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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL EDUCAÇÃO INFANTIL: DA NEGLIGÊNCIA AO COMPROMISSO COM A ORGANIZAÇÃO E AÇÃO PEDAGÓGICA Maria Mirasselva Soares da Silva Freixo FUESPI 2015 Ficha elaborada pelo Serviço de Catalogação da Biblioteca Central da UESPI Nayla Kedma de Carvalho Santos (Bibliotecária) CRB 3ª/1188 Freixo, Maria Mirasselva Soares da Silva Educação infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica / Maria Mirasselva Soares da Silva Freixo - Teresina: FUESPI, 2015. 82p. ISBN 978-85-8320-080-2 Material de apoio pedagógico ao Curso de Especialização em Educação Infantil do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí – NEAD/UESPI, 2015. 1. Estatuto da Criança e do Adolescente. 2. Gestão Escolar. 3. Prática Pedagógica. I. Título. CDD 370.11 F862e Presidente da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação Cid Ferreira Gomes Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC Jear Marc Georges Mutizig Governador do Piauí José Wellington Barroso de Araújo Dias Secretária Estadual de Educação e Cultura do Piauí Rejane Ribeiro Sousa Dias Reitor da FUESPI – Fundação Universidade Estadual do Piauí Nouga Cardoso Batista Vice-reitora da FUESPI Bárbara Olímpia Ramos de Melo Pró-reitora de Ensino e Graduação – PREG Ailma do Nascimento Silva Coordenadora da UAB-FUESPI Margareth Torres de Alencar Costa Coordenadora Adjunta da UAB-FUESPI Naira Lopes Moura Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP Geraldo Eduardo da Luz Júnior Pró-reitor de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX Luiz Gonzaga Medeiros de Figueiredo Júnior Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD Raimundo Isidio Sousa Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN Benedito Ribeiro da Graça Neto Coordenadora do curso de Especializacão em Educação Infantil Maria do Rosário de Fátima de Alencar Albuquerque Edição UAB - FNDE - CAPES UESPI/NEAD Diretora do NEAD Margareth Torres de Alencar Costa Diretora Adjunta Ailma do Nascimento Silva Coordenadora do Curso de Especialização em Educação Infanti: Infância e Instituição Escolar Maria do Rosário de Fátima de Alencar Albuquerque Coordenadora de Tutoria Maria do Amparo Holanda da Silva Coordenadora de Produção de Material Didático Maria do Socorro Rios Magalhães Autora do Livro Maria Mirasselva Soares da Silva Freixo MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/ FUESPI UAB/UESPI/NEAD Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá), NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150, Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182 Web: ead.uespi.br E-mail: eaduespi@hotmail.com Revisão Maria do Amparo Holanda da Silva Raimundo Isídio de Sousa Diagramação Jhayson Phillipe Santos Soares de Lima Vilsselle Hallyne Bastos de Oliveira Capa Pedro Leonardo de Sousa Magalhães SUMÁRIO UNIDADE 1 - FRAGMENTOS HISTÓRICOS SOBRE OS ESTUDIOSOS DA CRIANÇA E SUA EDUCAÇÃO: DO SÉCULO XXI .............................. 9 1.1 Jean Jacques Rousseau (Século XVIII) ..............................................11 1.2 Johnn Heinriche Pestalozzi (Século XVIII-XIX) ...................................14 1.3 Friedrich Froebel (Século XIX) ........................................................... 16 1.4 Jean Ovide Decroly (Século XIX-XX) ................................................. 19 1.5 Maria Montessori (Século XIX-XX) ..................................................... 23 1.6 Celestin Freinet (Século XX-XXI) ....................................................... 26 1.7 Jean Piaget (Século XX-XXI) ............................................................. 29 1.8 L. S. Vigotsky (Século XX-XXI) .......................................................... 34 UNIDADE 2 - DO DIREITO À EDUCAÇÃO INFANTIL À ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO ............................................................. 39 2.1 A criança negligenciada do ponto de vista do Estado Brasileiro .........41 2.2 O resgate do compromisso do Estado com a Educação Infantil.........44 2.2.1 A Constituição Brasileira de 1988 .................................................... 45 2.2.2 Estatuto da Criança e do Adolescente ..............................................49 2.2.3 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (1996) ................ 51 2.2.4 Resolução no 5 de 2009 da CNE/ CEB ............................................ 56 2.3 Organização e gestão da escola ........................................................ 58 2.3.1 Organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil ............. 62 2.3.1.1 Rotina ........................................................................................... 66 2.3.1.2 Relação espaço/ tempo ................................................................ 70 Referências .............................................................................................77 UNIDADE 1 FRAGMENTOS HISTÓRICOS SOBRE OS ESTUDIOSOS DA CRIANÇA E A SUA EDUCAÇÃO: DO SÉCULO XVIII AO XXI OBJETIVOS • Formar uma linha do tempo sobre o atendimento à criança nos diferentes séculos para a compreensão das transformações ocorridas. • Mostrar as contribuições dos estudiosos sobre as preocupações com a educação das crianças pequenas nos diferentes momentos históricos (XVIII, XIX, XX e XXI). • Analisar comparativamente os avanços do atendimento à criança nas passagens de cada século, conforme mencionado acima. 1 FRAGMENTOS HISTÓRICOS SOBRE OS ESTUDIOSOS DA CRIANÇA E A SUA EDUCAÇÃO: DO SÉCULO XVIII AO XXI Reunir alguns estudiosos sobre a criança e as preocupações com sua educação foram necessários para facilitar a você formar uma linha do tempo. Para tanto, escolhi como diretriz os principais educadores em cada época histórica e, ao mesmo tempo, optei por provocar reflexões sobre a concepção que cada um apresentou sobre a criança e a organização do trabalho pedagógico, como: Jean Jacques Rousseau (XVIII), Johnn Pestalozzi (XIX), Friedrich Froebel (XIX), Ovide Decroly (XIX/XX), Maria Montessory (XX), Celestin Freinet (XX/XXI), Jean Piaget (XX/XXI), L.S. Vygotsky (XX/XXI) 1.1 JEAN JACQUES ROUSSEAU (XVIII): Este filósofo nasceu em Genebra, na Suíça, no ano de 1712 e faleceu no ano de 1778. Foi influenciado pelas ideias iluministas, cuja essência principal era a supremacia da razão em detrimento do “divino”. Viveu numa época de grandes transformações em busca de uma nova “ordem social”. As suas obras principais dão significado ao seu pensamento. É o caso do [...] “Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens; Do contrato social, ambos sobre política e Emílio ou da educação (1762)” (ARANHA, 2006, p. 208). Na história da educação podemos afirmar que existe um efeito Rousseau, uma vez que o grande pensador abalou os velhos costumes e defendeu a idéia de que a verdadeira finalidade da Fonte:http://pensadordelamancha.bl ogspot. com.br/2010/06/jean- jacques-rousseau- 1712-1778-e- as.html Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 10 educação é ensinar a criança a viver e aprender a exercer a liberdade. (NICOLAU, 1994, p. 26). Rompe-se assim com alguns séculos de concepções arcaicas sobre a ideia de a criança ser considerada um “adulto em miniatura”. Há uma verdadeira inversão de atitudes em relação à criança e a sua educação. Há, por exemplo, o deslocamento do eixo da ação pedagógica, uma vez que a criança se torna a base dessa ação, e o professor apenas é o facilitador do processo educacional, sempre tendo como ponto de partida a consideração da criança como um ser ímpar, com desenvolvimentovariando de indivíduo para indivíduo, com ritmos próprios, merecendo respeito quanto a estas variações. Com todas essas inovações, Rousseau foi considerado o pai da Pedagogia Moderna. Influenciado pelo século das luzes, este filósofo considerava a criança um ser inocente e bom, com desenvolvimento espontâneo e natural. Achava também que a educação dada nas instituições poderia comprometer a evolução natural desse desenvolvimento espontâneo e natural. Achava também que a educação dada nas instituições poderia comprometer a evolução natural desse desenvolvimento. Ele foi contra a concepção da sua época sobre a natureza má dos indivíduos [...] a educação das crianças pequenas beneficiou-se das colocações de Rousseau (1712 a 1718) acerca do naturalismo e da necessidade da criança experimentar desde cedo coisas e situações de acordo com o seu próprio ritmo, com o seu processo maturacional [...] (OLIVEIRA (org.) 2001, p. 14). A influência deste grande educador foi além do seu século, e o legado deixado por ele fez avançar o conhecimento sobre a criança como um ser pleno. Diante de tantas contribuições recebeu o título de precursor da Escola Nova. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 11 Nesse contexto, é importante destacar a situação do Brasil no mesmo século das transformações provocadas por este importante filósofo. Predominava aqui a pedagogia jesuítica de tendência tradiciolanista e colonialista, [...] dela estava excluída o povo e foi graças a ela que o Brasil se tornou, por muito tempo, um país da Europa, com os olhos voltados para fora, impregnado de uma cultura intelectual transplantada e alienante [...] (ROMANELI, 1978, p. 35). Além do predomínio no Brasil da pedagogia jesuítica no século XVIII, fator este que dificultava o avanço do conhecimento inovador sobre a criança e a sua educação, havia o agravamento da situação causada por Portugal, que proibiu o Brasil de manter relações com outros países. Esta situação de isolamento vai até o final do século XVIII, isto porque, no início do século XIX, aconteceu a abertura dos portos (1808) no Brasil. SAIBA MAIS A Escola Nova é um movimento que surgiu no final do século XIX e buscou superar a visão universalista do ser humano por uma visão de indivíduo singular, que tem problemas num mundo em constante transformação e por isso a educação o tem como o centro do processo educacional respeitando o seu ritmo de desenvolvimento. LEITURA COMPLEMENTAR Para complementar seu conhecimento sobre Jean Jacques Rousseau e a educação infantil, consulte: http://www.fe.unicamp.br/revistas/ged/rfe/article/ viewFile/3701/3389 E a obra de Rousseau: Emílio ou Da educação. Tradução: Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 12 ATIVIDADE Com as informações do texto sobre Rousseau e as fontes de leitura indicadas, chegou o momento de você refletir e responder: Por que foi tão importante este filósofo romper com a visão da criança como um “adulto em miniatura”? O que mudou no tratamento da criança, e que pode ser considerada como fundamento importante? 1.2 JOHN HENRICH PESTALOZZI (XVIII E XIX): Este grande educador nasceu em Zurique, em 1746, e faleceu em 1827. Foi discípulo de Rousseau, seguindo alguns de seus pressupostos, mas criou seus próprios. Acreditava no grande poder de transformação do homem pela educação. Foi por acreditar no seu poder de transformação que investiu tanto na educação dos mais pobres, fato este que lhe valeu muitos admiradores em várias partes do mundo. As suas obras principais retratam bem a sua preocupação com os mais pobres, como é o caso de “Leonardo e Gertrudes (1781) e Gertrudes instrui seus filhos (1801)” (ARANHA, 2006, p. 211). Pestalozzi incentivava a ação da criança sobre os objetos no ambiente escolar por considerar que a sua manipulação geraria experiências vivas e facilitadoras da aprendizagem através dos órgãos sensoriais, a intuição e a espontaneidade. O potencial da criança só precisaria de estímulos para se manifestar e se desenvolver. [...] Também preocupado com a idéia de educação pelos sentidos, Pestalozzi propunha para as crianças pequenas Fonte:http://frankvcarvalho.blog- spot.com.br/2011/10 /johann-hein- rich-pestalozzi-educador.html FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 13 atividades de música, arte, soletração, geografia, aritmética, e muitas atividades de linguagem oral e de contato com a natureza. Ele levou adiante as idéias de prontidão – já presente em Rousseau – e da organização graduada do conhecimento, do mais simples para o mais complexo, que já apareceu em Comenius. (OLIVEIRA, 2001, p. 14). Ao mesmo tempo em que primava por uma educação natural, a organização das atividades seguia uma ordem. [...] Quando criou um orfanato para crianças pobres em Stanz, defendia que a educação deveria ocorrer em um ambiente o mais natural possível, sob um clima de disciplina estrita mais amorosa o que contribuiria para o desenvolvimento do caráter infantil.(OLIVEIRA, 2001, p. 14). [...] Pestalozzi condenava a coerção, as recompensas e punições. Problemas disciplinares eram discutidos a noite. (p.29). Inova quando insere a psicologia na educação como mais um instrumento promissor na compreensão do desenvolvimento individual e social. Pestalozzi estende também esta inovação ao abordar a questão da formação do professor como parte integrante da organização pedagógica. Considerou ainda a família como o esteio para o desenvolvimento afetivo da criança. Destacou a religião como um instrumento que serve para o alcance da plenitude humana preparando-a para também “[...] não se submeter a dogmas, nem a seita” (ARANHA, 2006, p.212). Vê se que a contribuição de Pestalozzi ultrapassa as concepções rousseanianas nos aspectos pedagógicos, ambiente escolar, educação, etc., sempre numa direção cada vez mais esclarecedora sobre a criança e a preocupação com a educação desta. ATIVIDADE Este é o segundo estudioso visto por você no subitem 1.2. Destaque e discorra sobre o que você percebeu de mais importante no tratamento da criança. Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 14 1.3 FRIEDRICH FROEBEL (XIX E XX): Este pensador da infância nasceu na cidade Oberweissbach na Alemanha, em 1782 e faleceu em 1852. Como discípulo de Pestalozzi, deu continuidade ao trabalho deste, entretanto, logo se distancia e revoluciona a concepção de criança e educação. Sua obra principal é a Educação do Homem. Sobre a criança, ele diz que o desabrochar está na estreita dependência da estimulação do meio externo e que a educação tem grande responsabilidade em fazer aflorar as potencialidades da mesma, para tornar a criança um ser consciente e ajustado no seu tempo e na sociedade em que vive para o alcance da sua individualidade. Friedrich Froebel pode ser considerado o pedagogo da infância, por ter priorizado, durante toda a sua vida, o processo de descortinar a criança, conhecê-la em seus interesses, em suas condições e necessidades para poder adequar a educação, as instituições educativas na garantia do afloramento desses seres. (ANGOTTI, 2002, p.7). A autorrealização da criança, segundo este educador, está condicionada às oportunidades oferecidas pelo ambiente, que se constituiria na mola propulsora da formação do autoconhecimento. A falta das oportunidades comprometeria o vir a ser, o florescer do surgimento das potencialidades latentes na criança. Froebel considerou a educação com grandes poderes na constituição do futuro indivíduo tendo em vista que [...] a educação é o processo pelo qual o indivíduo desenvolve a condição humana autoconsciente com os seus poderes, suas capacidades funcionando completa e harmonicamente, em relação à natureza e à sociedade em que vive [...] (ANGOTTI, 2002, p.8). FUESPI/ NEAD Especialização em EducaçãoInfantil 15 LEITURA COMPLEMENTAR Froebel e os jardins de infância Friedrich Wilhelm August Froebel (1782–1852), pedagogo alemão, foi o fundador dos jardins de infância – os Kindergartens – cujos preceitos serviram de modelo institucionalizado, de alcance internacional, à educação pré-escolar. O primeiro jardim de infância foi fundado por Froebel em 1840. O nome Kindergarten, ou jardim de crianças, está relacionado à ideia de jardim, local em que se cultivam plantas, que são as almas das crianças, uma analogia ao que Deus fez com as plantas da natureza, ideia fortemente alicerçada nos princípios religiosos de Froebel. Por essa razão, as professoras são chamadas de jardineiras. Froebel teve o cuidado de evitar a palavra “escola”, para diferenciar sua instituição destinada às crianças pequenas das instituições escolares (ARCE, 2002). O Brasil não esperou respirar os ares republicanos para abrir os primeiros jardins de infância. No setor privado, no Rio de Janeiro é fundado, em 1875, o primeiro jardim de infância do País, no Colégio Menezes Vieira e, em 1877, em São Paulo, na Escola Americana. No setor público, já no período republicano, foi fundado em 1896, em São Paulo, o Jardim da Infância Caetano de Campos (KUHLMANN, 2010). Há outros registros de jardins de infância no Rio de Janeiro, ainda no Império. Em “[...] 1883, o professor Hemetério José dos Santos pede autorização à Inspetoria de Instrução Pública para abrir colégio de instrução primária com jardim de infância anexo, [...]”. No Almanack Laemmert de 1887, aparece a propaganda do Colégio Froebel, dirigido pelo professor Hemetério, “[...] – escola mista dividida em três seções: jardim de infância, instrução primária, instrução secundária” (BASTOS, 2011, p. 23). Para melhor compreensão do tema, consultar o artigo Princípios Froebelianos: permanências no currículo da educação infantil na rede pública de Florianópolis, de Patrícia Regina Silveira de Sá Brant e Gladys Mary Ghisoni Teive. Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 16 O principio básico para que essa condição aflore, é a prática de atividades para promover a auto-realização da criança que por direcionar seus próprios interesses e vivências tem a oportunidade de se autoconhecer através do “aprender a aprender”. Este princípio rejeita toda e qualquer proposta pedagógica que não esteja a serviço da criança e dos seus interesses. O lúdico sempre foi o recurso principal como, por exemplo, jogos, brincadeiras, pintura, jardinagem, etc. As idéias froebelianas não ficaram restritas à Europa. Aqui no Brasil, no final do século XIX, mesmo acontecendo de forma incipiente, provoca algumas mudanças na educação de crianças, restrita ao Rio de Janeiro e em São Paulo. De acordo com Angotti (2002), as instituições froebelianas no Rio de Janeiro (1875) e a de São Paulo (1877) fizeram adaptações às atividades sugeridas por este educador. A instituição do Rio de Janeiro rejeitava algumas atividades por considerá-las inadequadas às crianças, e a de São Paulo tinha um processo híbrido, ou seja, “[...] utilizou- se da metodologia propagada por Pestalozzi e das atividades sugeridas por Froebel [...]” (p.3). Vale lembrar que nesta mesma época o Brasil estava no segundo reinado (1840 – 1888) e contava com parcos investimentos na educação da infância que, neste momento, eram basicamente inexistentes. No mesmo período, com os atrasos econômico, social, educacional, político, e ainda com a extrema dependência em relação a outros países “o Brasil havia chegado ao século XX como uma República de segunda classe” (XAVIER, RIBEIRO, NORONHA, 1994, p. 2002). Glossário Potencialidades: são capacidades que tem o seu desenvolvimento atingido à sua completude. Autorealização: o indivíduo atinge por si mesmo, mediante estímulos externos a condição de realizar-se como pessoa. Autoconsciente: o indivíduo tem a capacidade de discernir, de perceber o mundo a sua volta. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 17 ATIVIDADE Vamos relembrar? Froebel foi considerado o criador do jardim de infância. Como você vê a dimensão desta contribuição nos cuidados com as crianças pequenas? 1.4 JEAN OVIDE DECROLY (XIX E XX): Este grande educador nasceu na Bélgica, no ano de 1871, e fale- ceu no ano de 1932. Formou-se em medicina e estudou neurologia na Bél- gica e na Alemanha. Foi também pedagogo. Revolucionou o trabalho com crianças no final do século XIX e inicio do século XX, ao criar os “centros de interesses” e também o método global. Ele influencia até hoje o universo da educação ao redor do mundo. Os “centros de interesse”, como a base para a ação pedagógica, renovou a prática e a organização do trabalho com crianças. Isto porque, a partir do contato com o meio, a criança selecionava os assuntos inter- ligados e voltados para os seus interesses. A partir dessas escolhas, as crianças eram divididas em grupos, respeitando-se a sua faixa etária, que ficava entre 3 a 6 anos. Fonte: http://educarparacresc er.abril.com.br/aprendi zagem/ovide-decroly- 307894.shtml Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 18 Diferente da pedagogia de Maria Montessori, sua contemporânea que antecipadamente preparava o ambiente de sala de aula com ativida- des para serem vivenciadas individualmente, Decroly propõe a ação pe- dagógica a partir do que a criança tem interesse. Consequentemente, os materiais didáticos e a própria didática são imprevisíveis e mais atraentes. A rotina escolar transcorria de forma dinâmica com as crianças di- vididas em grupos de acordo com seus interesses. Nesse processo, “[...] a criança passava por três momentos: o da observação, o da associação e o da expressão” (NICOLAU, 1994, p. 35). Para este educador, “a sala de aula está em toda parte, na cozinha, na oficina, na fazenda, na loja, na excursão, nas viagens [...]” (p.35). Saiba mais Conceitos em Decroly Observação “[...] deve ser considerado como uma atitude, chamando a atenção do aluno”; Associação “possibilita que o conhecimento adquirido por meio da observação seja compreendido em termos de tempo e de espaço”; Expressão “possibilitaria ao educando externar aquilo que aprendeu [...]”. (NICOLAU, 1994, p. 35) Vê-se que Decroly redimensiona a questão do ambiente de aprendizagem potencializando a ampliação das situações geradoras de futuras aprendizagens e, ao mesmo tempo, democratiza as oportunidades que poderão enriquecer e facilitar a aquisição do conhecimento, pois irá atender às necessidades da criança conforme o seu ponto de vista e interesse. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 19 LEITURA COMPLEMENTAR Sobre a utilização dos “centros de interesses” no processo de aprendizagem das crianças com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), leia o artigo intitulado “O centro de interesse e o comportamento de crianças com hiperatividade nas atividades físicas desenvolvidas em escolas públicas do Distrito Federal”, de Crispiniano de Souza Coelho. Disponível em: http://portalrevistas. ucb.br/index.php/efr/article/viewFile/1329/1016. Decroly também se diferencia de Maria Montessory quanto à per- cepção da realidade. Enquanto ela a considera por partes, Decroly só con- segue vê-la e entendê-la na sua forma global e concreta. Foi com essa visão que ele criou “[...] um novo método de leitura global. Além disso, ele atribui grande importância aos jogos educativos e às atividades naturais (trabalhos manuais, jardinagem, etc.)” (LAROUSSE CULTURAL, 1998, p. 1787). Esse grande educador abre o caminho para uma nova era da edu- cação, por isso foi cognominado de “pioneiro da chamada Educação Nova” (Ibidem). Essa titulação lhe faz justiça devido às grandes contribuições de Decroly no que concerne à compreensão da criança e da melhor forma de a educá-la como criança. O movimento escolanovista, antecedido por De- croly, surgiu no final doséculo XIX e [...] representa o esforço de superação da pedagogia da essência pela pedagogia da existência. Não se trata mais de submeter a pessoa a valores e dogmas tradicionais e eternos, nem de educá-la para a realização de sua “essência verdadeira”. A pedagogia da existência, segundo a qual a criança é o sujeito da educação, ocupa o centro do processo (pedocentrismo) [...] (ARANHA, 2006, p. 225). Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 20 GLOSSÁRIO Pedagogia da existência “volta-se para a problemática do indivíduo único, diferenciado, que vive, que interage em um mundo dinâmico” (ARANHA, 2006, p. 225). No Brasil, somente no século XIX, começa, de modo fragmentado e especulativo, o movimento denominado de “Escola Nova”. Nos anos 20, por exemplo, alguns intelectuais brasileiros vão aos Estados Unidos e Eu- ropa para tomarem conhecimento desse movimento. Assim é que nos anos 20, parte da intelectualidade ligada à burguesia e às classes médias passa a divulgar essa proposta educacional. Em 1924 chegam a criar a Associação Brasileira de Educação (XAVIER, RIBEIRO, NORONHA, 1994, p. 173). Influenciado pelos movimentos fora do Brasil, surge o “Movimento dos Pioneiros da Educação” em 1932, no ano da morte de Decroly. Este movimento foi encabeçado por educadores brasileiros importantes como Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira. Foi de grande im- portância, pois denunciava o caos na educação brasileira internamente e em relação aos países da Europa e Estados Unidos na área educacional. O Manifesto é um documento de política educativa em que, mais do que a defesa da Escola Nova, está em causa a defesa da escola pública. Suas diretrizes influenciaram o texto da Constituição de 1934, cujo capítulo sobre a educação resultou, porém, da conciliação entre as posições opostas de católicos e renovadores (STEPHANON; BASTOS, 2011, p. 31-32). É nessa conturbada situação educacional no Brasil que são transplantadas algumas ideias europeias da Escola Nova. Em sua obra A pré-escola em São Paulo – 1877-1940, Kishimoto revela ainda a tendência eclética na fundamentação pedagógica das instituições hoje conhecidas como pré-escolas com ênfase especial às propostas de Froebel, Montessori e Decroly (ANGOTTI, 2002, p.4). FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 21 Mesmo considerado inovador e com ideias avançadas sobre a criança e a educação, Decroly e outros idealizadores da nova escola não consideraram os determinantes sociais dos indivíduos, dando um caráter de neutralidade à relação entre educação e sociedade. Essa relação de neutralidade entre educação e sociedade está dentro da pedagogia liberal que foi influenciada pela doutrina liberal. Ao psicologizar a ação pedagógica, os educadores da Nova Escola desconsideraram as transformações sociais, econômicas e políticas no final do século XIX e a influência na vida dos indivíduos como crianças ou como adultos “[...] a ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois embora defenda a ideia de igualdade de oportunidades não leva em conta a desigualdade de condições [...]” (LIBÂNEO, 2009, p. 22). ATIVIDADE Responda de modo crítico: até que ponto os centros de interesse podem ser considerados inovadores na educação das crianças? 1.5 MARIA MONTESSORI (XIX – XX): Essa importante educadora, com influências até a atualidade, nasceu na Itália em 1870 e faleceu em 1952. Formou-se em medicina, depois se graduou em Pedagogia, Antropologia e Psicologia. Parte de estudos dos “anormais” para os ditos normais. Decroly, contemporâneo de Montessori, seguiu o mesmo caminho. Esta educadora, com influência positivista, transferiu sua herança acadêmica para o seu trabalho pedagógico. Suas obras publicadas em língua portuguesa foram: “A criança 1972”, Antropologia pedagógica (1907), Formação do homem (1949), Pedagogia científica: a descoberta da criança” (www.fae.ufmg.br/teoriaspedagógicas/obrasmontessorihtm, 2014) [...] sua grande marca foi a criação de materiais adequados a exploração sensorial pelas crianças e específicos a cada objetivo educacional. Foi ainda ela quem propôs que houvesse uma Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 22 diminuição do tamanho do mobiliário usado pelas crianças nas pré- escolas e a exigência de miniaturizar os objetos domésticos cotidianos a serem usados para brincar na casinha de boneca [...] (OLIVEIRA (org.) 2001, p.15). O aspecto negativo da educação Montessoriana, além do formalismo e ritualismo, é a despreocupação com a construção do ser social e a supervalorização do individual. Esse isolamento a que é submetido a criança não condiz com o seu espírito inventivo e lúdico. O silêncio, por exemplo, é o pré-requisito para a criança atingir o seu desenvolvimento interno. O silêncio tem uma enorme importância na escola montessoriana. Os efeitos do ruído são muito perniciosos. A ação coletiva estimula a disciplina imposta, de fora, e tem como conseqüência a apatia dos sentidos e o alarido das crianças [...] (NICOLAU, 1994, p.42). Apesar da tão propalada importância do silêncio, o método Montessoriano é considerado um dos primeiros métodos ativos, deslocando o privilégio do intelectualismo para segundo plano, elegendo as ações com atividades “motoras” e “sensoriais”. As atividades não são totalmente livres, pois a escolha acontece obedecendo a um parâmetro. A criança é livre, mas livre apenas na escolha dos objetos sobre que possa agir. Esses objetos são preestabelecidos, sempre os mesmos tópicos para cada gênero de atividade [...] (LOURENÇO FILHO, 1974 apud NICOLAU, 1994, p. 39). A preparação para a vida tão propagada por Montessori cai num reducionismo muito grande a partir do enfoque individualista, pois cria uma barreira para que a preparação para a vida aconteça. Isto porque, o indivíduo não vive para si mesmo e sim para uma coletividade, para uma sociedade, logo deveria estar sendo preparada para viver de forma plena. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 23 Sobre a educação com base cientifica desenvolvida por Montessori, é necessário destacar algumas críticas, O método da Pedagogia Científica aplicado à educação e seus outros livros contêm muitas prescrições consistentes e de bom senso, comprovadas na prática. Mas eles vinham embalados numa visão da infância que muitos achavam piegas. A autora parecia pensar na infância como um estado de quase santidade. Ninguém antes apresentara uma visão tão sublime da criança. Alguns leitores, mesmo enxergando o bom senso de seus métodos de ensino, não conseguiram concordar com suas idéias (POLLARD, 1993, p.49). [...] Para algumas pessoas, as idéias de sua criadora, apesar da retórica de amor às crianças eram frias e científicas demais [...] (POLLARD, 1993 p.52). GLOSSÁRIO Retórica é a “arte de discursar; conjunto de regras relativas à eloqüência.”(MELHORAMENTOS, 1997, p. 451) “volta-se para a problemática do indivíduo único, diferenciado, que vive, que interage em um mundo dinâmico” (ARANHA, 2006, p. 225). Um outro aspecto que deve ser refletido é a questão da independência da criança na educação Montessoriana. Esta independência deve voltar- se para ela mesma. “A criança deve ajudar aos outros, mas deve tratar de se bastar o máximo possível, recorrendo cada vez menos aos demais” (MONTESSORI, 1958 apud ANGOTTI, 2002, p. 29). Mesmo com tantas críticas, a educação Montessoriana ultrapassou a visão da criança como um adulto em miniatura. Entretanto, a criança perdeu a oportunidade de vivenciar com mais frequência e com os seus pares, atividades lúdicas, e a criança, segundo Montessori, deveria evitar ao máximo buscar a ajuda de outras pessoas. O ato de evitar desde cedo é cultivado no desenvolvimento das atividades quando há uma exacerbada valorização das atividades individuais. Educação Infantil: da negligência ao compromissocom a organização e ação pedagógica 24 De acordo com Angotti (2002), o Estado de São Paulo desde a década de 30 do século XX muda os programas de pré-escolares com base nos pioneiros da Nova Educação (Decroly, Montessori, Kilpatrick, Froebel). Vale dizer que, na atualidade, a educação Montessoriana ainda tem adeptos no Brasil, como nos Estados Maranhão, Piauí, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. ATIVIDADE Vamos refletir sobre as contribuições de Maria Montessori? Para tanto, é necessário que você explique o porquê das críticas negativas a seu trabalho, assim como as críticas positivas e, em seguida, faça as suas próprias sobre estes aspectos. 1.6 CELESTIN FREINET (XX E XXI): Nasceu na França em 1896 e faleceu em 1966. Sua formação era de professor primário. A intenção deste educador era propor uma educação sem amarras e sem subjugações. A sala de aula, por exemplo, poderia ser qualquer espaço, como no caso das “aulas passeios” que, além de serem prazerosas, despertavam o interessante quando surgiam situações inesperadas no decorrer do passeio. A “correspondência interescolar” também é inovadora e bastante arrojada, pois aproximava diferentes grupos sociais para troca de experiências. Fonte: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/ per06.htm FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 25 Freinet publicou muitos livros sobre sua filosofia de trabalho educacional, dentre eles, em língua portuguesa, pode-se destacar: “O método natural I (Aprendizagem da língua, em 1977); O método natural II (Aprendizagem do desenho, 1977); Educação pelo trabalho (1998); O texto livre (1976); A saúde mental da criança (1978)” (Pedagogia Freinet, 2014). Freinet vai além da pregação de uma nova educação. Ele a desenvolve de modo (estruturante) lúdico e prazeroso, facultando a cada aluno a condição de se construir para o exercício da sua cidadania. Para tanto, Freinet ultrapassa a concepção da nova educação herdada dos séculos XIX e XX. Para este grande educador, a escola deve servir principalmente para dar condição de o aluno ser um sujeito crítico e um agente de mudança da sua própria realidade. A pedagogia de Freinet tem quatro eixos fundamentais: “Cooperação: como forma de construção social do conhecimento; Comunicação: como forma de integrar esse conhecimento; Documentação: registro da história que se constrói diariamente; Afetividade: elo entre as pessoas e o objeto de conhecimento” (Escola Freinet, 2014). Os eixos estruturantes acima retratam bem o porquê de a pedagogia Freinetiana ter-se tornado tão revolucionária e importante no cenário educacional dos séculos XX-XXI. O indivíduo, por exemplo, não era visto só como beneficiário da sua ação sobre o ambiente, ele era instigado a construir-se socialmente para alcançar voos muito mais importantes e transformadores da sociedade em que vive. A formação escolar, a educação propiciada às crianças, não devem estar em desacordo com a vida. As paredes das salas de aula não devem ser vistas como limites do processo; não deve haver cisão entre a vida, dentro e fora da instituição [...] (ANGOTTI, 2002, p. 48). A mesma autora destaca o conceito de criança em Freinet: A criança é um ser que deve ser preparado para viver a sua vida aprendendo no decurso dela a forma de melhor vivê-la. Nesse Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 26 caminhar estará explorando cada um dos seus momentos, fortalecendo-se descobrindo-se contextualmente cada vez melhor (ANGOTTI, 2002, p.48). A proposta Freinetiana, como se pode observar, encaminha o indivíduo para a liberdade com responsabilidade. É importante enfatizar que, tanto o trabalho manual quanto intelectual são desenvolvidos em igualdade de condições e importância, de um jeito dinâmico e contextualizado, na concreta realidade do indíviduo. Ao abordar a questão da “correspondência escolar”, Nicolau (1994, p.66) retrata bem este processo dinâmico quando afirma que “[...] enquanto os alunos de Freinet relatavam como se dava a colheita da flor de laranjeira e o apanhar das azeitonas, as festas de Carnaval, a fabricação de perfumes, os alunos de Saint Philibert retratavam a pesca e suas características, como as toupeiras eram caçadas, etc”. Vale dizer que Freinet se apoiou nos educadores já comentados anteriormente como Rousseau (XVIII), Decroly (XIX), Froebel (XIX-XX), Pestalozzi (XIX), mas foi além das preocupações e estudos dos seus antecessores, pois pensou na criança e na sua infância rumo a um adulto livre e comprometido com a sociedade em que vive no seu tempo. Diante do que foi colocado anteriormente, enfatizou-se a importância deste grande educador com esta máxima: [...] só falando se aprende a falar, só andando se aprende a andar e só o desejo superior que o indivíduo sente de subir e se realizar, para satisfazer as exigências vitais, o leva a transpor obstáculos e procurar incessantemente um máximo de perfeição enriquecendo-se e enquanto pessoa, e localizando-se (Freinet, 1977, p. 48 apud ANGOTTI, 2002, p. 50). Devido à grande importância da pedagogia Freinetiana não só na França, como em muitos outros países, foi criada a Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (FIMEM), fundada em 1957 com a participação de Celestin Freinet. Aqui no Brasil foi criada a Associação Brasileira de Estudos e Pesquisa da Pedagogia Freinet, filiada à FIMEM. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 27 ATIVIDADE Este educador do século XX-XXI trouxe contribuições que o diferenciam dos estudiosos anteriores. Sendo assim, explique a relevância dos seus estudos para a atualidade. 1.7 JEAN PIAGET (XX – XXI): Este pesquisador nasceu em Neuchâtel, na Suíça, em 1896, e faleceu em 1980, em Genebra. Foi biólogo, doutorou-se em 1918 com a tese sobre Moluscos. Foi pesquisador no Instituto Jean Jacques Rousseau; foi professor de filosofia, de história, sociologia; foi diretor do Laboratório de Jean Jacques Rousseau (psicologia experimental). Publicou muitos trabalhos sobre a epistemologia genética. O estudo de Piaget sobre o sujeito epistêmico foi uma contribuição decisiva para muitas mudanças na forma de conduzir as propostas para a educação. A educação infantil passa a ser repensada, motivando mudanças que beneficiaram a melhoria da qualidade do atendimento às crianças pequenas. LEITURA COMPLEMENTAR Para melhor conhecimento sobre a Pedagogia de Freinet consulte: www.freinet.org.br e http://www.escolafreinet.com.br/site/index.php Fonte:http://quebracabecaedu.blogspot.com. br/2011/06/ o-jogo-na-teoria-de-piaget.html Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 28 A valorização da importância da relação dialética entre sujeito/ ambiente por parte de Piaget rumo à construção do conhecimento permitiu ampliar as informações sobre o processo do conhecimento por parte do sujeito. Esta díade foi denominada de interacionismo e que, além de Piaget, conta também com os “russos L.S. Vygotsky, A.N. Leontiev e A.R. Luria e o francês Henry Wallon [...] O sistema piagetiano é denominado também de construtivismo dialético. A partir de suas inúmeras pesquisas, Piaget concluiu que cada criança constrói o seu próprio modelo de mundo [...]” (GOULART, 2009, p.17). A construção do mundo por parte da criança vai mudando a cada etapa evolutiva, isto se dá porque em cada fase o indivíduo vai-se apropriando da sua realidade de uma forma diferente sempre num processo contínuo. Piaget não se ateve à idade cronológica e sim à mental e, por isso, os estágios de desenvolvimento poderão ser atingidos em diferentes idades cronológicas. A característica da infância é a brincadeira. Como o desenvolvimento depende estritamente da atividade, a criança, sempre que não está dormindo brinca exaustivamente [...] A criança, a principio, brinca com ascoisas e as pessoas manipulando, de todas as formas possíveis, os objetos e experimentando todos os tipos de relações com as pessoas [...] (LIMA, 1998, p. 69) Na concepção piagetiana, a brincadeira não se finda em si mesma, ela é a forma lúdica para o sujeito alcançar o conhecimento, e a educação LEITURA COMPLEMENTAR Para compreender o significado do conceito sujeito epistêmico em Piaget, consulte a reportagem intitulada “Sujeito epistêmico de Piaget”, disponível no site: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao- continuada/sujeito-epistemico- piaget-611940.shtml. Para melhor conhecimento sobre a Pedagogia de Freinet, consulte: www.freinet.org.br e http://www.escolafreinet.com.br/site/index.php FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 29 infantil tem que explorar não só a relação da criança com os objetos, mas incentivar as trocas sociais com os seus pares, que também são geradoras de conhecimento. Foi importante também o estudo deste educador sobre a relação entre afetividade e inteligência. Ele percebeu que há uma estreita relação entre afetividade e inteligência. [...] A afetividade é uma espécie de temperatura (intensidade, qualidade, modalidade, etc) da atividade (algo como a marcha e a aceleração que engatamos, no carro, quando o veiculo encontra um obstáculo em seu caminho). Não existe um fato sem um componente cognitivo [...] (LIMA, 1998, p. 91). Mesmo havendo uma relação tão estreita entre afetividade e inteligência, ambas têm um desenvolvimento interdependente: “[...] Jean Piaget admite que desregulações de caráter afetivo podem obstruir o funcionamento da atividade cognitiva (da mesma forma como as motivações afetivas intensificam a operacionalidade intelectual) [...]” (LIMA, 1998 p.91). As crianças pequenas, no contexto de sala de aula, são muito suscetíveis à questão do afeto, não só pela pouca idade, mas também pelo novo ambiente social que lhes dá insegurança. Cabe à escola promover o acolhimento a essas crianças fazendo-as se sentirem seguras. Zanini e Leite (2012, p. 86), ao relatarem experiências do estágio sobre atividades com crianças de 3 a 4 anos, afirmam que “as propostas afetivas criaram os vínculos corporais e de respeito de que necessitávamos para a criação de um ambiente de autoaceitação e autonomia, em lugar de um ambiente de negação [...]”. A afirmação acima reforça a importância do vínculo afetivo, assim como a possibilidade de o professor criá-los num ambiente escolar e que, a priori, deveria ser uma prática cotidiana do trabalho pedagógico, principalmente com crianças pequenas. Uma outra grande contribuição de Jean Piaget para a compreensão do conhecimento é ir além da sua aquisição, ou seja, ele buscou também investigar como o mesmo vaí-se modificando no decorrer do tempo. Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 30 O estudo deste pesquisador sobre o desenvolvimento cognitivo mudou a concepção de como o indivíduo adquire o conhecimento: “[...] o foco de Piaget foi o desenvolvimento das estruturas cognitivas e não o poder intelectual; os padrões de desenvolvimento que são comuns e não as diferenças individuais” (BEE, 2003, p. 192). Esses estudos foram contribuintes de encaminhamentos de novas propostas pedagógicas em todas as partes do mundo, inclusive no Brasil, cuja tendência cognitiva, de acordo com a autora Sônia Kramer, pode ser assim descrita: “a criança é sujeito que pensa, e a pré-escola o lugar de tornar as crianças inteligentes – a educação deve favorecer o desenvolvimento cognitivo” (KRAMER, 1991, p. 28 apud ANGOTTI, 2002, p. 5). Piaget identificou três estágios evolutivos no desenvolvimento cognitivo do indivíduo, assim como as faixas etárias prováveis dos mesmos; foi importante também a recomendação quanto à sucessão de cada etapa evolutiva, pois sempre o antecedente prepara a condição de evolução para a etapa seguinte. As mesmas poderão ser atingidas por sujeitos em idades cronológicas diferentes, pois, para esse estudioso, o que interessa é a idade mental. Os estágios do desenvolvimento cognitivo com as idades prováveis acontecem seguindo uma ordem evolutiva [...] um estágio sensório-motor, que vai do nascimento até os 18-24 meses aproximadamente e que culmina com a construção da primeira estrutura intelectual, o grupo de deslocamento; um estágio de inteligência representativa ou conceitual que vai dos dois anos até os dez ou onze anos aproximadamente e que culmina com a construção das estruturas operatórias concretas; finalmente um estagio das operações formais, que se dirige para a construção das estruturas intelectuais próprias do raciocínio hipotético-dedutivo aos 15-16 anos”(COLL e MARTI, 2004, p. 46). Na atualidade, Constance Kamii, discípula de Jean Piaget, e, portanto, continuadora do trabalho na linha piagetiana, aprofundou-se na educação matemática como instrumento para o alcance da autonomia, tanto individual como social da criança. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 31 A criança com que Kamii trabalha encontra-se no período determinado por Piaget como pré-operatório, que vai dos 2 anos até os 7 anos (...) Esse é o estágio da inteligência intuitiva (no qual a criança afirma sem demonstrar) dos sentimentos interindividuais espontâneos e das relações sociais de submissão ao adulto. (ANGOTTI, 2002, p. 71). A pesquisadora tem como princípio que a criança deverá ter todas as possibilidades e condições de escolha para atuar livremente no mundo a sua volta e, a partir de sua ação, as suas estruturas cognitivas vão-se reorganizando encaminhando-se para um conhecimento cada vez mais complexo. Considerando tudo que já foi dito anteriormente sobre o atendimento às necessidades das crianças, a escola deverá organizar-se de modo a favorecer o alcance da sua autonomia que não se restringe só à cognição e sim a outros fatores tão importantes como o social, afetivo, motor, sensorial etc. As influências piagitianas no Brasil estiveram, e ainda se fazem presentes, com alguns estudiosos de outros países influenciando nossa educação na atualidade: “[...] entre eles destacamos Cezar Coll Salvador e Philippe Perrenoud – teóricos que influenciaram a elaboração dos parâmetros curriculares no Brasil – e Josep Puig. Entre os Brasileiros, Yves de La Taille, Lino de Macedo e muitos outros” (ARANHA, 2006, p. 280). É bastante relevante destacar na educação infantil atual as contribuições de Emilia Ferreiro (Argentina) que, além do embasamento teórico piagetiano, ela acrescentou os estudos linguísticos sobre a construção da escrita e, ao mesmo tempo, Ana Teberosky (Barcelona), que partiu dos estudos de Piaget e ampliou a perspectiva construtivista no contexto da leitura e escrita muito usada no Brasil. ATIVIDADE Vamos ater-nos agora ao interacionismo de Jean Piaget. Neste contexto, como a educação infantil se beneficiou e ainda se beneficia dos estudos desse grande pesquisador? Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 32 1.8 L. S. Vygotsky (XX e XXI): Este importante educador nasceu na Rússia e graduou-se em Direito “[...] pela Universidade de Moscou, em 1917, mas especializou-se e foi professor em Literatura e Psicologia. Mais tarde interessou-se pela Medicina, fazendo o curso no Instituto Médico de Moscou [...]. Morreu de tuberculose em 1934, aos 38 anos, deixando incompleta uma grande obra intelectual, que foi continuada e refinada por seus colaboradores, em particular, A. N. Leontiev e A. R. Luvia”. (MOREIRA, 2011, p. 108). Vigotsky foi contemporâneo de Piaget, mas, como dito anteriormente, morreu precocemente aos 38 anos. No entanto, deixou um legado muito rico que só alguns anos depois começou a ser reconhecido aqui no Brasil. Foi considerado um interacionista diferenciando-se de Piaget em vários aspectos, como, por exemplo, a linguagem, o ambiente, desenvolvimento cognitivo e outros. Fonte: http://www.escolacurumim.com.br/pedagogia- freinet/outros- pensadores/lev- vygotsky/ FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 33 Para Vigotsky, o ser humano é essencialmente social, e toda a sua evolução está vinculada ao seu contexto sócio-histórico, cujas trocas sociais permitem a construção de funções psicológicas superiores que serão qualitativas ou não mediadas por instrumentos que fazem parte da cultura do indivíduo, como os signos. Ao analisar as contribuições de Vigotsky para a educação, esse mesmo autor reafirma o que foi colocado anteriormente, quando diz que: a conversão de relações sociais em funções mentais superiores não é direta, mas mediada. E essa mediação inclui o uso de instrumentos e signos. Um instrumento é algo que pode ser usado para fazer alguma coisa; um signo é algo que significa alguma outra coisa. Existe três tipos de signos: 1) indicadores são aqueles que têm uma relação de causa e efeito com aquilo que significam (e.g. fumaça indica fogo, porque aquela é causada por este); 2) icônicos são imagens ou desenhos daquilo que significam; 3) simbólicos são os que têm uma relação abstrata com o que significam. As palavras, por exemplo, são signos lingüísticos; os números são signos matemáticos; a linguagem fala e escrita e a matemática são sistemas de signos ( MOREIRA, 2011, p. 108-109). O desenvolvimento humano, por exemplo, só pode ser visto numa dimensão social contextualizada historicamente. Esta nova contribuição interacionista amplia o conhecimento sobre a forma como o ser humano adquire o conhecimento. Vigotsky investigou também como as crianças evoluem num processo de aquisição. As instituições de educação infantil deveriam rever algumas práticas que não estivessem no contexto sócio-interacionista (outra denominação das concepções vigotskianas), pois relegar ao segundo plano o contexto sócio-cultural da criança é marginalizar o processo educacional, principalmente com crianças que estão iniciando a sua construção como indivíduos pertencentes a uma sociedade que evolui constantemente. Parte-se do principio que a possibilidade de apropriação de conhecimento se faz presente nas interações sociais, desde que a criança vem ao mundo. Sendo assim, menosprezar a capacidade de elaboração subjetiva de cada ser humano ou Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 34 a responsabilidade da instituição de educação infantil frente a gama de conhecimentos que serão colocados à disposição das crianças significa, no mínimo, empobrecer o universo infantil. (MACHADO, 2001, p. 26). Vê-se que é importante e necessário pensar a criança desde o seu nascimento, e não a considerar só a partir da sua chegada na instituição educacional, pois ela traz consigo a sua história de vida com alguns conceitos já construídos e a escola deveria considerá-los nas suas propostas pedagógicas. No processo de formação de conceitos, Vigotsky destaca a linguagem como veículo principal da mediação entre o sujeito e o objeto a ser conhecido. É possível destacar também que “[...] ao utilizar a linguagem para nomear determinado objeto estamos, na verdade, classificando este objeto numa categoria, numa classe de objetos que tem em comum certos atributos. A utilização da linguagem favorece, assim, processos de abstração e generalização [...] (OLIVEIRA, 1992, p. 27). Vigotsky destaca dois processos de formação de conceitos na criança: aqueles considerados cotidianos e os considerados científicos. O primeiro é adquirido através das vivências práticas cotidianamente. Já os científicos são organizados e transmitidos intencionalmente de forma instrucional. Vale lembrar que, na concepção de Vigotsky, os conceitos formados pelo indivíduo sempre acontecem de forma dinâmica, pois sempre são originados de situações de troca entre o indivíduo e o seu contexto social num processo dialético. ATIVIDADE A partir das informações sobre este interacionista, você vai ter a oportunidade de identificar algumas diferenças em relação ao educador anterior. Ao identificá-las, justifique-as. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 35 SAIBA MAIS Interacionismo de Vigotsky O entendimento entre as mentes é impossível sem a expressão mediadora da fala humana, cujo componente essencial é o significado, que supõe a generalização. Ou seja, a palavra casa, por exemplo, não é um som vazio que pode ser identificado apenas à determinada casa concreta, mas se aplica à noção de casa em geral (ARANHA, 2006, p. 267). Para compreender o significado do conceito sujeito epistêmico em Piaget, consulte a reportagem intitulada “Sujeito epistêmico de Piaget”, disponível no site: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao- continuada/sujeito-epistemico- piaget-611940.shtml. Para melhor conhecimento sobre a Pedagogia de Freinet consulte: www.freinet.org.br e http://www.escolafreinet.com.br/site/index.php) UNIDADE 2 DO DIREITO À EDUCAÇÃO INFANTIL À ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO OBJETIVOS • Mostrar a educação infantil desprovida de direitos, e o compromisso do Estado brasileiro, a partir do aparato legal iniciado pela Constituição de 1988 até a atualidade, oportunizando a possibilidade da formação do pensamento crítico sobre o assunto. • Analisar a importância da gestão da escola para a condução da ação pedagógica rumo a uma meta que gira em torno de interesses comuns a todos que são partes integrantes da instituição. • Refletir sobre o trabalho pedagógico contextualizado nas condições permitidas pela legislação e pela especificidade do local onde está inserida a instituição de educação infantil, para atender à relação entre a brincadeira e a criança, que é o eixo do cotidiano desta ação pedagógica. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 39 2 Do direito à educação infantil à organização do trabalho pedagógico Vimos, na unidade anterior, que a criança só foi vista como criança, propriamente dita, no século XVIII com Jean Jacques Rousseau, e prospectivamente o pensar sobre a criança avançou a cada século. No Brasil, não foi diferente, pois a criança sempre foi negligenciada, isto é, não se contemplava a demanda existente. Entretanto, com a Constituição de 1988 e as demais legislações, a criança tornou-se parte integrante da educação básica. Este compromisso vai tornar a gestão mais democrática, atrelando a organização do trabalho pedagógico à proposta curricular, a um projeto político pedagógico da instituição e a um planejamento para o atendimento da criança na educação infantil. 2.1 A criança negligenciada a partir do ponto de vista do Estado Brasileiro A assistência à infância tem início no final do século XIX (1899), no Rio de Janeiro, com a criação “do Instituto de Proteção e Assistência à Infância (IPAI), que depois terá filiais em todo o país” (STEPHANON e BASTOS, 2011, p. 182). Vinte anos depois é criado “o Departamento da Criança no Brasil (DCB), fundado em 1919 [...]” (p.183). No nível federal, a Inspetoria de Higiene Infantil é substituída em 1934 pela Diretoria de Proteção à Maternidade e à Infância criada na Conferência Nacional de Proteção à Infância, em 1933. Em 1937, o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde e aquela Diretoria muda o nome para Divisão de Amparo à Maternidade e à Infância. Em 1940, cria-se o Departamento Nacional da Criança (DNC) [...] (STEPHANON e BASTOS, 2011, p. 185- 186). “Em 1970 se transformou na Coordenação de Proteção MATERNO Infantil” (FONSECA, 2002, p. 222). Apesar de vagas e incipientes, estas iniciativas tiveram como ponto positivo as primeiras preocupações com a infância por parte dos governos Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 40 estaduais, municipais e federal, mesmo que de modo descompromissado e sem muitas pretensões. Dando continuidade ao caráter assistencialista tratado pela iniciativa governamental, [...] Em 1941,foi criado o Serviço de Assistência a Menores, transformado em 1964 na Fundação Nacional do Bem Estar do Menor. Em 1972, foi criado o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, no Ministério da Saúde, enquanto funcionava no Ministério da Educação desde 1955, a Companhia Nacional de Alimentação Escolar. Em 1974, na Legião Brasileira de Assistência foi criado o Projeto Casulo para atender à criança pré-escolar. Em 1975, cria- se o Ministério da Educação e Cultura, a Coordenação de Educação Pré-Escolar (COEPRE) [...] (FONSECA, 2002, p. 222). Até a década de 1970, as iniciativas para o atendimento à Educação Infantil eram de modo compensatório, direcionadas para o contingente mais pobre do país, principalmente o “Projeto Casulo”, que se expandiu para as regiões mais pobres. [...] No texto “Projeto Casulo” publicado pela Legião Brasileira de Assistência (LBA) em 1977, pretendia-se, como no início do século, que o programa viesse a desenvolver as atividades paralelas de orientação familiar. A problemática comunitária, devido a baixa renda per capitã, vinha provocando desequilíbrios nas famílias e a desintegração do lar. O remédio proposto foi a criação de novas vagas para as crianças de 0-6 anos, a baixo custo nas creches casulo. (KUHLMANN JR., 2011, p. 190). O próprio texto acima dissimula as grandes contradições do contexto social, econômico e político no Brasil, ao culpar a pobreza pelos problemas da criança na educação infantil. O Estado se exime da responsabilidade com essa situação caótica e ainda culpa as famílias pelas suas baixas rendas, julgando-as merecedoras de uma educação igualmente pobre. No início da década de 80, os textos elaborados por conselheiros ou membros do Ministério da Educação passam a falar da FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 41 educação escolar de 0-6 anos. Em parecer do Conselho Federal de Educação, de maio de 1981, Eurides Brito da Silva apontava as diretrizes para um sistema público de educação pré-escolar, inclusive as crianças de 0-3 anos, mesmo que ainda não atendidas no âmbito dos Ministérios da Saúde e da Previdência. (KUHLMANN JR., 2011, p.190). É necessário e importante lembrar que o nosso país esteve, desde 1964, sob o regime militar, e que, a partir do final da década de 70 e início dos anos de 1980, o Brasil passava por mudanças na busca da volta ao Estado Democrático de Direito. A educação infantil foi uma dessas mudanças que a sociedade exigiu, não como assistencialismo e sim como educação num contexto multidimensional, em que a criança pudesse se desenvolver de forma plena, ou seja, nos aspectos afetivo, social, motor, cognitivo, sensorial etc. No final da década de 1980 com uma nova Constituição, novas esperanças surgiram para resgatar a dignidade do povo brasileiro rumo a uma nova sociedade. Fonte: http://resistenciaemarquivo.wordpress.com/2014/09/05/o-fim-da- ditadu- ra-e-o-inicio-do-processo-de-redemocratizacao/ Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 42 ATIVIDADE Vamos refletir sobre o negligenciamento do Estado brasileiro em relação ao atendimento à criança? Para tanto, faça um texto crítico, em parágrafo único, de no máximo 15 linhas, sobre o tema. 2.2 O RESGATE DO COMPROMISSO DO ESTADO COM A EDUCAÇÃO INFANTIL Resgatar o compromisso com a educação infantil é um fenômeno muito recente e só tornou-se possível com a nova Carta Constitucional, promulgada em 1988, que foi antecedida por mobilizações sociais em todo o país, motivadas por diferentes interesses, dentre eles, destacamo-se os LEITURA COMPLEMENTAR Interacionismo de Vigotsky O Projeto Casulo foi desenvolvido pela Legião Brasileira de Assistência, a LBA, a partir dos anos de 1976 e 1977. Tratava-se de um projeto que se propunha a baratear o atendimento às crianças pobres espalhando redes de atendimento baseadas no trabalho voluntário e sem a elaboração considerada mais sofisticada de instituições como a Casa da Criança, por exemplo. Era um plano de atendimento de massas que pregava a prevenção dos problemas Sociais mediante o amparo das mães e das crianças, não com programas educacionais, mas com ações destinadas a resolver problemas específicos como tomar conta ou dar merenda, ou, ainda, campanhas voltadas para a doação de agasalhos. Para saber mais sobre a História da Educação no Brasil e sobre o Projeto Casulo, consultar o material do Ministério da Educação, que serviu de fonte para este Box: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/ mod1est2unid3.pdf. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 43 que estavam relacionados à educação infantil. Registra-se como de maior significação nesse processo de conquista da educação infantil no Brasil o Movimento Nacional Criança e Constituinte, organizado em 1896 a fim de elaborar uma proposta para a área da criança. A Comissão Nacional Criança e Constituinte foi criada por portaria do Ministério da Educação (MEC), com representantes dos Ministérios da Educação, da Saúde, da Cultura, do Planejamento, do Trabalho, da Assistência Social e da Justiça e pelas seguintes organizações: OAB, Sociedade Brasileira de Pediatria, Federação Nacional de Jornalistas, Organização Mundial para a Educação Pré- Escolar (OMEP)/Brasil, Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) [...] Nos Estados foram criadas Comissões com uma composição semelhante. No total, mais de 600 organizações governamentais e não governamentais estiveram envolvidas no movimento, durante dois anos. (BARROS, SCRAMINGNON, CHAMARELLI, CASTRO, 2014, p. 70). Como se pode observar, a sociedade organizada no Brasil não ficou passiva diante da omissão do Estado na luta pela educação infantil, pois diferentes setores da sociedade se reuniram para intensificar as pressões por mudanças já no final da década de 1980. Dentre estas mudanças, foram consideradas para as finalidades deste estudo, aquelas motivadas pelo surgimento da Constituição de 1988 e demais leis pós-constituinte, que serão a base de nossas reflexões sobre o compromisso com a educação infantil por parte do Estado. Podem ser citados como exemplos, além da Constituição, o Estatuto da Criança e do Adolescente/ ECA (1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação/ LDB (1996), a Resolução no 5 de 2009, e a Lei no 12.796 de 2013. Entretanto, esta análise reflexiva restringir-se-á a alguns artigos e/ou incisos pertinentes ao assunto deste estudo. 2.2.1 CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 (ATUAL) Com a Constituição de 1988, promulgada em 05 de outubro, todos os setores da sociedade foram contemplados com a possibilidade de reconstrução, redefinição e inovação destes setores. A educação infantil, Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 44 por exemplo, passa a ser considerada uma modalidade de ensino, isto porque consta, no art. 208, que “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: IV- educação infantil em creches e pré-escolas até 5 anos de idade; inciso IV com redação determinada pela Emenda Constitucional 53, de 19-12-2006” (BRASIL, 2013, p. 146). É importante ressaltar que a EC 53/2006 não alterou substancialmente o inciso IV do art. 208, incluindo apenas a expressão “educação infantil”, no lugar de “atendimento” e modificou o parâmetro etário, que anteriormente estava adstrito às crianças de 0-6 anos. A educação infantil começa a se impor como parte inerente ao processo educacional em razão de o Estado ter assumido que a criança de 0-5 anos deveria receber educação em creches e pré-escolas como um direito constitucional dado por este mesmo Estado. Sobre a organização da educação infantil, o parágrafo 2o do artigo 211 diz que “os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. Parágrafo 2o com redação determinada pela Emenda Constitucional no 14, de 12/09/1996” (BRASIL, 2013, p.147). Mesmo com um considerável avanço, a educação infantil não foi contemplada com uma dotação orçamentária própria, pois a Lei no 9.424/96 que trata do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fonte: http://www.brasilescola.com/h istoriab/constituicao-de- 1988.htm FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 45 Fundamental e de Valorização do Magistério – FUNDEF, não fixou um percentual específico. Só a partir da Emenda Constitucional no 53 de dezembro de 2006 é previsto no art. 7o, inciso XXV da Constituição, como direito dos trabalhadores, a “assistência gratuita aos filhos e dependentes, desde o nascimento até 05 anos de idade em creches e pré-escolas” (BRASIL, 2013, p. 315). Com essa Emenda Constitucional, é criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização do Magistério – FUNDEB (Lei no 11.494 de 2007). Este Fundo contempla toda Educação Básica, diferenciando-se do FUNDEF, que só atendia o Ensino Fundamental. Prosseguindo com as mudanças na educação, a Emenda Constitucional no 59 de 11/11/2009 altera o art. 208, permitindo alterações importantes no direito à educação. Isto porque se encontra previsto no inciso I que haverá “educação básica, obrigatória e gratuita dos 04 aos 17 anos de idade, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 2013, p. 325). Pelo que foi colocado anteriormente, a educação infantil do ponto de vista constitucional demonstra as pretensões das políticas públicas do Estado quanto esse nível de ensino. A sociedade organizada, por sua vez, deve acompanhar o tratamento dado a essa educação infantil por parte do Estado como forma de melhorar cada vez mais a qualidade deste atendimento. SAIBA MAIS O dever do Estado com a educação na Constituição de 1988 Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria (Redação dada pela Emenda Constitucional no 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional no 59, de 2009) Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 46 II - progressiva universalização do ensino médio gratuito (Redação dada pela Emenda Constitucional no 14, de 1996); III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade (Redação dada pela Emenda Constitucional no 53, de 2006); V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (Redação dada pela Emenda Constitucional no 59, de 2009). § 1o - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo § 2o - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. § 3o - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 47 2.2.2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA), DE 1990 (LEI 8069 DE 13 DE JULHO) Esta lei dispõe sobre a proteção à criança e ao adolescente de forma integral e ao mesmo tempo, informa sobre como a criança deve ser compreendida e protegida. Esta lei surge para reforçar o aspecto jurídico para o atendimento e respeito à infância e à adolescência, tratando também da proteção aos indivíduos especiais. Além da criança e do adolescente, esta lei disciplina o atendimento à gestante no sistema público de saúde, nas fases pré-natal e perinatal, assim como protege os direitos da criança desde o seu nascimento. No art. 2o, esta lei define: Considera-se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até 12 (doze) anos de idade incompletos, e adolescente aquele entre doze e dezoito anos de idade. [...] Art. 53 – A criança e o adolescente têm direito à educação visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II- direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores (BRASIL, 2013, p. 76). O art. 54 sobre o dever do Estado para com a educação prevê, no inciso IV, o “atendimento em creche e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade (BRASIL, 2013, p. 76). Cumpre salientar que, assim como ocorreu com o artigo 208, inciso IV da Constituição, modificado pela EC 53/2006, deve-se proceder a uma interpretação harmonizadora dos dispositivos normativos. Em direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores (BRASIL, 2013, p. 76). Em outras palavras, apenas as crianças de 0 a 5 anos estão incluídas no conceito de educação infantil, como prevê atualmente o parâmetro constitucional. Embora não tenha havido modificação na literalidade do art. Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 48 54, inciso IV do ECA, não se pode mais incluir as crianças de 6 anos na educação infantil. Aos poucos, a legislação brasileira vai dando forma ao compromisso com a educação infantil com políticas públicas embasadas nos instrumentos reguladores da educação, sendo o ECA um deles. No entanto, este só terá relevância e funcionalidade com o acompanhamento e vigilância da sociedade na observância do cumprimento dos preceitos legais. [...] O Estatuto traz ainda dispositivos importantes para a educação infantil: a definição e os critérios para a aplicação do principio da prioridade absoluta; os conselhos de direito da criança e do adolescente; o fundo dos direitos da criança e do adolescente; o sistema de garantia de direitos. Cada vez, um dos integrantes deste sistema – o Ministério Público – vem atuando no sentido de garantir o direito da criança à creche e à pré-escola (LEITE FILHO e NUNES, 2014, p. 73). É importante o Ministério Público garantir que o direito da criança se torne concreto. Entretanto, aliado a esta garantia, é emergencial e importante que toda sociedade acompanhe a aplicação, não só desta, como também de toda e qualquer legislação que possa, de alguma forma, contribuir para resgatar o quanto antes o compromisso com a educação infantil. SAIBA MAIS Você sabia que tramita na Câmara dos Deputados um Projeto de Lei (PL 8039/2010) que, dentre outras providências, pretende criar a Ação Civil Pública por responsabilidade educacional? A Lei da Ação Civil Pública (Lei 7347/1995) é um mecanismo jurídico que permite a alguns legitimados, como a Defensoria Pública e o Ministério Público, à proteção de direitos e garantias individuais. A ideia deste Projeto de Lei é “responsabilizar a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios por atos ou omissões que comprometam ou ameacem o direito à educação básica pública”. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 49 ATIVIDADE Como profissional da educação e professor da educação infantil, o que significa o art. 53 e seus incisos na sua prática pedagógica? 2.2.3 LEI NO 9394/1996: ATUAL LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – DIRETRIZES POLÍTICAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL Vários fatos antecederam a criação da nova lei da educação, dentre estes destaca-se Constituição da República (1988), que estabeleceu as diretrizespara que estas mudanças acontecessem; os movimentos nos anos 90, não só os internos, como também externamente. Nas agências internacionais, havia a recomendação para que fosse priorizado o ensino fundamental, o que foi acatado prontamente pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96). A partir de 1990, com todas as reformulações políticas, sociais e econômicas mundiais e nacionais, o Brasil passou a participar de encontros internacionais, visando à discussão de questões relativas às políticas educacionais. O primeiro, realizado em Jontien, na Tailândia, foi convocado por organizações como UNESCO, UNICEF, PNUD e Banco Mundial, denominado “Conferência Mundial de Educação para Todos”. Outra conferência resultou na Declaração de Nova Delhi”, em paises em desenvolvimento e de maior contingente populacional do mundo assinaram o compromisso consensual de lutar por universalizar a oferta de educação fundamental e por ampliar as oportunidades de aprendizagem para criança, jovens e adultos (BRASIL, 1991, apud JACOMELI, 2007, p.66). Para consultar o andamento e o conteúdo do Projeto de Lei, consulte aqui: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ fichadetramitacao?idProposicao=4901 72. Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 50 Seguindo a recomendação do Encontro de Jontien, a criança pequena ficou relegada ao segundo plano mais uma vez. Isto porque a LDB/1996 “destaca a educação fundamental, postulando que este nível de ensino é o caminho para garantir a formação comum para todos, indispensável para o exercício da cidadania e, também, o meio para o progresso no trabalho e nos estudos posteriores [...]” (Idem, p.70). O encontro em Jontien rendeu ao Brasil grandes mudanças nos rumos da educação, e, infelizmente essas mudanças não partiram das necessidades reais da realidade do nosso país, quais sejam a atenção e cuidado com a educação infantil. Vale dizer que a Constituição brasileira permitiu que fosse possível acontecer essas transformações na educação. Entretanto, seria necessário muito mais, pois as necessidades do nosso país eram muito mais amplas. A reforma da educação acontece, portanto, em meio a todos os acontecimentos internacionais e nacionais impregnados de interesses políticos e econômicos, sem a educação, um instrumento de dominação muito bem utilizado pelo modelo neoliberal. Neste modelo, há uma mudança no papel do Estado e a educação é vista como um bem de mercado, servindo aos interesses econômicos. Sublinhamos que a reestruturação do papel do Estado brasileiro, configurada na década de 1990, introduziu mudanças nas relações entre Estado, sociedade e mercado. Velhos principios de equidade social foram ressignificados. Participação, autonomia, descentralização foram metamorfoseados de uma natureza política para uma natureza econômica. A ênfase econômica suplantou o papel da organização político-social, construído na década de 1980 e passou a legitimar um modelo de Estado e de educação que prima por movimentos de participação, autonomia e descentralização financeira [...] (LIMA, 2012, p.53). Essa descentralização financeira, assim como a autonomia e a participação, é relativa. Isto porque a LDB/96, no Brasil, serve de instrumento de política regulatória e dissimula os reais interesses da condição de liberdade percebido no seu texto. FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 51 A Lei no 9494/1996, de 20 de dezembro, foi publicada no Diário Oficial da União em 23/12/1996. Com a publicação, o Brasil passa a contar com um instrumento que estabelece as diretrizes nacionais para a educação em todo o país. No Titulo I (DA EDUCAÇÃO), fica estabelecido no artigo 1o que: A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações cultuais (BRASIL, 2013, p. 7). Este artigo da Lei mostra que a concepção de educação vai além do escolar, pois, ao incorporar outros espaços assim como “ensinantes”, a LDB/96 amplia as diferentes variantes que poderão concorrer para a melhor compreensão do educando, já que este aspecto muldimensional permite um conhecimento mais realista dos processos formativos da vida do indivíduo. GLOSSÁRIO Ensinante (considerado em sua relação com o aprendente) significa uma nova visão da relação entre educadores e educandos, onde os espaços e tempos do aprender estão para além das escolas e são percebidos na complexidade e na totalidade da vida de cada um de nós, sujeitos inseridos na dinâmica relacional do viver e conviver com os outros. Para saber mais sobre esta relação, consulte o artigo que serviu de fonte para este Box: http://www.fai- mg.br/biblioteca/index.php?option=com_ content&task=view&id=397&Itemid=1. Alguns artigos e incisos da LDB/96 foram modificados pela Lei no 12.796 de 2013, que trouxe muitos benefícios para a educação infantil. Serão destacados aqueles mais relevantes para o propósito do assunto que está sendo desenvolvido. No que diz respeito ao direito de educação, bem como ao dever de Educação Infantil: da negligência ao compromisso com a organização e ação pedagógica 52 educar, os incisos do art. 4o da LDB/96 passaram a ter a seguinte redação: I – educação básica obrigatória e gratuita dos 04 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: a) pré-escola; b) ensino fundamental; e) ensino médio; II- educação infantil gratuita às crianças de até 05 (cinco) anos de idade. III- atendimento à criança de 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral. IV- controle de freqüência pela instituição pré-escolar exigida freqüência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas; V- expedição de documentos que permita atestar os processos de desenvolvimento da criança. Vejam vocês que essa nova lei, ao alterar a LDB/96, provoca uma verdadeira possibilidade de mudanças em função da nova faixa etária para a educação infantil, ensino fundamental e médio. Imbricadas a esta nova situação estão a mudança na gestão, nos aspectos técnico-pedagógicos e ampliação do ambiente físico para abrigar a demanda da educação infantil. Com este direito assegurado, a sociedade civil organizada por reivindicar uma vaga a qualquer estabelecimento de educação infantil na rede pública de ensino do país. Reiterando o que foi dito sobre este direito, o artigo 5o também teve a sua redação modificada pela Lei no 12.796/2013, passando a vigorar assim: O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidades de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público acionar o Poder Público para exigi-lo. (BRASIL, 2013). O artigo 5o é muito claro quanto ao chamamento da sociedade, em seus diferentes segmentos, para a vigilância do cumprimento a este “direito público subjetivo”, tendo ainda o Ministério Público também como instituição fiscalizadora. Por último, faz-se necessário o envolvimento dos FUESPI/ NEAD Especialização em Educação Infantil 53 outros órgãos ligados à educação, tanto em nível nacional, quanto em nível local, principalmente na divulgação e discussão com a população, no sentido de conscientizá-la sobre a importância do alcance desse direito e, ao mesmo tempo, prepará-la para exigir que a lei não se torne mais uma, dentre muitas que ficam só no papel. Um outro artigo que foi modificado por esta mesma Lei e que merece destaque: o artigo 31 e os seus incisos, pois este muda a organização interna da Educação Infantil, como por exemplo, a proposta curricular, o projeto político-pedagógico, planejamentos etc. Artigo 31 – A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: I - avaliação mediante acompanhamento
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