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serviço social e processo de trabalho

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SERVIÇO	SOCIAL	E	PROCESSO	DE
TRABALHO
UNIDADE 1 - O SIGNIFICADO DO SERVIÇO
SOCIAL NA DIVISA� O SOCIAL E TE� CNICA DO
TRABALHO
Autoria: Graciela Novakowski Heckler - Revisão técnica: Priscila Maitara Avelino
Ribeiro
Introdução
Nesta unidade teremos como objetivo compreender a relação do Serviço Social com o trabalho, visando
analisar essa pro�issão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, remetendo, especialmente, à condição de
trabalho coletivo.
De que forma o contexto atual da sociedade afeta o trabalho do pro�issional de Serviço Social? E� muito
importante compreender que as transformações e inovações na organização do trabalho, o crescente
desemprego, a globalização cultural e o empobrecimento das populações, que afetam e interferem diretamente
no setor econômico, polı́tico e social, são questões que re�letem no cotidiano dos pro�issionais de Serviço
Social.
Destacamos estes fatores pois são importantes para a problematização e abertura de novos espaços sócio-
ocupacionais, para a aumento da empregabilidade dos assistentes sociais e, principalmente, para a ampliação
do acesso a informações, defesa e garantia de direitos sociais da população.
Você sabe como surgiu essa pro�issão? Nesta unidade estudaremos a trajetória sócio-histórica da pro�issão.
Veremos, por exemplo, que ela teve inı́cio na década de 1930, com o desenvolvimento do sistema capitalista,
que fez surgir a questão social brasileira, em função das lutas pela a�irmação dos direitos sociais, que
demandavam a interferência nas problemáticas decorrentes da miserabilidade da classe proletária.
Mas e hoje? Você sabe quais são os fundamentos contemporâneos do Serviço Social? E� na contemporaneidade
que essa pro�issão se caracterizará na perspectiva em que os pro�issionais são capazes de compreender a
realidade, executando o seu trabalho pautado no código de ética da pro�issão e tendo como matéria-prima a
questão social. Para o enfrentamento das expressões da questão social, os assistentes sociais devem ter
conhecimento teórico, ética, competências, habilidades, criatividade, visando uma melhor atuação na garantia
e efetivação do acesso aos direitos dos usuários.
Bons estudos!
1.1 Significado do Serviço Social na divisão social e técnica
do trabalho
Compreender o trabalho e suas transformações na sociedade contemporânea é a base para discutir os
processos de trabalho, seja na inclusão produtiva ou social. Por isso, nesse tópico são apresentadas re�lexões
sobre o Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho, bem como os impactos da intervenção do
assistente social.
1.1.1 Trabalho e suas metamorfoses
Para compreender os movimentos do trabalho e suas metamorfoses na sociedade contemporânea, faz-se
necessário situar historicamente a noção de trabalho criada na modernidade, oriunda do �inal do século XVIII,
na Inglaterra, onde emerge a ideia do trabalho fabril. O trabalho fabril está relacionado ao surgimento de livres
mercados e na divisão do trabalho em nossa sociedade.
De acordo com Sennett (2002, p. 36), as famı́lias eram consideradas o centro da economia, ou seja, não havia
separação entre local de moradia e local de trabalho; a dissociação desses espaços teve inı́cio apenas a partir
da modernidade. Por isso, o mundo do trabalho acabou se tornando mais independente e autônomo das
relações sociais e das práticas polı́ticas, religiosas, culturais e educacionais.
O trabalho socialmente remunerado e determinado é, portanto, um fator importante da socialização.
Atualmente, o que as pessoas chamam de trabalho é uma invenção da modernidade, generalizada pelo
industrialismo. Tal trabalho não deve ser confundido nem com afazeres diários, nem como algo penoso e
sacri�icante, porque os afazeres diários são necessários para a manutenção e reprodução da vida, e o trabalho
penoso e sacri�icante, apesar de, para muitos, ter caráter apenas paliativo e obrigatório, de qualquer forma
também trará benefı́cios para os envolvidos e para as pessoas próximas do trabalhador, como os seus
familiares.
#PraCegoVer: fotogra�ia que mostra meio corpo de um trabalhador, homem, que veste uma camisa xadrez
vermelha e macacão azul. Ele está de joelhos, com braços esticados, segurando uma chave de fenda, com a
qual está concertando uma máquina de lavar roupas, de cor branca. 
 
Nesse mesmo sentido, Blass (1999, p. 147) a�irma que a ideia de trabalho está associada à execução de tarefas
de caráter pro�issional; portanto, pagas, assalariadas e exercidas predominantemente pelos homens nas
fábricas, então, fora de casa e na esfera pública. 
A partir do momento em que a econômica se emancipou de todos os demais princı́pios da racionalidade para
submetê-los ao seu domı́nio, é que iniciou o desenvolvimento do capitalismo industrial ligado ao trabalho
moderno. Por muito tempo “a racionalidade econômica, caracterı́stica fundamental da empresa capitalista, foi
contida pela transição e outros limites que não a permitiam ultrapassar” (GORZ, 2003, p. 26).
O reducionismo, trazido pela racionalidade econômica do capitalismo, fez com que os valores e �ins
irracionais fossem ignorados pelos indivı́duos, prevalecendo apenas relações consideradas monetárias, de
forças e instrumentais, fazendo nascer com isso, conforme Gorz (2003, p.28), uma classe de operários
proletários totalmente despossuı́dos, reduzidos apenas à força de trabalho que pode ser vendida.
Figura 1 - Mercado de trabalho além da industrialização
Fonte: Dmitry Kalinovsky, Mediapool, 2020.
Highlight
#PraCegoVer: fotogra�ia. No fundo da imagem um quadro de giz verde no qual está desenhado um grá�ico
com seis degraus. O degrau maior, do lado esquerdo, foi desenhado com giz amarelo e tem um saco de
dinheiro grande em cima. Os demais degraus, de giz branco, com pilhas de moedas que diminuem conforme
diminui o tamanho do degrau. No centro da fotogra�ia, de costas e olhando para o quadro, há uma mulher de
cabelos castanhos cumpridos, vestindo roupa social em tons de azul claro. 
 
Com a racionalização econômica, o trabalho e seus rendimentos passam a ser calculáveis, ou seja, o trabalho é
medido a partir dos seus rendimentos e de seus lucros, independente das individualidades e das motivações
de cada trabalhador, pois só assim o trabalhador poderá ser incluso no resultado de um processo produtivo
e�icaz, o qual trará resultados bené�icos para o sistema capitalista. 
Como explica Gorz (2003, p. 29), o trabalhador deve estar despojado de sua personalidade e de sua
singularidade, de seus �ins e de seus desejos próprios. E� , assim, simples força de trabalho, comparável à
qualquer outro trabalhador, servindo a �ins que lhe são estranhos e indiferentes. O trabalhador se torna tão
mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão.
Neste contexto, compreendemos que o trabalho tem sua interferência de forma direta na relação do homem
com a natureza, pois quando assume o papel de executar com o ato de produção e de reprodução, acaba por
alterar as sua própria realidade. Nas palavras de Marx (1989a, p. 208):
O processo de trabalho, que descrevemos em seus elementos simples e abstratos, é atividade
dirigida com o �im de criar valores-de-uso, de apropriar os elementos naturais às necessidades
humanas; é condição necessária do intercâmbio material entre o homem e a natureza; é condição
natural eterna da vida humana, sem depender, portanto, de qualquer forma dessa vida, sendo antes
comum a todas as suas formas sociais.
O conceito de trabalho deve ser rede�inido diante da diversidade e da pluralidade de práticas emergentes de
trabalho nas sociedades contemporâneas, pois elas envolvem mulheres, idosos e menores, por desenrolam-se
no âmbito da chamada “economia informal” e do “mundo do não trabalho”. (BLASS, 1999, p. 150). Diverge,
portanto, do trabalho abstrato, uma atividade estranhada e fetichizada, que cria valor-de-troca.Com o
Figura 2 - As mudanças societárias e racionalização econômica
Fonte: eternalcreative, Mediapool, 2020.
Highlight
desenvolvimento do capitalismo, a dimensão do trabalho concreto perde espaço para a dimensão do trabalho
abstrato. De acordo com Gorz (2003, p. 30), devido à racionalização capitalista, o trabalho deixa de ser uma
atividade privada submetida às necessidades naturais para ter caráter limitado e servil e ser a potência
universal, que também desumaniza aqueles indivı́duos que o realizam.
O indivı́duo, por sua vez, torna-se simples acessório da máquina, um alienado em seu trabalho que também o
será em seu consumo e suas necessidades.
No entanto, houve grandes alterações no modo de vida dos trabalhadores, nos seus valores, nas relações
sociais e com a natureza. Com a vinda e implantação da racionalização econômica, passa a ser priorizado e
ganha destaque somente o fato de se ter um salário, deixa-se de priorizar o tempo de se viver, e passa-se a
valorizar o tempo de produzir.
Segundo Antunes (2009, p. 119), na sociedade do capital, com sua lei do valor, temos “cada vez menos
trabalho estável e cada vez mais das diversi�icadas formas de trabalho parcial ou part	time, terceirizado, que
são em escala crescente, parte constitutiva do processo de produção capitalista”.
Com o avanço da tecnicização do processo produtivo na contemporaneidade é necessário a retomada do
debate quanto a divisão social do trabalho. Segundo Antunes (2009), esse debate deve passar pela distinção
entre o trabalho vivo e morto e suas implicações para a classe trabalhadora nos dias atuais.
#PraCegoVer:	fotogra�ia com jovem, entregador de pizza, vestindo uniforme de boné e camisa preta, em uma
cozinha de restaurante, segurando várias caixas de pizza. 
 
A discussão nos dias atuais também é necessária em razão da forte presença da tecnologia no processo
produtivo, o que efetivamente promove dinamicidade na produção e aumenta a riqueza, mas ao mesmo tempo
intensi�ica a exploração do trabalhador. Um exemplo, como o apresentado na �igura do entregador de pizza,
são os trabalhos de entrega por aplicativo que, em geral, têm contribuı́do para a precarização do trabalho.
1.1.2 Transformações nos modelos produtivos: relação com o serviço social
O trabalho abrange um campo mais amplo do que o emprego.
Figura 3 - Tecnicização do trabalho e tecnologia no processo produtivo
Fonte: ESB Professional; Mediapool,2020.
Na sociedade contemporânea, as transformações do trabalho também estão relacionadas aos modelos
produtivos, pois a proposta fordista, baseada na produção em massa, rı́gida e centralizada, foi sendo
modi�icada pela implantação do toyotismo. 
Com a proposta de produção �lexı́vel e enxuta, ou seja, pro�issionais multifuncionais que sabem operar mais
de uma única máquina, polivalentes, preocupa-se com a qualidade do produto, a e�iciência sem desperdı́cios,
evitando acúmulos de estoque, porém com variedade de produtos.
O	trabalho	é uma atividade social presente em todas as sociedades, independente das de�inições
obtidas.
Desse modo, permitir uma noção ampliada do trabalho possibilita re�letir sobre uma
problemática constituı́da historicamente a partir da generalização das formas de assalariamento,
a diferenciação entre trabalho e emprego. 
Trabalho é o movimento de extrair da natureza os meios de sobrevivência ou de trocas; portanto,
ele não está separado da vida.
O emprego deve ser entendido como trabalho diferenciado, pois os trabalhadores possuem
alguns direitos sociais e recebem salários pelos serviços prestados, o que di�iculta a exatidão dos
ı́ndices de emprego e desemprego, além de dividir ainda mais a relação entre emprego e proteção
social. 
VOCÊ QUER LER?
O artigo Reestruturação	produtiva	 e	 recomposições	do	 trabalho	e	 emprego.	Um	périplo
pelas	 "novas"	 formas	 de	 desigualdade	 social é uma leitura importante para a
compreensão das diferentes forças estabelecidas no mundo do trabalho. Para ler,
acesse:https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232013000600007 (https://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1413-81232013000600007).
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232013000600007
#PraCegoVer: fotogra�ia de livro impresso, com imagem em preto e branco de Henry Ford. Homem branco,
cabelos grisalhos, vestindo terno. Abaixo da �igura de Ford, consta sua data de nascimento:30 de julho de
1863, e a data de sua morte: 7 de abril de 1947, escrito em inglês.
 
Com as mudanças nos processos produtivos da contemporaneidade, identi�ica-se os re�lexos na diversidade
das práticas assalariadas existentes, bem como na formação de diferentes sociedades capitalistas. Por isso, foi
possı́vel, a partir da heterogeneidade de experiências de trabalho, elaborar conceitos sobre o que é trabalho, o
qual está em constante reformulação e reelaboração que depende do contexto vivenciado.
No entanto, reconhecer que o trabalho instiga muitas potencialidades no sentido de promover o progresso e
ampliar a riqueza material das sociedades, independentemente de suas de�inições teóricas e possı́vel em
diferentes setores e com diferentes modelos de trabalho.
A seguir, vamos identi�icar formas de intervenção do trabalho coletivo, especialmente do serviço social.
Figura 4 - Henry Ford, criador da teoria do fordismo
Fonte: GongTo, Mediapool, 2020.
1.2 Serviço social enquanto trabalho coletivo: principais
condicionantes
A compreensão histórica dos processos vinculados ao trabalho e ao Serviço Social, é necessária para de fato
relacionar suas mudanças. No entanto, atualmente, para compreender como se dá o processo de trabalho do
pro�issional, além de conhecer a realidade social, é necessário a análise da construção da pro�issão, devido as
modi�icações que ocorreram nela e no contexto histórico-social em que foi gestada. No Brasil, o Serviço Social
se institucionalizou e se legitimou por volta de 1937, com a intervenção do Estado nos processos de
regulação da sociedade, visando o enfrentamento da questão social. 
Ainda nos anos de 1930, a igreja foi outra organização de relevante responsabilidade pela origem do Serviço
Social. O Serviço Social nesse perı́odo estava permeado de ações assistencialistas, além de estar ligado a
moralidade e ao conservadorismo.
O motivo pelo qual no debate atual no campo do Serviço Social tece crı́ticas ao assistencialismo é o
conhecimento de que a necessidade de a sociedade civil realizar assistencialismo signi�ica fragilidade do
Estado em atender os direitos universais, pois este deveria criar subsı́dios necessários para que as pessoas
pudessem resolver seus problemas de forma autônoma. 
A intervenção pro�issional do assistente social no trabalho coletivo, especialmente com famı́lias, a partir do
ano de 1990, destaca-se, como um perı́odo histórico durante o qual a famı́lia inicia o processo de ocupação de
uma agenda da polı́tica pública.
De acordo com Iamamoto (1999), são difı́ceis esses novos tempos, em que se acelera o desemprego e a luta
pela sobrevivência tanto no meio rural como no meio urbano.
Um momento que manifesta-se como desa�iante para os assistentes sociais e demais pro�issionais, pois a
gestão da polı́tica voltada à proteção social, passa a ter que desenvolver, cotidianamente, estratégias de
sobrevivência nesses tempos excludentes e desiguais, centrado nos processos de acumulação do capital.
A atuação do assistente social na articulação de polı́ticas púbicas de impacto nas expressões da questão
social, apresentam suas limitações e desa�ios especialmente quando os serviços são voltados para a
população usuária de forma direta. Pois, nem sempre são compreendidos pelo encaminhamento realizado, e
que, em geral, visa a inclusão e permanência dos sujeitos no mercado de trabalho.
Mesmo diante das conquistas que o Serviço Social teve após o seu reconhecimento comopro�issão, inclusive
como espaço no campo pro�issional para pro�issionais de alto nı́vel intelectual e de produção do
conhecimento, ainda se destaca como um principal problema, que não está relacionado ao fazer pro�issional,
mas que diz respeito ao encaminhamento dado às conquistas adquiridas até o momento.
O desemprego, o trabalho informal, a pouca quali�icação, seguida de baixa remuneração, contribuem para a
exclusão no mundo do trabalho, acelerando o processo de empobrecimento da grande maioria das famı́lias e
repercutindo como um agravante das expressões da questão social.
Os avanços tecnológicos e cientı́�icos, ao mesmo tempo em que impõem diferentes padrões e ritmos de
trabalho, consequentemente restringem as demandas de trabalho, acarretando um crescente aumento na taxa
do desemprego (IAMAMOTO, 1999).
Contudo, a realidade contemporânea impõe novas demandas ao assistente social, desa�iando o pro�issional a
encontrar respostas diante das problemáticas vivenciadas pela população usuária em meio à dinâmica
familiar e societária.
Cabe compreender que a exclusão das famı́lias pobres não se refere apenas aos aspectos socioeconômicos,
também transcende os bens materiais e atinge os aspectos culturais: mitos, crenças e valores, re�letindo em
necessidades afetivas, de pertencimento e reconhecimento sociofamiliar.
Frente à intervenção do assistente social de forma coletiva é fundamental compreender o que está implı́cito na
realidade vivenciada pelos sujeitos, e nas relações estabelecidas, a exemplo: o sentido que o sujeito atribui ao
trabalho, à sua condição socioeconômica e à realidade vivida em famı́lia.
Entretanto, por mais que a complementaridade dos aspectos subjetivos que constitui a realidade exposta, há
que se considerar a realidade objetiva que integra o cenário econômico, social e polı́tico em que os sujeitos
estão inseridos.
Essa inter-relação deve contemplar o espaço familiar e a complexidade que envolve os espaços sociais, uma
vez que a história é um determinante indispensável que integra o exercı́cio pro�issional, pois ao integrar a
intervenção do assistente social confronta os limites e possibilidades que estão presentes, substancialmente
na realidade que precisa ser considerada.
1.2.1 Dinâmica e a contradição da sociedade capitalista
Pensar o trabalho do assistente social em tempo de capital e fetiche requer também tratar o processo de
formação dessa força de trabalho quali�icada no âmbito do ensino universitário, sujeito às injunções
econômicas, polı́ticas e ideológicas da prevalência do grande capital e de seus centros estratégicos mundiais.
(IAMAMOTO, 2011, p. 432).
Considerando a exposição acima, é importante ressaltar, conforme Iamamoto (1999), que ao compreender e
agir sobre a realidade social, o pro�issional se defronta com a dinâmica e a contradição da sociedade
capitalista.
E, o chamado “novos tempos” que hoje se vivenciam, exige do assistente social um “novo per�il” pro�issional
frente à intervenção na realidade social.
[...]. O novo per�il que se busca construir é de um pro�issional a�inado com a análise dos
processos sociais, tanto em suas dimensões macroscópicas quanto em suas manifestações
quotidianas; um pro�issional criativo e inventivo, capaz de entender o ´tempo presente, os
homens presentes, a vida presente´ e, nela atuar [...]. (IAMAMOTO, 1999, p. 49)
Assim, visualiza-se a relação teórico-prática, frente à construção de uma visão crı́tica, indissociável e
complementar.
Essa relação entre teoria e prática agrega um conjunto de dimensões que fundamentam a intervenção do
assistente social: ético-polı́tica, teórico-metodológica e técnico-operativa. Tais dimensões se complementam
e fornecem uma base estrutural para a intervenção pro�issional, contribuindo signi�icativamente na leitura da
realidade e na qualidade dos serviços prestados em defesa dos sujeitos e suas famı́lias.
Neste sentido, compreende-se a importância da relação teoria e prática no processo de formação pro�issional.
 
#PraCegoVer: fotogra�ia, focalizando duas pernas do tornozelo para baixo, de alguém que veste calça jeans e
sapato social preto. Cada pé está colocado de um lado do asfalto, no qual vemos um desenho com um risco
branco dividindo a tela e duas �lechas brancas apontando uma para cada lado. O pé direto está sobre a �lecha
que aponta para a esquerda, na qual está escrito prática, em inglês “practice”. O pé direito está sobre a �lecha
que aponta para a direita, na qual está escrito em teoria, em inglês “theory”. 
 
Figura 5 - Relação Teoria e prática caminham juntos na intervenção pro�issional
Fonte: Markus Mainka, Mediapool,2020.
Highlight
Highlight
Buscando elucidar o trabalho do assistente social em tempo de capital e fetiche, a autora Iamamoto (1999)
destaca a atuação do assistente social, considerando as implicações teóricas que permitem compreender a sua
inserção na divisão sociotécnica do trabalho.
Embora haja uma percepção de possı́vel autonomia dos assistentes sociais, descritos no código de ética como
sendo pro�issionais liberais, essa de�inição só cabe com relação ao conhecimento e técnicas operativas, pois
quando estão desvinculados de uma instituição não podem atuar e, por isso, não podem ser considerados
pro�issionais liberais.
Desse modo, Iamamoto (1999) coloca a autonomia como condicionada às lutas hegemônicas, ou seja, pela
consciência de classe da massa, que aumenta ou diminui seu espaço na sociedade burguesa através da luta
por polı́ticas sociais, para o atendimento das necessidades coletivas da classe trabalhadora.
Iamamoto (2011), a�irma, ainda, o caráter social desse trabalho que assume uma dupla dimensão: como
trabalho útil atende necessidades sociais e efetiva-se através de relações com outros homens, mas só pode
atender às necessidades sociais se seu trabalho puder ser igualado a qualquer outro enquanto trabalho
abstrato.
Considerando sua liberdade relativa, o assistente social deve defender sua autonomia através da sua
quali�icação acadêmico-pro�issional especializada, com “a regulamentação de funções privativas,
competências e com articulação com outros agentes institucionais que participam do mesmo trabalho
cooperativo, além das forças polı́ticas das organizações dos trabalhadores que aı́ incidem” (IAMAMOTO,
2011, p. 422).
Segundo Iamamoto (2011), o maior empregador de assistentes sociais da história ainda é o Estado, que
apresenta uma forma administrativa, burocrática como sendo a essência e segredo de sua competência, porém
acaba contaminando a relação do assistente na sua rotina, sendo um motivador para causar o comodismo na
prática cotidiana. Nesse sentido, identi�ica-se a necessidade da desburocratização do Estado visando melhorar
a qualidade desse segmento estatal.
VOCÊ QUER VER?
Marilda Villela Iamamoto realizou uma palestra no 7º Seminário Anual de Serviço
Social, organizado pela Cortez Editora, abordando questões referente a naturalização
da ordem de capital em tempos de crise pelos assistentes sociais. Para assistir, acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=zDOnXgCH_1Y&list=RDCMUCe-
Owweq_AZYTQq2cvONqxg&start_radio=1&t=11 (https://www.youtube.com/watch?
v=zDOnXgCH_1Y&list=RDCMUCe-Owweq_AZYTQq2cvONqxg&start_radio=1&t=11).
https://www.youtube.com/watch?v=zDOnXgCH_1Y&list=RDCMUCe-Owweq_AZYTQq2cvONqxg&start_radio=1&t=11
Os espaços estatais podem ser interpretados como lugares estratégicos para fomentar e lutar pelos interesses
coletivos. Outra situação é que não existe um processo de trabalho e sim um trabalho do assistente social e
processos de trabalho nos quais ele se envolve na condição de trabalhador especializado para cada expressão
social da sociedade.
1.2.2 Características profissionais
O processo de globalização e as questões oriundas desse processo, como a exclusão social, têm apontado para
um aumento dos segmentos sem cobertura para a reprodução social; diminuição do papelinterventor do
Estado no social e a utilização de tecnologias de gerenciamento de processos de trabalho nestas áreas.
Por isso, têm-se como foco a intervenção na questão social, considerada, nesse contexto, como determinante
na con�iguração do processo de trabalho do Serviço Social.
Embora não exista a redução de demanda por assistentes sociais, observa-se uma diminuição de postos de
trabalho no Estado, mediante os cortes dos recursos orçamentários para as polı́ticas sociais e o aumento de
trabalhadores voluntários e terceirização dos serviços. Isso demonstra que as polı́ticas sociais não vêm
cumprindo seus objetivos de cobertura e reprodução ampliada das condições de vida da classe trabalhadora.
Uma di�iculdade que pode ser compreendida considerando a forma como essas polı́ticas vêm sendo gerida.
Neste sentido, uma solução para esse desa�io da atuação do assistente social no seu processo de trabalho é, de
fato, utilizar-se de sua competência técnica, seu conhecimento teórico-metodológico e o direcionamento
ético-polı́tico pro�issional para esclarecer os diferentes interesses presentes na realidade e, assim,
desenvolver novas formas de mediar essas manifestações.
Para isso, é necessário, a utilização dos instrumentos técnicos para imprimir direção e qualidade à sua prática
pro�issional, de forma a romper com as questões ideológicas que permeiam a sua atuação, bem como com as
ações imediatistas das instituições.
Segundo Iamamoto e Carvalho (2005), em primeiro lugar é preciso considerar que o Serviço Social, ainda que
regulamentado como uma pro�issão liberal, não se apresenta com estas caracterı́sticas na sociedade brasileira
em sua colocação no mercado de trabalho, mas sim com caracterı́sticas tı́picas de uma pro�issão liberal,
como, por exemplo, a existência de uma relativa autonomia, por parte do assistente social, quanto à forma de
condução de seu atendimento junto a indivı́duos e/ou grupos sociais com os quais trabalha.
No modo de produção capitalista ocorre a complexi�icação da capacidade de trabalho socialmente combinada,
ou seja, o trabalho coletivo (MARX, 1978).
Não importa se um trabalho foi realizado próximo ou distante da matéria de trabalho, ou se realizou no
mesmo espaço fı́sico ou em diferentes lugares, todos eles contribuı́ram no processo de produzir o produto e
de construir a riqueza do sistema capitalista.
Portanto, esses elementos, organizados de forma concentrada com outras pro�issões, caracterizam o trabalho
coletivo e social, responsáveis pelo processo de produção e reprodução social.
O Serviço Social está inserido no processo de reprodução material e social da força de trabalho, de acordo
com Iamamoto (2009), atuando por meio dos diferentes programas desenvolvidos em diversas áreas
(Assistência Social, Saúde, Educação, Habitação), voltadas para questões que dizem respeito à sobrevivência
social e material dos setores majoritários da população trabalhadora.
Isso também nos traz a re�lexão quanto a qualidade dos serviços oferecidos e formas estabelecidas para o
processo de trabalho, com o respeito aos usuários, e investimento de melhorias nos programas institucionais,
bem como na rede de abrangência dos serviços públicos.
De acordo com de�inições de Antunes (2009), o conceito de classe trabalhadora passa a ser denominado
“classe-que-vive-do-trabalho”. Esse entendimento de fato envolveria todos os que vivem da exploração da sua
força de trabalho.
A expressão ‘classe-que-vive-do-trabalho’ [...] tem como primeiro objetivo conferir validade
contemporânea ao conceito marxiano de classe trabalhadora [...] nossa designação pretende
enfatizar o sentido atual da classe trabalhadora, sua forma de ser. Portanto ao contrário dos
autores que defendem o �im das classes sociais, o �im da classe trabalhadora, ou até mesmo o �im
do trabalho, a expressão classe-que-vive-do-trabalho pretende dar contemporaneidade e
amplitude ao ser social que trabalha à classe trabalhadora hoje, aprender sua efetividade sua
processualidade e concretude (ANTUNES, 2009, p. 101).
A de�inição do Serviço Social enquanto trabalho teve sua relação e in�luência no processo sócio-histórico,
com interferência direta na identidade pro�issional. Nesse contexto, consolidou-se como totalidade concreta
da luta de classes direcionada à intervenção do assistente social, que foi identi�icado como um trabalhador
também inserido na divisão social e técnica do trabalho, mas que intervém nas diferentes manifestações da
questão social.
Conclusão
Concluı́mos aqui esta unidade, na qual abordamos a relação do Serviço Social com o trabalho, estudando
como essa pro�issão se relaciona com a divisão sociotécnica do trabalho.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
estudar o processo do trabalho profissional face as mudanças no
padrão de acumulação capitalista e regulação social na
contemporaneidade, a partir da discussão sobre as
transformações ocorridas no mundo do trabalho;
analisar o trabalho coletivo do assistente social, que deve atuar
de forma concreta com competência técnica, conhecimento
teórico-metodológico e direcionamento ético-político profissional,
para desvendar os interesses antagônicos presentes na realidade
e, assim, criar uma forma de lidar com as manifestações dos
mesmos;
reconhecer o assistente social como trabalhador na divisão
sociotécnica do trabalho;
identificar a atuação do assistente social como trabalhador na
divisão sociotécnica do trabalho e a qualidade dos serviços
prestados, com respeito aos usuários;
compreender a importância do investimento em melhorias dos
programas institucionais na rede de abrangência dos serviços
públicos, reagindo contra as imposições de seletividade no acesso
aos atendimentos.
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Bibliografia
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MARX, K. História crı́tica de la teoria de la plusvalia.	Tomo 1, Buenos Aires: Editora Brumário, 1978.
PALESTRA com a Professora Marilda Villela Iamamoto. Cortez Editora. [S. l.: s. n.], 2014. 1 vı́deo (54h33min).
Disponı́vel em: https://youtu.be/zDOnXgCH_1Y (https://youtu.be/zDOnXgCH_1Y). Acesso em: 24 maio 2020.
SENNETT, R. A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de
Janeiro: Record, 2002. 204p.
https://youtu.be/zDOnXgCH_1Y

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