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AULA 6 GESTÃO DA MANUTENÇÃO DE MÁQUINAS Prof. Edson Roberto Ferreira Bueno 2 CONVERSA INICIAL Esta aula aborda a importância da utilização dos indicadores de desempenho para o planejamento e controle da manutenção de máquinas e equipamentos, explorando principalmente o planejamento em função dos tipos de intervenções. Também aborda os temas de manutenção produtiva total, a influência da análise do defeito e o modo de falhas, e finaliza com a análise das políticas aplicadas na manutenção e a manutenção lean. TEMA 1 – PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DA MANUTENÇÃO 1.1 O planejamento em função da escolha do tipo de manutenção De acordo com Slack (2002), podemos planejar e gerenciar a manutenção industrial de acordo com alguns modelos utilizados pela maioria das empresas que resolvem estabelecer um plano de produção. Dentro desse processo de escolha, podemos considerar a manutenção de máquinas e equipamentos, bem como a manutenção de instalações e edificações prediais. Desta forma, verifica- se um forte impacto nas atividades da organização, quando o planejamento ou gerenciamento apresentam falhas que podem ser corrigidas pela manutenção de correção, preventiva, preditiva, produtiva total, entre outras. Com base em um dos modelos, ou na combinação deles, de acordo com suas significações, pode-se estabelecer planos e estratégias para execução da manutenção da organização. 1.2 Manutenção de correção Também chamada de manutenção emergencial, a correção significa deixar os equipamentos, máquinas e instalações operarem até quebrarem, para, depois, realizar somente o trabalho de correção da falha ocorrida. Existem muitas empresas que administram a manutenção dessa forma. Por recorrerem a serviços de terceirização, têm suas atividades dirigidas exclusivamente para a correção de equipamentos, máquinas, produtos ou instalações de fábrica. 1.3 Manutenção preventiva A manutenção preventiva visa eliminar ou reduzir as probabilidades de falhas por manutenção por meio de atividades como: limpeza, lubrificação, 3 substituição e verificação de equipamentos, peças e/ou máquinas, instalações em períodos predeterminados, normalmente de acordo com as instruções do fabricante por meio de manuais de operação e manutenção. A manutenção preventiva tem algumas vantagens, tais como: aumento da vida útil dos equipamentos; redução dos custos, mesmo que em curto prazo; diminuição das interrupções do fluxo produtivo; criação de uma mentalidade preventiva na empresa; programação de horários mais convenientes para a organização; melhoria da qualidade dos produtos por manter as condições operacionais dos equipamentos. A maioria das operações produtivas planeja sua manutenção incluindo certo nível de manutenção preventiva regular, o que resulta em uma probabilidade razoavelmente baixa, mas finita, de falhar. Normalmente, quanto mais frequentes os episódios de manutenção preventiva, menor é a probabilidade de ocorrerem falhas. O equilíbrio entre a manutenção preventiva e a corretiva é estabelecido para minimizar o custo total das paradas. Manutenção preventiva pouco frequente custará pouco para realizar, mas resultará em alta probabilidade (e portanto, custo) de manutenção corretiva Observe a Figura 1. A curva de custo total de manutenção parece ter um ponto mínimo em um nível "ótimo" de manutenção preventiva. Figura 1 – Custos associados à manutenção preventiva Fonte: Adaptado de Slack, 2002. 4 Essa representação de custos de manutenção relacionados, embora conceitualmente elegante, pode não refletir a realidade. O custo da realização de manutenção preventiva pode não aumentar tão fortemente como indicado na figura. 1.4 Manutenção preditiva A manutenção preditiva trata das atividades desenvolvidas para prever a necessidade de ações de manutenção. O plano de manutenção é baseado nos resultados do monitoramento das condições físicas dos equipamentos. 1.5 Manutenção proativa Baseia-se em estratégias de manutenção preditiva e preventiva em oposição à manutenção corretiva; foca-se mais na análise das causas das falhas e na interação com o departamento de projeto para prevenir novas falhas. Planejamento e programação: documentar as atividades de manutenção para que as ordens de serviço, peças de estoque, recursos técnicos e tempo de realização das tarefas sejam previamente conhecidos; a programação se refere à priorização do trabalho, emissão de ordens de serviço e designação dos recursos de trabalho disponíveis, do tempo disponível para realizar as tarefas e do tempo de armazenamento e levantamento de peças ou materiais. Manutenção Centrada na Confiabilidade (MCC): processo estruturado e lógico para desenvolver ou otimizar os requisitos de manutenção de um determinado equipamento em contexto operacional; enquanto o TPM focaliza-se em manter o equipamento confiável e eficaz, o RCM focaliza-se na optimização da eficácia da manutenção. Grupos de trabalho autônomos: interdepartamentais e que realizam, com elevada autonomia, ações integradas de melhoria predefinidas. TEMA 2 – A IMPORTÂNCIA DA TPM PARA A GESTÃO DA MANUTENÇÃO 2.1 Manutenção Produtiva Total A Manutenção Produtiva Total (TPM) é uma metodologia que serviu de fundamentação ao sistema de manutenção lean. Tem como objetivo otimizar a 5 confiabilidade e a eficácia dos equipamentos, utilizando grupos de trabalho e atividades de manutenção proativa, e envolvendo todos os níveis e funções de uma organização. Sua estratégia incide na eliminação e prevenção de perdas relacionadas aos equipamentos. Esse conceito inclui um programa de treinamento para os operadores, que passam a auxiliar no monitoramento da máquina no exercício das atividades (prática de manutenção preditiva) e executam operações de manutenção que não exigem muito domínio, como troca de filtro de óleo (prática de manutenção preventiva). Segundo Slack (2002): A TPM é um tipo de manutenção realizada por todos os empregados através de atividades de pequenos grupos e para ser construída deve esta baseada em cinco pilares: 1º. Eficiência dos equipamentos; 2º. Autorreparo, ou seja, manutenção autônoma com aproveitamento da mão de obra dos operadores em pequenas operações de manutenção; 3º. Planejamento, elaborando planos e cronogramas de manutenção preventiva e preditiva; 4º. Treinamento, para capacitar e motivar a equipe de trabalho; 5º. Ciclo de vida, buscando um melhor aproveitamento da vida útil das máquinas e dos equipamentos. 2.2 Objetivo da TPM O principal objetivo da TPM é a melhoria da estrutura da empresa em termos materiais (máquinas, equipamentos, ferramentas, matéria-prima, produtos etc.) e em termos humanos (aprimoramento das capacitações pessoais envolvendo conhecimentos, habilidades e atitudes). A meta a ser alcançada é o rendimento operacional global, e as melhorias que devem ser adotadas são: Motivar e capacitar os operadores para conduzir as operações de manutenção constantes no programa, de forma voluntária. Criar um programa de treinamento para os mecânicos se tornarem capazes de executar a manutenção em sistemas mecânicos e eletrônicos. Incentivar estudos e sugestões para modificação dos equipamentos existentes, a fim de melhorar seu rendimento. Aplicar o programa 8S: Seiri – organização, eliminar o supérfluo; Seiton – arrumação, identificar e colocar tudo em ordem; Seiso – limpeza, limpar sempre e não sujar; Seiketsu – padronização, manter a arrumação, limpeza e ordem em tudo; Shitsuke – disciplina, autodisciplina para fazer tudo espontaneamente; Shido – treinar, busca constante de capacitação 6 pessoal; Seison – eliminar as perdas; Shikari Yaro – realizar com determinação e união. Desenvolver metodologias para eliminar as seis grandes perdas: 1) paradas inesperadas;2) demora na troca de ferramentas e preparação; 3) esperas nas máquinas da sequência de produção; 4) redução da produção em relação ao padrão normal; 5) produtos defeituosos; 6) queda de rendimento. Estruturar condições básicas para as operações de manutenção e aplicar ferramentas de gestão como o PFMEA (do inglês, Project Failure Mode and Effect Analysis – análise de modo e efeito de falha potencial no projeto). Obedecer as condições de uso, ou seja, cumprir os procedimentos criados para prevenir quebras inesperadas. Regeneração do envelhecimento. Sanar as falhas do projeto aplicando ferramentas de administração dos prováveis modos de falhas que podem ocorrer, como o PFMEA. Implementar a capacitação técnica, por meio de um programa de treinamento destinado aos mecânicos recém-contratados e àqueles mais experientes. A ideia da “quebra zero” baseia-se no conceito de que a quebra é a falha visível, e a causa pode ser um conjunto de diversas falhas invisíveis, isto é, ocultas por fatores físicos ou psicológicos. 2.3 Manutenção autônoma Na TPM, os operadores são treinados para supervisionar e atuar como mantenedores em primeiro nível. Os mantenedores específicos são chamados quando os operadores de primeiro nível não conseguem solucionar o problema. Assim, cada operador assume suas atribuições de modo que a manutenção preventiva e a de rotina estejam constantemente em ação com as suas principais atividades: operação correta de máquinas e equipamentos; aplicação dos 8S; registro diário das ocorrências e ações; inspeção autônoma; monitoração com base nos sentidos humanos; 7 lubrificação; elaboração de padrões (procedimentos); execução de operações de manutenção que dispensam conhecimentos específicos (verificação de nível de óleo, vibrações anormais, excesso de aquecimento, limpeza de filtro de ar etc.); execução de operações de manutenção preventiva simples; participação em treinamentos e em grupos de trabalho. 2.4 Benefícios da TPM para a equipe de colaboradores Em função de ser executada em conjunto com a equipe de colaboradores, a manutenção produtiva total trará uma série de benefícios, uma vez que implica melhoria profissional dos operadores para a realização das tarefas de manutenção corretiva, preventiva ou preditiva. Essas tarefas são indispensáveis na prática da manutenção produtiva total. Na forma como é proposta, a TPM oferece plenas condições para o desenvolvimento das pessoas que atuam em empresas preocupadas com manutenção. A participação de todos os envolvidos resulta nos seguintes benefícios: autorrealização (saber ser); aumento da atenção no trabalho (saber fazer); aumento da satisfação pela realização do trabalho (amor no que se faz); melhoria do espírito de equipe (efeito sinérgico); melhoria na comunicação entre os membros da equipe propondo soluções e melhorias; aquisição de novos conhecimentos e habilidades; desenvolvimento do senso de pertença das máquinas (“cuidar da máquina como se fosse sua”); diminuição da rotatividade de pessoal; reconhecimento pelos resultados e possibilidade de ascensão profissional (plano de carreira). TEMA 3 – ANÁLISE DO EFEITO E MODO DE FALHAS (FMEA) Aprender as lições a partir de uma falha não é a finalidade do procedimento. Os gerentes de produção e manutenção precisam incorporar formalmente as lições em suas reações futuras a falhas. Isso é frequentemente feito por meio de 8 trabalho de análise teórica de como reagir a falhas no futuro. Especificamente, envolve identificar primeiro todas as falhas que podem ocorrer (de forma análoga à abordagem FMEA). Segundo, significa definir formalmente os procedimentos que a organização deveria seguir no caso de cada tipo de falha identificada. 3.1 Objetivo O objetivo da análise do efeito e modo de falhas é identificar as características do produto ou serviço que são críticas para vários tipos de falha. É um meio de identificar falhas antes que aconteçam, por meio de um procedimento de "lista de verificação" (checklist), construído em torno de três perguntas-chaves. Para cada causa possível de falha: 1. Qual é a probabilidade de a falha ocorrer? 2. Qual seria a consequência da falha? 3. Com qual probabilidade essa falha é detectada antes que afete o cliente? Baseado em uma avaliação quantitativa dessas três perguntas, é calculado o número de prioridade de risco (NPR) para cada causa potencial de falha. Ações corretivas que visam prevenir falhas são então aplicadas às causas cujo NPR indica que justificam prioridade. É essencialmente um processo de sete passos, conforme mostra a Tabela 1. Tabela 1 – Aplicação do FMEA Passo Descrição Passo 1 Identificar todas as partes componentes dos produtos ou serviços Passo 2 Listar todas as formas possíveis segundo as quais os componentes poderiam falhar (modos de falhas) Passo 3 Identificar os efeitos possíveis das falhas (tempo parado, insegurança, necessidade de consertos, efeitos para os clientes) Passo 4 Identificar todas as causas possíveis das falhas para cada modo de falha Passo 5 Avaliar a probabilidade de falha, a severidade dos efeitos da falha e a probabilidade de detecção Passo 6 Calcular o NPR multiplicando as três avaliações entre si Passo 7 Instigar ação que minimizará falhas nos modos de falhas que mostram um alto NPR 9 3.2 Exemplo prático Uma determinada empresa de transportes identificou três modos de falha associados à falha "produtos que chegam danificados" no ponto de entrega: produtos não presos (modo de falha 1); produtos presos incorretamente (modo de falha 2); produtos carregados incorretamente (modo de falha 3). O grupo de melhoria que investiga as falhas alocou pontuações para a probabilidade do modo de falha que estava ocorrendo, severidade de cada modo de falha e probabilidade de serem detectadas, como indicado na Tabela 2. Tabela 2 – Modos de falha Modo de falha Probabilidade de ocorrência Severidade de falha Probabilidade de detecção 1 5 6 2 2 8 4 6 3 7 4 7 Calcula-se o NPR de cada modo de falha: Modo de falha 1 (produtos não presos): 5 x 6 x 2 = 60 Modo de falha 2 (produtos presos incorretamente): 8 x 4 x 5 = 160 Modo de falha 3 (produtos carregados incorretamente): 7 x 4 x 7 = 196 Assim, a prioridade é dada ao modo de falha de maior valor numérico (196), ou seja, o modo de falha 3 (produtos carregados incorretamente), ao se tentar eliminar a falha. TEMA 4 – POLÍTICAS DE MANUTENÇÃO As organizações podem adotar qualquer um dos modelos de manutenção, sejam correções, preventivas, preditivas, TPM, entre outras. Porém se faz necessária a adoção de políticas claras de aplicabilidade conforme a especificidade da organização. Entre as principais políticas de manutenção conhecidas e aplicadas estão as indicadas por Martins e Laugeni (2000): Redundância de equipamentos – utilização de reservas de equipamentos para aqueles considerados críticos no sistema produtivo. 10 Treinamento de operadores – treinamento de operadores preconizado na manutenção produtiva total para realização de pequenas e específicas manutenções nos equipamentos. Equipamento em maior número – subutilização de equipamentos, aumento do seu número no processo produtivo. Projeto robusto – trabalhar com equipamentos capazes de suportar sobrecargas de trabalho com mínimo de esforço. Grandes equipes de manutenção – trabalhar com grandes equipes para poder atender a ocorrências simultâneas. Manutenabilidade – deve considerar a compra de equipamentos que se caracterizem pela facilidade de manutenção. O gestor deve sempre equilibrar os benefícios de cada forma de manutençãoaos interesses da organização. A implementação da manutenção produtiva total pode se mostrar muito onerosa para a organização em detrimento da manutenção preventiva baseada em controles predeterminados. TEMA 5 – O SISTEMA DE MANUTENÇÃO LEAN 5.1 Definição e objetivo da manutenção lean Segundo Smith e Hawkins (2004), a manutenção lean é definida como um sistema de manutenção proativa que utiliza atividades planejadas e programadas, fundamentadas na Manutenção Produtiva Total (TPM). É desenvolvida a partir de uma estratégia de Manutenção Centrada na Confiabilidade (MCC) e é praticada por grupos de trabalho autônomos que aplicam ferramentas de melhoria específicas (5S, atividades de melhoria Kaizen, manutenção autônoma) e por técnicos de manutenção multifuncionais. Estas atividades são apoiadas por um sistema de informação (CMMS), um sistema de ordens de trabalho, um inventário lean de peças que fornece os materiais baseado no Just-In-Time (JIT) e pela engenharia de manutenção que identifica as causas das falhas, analisa as partes inoperantes dos equipamentos, a eficácia das atividades de manutenção e define as ações de manutenção preditiva. De acordo ainda com Smith e Hawkins (2004), o objetivo básico da manutenção lean é garantir a confiabilidade dos equipamentos. Os objetivos parciais consistem na gestão da carga de trabalho, redução do tempo de parada 11 dos equipamentos, garantia da eficácia do trabalho, aplicação de práticas que otimizem o trabalho, criação e aplicação de medidas de desempenho, análise de dados relevantes de controle dos processos e garantia da qualidade do serviço prestado. 5.2 Implementação da manutenção lean Deve ser gerida por um colaborador de tempo integral, com perfil e autoridade adequados, e com conhecimento dos princípios e ferramentas lean. A sua primeira função é escolher uma equipe de manutenção lean responsável e comprometida com a mudança que será realizada. Definida a equipe, ela deve receber formação nos princípios e ferramentas lean adaptados à manutenção, e compreender claramente o seu papel e responsabilidades. De acordo com Smith e Hawkis (2004), a implementação é um processo lento que pode ser estruturado em 6 fases: 1ª fase: avaliação do estado lean (2 a 4 meses) A primeira fase pretende assegurar que a função/departamento da manutenção está preparada para uma implementação lean. Contempla uma análise da eficácia do TPM implementado e a melhoria das áreas mais fracas com posterior avaliação, conforme demonstrado na Figura 1. Esta última avaliação é crítica porque determina o início da transformação lean ou a nova melhoria do sistema TPM até se atingir a eficiência desejada e necessária. Tabela 3 – Áreas, ferramentas e metodologias para avaliação de estado lean Áreas analisadas Ferramentas e metodologias utilizadas Avaliação da confiabilidade dos equipamentos Eficiência global dos equipamentos (OEE) Estrutura organizacional da manutenção Manutenção centrada na confiabilidade (RCM) Sistema de ordens de trabalho Análise do efeito e modo de falha (FMEA) Estoque de peças Análise ABC Planejamento e programação Just-in-Tme (JIT) Sistema de gestão da manutenção informatizado (CMMS) Fluxo de trabalho normalizado Documentação Mapeamento da cadeia de valor (VSM) Engenharia de manutenção Os 5 princípios lean Os sete grandes desperdícios 12 Fluxo de trabalho normalizado: padronizar as atividades de manutenção e definir o fluxo das atividades realizadas desde o início de uma ordem de serviço até a sua conclusão; este processo baseia-se no mapeamento da cadeia de valor. Mapeamento da cadeia de valor (VSM): segundo Kannan (2006), o mapeamento da cadeia de valor é uma das principais ferramentas lean, pois facilita a identificação e análise das atividades que não acrescentam valor. O VSM específico da manutenção permite identificar claramente as atividades de manutenção que não acrescentam valor e estabelecer formas de diminuir o tempo total médio de manutenção (Mean Maintenance Lead Time – MMLT). O VSM deve ser a primeira ferramenta usada num programa de manutenção lean, pois permite identificar de maneira eficiente as potenciais oportunidades de melhoria para depois aplicar adequadamente outras ferramentas, como os 5S, atividades Kaizen ou o fluxo de trabalho normalizado. O VSM fornece uma perspectiva global do fluxo de valor e permite, num curto período de tempo e com pouco investimento, reduzir o lead time das intervenções de manutenção, aumentando, dessa forma, a disponibilidade operacional dos equipamentos. Os cinco princípios lean: 1. Definir valor: definir valor segundo a perspectiva do cliente; na função manutenção, o que acrescenta valor ao cliente (produção ou cliente final) é apenas a realização da atividade de manutenção no equipamento. 2. Definir a cadeia de valor: caracterizar a atual cadeia de valor das atividades de manutenção; identificar as que não acrescentam valor, eliminá-las e criar uma cadeia de valor futura. 3. Otimizar o fluxo: otimizar as atividades da cadeia de valor futura de forma a minimizar o tempo de parada de um equipamento por avaria. 4. Sistema pull: entregar ao cliente apenas o que ele necessita; no caso da manutenção, significa que as atividades realizadas devem estar de acordo com a prioridade atribuída aos equipamentos. 5. Perfeição: melhoria contínua das ações de manutenção, tentando reduzir o esforço, tempo, espaço, custos e erros. 13 Os sete grandes desperdícios: 1. Excesso de produção: excesso de ações de manutenção preventiva. 2. Esperas: quando os técnicos de manutenção são forçados a esperar pela realização de um evento. 3. Transporte: deslocações que os técnicos de manutenção fazem desnecessariamente, tais como procurar ferramentas, peças, documentos ou ordens de trabalho. 4. Processamento: sistema de ordens de trabalho ineficiente e aleatório; formas de reportar a informação excessiva ou ineficiente e procedimentos incorretos. 5. Inventários: excesso de inventários de peças em estoque obsoletas e pouco utilizadas. 6. Movimento: consulta da informação-chave (desenhos técnicos, histórico de reparos ou lista de peças) de forma desorganizada. 7. Defeitos: repetição do trabalho de manutenção devido à identificação incorreta das causas das falhas; atividades de manutenção preventiva que não acrescentam valor. 2ª fase: preparação lean (2 a 6 meses) Esta é uma fase de formação, fundamental para o sucesso da implementação da manutenção lean. O pessoal do departamento da manutenção e o pessoal de apoio devem receber formação nos princípios da manutenção lean; devem ser formados os grupos que realizarão exercícios de eliminação de desperdício e atividades Kaizen. Os princípios e técnicas normalmente abordados nesta formação são os seguintes: 5S, PDCA, cinco princípios lean, sete grandes desperdícios, controle visual, diagrama causa e efeito, mapeamento da cadeia de valor, jidoka. PDCA: ciclo de desenvolvimento focalizado na melhoria contínua; contempla as atividades de planejamento, execução, verificação e ação. Controle visual: ferramenta de identificação ou informação apresentada de forma simples, clara e visível; é normalmente aplicada na gestão do desempenho: quadros demonstram o que é desenvolvido para se atingir os indicadores-chave de desempenho; no estoque de peças: identificação da quantidade de peças por repartição; nos quadros de produção: plano de 14 manutenção a realizar em cada equipamento; na sinalização de avaria e nas ferramentas disponíveis (Finigan; Humphries, 2006). Diagrama de causa e efeito: método gráfico utilizado para mostrar as causas da falha a partir do seu efeito; as causas podem ter origem nos procedimentos, máquinas, homem, materiais ou ambiente. Jidoka:no contexto da produção, refere-se à automação da função controle do produto de modo a evitar a produção de defeituosos e o seu avanço no processo de produção; nas atividades de manutenção, os defeitos, como a repetição de uma reparação, são evitados com sessões de formação e aplicação dos 5S. 3ª fase: fase piloto (1 a 3 meses) A seleção dos equipamentos, alvo do primeiro evento Kaizen, torna-se extremamente importante para demonstrar as melhorias que podem ser obtidas com a manutenção lean e, assim, aumentar a confiança e o compromisso com o projeto. A escolha deve resultar de um estudo de priorização baseado na cadeia de valor (Wiegand; Langmaak; Baumgarten, 2005). Após a adequada formação dos grupos de trabalho, estes iniciarão a transformação lean por meio de atividades Kaizen durante 5 a 10 dias. Um aspecto importante destas equipes é a sua autonomia, ou seja, devem ter independência para planejar, executar e melhorar a eficiência de seus processos. As ferramentas utilizadas nesta fase são: 5S, controle visual, diagrama causa e efeito, jidoka e PDCA. 4ª fase: mobilização lean (6 meses a 1 ano) Para se alcançar um sistema de manutenção lean é necessário converter toda a estrutura da manutenção e funções de apoio em grupos de trabalho autônomos, promover a comunicação interdepartamental, desenvolver a manutenção autônoma e a prática dos 5S, e envolver os colaboradores na focalização no cliente, por meio da formação e da melhoria contínua. Nesta fase, a liderança da equipe lean é essencial para assegurar o progresso atingido na fase 3. O desafio passa por conseguir manter uma comunicação permanente entre as equipes formadas, demonstrando a importância de suas ações e motivando-as. A função da equipe lean deixa de ser dirigir e controlar, e passa a ser de apoio. 15 As ferramentas normalmente utilizadas são as mesmas da fase piloto. 5ª fase: expansão lean (4 meses a 1 ano) Esta fase visa implementar o lean nas funções/departamentos que mais se relacionam com a manutenção: compras, engenharia de manutenção e tecnologia da informação (IT). O departamento de compras deve normalizar todos os materiais de manutenção e aplicar o Just-in-Time. Na função da engenharia de manutenção, deve-se desenvolver atividades de manutenção preditiva para prever a necessidade de ações de manutenção como forma de otimizá-la. Por fim, o departamento da tecnologia da informação deve apostar na melhoria contínua do apoio dado às operações de manutenção, otimizando constantemente a eficácia e a interface do sistema de gestão da manutenção informatizado (CMMS) com o utilizador. Nesta fase, as ferramentas normalmente utilizadas são as seguintes: normalização, Just-in-Time, manutenção preditiva, PDCA. 6ª fase: sustentabilidade lean Os aspectos que mais contribuem para a sustentabilidade de uma transformação lean são a liderança, o compromisso e a melhoria contínua. As qualidades de liderança são fundamentais para motivar e desafiar os colaboradores a propor novas formas de melhoria. O compromisso com o projeto de manutenção lean deve ser visível por meio de sessões de formação, ações de reconhecimento e recompensa, utilização de indicadores de desempenho no local de trabalho, documentação de processos, comunicação interdepartamental e um envolvimento visível da gestão de topo. Finalmente, a melhoria contínua contribui para a sustentabilidade ao promover a utilização de ferramentas adequadas aos processos de manutenção, de forma a acrescentar valor e eliminar o desperdício. 16 REFERÊNCIAS ALMEIDA P. S. de Manutenção mecânica industrial: conceitos básicos e tecnologia aplicada. São Paulo: Érica, 2014. FINIGAN, T.; HUMPHRIES, J. Maintenance: synergies for step change. Industrial Engineer, p. 26-31, 2006. KANNAN, S. et al. Developing maintenance value stream map. Knoxville: University of Tennessee, 2006. MATINS, P. G; LAUGENI, F. P. In: _____. Administração da produção. São Paulo: Saraiva, 2000. SELEME, R. B; SELEME, R. Automação da produção: uma abordagem gerencial. Curitiba: InterSaberes, 2013. SMITH, R.; HAWKINS, B. Lean maintenance: reduce costs, improve quality, and increase market share. Oxford: Butterworths-Heinemann, 2004. WIEGAND, B; LANGMAAK, R.; BAUMGARTEN, T. Lean maintenance system. Lean Management Institut Stiftung, 2005
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