES, 2009).
É muito interessante citar os desdobramentos ou noções que estão 
implicadas na desinstitucionalização ou na perspectiva de uma reforma 
psiquiátrica dessa natureza na modernidade e na pós-modernidade, ou 
Saúde Mental e Serviço Social
– 32 –
seja: i) a desinstitucionalização como desospitalização, que tem sua matriz 
nos projetos de psiquiatria preventiva e comunitária, surgida nos Estados 
Unidos no governo Kennedy, trazendo em seu bojo a redução dos custos 
dessa assistência aos cofres públicos; ii) a desinstitucionalização como 
desassistência, que significaria, em última análise, abandonar os doentes 
à própria sorte, variável aceita pelos grupos ultraconservadores e contrá-
rios aos direitos básicos de outros grupos minoritário; iii) a desinstitucio-
nalização como desconstrução, cuja tendência se apoia no que dissemos 
anteriormente em torno da crise epistemológica ao saber médico vigorante 
para a psiquiatria (HIRDES, 2009).
Como a luta ou movimento se instalou mundialmente, incluindo o 
Brasil, não temos como estabelecer um marcoinicial das controvérsias, 
difusas em territórios de diversas nações. Por outro lado, a própria socie-
dade se viu convidada a voltar seus olhos para o problema, incitada pela 
literatura e pelo cinema.
À semelhança do que ocorre com outros assuntos que necessitam, 
para a sua verossimilhança e aceitação, uma boa carga de divulgação 
para que a mensagem chegue aos receptores sociais, a inteligência e a 
classe artística também tiveram um papel determinante na modificação 
do ambiente e do sistema dominante nas respectivas épocas, no intuito 
de sensibilizar as pessoas para o mal que os manicômios, com a privação 
absoluta de liberdade dos doentes mentais, poderiam causar.
A luta antimanicomial assumiu, em nosso meio, uma característica de 
movimento social, chegando ao patamar da popularidade por ser coletiva, 
na defesa de interesses difusos, uma vez que foram expostos os problemas 
enfrentados pelos doentes nos hospitais psiquiátricos, alcançando a sensi-
bilidade humanitária das pessoas e gerando questionamentos e indignação 
quanto aos tratamentos impostos, na maioria das vezes, em flagrante con-
traposição ao conceito de cidadania. Dessa forma, especialmente conside-
rando, no Brasil, a promulgação da Constituição de 1988, quando foram 
criteriosamente adotados os preceitos e garantias do homem e do cida-
dão, tornou-se, então, necessário rever o arcabouço normativo até então 
vigente para a inclusão desses doentes no seio da comunidade.7
7 https://site.cfp.org.br/tag/luta-antimanicomial, postado no “site” do Conselho Nacional 
de Psicologia em 8 de fevereiro de 2019.
– 33 –
Reforma psiquiátrica 
Nesse sentido, a luta ou movimento antimanicomial teve grande 
alcance, bastando integrar a busca por artigos científicos com as palavras 
de ordem bastante criativas que surgiram de maneira popular em prol 
da liberdade e integração dos chamados doentes mentais: “TRANCAR 
NÃO É TRATAR”8, “NOSSA LOUCURA É MAIS LÚCIDA QUE SEU 
PRECONCEITO”9, “LIBERDADE É O ESPAÇO QUE A FELICIDADE 
PRECISA”10, “LIBERDADE É O MELHOR CUIDADO”11, “SAÚDE 
NÃO SE VENDE, LOUCURA NÃO SE PRENDE”12, “EU CUIDO, 
NÃO PRENDO”13, entre outros dizeres que mostram a posição dos ativis-
tas para o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, em 18 de maio.
“18 de maio foi instituído como Dia Nacional da Luta Antima-
nicomial no Brasil em homenagem à luta dos profissionais de 
saúde por um tratamento mais humano aos usuários do sistema de 
saúde mental. Uma luta que ganhou força no contexto da abertura 
da ditadura militar, quando surgiram as primeiras manifestações 
no setor de saúde. No bojo destas, surge o Movimento dos Tra-
balhadores de Saúde Mental, que logo assumiria um importante 
papel na crítica da política de assistência psiquiátrica da ditadura: 
suas reivindicações incluíam o fim do uso do eletrochoque e de 
outras práticas de “tratamento” – que se assemelhavam às torturas 
comuns nos porões da ditadura –, melhores condições de assistên-
cia à população e pela humanização dos serviços. Este movimento 
dá início a uma greve (durante oito meses no ano de 1978) que 
alcança importante repercussão na imprensa à época.14
8 http://www.saude.ufpr.br/portal/terapiaocupacional/informativo/dia-da-luta-antimanico-
mial/ 18 de maio: Dia da Luta Antimanicomial - Curitiba Resiste por uma Sociedade sem 
Manicômios!
9 Liga Acadêmica de Saúde Mental em Enfermagem e Psicologia -UFRR, publicado em 19 
de maio de 2021. Disponível em: https://www.facebook.com/LASMEPUFRR/
10 Semana nacional da luta antimanicomial, Conselho Federal de Psicologia, 15 de maio de 
2017, utilizando como lema a frase de Fernando Sabino. Disponível em: https://site.cfp.
org.br/semana-nacional-da-luta-antimanicomial-
11 https://redehumanizasus.net/trancar-nao-e-tratar-a-liberdade-e-o-melhor-cuidado.
12 https://www.facebook.com/watch/?v=426129362145884, Conselho Regional de Psico-
logia de São Paulo, publicado em16 de dezembro de 2020.
13 https://blog.cenatcursos.com.br/frases-da-luta-antimanicomial-
14 https://www.bn.gov.br/acontece/noticias/2020/05/18-maio-dia-luta-antimanicomial-
-Bibblioteca Nacional
Saúde Mental e Serviço Social
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Para se ter uma ideia de como a humanização e uma verdadeira 
guerra se estabeleceram contra os tratamentos violentos e abusivos nos 
nosocômios e hospitais psiquiátricos do país, até um bloco de carnaval foi 
criado em 2000 na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, chamado “Os 
conspirados”. O bloco tinha como um dos objetivos apagar o histórico da 
exclusão e do isolamento das pessoas com transtornos mentais.15
Certamente, após todas essas intervenções, teorias e modificações 
do estado de aspectos diante dos transtornos mentais e psicológicos, que 
eram cada vez mais frequentes já na pós-modernidade, com a velocidade 
em que os relacionamentos e o conhecimento em si circula, já não se podia 
voltar ao passado.
Nesse sentido, as instituições psiquiátricas de qualquer categoria, 
envergadura ou linha de tratamento, deverão caminhar no sentido de total 
humanização, caso não sigam o caminho mais radical da inclusão direta 
no seio social. Os tratamentos deverão sempre trazer em si abordagens 
que considerem o doente (ou o doente dependente) como uma pessoa, 
isto é, um sujeito de direitos capaz de transmitir, mesmo que em mínimas 
doses, as suas angústias e de traduzir ao terapeuta, desde que induzido 
de forma competente, quais são as questões que o colocam na situação 
mental problemática, sem que isso signifique, de modo algum, descar-
tar os métodos mais tradicionais de abordagem, bem como as prescrições 
medicamentosas adequadas.
Cada vez mais, toda atuação dos profissionais em tais estabelecimentos é 
sujeita a diversos controles, seja da própria sociedade, seja do Estado, mediante 
atuação do Ministério da Saúde ou dos próprios Ministérios Públicos, Federal 
e Estaduais, o que será visto com mais detalhes no tópico seguinte.
2.3 Aspectos gerais da saúde mental no Brasil
Para a análise da saúde pública no Brasil e, especialmente, da saúde 
mental, não é possível desconsiderar fatores territoriais, sociais, econô-
micos e políticos. Perder de mente a extrema desigualdade em que vive a 
15 https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2021/05/17/interna_gerais,1267504/o-carna-
val-de-ouro-preto-e-o-exemplo-na-luta-antimanicomial.shtml, Jornal o Estado de Minas, 
Nívea Machado, 17/05/2021.
– 35 –
Reforma psiquiátrica 
nossa população, seria ingenuidade e, possivelmente, irresponsabilidade, 
a respeito de um tema tão delicado que envolve sobretudo a educação de 
determinado povo.
Já salientamos e reiteramos os aspectos da reforma psiquiátrica com 
vetores chegados de outras partes do mundo, fazendo com que, também, 
em terras brasileiras, o cuidado com a saúde mental se tornasse uma pre-
ocupação, além de uma política pública com ênfase no seu acolhimento 
pelos postulados da Constituição Federal de 1988 e, depois disso, no esta-
belecimento do Sistema Único de Saúde.
Nos artigos 196, 197, 198, 199 e 200 da Constituição Federal de 
1988, encontraremos a obrigação do Estado de prover o acesso às ações 
e serviços de saúde, como o sistema deve ser organizado, as diretrizes, a 
participação complementar da rede privada e algumas das atribuições do 
Sistema Único de Saúde. É a partir daqui que a saúde passa a ser inclu-
dente, ou seja, aqui nasce o SUS e sua Lei Orgânica.
Mais especificamente, trata-se da legislação federal que diz respeito 
à saúde mental. Com base no Art. 5º da Constituição federal de 1988, que 
assegura igualdade perante a lei, tem-se como corolário a isonomia com 
o doente mental, considerando, justamente, as suas diferenças, o que se 
pretendeu com a Lei 10.216, de 6 de abril de 2001.
Essa lei dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portado-
ras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde 
mental em busca de inclusão. Muito pode ser dito sobre essa legislação, 
mas o primordial de seus mandamentos é a garantia de direitos, bem 
como a internação com caráter deexcepcionalidade, segundo rígidos 
parâmetros que vêm sendo aprimorados mediante outros atos normati-
vos governamentais.
A leitura atenta de tais normas é suficiente para alcançar o signifi-
cado que os legisladores deram aos problemas médico-sociais em busca 
da saúde mental. A lei federal dita normas gerais, indica a necessidade do 
estabelecimento de políticas públicas especiais de alta com reabilitação 
psicossocial para pacientes com longo termo de hospitalização ou grave 
dependência institucional decorrente de seu quadro clínico, estabelece os 
critérios para internação voluntária, involuntária, bem como a internação 
Saúde Mental e Serviço Social
– 36 –
compulsória, com respectivos prazos de duração acompanhada de comu-
nicação e monitoramento do Ministério Público Estadual, em hipóteses 
que independam da vontade do doente. Além disso, trata da participação 
ativa judicial quanto às medidas mais drásticas, no caso, o recolhimento 
compulsório aos hospitais ou unidades psiquiátricas.
Essa legislação tem aplicabilidade para todas as esferas de governo e 
está complementada por um grande número de outros diplomas normati-
vos de menor envergadura, como Resoluções e Portarias.16
Assim, a reforma psiquiátrica foi um marco estabelecedor de um 
novo protocolo, encarando, agora, aqueles que tinham pertencimento a um 
grupo segregado como cidadãos. Pelo menos nos patamares abstratos das 
categorias jurídicas, os direitos dos portadores de males mentais estariam 
salvaguardados de maneira satisfatória.
Isso não quer dizer que haja, de fato, dentro desse intrincado sis-
tema de abordagem, tratamento, internação e mesmo fiscalização pelo 
Ministério Público e Judiciário, uma solução perfeita e adequada para 
um problema tão complexo. Da mesma forma, na prática, com a reforma 
psiquiátrica, não se pode afirmar que todas as arestas desse assunto 
foram solucionadas.
Ao mesmo tempo em que a saúde mental passa a ter novos patamares 
e horizontes, respeitando e cuidando do ser humano como um todo e não 
mais a simples patologia, ainda há a necessidade de um olhar mais atento 
para as reais necessidades, seja quanto aos sistemas públicos e particulares 
que se encarregam da saúde mental, seja quanto ao paciente.
Ao partir dessa observância, é indispensável obter fiscalizações cons-
tantes dos tratamentos ofertados, bem como investir em capacitação, reno-
vando-se os movimentos sociais para que esse âmbito da saúde mental seja 
desmistificado cada vez mais e despido dos preconceitos que o cercam.
Por tais motivos, subsistem questionamentos que, novamente, leva-
rão à revisão do atual modelo sempre visando aperfeiçoá-lo e torná-lo, no 
16 http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/legislacaosaudemental2002completa.pdf 
Pode ser consultado o inteiro teor da lei referida em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/leis_2001/l10216.htm.
– 37 –
Reforma psiquiátrica 
caso do Brasil, multifacetado, ou seja, coerente com as nossas diferenças 
abissais, especialmente a desigualdade econômica e social entre comuni-
dades e famílias.
Como acentua Desviat (2015), após as medidas políticas e econômi-
cas que enchem de incerteza o futuro dos serviços sanitários e sociais, a 
globalização da economia, as mudanças nos modos de produção, a preca-
riedade do emprego e o aumento planetário da exclusão social, é preciso 
questionar a continuidade dos movimentos solidários iniciados depois da 
devastação da Segunda Guerra Mundial (DESVIAT, 2015).
Segundo o autor, se a sociedade não dispõe de equipamentos sociais 
competentes para o trato dos egressos das instituições, ou daqueles que 
nem chegaram à hospitalização, não basta apenas transferir a responsabi-
lidade para as famílias, confinando os portadores dos males psicológicos e 
psiquiátricos em casa. Espera-se o resgate da cidadania, da singularidade 
e da subjetividade, sem a única ideia da cura como horizonte. Assinala que 
os diversos percursos da reforma psiquiátrica, pelo menos em solo brasi-
leiro, evidenciam a fragilidade do sistema de saúde para oferecer outros 
tipos de intervenção com exceção daquela centrada no leito hospitalar. 
Assim, mediante a leitura dessas conclusões, torna-se muito evidente a 
necessidade de encontrar vias complementares para o trato do intrincado 
problema descrito (GONÇALVES; SENA, 2001).
Aliam-se a essas cautelas e preocupações a dificuldade enfrentada 
no país para leitos hospitalares dirigidos ao internamento dos acometidos 
pelas várias doenças mentais e psicológicas, incluindo os dependentes de 
álcool e outras drogas.
Desse modo, a Federação dos Hospitais, em fevereiro de 2018, já 
alertava para a necessidade de ser complementada a chamada reforma 
psiquiátrica, justamente por conta do olhar estatístico e das dificuldades 
enfrentadas pelo setor a partir da vigência da lei promulgada em 2001.
Naquele ano, a entidade paulista contabilizou 36.387 leitos psi-
quiátricos, sendo 25.097 ligados ao Sistema Único de Saúde, em 159 
hospitais e 11.290 privados, com grande percentual concentrado no 
Estado de São Paulo. Esses números estariam muito aquém ao reco-
mendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), no patamar de 
Saúde Mental e Serviço Social
– 38 –
90 mil leitos para 200 milhões de habitantes, tendo como consequência 
a desassistência e o abandono, assim como a falta de resolutividade no 
atendimento dessas enfermidades.
Ainda segundo os integrantes da Federação, o movimento anti-
manicomial que se instalou no país nos anos 70 causou a extinção dos 
hospitais especializados, gerando uma lacuna, ao optar pela aborda-
gem extra-hospitalar.
Em substituição aos leitos extintos, o Ministério da Saúde criou os 
CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e as residências terapêuticas, 
mas a realidade mostrou que não houve equivalência nessa mudança de 
enfoque, concluindo que:
“as mudanças no sistema nacional de saúde mental são imprescin-
díveis para garantir dignidade e qualidade assistencial ao paciente 
psiquiátrico.
“Importante a criação do atendimento ambulatorial com enfoque 
multidisciplinar, qualificação e financiamento mais apropriado de 
hospitais especializados. E, ao invés de fechar leitos, a nova polí-
tica quer qualificar esses leitos para o tratamento de pacientes com 
quadros agudos e programas de prevenção ao uso de álcool e dro-
gas e prevenção de suicídio. E ainda criação de CAPS (Centros de 
Atenção Psicossocial) especial 24 horas para áreas de grave con-
sumo de crack e outras drogas também chamadas Cracolândias”.17
Após toda a luta antimanicomial e reforma, que ainda não se comple-
tou de forma adequada, de fato, para aqueles que tratam da saúde mental 
em amplo sentido, o lugar da loucura e daqueles que sofrem de doenças 
mentais não é evidente. Persiste muita dificuldade de toda a sociedade 
para compreender esses comportamentos, bem como inclui-los nos pro-
cessos de tratamento, quanto mais no convívio da comunidade.
É ainda menor a condição de colocá-los em situação de igual-
dade para que possam participar das mesmas esferas sociais, culturais 
e econômicas, lugar que, para as pessoas tidas como “normais”, é algo 
natural e inquestionável.
17 https://www.segs.com.br/saude/104311, “Faltam-leitos-de-psiquiatria-no-pais-alerta-
-federacao-dos-hospitais”
– 39 –
Reforma psiquiátrica 
Sabemos que a realidade anterior de enclausurar, excluir e retirar 
da sociedade os doentes mentais não é o caminho ideal, principalmente 
quando ouvimos os relatos daqueles que participaram dos dispositivos 
anteriores de tratamento dessa natureza com espaços inadequados, escu-
ros e, muitas vezes, tendo como o tratamento apenas punição e isola-
mento social.
No entanto, esse outro modelo instituído, formalmente estabelecido 
na legislação e numa imensa gama de normas infralegais, é ainda insu-
ficiente, em especial para aqueles que realmente necessitam de ajuda 
nesse âmbito.
Essa constatação pode ser feita pelos que vivenciam, na prática, a 
necessidade dos pacientes, quando se mostraimpossível eliminar a assis-
tência hospitalar, principalmente em casos graves de tentativas de suicí-
dio, bem como quando existe a necessidade de romper drasticamente com 
o ciclo de uso de substâncias psicoativas. Além disso, verificam que não 
houve efetividade na implantação de leitos de psiquiatria em hospitais, 
seja pela falta de especialização das equipes, seja pela falta de estrutura 
física para possibilitar o tratamento desse tipo de patologia. Os CAPS, em 
tese, são aptos para cumprir suas funções, mas não conseguem suprir a 
demanda nem quantitativa nem qualitativa desses casos específicos aqui 
mencionados.
Existe a necessidade de avaliações especializadas, realizadas por 
médicos psiquiatras, psicólogos e demais profissionais que atuem com 
saúde mental e consigam ter a clareza de qual é a rede de assistência 
possível e qual a melhor forma de atendimento para o paciente naquele 
momento. Assim, cada caso deve ser realmente encaminhado para o 
melhor cuidado do sujeito como um todo.
Muitas vezes, em momento de crise extrema ou intoxicação pelo uso 
de substância psicoativa, quando parar de usá-la não está mais somente 
no campo do desejo, já trazendo em si muitos outros elementos, é indis-
pensável que haja uma intervenção maior. No entanto, o que vemos, no 
cotidiano, é que, com a extinção dos leitos psiquiátricos, chegamos a uma 
verdadeira desproteção, desamparo, que, por sua vez, leva à corrida para 
Saúde Mental e Serviço Social
– 40 –
vagas nos lugares onde ainda há leitos para aqueles que precisam de uma 
assistência mais especializada.
É primordial uma triagem feita por esses profissionais especializados 
e bem treinados para que cada caso seja verdadeiramente encaminhado 
para o lugar adequado, que atenda a patologia, o desvio ou o compor-
tamento. Além disso, em segundo lugar, é de extrema importância que 
a conduta dos profissionais, da equipe e dos estabelecimentos hospitala-
res, clínicas, centros de atendimento e ambulatórios sejam fiscalizados e 
tenham bases sólidas de tratamento para que possam atender às necessida-
des do indivíduo-cidadão.
 Saiba mais
1. Já em Machado de Assis, aqui no Brasil, encontramos, no auge 
do século XX, mais precisamente em 1882, a publicação do livro 
“O alienista”. A obra é uma ácida crítica tanto aos diagnósticos 
quanto aos tratamentos vivenciados nas instituições psiquiátri-
cas. No conto ou novela, o Dr. Bacamarte, o alienista, psiquiatra, 
convencido de que a infertilidade de sua mulher está diretamente 
ligada a questões mentais, ao tentar provar sua teoria, cria a Casa 
Verde, local destinado ao estudo dos dementes, que ele acabou 
encontrando em quase toda a vila onde morava, a Vila Itaguaí. 
Ao final, ele alcança 75% da população, encarceramento tão 
numeroso que o levou a rever várias e várias vezes os seus méto-
dos de observação e experimentos, acabando por perder-se em sua 
própria loucura sozinho na Casa Verde (ASSIS 2014).
2. Filmografia sugerida sobre o tema em que é exposta, de uma 
forma muito realista, até mesmo cruel, a realidade vivida pelos 
internos nessas instituições: “O estranho no ninho”, lançado no 
Brasil em maio de 1976, sendo Milos Forman o diretor; “Bicho 
de sete Cabeças”, filme baseado no livro autobiográfico; “Canto 
dos Malditos”, de Austregésilo Bueno; “O Holocausto Brasileiro, 
documentário lançado em 2016 dirigido por Daniela Arbex e 
Armando Mendz, baseado no livro homônimo de Daniela Arbex. 
– 41 –
Reforma psiquiátrica 
 O documentário mostra o genocídio cometido no Hospital Colô-
nia em Barbacena (MG) enquanto discute questões relativas ao 
papel dos manicômios; o documentário “Saúde Mental e Dig-
nidade Humana”, produzido pelo Centro de Memória da OAB, 
resgata a história do tratamento dispensado aos doentes mentais 
pelo sistema judiciário no Brasil; “Nise – O coração da loucura”, 
em que a psiquiatra Nise da Silveira enfrenta tudo e todos pelo 
bem dos pacientes do Hospital Psiquiátrico Pedro II, no Rio de 
Janeiro; “Dos loucos e das rosas”, produzido pela TV NBR, docu-
mentário que trata sobre transtornos mentais, narrado por um 
artista plástico que mostra o cotidiano de pacientes no hospital 
psiquiátrico em Barbacena (MG), entre inúmeros outros.
Atividades
1. Em relação à história da saúde mental e seus acontecimentos, em 
alguns momentos, os portadores de transtornos mentais foram 
excluídos da sociedade. Como você entendeu esse momento his-
tórico e em qual época isso se deu?
2. Em qual época se inicia o movimento da reforma psiquiatra? 
Cite alguns autores que fizeram, de forma mais efetiva, esse 
movimento com suas obras ou marcos.
3. Em relação a todo movimento e esforços feitos para a extinção 
dos leitos psiquiátricos, qual foi a proposta de dispositivos subs-
titutivos da rede?
4. De forma geral, sabemos que o processo de construção de polí-
ticas em saúde mental e a sua execução ainda estão longe de 
serem finalizados em um modelo assistencial adequado. Em sua 
opinião, como seria um caminho para essa construção?
3
A Política de Saúde 
Mental Brasileira
Ao adentrarmos a política de saúde mental, não há como 
desvinculá-la da análise da saúde pública brasileira, cuja trajetó-
ria perpetuou juntamente aos aspectos sócio-históricos de caráter 
social, econômico e político. A partir da Reforma Psiquiátrica 
evidenciada nos anos 70, inicia-se o processo de mudanças no 
modelo de atenção e gestão em saúde.
No final de 1978, surge o início do movimento social frente 
à luta pela garantia de direitos dos pacientes psiquiátricos no 
Brasil com o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental 
(MTSM). Acima de tudo, esse movimento foi protagonista de 
vários segmentos de lutas, constituído por trabalhadores inte-
grantes do movimento sanitário, associações de familiares, sin-
dicalistas, profissionais e pessoas com histórico de internações 
psiquiátricas. Nesse sentido, os constantes enfrentamentos na 
saúde mental visam garantir a dignidade e o respeito às pessoas 
com transtornos mentais, e passam a surgir fluxos de denúncias 
sobre violações dos direitos nas instituições nomeadas nesse 
período como “manicômios”, conforme exposto pelo Ministério 
da Saúde (BRASIL, 2005).
Saúde Mental e Serviço Social
– 44 –
Nos anos 80, discute-se a necessidade de desenvolver uma política 
nacional de saúde mental com a finalidade de buscar melhores diretrizes 
sob a ótica do olhar do cuidado e do respeito ao indivíduo acometido de 
doenças mentais. Essa questão gera destaque internacional, de modo que 
o Brasil, ao ter sido um dos primeiros países a organizar uma política de 
saúde mental, não estava inserido no grupo de países desenvolvidos.
Para tanto, a partir de uma construção coletiva e construtiva visando 
as questões da saúde mental com críticas intransigentes ao modelo hos-
pitalocêntrico, na cidade de Bauru/SP, em 1987, acontece o II Congresso 
Nacional do MTSM, que defende o lema “Por uma sociedade sem mani-
cômios”, e também a I Conferência Nacional de Saúde Mental no Estado 
do Rio de Janeiro (BRASIL, 2005).
Almeida (2019, p. 2) destaca as primeiras manifestações da prática 
da reforma na saúde mental no estado de São Paulo, uma vez que tiveram 
um papel decisivo no desenvolvimento e na implementação de suas espe-
cificidades nesse momento.
No contexto da desinstitucionalização da psiquiatria no país, foram 
tomadas como referência as experiências realizadas na Itália com a crítica 
e a radicalização às instituições psiquiátricas de regime fechado, articu-
lando a ruptura com o antigo padrão de atendimento às pessoas em tra-
tamento mental. Conforme o Ministério da Saúde (BRASIL 2005), há 
exemplos claros da institucionalização precarizada no país, como foi o 
caso da Colônia Juliano Moreira, um grande asilo com mais de 2 mil inter-
nos no início dos anos 80, no Rio de Janeiro. Trata-se de um dos moti-
vos que ressalta o lema do II Congresso Nacional do MTSM conforme já 
citado anteriormente.
Em 1987, foi instituído o primeiro

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