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Teologia Pastoral liturgia, metodologia e aconselhamento

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2010
Teologia PasToral: 
liTurgia, MeTodologia e 
aconselhaMenTo
Prof. Claudir Burmann
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2010
Elaboração:
Prof. Claudir Burmann
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
 
241
B962t Burmann, Claudir.
 Teologia Pastoral: Liturgia, Metodologia e 
 Aconselhamento / Claudir Burmann. Centro
 Universitário Leonardo da Vinci – . Indaial: 
 Grupo UNIASSELVI, 2010.x ; 152 p.: il
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-259-7
 1. Teologia 2. Teologia Cristã 3. Moral e Prática 
 Religiosa I. Centro Universitário Leonardo da. Vinci 
 II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
 
III
aPresenTação
Caro(a) Acadêmico(a)!
A teologia e a pastoral cristãs vivenciadas em nosso tempo têm atrás 
de si uma longa história. Essa história é anterior mesmo ao nascimento 
de Jesus de Nazaré. Já nos primeiros livros do Primeiro Testamento, Deus 
estabelece uma aliança com a humanidade, especificamente com o povo 
de Israel. Essa aliança se mantém, sendo que o próprio Jesus de Nazaré se 
insere no contexto dessa aliança. Os desdobramentos disso vêm a resultar na 
formação da Igreja – ou, hoje em dia, na multiplicidade de igrejas.
Com a institucionalização do movimento originário da aliança 
de Deus por meio de Jesus de Nazaré no formato de Igreja, formulações 
teológico-pastorais foram sendo elaboradas de modo cada vez mais 
sofisticado. Importante é sabermos que isso nem sempre se deu de modo 
pacífico e consensual. Em inúmeros momentos, polêmicas se estenderam ao 
longo de anos até se chegar a alguma formulação relativamente consensual. 
Em meio a isso, dissidências surgiram e práticas nem sempre coerentes à 
Sagrada Escritura foram implementadas. Influências religiosas alheias à 
autêntica expressão da fé cristã igualmente têm atemorizado a teologia e a 
pastoral cristã.
No tempo contemporâneo tem havido enorme facilidade em ignorar 
a história passada da teologia e pastoral cristã. Age-se como se a história 
cristã começasse apenas no instante de uma “conversão” ou no início de 
atividades de uma nova denominação. De certa maneira, é possível verificar 
uma negação aos legados históricos, traduzidos nas liturgias, modos e 
formas de vivenciar a fé em Jesus de Nazaré. Há uma tendência de se perder 
de vista a integralidade abrangida pela aliança de Deus para salvação da 
humanidade. Facilmente, ênfases recaem sobre alguns aspectos da vida, 
esquecendo-se da unicidade na qual toda criação foi concebida por Deus.
Em nosso estudo temos a pretensão de manter um diálogo entre 
teologia e pastoral cristã, a partir do Primeiro e Segundo Testamentos, a 
história da Igreja e o tempo em que vivemos. Experiências particulares 
terão oportunidade de ser refletidas e confrontadas, tanto com a pluralidade 
teológica e religiosa da atualidade quanto com a pluralidade presente na 
Sagrada Escritura. Pressupomos a capacidade de olharmos criticamente 
para nossos próprios conceitos e pré-conceitos teológicos e pastorais. Disso 
dependerá a produção e o resultado final dessa disciplina.
Num primeiro momento, vamos abordar o surgimento do 
Cristianismo, sua expansão e confronto com distintas realidades. Vamos 
perceber que não se trata de algo que cai pronto do céu. O Cristianismo vai 
IV
se configurando e reconfigurando em diferentes contextos socioculturais, 
conforme diferentes tempos históricos. Assim sendo, é fundamental que 
se consiga diferenciar entre forma cultural e conteúdo e essência de fé. A 
compreensão clara disso auxilia na expressão e vivência autêntica da teologia 
e pastoral inerentes à pregação de Jesus de Nazaré.
Num segundo momento, vamos enfocar o chamado da parte de Deus 
para pessoas se disporem a seu serviço. Esse chamamento divino é intrínseco 
ao Cristianismo, desde os registros do Primeiro Testamento, estendendo-se 
até o tempo presente. Enfocamos também a importância do encontro que 
Deus tem com seu povo e o povo com seu Deus. O encontro, na forma de 
vida comunitária e vivência em comunhão, continua imprescindível, apesar 
das inovações experimentáveis no tempo contemporâneo. Nesse sentido, 
enfocamos a importância de uma ordem litúrgica com um caráter ordenador 
do encontro cúltico entre Deus e as pessoas. No contexto bíblico há formas 
litúrgicas, que, ao longo da história do Cristianismo, foram sendo atualizadas.
E no terceiro momento vamos refletir acerca de desafios e perspectivas 
do Cristianismo, considerando o tempo presente em que vivemos. As 
mudanças em curso na história atual da humanidade têm reflexos diretos 
na forma como o Cristianismo vem sendo praticado. Urge dar respostas 
teológicas e pastorais correspondentes, de modo a manter a essência 
evangélica. E é nesse sentido que toda forma de Cristianismo precisa estar 
aberta à crítica e autocrítica. Esse processo pode trazer novos horizontes para 
a prática coerente da fé cristã.
Desejamos-lhe, amigo e amiga estudante, intenso estudo e profundas 
reflexões!
Prof. Claudir Burmann
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
VI
VII
UNIDADE 1 – O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-
PASTORAIS .................................................................................................................. 1
TÓPICO 1 – CONCEITOS DE CRISTIANISMO .............................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 AS ORIGENS A PARTIR DA HISTÓRIA DO POVO DE DEUS NO PRIMEIRO 
TESTAMENTO ...................................................................................................................................... 3
2.1 O CHAMADO DE ABRAÃO E SARA: GÊNESIS 12:1-9 ........................................................... 4
2.2 EXPERIÊNCIA DE ESCRAVIDÃO E DE LIBERTAÇÃO: HISTÓRIA DO ÊXODO .............. 5
2.3 UM PERCURSO DE SONHOS E PESADELOS ........................................................................... 6
3 O PERCURSO DE JESUS DE NAZARÉ ........................................................................................... 8
3.1 O LOCAL HISTÓRICO DE JESUS DE NAZARÉ .......................................................................8
3.2 OUTROS “PROFETAS” DAQUELE TEMPO .............................................................................. 9
3.3 JESUS: O TEMPO SE CUMPRE ..................................................................................................... 11
4 O ENVIO DE JESUS: O DESAFIO DE IR A TODOS OS POVOS ............................................. 12
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 14
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 15
TÓPICO 2 – EXPANSÃO DO CRISTIANISMO ............................................................................... 17
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17
2 MODOS DE VIVER O SEGUIMENTO A JESUS DE NAZARÉ ................................................. 17
2.1 HISTÓRIAS DE PERSEGUIÇÕES: PESSOAS CRISTÃS MORTAS POR CAUSA DE 
 SUA FÉ .............................................................................................................................................. 18
2.2 VIDA EM COMUNHÃO ................................................................................................................ 19
2.3 PROBLEMAS: ANANIAS E SAFIRA ............................................................................................ 20
2.4 QUESTÕES DE CULTURA RELIGIOSA: CIRCUNCISÃO E COMIDAS ............................... 21
3 CONSTANTINO E SUA POLÍTICA: CRISTIANISMO COMO RELIGIÃO OFICIAL ......... 22
4 DIVISÕES NO CRISTIANISMO: CONFISSÕES DE FÉ COMUNS E A PERDA DA 
UNICIDADE ......................................................................................................................................... 25
5 A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO PELO MUNDO: A CHEGADA DO CRISTIANISMO 
À AMÉRICA........................................................................................................................................... 28
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 31
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 32
TÓPICO 3 – ENFRENTAMENTO DO MUNDO RELIGIOSO COM AS OUTRAS 
REALIDADES ................................................................................................................... 33
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 33
2 O POVO DE DEUS DO PRIMEIRO TESTAMENTO DIANTE DE OUTROS “DEUSES” ...... 33
2.1 A HISTÓRIA DO BEZERRO DE OURO ....................................................................................... 34
2.2 EXORTAÇÃO CONTRA A IDOLATRIA ..................................................................................... 35
3 O CRISTIANISMO DIANTE DE OUTRAS RELIGIOSIDADES NOS PRIMÓRDIOS ........ 36
3.1 JESUS E OS SAMARITANOS ......................................................................................................... 37
3.2 OS APÓSTOLOS E OS DISTINTOS CONTEXTOS RELIGIOSOS ............................................ 38
suMário
VIII
4 O CONFRONTO DO CRISTIANISMO COM FORMAS DIFERENTES DE VIVENCIAR A FÉ 
EM CRISTO ........................................................................................................................................... 39
5 A MULTIPLICIDADE DE IGREJAS NOS TEMPOS ATUAIS .................................................... 41
6 DIFERENTES MANEIRAS DE RESPONDER E SE INSERIR NO CONTEXTO SÓCIO-
HISTÓRICO .......................................................................................................................................... 43
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 45
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 47
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 48
UNIDADE 2 – O CHAMADO, O ENCONTRO, A LITURGIA ...................................................... 49
TÓPICO 1 – O CHAMADO MINISTERIAL – AUTORIDADE ESPIRITUAL ............................ 51
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51
2 O CHAMADO DE PESSOAS NO CONTEXTO DO PRIMEIRO TESTAMENTO ................. 51
3 O CHAMADO DE PESSOAS NO CONTEXTO DO SEGUNDO TESTAMENTO ................. 54
4 O CHAMADO DE PESSOAS AO LONGO DA HISTÓRIA DA IGREJA ................................ 56
5 O CHAMADO A PESSOAS HOJE .................................................................................................... 58
6 O DESAFIO DE ALIAR DONS, HABILIDADES E CAPACIDADES AO EXERCÍCIO DO 
MINISTÉRIO ......................................................................................................................................... 60
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 62
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 63
TÓPICO 2 – O POVO DE DEUS E O ENCONTRO – O CULTO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65
2 A IMPORTÂNCIA DO ENCONTRAR-SE ...................................................................................... 65
3 O ENCONTRO SE DÁ EM ALGUM LUGAR ................................................................................. 67
4 JESUS E O TEMPLO............................................................................................................................. 70
5 REUNIÕES DOMÉSTICAS EM FORMA DE CULTO COMUNITÁRIO ................................. 71
6 O ENCONTRO CÚLTICO DE DEUS COM AS PESSOAS CRISTÃS ....................................... 72
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 75
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 76
TÓPICO 3 – A FORMATAÇÃO DA LITURGIA AO LONGO DA HISTÓRIA .......................... 77
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77
2 LITURGIA .............................................................................................................................................. 77
3 A “LITURGIA ORIGINAL” ................................................................................................................ 79
4 INCLUSÃO DE NOVAS PARTES NA LITURGIA CRISTÃ ....................................................... 82
5 COMPREENSÕES SOBRE SACRAMENTOS ................................................................................ 83
6 COMO CONCILIAR RITO E DINÂMICA CELEBRATIVA ........................................................ 87
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 88
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 91
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 92
UNIDADE 3 – DESAFIOS, PERSPECTIVAS, PLANEJAMENTO .................................................93
TÓPICO 1 – PERSPECTIVAS TEOLÓGICAS E PASTORAIS À LUZ DA BÍBLIA .................... 95
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 95
2 A REALIDADE QUE DESAFIA ......................................................................................................... 95
3 A PALAVRA DE DEUS QUE ORIENTA .......................................................................................... 98
4 AS PESSOAS CRISTÃS AGEM ......................................................................................................... 100
5 A DIFICULDADE DE AS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS SEREM CONTEMPORÂNEAS 
 DE SEU TEMPO .................................................................................................................................... 103
IX
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 106
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 107
TÓPICO 2 – A IMPORTÂNCIA DO ACONSELHAMENTO À LUZ DA SAGRADA 
ESCRITURA....................................................................................................................... 109
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 109
2 PESSOAS SOFREM .............................................................................................................................. 109
3 DOR E SOFRIMENTO E A SOLIDARIEDADE DE JESUS ......................................................... 112
4 A COMUNIDADE ACOLHE .............................................................................................................. 115
5 O CUIDADO COMO TAREFA .......................................................................................................... 118
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 121
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 122
TÓPICO 3 – CLAREZA METODOLÓGICA PARA O PRESENTE – PLANEJAMENTO 
 PARA O FUTURO ............................................................................................................ 123
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 123
2 O TEMPO PRESENTE E SUAS CARACTERÍSTICAS ................................................................. 123
3 CONFRONTOS DE ÉTICA ................................................................................................................ 126
4 AS IGREJAS ENTRE A TRADIÇÃO E A RENOVAÇÃO ............................................................. 128
5 IGREJA PROFÉTICA E DIACONAL ................................................................................................ 131
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 134
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 135
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 136
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 137
X
1
UNIDADE 1
O CRISTIANISMO: ORIGEM, 
EXPANSÃO E DILEMAS 
TEOLÓGICO-PASTORAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• refletir sobre a origem e o início do Cristianismo, sua expansão e o con-
fronto com distintas realidades e contextos;
• fazer uma breve aproximação, que nos ajudará a compreender que o Cris-
tianismo se trata de uma religião dinâmica, com a capacidade de se adap-
tar a diferentes contextos, incorporando, inclusive, elementos novos em 
sua forma de expressão, sem perder sua essência.
Esta Unidade está dividida em três tópicos, sendo que, ao final de cada 
tópico, há questões para continuar o estudo e a reflexão. Bom proveito!
TÓPICO 1 – CONCEITOS DE CRISTIANISMO
TÓPICO 2 – EXPANSÃO DO CRISTIANISMO
TÓPICO 3 – ENFRENTAMENTO DO MUNDO RELIGIOSO COM 
OUTRAS REALIDADES
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
CONCEITOS DE CRISTIANISMO
1 INTRODUÇÃO
Querido(a) acadêmico(a)!
Neste tópico iniciamos a reflexão sobre a origem e o início do Cristianismo, 
a pregação de Jesus de Nazaré e o envio dos discípulos a todos os povos do mundo 
para levar adiante seu ensinamento. Pretendemos expressar a compreensão 
de que a origem do Cristianismo está antes mesmo do nascimento de Jesus de 
Nazaré. De outra parte, pretendemos expressar que o envio de Jesus para levar 
sua mensagem a todos os povos do mundo é tarefa que cabe a seus seguidores e 
seguidoras ainda nos tempos atuais.
2 AS ORIGENS A PARTIR DA HISTÓRIA DO POVO DE DEUS 
NO PRIMEIRO TESTAMENTO
Não há dúvida de que o ano zero é o marco fundamental da história do 
que é considerado como Ocidente cristão, bem como um marco para a história 
de toda a humanidade. O nascimento de Jesus, firmado no ano zero, inicia uma 
nova contagem do tempo, delimitando um antes e um depois. Trata-se de um 
acontecimento que, de algum modo, teve um impacto profundo em seu tempo 
e posteriormente, sendo que é praticamente impossível desconsiderá-lo, mesmo 
quando se trata de pessoas adeptas de outras religiões ou preceitos filosóficos, 
alheias ou indiferentes ao Cristianismo. Entretanto, correto também é perceber 
que a origem do que viria a ser uma das grandes religiões da humanidade está 
localizada muito antes do ano zero.
Em grande medida, o Cristianismo é herdeiro do ensino e da doutrina 
exposta nas Sagradas Escrituras, na parte denominada de Primeiro Testamento 
(ou Antigo Testamento). Uma das vertentes bíblicas narra o surgimento de um 
povo, a partir de um chamado divino, que se coloca a caminho na busca de uma 
nova terra. A busca por essa nova terra é o ideal que faz esse povo caminhar. 
Apesar de ser alcançada, essa nova terra é alvo de disputas com outros povos. 
Ou seja, a manutenção dessa e nessa terra prometida é tarefa árdua. Chega um 
momento em que essa terra é tomada por outros povos e o “povo de Deus” 
precisa viver como estrangeiro em sua própria terra. Em meio a isso, vai surgindo 
a esperança por um libertador e salvador que venha fazer justiça, devolvendo 
ao povo de Deus a sua terra e uma vida com dignidade. O nascimento de Jesus 
de Nazaré se insere no contexto dessa expectativa messiânica por um salvador e 
redentor.
UNIDADE 1 | O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-PASTORAIS
4
A seguir, temos destacados alguns textos bíblicos importantes para a 
compreensão da trajetória da história que culminou na formação do Cristianismo. 
Lembramos que se trata de destaques, não abrangendo a complexidade toda 
envolvida no processo de formação do povo de Deus – ou povo de Israel, de 
acordo com o Primeiro Testamento. É importante que os textos mencionados 
sejam verificados e lidos a partir da própria Bíblia.
2.1 O CHAMADO DE ABRAÃO E SARA: GÊNESIS 12:1-9
Esse texto bíblico retrata o momento do chamamento divino e vem a ser 
um texto fundante para a constituição do chamado povo de Deus. Nesse texto 
temos: a) o chamado para sair da própria terra em busca de uma nova terra; b) 
a promessa de bênção, no sentido de que os descendentes viriam a formar uma 
grande nação; c) a atitude de obediência, em que Abraão pega o que possui e se 
coloca a caminho; d) a adoração a Deus, através da edificação de altares pelos 
lugares por onde ia passando. Essa história da caminhada de Abraão e Saraé 
contada ao longo de todo o livro de Gênesis. Surgem descendentes como Rebeca, 
Isaque, Esaú e Jacó, além de outros.
A divindade à qual Abraão e seus descendentes prestam culto apresenta 
três características principais:
a) É um “Deus pessoal”: pelos textos bíblicos, percebe-se uma relação forte entre 
Deus e a pessoa; ou seja, não há intermediação de sacerdotes ou instituições 
consagradas; por diversas vezes esse Deus é mencionado como o Deus de 
Abraão, Isaque e Jacó – o que também mostra ser um Deus de gerações.
b) É um “Deus companheiro”: é um Deus que acompanha seu povo; não é o povo 
que vai até lugares consagrados para cultuar a Deus; é Deus que anda junto 
com as pessoas ao longo de sua migração; e, onde o povo estaciona, ali Deus 
também está e pode ser adorado.
c) É um “Deus de compromisso”: o próprio Deus se compromete em conceder 
bênçãos a seu povo, tanto uma descendência numerosa como uma terra de 
vida com dignidade; a esse “compromisso divino”, o povo, em diversas 
circunstâncias, apela; e Deus intervém, solucionando dilemas vivenciais.
O Cristianismo fundamenta boa parte de sua teologia e ação pastoral na 
reelaboração de histórias como essa. Historiadores e estudiosos da Bíblia têm 
localizado essa história de Abraão e Sara por volta do ano 1800 antes de Cristo.
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE CRISTIANISMO
5
NOTA
É necessário termos presente que os textos bíblicos não constituem relatos de 
fatos históricos tal como somos acostumados a estudar e transmitir. Assim, embora cada 
texto bíblico possa ser localizável em termos históricos e geográficos, seu objetivo primordial 
é ser um testemunho de teologia e de pastoral. Testemunham um Deus que acompanha seu 
povo, revelando-se como um guia que quer conduzi-lo a uma nova realidade – um novo 
Reino.
2.2 EXPERIÊNCIA DE ESCRAVIDÃO E DE LIBERTAÇÃO: 
HISTÓRIA DO ÊXODO 
No livro da Bíblia chamado “Êxodo” temos a narração de outro testemunho 
em que é evidenciada a forma de ação de Deus na história de seu povo. Trata-se de 
um grupo de pessoas dependentes, economicamente marginalizadas e que eram 
submetidas a trabalhos forçados na região do delta do Rio Nilo, no antigo Egito, 
por volta dos anos 1300 e 1200 antes de Cristo. Esse grupo veio a ser designado 
de hebreus.
Em meio à experiência da escravidão, vai sendo gestada a esperança 
por libertação. Um novo líder que surge do meio do próprio povo é Moisés, 
que assume a função de pressionar o rei do Egito para que o povo pudesse ir a 
outro local e buscar outros meios de sobrevivência. Entretanto, o que ocorre é a 
intensificação da repressão aos trabalhadores. Mas o povo consegue se organizar 
e, apesar de perseguidos, conseguem fugir e ficar libertos da escravidão do Egito, 
sendo que Deus intervém e age decisivamente a favor do povo.
Ao longo dos textos bíblicos do Êxodo, aparece um Deus que:
a) Vê e ouve os gemidos de seu povo: Deus não está alheio ao que acontece; fica 
inconformado com a situação de dor e sofrimento; age para transformar aquela 
realidade.
b) Fala com seu povo, orientando-o acerca do que deve fazer: Moisés é o grande 
interlocutor; e é também o intermediador do povo com Deus; enfim, Deus fala 
e ordena e Moisés é o líder aglutinador que conduz o povo.
c) É comprometido com a liberdade e a libertação: Deus tem uma aliança com 
esse seu povo e quer conduzi-lo a uma terra boa e rica, em que possa cultivá-la 
e dela tirar seu sustento.
UNIDADE 1 | O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-PASTORAIS
6
Esse testemunho de escravidão e libertação é outro elemento presente no 
conceito que o Cristianismo elabora. Jesus Cristo, em alguns textos no Segundo 
Testamento, inclusive vem a ser mencionado como o novo Moisés, apesar de ser 
reconhecido e afirmado muito além dessa compreensão. Na produção teológica 
posterior, Jesus é concebido como um novo libertador, ou redentor, da escravidão 
do pecado em que a humanidade padecia. Em sua ação pastoral, é compreendido 
como libertador também de agruras (escravidões) tangíveis pelas quais as pessoas 
passam, sejam doenças, fome, legalismo e outras.
2.3 UM PERCURSO DE SONHOS E PESADELOS
No livro de Josué é contada a história da conquista, chegada e divisão 
da nova Terra Prometida. Cada uma das 12 tribos recebe sua parte e organiza 
sua sobrevivência (Josué 14:1-5). Aliás, apenas a tribo de Levi – dos levitas – não 
recebeu uma parcela própria de terra: aos levitas caberia o serviço sagrado no 
templo e deveriam ser sustentados pelas demais tribos. Isso indica que a fé do 
povo se institucionalizara e havia um certo grupo destacado para cuidar dessa 
parte.
No decorrer do tempo, também as outras tribos foram se 
institucionalizando em sua forma de organização. Além de nação, vieram a 
constituir um Estado com a instituição de um rei, soldados e todo aparato 
relacionado. A intenção era proteger o povo contra o ataque de povos 
circundantes. No livro 1Samuel 8, há um apelo para que o povo desistisse 
da intenção de instituir um rei. Se, por um lado, a promessa era de proteção, 
de outro isso significaria que o povo precisaria trabalhar muito mais para 
sustentar a corja governamental, ocupada com atividades não diretamente 
produtivas. Contudo, o apelo foi em vão e a monarquia foi instituída por volta 
do ano 1.000 antes de Cristo.
Muitas guerras com outros povos passam a ser travadas. Surgem profetas, 
denunciando o caminho errôneo pelo qual os reis conduzem o povo. Num 
primeiro momento, há profetas que criticam o rei, preservando a monarquia. 
Dentre eles, estão: Natã, Micaías, Eliseu, Elias. Num segundo momento, os 
profetas passam a criticar o rei, o estado e o templo e passam a pregar pelo fim 
da monarquia. Dentre esses profetas estão: Amós, Oseias, Miqueias e Isaías. Quer 
dizer, os profetas perceberam que o caminho pelo qual o povo de Deus ia sendo 
conduzido não era bom e passaram a pregar mudança de rumo.
Entretanto, o apelo dos profetas não foi atendido. E, por volta do ano 597 
antes de Cristo, as terras do povo de Deus são conquistadas pelos babilônios. O 
povo, junto com suas elites, é levado cativo para a Babilônia, passando a viver 
novamente em situação de escravidão. Também no exílio surgem profetas que 
buscam denunciar maus tratos, animando o povo a manter aceso o sonho por 
libertação numa nova realidade. Alguns desses profetas são: Jeremias, Ezequiel e 
os textos de Isaías a partir do capítulo 40.
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE CRISTIANISMO
7
Por volta do ano 539 antes de Cristo, as terras da Babilônia são conquistadas 
pela Pérsia. Dentre as políticas do governo da Pérsia, foi o retorno do “povo de 
Deus” a suas terras na região da Palestina, embora sob o domínio persa, que 
impõe suas normas e leis. Em meio a um contexto de um império multirracial, de 
certa maneira, o “povo de Deus” vai se fechando enquanto comunidade étnica, 
podendo, entretanto, manter organizada sua religiosidade em torno do templo na 
cidade de Jerusalém. Na ausência de um rei próprio, entra em cena cada vez mais 
a figura do “sumo sacerdote” como autoridade e detentor de poder, articulando 
a preservação de costumes e ritos religiosos diante de povos pagãos.
O domínio persa predomina até em torno do ano 333 antes de Cristo, 
quando os gregos conquistam a região. O predomínio grego vai até o ano 164 antes 
de Cristo, quando passa a existir um certo período de independência na região da 
Palestina, como resultado de uma revolta conduzida por um grupo denominado 
de “macabeus”. Contudo, no ano 63 antes de Cristo, os romanos conquistam essa 
região. É sob o domínio romano que ocorrem as histórias narradas nos evangelhos, 
bem como o nascimento de comunidades cristãs, conforme relatos em Atos dos 
Apóstolos e nas epístolas.
Desde o período de dominação persa sobre a Palestina, constata-se um 
certo silêncio de profecias. Desenvolve-se uma literatura bíblica, cuja preocupação 
primeira não é retratar fatos históricos de então, mas enfatizar experiências 
significativas que permanecem como memória. Dentro dessaliteratura estão 
incluídos livros bíblicos como Cantares, Jó, Salmos, Ester, Rute, além de outros. 
Diferentes correntes e tendências religiosas também vão se constituindo no seio 
do próprio “povo de Deus” e que, em alguns momentos, são conflitivos entre si 
próprios.
Ao longo de todo esse tempo histórico vai crescendo o anseio por um 
“messias”, enviado por Deus e libertador do povo. Jesus não é o único a ser 
considerado como tal em sua época.
NOTA
Veja bem! Embora de um modo extremamente sucinto, a história do povo de 
Deus descrita acima influi de maneira profunda o modo de ser das comunidades cristãs e 
de todo Cristianismo. A teologia e pastoral cristãs trazem consigo a experiência histórica do 
Primeiro Testamento, em que o povo de Deus viveu um tempo de busca por libertação e 
outro tempo de subjugação. O confronto com diferentes culturas, abertura e fechamento 
diante delas, é parte da história cristã, desde a história de Abraão e Sara.
UNIDADE 1 | O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-PASTORAIS
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3 O PERCURSO DE JESUS DE NAZARÉ
3.1 O LOCAL HISTÓRICO DE JESUS DE NAZARÉ
Dentre os estudiosos do mundo bíblico do Segundo Testamento (ou Novo 
Testamento) é comum ocorrer uma diferenciação entre o “Jesus histórico” e o 
“Jesus da fé”. Ou entre Jesus e Cristo. Jesus é a pessoa antes de sua morte, o Jesus 
histórico, e Cristo seria o Jesus ressuscitado, o Jesus da fé.
Diante do avanço da ciência nos últimos séculos, têm surgido 
questionamentos a partir de descobertas geológicas e documentos antigos que, 
por vezes, trazem polêmicas em relação às construções de fé elaboradas ao longo 
dos tempos. Entretanto, isso não pode ser encarado de maneira negativa. Pelo 
contrário, isso deve ser algo auxiliar na afirmação da fé cristã. Assim também as 
diferenciações entre o Jesus da fé e o Jesus da história não podem ser tidas como 
estanques, mas como compreensões complementares que ajudam a entender 
melhor o lado extraordinário envolvido nessa história e que marca de modo 
inegável toda humanidade.
A região em que o Cristianismo efetivamente nasce é a chamada terra de 
Israel ou Palestina. É ali que o povo de Deus havia se estabelecido, sendo que essa 
região era alvo de variadas disputas, sendo ora dominada por uma, ora por outra 
potência da época, conforme já mencionado anteriormente.
A Palestina era subdividida em regiões menores, sendo as mais destacadas 
a Galileia, situada ao norte, e a Judeia, situada ao sul. Na Galileia, Cafarnaum era 
uma cidade importante e, na Judeia, Jerusalém. Em si, a Palestina toda não era de 
um tamanho muito grande: eram aproximadamente 250 quilômetros de norte a 
sul e até 80 quilômetros na região mais larga de leste a oeste. Estima-se que nessa 
região, à época, viveriam cerca de um milhão de pessoas em aldeias, vilarejos e 
pequenas cidades.
Desde o ano 37 ao ano 4 antes de Cristo, Herodes, o Grande, governava 
a Palestina, estando submisso ao Império Romano. Subjacente a seu governo 
audacioso e construtor de grandes obras, estava um grande descontentamento 
popular, com ensaios de revoltas e rebeliões, sendo sempre reprimidas 
militarmente. Quando Herodes faleceu, o imperador romano César Augusto 
subdividiu a Palestina, na qual três filhos de Herodes passaram a ser governadores: 
Herodes Arquelau, Herodes Antipas e Herodes Filipe. Herodes Antipas foi o 
governador da Galileia durante todo o tempo de vida e de ministério de Jesus na 
região.
Em toda a Palestina predominava a agricultura. Havia o cultivo de trigo, 
cevada, uvas, azeitonas e oliveiras. Criava-se gado, cabras e ovelhas. A pesca 
também era uma atividade importante, especialmente no lago Genesaré. Além 
disso, havia atividades artesanais que ocupavam outra parcela importante da 
população.
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE CRISTIANISMO
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Em termos religiosos, a centralidade estava colocada no templo da cidade 
de Jerusalém. Ali era o local principal de ensino, oração e oferta de sacrifícios. Em 
cidades e povoados menores havia as sinagogas, que funcionavam como locais 
de reuniões e leitura das Sagradas Escrituras. Importância também tinham as 
famílias, cuja tarefa era introduzir os filhos na religião judaica, através do ensino 
do Pentateuco.
No tempo de Jesus havia grupos religiosos que se fundiam com 
características políticas. Os grupos mais evidentes eram os fariseus, os saduceus, 
os zelotes e os essênios. Os fariseus tinham uma preocupação exacerbada com 
o cumprimento das Leis; compreendiam que era disso que dependia a pureza 
religiosa. Já os saduceus constituíam-se da nobreza do povo (dentre leigos e 
sacerdotes), estando alinhados ao poder romano e, doutrinariamente, negavam 
a existência de ressurreição. Os zelotes praticavam uma religiosidade militante. 
Tinham esperança de que Deus traria um Messias para transformar a realidade, 
mas compreendiam que precisavam ajudar para que isso ocorresse – era um 
grupo religioso-rebelde contra o poder romano. E os essênios se compreendiam 
como o verdadeiro povo de Deus e, como tal, viviam em comunidades afastadas 
das pessoas impuras e não justas.
Dentre diferentes linhas de pesquisa e investigação, Jesus já veio a ser 
considerado como integrante de cada um desses distintos grupos. Haveria 
textos dos evangelhos e apócrifos que confluiriam nessa direção. Considerando 
esses diferentes grupos, também parece não ser muito difícil identificarmos 
semelhanças com tendências contemporâneas no Cristianismo.
NOTA
Para pensar: é na região da Galileia que Jesus vive a maior parte do tempo 
de sua vida. Isso já levantou a questão de que seu nascimento possivelmente teria sido 
no pequeno povoado de Nazaré – daí a designação “Jesus de Nazaré”. Seu nascimento na 
cidade de Belém seria uma construção teológica posterior a fim de colocá-lo dentro do que 
o profetismo do Primeiro Testamento apregoava. Você vê plausibilidade nisso?
3.2 OUTROS “PROFETAS” DAQUELE TEMPO
Jesus não é o único pregador de seu tempo com uma mensagem envolvente 
e dissonante dos padrões vigentes. Houve outros pregadores itinerantes como 
também Jesus o foi. Esses pregadores assumiram, inclusive, diferentes formas de 
manifestação, sendo alguns mais pacíficos e outros extremamente radicais.
UNIDADE 1 | O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-PASTORAIS
10
A questão do aparecimento de variadas manifestações naquela época 
tem a ver com a situação social em que a população vivia. Ou seja, havia uma 
exploração extremada imposta à população, principalmente através da cobrança 
de impostos que vinham sustentando as grandes obras conduzidas por Herodes, 
o Grande. De certa maneira, quanto maior era a repressão, tanto mais iam sendo 
fomentadas resistências entre as camadas populares, seja de rebeldia política 
como de esperança messiânico-religiosa.
De forma geral, pode-se falar da existência de movimentos populares 
que se formavam naquele contexto histórico anterior e contemporâneo a Jesus. 
Nesses movimentos é possível encontrar diferenciações, entre movimentos de 
banditismo, de profetismo e de messianismo. Todos, entretanto, eram formas de 
protesto e resistência popular diante da postura de líderes religiosos, como sumo 
sacerdotes, e de governantes políticos.
Interessante é perceber que o próprio Jesus foi preso e crucificado entre 
dois “bandidos”. Isso indicaria que Jesus teria sido considerado também dessa 
maneira? De um lado, isso pode parecer escandaloso a certa ótica de fé. Mas 
há palavras de Jesus cuja interpretação permitem elaborar conclusões de um 
Jesus extremamente rebelde – evidentemente, jamais atentando contra a vida de 
alguém. Ressalte-se que a ação de “bandidos sociais” era muito diferente da ação 
de salteadores. Estudiosos apontam que o banditismo social da época emergiu da 
percepção de injustiças e intolerâncias sustentadas pelo Estado e Império Romano. 
Constituía-se numa ação de considerável apoio popular. Contra leis injustas e 
intolerantes, Jesus levantou sua voz e mobilizou pessoas em diversas ocasiões.Em Marcos 2:23-28, podemos ver que Jesus incentiva a colherem trigo em dia 
de sábado, mesmo sendo de propriedade alheia. A ênfase está na importância 
de a Lei estar a serviço do ser humano. Contudo, poder-se-ia bem compreender 
aquelas palavras como um incentivo ao saque de plantações, dada a necessidade 
e carência de parte da população.
De outra parte, ao longo dos evangelhos é fácil encontrarmos a citação 
de Jesus como um novo profeta, em cuja função há denúncias dos descaminhos 
e anúncio de um novo rumo a ser seguido. Na memória popular da época estava 
preservado o significado que Moisés teve para a história do povo de Deus, como 
também a importância de profetas como Elias, Eliseu e outros. Jesus chega a ser 
mencionado como um profeta assim. Ou seja, estava latente nos níveis populares 
a esperança por alguém que assumisse uma voz mobilizadora, denunciante e 
com vistas a transformações profundas na realidade vivencial. João Batista tem 
uma importância fundamental nesse sentido como predecessor de Jesus. Sua 
pregação costuma ser compreendida como se após ele viria um profeta de cunho 
messiânico e escatológico.
Sem dúvida, presente ao descontentamento e anseio popular também 
pululavam esperanças e expectativas messiânicas. Havia a esperança messiânica 
por um novo rei ungido, conforme prenúncios em livros proféticos do Primeiro 
Testamento. O imaginário popular girava em torno de uma figura humilde, 
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE CRISTIANISMO
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carismática, mas com capacidade de se insurgir contra a dominação política e 
econômica a que estavam submetidos. Em alguns momentos Jesus de Nazaré foi 
interpretado dessa maneira.
Algumas literaturas registram que, entre o ano 50 antes de Cristo até 
o ano 70 depois de Cristo, diversas personalidades catalisaram expectativas 
e esperanças na região da Palestina. São mencionados: a) na categoria do 
banditismo social: Ezequias, Eleazar bem Dinai, Tolomau, Jesus – filho de Safias, 
João de Gíscala; b) na categoria do messianismo: Judas – filho de Ezequias, um 
certo Simão, Atronges, Manaém – filho de Judas Galileu, Simão bar Giora; c) e na 
categoria do profetismo: João Batista, um Profeta Samaritano, Teúdas, o Profeta 
Egípcio e Jesus – filho de Ananias. Enfim, podemos perceber que Jesus de Nazaré 
não foi a única voz mobilizadora naquele tempo. Contudo, algo fez com que 
sua memória, sua mensagem, sua intencionalidade perpassasse e marcasse a 
história da humanidade para sempre. Todas essas questões são importantes para 
percebermos a compreensão de condicionamentos a conceitos que o Cristianismo 
vai gestando.
3.3 JESUS: O TEMPO SE CUMPRE
Não há dúvida da clareza nos textos bíblicos que constroem a vinda de 
Jesus como a emergência de um novo tempo em que as promessas bíblicas desde 
o Primeiro Testamento se cumprem. O Cristianismo, ao longo dos séculos, tem 
se firmado nisso. Por vezes, na afirmação disso, inclusive, houve exageros no 
sentido de se colocar num grau de superioridade outras religiões, massacrando 
povos seguidores de outras religiosidades. Tais atitudes, em si, são negadoras do 
próprio espírito evangélico constante na pregação de Jesus de Nazaré.
Ao olharmos para o Evangelho de Mateus, encontramos logo no primeiro 
capítulo a elaboração de uma genealogia. Jesus é colocado na descendência 
davídica e abraâmica. Ou seja, é a continuidade dos desígnios de Deus de 
abençoar infinitamente seu povo desde os tempos mais remotos. Em Jesus 
está a manifestação do Deus de Abraão, Isaque e Jacó, além do Deus que tem 
acompanhado seu povo na Babilônia e em todos os demais momentos.
Em Miqueias 5:2, encontramos a promessa de Deus enviar um novo rei a 
seu povo: 
O Senhor Deus diz: ‘Belém-Efrata, você é uma das menores cidades de 
Judá, mas do seu meio farei sair aquele que será o rei de Israel. Ele será 
descendente de uma família que começou em tempos antigos, num 
passado muito distante’. Também o profeta Zacarias (9-10) fala sobre 
o futuro rei: Alegre-se muito, povo de Sião! Moradores de Jerusalém, 
cantem de alegria, pois o seu rei está chegando. Ele vem triunfante 
e vitorioso; mas é humilde e está montado num jumento, num 
jumentinho, filho de jumenta. Ele acabará com os carros de guerra 
de Israel e com a cavalaria de Jerusalém; os arcos e as flechas serão 
destruídos. Ele fará com que as nações vivam em paz; o seu reino irá 
de um mar a outro, desde o rio Eufrates até os confins da terra.
UNIDADE 1 | O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-PASTORAIS
12
Jesus vem a ser esse rei prenunciado, sendo que seu local de nascimento 
em Belém sinalizaria também o cumprimento da promessa de Deus.
A teologia que vem a ser produzida a partir da novidade que é Jesus de 
Nazaré coloca-o na dimensão de um novo tempo. É o tempo diferente do “kronos” 
(cronológico – tempo que simplesmente passa). Jesus é o tempo “kairós” (tempo 
escatológico, de cumprimento das boas notícias da parte de Deus). Veja-se em 
Marcos 1:15 Jesus dizendo: “Chegou a hora, e o Reino de Deus está perto”! Ele 
acaba assumindo esse formato de enviado de Deus para uma missão dada pelo 
próprio Deus. 
Em Lucas 4:18-19, na leitura a partir do livro do profeta Isaías, na sinagoga 
do vilarejo de Nazaré, Jesus assume sua função de Messias. Ele lê e assume para 
si as palavras:
“O Senhor me deu o seu Espírito. Ele me escolheu para levar boas 
notícias aos pobres e me enviou para anunciar a liberdade aos presos, dar 
vista aos cegos, libertar os que estão sendo oprimidos e anunciar que chegou o 
tempo em que Deus salvará o seu povo”.
É importante nos darmos conta de que, em princípio, Jesus veio para 
ser o Messias dentro da compreensão e espera da religião judaica. Quase toda 
sua pregação e ensino têm esse panorama em vista. Possivelmente, Jesus não se 
imaginava o iniciador de uma nova religião, mas apenas um reorientador dos 
preceitos vigorantes, por mais que seus questionamentos fossem profundos.
4 O ENVIO DE JESUS: O DESAFIO DE IR A TODOS OS 
POVOS
Sem escândalo, podemos dizer que Jesus não era cristão. Jesus foi judeu, 
de nascimento e de religião. O Cristianismo veio a se formular posteriormente. 
Evidentemente, como temos demonstrado, há uma longa história precedente, a 
partir da qual a pregação ou o chamado movimento de Jesus vai se instituindo e 
institucionalizando. As histórias e acontecimentos do Primeiro Testamento não 
são negadas e nem rejeitadas. São incorporadas e teologicamente ativadas na 
nova forma religiosa que se elabora.
Quanto à autocompreensão, o texto de Mateus 15:21-28, em que Jesus é 
defrontado com uma mulher cananeia, é emblemático. Diante de uma mulher que 
não é do povo judeu que implora por socorro, Jesus é incisivo: “Eu fui mandado 
somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel” (v. 24). Fica claro o modo 
como compreendia sua missão. Ou seja, dentro dos parâmetros do judaísmo, 
embora de um modo rebelde em relação a preceitos religiosos como políticos. 
Entretanto, esse mesmo texto bíblico revela uma certa conversão de Jesus para 
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE CRISTIANISMO
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estender a sua missão para além das fronteiras do povo de Israel. Por meio da 
mulher cananeia, Jesus é levado a compreender que também, além do círculo do 
povo de Israel, havia pessoas com fé e merecedoras de suas ações de misericórdia.
De outra parte, há dois textos canonizados que colocam palavras na 
boca de Jesus, expressando o desejo de que seu ensinamento fosse propagado 
universalmente. Um desses textos encontramos em Marcos 16:15, onde Jesus 
diz: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem o Evangelho a todas as pessoas”. No 
versículo 20 é relatado que “os discípulos foram anunciar o Evangelho por toda 
parte”. Outro texto encontramos em Mateus 28:19-20, em que é dito: “Portanto, 
vão a todos os povos do mundo e façam com que sejam meus seguidores, 
batizando esses seguidores em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e 
ensinando-os a obedecer a tudo o que tenho ordenado a vocês”. Esses textos, 
de modo especial, retratamo desejo da universalização da pregação e ensino de 
Jesus de Nazaré.
Dessa maneira, acaba ocorrendo a legitimação da expansão da mensagem 
cristã a outros povos e culturas. Acabam surgindo homens e mulheres, judeus 
ou não judeus, que, inclusive, enfrentam perseguições e martírios, mas não 
se negam em afirmar seu seguimento a esse Jesus. Quer dizer, não restam 
dúvidas do impacto deixado por sua pregação, por mais que seja objeto de uma 
multiplicidade de estudos e interpretações. A instituição eclesial que veio a se 
constituir nem sempre esteve corretamente alinhada com o ensino evangélico. 
Contudo, compreende-se como fruto e testemunho da ação extraordinária de 
Deus por meio desse Jesus de Nazaré. Somente por meio dele o Cristianismo se 
constituiu.
UNI
Para refletir:
“Jesus pregou a chegada do Reino de Deus. Mas o que surgiu foi a Igreja”.
O que você acha dessa expressão? Comente entre colegas.
14
Nesse tópico destacamos que:
• O Cristianismo tem sua origem a partir de experiências significativas expressas 
em testemunhos do Primeiro Testamento.
• A “religião” do povo de Deus não era institucionalizada, no princípio; isso vai 
mudando ao longo da história.
• Em Jesus de Nazaré foi atribuído o cumprimento das promessas de Deus, 
através de profetas; contudo, em seu tempo não houve esse reconhecimento.
• Jesus pertencia à religião judaica e era um profundo conhecedor da mesma; 
com isso, suas críticas são fundamentadas e as inovações propostas foram para 
trazer transformações.
• A partir do envio de Jesus, seus ensinamentos se espalharam para muitos 
recantos do mundo.
RESUMO DO TÓPICO 1
15
1 A partir do texto em estudo, destaque e descreva características e qualidades 
do Deus do povo de Israel, relacionando textos bíblicos correspondentes. 
A partir de seu próprio conhecimento, acrescente outras características e 
qualidades.
2 No seguinte endereço <http://www.correiocidadania.com.br/content/
view/3677/9/>, leia o texto e desenvolva sua opinião acerca da questão se o 
Cristianismo é uma religião ou não.
AUTOATIVIDADE
16
17
TÓPICO 2
EXPANSÃO DO CRISTIANISMO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
2 MODOS DE VIVER O SEGUIMENTO A JESUS DE NAZARÉ
Caro(a) acadêmico(a)!
No tópico anterior fizemos uma longa viagem acerca de teologia e 
pastoral, desde o tempo do Primeiro Testamento até o advento e atuação de Jesus 
de Nazaré. A partir do envio de seus seguidores a “todas as nações do mundo”, 
inicia uma nova história de teologia e pastoral, agora cristãs.
Na sequência, vamos refletir acerca de percursos da teologia e pastoral 
cristãs. São trajetórias ora distintas, ora semelhantes a aspectos contemporâneos e 
que servem de orientação para a afirmação da religiosidade cristã. Uma constatação 
fundamental e básica é que a história, a geografia e as sociedades mudam, mas a 
ação de Deus permanece, agindo essencialmente da mesma maneira, embora de 
modos distintos em diferentes contextos.
A partir do envio registrado no Segundo Testamento fica evidenciado o 
caráter universalista do Cristianismo. Não permaneceria restrito a uma só nação 
ou povo, seja por etnia, história ou localização geográfica. Limites ou fronteiras 
deixam de existir na propagação dos ensinamentos cristãos. Pode-se dizer que 
o ponto de partida é a Palestina e o ponto de chegada são os confins do mundo. 
Sob o ponto de vista cristão, pode-se afirmar que o mandato delegado por Cristo 
foi cumprido.
Entretanto, é fundamental se dar conta de que a mensagem cristã 
precisou assumir diferentes roupagens nos mais distintos contextos em que 
veio a se propagar. É importante perceber que na teologia e pastoral cristã vão 
ocorrendo aculturações e inculturações. Diferentes formas e modos de vivenciar a 
mensagem original vão surgindo e sendo elaboradas. Isso quer dizer que a Igreja 
em formação, desde sua origem, vai se expressar de maneira plural e nem sempre 
de modo homogêneo. Os textos do Segundo Testamento são o testemunho disso. 
Para compreendê-los bem, sempre é necessário ter um conhecimento básico do 
tempo e contexto originários.
Além de tempo e contexto históricos, é necessário atentar à questão das 
pessoas reagirem de maneiras diferentes, mesmo estando sob a cobertura de uma 
mesma cultura. Também isso constitui pluralidade em relação ao modo em que a 
UNIDADE 1 | O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-PASTORAIS
18
teologia e pastoral cristã virão a se manifestar. Isso é fácil para compreendermos, 
se lermos e estudarmos atentamente, por exemplo, o livro de Atos dos Apóstolos. 
Encontramos diferenças evidentes entre apóstolos como Pedro, Paulo, Barnabé, 
Filipe, além de outros. Há diferenças claras na vivência do ensino cristão entre 
Estevão, Ananias e Safira. Enfim, a percepção da pluralidade da vivência cristã 
original quer nos ajudar a compreendermos a pluralidade cristã contemporânea 
e afastar pretensões equivocadas de alguém se autoafirmar como único detentor 
da verdadeira intencionalidade oriunda de Jesus de Nazaré.
2.1 HISTÓRIAS DE PERSEGUIÇÕES: PESSOAS CRISTÃS 
MORTAS POR CAUSA DE SUA FÉ
No princípio, o Cristianismo era compreendido como apenas mais um 
grupo ou movimento dentro da religião judaica. Contudo, não demorou muito, 
foram se constituindo diferenças a partir das quais foi se erigindo uma clara 
separação. Ocorre que as pessoas seguidoras do ensinamento de Jesus de Nazaré, 
após sua morte, começaram a chamá-lo de “Cristo” ou “Senhor”. Como tal, ele 
não fora reconhecido pelo judaísmo e nem pelo Império Romano, cujo domínio 
existia nas terras da Palestina. Acabou ocorrendo, inclusive, a culpabilização do 
judaísmo pela morte de Jesus, o Cristo.
Desde logo vem a ser impressionante o modo extraordinário de expansão 
do Cristianismo, através do modo missionário de ser das pessoas seguidoras. 
O Cristianismo não se atém apenas à Palestina. Em pouco tempo, sua expansão 
alcança a Síria (Antioquia), Chipre, Ásia Menor (Éfeso), Grécia, Egito (Alexandria) 
e chega à capital do Império, Roma. No segundo século, a expansão continua, 
alcançando regiões orientais.
Embora nos Evangelhos seja possível perceber a ação de Jesus de Nazaré 
junto a pessoas de algum modo marginalizadas (doentes, cobradores de impostos, 
prostitutas e outras), o Cristianismo vem a abarcar pessoas de qualquer nível 
e situação social. Dentre seguidores nas comunidades primitivas há menção 
a pessoas pobres e ricas, trabalhadores e proprietários, homens, mulheres e 
crianças, judeus e gregos, sábios e cultos ou não e assim por diante. Isso fortalece 
a tese da pluralidade como elemento constituinte do Cristianismo original.
Nesse sentido, também se verificam graus diferenciados de 
comprometimento das pessoas seguidoras, dependendo de seu contexto 
vivencial. No livro de Atos dos Apóstolos há diversos registros que, enquanto 
testemunho de fé, expressam perseguições impostas às pessoas cristãs. 
TÓPICO 2 | EXPANSÃO DO CRISTIANISMO
19
Vejamos:
a) Atos 5:17-18: Então o Grande Sacerdote e todos os seus companheiros, 
que eram do partido dos saduceus, ficaram com inveja dos apóstolos e 
resolveram fazer alguma coisa. Prenderam os apóstolos e os puseram na 
cadeia.
b) Atos 8:1: Naquele mesmo dia a igreja de Jerusalém começou a sofrer 
uma grande perseguição. E todos os cristãos, menos os apóstolos, foram 
espalhados pelas regiões da Judeia e da Samaria.
c) Atos 11:19: Os seguidores de Jesus foram espalhados pela perseguição que 
havia começado com a morte de Estêvão.
d) Atos 12:1-2: Por essa época o rei Herodes começou a perseguir algumas 
pessoas da igreja. Ele mandou matar Tiago, o irmão de João.
e) Atos 21:33: Aí o comandante chegou perto de Paulo, prendeu-o e mandou 
amarrá-lo com duas correntes.
Inúmeros outros textos poderiam ser ainda mencionados. Um ainda 
destacamos. É o que fala da perseguição e do martírio de um homem chamado 
Estêvão. Sua história é contada em Atos 7. Com coragem, afirma sua fé no Deus 
do Primeiro Testamento e em Jesus, o Cristo. Por seu testemunho fiel e abnegado,entrega-se ao martírio, sendo morto através de um apedrejamento.
Ao longo da segunda metade do século I há registros históricos de 
perseguição às pessoas cristãs também por razões políticas. Durante o governo 
de Nero houve um grande incêndio na cidade de Roma, no ano 64, e, mesmo 
sem provas, pessoas cristãs foram acusadas e mortas – diz-se que uns foram 
crucificados, outros transformados em tochas vivas e outros jogados a animais e 
feras. Sob outro governante, Domiciano, era exigida da população sua cultuação, 
como imperador. Como as pessoas cristãs se negassem a chamá-lo de “Senhor e 
Deus”, foram perseguidas e muitas mortas.
Assim, sob diferentes governantes, havia mais ou menos perseguição, 
dependendo de suas intencionalidades políticas. Nem sempre as pessoas cristãs 
resistiram e perseveraram. Houve quem veio a oferecer sacrifícios a governantes 
ou outros deuses, agindo dessa maneira para, talvez, salvar sua vida. Tudo isso é 
parte de nossa história, teologia e pastoral em que estamos formatados.
2.2 VIDA EM COMUNHÃO
No livro de Atos dos Apóstolos está o testemunho de como as pessoas eram 
incluídas no Cristianismo e como viviam sua religiosidade em termos práticos. 
Quanto à inclusão de novas pessoas, isso se dava por meio do batismo. Conforme 
Atos 2:14-42, precedia ao batismo a explicação das Escrituras e o chamado ao 
arrependimento. A compreensão e a aceitação dessa pregação, juntamente 
com o batismo, eram os passos para a inclusão de novas pessoas seguidoras da 
comunhão cristã.
UNIDADE 1 | O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-PASTORAIS
20
De um lado, isso significaria que apenas pessoas adultas teriam sido 
batizadas, uma vez que o pressuposto seria a compreensão da pregação e o 
arrependimento consciente de seus pecados. De outro lado, entretanto, em 
Atos 16:15 e Atos 16:31-33, há testemunhos de que a “casa toda” foi batizada, 
o que deixa implícito que possivelmente filhos menores e crianças teriam sido 
batizados. Especialmente, em textos do apóstolo Paulo, é elaborada uma teologia 
da graça em contraste à teologia do merecimento. Nessa compreensão, o batismo 
é dádiva oferecida por Deus, que independe da vontade, desejo ou expressão 
humanos. Desse modo, é justificado o batismo de crianças, incluindo-as também 
no círculo comunitário-cristão.
De acordo com dois textos em Atos dos Apóstolos (3:43-47 e 4:32-37), 
o seguimento ao ensino de Jesus se traduzia em mudanças visíveis na forma 
das pessoas viverem e se inter-relacionarem. Vive-se uma comunhão intensa e 
profunda enquanto comunidade de fé: “estavam juntos e unidos e repartiam 
uns com os outros o que tinham... e dividiam de acordo com a necessidade de 
cada um”. Isso mostra uma forma de vida em que o mais importante deixa de ser 
a própria pessoa ou o círculo familiar restrito. A importância é colocada no grupo 
de comunhão de fé, em que transparece a erradicação de pessoas necessitadas 
por meio de uma partilha igualitária.
Sabe-se que, quando essa forma de vivência de comunhão cristã foi 
praticada, havia uma crença muito forte na segunda vinda de Jesus. Quer dizer, 
essa forma de viver a fé era um modo de preparação para o fim dos tempos. Não 
havia grande preocupação com necessidades futuras, uma vez que tudo findaria.
Esse modo de vida é chamado, por alguns estudiosos, de “socialismo do 
cristianismo primitivo”. É difícil precisar a abrangência que tal modo de vida 
teve, seja em temos de número de pessoas que a ele se integraram, sejam os locais 
em que essas comunhões existiram, seja até quando perduraram. O que é certo 
é que não duraram por um longo período. Dentre falhas mencionadas para sua 
derrocada estaria a questão da socialização apenas dos frutos do trabalho ou da 
venda das propriedades, e não o modo de produção da sobrevivência. Como a 
expectativa era por um fim próximo, possivelmente essa preocupação estava fora 
de perspectiva.
2.3 PROBLEMAS: ANANIAS E SAFIRA
Se há registros de um novo modo de vida, em que tudo era fraternalmente 
repartido, há também registros de pessoas que buscavam burlar essa prática de 
vida. Quer dizer, há registro de bonitos testemunhos de seguimento e de fé, mas 
há igualmente a menção de testemunhos de pessoas que queriam assumir o 
compromisso e a consequência de fé “pela metade” – não integralmente.
O exemplo mais evidente desse fato está contido na história de Ananias e 
Safira, conforme Atos 5:1-11. O que nos é contado é que esse casal, integrante da 
comunhão cristã, vendeu uma propriedade, mas não entregou todo o resultado 
TÓPICO 2 | EXPANSÃO DO CRISTIANISMO
21
da venda para a partilha comunitária. Repassaram apenas uma parte, ficando 
com o restante. Achavam que ninguém saberia de sua falta de sinceridade. 
Entretanto, são descobertos. Sua atitude é caracterizada como mentira para Deus 
e para o Espírito Santo, sendo que também representava falta de confiança na 
integralidade da providência divina. O resultado dessa atitude é trágico. Por sua 
atitude, Ananias e Safira são contemplados com a morte.
Essa história de extraordinária tragicidade mostra que o compromisso 
de seguimento cristão era sério e não admitia comprometimento pela metade. 
Precisava expressar uma mudança de atitude, em que as preocupações pessoais ou 
familiares cediam lugar para o comprometimento com a comunhão comunitária. 
Há uma radicalidade fundamental necessária.
Entretanto, essa história também evidencia que desde os primórdios 
houve pessoas que queriam ser cristãs, mas não queriam assumir a carga do 
comprometimento. Queriam o bônus, mas não o ônus do ser cristão. É algo que, 
ao longo da história cristã, se revela como algo que corrói a originalidade da 
pregação e de todo evento ocorrido a partir de Jesus de Nazaré.
2.4 QUESTÕES DE CULTURA RELIGIOSA: CIRCUNCISÃO E 
COMIDAS
Desde os primórdios cristãos, no espírito universalista que a pregação 
cristã assumiu, expandindo-se por distintas regiões geográficas e culturais, houve 
confrontos com costumes e tradições que impunham questionamentos a seus 
modos de expressão. O que num contexto estava dentro da absoluta normalidade, 
em outro contexto revestia-se de escândalo. O próprio Jesus de Nazaré havia sido 
confrontado com situações assim. Especialmente em relação a comidas que, para 
alguns, estavam dentro do condizente e, para outros, era abominação. Em Marcos 
7:15, Jesus diz: “Tudo o que vem de fora e entra numa pessoa não faz com que 
ela fique impura, mas o que sai de dentro, isto é, do coração da pessoa, é que faz 
com que ela fique impura”. Jesus fala isso a respeito de alimentos.
O apóstolo Paulo foi frequentemente confrontado em relação a tipos de 
alimentos utilizáveis. Além da questão de alimentos, várias outras temáticas estão 
em sua abordagem: casamento, autoridades, julgamentos entre pessoas, nova 
vida em Cristo e assim por diante. Em relação a alimentos, encontramos palavras 
orientadoras em Romanos 15:17: “Pois o Reino de Deus não é uma questão de 
comida ou de bebida, mas de viver corretamente, em paz e com a alegria que o 
Espírito Santo dá”. Nos versículos 19 a 21, sua orientação continua: 
“Por isso procuremos sempre as coisas que trazem a paz e que nos 
ajudam a fortalecer uns aos outros na fé. Por uma questão de comida, 
não destrua o que Deus fez. Todos os alimentos podem ser comidos, 
mas é errado comer alguma coisa quando isso faz com que outra 
pessoa caia em pecado. O que está certo é não comer carne, não beber 
vinho, nem fazer qualquer outra coisa que leve um irmão a cair em 
pecado”.
UNIDADE 1 | O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-PASTORAIS
22
Diante da expansão do Cristianismo, outro questionamento presente é em 
relação à necessidade da circuncisão. Isso era uma prática fundamental dentro 
do judaísmo. E, agora, como proceder? Em Atos 15, a questão da circuncisão é 
motivo de intensas discussões e polêmicas. Há divergência nos ensinamentos. 
Judeus convertidos ao Cristianismo já eram circuncidados. Os chamados gentios, 
por alguns,eram ordenados a também se circuncidarem para serem alcançados 
pela salvação cristã. Essa foi uma questão-chave para a abertura e expansão do 
Cristianismo a novas realidades e contextos. Acabou predominando a pregação 
de que, pela “graça do Senhor Jesus”, sua salvação alcançaria tanto circuncisos 
quanto incircuncisos.
Enfim, essas são algumas questões diante das quais houve necessidade da 
mensagem cristã se formular teológica e pastoralmente sem perder sua pregação 
essencial. O risco dessa perda estava sempre muito próximo no contexto de sua 
expansão e confrontos culturais e religiosos.
3 CONSTANTINO E SUA POLÍTICA: CRISTIANISMO COMO 
RELIGIÃO OFICIAL
Ao falarmos sobre a expansão do Cristianismo mundo afora, não podemos 
deixar de lembrar que essa expansão ocorre num mundo de pluralidade religiosa. 
O Cristianismo era uma das muitas tendências religiosas. E esse confronto com 
outras religiosidades nem sempre era pacífico. Diferentes governantes ora tinham 
maior ora menor tolerância com uma ou outra religião, dependendo mais de suas 
ambições políticas que de suas convicções de fé religiosa.
Não é difícil de imaginar que, em sua expansão, o próprio Cristianismo 
criou diferentes formas de se expressar, de acordo com as regiões em que foi 
se estabelecendo. Pode-se dizer que qualquer ação, seja religiosa ou não, na 
mesma medida em que deseja influir sobre uma realidade, recebe de volta 
também influências que, em algum grau, alteram sua intencionalidade original. 
Assim, ao longo de sua história, têm ocorrido “concílios”, cuja finalidade tem 
sido estabelecer acordos doutrinários mínimos em torno de pontos-chave na 
expressão da fé cristã. O registro de Atos 15:1-21 é um exemplo clássico disso. 
Outros concílios ocorreram, como o de Niceia, Constantinopla e de Trento, além 
de outros, e, em tempos mais recentes, Vaticano I e II.
De outra parte, pode-se afirmar que o sucesso da expansão do Cristianismo 
revela sua capacidade de adaptação em distintas realidades. Não raro, essa 
capacidade de adaptação se transforma em acomodação ou conformação com 
realidades injustas, abandonando o caráter transformador inerente à mensagem de 
Jesus de Nazaré. É claro que não é muito difícil encontrar vozes de pessoas cristãs 
que não aceitavam a acomodação e a conformação. Apesar das dificuldades de 
época, são inúmeras as histórias que se mantiveram em forma de tradição oral ou 
registro escrito que expressam a lembrança e a memória de pessoas martirizadas 
por manterem certa “rebeldia cristã” em sua fé.
TÓPICO 2 | EXPANSÃO DO CRISTIANISMO
23
Certo é que Jesus de Nazaré jamais imaginaria no que sua pregação e seu 
chamado à mudança de vida das pessoas viriam a dar. Já houve tantos debates e 
discussões teológicas e pastorais, caminhos distintos de viver o seu ensinamento, 
instituições que surgiram, que são impossíveis de numerar. Há transformações 
extremamente positivas registradas ao longo dos tempos, como também ações 
belicosas que mancharam negativamente e para sempre a história do Cristianismo.
Dentre um dos decisivos momentos vividos na história do Cristianismo 
está a figura de um imperador chamado Constantino. Por seu espírito 
sanguinário, Constantino não pode ser incluído como algum santo da história da 
Igreja. Entretanto, é responsável por uma política religiosa, de seu interesse, que 
acaba elevando o Cristianismo, na forma de instituição eclesial, à religião oficial 
do Império, concedendo, inclusive, privilégios variados ao clero. Isso ocorre por 
volta do ano 323 da presente era. 
Veja o texto que expressa a nova relação estabelecida com o Cristianismo 
(“Edito de Milão” – 313 d.C).
Nós, Constantino e Licínio, Imperadores, encontrando-nos em Milão 
para conferenciar a respeito do bem e da segurança do Império, decidimos 
que, entre tantas coisas benéficas à comunidade, o culto divino deve ser a 
nossa primeira e principal preocupação. Pareceu-nos justo que todos, cristãos 
inclusive, gozem da liberdade de seguir o culto e a religião de sua preferência. 
Assim Deus, que mora no céu, ser-nos-á propício a nós e a todos os nossos 
súditos. Decretamos, portanto, que, não obstante a existência de anteriores 
instruções relativas aos cristãos, os que optarem pela religião de Cristo sejam 
autorizados a abraçá-la sem estorvo ou empecilho e que ninguém absolutamente 
os impeça ou moleste... Observai, outrossim, que também todos os demais 
terão garantida a livre e irrestrita prática de suas respectivas religiões, pois 
está de acordo com a estrutura estatal e com a paz vigente que asseguremos 
a cada cidadão a liberdade de culto segundo sua consciência e eleição; não 
pretendemos negar a consideração que merecem as religiões e seus adeptos. 
Outrossim, com referência aos cristãos, ampliando normas estabelecidas já 
sobre os lugares de seus cultos, é-nos grato ordenar, pela presente, que todos 
que compraram esses locais os restituam aos cristãos sem qualquer pretensão 
a pagamento [...]
Use-se da máxima diligência no cumprimento das ordenações a favor 
dos cristãos e obedeça-se a esta lei com presteza, para possibilitar a realização 
de nosso propósito de instaurar a tranquilidade pública. Assim continue o 
favor divino, já experimentado em empreendimentos momentosíssimos, 
outorgando-nos o sucesso, a garantia do bem comum.
A “Era Constantiniana” do Cristianismo vem a ser chamada de 
cristandade. Embora não tenha condenado outros cultos religiosos, Constantino 
abriu caminho para uma nova relação entre o Cristianismo e o Império. De 
forma negativa, a Igreja vem a ser uma instituição religiosa a justificar as ações 
UNIDADE 1 | O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-PASTORAIS
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de governantes do âmbito político. Apesar de seus atos a favor do Cristianismo 
e da Igreja, Constantino teria sido batizado apenas no leito de sua morte, no ano 
de 337. Mesmo assim, por longos anos da história eclesial foi celebrado como 13º 
apóstolo.
De certa maneira, a iniciativa constantiniana foi aprofundada sob o 
governo do co-Imperador Teodósio, no ano 380, com a publicação de um edito 
religioso, decretando a unidade religiosa de todo o Império, sob a bandeira cristã. 
Vejamos:
Queremos que as diversas nações sujeitas à nossa Clemência e 
Moderação continuem professando a religião legada aos romanos pelo 
apóstolo Pedro, tal como a preservou a tradição fiel e tal como é presentemente 
observada pelo pontífice Dâmaso e por Pedro, Bispo de Alexandria e varão 
da santidade apostólica. De conformidade com a doutrina dos apóstolos e o 
ensino do Evangelho, creiamos, pois, na única divindade do Pai, do Filho e 
do Espírito Santo sem igual majestade em Trindade santa. Autorizamos os 
seguidores dessa lei a tomarem o título de Cristãos Católicos. Referentemente 
aos outros que julgamos loucos, cheios de tolices, queremos que sejam 
estigmatizados com o nome ignominioso de hereges, e que não se atrevem a 
dar a seus conventículos o nome de igrejas. Estes sofrerão, em primeiro lugar, 
o castigo da divina condenação e, em segundo lugar, a punição que nossa 
autoridade, de acordo com a vontade do céu, decida infligir-lhes.
Por meio desse “decreto”, todas as pessoas do Império Romano são 
declaradas cristãs. Formava-se em definitivo o “Sacro Santo Império Romano” 
e o regime da cristandade era completado. Ocorre uma influência político-
governamental intensa sobre o Cristianismo e a Igreja assume um caráter 
imperial. Isso interfere diretamente na autonomia das comunidades, mas mais 
profundamente no relaxamento doutrinal para o seguimento cristão. A Igreja 
torna-se cada vez mais monárquica, com bispos tutelando as comunidades cristãs, 
sendo que os mesmos bispos estavam sob a tutela do Estado.
Paradoxalmente, de um movimento religioso marginalizado dentro do 
judaísmo, o Cristianismo vem a se tornar a religião oficial de todo Ocidente. Se 
inicialmente o movimento do Cristianismo se caracterizou por sua impulsividade 
missionária e martírios, começava uma era de relativa paz cristã.O mundo havia 
se tornado cristão. O problema é que passou a ser difícil ser autenticamente 
cristão nesse mundo. Esses são desafios teológicos e pastorais daquela época e 
que querem nos inquietar nos tempos contemporâneos.
A pergunta latente é acerca da identidade cristã genuína. Como expressão 
de uma fé que perdura ao longo de contextos históricos e geográficos variados 
desde o tempo do Primeiro Testamento, a fé cristã está em constante construção 
de sua identidade. Quando se petrifica em doutrinas, fórmulas ou dogmas, por 
TÓPICO 2 | EXPANSÃO DO CRISTIANISMO
25
melhor que em seu tempo tenham sido, em outro tempo e espaço podem se tornar 
obsoletas e ultrapassadas. O desafio colocado é por uma identidade dinâmica, 
que não perde o essencial da pregação de Jesus de Nazaré.
4 DIVISÕES NO CRISTIANISMO: CONFISSÕES DE FÉ 
COMUNS E A PERDA DA UNICIDADE 
Não é errado afirmar que, com a expansão do Cristianismo por diferentes 
regiões, correu-se o risco de seu esfacelamento. Não havia nenhuma estrutura 
institucional prévia a coordenar esse processo de expansão. Agia-se na liberdade 
que o Espírito Santo concedia de acordo com a fé de apóstolos e demais seguidores. 
Independente de maneiras distintas das práticas apostólicas e missionárias, havia 
uma confissão comum a quem seguia na fé cristã: “Jesus é o Senhor” (1Coríntios 
12:3). Em nome dele se agia.
Fazem parte da caminhada do povo de Deus, desde o tempo do Primeiro 
Testamento, momentos de afirmação e reafirmação da fé que o move. Por exemplo, 
encontramos uma confissão de reconhecimento da forma da ação de Deus em 
Deuteronômio 26:3,5-9. A função é unificar a compreensão em torno de Deus, 
motivando para um agir coordenado enquanto povo. 
Vejamos:
Declaro hoje que estou morando na terra que o SENHOR, nosso Deus, 
prometeu dar aos nossos antepassados. [...] O meu antepassado foi um arameu 
que não tinha lugar certo onde morar. Ele foi com a família para o Egito, e 
ali eles moraram como estrangeiros. Quando chegaram lá, eram poucos, mas 
aumentaram em número e se tornaram um povo grande e forte. Os egípcios nos 
maltrataram e nos obrigaram a fazer trabalhos pesados. Então oramos, pedindo 
socorro ao SENHOR, o Deus dos nossos antepassados. Ele nos atendeu e viu 
a nossa aflição, a nossa miséria e como éramos perseguidos. Com a sua força e 
com o seu poder ele fez milagres, maravilhas e coisas espantosas, e nos tirou do 
Egito, e nos trouxe até esta terra que nos deu, uma terra boa e rica.
Ao longo do século I foi sendo necessária a formulação teologicamente 
cada vez mais profunda da fé em Jesus Cristo. No confronto com novas realidades 
foi surgindo a necessidade de explicar melhor esse Jesus-divindade. Já em torno 
do ano 150 há um credo, buscando unificar a expressão da fé, formulado nos 
seguintes termos:
Creio em Deus, o Pai, onipotente,
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
Nascido do Espírito Santo e da virgem Maria,
Que foi crucificado sob Pôncio Pilatos e sepultado,
Ressuscitou no terceiro dia entre os mortos,
Subiu aos céus,
UNIDADE 1 | O CRISTIANISMO: ORIGEM, EXPANSÃO E DILEMAS TEOLÓGICO-PASTORAIS
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Está assentado à direita do Pai,
De onde virá para julgar vivos e mortos;
E no Espírito Santo, a santa Igreja, a remissão dos pecados, a ressurreição 
da carne.
Geralmente, formulações assim são respostas a polêmicas que surgiam. 
Em acordos, buscava-se manter a unidade confessional do Cristianismo. Nesse 
sentido, destacamos o chamado Credo Niceno, resultado do Concílio de Niceia, 
no ano 325, tendo a influência do Imperador Constantino presente, que, inclusive, 
publicou esse Credo como uma lei imperial:
Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e 
invisíveis;
E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai, unigênito, 
isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de 
Deus verdadeiro, gerado não feito, de uma só substância com o Pai, pelo qual 
foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual 
por nós seres humanos e por nossa salvação desceu, se encarnou e se fez pessoa 
humana e sofreu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente deve 
vir para julgar os vivos e os mortos;
E no Espírito Santo.
Há um pequeno adendo que diz:
E a quantos dizem: “Ele era quando não era” e “Antes de nascer, Ele não 
era”, ou que “Foi feito do não existente”,
Bem como a quantos alegam ser o Filho de Deus “de outra substância ou 
essência”, ou “feito”, ou “mutável” ou “alterável”, a todos estes a Igreja Católica 
e Apostólica anatematiza.
Quer dizer, ao longo de toda a história do Cristianismo encontramos 
momentos em que se buscavam termos de acordo, tentando preservar a unidade 
numa instituição que estava em formação. Lembramos, ainda, do Concílio de 
Constantinopla, em 381, do qual surgiu o Credo Niceno-Constantinopolitano. Em 
451, no Concílio de Calcedônia, na Ásia Menor, surgiu o Credo de Calcedônia. 
Através dessas confissões e afirmações de fé, a teologia e pastoral cristãs, e o 
próprio conceito de Cristianismo foram sendo formatados ao longo de nossa 
história, resultando em práticas e vivências correspondentes.
Função importante na preservação de certa unidade em termos da 
teologia e pastoral cristãs foi desempenhada por lideranças, especialmente 
bispos. Há textos bíblicos que falam da existência de bispos, como em 1Timóteo 
3:1-7: são descritas virtudes inerentes ao cargo, sendo que inclusive podiam casar. 
No decorrer do tempo, inúmeros bispos foram surgindo e o caráter apostólico e 
missionário nem sempre se mantinha presente. Embora exista uma compreensão 
relativamente consensual de que o apóstolo Pedro tenha sido o primeiro papa 
da história da Igreja, a primazia de autoridade ao bispo de Roma somente foi 
TÓPICO 2 | EXPANSÃO DO CRISTIANISMO
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concedida por volta do ano 380. A partir daí, decretos papais passaram a ter valor 
idêntico a decisões conciliares. E todos os que haviam sido bispos da região de 
Roma foram declarados sucessores do apóstolo Pedro, como papas.
Contudo, apesar de muitas tentativas de manter a unidade do Cristianismo 
sob o manto de uma única instituição eclesial, isso se tornou impossível. Sem 
dúvida alguma, há que se reconhecer que, na medida em que seu poder de 
influência aumentou, também houve gradativos afastamentos do verdadeiro 
ensino de Jesus de Nazaré. A imbricação entre instituição eclesial e Império, entre 
poder religioso e poder político, deixou marcas e manchas profundas na história 
cristã.
Uma primeira grande cisão na Igreja Apostólica ocorreu no ano de 1054, 
embora anteriormente já tenham ocorrido exclusões e excomunhões. Vem a surgir 
a Igreja Católica Ortodoxa, que se nega a reconhecer a autoridade do papa. Há 
algumas outras diferenças doutrinárias, organizacionais e rituais que passam a 
ser afirmadas.
Essa cisão de impacto demonstra insatisfações latentes no Cristianismo. 
O surgimento de muitas ordens religiosas e mosteiros, especialmente ao longo 
dos séculos XII e XIII, são expressão de insatisfação com bispos e papas. Pessoas 
se retiram “do mundo” para poderem viver de modo mais autêntico sua fé cristã. 
Outras tantas pessoas que levantam sua voz de protesto são declaradas hereges 
e, não raro, condenadas à morte na fogueira. Dentre alguns, podem ser citados 
João Huss, John Wyclif e Pedro Waldo, que se opunham à Igreja papal e ao poder 
e à riqueza da Igreja em contraste com a realidade de pobreza da maior parte da 
população.
Nesse sentido, pode ser compreendido o movimento de Reforma da 
Igreja que tomou forma ao longo dos anos de 1500 por toda a Europa. Numa 
das versões da história, consta que à época estava em processo de construção 
o que hoje é a Basílica de São Pedro, em Roma. Havia necessidade de muitos 
recursos financeiros para tocar em frente essa obra grandiosa. Ter-se-ia chegado 
ao ponto de vender cartas de indulgências que davam garantia de um lugar no 
céu a quem as adquirisse. E o povo, atemorizado,

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