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AULA 5 GESTÃO DA MANUTENÇÃO DE MÁQUINAS Prof. Edson Roberto Ferreira Bueno 2 CONVERSA INICIAL Esta aula aborda a importância dos indicadores de desempenho para a gestão da manutenção de máquinas e equipamentos, explorando as características de disponibilidade e custos gerais. Também trata dos principais indicadores relacionados às falhas, aos reparos e à confiabilidade dos equipamentos. Finaliza com a análise do indicador de eficiência global do equipamento. TEMA 1 – A IMPORTÂNCIA DOS INDICADORES PARA GESTÃO DA MANUTENÇÃO 1.1 Características dos indicadores De acordo com Silveira (2012): O termo utilizado para os indicadores de performance (desempenho) da manutenção em uma fábrica é denominado KPI (Key Performance Indicators, ou simplesmente, Indicadores de Performance na tradução). As KPIs podem mensurar diferentes performances abrangendo desde o tempo de parada das máquinas até o processo produtivo. Atualmente os softwares instalados em muitas fábricas podem oferecer algumas dezenas de KPIs, mas é preciso ter atenção a aquelas que realmente agregam valor. Dessa forma, os indicadores de manutenção são considerados ferramentas auxiliares de gestão que fornecem dados e informações significativas para: Consolidação de resultados operacionais; Controle dos estoques de materiais e da política dos sobressalentes; Distribuição das atividades de acordo com a modalidade de manutenção, se corretiva, preventiva ou preditiva; Treinamento e capacitação de equipe; Estabelecimento de períodos de parada de manutenção; Planejamento e controle das atividades de manutenção. Conforme os dados são coletados e a tabulação das informações é realizada, ocorre a análise da situação e, em seguida, a otimização das atividades. A utilização dos indicadores geralmente contribui para a redução do desperdício de tempo e dos custos. Além disso, também colabora para evitar erros e decisões precipitadas e aumentar a produtividade. 3 1.2 Definição do indicador ideal Uma das tarefas mais difíceis na rotina de uma empresa é a escolha do indicador de desempenho ideal para determinada tarefa. Individualmente, cada tipo de gestão possui suas particularidades e cada indicador possui uma determinada abrangência. Então, uma estratégia que funciona numa empresa semelhante nem sempre apresenta bons resultados na sua empresa. Por isso, antes da definição de utilização de um determinado indicador, é fundamental a análise detalhada dos insumos disponíveis e de quais são os objetivos da organização. De acordo com a Engeman, um indicador de boa qualidade precisa ter: objetividade e clareza para transmitir informações, não sendo complexo ou difícil de ser analisado; resultados reais, que condizem com as atividades da empresa; precisão para evitar duplicidade de dados; representatividade para mostrar algo palpável e importante para o negócio; unicidade, ou seja, ter uma regra ou medida estabelecida; [...] alcance e sinalizar as causas dos problemas; desafios que motivam o engajamento da equipe. (Indicadores, [S.d.]) Já de acordo com Silveira (2012): A definição do indicador dependerá dos objetivos, da estratégia e do plano de ação adotado, mas algumas diretrizes podem ser adotadas para definir KPIs e metas. Um método muito utilizado é o SMART, que é definido pelas letras que o compõem da seguinte forma: Specific – Seja Específico: Escolha KPIs simples e específicas para evitar equívocos posteriores; Measurable – Mensurável: As KPIs devem ser comparáveis e quantificáveis com objetivos específicos. De preferência a KPI deve ser expressa em números; Attainable – Atingível: A meta deve refletir a capacidade da organização, podendo ser agressiva, mas não deve ser impossível; Realistic – Realista: A meta deve ser realista com as condições atuais e não com as condições desejáveis; Timely – Em tempo: Deve ser definido um tempo para que as metas possam ser atingidas. Outra característica que deve ser buscada é a de que a meta estabelecida seja tangível. Ou seja, metas que podem ser observadas, sentidas ou tocadas são mais propensas a serem conquistadas e mantidas. Ao utilizar esses requisitos, haverá mais facilidade para se encontrar um modelo-padrão para auxiliar na tomada de decisões, sempre visando à melhoria contínua dos processos de manutenção. 4 1.3 A aplicação dos indicadores de manutenção Após se analisar a potencialidade dos respectivos indicadores, bem como suas vantagens e desvantagens para a área de manutenção, o próximo passo é sua implementação na área definida. O fato é que não existe uma regra geral ou receita passo a passo para isso. Porém, inicialmente é necessário se analisar todas as atividades desempenhadas em cada departamento, a fim de se encontrar a melhor solução e o melhor custo- benefício. No mercado, há uma grande oferta de profissionais e empresas que trabalham com a implantação de indicadores de desempenho e que podem desenvolver uma metodologia de utilização desses indicadores conforme a respectiva necessidade de uma empresa. Antes de tudo e como primeira dica, é se tentar distingui-los por áreas, para que os indicadores forneçam apenas as informações que são relevantes. 1.4 Principais indicadores de desempenho O Quadro 1 demonstra alguns dos mais importantes indicadores de desempenho utilizados pela área de manutenção. Quadro 1 – Indicadores de desempenho utilizados na manutenção INDICADOR DESCRIÇÃO 1 MTBF Mean time between failures (tempo médio entre falhas) 2 MTTR Mean time between repair (tempo médio entre reparos) 3 A Availability (fator disponibilidade) 4 MP Cumprimento dos planos de manutenção preventiva 5 MPd Cumprimento dos planos de manutenção preditiva 6 GE Giro do estoque 7 FM Falta de materiais que afeta os serviços da manutenção 8 IMF Custo total de manutenção por faturamento bruto 9 Imba Custo total de manutenção por ativos imobilizados 10 MO Custo de mão de obra 11 CM Custo de materiais 12 BackLog Carga futura de trabalho 13 HHCorretiva Alocação de mão de obra em serviços de manutenção corretiva 14 HHPreventiva Alocação de mão de obra em serviços de manutenção preventiva 15 HHPreditiva Alocação de mão de obra em serviços de manutenção preditiva 16 CP Cumprimento da programação 17 ‘ AP Acerto da programação 18 OEE Eficiência global de equipamento 5 TEMA 2 – DISPONIBILIDADE E CUSTOS DE MANUTENÇÃO 2.1 A disponibilidade Com o desenvolvimento e a aplicação da automação nos processos produtivos ocorreu a quebra de muitas barreiras produtivas. Atualmente, todos os setores de uma empresa podem estar interligados e monitorados em tempo real, fazendo com que todos os equipamentos sejam necessários para o perfeito funcionamento do sistema da empresa como um todo, em muitos casos. Dessa forma, o indicador de disponibilidade revela a probabilidade de uma máquina estar acessível e funcional, em um dado momento. Ele garante o atendimento das metas produtivas e ajuda no acompanhamento de outros indicadores. Na sua definição mais simples, a disponibilidade de um equipamento pode ser calculada pela equação (1): 𝐴 = (𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 − 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠) (𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 ) (1) 2.2 Custo de manutenção O indicador de desempenho financeiro também chama a atenção, pois é muito importante para qualquer tipo de negócio. As despesas relacionadas à manutenção não podem extrapolar os valores estipulados por um orçamento empresarial. Silveira (2012) afirma que, geralmente, o custo de manutenção é a somatória básica dos recursos materiais, dos sobressalentes, do pagamento de funcionários e das despesas de intervenções. Nesse contexto de custos se destacam estes quatro indicadores:IMF, Imba, MO e CM, sendo que: O IMF é definido pelo custo total de manutenção por faturamento bruto e indica todos os gastos de manutenção, incluindo materiais, serviços, mão de obra etc. Pode ser calculado pela equação (2). 𝐼𝑀𝐹 = (𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑛𝑢𝑡𝑒𝑛çã𝑜 (𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠, 𝑠𝑒𝑟𝑣𝑖ç𝑜𝑠, 𝑚ã𝑜 𝑑𝑒 𝑜𝑏𝑟𝑎 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑎 𝑒 𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜𝑠)(𝑅$)) (𝐹𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑏𝑟𝑢𝑡𝑜 (𝑅$)) (2) 6 O Imba é definido pelo custo total de manutenção por ativos imobilizados. Semelhante ao IMF, o Imba indica o custo total da manutenção com base no ativo fixo sem depreciação. Pode ser calculado pela equação (3). 𝐼𝑀𝐵𝐴 = (𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑛𝑢𝑡𝑒𝑛çã𝑜 (𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠, 𝑠𝑒𝑟𝑣𝑖ç𝑜𝑠, 𝑚ã𝑜 𝑑𝑒 𝑜𝑏𝑟𝑎 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑎 𝑒 𝑡𝑒𝑟𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜𝑠)(𝑅$)) (𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑏𝑎𝑠𝑒 𝑑𝑎 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑓𝑖𝑥𝑜 𝑠𝑒𝑚 𝑑𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜 (𝑅$)) (3) O MO é outro indicador importante, que se destaca por indicar diretamente o custo de mão de obra da área, como na equação (4): 𝑀𝑂 = 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑚ã𝑜 𝑑𝑒 𝑜𝑏𝑟𝑎 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑚𝑎𝑛𝑢𝑡𝑒𝑛çã𝑜 𝑥 100(%) (4) O CM, custo de materiais, se dá quando a equipe técnica de manutenção se encontra treinada e a gestão tem um conhecimento mais aprofundado dos processos, ocasião em que é possível também tratar os custos como oportunidade, perdas produtivas ou custos próprios. Porém, não pode ser o principal e único indicador de desempenho para se analisar uma performance. Basear-se unicamente em valores financeiros nem sempre é a melhor opção; é necessário realizar-se uma análise global e mais aprofundada antes de se tomar uma decisão. TEMA 3 – INDICADORES DE FALHAS E REPAROS 3.1 Mean time between failure (MTBF) Também conhecido como tempo médio entre falhas (Tmef), o MTBF considera somente as ordens de manutenção corretivas. Ele fornece uma expectativa de tempo para que uma máquina apresente defeito. É calculado por meio da soma de todos os tempos de bom funcionamento (TBF) ocorridos durante um determinado período tomado como referência, dividido pelo número de períodos de funcionamento normal ou pelo número de falhas apresentadas, demonstrado na equação (5). Esse indicador está ligado a uma expressão muito utilizada na área industrial, conhecida como confiabilidade ou probabilidade de bom funcionamento. 𝑀𝑇𝐵𝐹 = 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝐷𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 − 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑛𝑢𝑡𝑒𝑛çã𝑜 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑃𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜𝑠 + 1 (5) 7 O MTBF é o indicador de desempenho representado pelo tempo médio entre a ocorrência de uma falha e a próxima. Por exemplo, para um MTBF = 1.000 horas, em média a expectativa é de que uma máquina quebre a cada 1 mil horas. 3.2 Mean time to repair (MTTR) O MTTR, em português tempo médio de reparo, indica o tempo médio para se reparar uma máquina e considera a média dos tempos técnicos de reparo (TTR). Pode ser calculado com a soma de todos os TTR necessários para cada uma das intervenções em que o equipamento ou o subconjunto entrou em falha ou avaria e foi recuperado, dividido pelo número de falhas, conforme demonstrado na equação (6). Não existe um valor-padrão a ser tomado como referência. A realidade é que esse valor se constrói com a experiência e a observação, caracterizando o parque de máquinas em questão, bem como o tamanho, a experiência e a qualificação do efetivo que nelas trabalha. 𝑀𝑇𝑇𝑅 = ∑ 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑠 𝑑𝑎𝑠 𝑃𝑎𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑛𝑢𝑡𝑒𝑛çã𝑜 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑃𝑎𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠 (6) Por exemplo, uma máquina trabalha em três turnos, totalizando 24 horas de disponibilidade (1.440 minutos). Durante esse tempo, acontecem três falhas, com um tempo total de 90 minutos parados. Então, MTTR = tempo paralisado/número de paradas; MTTR = (90 minutos)/(3 paradas) = 30 minutos/parada. Conclui-se, então, que o tempo médio de reparo é de 30 minutos. O MTTR é muito importante no dia a dia de trabalho de um supervisor de manutenção porque aponta o tempo que a equipe demanda para reparar uma falha. Além disso, o MTTR compreende todas as atividades envolvidas no reparo. Uma consequência direta da aplicação do MTTR está relacionada à diminuição das paradas produtivas e dos custos de manutenção. Problemas e falhas acontecem mesmo nas empresas muito bem preparadas. Por isso, é essencial se conhecer qual a frequência em que eles acontecem. Com essa informação em mãos, se cria um planejamento de manutenções preventivas, corretivas e preditivas. 8 TEMA 4 – A CONFIABILIDADE E AS MELHORES PRÁTICAS DE INDICADORES 4.1 Confiabilidade Independentemente do tamanho da empresa, seus ativos, máquinas e equipamentos podem ser caracterizados por sistemas grandes e complexos. Dessa forma, uma equipe técnica sempre deve executar as atividades de operação e manutenção com perícia e segurança, já que o menor descuido pode provocar acidentes e perdas financeiras. Nesse contexto a Engeman (Indicadores, [S.d.]) afirma que: A confiabilidade representa a probabilidade de um equipamento funcionar corretamente durante um determinado período de tempo, em condições normais. Quando esse indicador é baixo, a produtividade do negócio é colocada em risco. Portanto, o mesmo deve ser utilizado com muita cautela. Esse indicador também representa o grau de confiabilidade de cada máquina, auxiliando o gerenciamento das folgas dos funcionários e a realização de manutenções emergenciais. De acordo com Bueno (2014): A utilização do complemento da disponibilidade, ou seja, a “Indisponibilidade do equipamento” representa quanto do tempo de produção foi gasto com intervenções de manutenção. A indisponibilidade em função da manutenção considera a exclusão dos tempos referentes à operação. Desta forma, nota-se que, quanto maior for o MTTR, menos tempo disponível a máquina terá para produzir e quanto menor for o MTBF, mais rápido as máquinas quebrarão. Então, quanto menos a máquina quebrar e mais rápido ela for consertada, mais tempo ela estará disponível para a produção. Portanto, o objetivo é se maximizar o MTBF e minimizar o MTTR. Na Figura 1 pode-se observar os extremos dessa análise. Figura 1 – Relação entre MTBF, MTTR e disponibilidade Fonte: Adaptado de Rigoni, 2008. 9 4.2 Benchmarking De acordo com a Engeman (Indicadores, [S.d.]), As empresas que detêm as melhores práticas voltadas à manutenção, se bem geridas, devem proporcionar redução significativa dos seus custos de produção ou serviços. Para isso a manutenção deve considerar a importância do seu papel; da necessidade que a organização tem dela e o desempenho dessa atividade em seus concorrentes. Acessar informações sobre as atividades desenvolvidas pelas empresas de sucesso é muito importante para se descobrir as melhores práticas, e assim se faz com o uso do benchmarking, que nada mais é do que um processo de melhoria de desempenho dado pela busca, pela compreensão e pela adoção de práticas de sucesso que são encontradas dentro e fora das organizações. Entretanto, antes da aplicação do benchmarking, a empresa deve ter critérios bem consolidados, a fim de extrair desse processo apenas aquilo que é favorável e vantajoso para o seu negócio. Indubitavelmente, a utilização do benchmarking como indicador de manutenção pode ampliar o campo de visão da empresa, fornecendo-lhe informações relevantes, em tempo real. Por mais que seja representado por simples números, ele facilita a compreensão das relações da empresa e ajuda na redução de custos e no aumento da segurança no trabalho. Existem várias questões que influenciam o desempenho da área e da rotina de trabalho de um gestor de manutenção. Por isso, é necessário ser prudente quanto à aplicabilidade das novidadesdo mercado, de tecnologias e estratégias que representam aquilo que há de mais moderno no meio. O que justifica, dessa forma, que haja uma análise criteriosa para se encontrar aqueles indicadores que mais se adéquam ao perfil da empresa, sempre focando em boas oportunidades de melhorias. TEMA 5 – INDICADOR DE EFICIÊNCIA GLOBAL DE UM EQUIPAMENTO 5.1 OEE Os princípios da manutenção produtiva total (TPM, do inglês total productive maintenance) abordam a necessidade de se desenvolver uma visão mais holística do sistema de manufatura e, para isso, é fundamental se 10 estabelecer uma forma mais abrangente de se medir o aproveitamento da capacidade produtiva. O indicador overall equipment effectiveness (OEE), que mede a utilização efetiva da capacidade dos equipamentos, foi então proposto como um indicador que cumpre essa função de controle gerencial (Nakajima, 1989; Ljungberg, 1998). Ele é considerado, dentre diversas abordagens, como o melhor meio de medir a eficiência de equipamentos durante o seu funcionamento, o que é reconhecido por inúmeros autores e organizações a nível mundial. 5.2 Composição do indicador OEE O indicador OEE foi originado do conceito da TPM e começou a ser reconhecido como um importante método para a medição do desempenho de uma instalação industrial no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Passou a ter maior valor como agente de mudança para unir a manutenção às operações e à engenharia, com vistas à obtenção de níveis superiores de desempenho em uma instalação industrial (Hansen, 2006). Nakajima (1989), considerado por muitos autores um dos grandes precursores da TPM, afirma que, para o cálculo do rendimento operacional global, deve-se incorporar tanto o índice do tempo operacional como o do desempenho operacional e o dos produtos aprovados. Essa fórmula integra a produtividade e a qualidade, ou seja, agrega as contribuições para a incorporação do valor agregado ao produto. Com base nessas declarações pode-se afirmar que o OEE é um indicador que mede o desempenho utilizando três dimensões, conforme mostra a Figura 2, considerando: A disponibilidade, que é o tempo útil que o equipamento tem para funcionar e produzir; A eficiência, demonstrada durante o seu funcionamento, isto é, a capacidade de o equipamento produzir a uma cadência nominal; A qualidade do produto, obtida pelo processo em que o equipamento está inserido. 11 Figura 2 – Dimensões do OEE Outros indicadores de desempenho dos equipamentos não têm a mesma abrangência do OEE, porque focam apenas na eficiência ou no tempo disponível para produzir. Em uma significativa parte do tempo em que o equipamento deveria estar em funcionamento efetivo, ele está parado ou funcionando em condições anormais, que não permitem se produzir de acordo com uma cadência ideal e/ou conforme as especificações de qualidade. O impacto negativo disso na produtividade e nos custos é enorme e, frequentemente, essa situação tem como origem a falta de cumprimento dos prazos de entrega ao cliente ou as quebras de estoque nos armazéns. Infelizmente, os clássicos sistemas de contabilidade e controle de custos não refletem a realidade das empresas, porque, se o fizessem, certamente a gestão das operações seria muito mais complicada, pois mostraria uma indústria oculta que existe em todas as unidades fabris. Dessa forma, chama-se a atenção para o verdadeiro custo das paradas e das perdas em geral, por exemplo: de manutenção, material, mão de obra, energia, custos indiretos etc., os quais normalmente atingem valores, por vezes, muito mais elevados do que parecem ou do que são divulgados. Segundo Fernandes e Godinho Filho (2002), o OEE é um indicador simples de medir e de fácil implantação. Hansen (2006) explica que o cálculo do OEE é o produto da disponibilidade (tempo real de operação dividido pelo tempo programado de operação) multiplicado pela taxa de velocidade (taxa de velocidade real dividido pela taxa de velocidade teórica), multiplicado pela taxa de qualidade (total de produtos bons divididos pelo total de produtos fabricados). O mesmo autor (Hansen, 2006) reforça que o resultado pode ser expresso como uma percentagem da efetividade, que está diretamente relacionada com a produção real do chão de fábrica. O valor do indicador OEE pode ser obtido mediante o cálculo representado pela aplicação da equação (7). 𝑂𝐸𝐸 = 𝐷 𝑥 𝐸 𝑥 𝑄 (7) 12 Nakajima (1989) recomenda para o OEE um desempenho de pelo menos 85% e considerando que os índices a serem atingidos para sua composição devem ser a disponibilidade (D), superior a 90%; o desempenho operacional (E), superior a 95%; e a qualidade (Q), superior a 99%. Ou seja: 𝑂𝐸𝐸 ≥ (0,9 𝑥 0,95 𝑥 0,99) 100 = 85% (8) Para Hansen (2006), o OEE deve ser aplicado primeiramente nos gargalos que afetam o ganho ou em qualquer outra área crucial e dispendiosa da linha de manufatura. Nakajima (1989) sugere se identificar seis perdas relacionadas aos indicadores de disponibilidade, desempenho e qualidade, que são: quebra ou falha, demora na preparação ou ajustes (set up), desgaste das ferramentas, operação em vazio (ociosidade), pequenas paradas, redução da velocidade em relação ao padrão, defeitos de produção (refugos) e perda de rendimento. Essa formulação de Nakajima (1989) pode ser observada na Figura 3, que demonstra a relação entre os fatores do OEE e as seis grandes perdas. Figura 3 – Fatores do indicador OEE e sua relação com as perdas Fonte: Adaptado de Nakajima, 1989. A equação (9) demonstra o cálculo do índice de disponibilidade. 𝐷𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 − 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 (9) Para Nakajima (1989), a diferença entre o desempenho teórico e o real deve-se às perdas relacionadas às pequenas paradas e à queda de desempenho da máquina em relação ao nível de desempenho para o qual ela foi projetada. O 13 índice de desempenho mostra a velocidade em que a operação está sendo realizada e é dado pela equação (10). 𝐷𝑒𝑠𝑒𝑚𝑝𝑒𝑛ℎ𝑜 = 𝑄𝑢𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑎 𝑥 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 (10) O índice de qualidade indica a eficiência da operação, ou seja, se as peças produzidas estão conforme as especificações de qualidade, e pode ser calculado pela equação (11). 𝑄𝑢𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑃𝑒ç𝑎𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑎𝑠 − (𝑝𝑒ç𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑓𝑢𝑔𝑎𝑑𝑎𝑠 + 𝑟𝑒𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑎𝑑𝑎𝑠) 𝑃𝑒ç𝑎𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑎𝑠 (11) Conforme Santos e Santos (2007), a análise do OEE permite envolver todas as áreas de uma empresa por meio de um indicador, auxiliando a liderança na administração de recursos das áreas de negócio. Para uma empresa ser classificada como nível classe mundial, Hansen (2006) afirma que o OEE deve ser superior a 85% para processos em lotes e superior a 95% para processos discretos e contínuos. Para as indústrias de fluxo contínuo, os valores devem superar 95%. A classificação dos dados é fundamental para o cálculo do OEE e eles devem ser coletados por meio de formulários ou sistemas informatizados, de maneira organizada e metódica, garantindo assim a veracidade dosvalores dos índices de desempenho. A base de dados torna-se o ponto-chave para um programa de incremento de melhoria e, ao mesmo tempo, eles não devem ser detalhados a ponto de serem entendidos apenas por especialistas. A simplicidade deve imperar nas classificações e definições dos componentes necessários para a obtenção do indicador OEE, de forma que todos possam entender e contribuir com os procedimentos. A clareza dos dados é importante para a parametrização do sistema de controle e monitoramento da produção e a eliminação dos desperdícios. É necessário se combinar os dados e a composição das informações para a tomada de decisão correta. Para Hansen (2006), uma boa coleta de dados é um requisito-chave para uma estratégia bem-sucedida de cálculo do OEE. O sucesso de qualquer fábrica é fortemente influenciado pela veracidade dos dados coletados e analisados. Segundo o mesmo autor, a estratégia de avaliação pelo OEE deve ser implantada nos gargalos da fábrica, bem como em outros setores importantes considerados 14 críticos ou dispendiosos na produção. Isso significa que até para se controlar, deve-se distinguir o que é atividade vital de uma atividade comum, de modo a se potencializar ou alavancar os resultados nos lugares mais adequados. Deve-se focar naquilo que já é possível e essencial, ou seja, tornar viável o processo, ou parte dele, para se dinamizar as operações da produção, a entrega de produtos físicos e, assim, se tomar as decisões que visam a melhorias para uma empresa (Oliveira, 2008). Segundo Busso (2012), na literatura são encontrados diversos questionamentos sobre a aplicação do OEE como indicador de desempenho global da manufatura. Jonsson e Lesshammar (1999) afirmam que maioria das empresas utilizam de forma incorreta os indicadores de desempenho e falham na escolha de tais indicadores. Busso (2012) afirma que, no que diz respeito à perspectiva da orientação para o fluxo, o OEE não considera de forma integrada as atividades, os processos e as funções encontrados ao longo da cadeia de produção. A conceituação básica do OEE fornece uma boa forma de se medir a eficiência de uma máquina (Braglia; Frosolini; Zammori, 2009). Contudo, a simples extensão de sua aplicação convencional à avaliação de um sistema de produção com mais máquinas não seria suficiente para direcionar sua melhoria global considerando-se sistematicamente os possíveis impactos num âmbito mais amplo. Busso (2012) cita que, assim como Jonsson e Lesshammar (1999) e Braglia, Frosolini e Zammori (2009), outros autores também têm identificado limitações para se aplicar o OEE em contextos mais amplos, sob condições não previstas e para fins mais complexos que os originalmente admitidos na sua concepção. 15 REFERÊNCIAS BRAGLIA, M.; FROSOLINI, M.; ZAMMORI, F. Overall equipment effectiveness of a manufacturing line (OEEML): an integrated approach to assess systems performance. Journal of Manufacturing Technology Management, v. 20, n. 1, p. 8-29, 2009. BUENO, E. R. F. Proposta de implantação do indicador OLE em uma linha de produção de produtos discretos. 110 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção de Sistemas) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2014. BUSSO, C. M. Aplicação do indicador overall equipment effectiveness (OEE) e suas derivações como indicadores de desempenho global da utilização da capacidade de produção. 135 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. FERNANDES, C. F. F.; GODINHO FILHO, M. Identificação e análise do foco de três abordagens para a produção enxuta. Revista de Ciência e Tecnologia, v. 10, n. 19, p. 39-50, jan./jun. 2002. HANSEN R. C. Eficiência global dos equipamentos: uma poderosa ferramenta de produção/manutenção para aumento dos lucros. Tradução de Altair Flamarion Klippel. Porto Alegre: Bookman, 2006. INDICADORES de manutenção. Engeman. Disponível em: <https://blog.engeman.com.br/indicadores-de-manutencao/>. Acesso em: 28 nov. 2018. JONSSON, P.; LESSHAMMAR, M. Evaluation and improvement of manufacturing performance measurement systems: the role of OEE. International Journal of Operations and Production Management, v. 19, n. 1, p. 55-78, 1999. LJUNGBERG, O. Measurement of overall equipment effectiveness as a basis for TPM activities. International Journal of Operations & Production Management, v. 13, n. 5, p. 495-507, 1998. NAKAJIMA, S. Introdução ao TPM – total productive maintenance. Tradução de Mário Nishimura. São Paulo: IMC Internacional Sistemas Educativos, 1989. OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologias e práticas. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 16 SANTOS, A. C. O.; SANTOS, M. J. Utilização do indicador de eficiência global de equipamentos (OEE) na gestão de melhoria contínua do sistema de manufatura: um estudo de caso. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 27., 2007, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu: Enegep, 2013. SILVEIRA C. B. Indicadores de performance da manutenção industrial. Citisystems, Sorocaba, 2012. Disponível em: <https://www.citisystems.com.br/in dicadores-performance-manutencao-industrial/>. Acesso em: 28 nov. 2018. https://www.citisystems.com.br/author/admin/
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