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A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL

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A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL
Prof. Enf. João Gabriel Rossi de Oliveira
1
Loucura
Desde muitos anos, antes mesmo de conhecermos a ciência que se desenvolveu sob o nome de psicologia, tem-se que diferentes sociedades já pensavam sobre isso, discutiam sobre essas questões, na medida em que observavam pessoas apresentando comportamentos distintos daqueles considerados “comuns”.
Várias coisas mudaram desde então, dentre elas a maneira de se olhar para estes em estado de sofrimento psicológico, a forma como se lidar com eles e como tratá-los de acordo com suas necessidades, experiências, objetivos e pertencimento dentro da sociedade.
PERÍODO NEOLÍTICO e MESOPOTÂMICO (8000 a.C. – 5000 a.C.)
Inicialmente, aquilo que se sabe a respeito da saúde mental dos nossos mais antigos antepassados seria que suas hipóteses sobre questões mentais estariam frequentemente caracterizadas como o resultado de crenças de que causas sobrenaturais como possessões demoníacas, maldições, feitiçaria e até mesmo deuses vingativos, estariam por trás dos incomuns sintomas.
Descobertas antropológicas datadas de 5000 a.C. mostraram evidências de que os humanos do período neolítico acreditavam que a abertura de um buraco no crânio permitiria que o espírito maligno (ou espíritos) que habitava a cabeça dos enfermos mentais fosse libertado, curando-os assim de suas aflições.
Notavelmente, o processo não era fatal. Apesar da técnica rude, a abertura duraria séculos, usada como tratamento para uma série de condições diferentes: fraturas de crânio, enxaquecas e enfermidades mentais.
Quando a violência não era usada, os médicos-sacerdotes (como os da antiga Mesopotâmia) usavam rituais baseados em religião e superstição, pois acreditavam também que a possessão demoníaca era a razão por trás dos distúrbios mentais.
Tais rituais incluiriam orações, expiação, exorcismos, encantamentos e outras formas de expressões tribais da espiritualidade.
Os xamãs, por outro lado, recorreriam a ameaças e até punições caso os métodos ritualísticos não tivessem sucesso em mudar o comportamento de um membro da tribo, dado o reconhecimento social da efetividade de seus métodos.
EGÍPICIOS (3100 a.C. – 31 a.C.)
Foram os antigos egípcios que tiveram as ideias mais progressistas da época sobre como tratar as pessoas que entre eles aparentavam ter dificuldades envolvendo a saúde mental.
Os curandeiros do Nilo recomendavam que os pacientes se envolvessem em atividades recreativas, como a música, a dança ou a pintura, na tentativa de que se aliviassem seus sintomas, trabalhando para que houvesse alguma retomada de “normalidade” – algo estranhamente semelhante a algumas das vias de tratamento oferecidas nas instalações de tratamento mais recentes.
GREGOS (500 a.C. – 146 a.C.)
Uma crença padrão em muitas dessas culturas antigas, mas especialmente dentro da cultura grega, era a de que a dificuldade mental seria vista como algo de origem divina, geralmente como resultado de uma deusa ou deus raivoso.
Na tentativa de atribuir isso a uma causa compreensível, as pessoas daquelas civilizações acreditavam que uma vítima ou um grupo de pessoas havia, de alguma forma, transgredido contra sua divindade e estariam sendo punidas como consequência disso.
Teria sido necessária a influência dos primeiros filósofos europeus para levar adiante as ideias de “doença” e saúde mental em detrimento da hipótese dos deuses.
Em algum lugar entre o V e III séculos a.C. , o médico grego Hipócrates rejeitou a ideia de que a instabilidade mental era o resultado da ira sobrenatural.
Sobretudo, impressionantemente, ele teria escrito que os desequilíbrios no pensamento e no comportamento seriam elementos de “ocorrência natural do corpo”, em particular, vindos do cérebro.
IDADE MÉDIA (SÉCULO V – XV)
A crença grega de que os desequilíbrios mentais teriam sua origem como “ocorrências naturais do corpo” persistira durante mesmo o longo período da Idade Média.
Os médicos daquela época fariam uso de laxantes, eméticos (substâncias que induziriam vômitos) e sanguessugas na tentativa de restaurar as proporções de “equilíbrio do corpo” de seus pacientes.
Outros tratamentos fizeram com que os médicos extraíssem sangue da testa ou das veias das pessoas, na tentativa de drenar também os males interiores para longe do cérebro.
Normalmente, a família era responsável pela custódia e cuidado da pessoa em dificuldades, visto que intervenções externas e instalações para tratamento residencial eram raras na época.
Somente no final do século VI, em Bagdá, é que o primeiro hospital psiquiátrico seria fundado.
Na Europa, as famílias que possuíam a guarda de indivíduos apontados como portadores de alguma dificuldade mental eram vistas como fontes de vergonha e humilhação; muitas delas recorreriam a esconder seus entes em porões, às vezes prendendo-os, delegando-os aos cuidados dos empregados ou, simplesmente, abandonando-os, deixando-os nas ruas como mendigos.
Nesse período, ter uma pessoa mentalmente considerada debilitada na família sugeriria um defeito hereditário e desqualificador na linhagem, de maneira a lançar dúvidas quanto à posição social e a viabilidade de toda a família, tamanho era o estigma.
A prisão perpétua não estava fora de questão. Durante a Idade Média na Europa, pessoas com dificuldades mentais poderiam ser sujeitas a punições físicas, geralmente espancamentos, como uma forma de represália por seu comportamento antissocial e indesejado. Algumas vezes, até como tentativa de literalmente expulsar seus males.
CASAS DE TRABALHO, CLERO E ASILOS PARA “DOENTES” MENTAIS (SÉCULO XVI – XVIII)
Ao fim do século XV e início do século XVI, outras opções de tratamento além das limitações do cuidado familiar (ou custódia) se fariam presentes, como as casas de trabalho – que nada mais seriam que paróquias vinculadas à igreja oferecendo alojamento, cuidados e alimentação básica aos mais pobres e mentalmente enfermos em troca de trabalho.
O clero nas respectivas igrejas desempenhou um papel fundamental no tratamento recebido pelas pessoas em dificuldades mentais da época, uma vez que práticas médicas eram consideradas como uma extrapolação lógica do dever dos sacerdotes, entendido que estes deveriam fazer o que pudessem para tratar dos males de seu povo.
Se uma família pudesse pagar por cuidados especiais, eles poderiam enviar a pessoa amada para uma casa particular, de propriedade e operada por membros do clero que se esforçariam para oferecer algum tratamento e conforto.
No entanto, as casas de trabalho e os mosteiros não conseguiriam acompanhar o alcance total da população que precisava de cuidados em saúde mental, o que abriria as portas para os asilos, que assumiriam o controle da maior parte destes casos com o passar dos anos.
Sabe-se que os asilos, mesmo o primeiro fundado em Valência (1406), não ofereciam nenhum tratamento ou conforto real aos necessitados, forçando seus então pacientes a viverem em condições desumanas, submetendo-os a abusos cruéis.
Essas instalações, na verdade, eram prisões exceto em seus nomes. Não havia o conceito de cuidar ativamente de indivíduos com dificuldades mentais, isolando-os apenas de suas famílias e da sociedade em geral, de forma a minimizar dentro da mentalidade da época aquilo que poderia ser percebido como risco de dano a comunidade.
Acreditava-se que a perturbação mental ainda era uma escolha, por isso os funcionários usavam restrições físicas, camisas de força e até mesmo ameaças para tentar “curar” os indivíduos. Às vezes, drogas eram dadas aos pacientes considerados mais “perigosos” e “difíceis”.
Quando a notícia se espalhou sobre os ambientes subumanos dentro dos asilos, um apelo por reformas surgiria na Europa na última parte do século XIX.
Um reflexo do movimento ocorreria em um asilo na cidade de Devon, na Inglaterra, que abandonou os métodos de tratamento baseados na contenção e agressividade para com as pessoas.
AS RAÍZES DA REFORMA E OS NOVOS TRATAMENTOS (SÉCULO XIX)
Apesar do exemplo inglês, o movimentode reforma começaria mesmo em Paris, no ano de 1792, sob os estudos do Dr. Philippe Pinel, desenvolvedor da tese de que pessoas psicologicamente enfermas precisariam de cuidados gentis para melhorar suas condições de saúde mental ao contrário da recorrente violência.
Ele ordenaria que as instalações sob seus comandos fossem limpas, que os pacientes fossem desencadeados e colocados em quartos com luz solar, autorizados a se exercitarem livremente dentro do hospital e que sua qualidade de cuidado fosse melhorada.
O tratamento moral evitava os tratamentos médicos tradicionais comumente encontrados nos manicômios, como a sangria terapêutica e as restrições físicas, e em vez disso, concentrava-se em tornar os manicômios mais parecidos com um “lar estrito e bem administrado”.
Ao invés de serem enjaulados e escondidos em porões, pensava-se em encoraja-los a considerar as consequências de seus comportamentos e a participar da manutenção da instalação.
Lá dentro, as pessoas estariam sujeitas a regras e a vigilância; receberiam recompensas e punições simples, de acordo com o definido como apropriado.
No entanto, os críticos – principalmente os norte americanos – argumentavam que o método não tratava realmente os pacientes, na medida em que os tornava dependentes de seus médicos para ter conforto.
No século XX, historiadores e médicos contemporâneos argumentariam que o método moral simplesmente não era funcional como parecia ser.
Após este período, a conversa sobre tratamentos e saúde mental estava pronta para dar um grande passo adiante. Surgia a figura de Sigmund Freud.
Sua teoria, baseando-se no diálogo e na livre associação dos elementos surgidos, encorajava seus pacientes a falarem sobre o que quer que aparecesse em suas mentes, analisando através de seus estudos as atividade psicológicas destas pessoas.
A teoria de Freud era de que as vias de conversa, os sonhos, abririam uma porta para a mente inconsciente do paciente, concedendo acesso a qualquer tipo de pensamentos e sentimentos reprimidos que poderiam ter forçado ou tido influência em sua instabilidade mental.
Mesmo com as críticas históricas aos seus métodos, ainda podemos ver a influência da teoria freudiana na psicologia, na psicanálise contemporânea e em muitos dos tratamentos ainda hoje desenvolvidos.
SAÚDE MENTAL NO MUNDO CONTEMPORÂNEO – (SÉCULO XX E XXI)
Dentre as abordagens e métodos surgidos nos séculos XX e XXI, observar a ascensão e queda de alguns deles não é tarefa difícil, sendo pouco efetivos e bastante invasivos, como a terapia eletroconvulsiva, a psicocirurgia e alguns tipos de psicofármacos.
Esse panorama muda no fim da década de 90, quando seria introduzido pela primeira vez nos tratamentos psicofarmacológicos o componente fármaco conhecido como lítio.
Naquela altura, o lítio se mostraria bastante eficiente no controle dos sintomas das psicoses em geral, apresentando resultados diferentes em comparação com qualquer outro método que já tivesse sido tentado.
Foi o primeiro sinal de ascensão da psicofarmacologia moderna, consolidando-se algum tempo depois, de fato, como um dos tratamentos/abordagem em saúde mental mais utilizados do mundo.
Medicações como a clorpromazina, a sertralina, o diazepam e a fluoxetina ganhariam espaço como nomes conhecidos das décadas intermediárias e posteriores ao fim do século XX, sendo prescritas para transtornos de diferentes naturezas.
A reforma psiquiátrica
Iniciada na cidade italiana de Trieste, logo na segunda metade do século XX, a reforma psiquiátrica tornou-se um marco para a psicologia ao redor do mundo, principalmente por seus princípios e ideais.
O movimento, que tinha como objetivo principal dar fim ao modelo manicomial substituindo-o por outro que tivesse como princípio o cuidado para com a experiência do usuário ao coloca-lo como protagonista de todo o processo, marcaria um período.
De forma ainda mais contundente que qualquer outro movimento dessa natureza, a reforma revolucionaria o sistema de saúde mental mundial, abrindo margem para novas abordagens terapêuticas, formas de se lidar com as pessoas e até mesmo profissões.
Baseando-se na ideia de se ter o indivíduo como peça chave de todo tratamento em detrimento do que acontecia anteriormente, quando se pensava somente nas causas do seu sofrimento deixando suas vivências e experiências a margem, a reforma alteraria toda uma lógica arcaica e invasiva de se lidar com as dificuldades do usuário.
No Brasil, o SUS e seus programas de saúde mental seriam desenvolvidos tendo como base seus preceitos. Nise da Silveira, a histórica referência brasileira e mundial no que concerne a área, seria sua maior expoente.
A psicologia e suas ramificações nunca mais seriam as mesmas após a derrubada dos manicômios e a instauração dos novos preceitos da reforma no mundo todo. Sua importância para a história se faz viva em cada usuário, em cada quebra de estigma e nova abordagem a ser desenvolvida.
Atualmente, apesar da prevalência dos ainda altos índices de prescrição de medicações psicofarmacológicas, vemos um novo processo de renovação nos tratamentos da saúde mental acontecendo.
Seja por meio da retomada de práticas antigas como a meditação e a yoga, até pelo uso de novas formas de terapia focadas no indivíduo, da música e da arte, cada vez mais nos aproximamos de abordagens melhores, mais saudáveis e que buscam, genuinamente, a autonomia e o bem-estar dos indivíduos.
Quando encantamentos e cirurgias cerebrais ficaram aquém do esperado, a terapia, o autoconhecimento e as novas abordagens terapêuticas pegaram o bastão de tratamento para o século XXI, ajudando milhares de pessoas a conquistarem sua recuperação e saúde mental de volta.
A evolução e os avanços nessa área sugerem que as melhorias de hoje são infinitamente melhores que as melhorias de ontem e que, sendo assim, deveríamos pelo menos nos orgulharmos disso.
Marcos da psiquiatria no país
1831: José Martins da Cruz Jobim (1802-1878), pioneiro na psiquiatria, publica o primeiro escrito sobre doenças mentais no Brasil.
1852: É inaugurado o Hospício de Pedro II, o “Palácio dos Loucos”, no Rio de Janeiro. O primeiro do gênero no Brasil.
1881: Um decreto do governo cria a cadeira de Doenças Nervosas e Mentais nas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro.
1883: O médico Teixeira Brandão (1854-1921) vira professor de psiquiatria no Rio e é considerado o primeiro alienista brasileiro.
1907: Criada, na capital fluminense, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal.
1921: Inaugurado o famigerado Manicômio Judiciário, órgão que se encarrega dos doentes mentais que cometem delitos.
1987: Realizada a primeira Conferência Nacional de Saúde Mental, em que se lança o lema “Por uma Sociedade Sem Manicômios”. 
1992: O Ministério da Saúde regulamenta os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). Internação? Só em casos extremos e sob ordem médica. 
2001: Sancionada a lei que trata dos direitos dos pacientes com transtorno mental e defende a 
2008: Criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, que recomendam a inclusão de profissionais de saúde mental na Atenção Básica.
2015: A história da psiquiatra Nise da Silveira ganha as telas do cinema, popularizando seu trabalho de humanização com os pacientes. 
O que mudou nos tratamento psiquiátricos
Remédios
Antes: Os primeiros medicamentos começaram a ser desenvolvidos só na década de 1950. Tinham muitos efeitos colaterais.
Depois: Nas últimas quatro décadas houve uma avalanche de fármacos para depressão, bipolaridade, esquizofrenia, etc.
Eletroconvulsoterapia
Antes: O antigo eletrochoque era empregado de maneira indiscriminada (e sem anestesia) em pacientes considerados agressivos. 
Depois: A técnica atual, feita com todo cuidado, é usada só em casos mais graves de depressão e restrita ao ambiente de pesquisa. 
Cirurgia
Antes: A lobotomia era uma técnica altamente invasiva que cortava as conexões entre os lobos frontais e demais regiões do cérebro. 
Depois: Abolidaem 1955, foi substituída por remédios e psicoterapia. Devido aos riscos, não é mais reconhecida pelos médicos. 
Psicoterapia
Antes: O tratamento parecia mais uma lição de moral. Os pacientes tinham de seguir rígidas normas, sob pena de punição. 
Depois: É uma ferramenta de autoconhecimento. Há várias modalidades, sempre indicadas para o controle dos transtornos. 
FILMES
Um estranho no ninho
O filme demonstra como eram os atendimentos aos doentes mentais no passado, inspirado em história real mostra a forma desumana em que esses pacientes eram tratados sendo vítimas de todos os tipos de violência sendo ela física ou psíquica, provavelmente por casos como este é que tornou-se necessário se pensar sobre uma reforma no atendimento psiquiátrico.
Nise, o coração da loucura
De forma sensível, o filme emociona a quem assiste, ao demonstrar a força por trás do tratamento humanizado, tão inerente em Nise.
Brasil
No Brasil, a política com relação ao tratamento dos transtornos mentais permaneceu sempre “atrelada” ao modelo europeu do século XIX, centrado no isolamento dos psicopatas ou indivíduos suspeitos, toxicômanos e intoxicados habituais em instituições fechadas, mesmo quando tal modelo tornou-se ultrapassado em muitos outros países.
Já em 1916, o Código Civil prescrevia a interdição civil e a conseguinte curatela aos “loucos” de todo os gêneros. Até recentemente, a Saúde Mental brasileira estava ligada à legislação de 1934, que legalizava o sequestro de indivíduos e a subsequente cassação de seus direitos civis, submetendo-os à curatela do Estado.
No fim da década de 1980, a partir das transformações sociais e políticas que vinham acontecendo no campo da psiquiatria, em países da Europa (Inglaterra, França e principalmente Itália) e nos Estados Unidos da América, inicia-se no Brasil o movimento da Reforma Psiquiátrica. Este movimento recebeu esta denominação por apresentar e desencadear mudanças que vão muito além da mera assistência em saúde mental. Estas vêm ocorrendo nas dimensões jurídicas, políticas, socioculturais e teóricas.
Desde a 8ª Conferência Nacional de Saúde, profissionais de saúde e grupos da sociedade civil organizada avaliaram que o sistema de assistência ao doente com transtornos mentais era excludente, impedindo que os indivíduos ali tratados exercessem os seus direitos civis, políticos e sociais.
Os hospitais superlotados de doentes não dispunham de programas que os reintegrassem à sociedade. Ao serem filmados pela imprensa, as imagens apresentadas à opinião pública eram de descuido, expresso em pacientes contidos nos leitos e em enfermarias gradeadas. A higiene precária, o sussurro de palavras arrastadas e a expressão facial de desespero demonstravam que essas pessoas, chamadas de internos, estavam abandonados à própria sorte.
Muitos chegavam ao hospício levados por seus familiares depois de um “ataque de loucura”, quando gritavam e quebravam objetos. Outros eram levados pelos familiares que queriam sequestrar bens e/ ou heranças, acreditando, por vezes, na proteção do patrimônio familiar. Havia também aqueles que, por falta de informação sobre as doenças da mente, acabavam convencidos de que a hospitalização era a melhor alternativa em momentos de crise.
Muitos advogados também utilizavam a loucura como argumento para inocentar ou amenizar a pena de seus clientes que praticavam crimes hediondos. Infelizmente para os clientes, esta estratégia nem sempre dava certo, pois acabavam sendo condenados e encaminhados aos manicômios judiciários.
Uma coisa era certa: todos os que no hospício chegavam eram submetidos às rotinas institucionais, que incluíam na terapêutica a camisa de força, o eletrochoque, a medicação em excesso e inadequada as psicocirurgias, à revelia do querer do cliente.
Filme completo:
 https://www.youtube.com/watch?v=F6Yky54edpo&t=1566s
Minuto 20:40 até 26:00 – internamento compulsório
Minuto 47:00 até 50:30 – tratamento choque
Neste momento, a prática predominante na área de saúde mental sustentava-se nos princípios: da hereditariedade – acreditavam que passava de geração em geração; da institucionalização - o tratamento só poderia ocorrer através da hospitalização; da periculosidade - todos os “loucos” eram agressivos e perigosos; e da incurabilidade – a loucura não tinha cura. O paciente era visto como um transtorno para a sociedade e por isso as práticas adotadas sequestravam este cidadão temporariamente dos direitos civis, isolando-o e segregando-o em manicômios, afastando-o dos espaços urbanos.
Mas por que chegamos a este ponto? Por que no Brasil, na década de 1960, chega-se à margem de cem mil leitos psiquiátricos, quando no restante do mundo estava se refazendo conceitos sobre o tratamento desta clientela? Por que mantivemos, por tanto tempo, seres humanos encarcerados de suas identidades?
Nesta época estávamos em plena ditadura militar e não havia espaço para nenhum tipo de questionamento político e social. Dentro deste contexto, reforçava-se que o louco era de difícil convivência, perigoso e representava o diferente do convencional, do aceitável pelas regras sociais. Por isso, fazia-se necessário segregá-lo, sequestrá-lo e cassar seus direitos civis, submetendo-o à tutela do Estado. Isso perdura na atualidade, pois o Código Civil em vigor reforça que os “loucos de todo o gênero” são incapazes para os atos da vida civil. Com esta afirmação, a segregação deste grupo era considerada legal.
Neste caos do sistema psiquiátrico, juntamente com os avanços da Constituição de 1988, surgiram espaços de elaboração e aprofundamento de leis voltadas para o atendimento das questões sociais, propiciando um ambiente adequado para que a sociedade civil, trabalhadores de Saúde Mental e a articulação Nacional da Luta Antimanicomial se organizassem pela reforma do sistema psiquiátrico, buscando um novo estado de direito para o doente mental.
Norteadas pelos princípios da universalização, integralidade, equidade, descentralização e participação popular, foram realizadas sucessivas conferências de Saúde Mental nos diversos níveis (nacional, estadual, municipal e distrital), tendo como objeto a inserção da Saúde Mental nas ações gerais de saúde. O importante é que nestas conferências o processo de municipalização, a criação dos conselhos de saúde e os dispositivos legais previstos para a efetivação do SUS foram considerados, como mecanismos na desconstrução do modelo asilar dos hospitais psiquiátricos (asilo de “loucos”).
Abandonar a ideia de que transtornos mentais eram produzidos somente por causas naturais e aceitar que os fatores sociais podem ser determinantes destes transtornos, foi uma reflexão difícil para muitos profissionais de saúde, gestores e familiares. Atualmente, considera-se que existe uma relação estreita entre transtorno mental e a exploração da força de trabalho, as condições insalubres dos ambientes, o viver na linha da miséria, o alto índice de desemprego, as relações familiares, o estresse, a violência e a sexualidade mal resolvida como causas. Enfim, são “pequenas e grandes” coisas que a qualquer momento nos deixam no limite entre a sanidade e a loucura.
Na 2ª Conferência de Saúde Mental, em 1992, os delegados presentes resgataram propostas previstas no projeto do Deputado Paulo Delgado, de 1989, que previam a substituição do “modelo hospitalocêntrico” por uma rede de serviços descentralizada, hierarquizada, diversificada nas práticas terapêuticas, favorecendo o acesso desse cliente ao sistema de saúde, diminuindo o número de internações, reintegrando-o à família e comunidade, resultando, desta forma, na melhoria da qualidade dos serviços nesta área.
Entre os delegados, estavam representantes do segmento público e do segmento privado, que concordavam, pelo menos no discurso, em que a assistência ao cliente com transtorno mental precisava ser mais humanizada. A discordância surgia quando o tema era a substituição do sistema de internações hospitalares pela adoção de outras modalidadesterapêuticas que investiam na ressocialização deste indivíduo, ou seja, sua desospitalização.
Os contrários a esta ideia, ao serem vencidos nas Conferências de Saúde Mental, passaram a fazer pressão no Congresso Nacional, impedindo a tramitação do projeto. A luta deles era pela manutenção da prática de asilamento e exclusão deste usuário do convívio social. Justificavam sua posição argumentando que os lares não teriam estrutura para manterem financeiramente estes pacientes, somando-se os compromissos empregatícios e atividades diárias dos familiares, o que poderia indisponibiliza-los a levar os pacientes às sucessivas sessões terapêuticas e de cuidar diariamente deste indivíduo adoecido. Mas o que de fato lhes preocupava era a redução dos lucros gerados por este sistema de encarceramento do louco.
O outro lado, representado pelo movimento da reforma sanitária, sustentava a desospitalização e desinstitucionalização dos pacientes como uma forma de garantir a cidadania àqueles que passaram anos de suas vidas encarcerados em enfermarias sombrias. Esta lógica transformava também as relações institucionais, alcançando as necessidades dos funcionários e técnicos que ali trabalhavam no que diz respeito à melhoria das condições de trabalho, à implantação de um modelo participativo de gerenciamento, rompendo com a estrutura que distanciava o fazer do saber e vice-versa.
Ingenuamente, os familiares dos pacientes que há anos estavam hospitalizados, mesmo conscientes das falhas do sistema hospitalar psiquiátrico, o defendiam. O que mais os preocupava era a convivência com indivíduos com histórico de desvios da personalidade que os deixavam violentos, letárgicos, eufóricos, repetitivos, sem nexos, enfim, cujo afastamento desgastou os sentimentos, o gostar de estar junto.
Mas o que dizem esta lei e este substitutivo que geram tanto desconforto entre parte da sociedade civil, profissionais de saúde e gestores? O que moveu tantos interesses e que serve de referência para aqueles que trabalham na área de saúde?
Em primeiro lugar, esta lei propõe a extinção progressiva dos manicômios (instituições fechadas) e sua substituição por instituições abertas, tais como: unidades de Saúde Mental em hospital geral, emergência psiquiátrica em pronto socorro geral, unidade de atenção intensiva em Saúde Mental em regime de hospital-dia, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), serviços territoriais que funcionem 24 horas (NAPS), pensões protegidas, lares abrigados, centros de convivência, cooperativas de trabalho e outros serviços que preservem a integridade do cidadão.
Na realidade, substituir a lógica hospitalar por novas modalidades de atenção ao cliente com transtornos mentais sustenta-se nos princípios de inclusão, solidariedade e cidadania e representa um resgate ético.
Outro aspecto importante é que a lei inibe a construção de novos hospitais psiquiátricos e a contratação ou financiamento de novos leitos nesta área pelo poder público, utilizando critérios rígidos e atrelando sua aprovação a comissões intergestoras e de controle social dos três níveis de gestão do SUS.
Esta medida não somente dificulta a ação dos empresários que lucram com este setor, mas força a rede pública e privada de saúde a criar efetivamente mecanismos concretos de desospitalização, como os hospitais-dia, Lares Abrigados, pensões protegidas e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Com relação ao processo de internação, está previsto que só poderá se dar quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. Desta forma, a lei prevê três tipos de internação: voluntária, aquela consentida pelo usuário; involuntária, aquela a pedido de terceiro, sem consentimento do usuário; e compulsória, aquela determinada pela justiça.
É bom lembrar que a internação involuntária a pedido da família, sem consentimento expresso do paciente, deve ser comunicada ao Ministério Público, à autoridade sanitária e ao Conselho Local de Saúde no prazo de 48 horas. Deve também ser composta uma comissão interdisciplinar com integrantes da administração pública, de entidades profissionais, de usuários e da sociedade civil, para avaliar a pertinência legal da internação. Esta medida evita o uso indevido pela família e classe jurídica da prerrogativa de dispor sobre a vida de pessoas com transtornos mentais, tendo como finalidade o gerenciamento dos seus bens e a liberação de penas judiciais.
Na 2ª Conferência de Saúde Mental, as propostas sobre o direito à informação estão conjugadas ao direito à divulgação e educação. A divulgação desses direitos devem contemplar ações educativas em saúde mental para toda a população, extrapolando os espaços das instituições de saúde, da família e do usuário, chegando aos meios de comunicação de massa como TVs, rádios e jornais.
Outro ponto crítico é a prescrição abusiva de medicamentos que causam dependência, tais como: anorexígenos, antitussígenos e anticonvulsivantes. Para o controle do uso dessas drogas, é importante que os Conselhos Profissionais e a Vigilância Sanitária Estadual fiscalizem e avaliem as corporações de médicos, farmacêuticos, indústria farmacêutica e comércio, visando o controle do processo de medicalização, e implementem programas de educação continuada para os profissionais envolvidos que apontem para a desmedicalização.
Finalizando, você há de perguntar: e os pacientes que estão há longo tempo hospitalizados, sem perspectiva de integração, que destino terão? Essa também é a preocupação dos familiares destes doentes. Na Lei nº 10.216 de 2001, isto está previsto no artigo 6º, que diz: “O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento quando necessário”.

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