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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA – UNEC Curso Bacharelado em Direito TRABALHO DE DIREITO CIVIL III Autores: Delude Araújo Serafim Henrique da Silva Janice Mara Fernandes de Paiva Joelson Alves Fernandes Lara Fernandes Roxo, Milkhailla Gomes Reis Roberval Cordeiro dos Santos Professora: Larissa Dolores Figueiredo Mendes Resumos apresentados à Disciplina Direito Civil III (Direitos Reais) do Curso de Direito do Centro Universitário de Caratinga UNEC. Nanuque/2022 SUMÁRIO Resumos sobre os temas: 1. Crítica sobre a Teoria Subjetiva de Friedrich Calr Von Savigny e Teoria Objetiva de Rudolf Von Ihering adotada pelo Código Civil 2. Diferenças entre os Direitos Pessoais de cunho patrimonial e os Direitos Reais 3. Princípios da Boa Fé Objetiva, Função Social da propriedade e Vedação ao abuso de direito Referências Bibliográficas 1. CRÍTICA SOBRE A TEORIA SUBJETIVA DE FRIEDRICH CALR VON SAVIGNY E TEORIA OBJETIVA DE RUDOLF VON IHERING ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL. No presente texto abordaremos as duas principais teorias clássicas acerca da posse, dando destaque à doutrina alemã, que visam a explicar a posse e oferecer à ciência jurídica um conceito do instituto: a Teoria Subjetiva, de Friedrich Calr Von Savigny, e a Teoria Objetiva, de Rudolf Von Ihering. Savigny e Ihering entendem e concordam que a posse é composta por um elemento material e um elemento moral ou intelectual, que são chamados Corpus e Animus, mas discordam quanto à caracterização destes elementos específicos. A primeira denominada de teoria subjetiva que teve como precursor, Friedrich Von Savigny em sua obra intitulada Tratado da posse (Das Recht des Besitzes), onde a posse seria o poder direto que alguém tem para dispor fisicamente de uma coisa com a intenção de tê-la como sua e para defendê-la da intervenção ou agressão de outrem. Para Savigny, a caracterização da posse dependia de dois elementos: o corpus, que seria o elemento material, traduzindo-se no domínio ou poder físico sobre a coisa ou na detenção do bem e possibilidade de disposição e o animus domini que se configura como um elemento psíquico, interior, no qual a pessoa teria que ter a vontade de ter a coisa como sua, caracterizado pela intenção do possuidor em ter a coisa para si, é dizer, o ânimo de ter a propriedade do bem. Há entendimento de que a teoria de Savigny é subjetiva já que sobreleva o estado psíquico, isto é, intencional como elemento característico da posse, assinalando assim a necessidade de conjunção dos dois elementos para conceituar a posse civil. Ihering já traz a teoria objetiva que parte do entendimento de que o elemento corpus é suficiente para caracterizar a posse, daí a objetividade da teoria. Para o autor, o animus constitui elemento implícito do poder de fato exercido sobre a coisa, ou seja, o corpus. Segundo Ihering, o elemento objetivo é o caractere visível e passível de comprovação, sendo a manifestação externa do direito. A posse, para a teoria objetivista, reveste-se de importância fulcral no estudo do Direito das Coisas. Em síntese pode-se afirmar que a posse é um direito que faz parte do conteúdo do direito de propriedade; é reconhecida pela destinação econômica dada à coisa; é meio de proteção do domínio; pode ser direta ou imediata e indireta ou mediata e é um caminho que conduz ao direito de propriedade. No Brasil, no Código Civil de 2002 o legislador acabou por optar a noção objetiva de Ihering em seu art. 1.196, não conceituando a posse em si, mas o possuidor: Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Verifica-se que a posse é um instituto jurídico altamente complexo, estando longe de estar pacífico os debates sobre a matéria. Os autores Savigny e Ihering apresentam os mais diversos entendimentos sobre a posse, debatendo desde a sua origem, a sua caracterização e natureza jurídica. Savigny nos apresentou a Teoria Subjetiva, onde defendia a posse ser a união de dois elementos: o corpus, o domínio sobre a coisa em si, e o animus, a vontade de possuir a coisa. Para o autor, ausente o elemento anímico não haveria que se falar em posse e sim em detenção, portanto, é notório a relevância da vontade para não só a configuração da posse, mas também para a distinção desta com a detenção. Já Ihering, foi crítico da teoria formulada para Savigny, com a sua Teoria Objetiva entendia que o animus não constituiria um elemento essencial para a existência da posse, bastando o corpus. Desta forma, a diferença entre a detenção e a posse, para Ihering, reside na lei, pois é esta quem irá especificar quem seria possuidor e quem seria detentor. Se observa, portanto, que os debates sobre a posse estão em constante evolução, ainda atraindo diversos doutrinadores para a discussão. Mas este estudo ainda leva a concluir que majoritariamente, o Código Civil brasileiro adotou a teoria objetivista. Destarte, a norma não exige a intenção de dono nem o poder físico sobre o bem para reconhecer a posse esta caracterizada pela relação exterior entre sujeito e coisa, observando-se a destinação econômica desta. 2. DIFERENÇAS ENTRE OS DIREITOS PESSOAIS DE CUNHO PATRIMONIAL E OS DIREITOS REAIS Os Direitos dividem-se entre Direito pessoal, ao qual se refere o Direito das Obrigações uma vez que ele trata das relações entre os sujeitos ativos e passivos e Direito real, que é aquele que recai diretamente sobre a coisa. Neste resumo será buscado entendimento sobre a distinção dos direitos pessoais de cunho patrimonial dos direitos reais. Os direitos reais têm como conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas, relações essas que podem ser diretas, sem qualquer intermediação por outra pessoa. Portanto, o objeto da reação jurídica é a coisa em si, aqui há apenas um sujeito ativo determinado, sendo sujeito passivo toda a coletividade. Os direitos reais têm a eficácia erga omnes, contra todos, ou seja, o princípio do absolutismo. Nos direitos pessoais de cunho patrimonial, o conteúdo é a existência de relações jurídicas estabelecidas entre duas ou mais pessoas, sendo o conteúdo imediato a prestação. Há em regra, um sujeito ativo, que tem um direito (credor) e um passivo, que tem o dever obrigacional (devedor). Os direitos pessoais patrimoniais, tem efeitos inter partes, o que é consagração de antiga regra res inter alios e do princípio da relatividade dos efeitos contratuais. Outra diferença a ser apontada é que os direitos reais sofrem incidência fundamental do princípio da publicidade, diante da importância da tradição e do registro. Já os direitos pessoais patrimoniais são influenciados pelo princípio da autonomia privada, de onde surgem os contratos e as obrigações. Enquanto nos direitos reais o rol é taxativo (art. 1.225 do CC), de acordo com o entendimento ainda majoritário de aplicação do princípio da tipicidade, eles geram o direito de sequela, respondendo a coisa, onde quer que ela esteja Nos direitos pessoais patrimoniais, o rol é exemplificativo, o que pode ser retirado do art. 425CC, pela licitude de criação de contratos atípicos, eles geram a responsabilidade patrimonial dos bens do devedor pelo inadimplemento da obrigação (art. 391 do CC). Parte dos doutrinadores contemporâneos, como é o caso autor Flavio Tartuce, entende que o rol dos direitos reais é exemplificativo e não mais taxativo. Mais uma distinção é o fato dos direitos reais terem caráter permanente, enquanto os direitos pessoais de cunho patrimonial um suposto caráter transitório. Porém essa diferença do mesmo modo tem sido mitigada, já que atualmente muitos contratos trazem uma relação de perpetuidade diante de seu prolongamento no tempo. São os contratos cativosde longa duração, verdadeiros casamentos contratuais, situação muitas vezes dos contratos de seguro- saúde e de seguro de vida, celebrados a longo prazo por consumidores. Observa-se, portanto, que real é o direito que traduz o poder jurídico direto de uma pessoa sobre uma coisa, submetendo-a em todos (propriedade) ou em alguns de seus aspectos (usufruto, servidão, superfície etc.). Para o seu exercício, portanto, prescinde-se de outro sujeito. Os direitos pessoais, por sua vez, identificados com os direitos de crédito (de conteúdo patrimonial), têm por objeto a atividade do devedor, contra o qual são exercidos. Assim, ao transferir a propriedade da coisa vendida, o vendedor passa a ter um direito pessoal de crédito contra o comprador (devedor), a quem incumbe cumprir a prestação de dar a quantia pactuada (dinheiro). 3. PRINCÍPIOS DA BOA FÉ OBJETIVA, FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E VEDAÇÃO AO ABUSO DE DIREITO. Como cláusula geral, a boa-fé cria para as partes deveres anexos, que independem de prévia e expressa declaração de vontade. Quanto à função social pode entendê-la como uma preocupação de evitar que alcance terceiros, causando-lhes prejuízos. A disposição legal do princípio da boa-fé objetiva se encontra no Art. 422 do Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor, esse princípio tem algumas funções: Interpretativa, integrativa e função de controle; essas funções são muito utilizadas para equilibrar as relações contratuais. A Função Interpretativa está presente no Art. 113 do Código Civil e demonstra que os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Essa função auxilia no preenchimento de lacunas legislativas na análise dos contratos civis, de modo que, os casos concretos sejam solucionados e a norma jurídica aplicada em conformidade com o princípio da boa fé. Já a Função Integrativa, presente nos Arts. 441 e 442 do Código Civil afirma que em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato, pode o adquirente reclamar abatimento no preço. Tal função está relacionada aos deveres das partes, ditando padrões de conduta ética, as quais devem ser observadas e mantidas em todas as etapas da relação contratual. Na Função de Controle, constante no Art. 187 afirma que também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Essa função limita o exercício dos direitos subjetivos, pautando que devem estar em conformidade com a boa-fé, caso contrário, mesmo que de forma não intencional, se o indivíduo exceder tais limites, terá cometido ato ilícito. A função social da propriedade tem sua previsão legal no art 5º Inciso XXIII da Constituição Federal, onde se estabelece que o direito à propriedade deverá atender a sua função social. Essa limitação foi criada para assegurar que o exercício desse direito individual não seja prejudicial à coletividade. Cabendo ao proprietário o dever de zelar, gozar e fazer com que tal propriedade produza frutos que compatibilize com a sua função social, de modo a preservar o meio ambiente, e não prejudicar outrem. Flávio Tartuce, em seu excelente livro "Função Social dos Contratos", Ed. Método, 2ª ed., p. 239, onde doutrina, com notável sensibilidade: "Pela vanguarda dessa nova visão, os contratos devem ser interpretados de acordo com a concepção do meio social em que estão inseridos, não trazendo onerosidade excessiva ou situações de injustiça às partes contratantes, garantindo que a igualdade entre elas seja respeitada, equilibrando a relação em que houver a preponderância da situação de um dos contratantes sobre a do outro". Os princípios da probidade e da boa-fé estão ligados não só à interpretação de contratos, mas também ao interesse social de segurança das relações jurídicas, uma vez que as partes têm o dever de agir com honradez e lealdade na conclusão do contrato e na sua execução. O Código Civil de 2002 albergou a teoria afirmativa, conforme se extrai da redação do seu artigo 187, segundo a qual "também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê- lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes". A Profª. Judith Martins Costa, em Comentários ao Código Civil, Ed. Forense, 2003, p. 122, elenca os requisitos do abuso de direito, a saber: conduta humana, existência de um direito subjetivo, exercício desse direito de forma emulativa, dano para outrem, ofensa à boa-fé e prática em desacordo com o fim social ou econômico do direito subjetivo. A professora destaca que a doutrina clássica qualifica o abuso de direito como ato emulativo. A verdadeira meta do titular do direito subjetivo, ao exercê-lo, é causar dano a outrem, na maioria das vezes por mero capricho ou vindita. Em tese, o abuso ocorre quando o agente despreza a economia interna do negócio, continua a respeitada professora, perseguindo fim lesivo a outrem, sem proveito lícito para si. Quanto ao abuso de direito, também podemos fazer referência ao art.187 do Código Civil, pois o titular de um direito que o usa para causar danos que atinjam tanto a integridade física quanto moral de outrem, excede os limites impostos pela boa-fé e pelos bons costumes,consequentemente estará cometendo um ato ilícito. Sendo assim, o abuso de direito pode ser caracterizado como um exercício irregular dos direitos subjetivos que decorrem do ordenamento jurídico. Dessa forma é vedado o abuso de direito, gerando punição aqueles que o cometem, tais como obrigação de indenizar e outras espécies de sanções. Referências Bibliográficas AMARAL, Francisco. Direito Civil: introdução. 5 ed.rev.,atual. e aum. – Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 550. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. GAGLIANO, P. S.; FILHO, R. P. Manual de direito civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. E-book. MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2003. TARTUCE, Flávio. Função Social dos Contratos. São Paulo: Método, 2007. ivil. 10ª 2020. - - - direito civil; v. 5) .
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