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Lyzandra Maria M35 TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV EPIDEMIOLOGIA NE acumula 14% dos casos de AIDS (1980- 2013); De 2006 até agosto de 2014: 8052 casos acumulados (SINAN CEARÁ); 98% dos municípios do CE já registraram pelo menos 1 caso: Há uma interiorização do vírus, desatualizando o conceito de que o HIV é uma doença de cidade grande; 23 municípios concentram 83% do total de casos: Cidades maiores, zona industrial, comércio e turismo; Números ascendentes de casos em jovens de 15 a 24 anos em ambos os sexos; Taxa de detecção de casos de AIDS em menores que 5 anos ainda se mantém em patamares elevados; Indicador de monitoramento de transmissão vertical: Quanto mais crianças nascerem com HIV maior é o impacto (é evitável); O SUS tem organizado uma série de metas de gestão que indiretamente representam a identificação da qualidade assistencial do município: Por exemplo, sífilis gestacional é um indicador de mau prognóstico municipal, é como se fosse resultado de uma sequência de eventos (falta de educação sexual, falta de diagnóstico e tratamento, pré-natal inadequado, entre outros); Da mesma forma, a infecção pelo HIV é uma demonstração da fragilidade do serviço de saúde; Mortalidade: Não deveria acontecer, porém tem uma curva ascendente, ou seja, é um prognóstico ruim, pois o HIV atualmente é pra ser uma doença crônica e não que leva à mortalidade. INTRODUÇÃO Definição: É a transmissão da infecção pelo HIV de uma gestante soropositiva para o bebê. Epidemia do HIV vem afetando cada vez mais as mulheres: Atualmente, ainda há uma ascensão maior da população masculina, mas mesmo assim observamos um número cresce de acometimento em mulheres; Muitos diagnósticos são dados durante a gestação: É algo que implica uma abordagem clínica extremamente delicada. O atendimento de uma pessoa que recebe o diagnóstico de HIV já não é fácil, há limitações, exige todo um cenário de aconselhamento (pré-teste e pós-teste), de abordagem para o paciente digerir o diagnóstico, como se contaminou, para que ele entenda a abordagem e comece o tratamento: Durante a gestação temos um cenário totalmente inverso, a mulher recebe a notícia da gestação, tem um pico de felicidade e em seguida detecta o HIV positivo; Essa gestante passará por alterações emocionais da própria gravidez e também pelo baque da detecção do HIV; Triagem sorológica HIV: O diagnóstico na gravidez feito pela triagem sorológica do MS representa uma falha na prevenção; Falha na prevenção: Cada diagnóstico novo do HIV representa uma falha, assim como a sífilis congênita, em toda uma cadeia organizada pra trabalhar a prevenção. Se a UBS não consegue rastrear, prever ou educar a população na prevenção do vírus há essa falha. Em 1998 a taxa de transmissão vertical era de 16%, em 2004 já era de 1,56%, atualmente está em torno de 1%: Com o advento da terapia, da testagem sorológica nas UBS e da disseminação de testes rápidos na atenção primária, melhorou muito o diagnóstico. Lyzandra Maria M35 FATORES RELACIONADOS A transmissão da infecção do HIV tem uma relação multifatorial, não depende apenas da infecção viral e sim de inúmeros fatores que farão a infecção acontecer. Fatores virais: Necessita-se de um vírus agressivo o suficiente pra passar a barreira placentária; Carga viral alta: Ou descontrolada, da gestante durante a gestação, fala a favor de uma probabilidade mais alta de transmissão para o bebê; Não há evidências sobre os subtipos virais: Supõe que o subtipo C na África esteja mais relacionado com a TV, mas ainda não está bem elucidado. Fatores clínicos e imunológicos: Necessita-se de uma condição clínica e imunológica da gestante e do feto em desenvolvimento que facilite essa infecção; Doenças oportunistas ou imunossupressão severa: Manejo clínico difícil interferindo nas intervenções que reduzem o risco de TV; IST: Algumas podem levar ao dano placentário aumentando o risco de TV; Hepatites e tuberculose: Manejo clínico complexo, interferindo nas intervenções para reduzir a TV; CD4 < 200 células/mm³: Implica num estado de imunossupressão grave e, consequentemente, uma incapacidade técnica de controle viral mais adequado e facilitando a transmissão. Fatores comportamentais: Como, por exemplo, uso de drogas, bebidas alcoólicas, cigarros e tudo que leva à fragilidade da consistência da barreira placentária. Vão fazer com que aconteçam sangramentos, infartos placentários, entre outros eventos, que virão a promover a infecção fetal; Uso de drogas ilícitas: Dano vascular placentário; Prática sexual desprotegida: Reinfecção pelo HIV (de diferentes mutações) e IST. IMPORTANTE: Esse termo reinfecção está um pouco errado. Na realidade é como se fosse uma transmissão de fatores genéticos evolutivos do HIV para mecanismo de resistência. O vírus quando entra em contato com os retrovirais começa a produzir mecanismos compensatórios de resistência. Essa mutação adquirida para desenvolver a resistência, num relação sexual (mesmo que seja entre casais HIV positivo) pode ser transmitida (o mecanismo de resistência pode ser transmitido) e um dos indivíduos desenvolver resistência viral a algum medicamento que esteja usando. Fatores obstétricos: Durante o trabalho de parto e o desenvolvimento; Transmissão é maior no 3º trimestre: É quando ocorre o amadurecimento placentário, microinfartos e maior probabilidade de contaminação do sangue materno; Procedimentos invasivos: Amniocentese e cordocentese. Podem causar a contaminação do bebê, por meio da inoculação direta do vírus; Tempo de ruptura das membranas: Maior que 4 horas, há maior risco; Trabalho de parto: Dinâmica uterina aumentada pode provocar microtrans- fusões na placenta; Cesária reduz o risco de transmissão vertical: Rever conceitos, atualmente não funciona mais assim; Atualmente, a via recomendada para o parto de gestantes infectadas pelo HIV é a via obstétrica. Não há mais recomen- dação formal para realização de cesariana obrigatoriamente; Portanto, atualmente o trabalho de parto não é mais considerado um risco pra transmissão do HIV, baseado nas condições atuas de novos medicamentos, Lyzandra Maria M35 carga viral detectável, entre outros avanços: Então a mãe pode SIM ter parto normal, dependendo do seu desejo e da habilidade da equipe que esteja realizando o cuidado. Figura 1: Parto empelicado. Antes do advento dos novos conceitos era o parto indicado pras gestantes soropositivas. Nele, o bebê nasce ainda dentro do saco amniótico e só é rompido após a retirada do bebê completo do útero. OBS: Na prática, a maioria dos serviços acaba fazendo o parto cesariano, os obstetras ainda têm um receio pra o parto normal dessa população. Fatores relacionados ao recém-nascido; Prematuridade; Baixo peso ao nascer; Ambos infringem de que houve uma intercorrência durante o parto com a necessidade de nascimento precoce e consequentemente chance de transmissão para o bebê. Fatores relacionados ao aleitamento mater- no: A única contraindicação formal de aleitamento materno é o vírus HIV. Amamentação está relacionada a um risco adicional de 7 a 22% de transmissão; Infecções maternas agudas: Transmissão vertical de 29%, ou seja, quando a mãe adquire o HIV durante a gestação; Cuidado com a fala na hora de realizar as orientações; AME (aleitamento materno exclusivo): É bom e essencial pro bebê; Aleitamento suplementar não é o vilão da história, ele pode ser a vida: O programa DST/Aids do Ministério da Saúde fornece o leite suplementar até o 6º mês de vida. O leite fornecido é o nestogeno, que é uma fórmula adequadae prescrita por muitos pediatras. Então existem vários pontos aos quais precisamos entender e explicar pra gestante que são importantes e não dependem apenas do serviço de saúde. A transmissão vertical hoje está bem controlada, há uma baixa incidência dela e uma diminuição com o passar dos anos. DÚVIDA DA AULA!! Essas mutações que aumentam a resistência viral causam danos apenas pra mãe ou o feto também já receberia elas? Não necessariamente a criança receberia. Na verdade, quando a mãe adquire essas mutações, a terapia materna se torna mais limitada (não posso usar todos os retrovirais nela) e as terapias de resgate ainda possuem algumas limitações porque não foram totalmente testadas em gestantes. Então acabamos não conseguindo controlar a carga viral de forma oportuna e, consequentemente, aumenta as chances do bebê nascer contaminado pelo vírus. Se a mãe tiver a resistência e o bebê for contaminado, ele pode nascer já com o vírus mutante também, tornando mais difícil o tratamento da criança pós nascimento. PROFILAXIA DA TRANSMISSÃO VERTICAL A primeira medida a ser realizada no pré-parto é identificar a gestante HIV e fazer o início do tratamento precoce. Quando a gestante chega na idade gestacional de interromper a gravidez (seja por início do trabalho de parto ou não) é importante que a Unidade de Saúde esteja preparada pra realizar a profilaxia antirretroviral intraparto. PROFILAXIA DA TV DO HIV NO PARTO É a profilaxia antirretroviral intraparto: Lyzandra Maria M35 AZT venoso: É usada a zidovudina (também chamada de azidotimidina) venosa; Desde o início do trabalho de parto ou pelo menos 3 horas antes da cesária eletiva: O AZT fica sendo infundido em infusão prolongada; Manter a infusão até o clampeamento do cordão; Se já faz uso de TARV, mesmo em jejum, ingerir os medicamentos com pouca água, inclusive durante a infusão do AZT (no horário da TARV): Mesmo se a gestante já faz a TARV, precisa fazer o uso do coquetel nas doses corretas no dia do nascimento. O jejum da cesárea não contraindica o uso dos antirretrovirais, apenas faz uso com pouca água. PROFILAXIA DA TV DO HIV NO PUERPÉRIO Não isolar a puérpera ou seu RN, devendo ambos irem pro alojamento conjunto: Desde que estejam em condições clínicas favoráveis; Orientar quanto ao acompanhante clínico e ginecológico bem como o acompanhamento da criança até definição sorológica; A gestante deve receber alta com consulta marcada para serviço especializado; TODA mãe soropositiva para o HIV deverá ser orientada a NÃO AMAMENTAR! Direito a receber fórmula láctea infantil até os 6 meses de idade; Uso de inibidores da lactação: Durante a gestação, a mãe faz uso de cabergolina que é um inibidor da produção de prolactina e, consequentemente, da produção láctea. Orienta que ela pode dar algumas desculpas, que a criança não pegou o peito, ou que o seio tinha fissuras, entre outros, pra que ela tenha justificativas mais confortáveis pra quem perguntar. QUIMIOPROFILAXIA ANTIRRETROVIRAL NO RECÉM-NASCIDO Deve ser feita imediatamente após o parto, a primeira dose principalmente. Essa medicação é feita para o RN, após o nascimento e após avaliar o estado de controle de HIV da mãe. Está indicada após os primeiros cuidados médicos até 2 horas após o nascimento, devendo ser mantida por 4 a 6 semanas; AZT xarope: Dose ajustada para o peso; Feito para todas as crianças nascidas de mães que vivem com o vírus HIV, independente da carga viral pré-parto; Administrado pelas 6 semanas. Nevirapina xarope: Dose ajustada para o peso. É um inibidor não análogo a nucleosídeos. Só vai ser prescrito caso a mãe tenha uma carga viral superior a 5 mil cópias em um período de 30 dias antes do nascimento da criança ou caso a mãe seja diagnosticada com HIV no momento do parto ou que não tenham evidência de carga viral recente; É uma medicação emergencial e só deve ser feita por 3 doses: É como se fosse um reforço inicial para o controle da TV. Uma dose na hora do parto, outra em 12 horas e outra em 24 horas (de 12 em 12 h). Mães com carga viral indetectável até 30 dias do nascimento e que fizeram pré-natal de fora adequada: Mãe faz AZT no periparto e o bebê usará apenas AZT xarope de 4 a 6 semanas. Mães com diagnóstico realizado na sala de parto (momento do parto) ou que tenham evidência de carga viral positiva acima de 5000 cópias até 30 dias antes do parto: Faz 3 doses de nevirapina no bebê, em seguida suspende e mantém o AZT até o final das 6 semanas (coadministração). Lyzandra Maria M35 DÚVIDA DA AULA!! Então é um ou outro? NÃO! O AZT SEMPRE vai ser feito pra todos. Vou adicionar a nevirapina nas situações em que a mãe não tem controle de carga viral. O AZT, mesmo nos casos em que usa a nevirapina, vai ser iniciado com 2 horas e continuado por 6 semanas pra todos. Adicionado ao AZT, faço uma COADMINISTRAÇÃO da nevirapina por 3 doses, caso a mãe apresente as condições de indicação. DÚVIDA DA AULA!! A carga viral indetectável só considera que o HIV não é transmissível por via sexual? Aí no caso, pelas demais formas ele pode transmitir? Quem é indetectável, no conceito novo, é intransmissível como um todo, não apenas por via sexual. Porém, a quimioprofilaxia do bebê precisa ocorrer de toda forma. SEGUIMENTO É feito pela realização de, basicamente, 3 exames. 1º carga viral do RN realizada até 30 dias de vida; Se for negativa: Repete com 6 meses; Se for positivo: Repete com 30 dias. 2º carga viral do lactente realizada em 6 meses de vida (no 6º mês); Se for negativa: Faz a sorologia simples com 18 meses; Sorologia simples realizada aos 18 meses de vida; Se qualquer um destes testes vier positivo deve encaminhar imediatamente para a referência em infectologia do município. OBS: Na região do Cariri, apenas infectologistas conseguem solicitar a carga viral. Então toda criança exposta (filho de mãe HIV positivo) vai ser encaminhada ao infectologista de toda forma. IMPORTANTE: A ordem dos exames de seguimento só vale se der negativo em todos. A partir do momento em que um deles dá positivo, preciso fazer os testes confirmatórios logo em seguida (fazer imunoblot, repetir carga viral) pra tentar fazer o diagnóstico. LEMBRAR!! Se fizer sorologia de uma criança exposta antes de 1 ano e 6 meses (18 meses), ela pode vir positiva, pois o anticorpo materno passa pro bebê. A mãe passa o IgG que vai positivar no ELISA. OBS: Um dos primeiros erros que percebemos é fazer teste rápido em RN na sala de parto, o que vai atrapalhar muito o seguimento da gestante. Durante todo o período gestacional fazemos um trabalho muito pesado sobre a profilaxia do vírus, então quando a mãe passa o HIV pra criança há um sentimento de culpa grande, então precisamos ter muito cuidado. ENTÃO... Não é sorologia que dá diagnóstico na criança, é a carga viral!! Encaminha ao infectologista que ele vai pedir. RECOMENDAÇÕES Aconselhamento materno: Pré-parto, periparto e pós-parto; Quebra do preconceito do HIV: Entender que as pessoas podem conviver com o HIV e ter uma vida normal; Há inclusive planejamento familiar para pacientes com HIV, pra que possam engravidar e formar suas famílias e para que seus filhos nasçam sem o vírus. Sigilo médico e da equipe de saúde: É o maior entrave do HIV atualmente. Os pacientes se sentem muito fragilizados nas equipes de saúde porque nem sempre se consegue ter cuidado com o registro e a guarda da informação; Monitorização do acompanhamento do recém-nascido até 5 anos de idade: O AZT é uma droga que pode alterar o metabolismo das hemácias, é mielotóxico. Lyzandra Maria M35 DÚVIDA DE AULA!! Oponto de corte da carga viral do bebê também é 5000? Não. A carga viral do bebê deve ser baseada no diagnóstico convencional. Se a carga viral for positiva (independente do valor, mas lembrar de que abaixo de 5000 pode ser uma transativação materna heteróloga e não significa que houve contaminação) muda o protocolo. Em vez de repetir com 6 meses, repete com 30 dias e se der positiva já dá seguimento e inicia TARV na criança. Se der positiva e ao repetir der negativa, continua monitorando mensalmente até ter 2 cargas negativas, se negativar 2, aos 18 meses faz a sorologia pra confirmar. EPIDEMIOLOGIA ATUAL E NOVAS ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO O objetivo hoje não é apenas dar qualidade de vida ao paciente com HIV, mas também fortalecer que o tratamento correto dos infectados e o autocuidado dos não infectados têm um único objetivo: Impedir a cadeia de transmissão do vírus. HIV no tempo: Sofreu muitas mudanças no decorrer do tempo, mesmo sendo muito nova (descoberta na década de 80). Ainda mantém seu estigma, mas avanço muito do ponto de vista de tratamento; SUS: Extremamente importante. O tratamento do HIV hoje é integralmente fornecido pelo SUS; Fornece o esquema básico inicial da terapia retroviral que é o dolutegravir, lamivudina e tenofovir: É o esquema que está dentro das recomendações internacionais de tratamento. Figura 2: Gráfico com taxas de detecção de aids. No decorrer dos últimos 10 anos podemos perceber que o gráfico pouco se modifica. A taxa de detecção em gestantes, por exemplo, se manteve praticamente a mesma. Isso é ruim porque significa que não estou conseguindo trabalhar a prevenção, mesmo que sejam taxas baixas, o certo era o diagnóstico ser feito cada vez menos na gestação e cada vez mais antes dela. Já a detecção em crianças (menores de 5 anos) houve queda. O óbito (em roxo), que é um marcador de mau prognóstico, diminuiu muito pouco. Essas pessoas que morrem, refletem pessoas que não trataram adequadamente, não aderiram adequadamente ou que não foram diagnosticados a tempo. O número de pessoas já detectadas com AIDS (vermelho) nos indica um péssimo indicador de diagnóstico, porque significa que se o paciente só conseguiu ser diagnosticado após evoluir pra AIDS é porque a prevenção e o diagnóstico estão ruins; A linha amarela mostra o cenário mais desejado: Um aumento da detecção do HIV+, ou seja, do diagnóstico da infecção, em detrimento da diminuição da detecção de aids e dos óbitos; OBS: O tratamento da AIDS é um tratamento que custa em torno de 12000 reais por mês por cada paciente. Lyzandra Maria M35 Figura 3: Taxa de detecção geral (por 100 mil habitantes). Tendendo à uma ligeira queda nos últimos 3 a 4 anos. Figura 4: Taxa de detecção geral e por sexo (por 100 mil habitantes). Ainda há um valor superior de homens comparado ao de mulheres. Figura 5: Taxa de detecção em jovens entre 15 e 24 anos (por 100 mil habitantes). Está em ascensão direta. EPIDEMIOLOGIA O que vemos no dia a dia: Vemos que o número de diagnósticos de HIV é muito mais intenso; Qual o real número? É muito difícil ter a incidência exata. O MS estima que 60% dos contaminados não sabem que têm o vírus. O número de hoje seria apenas 40% dos contaminados, apenas os que sabem que possuem; Cerca de 40 mil novos casos por ano; Crescimento da epidemia entre jovens de 15 a 24 anos; 2004: Taxa de detecção de 9,6/100 mil habitantes; 2015: Taxa de detecção de 13,6/100 mil habitantes. CONCEITOS FUNDAMENTAIS Vírus do tipo selvagem: É o vírus de infecção primária que possui um alto tutoma (não entendi a palavra) viral, ou seja, uma alta taxa de replicação viral. Porém, possui uma baixa capacidade de trazer imunossupressão rápida; Evolui na forma clássica da doença: É o paciente que se infecta, apresenta síndrome retroviral aguda, melhora e só vai adoecer novamente anos depois com a evolução pra AIDS. Vírus mutante: É o vírus mutado geneticamente. É exposto a algum tipo de retroviral e acaba sofrendo uma mutação e se tornando mais resistente; Fitness viral: Termo usado para se referir à capacidade do vírus de gerar replicação; Existem mutações específicas que diminuem o fitness viral, fazendo com que a replicação viral se torne mais lenta; Quando o fitness viral está aumentado significa que o vírus está se replicando com muita intensidade. Barreira genética: É a capacidade da droga que vai garantir uma proteção à resistência. O MECANISMO VIRAL O vídeo mostra a atracação do vírus pelas proteínas gp120 e gp41. Em seguida, o vírus entra na célula humana via CD4, há abertura do núcleo e as proteínas de replicação se dispersam no citoplasma: O RNA viral, a protease, a integrase e a transcriptase reversa. A transcriptase reversa faz uma fita dupla de DNA que contém toda a mensagem genética do vírus; Lyzandra Maria M35 A integrase vai integrar o DNA viral ao DNA da célula hospedeira; Nesse momento, o vírus começa um cenário de replicação, onde vai haver a produção de proteínas virais propriamente ditas; As proteínas são quebradas e são formadas novas estruturas proteicas do vírus; Em seguida, essas estruturas são colocadas pra fora. OBS: 1 vírus pode gerar até 1 milhão de novos vírus. CLASSES DE ANTIRRETROVIRAIS Inibidores da transcriptase reversa: Vão impedir a transformação de RNA em DNA viral; Análogos a nucleosídeos: Se assemelham a tiamina, guanina, etc; Não análogos a nucleosídeos. Inibidores da protease: Vão impedir que a proteína formada pelo vírus conforme as proteínas propriamente ditas de construção viral; Inibidores da integrase: Vão impedir a integração do DNA viral no DNA celular humano. O dolutegravir é um inibidor de integrase; Inibidores de fusão: Vão impedir a atracação de gp41 e gp120 no receptor CCR5; Antagonista de correceptores CCR5. INIBIDORES DA TRANSCRIPTASE REVERSA Análogos a nucleosídeos: Atuam como terminadores da cadeia de DNA, inibindo a transcrição do genoma viral (RNA) pra DNA; São medicamentos estruturalmente muito semelhantes à adenosina (a), guanosina (g), citosina (c) e timidina (t); Substituem de forma competitiva os nucleosídeos verdadeiros; AZT-d4T (timidina), 3TC FTC (citosina), ddI TDF (adenosina) e ABC (guanosina). Não análogos a nucleosídeos: Atuam por meio da ligação direta com a transcriptase reversa, impedindo, da mesma forma, a transcrição do RNA viral presente no citoplasma para o DNA celular; Esses medicamentos se ligam a sítios específicos da TR, localizados próximos ao sítio ativo desta. Tal ação inibe a ação da enzima. INIBIDORES DA PROTEASE Os inibidores da protease (IP) ocupam de forma competitiva o sítio ativo da protease; Se a PR do HIV está bloqueada, as poliproteínas virais não são clivadas, ocorrendo a liberação de partículas imaturas e não infectantes; Promovendo inibição da replicação do vírus; O vírus continua sendo encapsulado e liberado da célula por mais um ciclo replicativo; Entretanto, por possuírem poliproteínas não clivadas em seu interior, as partículas virais que sofreram ação dos IP não serão infectantes e, portanto, o ciclo de vida do HIV é interrompido. INIBIDORES DA INTEGRASE A integrase é uma enzima fundamental pra replicação do HIV. Em seu mecanismo de ação, essa enzima se liga às extremidades do DNA do HIV assumindo uma forma circular, com as suas duas extremidades ligadas à integrase; A integrase promove a catálise (ruptura) do DNA humano em uma determinada posição e introduz o genoma do HIV dentro do genoma do hospedeiro (integração); A ligação dos INI nessa alça diminui a flexibilidade da enzima integrase e impede a ligação da regiãoterminal do genoma do HIV à região do genoma humano. Lyzandra Maria M35 NOVAS ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO AO HIV (PEP E PREP) Figura 6: Medidas gerais (circuladas) de prevenção combinada. As que não estão circuladas são as medidas mais específicas. Ao falarmos sobre prevenção do HIV, nos referimos a um conjunto de ações organizadas que possuem objetivo de ajudar a impedir a cadeia de transmissão do vírus. 1. Testagem regular para o HIV, outras IST e HV: O diagnóstico precoce quebra a cadeia de transmissão, pois quanto mais cedo o indivíduo souber que tem o vírus, mais eficaz será a sua forma de controle viral e diminuição de transmissibilidade; 2. Usar preservativo masculino, feminino e gel lubrificante: Forma de diminuir a exposição sexual. Há políticas públicas de distribuição de preservativos nas unidades; 3. Redução de danos: Orientação pra minimizar o uso de álcool, drogas e cigarros; Além disso, orientação a profissionais do sexo pra não usar fio dental antes do início do turno de trabalho pra não fragilizar a gengiva, por exemplo; O uso de drogas pode favorecer a não utilização de preservativos, por conta da alteração sensorial associada. 4. Imunizar para HBV e HPV: Não previne o vírus de uma forma direta, mas previne portas de entrada para outros vírus e, consequente-mente, pro HIV; 5. Diagnosticar e tratar as pessoas com IST e HV; 6. Tratar todas as pessoas vivendo com HIV/AIDS: É importante entendermos que todas essas etapas já contribuem pra prevenção da transmissão; 7. Prevenir a transmissão vertical. As 2 últimas medidas, que não foram circuladas, são medidas mais pontuais, que veremos a seguir. PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO (PEP) Essa profilaxia ocorre quando o indivíduo se expõe ao vírus HIV ou à suspeita do vírus. Após a exposição, a pessoa vai ser submetida à terapia antirretroviral por 28 dias com o objetivo de prevenir/evitar a transmissão do HIV. Indicações (tanto pra adulto quanto pra crianças): Violência sexual: A PEP só não é indicada nesses casos quando o agressor é passível de testagem; Sexo consensual: Se houve sexo consensual, mas mesmo houve suspeita de contaminação pode realizar a PEP; Acidente de trabalho: Com perfurocor- tantes, principalmente quando ocorre em ambiente hospitalar. A PEP é uma urgência médica: Há prazo pra começar, então é necessário que o serviço de saúde esteja organizado para isso; OBS: Todos os municípios podem solicitar ao serviço especializado esquemas para dispensação de PEP em seus serviços/unidades. É feito um treinamento das equipes e em seguida há a dispensação da PEP pra esses municípios, tanto pra adulto quanto pra crianças. Mecanismo de ação: Impedir a replicação viral; Atuar antes da disseminação do vírus no sistema retículo-endotelial: Começando a terapia de forma oportuna, ou seja, até 2 Lyzandra Maria M35 horas depois do evento vai conseguir impedir a replicação e a transmissão; Usa o inibidor de integrase e transcriptase reversa análogos a nucleosídeos. Janela de uso da PEP: É bem restrita; Ideal: Até 2 horas após o evento; Prazo máximo: Até 72 horas após o evento. Após 72 horas não está mais indicado o uso da PEP, fazemos apenas o acompanhamento com sorologia; Efetividade: Não há no protocolo clínico e diretrizes de tratamento a taxa de efetividade; Fala em melhor eficácia quando tomado corretamente; Estudos demonstram eficácia acima de 95% para evitar o HIV quando tomado dentro do prazo máximo estabelecido. Esquemas preferenciais: Variam conforme idade e status de gravidez; Adultos: Dolutegravir + tenofovir + lamivudina; Grávidas (após 12 semanas de idade gestacional): Dolutegravir + tenofovir + lamivudina; Jovens que estão com risco engravidar não podem fazer uso do dolutegravir, então fazem um esquema adicional: Raltegravir + tenofovir + lamivudina. Crianças: Raltegravir + zidovudina + lamivudina. OBS: Será sempre, basicamente, um inibidor de integrase associado a dois inibidores análogos de nucleosídeos. PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO (PREP) Consiste em tomar um esquema antirretroviral, de forma contínua (enquanto houver risco de exposição ao HIV): É feita com o uso de 2 drogas combinadas em 1 comprimido; Feita por quem se sente vulnerável ao HIV e não possui o vírus; Feita de forma interrupta, por longo prazo. Objetivo: Evitar a infecção pelo HIV; Eficácia: Efetividade pode chegar a 100%. A efetividade depende do uso correto, sem atrasos nas doses, sem falhas/esque- cimentos e associado a pelo menos 2 mecanismos da prevenção combinada pra prevenir HIV. Hábitos: Pra mudar um hábito é preciso de muita insistência e um período de adaptação. Quem já tem o hábito de usar preservativo, por exemplo, não perde esse hábito; A ideia da PrEP é que quem não usa preservativo, não vai começar a usar, porque é um hábito. Porém, essa pessoa que não usa e tem muitas exposições ao vírus durante sua vida, tem mais chances de se contaminar: Se pegar o vírus, ainda assim o hábito de não usar preservativo vai continuar, sendo o indivíduo uma potencial fonte de transmissão do vírus; Ou seja, se não consigo introduzir o hábito do preservativo, mas consigo introduzir o hábito da PrEP: Mesmo mantendo um comportamento vulnerável, impedimos a cadeia de transmissão do HIV, pois a partir do momento que a pessoa não se contamina, não vai transmitir, mesmo que continue com relações desprotegidas. Comportamento vulnerável; Uso de drogas lícitas e ilícitas; População chave: São populações prioritárias para os programas de incentivo do uso da PrEP; Profissionais do sexo; Gays/HSH; Pessoas trans; Casais sorodiferentes; Usuários de drogas injetáveis; Múltiplos usos de PEP. Atualmente, a população chave já foi ampliada: Qualquer pessoa pode buscar a PrEP, é feita apenas uma investigação se há vulnerabilidade pro vírus; Lyzandra Maria M35 Como funciona: Vamos usar 2 inibidores análogos a nucleosídeos: Tenofovir (Adenosina); Entricitabina (Citosina). Vão agir bloqueando a transcriptase reversa, impedindo o vírus de replicar e, consequentemente, inibindo o ciclo viral; A ideia é usar uma medicação de uso contínuo, pra quando houver o contato com o vírus, existir uma inibição imediata. Por quanto tempo funciona (Por quanto tempo posso usar a medicação?): Pode ser usado por toda a vida, desde que alguns pontos sejam mantidos, como... Hábitos; Exposição ao HIV; Vulnerabilidade; Adesão a PrEP: Só vai funcionar se usar corretamente, o esquecimento de um comprimido já pode diminuir a efetividade (de 100 pra 94%). Com quanto tempo começa a funcionar? Esses valores de dias são quando se acredita que há uma melhor distribuição sérica da droga nesses sítios; 7 dias para sexo anal receptivo; 20 dias para sexo vaginal receptivo; Pra sexo oral e para o sexo ativo não há registro: Estima-se um tempo de 20 dias por garantia. Posologia e efeitos colaterais: 1 comprimido diário: Pode ser tomado em qualquer horário do dia, desde que seja no mesmo horário; Baixos efeitos colaterais: Muito bem tolerado. Primeiras semanas: Empachamento, flatulências e náuseas; Critérios de elegibilidade: HIV negativo: Pressuposto principal; Ausência de suspeita de infecção pelo HIV; Em risco substancial de infecção por HIV (Fora da janela imunológica); Depuração de creatinina > 60ml/min; Determinação de usar a PrEP como prescrito. Não há contraindicação pro uso de contracepção hormonal: Até mesmo porque o uso da PrEP e a retirada do preservativo vão facilitar a gestação; Gravidez e amamentação: A terapia não fornece riscos pra gravidez (apenaspra engravidar), então pode ser usada por toda a gestação; Inclusive é uma indicação para casais sorodiferentes que querem engravidar; A paciente pode amamentar no pós-parto. A PrEP não diminui o risco de outras IST: Seu uso não autoriza o abandono do preservativo que: Previne contra outras IST: Sífilis, gonorreia, clamídia, cancro, linfragranuloma, donavonose; Evita gravidez. O uso do preservativo nos usuários a PrEP se torna opcional, entretanto na cadeia da prevenção combinada, precisamos usar pelo menos outras 2 medidas, estando o preservativo entre as opções: O professor coloca o preservativo como 2° pilar fundamental. ACESSO A PEP Emergências locais: Devem estar capacitadas para acolher e medicar os pacientes com indicação de PEP; Serviços especializados em infectologia: Juazeiro do Norte: Hospital Estefania Rocha; Crato: Centro Municipal de Infectologia (Rua do Sesc); Brejo Santo: AMAI (Praça Dionísio Rocha de Lucena). ACESSO A PREP Serviços especializados em infectologia (SUS): Lyzandra Maria M35 Juazeiro do Norte: Hospital Estefania Rocha; Crato: Centro Municipal de Infectologia (Rua do Sesc). Serviço Privado de Atendimento em Infectologia. CUSTO PEP: Gratuito e exclusivo do SUS; PrEP: Gratuito quando o acompanhamento pelo SUS. Truvada (sob importação): 350,00 a 500,00 em média. Lembrando que é a mesma dose do SUS, tenofovir e entricitabina. PRA FINALIZAR Figura 7: Estudo sobre intransmissibilidade do vírus. Foi feito um estudo prospectivo observacional, feito em casais sorodiferentes e HSH que não costumavam utilizar preservativo. Foi concluído que a taxa de transmissão de pacientes indetectáveis, ou seja, que tratam e são indetectáveis, é menor que a transmissão de uma pessoa aleatória. Então a intransmissibilidade de pessoas com carga viral indetectável é uma realidade hoje em dia. O que esse isso representa? Impedir novas infecções; Reduzir as taxas de incidência; Fim da epidemia. Porque precisamos das medidas da mandala? Por exemplo, quando existe um namoro e a responsabilidade do planejamento familiar é colocada na mulher por meio da utilização do ACO (muitas alterações e riscos), é com se homem saísse da responsabilidade, sendo que o homem também pode ser corresponsável e utilizar o preservativo. Da mesma forma ocorre quando a responsabilidade da não transmissão é jogada para o paciente HIV positivo indetectável, já que o peso da terapia antirretroviral também é grande (muitos altos e baixos). Dessa forma, a responsabilidade também seria unilateral, sendo que o parceiro pode fazer sua parte, mesmo porque não há uma garantia de que o indivíduo estará com a carga viral indetectável o tempo inteiro, não é dosada a todo tempo, pode haver falhas. DÚVIDA DA AULA!! Qual a relação do paciente indetectável e da profilaxia pós-parto? Da mesma forma, continuando a linha de pensamento, quando jogamos toda a responsabilidade disso pra mãe é um sobrecarga, já que é uma responsabilidade muito grande jogar a não transmissão na competência apenas do uso dos medicamentos (TARV). Dessa forma, além de fazer o tratamento pra garantir a carga indetectável da mãe, também vou realizar uma PEP no bebê pra aumentar as chances de não haver transmissão vertical. Além disso, por mais que seja indetectável e não transmita a mãe não deve amamentar, pois não sabemos como é a reação do bebê a isso. Dessa forma, a responsabilidade materna vai ser dividida com o bebê.
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