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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA FAZENDA PÚBLICA DE BARRA DO CORDA-MA. Processo nº 0801433-37.2021.8.10.0027 RECLAMANTE: ADRIANA DA SILVA CORREIA RECLAMADA: MUNICIPIO DE JENIPAPO DOS VIEIRAS. MUNICÍPIO DE JENIPAPO DOS VIEIRAS/MA, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ nº 01.614.441/0001-46, situada na Rua Nova, s/n, Centro, Jenipapo dos Vieiras/MA, por seu representante legal, Prefeito Municipal, Sr. ARNOBIO DE ALMEIDA MARTINS, através de seu procurador in fine assinada, instrumento procuratório em anexo, vem à presença de Vossa Excelência, apresentar CONTESTAÇÃO à reclamação trabalhista em epígrafe, que tem como reclamante ADRIANA DA SILVA CORREIA, expondo as razões fáticas e de direito a seguir: 1 - PRELIMINARMENTE 1.1 – COISA JULGADA – OBJETO DA AÇÃO JÁ DECIDIDO EM AÇÃO AJUIZADA NA VARA DO TRABALHO DE BARRA DO CORDA/MA (PROCESSO Nº 0016163-24.2021.5.16.0010). AÇÃO IMPROCEDENTE TRANSITADO EM JULGADO Sem dúvida, na hipótese, aflora-se a figura jurídica da coisa julgada. De acordo com o art. 337, § 1º, do Código de Processo Civil, in verbis: “Verifica-se litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada” É imperioso destacar que recai sobre a presente demanda o instituto da coisa julgada, posto que se trata de mera repetição de ação anteriormente ajuizada perante a Vara do trabalho da comarca de Barra do Corda onde tramita o processo nº 0016014-91.2022.5.16.0010, julgado parcialmente procedente, conforme se faz prova através do processo acostada. Com efeito, insuperável a extinção da presente querela, sem se adentrar ao mérito, com o acolhimento desta preliminar ao mérito, nos moldes do que preceitua o art. 485, inc. V, do CPC. 1.2 – DA INDEVIDA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA AO CONTESTADO Pelo que se depreende da documentação apresentada, o contestado apenas declarou ser pobre nos termos da lei para auferir os benefícios da Gratuidade de Justiça. Ocorre que a declaração de pobreza gera apenas presunção relativa acerca da necessidade, cabendo ao Julgador verificar outros elementos para decidir acerca do cabimento do benefício. No presente caso, há inúmeras evidências de que o contestado tem condições de pagar as custas. PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS QUE JUSTIFIQUEM A CONCESSÃO.1. O Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) passou a dispor sobre a gratuidade da Justiça, revogando alguns artigos da Lei nº 1.060/50.2. Por outro lado, embora tenha mantido a presunção de veracidade da afirmação da pessoa física quanto a sua hipossuficiência financeira (§3º do art. 99), o atual diploma processual deixa expresso que ao Juiz cabe verificar o efetivo preenchimento dos pressupostos legais, podendo, em caso de dúvida, determinar ao interessado que apresente elementos probatórios (§ 2º do art. 99).3. No caso concreto, em sede de contestação o INSS impugnou a alegada necessidade da autora ao benefício da gratuidade da Justiça, sendo certo que, por ocasião da apresentação da réplica, houve a oportunidade da parte agravante comprovar sua hipossuficiência frente às despesas do processo, mas apresentou alegações genéricas, desacompanhadas de qualquer documento. Ademais, a autora aufere rendimentos que inviabilizam a concessão do benefício postulado.4. Agravo de instrumento desprovido. (TRF 3ª Região, 10ª Turma, AI - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 5027310- 07.2019.4.03.0000, Rel. Desembargador Federal NELSON DE FREITAS PORFIRIO JUNIOR, julgado em 05/03/2020, Intimação via sistema DATA: 06/03/2020, #060331) Assim, não comprovada a situação de miserabilidade, o indeferimento do pedido é medida que se impõe. Ao disciplinar sobre o tema, grandes doutrinadores sobre o tema esclarecem: Havendo dúvidas fundadas, não bastará a simples declaração, devendo a parte comprovar sua necessidade (STJ, 3.ª Turma. AgRg no AREsp 602.943/SP, rel. Min. Moura Ribeiro, DJe 04.02.15). Já compreendeu o Superior Tribunal de Justiça que "Por um lado, à luz da norma fundamental a reger a gratuidade de justiça e do art. 5º, caput, da Lei n. 1.060/1950 - não revogado pelo CPC/2015 -, tem o juiz o poder-dever de indeferir, de ofício, o pedido, caso tenha fundada razão e propicie previamente à parte demonstrar sua incapacidade econômico- financeira de fazer frente às custas e/ou despesas processuais. Por outro lado, é dever do magistrado, na direção do processo, prevenir o abuso de direito e garantir às partes igualdade de tratamento" (STJ, 4ª Turma. Resp. 1.584.130/RS, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 07.06.2016, DJe 17.08.2016)."(MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. 3ª ed. Revista dos Tribunais, 2017. Vers. ebook. Art. 99, #660331). Motivos que devem conduzir ao imediato indeferimento do pedido de Gratuidade de Justiça. 3 - SÍNTESE DA RECLAMAÇÃO: A parte Reclamante ajuizou AÇÃO DE COBRANÇA em face do MUNICÍPIO DE JENIPAPO DOS VIEIRAS-MA, pleiteia o recebimento dos valores referentes a VERBAS RECISÓRIAS do período laborado para a reclamada. No entanto, não merece prosperar a presente reclamação uma vez que vai de encontro com o óbice constitucional, estando o contrato formalizado sem observância do art. 37, II da CRFB, portanto, fulminado de nulidade desde a origem, não podendo ser convalidado. Eis os fatos. 4 - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS Na hipótese de ser superada as preliminares acima suscitadas, adentra- se ao mérito, o que se faz nos seguintes termos. 4.1 – DA NULIDADE CONTRATUAL E SEUS EFEITOS. Com o advento da Constituição Federal de 1988, institui-se em seu artigo 37, inciso II, a obrigatoriedade de aprovação em concurso público para o ingresso nos serviços públicos, visando proporcionar moralidade e eficiência nas contratações. A própria Constituição Federal de maneira taxativa prescreve o resultado da inobservância desse dispositivo (art. 37, § 2º): a não observância do disposto nos incisos I e II implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos da lei. Cabe observar que, sendo o ato nulo, nenhum efeito ocasionará. E a nulidade, no caso, tem sede constitucional, o que representa um dado fundamental para análise da questão. A violação ao preceito maior fulmina de nulidade o ato, impedindo-o de gerar efeitos. Se nulo é o ato de admissão, incapaz se mostra de gerar efeitos. Mesmo frente a direitos trabalhistas, tutelados por justiça especializada. Sobre esta mesma visão, o contrato de trabalho é incapaz de produzir efeitos jurídicos, pois sua constituição não atende aos preceitos legais, e de igual forma, existem vícios insanáveis no que tange à sua essencialidade. O contrato de trabalho deve possuir revestimento correto em seus elementos essenciais, pois a contratação de servidores sem o devido concurso público encontra óbice na Constituição Federal (art. 37, § 2º) que o tornar ilegal e vai de encontro a um dos elementos essenciais do contrato, que é a forma prescrita ou não defesa em lei. O entendimento sumular nº 363 do TST foi uma forma que esse egrégio tribunal teve para pacificar existência da nulidade absoluta e tentar apaziguar os constantes conflitos jurisprudências e doutrinários advindos da C.F/88, quanto aos efeitos do contrato de trabalho. Corretamente garante ao trabalhador em contrato nulo o direito a salário proporcional ao labor desprendido respeitando o mínimo nacional, mas equivocadamente confere o direito ao recolhimento de FGTS para servidores em contrato nulo por ausência de concurso público. O artigo 19-A da Lei 8.036/90, acrescentado pela Medida Provisória nº 2.164-41,de 24/08/2001, DOU 27/08/2001, em vigor conforme o art. 2º da EC nº 32/2001, estendeu o benefício aos contratos que tenham sido declarados nulos, assim dispondo: Art. 19-A. É devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo contrato de trabalho seja declarado nulo nas hipóteses previstas no art. 37, § 2º, da Constituição Federal, quando mantido o direito ao salário. Em recente decisão proferida no PROCESSO 16/2005, o ilustre magistrado Dr. Rui Oliveira de Castro Vieira entendeu inconstitucional a Medida Provisória 2.164-41 de 24 de agosto de 2001, não acolhendo o pedido do Obreiro de recolhimento do FGTS e condenando tão somente o Município em salários devidos pelos trabalhos efetivamente prestados, assim fundamentando sua decisão: "No entanto, embora a Medida Provisória nº 2.164-41, de 24 de agosto de 2001, em seu art. 9º, tenha introduzido o art. 19-A, na Lei nº 8.036/90, estendendo tal benefício em caso de contrato nulo e o Egrégio Tribunal Superior do Trabalho tenha editado a Súmula nº 363, entendendo aplicável tal dispositivo aos casos de contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, entendo, permissa vênia, que tal dispositivo é inconstitucional por afrontar a Constituição Federal, já que totalmente incompatível como princípio esculpido no § 2º do art. 37, d Carta Mana ("A não- observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos da lei"). Reconhecer o contrário seria aceitar a alteração da Carta Magna por norma inferior. Ora, não sendo reconhecida à existência de contração válida por qualquer dos regimes existentes, não há que se falar em deferimento de acessórios, já que o acessório segue o principal, razão pela qual indefiro os pedidos referentes ao FGTS e multa fundiária respectiva." grifos nossos. Corroborando, data máxima vênia, o entendimento esposado pelo douto Juiz Substituto da 1ª Vara do Trabalho da capital, é mister ressaltar que merece destaque, vez que a Medida Provisória nº 2.164-41 de 24 de agosto de 2001 fere de morte o parágrafo 2º do artigo 37 da CF e, assim agindo, deve ser interpretada como inconstitucional, sem eficácia, pois, a contrário sensu, estaríamos abrindo precedentes para que outras normas infraconstitucionais prevaleçam sobre normas constitucionais. Ora, Excelência, se a contratação da Reclamante não é dotada de validade por qualquer dos regimes existentes, não há que se falar em concessão de direitos acessórios, já que o principal não lhe é deferido pelo ordenamento jurídico pátrio. Desta feita, requer-se pela total improcedência da ação tento em vista nulidade absoluta do contrato de trabalho frente ao expresso textualmente na Constituição Federal em seu Art. 37 §2º. 4.2 - DO FGTS Como disposto alhures, a verba fundiária não pode ser percebível ante a nulidade que fulmina o contrato de trabalho in casu, porém mais uma vez a Reclamante requer o recolhimento do FGTS com base no salário-mínimo vigente, sendo que, a mesma aduz na inicial. Quanto ao recolhimento do FGTS, a matéria encontra-se pacificada em nossos tribunais pátrios, no que tange a base de cálculo para o recolhimento da referida verba fundiária, vejamos: RECOLHIMENTO DO FGTS. EVOLUÇÃO DO SALÁRIO-MÍNIMO. - Em se tratando de condenação no recolhimento do FGTS, deve-se observar a evolução mensal do trabalhador. No caso concreto, recebendo a reclamante quantia mensal equivalente ao mínimo legal, a sua evolução há de ser a base de cálculo para o recolhimento fundiário e não o valor Como argumentado na inicial, a Reclamante alega que laborou em ambas as funções percebendo como pagamento um salário-mínimo por mês para cada uma delas, desta forma deve-se ter como base para o recolhimento do FGTS o salário pago na época, acompanhando sua evolução. Assim, impugnam-se os cálculos apresentados pela Reclamante, requerendo que seja julgado improcedente em sua totalidade o recolhimento do FGTS ante a nulidade constitucional cerceadora quaisquer efeitos jurídicos. Em outra senda, que então sejam arbitrados com base na evolução do salário-mínimo percebido na época. 4.4- DO 13º SALÁRIO Verifica-se que a contratação da Reclamante sob a luz da Constituição Federal é nula, porém sob a exegese da súmula 363 do TST esta garante direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário-mínimo. Ressalte-se, que na inicial a Demandante requer o pagamento, portanto, conforme foi dito, não existe nenhuma prova de que a requerente trabalhou, desta forma requer a improcedência do pedido. A Reclamante em contrato precário com a administração pública, percebeu quantia de acordo com o entendimento sumular 363 do TST, que não lhe garante direito a férias, 13º salário ou qualquer outra gratificação. Assim a Reclamante recebeu proporcional ao labor desprendido quando em efetivo exercício, respeitando o salário-mínimo da época, não lhe sendo cabível nenhum outro tipo de pagamento a nível de contraprestação, por já estarem todas solvidas. 5 - DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Para se obter a condenação dos honorários advocatícios em sede da justiça do trabalho deve-se observar a súmula 219 do TST, vejamos: referente ao último salário percebido. (TRT19ª R. - RO 00221.2005.058.19.00-4 - Rel. Juiz João Batista - DJ 07.03.2006) (g.n) TST Enunciado nº 219 - Res. 14/1985, DJ 19.09.1985 - Incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 27 da SBDI-2 - Res. 137/2005, DJ 22, 23 e 24.08.2005 Justiça do Trabalho - Condenação em Honorários Advocatícios I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios, nunca superiores a 15% (quinze por cento), não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte estar assistida por sindicato da categoria profissional e comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família. (ex-Súmula nº 219 - Res. 14/1985, DJ 26.09.1985) Assim, verifica-se que a Reclamante não se encontra patrocinada por advogado da categoria e alega perceber quantia acima do dobro o salário mínimo vigente, sendo improcedente o pedido. 6 - DO PEDIDO Diante de todo o exposto, em sede de CONTESTAÇÃO, requer: O ACOLHIMENTO NA ÍNTEGRA desta contestação, para fins de: a) Que seja ACOLHIDA A PRELIMINAR DE COISA JULGADA, devendo a ação ser extinta sem julgamento do mérito, nos exatos termos alhures; b) Julgar TOTALMENTE IMPROCEDENTE a ação, pois incabível o recolhimento dos valores referentes ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FGTS, salários em atraso e Férias; c) Impugna-se o pedido de Assistência Judiciária, eis que o Reclamante não cumpre com os requisitos legais para tal concessão; Protesta por todas as provas em direito admitidas, notadamente o depoimento pessoal do reclamante sob pena de confissão, juntada de documentos e oitiva de testemunhas. Nestes termos Pede e aguarda DEFERIMENTO. Barra do Corda (MA), 08 de setembro de 2022. FREDERICO AUGUSTO GOMES LEAL PROCURADOR GERAL DO MUNICÍPIO OAB/MA 15.604
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