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Tópicos Especiais de Engenharia de Produção Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Brena Bezerra Silva Revisão Textual: Prof.ª Me. Sandra Regina F. Moreira A Engenharia de Produção e os Novos Processos de Produção • Introdução; • Gestão de Produção e Operações; • Fatores que Influenciam Novos Processos de Produção; • Novos Processos Produção: Manufatura 4.0. · Apresentar a área de gestão de produção e operações; · Apresentar uma retrospectiva dos principais tipos de processos e manufaturas de produção; · Apresentar os fatores que influenciam os processos de produção; · Apresentar os recentes desafios da gestão de produção, operações e novas manufaturas. OBJETIVO DE APRENDIZADO A Engenharia de Produção e os Novos Processos de Produção Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE A Engenharia de Produção e os Novos Processos de Produção Contextualização Nessa Unidade, nós vamos estudar sobre os novos tipos de manufatura e os fa- tores que nós, engenheiros de produção, precisamos gerenciar para manter a nossa empresa competitiva em relação ao mercado. Antes disso, vamos entender o con- texto da engenharia de produção e o contexto da gestão de produção e operações. A engenharia de produção desenvolveu-se ao longo do século XX em resposta às necessidades de desenvolvimento de métodos e técnicas de gestão dos meios produtivos demandadas pela evolução tecnológica e mercadológica. Enquanto que os ramos tradicionais da Engenharia, cronologicamente seus precedentes, evoluíram na linha do desenvolvimento da concepção, fabricação e manutenção de sistemas técnicos, a Engenharia de Produção veio a concentrar-se no desenvolvimento de métodos e técnicas que permitissem otimizar a utilização de todos os recursos produtivos. Diferentemente das ciências da administração de empresas, que se centram mais na questão da gestão dos processos administrativos, processos de negócio e na organização estrutural da empresa, a engenharia de produção centra- se na gestão dos processos produtivos (ARBIX, 2017). Ainda segundo Arbix (2017), a expansão acelerada de tecnologias nos países avançados questiona os modelos de produção e serviços construídos pela indústria do século XX, gerando mudanças de comportamento nos mercados consumidores e apontando para mudanças econômicas e sociais profundas. A digitalização, conectividade e automação acelerada desarticulam indústrias e alteram os padrões de competitividade. Todas essas mudanças interferem nos processos de produção industrial, surgindo novos tipos de sistemas de produção. Nesse sentido, nessa unidade, você irá ler sobre os sistemas de gestão da produ- ção, com o foco no modelo de sistema chamado Manufatura 4.0, e serão apresen- tados os desafios na área de Engenharia de Operações e Processos de Produção. 8 9 Introdução Bem-vindos à esta unidade da disciplina Tópicos de Engenharia. Nesta unidade, iremos abordar sobre a área da gestão de produção e operações, destacando os fatores que influenciam decisões nessa área, como novas tecnologias, demandas e sustentabilidade, e sobre um novo tipo de sistema de produção que é chamado de Manufatura 4.0. Procure ler com atenção o conteúdo disponibilizado e aproveite também para fazer leituras complementares. Bons estudos! Como novas tecnologias podem ser integradas aos sistemas de produção? Como as tecnologias podem melhorar o relacionamento entre fornecedores – fábrica – clientes? De que forma os sistemas produtivos podem responder rapidamente às novas demandas com produtos customizados? Ex pl or Gestão de Produção e Operações As empresas estão sempre reestruturando seus processos para se tornarem mais eficientes, e assim, se manterem competitivas no mercado mundial. No caso dos sistemas de produção, com o avanço das inovações tecnológicas, acompanhamos as mudanças radicais ao longo das décadas, ocorrendo desdobramentos nos âmbitos sociais, políticos e econômicos. Este conjunto de inovações e evoluções é denominado como uma revolução industrial. Segundo Womack, Jones e Roots (2004), a primeira revolução ocorreu no final do século XVIII, sendo marcada pela inovação e mecanização de máquinas a vapor, já que, anteriormente, a produção era desenvolvida de forma artesanal. A segunda revolução industrial iniciou-se na metade do século XIX, com a descoberta de novas fontes de energia, produção em massa e meios de comunicação, como o rádio. A terceira revolução industrial, que se iniciou em meados da década de 1970, e conhecida como a revolução digital, é caracterizada pelo avanço das tecnologias e informática no sistema de produção industrial, visando à redução de custos e tempo de produção. Originalmente, a palavra “manufaturar” significa produzir com trabalho manual. A manufatura sucedeu o artesanato, no século XV, como forma de produção e organização de trabalho. Porém, embora o termo “manufatura” tenha sua origem nas “oficinas manuais”, hoje a expressão é usada para fazer referência às fábricas ou a um grande estabelecimento industrial. Os diferentes tipos de manufatura são estudados na área da Engenharia de Operações e Processos de Produção, ou Gestão de Sistemas de Produção, que engloba estudos para melhoria dos processos de manufatura e operações de serviços. 9 UNIDADE A Engenharia de Produção e os Novos Processos de Produção A Gestão de Operações é definida como adição das habilidades e conceitos que permitem às empresas estruturarem e controlarem os seus processos de negócio para alcançarem um retorno competitivo, sem vincular as necessidades legítimas das partes interessadas internas e externas e, levando em conta o impacto de suas operações sobre as pessoas e o meio ambiente, gerando vantagem de produtividade e competitividade. Com a mudança no cenário competitivo das últimas décadas, a partir de um mercado mais globalizado, torna-se necessário promover e incentivar o ensino e a pesquisa no campo de Gestão de Produção e Operação. Os diferentes tipos de manufatura atenderam às necessidades do mercado compe- titivo de sua época. Porém, com mudanças de mercado, devido à revolução industrial e revoluções tecnológicas, a forma de produzir mudou ao longodo tempo. Até o final dos anos 90, dentro da área da Gestão da Produção, as manufaturas mais comuns estudadas em Engenharia de Produção eram: Manufatura Artesanal, Manufatura em Massa, Manufatura Enxuta, Manufatura Responsiva e Manufatura Ágil. A Manufatura em Massa surgiu com a intenção de superar os problemas carac- terísticos da produção artesanal que, resumindo, eram: a qualificação dos trabalha- dores em projeto, operação de máquinas, ajuste e acabamento; descentralização das organizações, máquinas de uso geral, baixíssimo volume de produção determi- nado por técnicas artesanais e muita variação. A Figura 1 apresenta uma linha de montagem da Ford. A Ford predominou na Manufatura em Massa nessa época. Figura 1 – Linha de montagem da Ford em 1940 Fonte: ABC 2013 A Ford reduziu drasticamente os custos de produção, instalou a intercambiabi- lidade das peças e facilidade de ajustes entre elas, além de aperfeiçoar o operário intercambiável, o que tornou a linha de montagem possível. Posteriormente, intro- duziu a linha de montagem móvel para reduzir a movimentação dos trabalhadores. O modelo da Ford também foi projetado para ter fácil montagem e manutenção. A manufatura em massa, em 1955, uniu as técnicas gerenciais e de marketing e alcançou os maiores índices de vendas da época. Porém, nesse mesmo ano, devido 10 11 aos altos níveis de estoque, ocasionados por mudanças de demanda e do baixo mix de produtos disponíveis, esse tipo de manufatura entrou em crise, o que implicou na reformulação do sistema de produção. Assim, após a Segunda Guerra Mundial, a Toyota, uma empresa japonesa, re- solveu produzir carros em larga em escala. Porém, nessa época, o Japão passava por grandes dificuldades devido à guerra. Dentre as dificuldades, pode-se destacar: o mercado limitado do país, leis trabalhistas rigorosas e uma economia devastada (WOMACK, JONES, ROOTS, 2004). Nesse contexto, a Toyota implantou uma série de mudanças na sua manufatura para se adequar à situação econômica do país. O link a seguir apresenta um vídeo da fábrica da Toyota. Dentre as práticas implantadas, pode-se citar: o método de moldes, denominado set–ups, para diminuir tempo e espaço para máquinas; a re- dução do retrabalho, fazendo certo da primeira vez; a melhoria da relação com os fornecedores, transformando suas operações de suprimento em companhias forne- cedoras; e o sistema de produção just-in-time, com programação puxada, sistema de coordenação de ordens Kanban e sincronização de fluxo de produção, a fim de eliminar praticamente todos os estoques (WOMACK, JONES, ROOTS, 2004). Sistema Toyota de Produção Taiichi Ohno: https://youtu.be/BdC1WZYXwmE Ex pl or A Manufatura Enxuta trouxe impactos para a Engenharia de Produção. Até os dias de hoje, é um dos tipos de manufatura mais utilizados em pesquisas, com agregação de novas tecnologias e métodos. Entretanto, a evolução da manufatura não parou por aí. Com o avanço de tec- nologias de processo e com a necessidade de produzir em menor tempo que os concorrentes, a administração do tempo, especificamente do lead time, torna-se uma importante vantagem competitiva. Para controlar o lead time, deve-se ana- lisar o processo atual, o fluxo de material e informações deve ser identificado e o lead time separado em vários elementos e componentes. A administração do tem- po é espelhada na gestão da qualidade, custo, inovação e produtividade. Geralmen- te, perde-se tempo por causa da execução sequencial de atividades independentes, pela falta de sincronização de atividades dependentes, pela produção de itens que são rejeitados ou retrabalhados, ou pelo fluxo ineficiente de trabalho. O Lead time tem sido um problema na manufatura, e dentre as consequências de lead times excessivos há problemas de programação e expedições dispendiosas. No entanto, algumas manufaturas mais recentes possuem a preocupação com a redução do lead time, por exemplo, a Manufatura Enxuta, a Manufatura Responsiva e a Manufatura Ágil. A Manufatura Responsiva, do inglês Quick Response Manufacturing (QRM), foi proposta por Suri (1988). Ela consiste em um método estruturado com o objetivo de auxiliar as empresas de manufatura a promoverem significativas reduções no lead time de seus processos e obterem vantagem competitiva baseada no tempo. Externamente à empresa, a manufatura responsiva procura responder aos pedidos 11 UNIDADE A Engenharia de Produção e os Novos Processos de Produção ou encomendas dos clientes, concebendo e produzindo produtos personalizados. Internamente na empresa, a manufatura responsiva procura reduzir os lead times de todas as atividades, melhorando a qualidade e reduzindo os custos e o tempo de resposta ao cliente. O QRM propõe que a redução do lead time seja feita por meio da implantação de um projeto que segue uma metodologia de implantação específica, composta por quatro fases: definição do problema, coleta e análise de dados, proposta de melhorias e análise dos resultados esperados. O professor Suri, que desenvolveu o QRM nos Estados Unidos, fez um vídeo explicando me- lhor o sistema de produção: https://youtu.be/nCljs9Bx6ZgEx pl or Segundo Barreto et al. (2005), a Manufatura Ágil foi desenvolvida pela universi- dade americana Iaccoca Institute of Lehigh University, em 1991. A agilidade em conceito prevê dois fatores principais: capacidade de resposta à mudança (anteci- pação ao inesperado) de modo saudável e em tempo suficiente, e transformação da mudança em oportunidade com consequente fonte de obtenção de vantagem competitiva. Esses fatores, por sua vez, necessitam de uma habilidade básica, a sensibilidade, percebendo e antecipando mudanças no ambiente de negócios da empresa. Um sistema de manufatura ágil possui capacidades internas: tecnologias de hardware e software, recursos humanos, gerenciamento específico e informa- ção, para acompanhar as rápidas mudanças de necessidade de mercado (veloci- dade, flexibilidade, clientes, competidores, fornecedores, infraestrutura, poder de resposta). Um sistema que muda rapidamente (velocidade e poder de resposta) de modelos de produtos ou de linhas de produção (flexibilidade), consegue responder à demanda do cliente (necessidades e desejos dos clientes). Assim, na manufatura ágil há um entendimento de que as mudanças oriundas do mercado são uma opor- tunidade de negócio. Assim, a gestão de sistemas de produção e o estudo das manufaturas evoluíram ao longo dos anos, principalmente pelo avanço tecnológico e para atender novas demandas do mercado e dos diferentes stakeholders. A Figura 2 apresenta um processo de produção totalmente automatizado, evidenciando a evolução da ma- nufatura em comparação com o processo de produção da Figura 1. Figura 2 – Manufatura avançada e tecnologias de produção Fonte: iStock/Getty Images 12 13 Importante! Stakeholders são os grupos que interessam a uma empresa como clientes, acionistas, investidores, funcionários, comunidade, governo, fornecedores, concorrentes, mídias e proprietários. Todos esses grupos interferem nas decisões dos processos de produção, contribuindo para a melhoria da produção e operações. Você Sabia? Godinho Filho e Fernandes (2005) resumem os tipos de manufatura na Tabela 1. Tabela 1 – Evolução dos principais tipos de manufatura Manufatura em Massa Atual Manufatura Enxuta Manufatura Responsiva Manufatura Ágil Mercado homogêneo. Mercado estável. Mercado caracterizado pela competição baseada no tempo e na diversidade de produtos. Mercado totalmente imprevisíveis marcados por mudanças bruscas. Cliente entendendo o preço como o principal diferencial competitivo. Clientes desejando preços, qualidade e diferenciação. Clientes desejando velocidade, pontualidade e alta variedade, ou seja, responsividade. Clientes com desejos os mais diversos possíveis e mutáveis e necessidade da empresa fazer frente a este desafio. Fonte: Adaptado de Godinho Filho e Fernandes (2005) Fatores que Influenciam Novos Processosde Produção O campo de Gestão de Operações experimentou mudanças substanciais desde o estabelecimento das manufaturas no século XIX. Da Gestão da Fábrica, passan- do pela Gestão da Produção e chegando à Gestão de Operações, as mudanças se intensificaram, especialmente nas últimas décadas, com grande impacto tanto na atividade empresarial quanto nas atividades de ensino e pesquisa. Estamos vivendo mudanças na forma de produzir, de projetar produtos e pro- cessos, de processar dados e de se relacionar com clientes e fornecedores devido às inovações tecnológicas como desenvolvimento de sensores, máquinas, peças de trabalho e sistemas de Tecnologia e Informação (TI). Gaither e Frasier (2002) apresentaram os fatores e desafios que empresas en- frentam para tornar os processos de produção competitivos para a época. Porém, os fatores podem ser aplicados até os dias de hoje. São eles: • Realidade da competição global: que envolve a gestão da produção para manter as empresas competitivas em relação aos concorrentes, oferecendo um diferencial competitivo, e atender às novas demandas dos stakeholders; • Qualidade, serviço ao cliente e desafios de custos: que envolve atender às necessidades dos clientes em termos de qualidade serviços e redução de custos; • Rápida expansão da tecnologia de produção avançada: que envolve implan- tação de tecnologias de informação para melhorar a comunicação entre forne- 13 UNIDADE A Engenharia de Produção e os Novos Processos de Produção cedores, clientes e fábrica, implantação de robôs em processos de produção e em estoques e softwares de coleta e armazenamento de dados. Exemplo dis- so são os equipamentos e maquinários de última geração, incluindo a robótica e os Sistemas de Gestão Empresarial, os famosos ERPs, responsáveis por todo processo e gerenciamento de dados e informações gerenciais não só na pro- dução, como num todo: inteligência artificial, Internet das Coisas, produção inteligente e conectada, materiais avançados, nanotecnologia, biotecnologia e armazenamento de energia; • Contínuo crescimento do setor de serviços: que envolve incluir serviços aos produtos oferecidos; • Escassez de recursos de produção: recursos naturais como minérios e di- versos produtos agrícolas, que são matéria-prima de muitos produtos, recursos humanos e recursos financeiros precisam ser gerenciados para reduzir os cus- tos dos produtos ou serviços finais e também porque alguns deles são escassos na natureza; • Questões de responsabilidade ambiental e social: cada vez mais os stakeholders exigem um posicionamento da empresa em relação a projetos e atividades que reduzam os impactos ambientais dos produtos, preservem a biodiversidade, promovam melhores condições de trabalho aos funcionários e reduzam a desigualdade social. Essas iniciativas estão ligadas à sustentabilidade, que também precisa ser incluída nas decisões de gestão da produção e sistemas. Para obter sucesso na competição global, as empresas devem ter um compro- misso com a receptividade do cliente e com a melhoria contínua rumo à meta de desenvolver rapidamente produtos inovadores que tenham a melhor combinação excepcional de qualidade, entrega rápida e no tempo certo, e a preços e custos baixos. Além disso, as exigências dos stakeholders para uma produção ambiental- mente mais limpa e socialmente mais equilibrada faz com que empresas revejam os processos de gestão de produção e operações, desenvolvendo e projetando processos e tecnologias mais sustentáveis. Importante! As questões de responsabilidade ambiental e social estão cada vez mais presentes em gestão de produção e operações. Isso porque integrantes da cadeia de suprimentos, como clientes e fornecedores, e stakeholders exigem que a empresa apresente projetos e ativi- dades para redução dos impactos ambientais gerados e promovam o bem estar social da comunidade. Assim, novas tecnologias surgiram e continuam a se desenvolver para uma produção mais limpa. Produção Limpa significa a aplicação de uma estratégia econômica, ambiental e técnica integrada a processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência do uso de matérias-primas, água e energia, através da não geração, da minimização ou da reciclagem dos resíduos gerados, com benefícios ambientais e econômicos. Você Sabia? Assim, os avanços tecnológicos mudaram a maneira com que clientes, fornece- 14 15 dores e colaboradores interagem entre si, no sentido de transparência sustentável e no fluxo de informação livre na cadeia de valor. Dessa forma, a tecnologia da informação (TI) deixou de ser um diferencial e se tornou uma necessidade para um negócio de sucesso. Considerada por alguns acadêmicos e empresários como a 4ª revolução industrial, a Manufatura ou Indústria 4.0 é um dos termos utilizados para descrever a estratégia de alta tecnologia promovida pelo governo alemão que está sendo implantada pela in- dústria. Essa manufatura atualizada busca atender aos fatores de gestão da produção e operações de modo a obter sucesso e vantagem competitiva frente aos concorrentes. Um diferencial para esse tipo de manufatura é a tecnologia de dados e informação, o Big Data. A seguir, iremos estudar mais sobre esse tipo de manufatura. Novos Processos Produção: Manufatura 4.0 Como discutido nessa unidade, a inovação tecnológica influencia os processos em Engenharia de Produção (EP). Mais recentemente, a Manufatura 4.0 foi tema em congressos recentes em EP como o Encontro Nacional em Engenharia de Pro- dução (ENEGEP) e o International Joint Conference on Industrial Engineering and Operations (IJCIEOM), congresso internacional. A Manufatura 4.0, que tam- bém incorpora as manufaturas existentes até o momento, tem como principal ca- racterística a inclusão de avanços tecnológicos para dados e fluxo de informações. A Manufatura 4.0 ou Indústria 4.0, compreende os nove avanços tecnológicos fundamentais. A Figura 3 apresenta os pilares da Manufatura 4.0. Figura 3 – Os pilares da Manufatura 4.0 Fonte: Adaptado de Maldonado, 2017 15 UNIDADE A Engenharia de Produção e os Novos Processos de Produção Os Nove Pilares da Manufatura 4.0 Muitos dos nove avanços em tecnologia que formam a base da Indústria 4.0 já são usados na manufatura, mas, com a Indústria 4.0, eles transformarão a produção: células isoladas e otimizadas se unirão como um fluxo de produção totalmente integrado, automatizado e otimizado, levando para maiores eficiências e mudanças nas relações tradicionais de produção entre fornecedores, produtores e clientes - assim como entre humanos e máquinas. Segundo The Boston Consulting Group (BCG, 2015), os nove pilares da manufatura 4.0 são: 1. Análise baseada em grande conjunto de dados; 2. Robôs autônomos; 3. Simulação; 4. Integração de sistemas horizontais e verticais; 5. A internet industrial das coisas; 6. Segurança ciber; 7. A nuvem (cloud); 8. Manufatura aditiva; 9. Realidade aumentada. Análise Baseada em Grande Conjunto de Dados (Big Data Analytics) A análise baseada em grandes conjuntos de dados, do inglês Big Data Analytics, surgiu recentemente no mundo da manufatura. Segundo Chen, Mao e Liu (2014), por Big Data se entende o conjunto de dados que não puderam ser percebidos, adquiridos, gerenciados e tratados pelas tradicionais ferramentas de TI e software/ hardware dentro de um tempo tolerável. Assim, o Big Data Analytics descreve uma nova geração de tecnologias e arquiteturas, projetadas para extrair econo- micamente valor de volumes muito grandes de uma ampla variedade de dados, permitindo a captura de alta velocidade, descoberta e/ou análise. Dessa forma, a análise baseada em grandes conjuntos de dados otimiza a qualidade da produção, economiza energia e melhora o serviço do equipamento. No contexto da manufatura, o uso do Big Data deixa mais eficiente a coleta e a avaliação abrangente de dados de várias fontes diferentes – como processos de produção, estoques, compras, produtos com defeitos, gerenciamento corporativo ede clientes – permitindo que a tomada de decisões ocorra em tempo real. Robôs Autônomos Fabricantes em muitos setores usam robôs há muito tempo para lidar com ta- refas complexas, mas os robôs estão evoluindo para uma utilidade ainda maior. Eles estão se tornando mais autônomos, flexíveis e cooperativos. Eventualmente, eles vão interagir uns com os outros e trabalhar, em segurança, lado a lado com os 16 17 humanos e aprender com eles. Esses robôs custarão menos e terão uma gama maior de recursos do que os usados na fabricação hoje. O uso de robôs nos proces- sos de produção contribui para maior velocidade, padronização e precisão. Assim, as empresas conseguem produzir mais rápido, ao passo que fazem produtos com pouca variação entre si. Além disso, há diversos tipos de robôs que podem ser reprogramados para fazer diferentes tipos de processos, proporcionando também um processo mais flexibilizado, além de também poderem interagir entre si. Por exemplo, a Kuka, fabricante europeia de equipamentos robóticos, oferece robôs autônomos que interagem entre si. Esses robôs são interconectados para que possam trabalhar em conjunto e ajustar automaticamente suas ações para adequar o próximo produto inacabado na fila. Sensores de ponta e unidades de controle permitem uma colaboração próxima com humanos. Embora liderado pela indústria automobilística, o processo de robotização se espalha por outros setores, com destaque para as indústrias de alimentos e bebidas, eletroeletrônica e química. Simulação Na fase de engenharia já são utilizadas simulações tridimensionais de produtos, materiais e processos de produção, mas, no futuro, as simulações serão usadas mais extensivamente nas operações da fábrica. Essas simulações alavancarão da- dos em tempo real para espelhar o mundo físico em um modelo virtual, que pode incluir máquinas, produtos e seres humanos. Isso permite que os operadores tes- tem e melhorem as configurações da máquina para o próximo produto em linha no mundo virtual antes da troca física, reduzindo assim os tempos de configuração da máquina e aumentando a qualidade. Além disso, a simulação é uma importante ferramenta para apoiar as tomadas de decisão, uma vez que se pode obter o resul- tado de diferentes cenários simulados. Por exemplo, a Siemens e um fornecedor alemão de máquinas-ferramenta de- senvolveram uma máquina virtual que pode simular a usinagem de peças usando dados da máquina física. Isso reduz o tempo de configuração do processo real de usinagem em até 80%. Integração de Sistemas Horizontais e Verticais Sistema de Integração Horizontal e Vertical, também chamado de Sistema de Integração Universal, é um conceito utilizado para descrever como os processos, produtos, dados e sistemas de produção se inter-relacionam na produção inteligen- te. O objetivo de integrar os sistemas internos e externos é ter uma melhor dispo- nibilização de dados no chão de fábrica, com clientes e fornecedores. A maioria dos sistemas de TI de hoje não são totalmente integrados. As fábricas, fornecedores e clientes não possuem uma base comum para compartilhar dados referentes ao processo de produção com clientes e fornecedores, por exemplo. In- ternamente, há muitos departamentos na empresa que não estão integrados como departamentos de engenharia, produção e serviço. Assim, as funções da empresa externa e interna não estão totalmente integradas. Mesmo a própria engenharia - 17 UNIDADE A Engenharia de Produção e os Novos Processos de Produção de produtos às fábricas e automação - não tem integração completa. Mas, com a Manufatura 4.0, as empresas, departamentos, funções e capacidades tornar-se-ão muito mais coesas à medida que as redes universais de integração de dados entre empresas evoluírem e permitirem cadeias de valor verdadeiramente automatizadas. Por exemplo, a Dassault Systèmes e a BoostAeroSpace lançaram uma platafor- ma de colaboração para a indústria aeroespacial e de defesa europeia. A plataforma, AirDesign, serve como um espaço de trabalho comum para colaboração de projeto e fabricação e está disponível como um serviço em uma nuvem privada. Ele gerencia a complexa tarefa de trocar dados de produto e produção entre vários parceiros. A Internet Industrial das Coisas Atualmente, apenas alguns sensores e máquinas de um fabricante estão em rede e utilizam computação incorporada. Eles são tipicamente organizados em uma pirâmide de automação vertical, na qual sensores e dispositivos de campo com inteligência limitada e controladores de automação alimentam um sistema de controle de processo de fabricação abrangente. Mas, com a Internet industrial das coisas, mais dispositivos - às vezes incluindo até produtos inacabados - serão en- riquecidos com computação embarcada e conectados usando tecnologias padrão. Isso permite que os dispositivos de campo se comuniquem e interajam uns com os outros e com controladores mais centralizados, conforme necessário. Também des- centraliza a análise e a tomada de decisões, permitindo respostas em tempo real. A Bosch Rexroth, uma fornecedora de sistemas de controle e acionamento, equipou uma instalação de produção de válvulas com um processo de produção semi-automatizado e descentralizado. Os produtos são identificados por códigos de identificação de frequência de rádio e as estações de trabalho “sabem” quais etapas de fabricação devem ser executadas para cada produto e podem se adaptar para executar a operação específica. Segurança Ciber Muitas empresas ainda dependem de sistemas de gerenciamento e produção desconectados ou fechados. Com o aumento da conectividade e o uso de protocolos de comunicação padrão que vem com a Manufatura 4.0, a necessidade de proteger sistemas industriais críticos e linhas de fabricação de ameaças de segurança cibernética aumenta dramaticamente. Como resultado, a segurança ciber tem o objetivo de garantir comunicações seguras e confiáveis, bem como o gerenciamento sofisticado de identidade e acesso de máquinas e usuários são essenciais. Durante o ano passado, vários fornecedores de equipamentos industriais uniram forças com empresas de segurança cibernética por meio de parcerias ou aquisições. 18 19 A Nuvem (Cloud) As empresas já estão usando software baseado em nuvem para alguns aplicati- vos corporativos e de análise, mas, com a Manufatura 4.0, mais empreendimentos relacionados à produção exigirão o aumento do compartilhamento de dados entre sites e limites da empresa. Ao mesmo tempo, o desempenho das tecnologias de nuvem melhorará, alcançando tempos de reação de apenas vários milissegundos. Como resultado, os dados e a funcionalidade da máquina serão cada vez mais com- partilhados na nuvem, permitindo mais serviços orientados a dados para sistemas de produção. Até mesmo sistemas que monitoram e controlam processos podem se tornar baseados em nuvem. Fornecedores de sistemas de execução de fabricação estão entre as empresas que começaram a oferecer soluções baseadas em nuvem. Manufatura Aditiva As empresas começaram a adotar a manufatura aditiva, como a impressão 3D, que usam principalmente para fazer protótipos e produzir componentes individuais. Com a Manufatura 4.0, esses métodos de manufatura aditiva serão amplamente utilizados para produzir pequenos lotes de produtos personalizados, como designs complexos e leves. Os sistemas de manufatura aditiva descentralizada e de alto desempenho reduzem as distâncias de transporte e o estoque disponível. Por exemplo, as empresas aeroespaciais já estão usando a manufatura aditiva para aplicar novos projetos que reduzem o peso das aeronaves, reduzindo suas despesas com matérias-primas como o titânio. Realidade Aumentada Os sistemas baseados em realidade aumentada suportam uma variedade de ser- viços, como a seleção de peças em um armazém e o envio de instruções de reparo em dispositivos móveis. Esses sistemas estão atualmente em sua fase inicial, mas, no futuro, as empresas usarão muito mais a realidadeaumentada para fornecer aos funcionários informações em tempo real para melhorar a tomada de decisões e os procedimentos de trabalho. Por exemplo, os trabalhadores podem receber instruções de reparo sobre como substituir uma peça em particular, já que estão observando o sistema real que precisa de reparo. Essas informações podem ser exibidas diretamente no campo de visão dos funcionários usando dispositivos como óculos de realidade aumentada. 19 UNIDADE A Engenharia de Produção e os Novos Processos de Produção Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Planejamento e Desenvolvimento da Gestão de Operações: Um Estudo de Temas Relevantes no Contexto do Brasil e de Portugal BONFIM, Barbara Luzia Sartor. GONÇALVES, Cristiane. SILVA, Scheila Costa da. TELECHI, Acácio Vasconcellos. Planejamento e desenvolvimento da gestão de operações: um estudo de temas relevantes no contexto do Brasil e de Portugal. Revista brasileira de planejamento e desenvolvimento, v. 6, n. 2, p. 282-300, 2017. Paradigmas Estratégicos de Gestão da Manufatura (PEGEMs): Elementos-Chave e Modelo Conceitual GODINHO FILHO, Moacir. FERNANDES, Flavio César Faria. Paradigmas estratégicos de gestão da manufatura (PEGEMs): elementos-chave e modelo conceitual. Gestão & Produção. V. 12, n. 3, p. 333-345, 2005. Tópicos em Gestão da Produção TRISTÃO, Hélcio Martins. Tópicos em gestão da produção. Volume 4. Belo Horizonte: Poisson, 2017. 259 p. Indústria 4.0: Desafios e Oportunidades SANTOS, B. P. ALBERTO, A. LIMA, T. D. F. CHARRUA-SANTOS, F. M. B. Indústria 4.0: desafios e oportunidades. Revista produção e desenvolvimento, v. 4, n. 1, p. 111-124, 2018. 20 21 Referências ABC. Ford comemora 100 anos da linha da linha de montagem de automóveis. 2018. 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