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BOLETIM_TECNICO_FINAL_05

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maio - 2022
BOLETIM TÉCNICO CIENTÍFICO
EXPEDIENTE:
EDITORIAL
Com a palavra, o presidente:
 Nosso BOLETIM TÉCNICO 
abordará nessa edição a anorexia no 
paciente felino, um tema de grande 
relevância e prevalência na medicina felina. 
Essa condição clínica é uma das queixas 
mais retratadas pelos tutores dos nossos 
apaixonantes gatos. 
O q u a d ro d e a n o rex i a p o d e s e r 
desencadeado por uma infinidade de 
situações e doenças. Logo o diagnóstico 
de anorexia é um verdadeiro desafio e, 
quanto mais precocemente é alcançado, 
melhores são os resultados terapêuticos. 
 Nesse BOLETIM TÉCNICO, a ABFel 
tem a satisfação de abordar esse assunto 
importante para os veterinários adeptos à 
medicina felina. 
 Espero que você tenha uma 
excelente leitura!!!
 Um grande abraço!!! 
Cristiano Nicomedes - Presidente
DIRETORIA
Priscila Malta Jácome - Vice-presidente
Paula Cristina Magnani - Primeiro Secretário
Fabiana Lima - Tesoureiro
Marcelo Zanutto - Diretor Científico
Heloísa Justen - Diretor Social
Romeika Herminia - Diretor de Comunicação
Carla Santos - Diretor de Relações Internacionais
Maria Elvira de Almeida - Presidente do Conselho Fiscal
Carlos Gabriel Dias - 1° Conselheiro Fiscal
Rochana Fett - 2° Conselheiro Fiscal
Fernanda Barony - Suplente Fiscal
Myrian Iser - Presidente Conselho Científico
Mariana Jardim - 1° Conselheiro Científico
Reginaldo Pereira - 2° Conselheiro Científico
Monytchely Vieira - Suplente Científico
Patrocinador oficial:
abfelinos
Graduado pela UFMG / Mestre em Medicina Veterinária pela UFMG / Doutorando pela UFMG /Pós-graduado em 
Ortopedia de Pequenos Animais pela Universidade Cruzeiro do Sul / Pós-graduado em Medicina Felina pela 
Universidade de Salta / Pós-graduado em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais pela PUC–Minas / Professor da 
disciplina de técnica cirúrgica do Instituto Newton Paiva / Professor de pós-graduação na área de Medicina Felina / 
Autor de capítulos de livros e artigos científicos na área de Medicina Felina / Presidente atual da Academia 
Brasileira de Clínicos de Felinos - ABFel 
Olá, prezado gateiro e gateira!!!
Cristiano Nicomedes
Presidente da Academia Brasileira 
de Clínicos de Felinos - ABFel
 A anorexia é uma das causas mais 
frequentes da busca por atendimento veterinário 
pelos tutores de gatos. O quadro de anorexia é 
caracterizado pela redução parcial ou completa 
do apetite e pode ser classificada em primária, 
resultante de alterações da saciedade; secundária 
não patológica, causada por mudanças de 
alimentação, rotina, ambiente e palatabilidade; 
secundária patológica, quando está associada a 
doenças; ou pseudoanorexia, relacionada a 
alterações na cavidade oral e faringe que 
provocam dor e/ou dificuldade de apreensão. 
Diferentemente de outros animais domésticos, os 
gatos são carnívoros obrigatórios, com 
necessidades nutricionais especiais. Como 
resultado, a anorexia prolongada pode culminar 
na ocorrência de graves desequi l íbr ios 
metabólicos, além de complicação de doenças 
preexistentes. Outra preocupação em casos de 
anorexia persistente é o grande potencial de 
desenvolvimento da lipidose hepática felina, uma 
hepatopatia bastante comum aos gatos. 
Portanto, como a anorexia pode ser tanto causa 
quanto consequência de enfermidades, os casos 
de pacientes felinos anoréxicos justificam 
investigação diagnóstica imediata e minuciosa, 
além de intervenção terapêutica apropriada, 
associada à adequação do manejo nutricional e 
ambiental do paciente.
1.Introdução
ANOREXIA EM GATOS
MYRIAN KÁTIA ISER TEIXEIRA
Formada pela PUC Minas / Especialização em clínica médica de felinos / Membro da 
diretoria da ABFel, Academia Brasileira de Clínicos de Felinos / Trabalha com clínica médica de 
felinos desde 2012 na Clínica Gato Leão Dourado em Belo Horizonte - MG / Autora de capítulos de 
livro na área de medicina felina.
FABIANA LUIZA LIMA GOULART
Graduação pela UFMG / Mestrado em Ciências Médicas pela Unicamp / Doutoranda pela UFMG / Pós-
graduação em Clínica Médica de Felinos pela Universidade Castelo Branco / Pós-graduação em Medicina Felina 
pela Universidade Católica de Salta / Professora de Pós-graduação na área de Medicina Felina / Autora de 
capítulos de livros de Medicina Felina /Autora de artigos científicos na área de Medicina Felina / Parecerista de 
revista científica / Membro da American Association of Feline Practioners - AAFP /Membro da Associação Brasileira 
de Saúde - ABS / Conselheira científica da Academia Brasileira de Clínicos de Felinos - ABFel / Sócia fundadora da 
Clínica Veterinária Especializada em Felinos - Gato Leão Dourado
2.Revisão literária
2.1 Particularidades alimentares dos gatos
 Os gatos domésticos mantêm diversas 
características comportamentais e funcionais da 
vida selvagem e essas peculiaridades definem 
bem seus comportamentos e necessidades. Eles 
são carnívoros verdadeiros e caçadores natos 
(Beaver, 2003; Case, 2003, Rodan, 2012; AAFP, 
2020a; AAFP, 2020f). As características 
nutricionais do gato resultam de exigências 
alimentares específicas. Essa espécie requer o 
fornecimento, por meio da dieta, de aminoácidos 
essenciais não sintetizados pelos gatos, como 
arginina e taurina, ácido araquidônico e vitamina A 
pré-formada, além de elevados níveis de proteína. 
Essas peculiaridades nutricionais do felino 
doméstico são fruto da pressão evolutiva 
decorrente da ingestão de dietas estritamente 
oriundas de tecido animal (Case et al, 2011; Morris, 
2002; AAFP, 2020a; AAFP, 2020f).
 O comportamento alimentar dos gatos 
abrange a procura, aceitação e ingestão do 
alimento. Esse comportamento alimentar e social 
dos gatos se difere dos cães no requerimento 
nutricional e nos padrões de ingestão de alimentos 
(Pibot et al, 2008).
 O padrão alimentar do gato é influenciado 
por diversos fatores, como propriedades 
nutricionais da dieta, disponibilidade do alimento, 
ambiente onde a dieta é ofertada e presença de 
outros animais. Fatores intrínsecos ao indivíduo 
também interferem na alimentação, como 
aceitação do alimento, preferências alimentares, 
n í v e i s s a n g u í n e o s d e a m i n o á c i d o s e 
glicorreceptores hepáticos (Beaver, 2003).
 O felino doméstico é carnívoro estrito e o 
seu comportamento alimentar reflete os hábitos 
dos felinos selvagens, que caçavam pequenas 
presas várias vezes ao dia. Hoje, os gatos 
domésticos ingerem de sete a vinte pequenas 
porções de alimentos ao longo do dia (Zaghni, 
Biagi, 2005).
 Os gatos adultos, antes das refeições, têm 
seu comportamento direcionado para o tutor, 
através de vocalização, aproximação com a cauda 
posicionada para cima e fricção do corpo no tutor 
ou em objetos . Já após as refe ições, o 
comportamento é baseado em higiene, que se 
inicia ao lamber os lábios e progride para a limpeza 
do corpo com a língua e as patas (Beaver, 2003).
 Os filhotes, da quarta semana até o sexto 
mês de vida, têm as suas preferências alimentares 
influenciadas pelas experiências vividas nesse 
período. Quando o gato não é exposto a variadas 
texturas e sabores suas preferências alimentares 
podem se tornar limitadas e resultar em grande 
seletividade alimentar (Beaver, 2003, Zaghni; 
Biagi, 2005).
 Inicialmente, a seleção do alimento 
d e p e n d e d o o d o r. O p a l a d a r t a m b é m 
desempenha um papel importante nas 
preferências alimentares e é estritamente 
associado ao olfato. O olfato pode ser modificado 
pelo envelhecimento, drogas e condições 
climáticas adversas (Beaver, 2003; Zaghni, Biagi, 
2005). A palatabilidade é um dos principais 
fatores na escolha de um alimento comercial. O 
aroma, a textura, o sabor e a consistência 
influenciam na palatabilidade (Bradshaw et al, 
1996). Estudos sobre as preferências dos gatos 
em relação ao paladar revelam maior aceitação de 
alimentos com sabor mais acidificado, enquanto 
alimentos mais doces apresentam menor 
aceitação. Além disso, os nutrientes que 
compõem o alimento influenciam fortemente a 
palatabilidade(Delaney, 2006; Michel, 2001; 
Washabau, 2012).
 As características físicas do alimento 
também interferem na aceitação. Os gatos 
preferem dietas mais úmidas, pois favorecem a 
liberação de odores e são mais palatáveis. Dietas 
secas e com presença de pó são menos aceitas. 
Alimentos na temperatura ambiente ou corporal 
osão mais preferidos e alimentos abaixo de 15 C e 
oacima de 50 C tendem a ser rejeitados. A 
aceitação de uma dieta também envolve 
características individuais e podem ocorrer 
respostas diferentes a uma mesma dieta devido a 
algum componente genético ou experiências 
prévias (Beaver, 2003; Bradshaw et al, 1996; 
Zaghni; Biagi, 2005).
serotonina, a dopamina e a ação 
das próprias catecolaminas nos 
receptores beta-adrenérgicos agem 
como estímulos inibitórios no consumo 
da dieta (Marks, 1997).
 A saciedade está relacionada ao 
estado de absorção e a fome está associada 
com o estado pós-absortivo, quando os níveis 
de nutrientes absorvidos são capazes de 
estimular ou inibir a ingestão de acordo com a 
necessidade. A distensão do trato gastrointestinal, 
pr inc ipalmente estômago e duodeno, é 
considerada um sinal relacionado à saciedade, já 
os nutrientes que compõem a ingesta e são 
absorvidos no intestino delgado parecem ser o 
estímulo mais importante para que ocorra a 
redução na ingestão de alimento (Michel, 2001). 
 A alimentação pode ser dividida em três 
etapas: início, manutenção e término. A primeira 
fase, ou início, está fortemente relacionada com 
estímulos externos visuais, olfatórios, táteis ou 
auditivos, associados à alimentação. Já o término 
da refeição é influenciado, principalmente, por 
estímulos pós-ingestão, como absorção de 
nutrientes e distensão gástrica. Esse estímulo pós-
ingestão ocorre por meio de receptores que, via 
nervo vago, enviam sinais de feedback para o SNC 
(Michel, 2001; Washabau, 2012).
 A anorexia pode resultar tanto de 
circunstâncias que interferem no início da ingestão 
do alimento quanto de situações que promovam 
estímulos negativos. Situações que impeçam a 
expressão de comportamentos aprendidos e 
fatores do ambiente de convívio do gato culminam 
na interrupção da ingestão do alimento (Michel, 
2001; Washabau, 2012). 
 A compreensão dos vários estímulos 
envolvidos na fisiologia da regulação da 
alimentação do gato facilita a avaliação e manejo 
do paciente felino anoréxico. Diversos estímulos 
internos e externos estão integrados e fazem 
parte do complexo sistema de regulação do início, 
manutenção e término da ingestão de alimento, e 
são responsáveis por atuar em diferentes áreas do 
sistema nervoso central (SNC) (Washabau, 2012). 
 A ingestão e o apetite são controlados 
pelo hipotálamo. O hipotálamo lateral é 
considerado o centro da alimentação, em que 
estímulos elétricos e adrenérgicos resultam em 
aumento da ingestão. Já o h ipotálamo 
ventromedial exerce um efeito inibitório sobre a 
alimentação, controlando a saciedade, ou seja, a 
estimulação dessa área provoca anorexia e até um 
quadro de hiperfagia quando há destruição do 
hipotálamo ventromedial (Beaver, 2003). Os 
níveis de neurotransmissores no SNC são 
influenciados pela concentração de aminoácidos. 
Os neurotransmissores que estimulam a ingestão 
de alimento são as catecolaminas que atuam nos 
receptores alfa-adrenérgicos e os opioides. A 
2.2 Patofisiologia da anorexia
 A anorex ia pode 
ocorrer devido a ação de 
certas citocinas, como fator de 
n e c ro s e t u m o ra l ( T N F � ) , 
interleucina (IL) e interferon, nos 
centros de saciedade no SNC. Além 
disso, a lgumas substâncias que 
normalmente seriam metabolizadas e 
e l iminadas podem permanecer na 
circulação e provocar um quadro anoréxico, 
como nos casos de uremia (Chan, 2009). Dor 
crônica pode causar um estímulo negativo 
direto, reduzindo a ingestão de alimento, ou levar 
a fatores que resultem na redução do apetite, 
como náusea, dor ou desconforto no ato de 
ingerir o alimento. O uso de determinados 
medicamentos também pode causar redução do 
apetite e, até mesmo, anorexia em alguns gatos, 
como amoxicil ina, cefalexina, ampicil ina, 
c loranfenicol , er i tromicina, tetracic l ina, 
su l fametoxazo l /t r imetopr im , d igox ina , 
melox icam, predn isona , doxorrub ic ina , 
metotrexato, morfina, codeína e penicilamina 
(Chan, 2009; Washabau, 2012). Qualquer 
mudança de rotina na vida do gato, estresse 
advindo de diversas situações ou doenças podem 
interferir diretamente no desenvolvimento de 
anorexia (Washabau, 2012). Além disso, as mais 
variadas enfermidades podem desencadear o 
quadro anoréxico no paciente felino, como 
d o e n ç a s i n f e c c i o s a s , i n fl a m a t ó r i a s , 
degenerativas, metabólicas e neoplásicas (Chan, 
2009; Washabau, 2012).
 As compl icações encontradas em 
pacientes anoréxicos variam de acordo com a 
doença causadora, duração do sinal e a gravidade 
do quadro As mais comuns são desidratação, má .
nutrição e perda de peso e da massa muscular. 
Animais com perdas de mais de 25% da massa 
magra apresentam comprometimento na 
imunidade, na cicatrização de feridas, na força 
óssea e na capacidade respiratória, levando a uma 
piora no prognóstico geral e aumentando a 
severidade da doença de base (Chan, 2009).
 A anorexia pode levar a desbalanços 
nutricionais e deficiência de certos nutrientes que 
resultam na manifestação de diversos sinais 
clínicos: ptialismo, vômito, hiperestesia e tremores, 
em casos de deficiência de arginina; degeneração 
na retina, cardiomiopatia dilatada, problemas 
reprodutivos e atraso no crescimento em filhotes, 
em casos de insuficiência de taurina; dermatite, 
pelo seco, anemia, problemas reprodutivos e 
atraso no crescimento de filhotes, em casos de 
falta de ácido araquidônico; degeneração 
retiniana, fraqueza, má qualidade de pelagem e 
redução do crescimento em filhotes, em casos de 
falta de vitamina A (Crystal, 2011).
 Outra importante complicação da redução 
ou interrupção da ingestão de alimentos é uma 
possível alteração na barreira da mucosa intestinal, 
que aumenta o risco de translocação bacteriana e 
a passagem de toxinas do intestino para a 
circulação (Crystal, 2011).
 
 Já a lipidose hepática é uma das principais 
consequências da anorexia, sendo caracterizada 
pelo acúmulo de triglicérides no interior de mais de 
80% dos hepatócitos e colestase. Há mobilização 
de tecido adiposo e, consequentemente, acúmulo 
de triglicérides no fígado, correlacionado com 
diversos fatores, como deficiência de arginina, 
carnitina, vitaminas do complexo B e aminoácidos 
essenciais necessários para o metabolismo lipídico 
hepático (Center, 2005; Crystal, 2011; Teixeira, 
2016). 
2.3 Tipos de anorexia
 A anorexia pode ser classificada em 
primária, secundária ou pseudoanorexia, de 
a c o r d o c o m s e u s m e c a n i s m o s d e 
desenvolvimento (Abrams-Ogg, 2006). 
 A anorexia primária ocorre em decorrência 
de distúrbios neurológicos que afetam os centros 
do apetite e saciedade. Lesões no hipotálamo 
lateral podem provocar redução na ingestão de 
alimento (Beaver, 2003).
 A anorexia secundária pode ser dividida 
em não patológica, quando é causada por 
mudanças na rotina, alimento ou ambiente; e em 
patológica, que provém de doenças que levam à 
redução da ingestão calórica. A forma patológica 
é a mais comum em gatos e diversas doenças 
podem desencadear um quadro anoréxico 
(Lappin, 2001; Abrams-Ogg, 2006).
 Na pseudoanorexia o animal tem apetite, 
mas resiste em se alimentar pela presença de 
enfermidades que causam dor oral ou faríngea ou 
doenças que dificultam a apreensão e deglutição 
(Abrams-Ogg, 2006).
2.4 Consequências da anorexia
2.5 Diagnóstico
 A anorexia pode ser gerada por diversas 
circunstâncias e/ou enfermidades, sendo, muitas 
vezes, desafiador o diagnóstico da provável 
origem do quadro. O diagnóstico envolve 
anamnese detalhada, realização de exame físico 
completo, incluindo análise da condição corporal, 
assim como vários exames complementares.Dessa forma, o diagnóstico é um aspecto 
importante, inclusive para que a terapêutica 
escolhida seja a correta. O histórico sobre 
mudanças na rotina do gato, medicações em uso, 
tipo de dieta e doenças prévias é de suma 
importância na análise diagnóstica de anorexia 
(Mackin; Ward, 2008; Washabau, 2012).
1 – Costelas visíveis em gatos de pelo curto; ausência de 
tecido adiposo palpável; severa profundidade do flanco; 
vérteras lombares e asas do íleo facilmente palpáveis. (Escore: 
Muito magro/ Anoréxico)
2 – Costelas visíveis em gatos de pelo curto; vértebras lombares com 
mínima cobertura de massa magra; profundidade do flanco bem 
pronunciada; sem cobertura de tecido adiposo palpável. (Escore: Muito 
magro/ Anoréxico)
3 – Costelas facilmente palpáveis e com mínima cobertura de tecido 
adiposo; vértebras lombares aparentes; cintura pronunciada caudal às 
últimas costelas; mínima gordura abdominal. (Escore: Muito magro/ 
Anoréxico)
4 – Costelas facilmente palpáveis e com mínima cobertura de tecido 
adiposo; cintura visível caudal às últimas costelas; flanco levemente 
aprofundado. (Escore: Muito magro/ Anoréxico)
5 – Partes corporais proporcionais entre si; presença de cintura caudal às 
últimas costelas; costelas palpáveis com moderada cobertura adiposa; 
moderada quantidade de tecido adiposo abdominal. (Escore: Ideal)
6 – Costelas palpáveis com discreta cobertura adiposa; cintura dificilmente 
visualizada, ausência da definição da região do flanco. (Escore: 
Sobrepeso/ Obeso)
7 – Costelas dificilmente palpáveis e com moderada quantidade de tecido 
adiposo; cintura quase inexistente; óbvio arredondamento do abdome; 
acúmulo de gordura abdominal. (Escore: Sobrepeso/ Obeso)
8 – Costelas não palpáveis e com excesso de tecido adiposo; ausência de 
cintura; abdome arredondado e com elevada quantidade de gordura; 
acúmulo de tecido adiposo na área lombar. (Escore: Sobrepeso/ Obeso)
9 – Costelas não palpáveis e com muito tecido gorduroso; inúmeros 
depósitos de gordura nas áreas lombar e facial, e nos membros; 
Figura 1. Escore de Condição Corporal dos Gatos – Adaptada de Freeman et. al., 2011
1
2
3
4
5
2.6 Manejo da anorexia
O manejo do paciente anoréxico 
deve ser pautado na busca da 
causa da anorexia e intervenção 
terapêutica da enfermidade de base, 
assim como das possíveis complicações, 
caso existam. Nos casos de doença 
crônica ou condição clínica de difícil 
resolução, o manejo da anorexia se torna uma 
tarefa desafiadora e complexa devido aos 
efeitos negativos da ingestão inadequada de 
nutrientes por longos períodos de tempo 
(Washabau, 2012). Após realização dos cuidados 
iniciais para estabilização do paciente, a terapia 
nutricional deve ser instituída (Delaney, 2006).
 O suporte nutricional é indicado nos casos 
em que há perdas maiores do que 10% do peso 
corporal em adultos e maiores do que 5% em 
filhotes, assim como nos casos de anorexia 
persistente em adultos (mais de 3 dias) e em 
filhotes (1 a 2 dias), e nos quadros de incapacidade 
do paciente em se alimentar. Entretanto, gatos 
extremamente malnutridos ou que apresentem 
sinais clínicos compatíveis com lipidose hepática 
felina devem receber suporte nutricional o mais 
rápido possível. Portanto, cada paciente deve ser 
avaliado individualmente para definir como será 
realizado o suporte nutricional (Michel, 2001; 
Crystal, 2011).
 Os nutrientes podem ser fornecidos ao 
paciente por meio de várias técnicas, como: 
al imentação parenteral total ou parcial ; 
alimentação enteral assistida; ou por meio de 
tubos de alimentação, com o uso de sondas 
nasoesofágica, esofágica, gástrica, além de 
jejunostomia e intubação orogástrica intermitente. 
A escolha da técnica irá depender de diversos 
fatores, entre eles a condição clínica do gato e o 
tempo provável de utilização do suporte 
nutricional. O fornecimento de nutrientes por via 
enteral é considerado a melhor opção, já que 
permite a manutenção da saúde da mucosa 
intestinal e a absorção e utilização de nutrientes 
por método mais natural (Crystal, 2011).
Tempo de Utilização Vantagens
Oral ou 
alimentação 
assistida
Tempo indeterminado.
É o método mais fisiológico; 
não necessita de equipamentos 
especiais.
Tabela 4 – Principais vias para suporte nutricional enteral em gatos – Adaptado de Hall et al, 2005; Teixeira, 2016.
Via Desvantagens
Principais vias para suporte nutricional enteral em gatos
Observações
Estressante; animais 
anoréxicos ou com dor 
tendem a recusar essa via; 
dificuldade em atingir 
as necessidades calóricas.
Pode induzir a 
aversão aprendida.
Sonda 
nasoesofágica Curto período: 2 a 3 dias.
Rapidamente implantada; pode 
ser usada somente com anestesia
 local; baixo custo; não necessita 
de sedação; permite alimentação 
espontânea concomitante.
Gera desconforto no 
paciente; possibilidade 
de uso de colar elizabetano;
grande diluição do alimento; 
probabilidade de lesão nasal
e faringiana; entupimento da 
sonda; possibilidade de 
vômito e retroflexão da 
sonda; pneumonia 
por aspiração.
Contraindicado para gatos 
em coma e não recomendado 
para pacientes com 
trombocitopenia severa.
Sonda 
esofágica
Pode ser mantida 
por semanas ou meses.
Fácil colocação; não necessita 
de grande diluição de alimento;
o próprio tutor pode alimentar 
o gato; confortável para o 
animal; permite alimentação 
espontânea concomitante.
Indispensável o 
acompanhamento
diário do animal; 
troca de curativo
diário; necessidade
 de sedação; estenose de 
esôfago; esofagite; 
possibilidade de vômito e 
retroflexão da sonda; 
pneumonia por aspiração; 
celulite; regurgitação
da sonda; sangramento 
no sítio de implantação.
A sonda não interfere na ingestão 
do alimento, ou seja, os gatos 
podem voltar a se alimentar 
mesmo com a sonda.
Sonda 
gástrica
Pode ser mantida por 
semanas ou meses.
Via indicada na presença de 
doenças orais ou esofágicas; 
via de fácil acesso após 
implantação; digestão eficiente; 
lúmen largo da sonda permite 
opções alimentares; facilidade 
na alimentação.
Necessita de equipamento 
especial e maior habilidade 
para implantação; anestesia 
geral (endoscopia ou 
laparatomia); morte por 
distúrbios metabólicos; 
vômito pós-prandial; diarreia; 
celulite; hemorragia gástrica;
pneumoperitônio; peritonite; 
laceração esplênica.
As complicações apresentam 
maior gravidade, como 
a peritonite.
Jejunostomia
Não é tolerada por 
longos períodos.
Ótima opção para gatos com
vômitos constantes e 
doenças gástricas.
Equipamentos especiais e 
anestesia geral são 
necessários para implantação.
O fornecimento da dieta 
deve ser feito de forma 
contínua; superenchimento 
do intestino.
 O s u p o r t e n u t r i c i o n a l d eve s e r 
devidamente calculado e a forma de iniciar a 
alimentação deve ser criteriosa para evitar a 
s í nd rome da rea l imentação , cond ição 
potencialmente letal que é caracterizada por 
severo desequilíbrio hidroeletrolítico e ácido-
básico, mediante à rápida adaptação metabólica 
exigida em pacientes mal nutridos ou anoréticos 
no início da realimentação oral, enteral ou 
parenteral. Em animais muito malnutridos os 
níveis circulantes de insulina são baixos e a síntese 
de adenosina trifosfato (ATP) é mínima, dessa 
forma, após o início do fornecimento de energia 
há o aumento de insulina, captação intracelular 
de glicose e eletrólitos e produção de ATP, 
r e s u l t a n d o e m d e p l e ç ã o d e f ó s f o r o , 
hipofosfatemia, fraqueza muscular e hemólise 
(Chan, 2009).
 A anorexia é uma alteração 
c l ín ica f requente e de grande 
importância na medicina felina, uma vez 
que pode ser tanto causa quanto 
consequência de várias enfermidades nessa 
espécie. Logo, o diagnóstico precoce de sua 
provável origem e abordagem terapêutica 
adequada corroboram para o sucesso do 
manejo do paciente felino anoréxico.
3. Considerações finais
 A estratégia do uso de alimentos 
palatáveis e frescos, assim como 
aquecimento de alimentos úmidos, pode 
ser efetivapara estimular a alimentação 
desses pacientes anoréxicos. Em alguns 
casos, pode-se optar por estimulantes de 
a p e t i t e , c o m o m i r t a z a p i n a e 
ciproeptadina. A irresponsividade à 
estimulação do apetite por meio de 
fármacos infere na descontinuidade dos 
mesmos, necessitando fortemente do 
breve estabelecimento de suporte 
nutricional (Delaney, 2006; Weeth, 2010). 
O controle de dor, vômito e náusea 
também auxiliam o paciente anoréxico 
(Crystal, 2011). O manejo ambiental, 
buscando reduzir fatores estressantes, 
também é grande aliado no tratamento 
do gato anoréxico (Delaney, 2006; 
Weeth, 2010).
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