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Psicologia da Gestalt Referências: A psicologia humanista e a abordagem gestáltica - Lilian Frazão Trata-se da qualidade da configuração como um todo — os objetos por nós percebidos constituem formas que são mais do que a soma das sensações. Sugere o termo alemão Gestalt — que significa forma, configuração — para designar tal qualidade A psicologia da Gestalt surge no início do século 20, sendo seus principais expoentes Wertheimer, Kõhler e Koffka. Ao afirmar que percebemos totalidades que são diferentes da soma das partes, esses autores revolucionaram as teorias a respeito da maneira como as coisas são percebidas. Até então a psicologia adotava o modelo positivista que defendia a necessidade de encontrar leis invariáveis de ordenação dos fenômenos, devendo estes ser passíveis de controle experimental. Essa concepção sofreu uma reviravolta quando o filósofo Franz Brentano criou a psicologia do ato, segundo a qual os fenômenos mentais são atos que implicam objetos externos, devendo a psicologia estudar os processos mentais e não seus conteúdos. A noção de intencionalidade. Edgar Rubin foi o primeiro afirmar que a percepção visual se organiza em figura e fundo, fato esse ilustrado pela conhecida imagem das duas faces que podem ser percebidas como um cálice. Christian Von Ehrenfels afirmou a existência de uma qualidade perceptiva da forma (Gestaltqualitãt) que pertence à configuração e não a cada um de seus elementos ou mesmo à soma destes. O trabalho de Von Ehrenfels deu origem às investigações de dois outros estudiosos: Meinong e Benussi, que constituíram aquilo que viria a ser conhecido, na psicologia da Gestalt, como Escola de Graz. Para esses autores, as sensações seriam anteriores às percepções e a Gestalt Qualitat resultaria da síntese das sensações. Wertheimer, Köhler e Koffka, da Escola de Berlim, discordaram dessa visão dualista de que primeiro viriam as sensações e só depois as percepções. Uma Gestalt ou configuração não se reduz à simples soma de partes, nem mesmo à justaposição delas. Se qualquer parte da configuração for alterada, teremos uma configuração diferente. Tais autores afirmaram que percebemos totalidades que não resultam de uma síntese de sensações, mas convergem em uma integração imediata dos estímulos, afirmaram também que não podemos separar “interior” (sensações) e “exterior” (percepções). Em uma de suas pesquisas, Wertheimer estudou o “fenômeno Phi” ou “efeito de movimento aparente”, que demonstrou que podemos ter a sensação de movimento sem que ele ocorra. Projetou sobre uma tela dois pontos de luz que se acendiam e apagavam num curto intervalo entre cada uma das luzes e observou que a percepção era a de um ponto se movendo na tela. Figura e fundo A psicologia da Gestalt, tal como já anunciado por Rubin, afirma que nossa percepção se organiza pelo princípio de figura/fundo: percebemos totalidades e, dependendo das circunstâncias, algo se destaca, torna- se mais proeminente, fica em primeiro plano. Figura e fundo integram o que chamamos de Gestalt, configuração ou totalidade. Não se pode falar numa Gestalt sem considerar figura e fundo. Apenas a figura não constitui uma Gestalt. Figura e fundo não são fixas nem estáticas: elas se modificam, são reversíveis e podem se alternar conforme as circunstâncias. Trata-se de um processo contínuo de formação e destruição de Gestalten. No trabalho clínico em Gestalt-terapia, deve-se observar que nem o terapeuta nem o cliente se dão conta de tudo que integra o fundo — eles podem perceber parte do fundo e, ainda que não percebam a totalidade do que está lá, isso é considerado parte do fundo. Podemos pensar na história de vida da pessoa, suas experiências, seus conflitos, suas dificuldades, suas potencialidades etc. como parte do fundo, embora não estejamos em contato com isso o tempo todo. O princípio da pregnância pode ser identificado na noção de ajustamento criativo da Gestalt-terapia, conceito que se refere à capacidade de ajustar-se ao ambiente considerando, simultaneamente, nossas possibilidades e as possibilidades deste. Também é preciso considerar que o sentido da figura emerge da relação figura/fundo. Não é a figura nem o fundo em si mesmos que determinam o significado, e sim a relação figura/fundo: é a relação figura/fundo que dá sentido à figura. Por exemplo: num incêndio, a água tem um sentido (o de apagar o fogo); em outra situação, o líquido tem outro sentido (aplacar a sede, por exemplo). Além do princípio de figura/fundo, outros princípios regem a organização da nossa percepção. O mais importante, que rege todos os outros, é o princípio da pregnância ou princípio da boa forma, segundo o qual a organização psicológica será sempre tão “boa” quanto as condições reinantes permitirem. “Boa” organização é aquela que está de acordo com as condições reinantes no momento em que o percepto é percebido. O princípio do fechamento se refere ao fato de que figuras completas são mais facilmente percebidas, razão pela qual tendemos a fechar figuras que na realidade estão incompletas. Além disso, se, por alguma razão, as Gestalten não podem se fechar e se mantêm abertas, perturbaram — e eventualmente até impedirão — a fluidez do processo contínuo de formação e destruição figura/fundo. O efeito Zeigarnik postula que ações ou situações incompletas são fortemente registradas e carregadas de tensão, e assim que houver uma oportunidade o indivíduo buscará aliviá-la. Afirma também que as situações inacabadas (ou Gestalten abertas) serão mais facilmente lembradas do que as acabadas. Outros princípios Segundo o princípio da semelhança, percebemos mais facilmente objetos semelhantes entre si do que objetos diferentes uns dos outros, ou seja, agrupamos objetos por semelhança de cor, forma, textura, tamanho etc. Segundo o princípio da proximidade, coisas que estão próximas umas das outras são percebidas como pertencentes a um mesmo agrupamento. Segundo o princípio da simetria, tendemos a perceber objetos como simétricos a partir do centro. A ideia de situação inacabada. O fato de que uma Gestalt é um fenômeno irredutível. É uma essência que está aí e que desaparece se o todo for fragmentado em seus componentes”. A diferenciação da Gestalt em figura e fundo. O princípio de que uma Gestalt forte tem necessidade de se fechar. De acordo com o princípio da continuidade, vemos mais facilmente continuidade em determinada direção nos elementos que compõem uma figura. Todos os princípios anteriormente abordados implicam o princípio da pregnância: a organização será sempre tão boa quanto as condições reinantes o permitirem. Os estudos dos psicólogos da Gestalt não se aplicam apenas aos fenômenos da percepção, mas também à memória, aos processos de aprendizagem, de pensamento etc. Na mesma época em que os psicólogos da Gestalt estudavam os fenômenos da percepção, Kurt Goldstein desenvolvia sua teoria organísmica. Enquanto para os psicólogos da Gestalt percebemos totalidades, Goldstein afirmava que nosso organismo funciona como uma totalidade, implicando alterações nas partes uma reconfiguração organísmica. Essa afirmação resultou de estudos feitos com soldados que haviam sofrido algum tipo de lesão cerebral, o que impedia ou limitava determinadas funções. Goldstein observou que, em virtude desses danos, tais soldados demonstravam toda uma nova organização de comportamento a fim de dar conta das dificuldades. (autoregulação organísmica). Em sua autobiografia, Perls sublinha quatro aspectos considerados por ele os mais importantes na psicologia da Gestalt: 1. 2. 3. 4.
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