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Dia da Consciência Negra, 50 anos_ liberdade conquistada; não concedida Senado Notícias (1)

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Rodrigo Baptista
Publicado em 18/11/2021
Em 1971, um grupo de jovens negros se reuniu no centro
de Porto Alegre para pesquisar a luta dos seus
antepassados e questionar a legitimidade do 13 de maio,
data da assinatura da Lei Áurea, como referência de
celebração do povo negro. No lugar, sugeriam o 20 de
novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, para
destacar o protagonismo da luta dos ex-escravizados por
liberdade e gerar reflexão para as questões raciais. A
semente plantada ali é um dos marcos da constituição
dos movimentos negros e está na raiz do Dia da
Consciência Negra.
Passados 50 anos dos encontros na capital gaúcha, o
Senado aprovou um projeto de lei (PLS) 482/2017, do
senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que converte o
20 de novembro em feriado nacional e contribui para
reforçar a luta pela igualdade racial. Mas os desafios para
https://www.senado.leg.br/
http://www12.senado.gov.br/institucional/falecomosenado
https://www12.senado.leg.br/noticias
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/131827
mulheres e homens negros no Brasil se acumulam: eles
têm salários menores, sofrem mais com a violência e o
desemprego e estão sub-representados em cargos
políticos. Dirimir marcas tão profundas da escravidão
exige, entre outros pontos, a adoção de medidas
concretas de reparação e de elevação da
representatividade dos negros na política e em outros
postos-chave na sociedade, de acordo com o que dizem
senadores, pesquisadores e outras pessoas ouvidas pela
reportagem da Agência Senado. 
Origem do Dia da Consciência Negra
Entre os jovens que se reuniram em Porto Alegre estavam
Antônio Carlos Côrtes, Oliveira Silveira, Ilmo da Silva,
Vilmar Nunes, Jorge Antônio dos Santos (Jorge Xangô) e
Luiz Paulo Assis Santos. Juntos, eles formaram o Grupo
Palmares, uma associação que realizava estudos sobre a
história e a cultura negra. Foi em uma reunião na casa
dos pais de Côrtes que escolheram o nome em alusão ao
quilombo que resistiu por quase cem anos.
Para os gaúchos, já passava da hora de romper com a
ideia de liberdade concedida, substituindo-a por uma
concepção de liberdade conquistada. O advogado,
Antônio Carlos Côrtes, hoje com 72 anos, destaca que a
Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel (1846-1921) no
dia 13 de maio de 1888, foi uma “abolição incompleta”,
pois não garantiu assistência ou apoio governamental
para o acesso a terras, educação e trabalho a mulheres e
homens antes escravizados. 
Lei Áurea foi uma abolição incompleta, a�rLei Áurea foi uma abolição incompleta, a�r……
A Lei da Vadiagem a que se refere Côrtes pune quem
estiver "habitualmente à ociosidade, sendo válido para o
trabalho, sem ter renda que assegure meios bastantes de
subsistência”. É uma contravenção prevista no artigo 59
do Decreto-Lei 3.688, de 1941, ainda em vigor. A criação
de uma norma nesse sentido tem raízes no Código
Criminal do Império e no Código Penal de 1890 que
atingiu em cheio os ex-escravizados e seus
descendentes. Os negros estavam livres pela Lei Áurea,
mas sem trabalho e impedidos de frequentar escolas. 
Sem apoio do Estado para a inserção dos ex-
escravizados na sociedade e diante das mazelas que
seguiram afligindo o povo negro, o Grupo Palmares
decidiu dizer “não ao 13 de maio” e buscou por meio de
https://www.youtube.com/watch?v=7HTBw6GIzPE
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3688.htm#art5
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM-16-12-1830.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/D847.htm
estudos uma nova data que simbolizasse a luta negra.
Foi assim que descobriu a data da morte de Zumbi dos
Palmares (1655-1695), líder do Quilombo dos Palmares,
localizado na Serra da Barriga, em Alagoas. O quilombo
foi o maior reduto de resistência à escravidão do período
colonial.
O Dia da Consciência Negra ganhou visibilidade pela
primeira vez em 1971, quando o grupo pioneiro realizou
um ato evocativo à resistência negra na noite do dia 20
de novembro no clube Marcílio Dias, em Porto Alegre. O
evento valorizava "o herói Zumbi dos Palmares".
Primeiro ato evocativo ao 20 de Novembro, realizado em 1971 pelo Grupo Palmares, em
Porto Alegre (foto: Acervo Oliveira Silveira/Reprodução)
De acordo com o pesquisador Deivison Campos,
professor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), a
proposta do coletivo gaúcho redirecionou o processo de
integração do negro na sociedade brasileira e rompeu
com a tradição forjada por aqueles que estavam no
poder. 
— Essa ruptura entre uma liberdade conquistada e uma
liberdade concedida diz muito do que foi a
movimentação da população negra de maneira geral
desde o processo abolicionista até, praticamente, os
anos 1970, quando a principal forma de integração social
se dava através do branqueamento, ou seja, da
assimilação, fosse ela cultural, fosse ela estética.
Socialmente, os negros eram levados a se identificar com
os elementos culturais da sociedade branca brasileira —
pontua.
Além de um contraponto à data “oficial”, a escolha do 20
de novembro também representou uma forma de
valorizar a cultura, a história e o papel político dos afro-
brasileiros na sociedade. Esses elementos, aponta o
pesquisador, vão balizar não só essa identidade, mas as
ações do movimento negro a partir de então.
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/11/dia-da-consciencia-negra-50-anos-liberdade-conquistada-nao-concedida/grupo-palmares/@@images/imagem
— Toda a luta antirracista está baseada nessa identidade
com referencialidade negra, afro-brasileira, uma coisa que
antes do 20 de novembro era impensável. A partir
daquele momento, as pessoas negras mais engajadas se
deram conta de que deveriam negociar a sua integração
plena na sociedade brasileira a partir de outro lugar, não
mais a partir do branqueamento social, mas de uma
identidade negra, uma nova forma de negociar a
cidadania. A semente foi plantada pelo Grupo Palmares
— aponta o pesquisador. 
A semente cresceu, fincou raízes e deu frutos.
Começaram a surgir manifestações em todo o país
dando apoio à iniciativa e atos relembrando figuras
negras históricas e até então esquecidas pelos livros de
história e pela sociedade em geral. Os atos passaram a
ser replicados todo mês de novembro em várias cidades.
A proposta defendida pelo Grupo Palmares ganhou
fôlego em 1978 quando foi assumida pelo Movimento
Negro Unificado (MNU). A partir dali, a data foi cravada
com um marco da luta e resistência ao racismo. O apoio
do MNU colocou de vez na agenda política nacional a
necessidade de criação de políticas públicas de
igualdade e equidade racial, ausentes no 13 de maio de
1888.
Feriado nacional
Depois de árdua luta do movimento negro e a aprovação
pelo Senado em 2003, o Dia da Consciência Negra entrou
no calendário escolar a partir da sanção da Lei 10.639, de
2003, que obriga o ensino de história e cultura afro-
brasileira nas escolas. Oito anos depois, a então
presidente Dilma Rousseff oficializou a data como Dia
Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Mas o 20 de
novembro só é feriado em locais com leis municipais ou
estaduais específicas. 
Como surgiu o Dia Nacional de Zumbi e da
Consciência Negra
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm
Morte de Zumbi
Após comandar por 15 anos o Quilombo dos Palmares,
Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695, num
território que hoje pertence a Alagoas. Ele liderava o
maior reduto de resistência à escravidão do período
colonial.
Cinco estados e mais de mil municípios brasileiros
incluíram a efeméride em seus calendários. No Rio
Grande do Sul, onde surgiu o Grupo Palmares, apesar de
uma lei de 1987 ter inserido o dia no calendário oficial, a
data não é considerada feriado. Para consolidar a
celebração, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
apresentou o PLS 482/2017, que torna o 20 de novembro
feriado em todo o país. O texto avançou em 2021 e
seguiu para a Câmara dos Deputados. Para o relatorno
Senado, Paulo Paim (PT-RS), a transformação da
proposta em lei vai valorizar a luta da população negra. 
Tornar Dia da Consciência Negra feriado nTornar Dia da Consciência Negra feriado n……
Representatividade
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/131827
https://www.youtube.com/watch?v=H19G0hmIRHw
Se a batalha para consolidar uma data de reflexão e
resistência negra no calendário nacional é resultado de
um processo de mais de 50 anos, a luta para destruir os
alicerces de problemas estruturais que se arrastam
desde o período colonial é ainda mais árdua. O abismo
social que separa negros e brancos desde o nascimento
no Brasil foi exposto em números pelo IBGE. Segundo o
estudo Desigualdades Sociais por Cor e Raça no Brasil,
divulgado em 2019, pretos ou pardos somavam 64,2% da
população desocupada e 66,1% da população
subutilizada; tinham rendimento médio pouco superior à
metade do que recebem os brancos; e quase 2,7 vezes
mais chances de serem vítimas de homicídio intencional
do que uma pessoa branca. 
A falta de igualdade na representação política é outra
faceta do racismo estrutural.  Das 1.626 vagas em
disputa para cargos legislativos em 2018, apenas 444
eleitos eram autodeclarados negros (pretos e pardos), de
acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os números mostram um ligeiro aumento em
comparação a 2014, quando 389 negros foram eleitos no
Brasil para deputados distritais, estaduais, federais e
senador, um índice de 24,3% das pessoas que se
candidataram. Em 2018, o índice chegou a 27,3%, o que
ainda evidencia um descompasso em relação aos dados
oficiais do IBGE. De acordo com a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio - Contínua (Pnad Contínua) daquele
ano, a população negra correspondia a 56% do total de
brasileiros.
No documentário Quem me Representa?, da TV Senado, o
senador Fabiano Contarato (Rede-ES) aponta que a maior
parte da população não se vê representada nos espaços
de poder. 
Democracia brasileira precisa aumentar paDemocracia brasileira precisa aumentar pa……
Sub-representação na política
Negros eleitos em 2018 para cargos
legislativos
VAGAS ELEITOS
Deputado Estadual
e Distrital
1.059 305
Deputado Federal 513 125
https://www.youtube.com/watch?v=f_Z7kN7snzE
Senador 54 14
TOTAL 1.626
100%
444
27,3%
Fonte: TSE (No registro de candidatura do TSE, cada
candidato pode se autodeclarar segundo uma de cinco
categorias de raça ou cor: preta, parda, branca, amarela
ou indígena. Negros correspondem a 56% da população
brasileira de acordo com o IBGE)
Entre as medidas aprovadas pelo Senado para tentar
aumentar a representatividade destaca-se a Emenda
Constitucional 111, que conta com um dispositivo para
incentivar candidaturas de mulheres e pessoas negras.
Analisada em setembro, a PEC 28/2021, que deu origem
à norma, foi relatada pela senadora Simone Tebet (MDB-
MS). O texto determina que os votos dados a mulheres e
pessoas negras serão contados em dobro para efeito da
distribuição dos recursos dos fundos partidário e eleitoral
nas eleições de 2022 a 2030. 
Para Nailah Veleci, emenda é resposta às candidaturas laranjas de mulheres e à falta de
investimento em candidaturas negras (foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
De acordo com a cientista política Nailah Neves Veleci,
pesquisadora da do Núcleo de Estudos em Cultura
Jurídica e Atlântico Negro (Maré), da Universidade de
Brasília (UnB), ainda é cedo para avaliar os impactos da
medida, mas ela considera que a emenda fortalece os
quadros femininos e negros nas negociações internas
dos partidos. 
— Essa proposta é uma resposta aos longos anos de
candidaturas laranjas de mulheres e à falta de
investimento de fato em candidaturas negras. Quando
olhamos paras os números de candidaturas de mulheres
e negros, vemos que até temos um quantitativo
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc111.htm#:~:text=Altera%20a%20Constitui%C3%A7%C3%A3o%20Federal%20para,distribui%C3%A7%C3%A3o%20entre%20os%20partidos%20pol%C3%ADticos
http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/149764
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/11/dia-da-consciencia-negra-50-anos-liberdade-conquistada-nao-concedida/nailah-neves-veleci/@@images/imagem
adequado de candidatos — exceto para os cargos
executivos que são sempre em sua maioria de homens
brancos — , mas o mesmo não se repete nos números de
eleitos e muito dessa diferença é devido a falta de
investimento de recursos financeiros e de apoio
institucional dos próprios partidos a essas candidaturas
— aponta a pesquisadora. 
Segundo Nailah, os estudos de representação política
negra do Brasil apontam que partidos já consolidados —
e que já têm acesso a um maior fundo partidário —
tendem a investir mais em candidaturas masculinas
brancas. Em contrapartida, os partidos menores tendem
a lançar candidaturas mais proporcionais entre brancos e
não brancos. 
— A hipótese é que provavelmente veremos uma
mudança mais significativa na composição das
candidaturas de partidos menos competitivos, que
devem investir estrategicamente mais em candidaturas
negras e femininas. Agora, do ponto de vista interno de
cada partido, a emenda fortalece os quadros femininos e
negros nas negociações internas para lançarem
candidaturas com apoio real — avalia.
Educação
Como apontam senadores e pesquisadores, aumentar a
presença de negros e mulheres nas Câmaras de
Vereadores e Distrital, Assembleias legislativas e no
Congresso é fundamental para refletir a real composição
da população brasileira e avançar nas lutas desses
grupos. Outra mudança estrutural passa também por
uma educação antirracista. Foi apenas em 2003, com o
início da vigência da Lei 10.639, que a temática afro-
brasileira se tornou obrigatória nos currículos do ensino
fundamental e médio. Conquista do movimento negro, a
lei é a mesma que incluiu o Dia Nacional da Consciência
Negra no calendário escolar.
Já na maioridade, a norma que trata do ensino da história
e da cultura afro-brasileira nas escolas ainda enfrenta
desafios para sua plena efetivação. O professor de
história Diego Rogério, que estuda a representatividade
negra na cultura pop e trabalha conteúdos sobre o tema
no perfil @RetintaPreta, destaca que a lei ajuda a
preencher uma lacuna de mais de um século de ausência
de reflexão nas escolas sobre a população negra e tem o
mérito de ajudar “a reduzir danos”. Ele aponta, contudo,
que apenas o ensino em sala de aula não é suficiente
para combater o racismo e as desigualdades enraizadas
na sociedade. 
— Em 1888 temos a abolição da escravidão, mas
somente em 2003 temos uma lei para tentar reduzir essa
ausência de narrativas negras na educação. Esse tempo
de ausência de reflexão sobre um povo que foi
escravizado e que após isso foi colocado na
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm
criminalidade e na segregação socioespacial foi muito
danoso. Ao mesmo tempo, essa lei foi importante por
permitir trazer um novo modelo de educação para inserir
o negro no ensino — aponta. 
Para o professor, além da inclusão da história e da cultura
negras nos materiais didáticos, é preciso que o ensino
em sala de aula venha acompanhado de outras políticas
públicas de forma a garantir a representatividade nas
escolas e em todos os espaços da sociedade. 
—  Se você está falando sobre a história do povo negro,
da história do povo africano e apenas professores
brancos e brancas estão falando sobre isso, o aluno
continua naturalizando o lugar de subserviência do negro.
A lei não pode ser apenas uma norma que nos faz contar
histórias de reinos africanos, quilombos e personagens
negros da história do Brasil. Precisamos lutar por uma
educação transformadora que coloque o negro em um
lugar de potência, de possibilidades de futuro, onde as
crianças negras se enxerguem nesses educadores,
professores, coordenadores, palestrantes. Os espaços de
poder precisamter cada vez mais pessoas negras para
que essas crianças olhem e se vejam no futuro — afirma
o professor, que dá aulas em uma escola particular no
Rio de Janeiro.
Diego Rogério: "Precisamos lutar por uma educação transformadora que coloque o
negro em um lugar de potência" (foto: Acervo Pessoal)
A Secretaria Nacional de Políticas Promoção da
Igualdade Racial, hoje vinculada ao Ministério da Mulher,
da Família e dos Direitos Humanos, reconhece que o
ensino da história e das culturas afro-brasileira e indígena
ainda não é plenamente adotado nas escolas. O
secretário da pasta, Paulo Roberto, afirma que uma de
suas preocupações é avançar na capacitação de
professores. 
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/11/dia-da-consciencia-negra-50-anos-liberdade-conquistada-nao-concedida/diego-rogerio/@@images/imagem
— A Secretaria vem adotando medidas estruturantes na
promoção da igualdade racial nas escolas. Estamos
firmando uma parceria com o Ministério da Educação
para capacitarmos professores em todo o país e assim
darmos efetividade a essas leis — afirmou. 
Segundo o secretário, o governo também vem adotando
medidas para enfrentar o problema da desigualdade
racial. Ele citou a ratificação, neste ano, da Convenção
Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial
e Formas Correlatas de Intolerância. O documento
confirmou a adesão do país ao compromisso
internacional de prevenir, eliminar, proibir e punir atos e
manifestações de racismo, discriminação racial e
intolerância. 
Paulo Roberto diz ainda que a secretaria trabalha em
projetos de capacitação de profissionais do Sistema
Penitenciário Nacional, para a promoção de ações de
igualdade étnico-racial, e prepara uma campanha
nacional para incentivar a contratação de mulheres
negras. Ele aponta que o Estado tem uma dívida histórica
com essa parcela que representa a maior parte da
população. 
— A secretaria reputa como extremamente importante
que se discuta a questão étnico-racial no Brasil uma vez
que esse assunto ainda não está bem resolvido. Houve
no final do século XIX e início do século XX uma política
de Estado que fomentou a discriminação, o preconceito e
o racismo. Não houve, entretanto, o mesmo trabalho de
reparar os efeitos maléficos da difusão de teses
eugenistas — afirma.
Para Paulo Roberto, o Estado brasileiro tem dívida histórica com a maior parte da
população (foto: Willian Meira/MMFDH)
Contraste
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/11/dia-da-consciencia-negra-50-anos-liberdade-conquistada-nao-concedida/paulo-roberto/@@images/imagem
A postura do secretário de Igualdade Racial contrasta
com as recorrentes manifestações e ações do atual
presidente da Fundação Cultural Palmares — órgão
criado em 1988 para promover e preservar a cultura
negra. Desde que assumiu o cargo, em 2019, Sérgio
Camargo tem feito ataques ao movimento negro. No ano
passado, ele editou uma portaria que excluiu 27
personalidades negras do rol de homenageados pela
instituição. Além do senador Paulo Paim, foram retirados
da lista os nomes de Marina Silva, Milton Nascimento,
Martinho da Vila, Gilberto Gil, Benedita da Silva, Zezé
Motta, Leci Brandão, Sandra de Sá e Elza Soares.
O Senado reagiu e aprovou a suspensão da portaria, em
dezembro. Os PDLs 510/2020 e 511/2020, dos
senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Humberto
Costa (PT-PE), seguiram para a Câmara dos Deputados,
que ainda não deu a palavra final sobre o assunto.
Na contramão do movimento negro, Sérgio Camargo
defendeu agora em novembro, mês da Consciência
Negra, mudar o nome da Fundação Palmares para
Fundação Princesa Isabel. Na sequência, ele usou uma
foto da atriz Zezé Motta e do cantor e compositor Djavan
para criticar o "Imagine a dor, adivinhe a cor", movimento
contra violência policial. Em sua publicação, Camargo
escreveu: "Não existe nenhuma dor (angústia) exclusiva e
específica dos negros por causa da cor de pele. Quem
acredita nisso é racista ou um completo imbecil".
Em resposta, também pelas redes sociais, Zezé Motta
afirmou que todos os dias acontecem no Brasil
retrocessos e desrespeito ao povo, incluindo negros,
artistas e “todos que se rebelam contra as manipulações,
conveniências e torturas”.
“Lutamos por um país melhor, sem dores, sem angústias,
sem desesperos, sem monopólios dos despreparados
que não respeitam as dores diárias do nosso povo tão
doído, tão sofrido e machucado pelos alienados que só
contribuem para que a nossa dor seja cada vez maior”,
disse a atriz.
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/145668
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/145671
Zezé, em audiência pública no Senado em 2019. “Lutamos por um país melhor",
escreveu a atriz e cantora nas redes sociais (foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)
Participantes de audiência pública promovida pelo
Senado em setembro também denunciaram que a
Fundação Palmares se tornou instrumento para apagar a
memória da população negra e propagar o racismo. Para
os ex-presidentes da instituição Dulce Pereira e Zulu
Araújo, Sérgio Camargo tem atuado para a
desconstrução das políticas públicas para promoção da
igualdade racial.
— Essa ideologia do racismo imobiliza a democracia. Não
há democracia com o racismo estrutural sendo operado
dentro do Estado. Isso não é Estado democrático. Não é
um Estado que assegura direito a todos. Então essa
história dual da Fundação Cultural Palmares atenta
contra o Estado democrático de direito — apontou Dulce
Pereira.
A opinião é compartilhada pelo cantor e compositor
Martinho da Vila, que também participou do debate e se
tornou alvo do presidente da FCP após criticar sua
postura à frente da instituição.
— Um dos sonhos que eu tenho é que um dia, no Brasil,
não haja necessidade de movimento negro. Que o
racismo não precise de movimento negro. E que não
precise de uma sessão como esta. Tudo isso aqui ainda é
muito necessário — disse Martinho.
Na ocasião, Paim ressaltou que a instituição foi criada no
âmbito da redemocratização do país, com o objetivo de
promover uma política cultural inclusiva e para a
valorização da história e das manifestações culturais e
artísticas negras brasileiras. No entanto, lamentou o
senador, a fundação hoje se tornou um espaço para
repercutir censuras e preconceitos contra os negros do
país.
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/11/dia-da-consciencia-negra-50-anos-liberdade-conquistada-nao-concedida/zeze-motta/@@images/imagem
— Ele [Sérgio Camargo] praticamente tirou todas as
referências do movimento negro do passado, do presente
e, se deixar, ele retira até do futuro. Frases racistas são
proferidas quase diariamente. Infelizmente o espaço da
Fundação Palmares tem sido usado para isso, nos dias
de hoje, principalmente pelo seu presidente — afirmou o
senador.
Heroínas e heróis
Alguns personagens negros importantes da história que
estavam no centro das pesquisas do Grupo Palmares na
década de 1970 e hoje têm seus feitos contados em
muitas salas de aula brasileiras estão também inscritos
no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria que fica guardado
no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em
Brasília. O primeiro foi Zumbi que, desde 1997, tem seu
nome cravado nas páginas de personagens relevantes da
história brasileira. 
Outros símbolos da resistência do povo negro entraram
mais recentemente após aprovação do Senado e da
Câmara dos Deputados. É o caso do advogado, líder
abolicionista e Patrono da Abolição da Escravidão do
Brasil, Luiz Gama, que libertou mais de 500 pessoas
escravizadas por vias judiciais. O nome de Gama foi
incluído no livro em 2018. 
Após aprovação do PLC 55/2017, também foram
inscritos os nomes de Dandara dos Palmares e Luiza
Mahin. Dandara foi conselheira e parceira de Zumbi na
luta pela libertação do quilombo. Luiza, por sua vez,
liderou os escravos malês na Bahia, tendo participação
decisiva na Sabinada, revoltade caráter separatista
ocorrida naquela província à época do Brasil Imperial. 
Em outubro de 2021, a Comissão de Educação, Cultura e
Esporte (CE) do Senado aprovou mais um nome:  João
Cândido, marinheiro que liderou a Revolta da Chibata,
ocorrida em 1910 em navios atracados na Baía de
Guanabara, no Rio de Janeiro, contra os castigos físicos
na Marinha. Ele entrou para a história como o Almirante
Negro. Aprovada no Senado, a proposta ainda depende
de votação na Câmara dos Deputados.
http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/129605
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/materias/2021/11/10/28/comissao-aprova-insercao-do-nome-de-joao-candido-no-livro-dos-herois-e-heroinas-da-patria
O cineasta Jeferson De e o ator César Mello durantes as filmagens de Doutor Gama
(foto: Pedro Amaral/Divulgação)
Para apresentar o legado de Luiz Gama  “ao maior
número possível de pessoas” e espalhar as ideias do
advogado, o cineasta Jeferson De resolveu em 2014 que
tinha que colocar nas telonas um filme sobre a vida do
Patrono da Abolição. Depois de muita pesquisa e um
longo processo de produção, filmagem e pós-produção,
Jeferson De finalmente viu seu longa-metragem Doutor
Gama chegar aos cinemas e plataformas de streaming
em agosto deste ano. Segundo Jeferson De, o longa-
metragem ajuda a mostrar que a luta de negros e negras
vem de longe. 
— Para nós, Luiz Gama representa um exemplo, um
legado, alguém que sofreu as piores atrocidades que
aconteceram com o povo negro, que foi a escravidão. Ele
representa essa capacidade na nossa luta negra, nossa
capacidade de buscar forças em várias frentes e a nossa
união. Para entender a luta antirracista é necessário que
a gente volte a várias pessoas que lutaram. E Luiz Gama
representa uma imagem icônica. Esse lugar onde muitas
lutas se encontram — afirmou. 
Luiz Gama, Luiza Mahin, Dandara, Zumbi e tantos outros
nomes vêm sendo resgatados nas salas de aula, nas
telas do cinema e da TV e pelo movimento negro ao
longo das últimas décadas. Esse trabalho já era feito pelo
Grupo Palmares há 50 anos. Ainda que o vento não sopre
a favor, as sementes lançadas por aqueles jovens que se
reuniram em Porto Alegre para incluir o protagonismo do
povo negro na história brasileira seguem sendo
espalhadas.  
— O Dia da Consciência Negra transformada em feriado
não é simplesmente pelo feriado em si, mas sim pela
reflexão e pela reparação da dívida que o Brasil , como
nação, tem com a comunidade negra. As políticas
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afirmativas são apenas uma breve reparação. Somos a
maioria da população brasileira, mas não estamos
representados nas câmaras de vereadores, nas
assembleias legislativas, na câmara federal, no Senado,
no Executivo, assim como nas empresas. A luta começa
agora — apontou Antônio Carlos Côrtes, que segue na
batalha 50 anos depois da primeira reunião do coletivo. 
A TV Senado exibe durante o mês de
novembro alguns documentários sobre
a questão racial no país, entre eles:
  O Fio da Memória
O filme procura condensar a
experiência negra no Brasil a partir
da religião e da música, e do
racismo, responsável pela
marginalização de parte dos 60
milhões de brasileiros de origem
africana.
 Sáb (20/nov) às 14h
 Dom (21/nov) às 14h
  Quem me Representa?
O documentário põe em debate a
representatividade do brasileiro,
desde as primeiras eleições, em
1532, até a conquista dos espaços
democráticos por segmentos
historicamente excluídos.
 Sáb (20/nov) às 17h30
 Dom (21/nov) às 17h30 
 Sáb (27/nov) às 7h30
 Dom (28/nov) às 12h
Reportagem: Rodrigo Baptista
Edição: Maurício Müller
Infografia: Bruno Bazílio
Edição e tratamento de fotos: Marcos Oliveira
Foto de capa: Pedro França/Agência Senado
Documentário TV Senado: Jimi Figueiredo (roteiro e edição)
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