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Sociologia: Aspectos Iniciais Max Weber Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Andrea Borelli Revisão Textual: Prof. Ms. Selma Aparecida Cesarin 5 No folder desta Unidade, você encontrará, entre outros, o seguinte conteúdo: 1. Uma apresentação narrada, no formato adobe presenter, que sintetiza o conteúdo teórico de forma bastante elucidativa; 2. Uma videoaula, que apresenta as questões centrais do conteúdo; 3. As atividades de avaliação e aprofundamento, que devem levá-lo a refletir sobre o tema de forma ampla; e 4. O Material complementar sobre o tema, no qual você encontrará uma bibliografia sobre o tema tratado e outros materiais que podem auxiliar sua compreensão do tema. Agora, mãos à obra e, havendo qualquer dúvida, entre em contato com seu professor tutor. Nesta Unidade, vamos tratar da doutrina desenvolvida pelo pensador alemão Max Weber, cujos escritos metodológico ajudaram a criar a identidade da Sociologia como ciência e como campo independente de estudo. Max Weber · Max Weber · Biografia · Weber e a questão da ação social · Os tipos de ideias · A ética protestante e o espírito do capitalismo · Economia e Sociedade · Algumas considerações 6 Unidade: Max Weber Contextualização Observe a imagem a seguir: Diante da charge acima, qual é a sua opinião sobre os pensamentos de Max Weber acerca da burocracia, cuja maior vantagem – a capacidade de estimar os resultados de uma ação – dificulta o trato com os casos concretos e individuais, levando à despersonalização dessas relações. Vamos discutir este importante tema considerando a relevante contribuição do pensador alemão para o estudo da Sociologia. Fo nt e: M ar ce lo A nd ra de /e tr is te vi ve rd eh um or .b lo gs po t.c om .b r 7 Max Weber Um dos maiores pensadores sociais do século XX, Max Weber é um dos criadores da moderna sociologia, junto com Emilie Durkheim e Karl Marx. Seus escritos metodológicos ajudaram a criar a identidade da disciplina como ciência e um campo independente de estudo. Como aconteceu com Marx, Weber tinha interesse numa gama enorme de assuntos: Política, História, Linguagem, Religião, Direito e, claro, Sociologia. Karl Emil Maximilian Weber nasceu em 21 de abril de 1864, na cidade Erfurt, o mais velho dos sete filhos de Maximilian e Helene Weber. Seu pai, Maximilian, fazia parte de uma família tradicional que se dedicava ao comércio e produção de tecidos e sua mãe, Helene, vinha de uma família de funcionários públicos e políticos. Portanto, pode-se afirmar que Weber foi criado em uma família prospera, envolvida no cenário politico e intelectual da Alemanha. Sua formação, nas Universidades de Heidelberg e Berlin, oscilou entre o Direito e a Economia, com destaque para as questões agrárias. Seu trabalho sobre o deslocamento de trabalhadores agrícolas do Leste da Prússia pela chegada de imigrantes poloneses foi muito bem recebido pelos acadêmicos e, em 1894, ele assumiu a posição de professor na Universidade de Freiburg. Em seguida, assumiu a cadeira de Economia política na Universidade Heidelberg. Em 1893, Weber casou-se com Marianne Schnitger, uma proeminente militante pelos direitos das mulheres. A residência do casal se tornou o ponto de encontro de grupos de intelectuais, como Marc Bolch e György Lukacs. Foi durante este período que Weber se estabeleceu como um economista brilhante e um dos grandes intelectuais da época. Estes anos frutíferos da carreira de Weber sofreram um fim abrupto, quando o pai de Max cometeu suicídio em 1897. Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons Biografia 8 Unidade: Max Weber A morte teve um profundo efeito em Weber, que se afastou do mundo intelectual e deixou as atividades de professor em 1903. Seu retorno intelectual foi lento, tendo primeiro assumido o controle do jornal Archiv für Sozialwissenschaften und Sozialpolitik, sendo um dos responsáveis por torná-lo o mais importante jornal de Ciências Sociais do período. Em 1909, participou da fundação da Sociedade Alemã de Sociologia. Este momento de sua vida, interrompido pelo início da I Guerra, marcou o ponto alto de sua carreira, com estudos sobre Religião comparada, Direito e Economia. No início da Guerra, como a maioria do povo alemão, ele apoiou o envolvimento do país, mas com o tempo, ele se desiludiu com a política de guerra e tornou-se um dos mais ferozes antagonistas do governo. Ao término da Guerra, participou da organização inicial da República de Weimar, mas o dia a dia da política voltou a decepcioná-lo. Weber voltou, então, a lecionar, na Universidades de Viena e Munique. Depois de desenvolver um severo caso de pneumonia, Weber morreu em 14 de junho 1920. Ele tinha 56 anos. Weber define a Sociologia como a ciência que analisa a ação social. O objetivo maior de qualquer estudo nesta área seria entender o sentido das ações sociais, por meio da compreensão dos seus nexos causais. Seu foco de análise está no sentido de que os indivíduos atribuem a suas ações coletivas em um determinado contexto histórico. Considerando esta definição, pode-se extrair três elementos chaves que definem a ação humana como ação social: Weber e a questão da ação social 9 Weber define quatro tipos de ações sociais: A ação racional com relação aos fins é aquela em que se escolhe um objetivo e este é buscado racionalmente pela definição dos melhores meios de como alcançar os resultados desejados. No caso da ação racional com relação aos valores, é aquela em que um valor é que define a ação, seja um valor ético, religioso, politico ou estético. As duas últimas são chamadas de irracionais, por que motivadas pelos sentimentos. No caso da ação social afetiva, em que a força por trás da ação é um sentimento, como loucura, amor, paixão, inveja, medo... Segundo Raymond Aron, trata-se de uma “ação ditada imediatamente pelo estado de consciência ou humor do sujeito”.1 Por fim, a ação social tradicional que encontra sua força motriz nos costumes e tradições construídas na sociedade, sendo portanto, uma ação reprodutiva. Além das grandes estruturas e da constatação de permanências, Weber considera que o indivíduo tem papel importante na característica das estruturas sociais e na sua mudança. Weber é um dos pensadores que ajudou a diminuir a distância entre as grandes estruturas da sociedade, a ação social dos indivíduos e a interação entre eles. Compreensão e significado são elementos fundamentais da abordagem de Weber e surgem de uma pesquisa sistemática e rigorosa. Segundo o sociólogo americano George Ritzer2 trata-se de: 1 ARON, Raymond. Etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 448. 2 RITZER, George, Sociological Theory. New York, McGraw-Hill, 1992, p.116. [...] um método destinado a identificar uma concepção humana, um “sentido” por trás de eventos observáveis, não teremos dificuldade em aceitar que ele pode ser aplicado tanto à interação humana como para os atores individuais. A partir deste ponto de vista, toda a história é interação, que tem de ser interpretada em termos de objetivos antagônicos de diversos atores. 10 Unidade: Max Weber É importante observar que dificilmente as ações humanas se orientam somente por um dos tipos descritos acima. Segundo Weber, estes são tipos ideais de ações que foram criadas para orientar as pesquisas sobre esta questão. A ação social3 é a questão central da Sociologia de Weber; contudo, estas ações, como já discutimos, não podem ser analisadas isoladamente. É preciso estabelecer as conexões entre elas. Durante o processo de pesquisa, segundo Weber, devemos deixar de lado nossos conceitos e preferências, gostos e valores e permanecer o mais imparcial possível. Deve-se observar que, para ele, isso nunca pode ser totalmente atingido, mas o pesquisador deve cercar-se de formas imparciais de investigação, medidas e comparações e avaliação de seu conjunto de fontes. Weber destaca queos valores, crenças e ideologia do pesquisador, contudo, tem papel central na escolha de seus temas de estudo. Por exemplo, alguém que acredita na igualdade entre homens e mulheres no ambiente de trabalho, pode ser atraído a estudar as formas de discriminação sofridas pelas mulheres em ambientes corporativos. Segundo Stephen Kalberg, o ponto que Weber pretende destacar é que:4 Como proceder para atingir este tipo de análise? Esta questão nos leva a um dos conceitos mais conhecidos do pensamento de Weber: o dos tipos ideais. Segundo Weber, toda a ciência é marcada pela abstração e pela seleção de um aparato analítico para compreender seu objeto de estudo. No caso do cientista social, o dilema é escolher entre um conjunto conceitual muito amplo ou um que é marcado pela particularidade. Para resolver este dilema, ele propôs a noção do tipo ideal. Trata-se de um aparato analítico que serve como referência ao investigador, permitindo que observe as semelhanças e diferenças em casos concretos. 3 KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. (Edição para Kindle) 4 KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 484. (Edição para Kindle) Os tipos de ideias As Ciências Sociais não nos ajudam – e nem devem fazê-lo – a concluir com certeza quais valores são superiores a outros. Não se pode provar cientificamente que os valores do Sermão da Montanha são melhores que os Vedas do hinduísmo.4 11 Um tipo ideal é formado por características encontradas em várias realidades concretas e que são organizados em um aparato analítico. Este aparato é irreal, mas permite analisar hipóteses explicativas e compreender os sentidos dos elementos da realidade empírica. O tipo ideal teria dois grandes méritos: 1. fornecer um aparato analítico que permite que a realidade concreta seja comparada, analisada e contrastada; 2. permite estabelecer algumas generalizações que servem ao objetivo final de criar uma explicação causal a realidade. Weber define três formas para os tipos ideais, que são diferenciados pelo nível de abstração. O primeiro é o tipo que se enraíza em realidades históricas concretas, ou seja, em fenômenos que aparecem em uma determinada realidade e temporalidade. O segundo, como é o caso do tipo “burocracia”, que envolve elementos que podem ser encontrados em diversas realidades históricas e culturais. O terceiro tipo é o que constrói a racionalização de um determinado conjunto de comportamentos, como a teoria econômica, pois todas descrevem como o indivíduo se portaria se suas motivações fossem totalmente econômicas. Portanto, podemos analisar a realidade por meio dos tipos ideais, pois, mesmo sendo um conceito criado pelo pesquisador, permitem compreender a realidade da qual foram “extraídos” com o objetivo de tornar evidente o seu sentido e suas conexões. Segundo o próprio Weber, citado por Kalberg: “os conceitos são em essência instrumentos analíticos para o domínio do empiricamente dado, e só isso.”5 Sem dúvida, uma das obras mais conhecidas de Max Weber é “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”. Este trabalho destaca-se por ser um dos textos mais acessíveis de Weber e por condensar muitos aspectos de seus postulados teóricos. O texto marca o retorno de Weber à temática da religião, que já tinha sido alvo de estudos anteriores. Os textos foram publicados em 1904 e 1905, como dois ensaios separados e, em 1919, eles foram reunidos em um único livro. Segundo Anthony Giddens6, uma das primeiras questões abordadas no livro é a definição que Weber cria sobre o capitalismo. A questão do acúmulo de riquezas não é novidade na história humana e se pode falar disso entre diversas culturas; contudo, somente no mundo moderno ocidental, esta questão pode ser associada à organização racional do trabalho livre. 5 KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. P. 530. ( Edição para Kindle) 6 WEBER, Max. Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. London. Routlege Classics, 2005 Fonte: Wikimedia Commons A ética protestante e o espírito do capitalismo 12 Unidade: Max Weber Por organização racional do trabalho, Weber entende a criação de atividades rotineiras, com administração planejada e continuidade. Neste sentido, a racionalidade capitalista implica a disciplinarização do trabalho e o investimento de capital na atividade produtiva. Segundo o próprio Weber: “O homem é dominado por ‘fazer dinheiro’, pela aquisição como o propósito final de sua vida7 e, este seria o sentido e a ética do mundo capitalista. Neste novo contexto, o acúmulo de bens era acompanhado por uma moral que demandava autocontrole e a manutenção de um estilo de vida simples, sem extravagâncias. Para Weber, o que explica este comportamento é a ideia de que a obrigação moral de todos os indivíduos seria cumprir suas obrigações cotidianas ligadas ao mundo material. Um ponto de destaque para esta análise é a questão da predestinação. No texto, Weber aponta que esta questão, apesar de aparecer nos escritos de Lutero, ganhou maior evidência em grupos como os calvinistas, batistas etc. O conceito da predestinação pregava que alguns indivíduos eram eleitos para a salvação e que o sucesso na vida material seria um dos sinais deste destino. A acumulação de bens passa a ser considerada aceitável, até mesmo positiva, se for acompanhada por uma vida de trabalho e discrição. Neste sentido, a riqueza só era condenada se fosse acompanhada por extravagâncias e uma vida ociosa. O calvinismo, para Weber, agregaria o elemento da “força moral” e da determinação à ação do capitalista, além de propagar as vantagens de uma vida voltada ao trabalho e da disciplina. A riqueza deixou de ser vista com desdém e passou a ser considerada recompensa pelos esforços do indivíduo e o trabalho tornou-se o principal valor deste novo grupo social, gerando ditos como “tempo é dinheiro” e “o trabalho edifica o homem”. Anthony Giddens8 destaca que para Weber a ética protestante era somente um dos elementos que explica o capitalismo, ele ainda destaca: » A separação entre as esferas doméstica e produtiva estava mais desenvolvida na Europa ocidental do que estava em qualquer lugar do mundo; » O desenvolvimento das cidades ocidentais. As cidades tornaram-se centros econômicos autônomos, separando a elite burguesa da elite tradicional, que tinha sua riqueza baseada na propriedade agrária; » O desenvolvimento de um sistema jurídico organizado e racional baseado no legado das práticas jurídicas estabelecidas pelos romanos; » Este sistema racional e organizado de justiça ajudou a desenvolver um estado- nação administrado por burocratas competentes e dedicados. Segundo Giddens, este sistema serviu de base para as empresas capitalistas nascentes; » O desenvolvimento e aperfeiçoamento dos sistemas de contabilidade foram fundamentais para a regularização e controle dos negócios nas empresas capitalistas; » As mudanças sociais permitiram a criação de um exército de trabalhadores livres que sobreviviam de “vender” seu trabalho para os capitalistas. 7 WEBER, Max. Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. London. Routlege Classics, 2005, p. 18 8 WEBER, Max. Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. London. Routlege Classics, 2005, 13 A presença destes elementos e o desenvolvimento do protestantismo, segundo Weber, levaram ao desenvolvimento do mundo capitalista. Apesar da abrangência do proposto pelo autor, sua análise não foi aceita com unanimidade e, segundo Anthony Giddens, várias críticas ao trabalho foram apresentadas desde a sua publicação. Contudo, as propostas de Weber nunca foram completamente contestadas. Nas palavras de Giddens:9 Este trabalho é uma obra póstuma e incompleta que foi lançada por Marianne Weber. Foi escrito durante 11 anos e abrange diversos temas como o estado, a família, a organização política, entre outros e, sem dúvida, uma das obras mais significativasjá produzidas na área. Segundo Stephen Kalberg10, a primeira parte do livro foi dedicada à construção de modelos e se assemelha a um grande dicionário de conceitos; já a segunda parte, analisa situações históricas concretas. Entre os capítulos mais conhecidos, estão os que tratam sobre Direito, estamentos, Religião, dominação em geral, burocracia e sobre as cidades. As discussões que Weber realiza sobre a questão da autoridade, ilustra o uso do tipo ideal como ferramenta analítica e demonstra sua classificação dos tipos de ações sociais. Ele procura estabelecer o que leva os homens a determinar quem tem autoridade e como esta autoridade foi legitimada na sociedade. Weber determina a existência de três tipos de autoridade: 9 WEBER, Max. Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. London. Routlege Classics, 2005, p.XIV. Para que [as críticas] fossem completamente satisfatórias, seria necessário considerar o status dos estudos correlatos sobre as religiões mundiais, o problema da racionalização da cultura – e toda a estrutura metodológica em que Weber trabalhava. Nenhum autor tentou realizar esta tarefa, e talvez seria necessário alguém com a capacidade intelectual do próprio Weber para assumi-la com alguma esperança de obter sucesso.9 Economia e Sociedade 14 Unidade: Max Weber A autoridade pode ser legitimada de forma racional e ser fundamentada por uma série de regras impessoais, que foram estabelecidas legalmente ou por contrato. Este tipo de autoridade é a que tem marcado a sociedade moderna, marcada pela submissão as leis. A autoridade tradicional é marcada pela noção da tradição, que santifica o passado e permite que a autoridade seja delegada entre membros da mesma família ou grupo. Não tem suas regras definidas de forma impessoal e racional e isto favorece as pessoas que herdariam este poder delegado por um poder maior. A autoridade carismática é baseada na capacidade do líder de agregar seguidores devido à sua capacidade em qualquer área: religiosa, militar, política... É importante notar que estes são tipos puros e Weber aponta que na realidade concreta estes tipos se misturam para legitimar a autoridade existente. Já a autoridade racional-legal apoia-se em um sistema de regras racionalmente criadas, no qual está fundamentada a crença na legitimidade daqueles que, em razão de tais regras, estão nomeados para exercer a autoridade. Aliás, quando a autoridade envolve um corpo administrativo organizado, temos uma estrutura burocrática que será mais bem explicitada adiante. A maior contribuição destas análises foi perceber que a autoridade deveria ser caracterizada pela relação entre os líderes e seus seguidores e que, muitas vezes, a ideia de que o líder deriva seu papel das crenças de seus seguidores na sua missão. No que tange à análise do poder na sociedade, Weber introduziu o conceito de que o poder pode ser plural. No mundo moderno, o poder econômico seria a força dominante, mas não a única. Por exemplo, um indivíduo que trabalha para uma grande organização pode exercer grande poder, mesmo sendo um dos assalariados e não o dono dos meios de produção. Neste sentido, o poder seria a capacidade que um indivíduo ou um grupo tem de fazer valer seus interesses em uma ação conjunta, mesmo considerando a existência de oposição; portanto, a base para que o poder seja exercido depende do contexto social e histórico de cada organização social. O interesse de Weber nas questões do poder, da autoridade e da racionalização levou aos estudos sobre a burocracia, que era entendida como uma marca da modernidade. A burocracia seria organizada de acordo com princípios racionais. Os funcionários são organizados de forma hierárquica e seu trabalho é regulado por uma série de regras determinadas de forma impessoal e que valorizam a capacidade e especialização. A burocracia organizada era, para Weber, o elemento que define a política moderna, a economia moderna e a tecnologia. Nesta perspectiva, ele considera que as organizações burocráticas são superiores aos outros tipos de administração, da mesma maneira que a produção mecanizada seria mais eficiente. Contudo, Weber aponta problemas na burocracia. Sua maior vantagem, a capacidade de estimar os resultados de uma ação, dificulta o trato com os casos concretos e individuais e ele considera que o processo de burocratização do mundo moderno levou a despersonalização destas relações. 15 A obra de Weber é marcada pela tentativa de analisar questões de grande envergadura, como: qual o destino do mundo moderno? Estas preocupações, e sua tentativa sistemática de respondê-las, coloca-o entre os grandes pensadores da área e como destaca Kalberg:10 No cerne de sua análise está a necessidade de analisar, mapear, interpretar as ações que os grupos humanos entendem como definidoras e significativas de sua experiência. Exatamente por sua proposta de grande envergadura, sua abordagem não está imune a críticas, que apontam elementos com falta de clareza nos argumentos e incoerências entre o proposto em diversas partes da obra. Ainda segundo Kalberg:11 Outros críticos apontam dúvidas sobre conceitos centrais da Sociologia weberiana, como o tipo ideal e a ênfase no sentido subjetivo da ação. No que tange ao tipos ideias, muitos consideram que Weber não esclarece adequadamente os métodos utilizados para a sua construção e nem indica limites claros sobre a validade de sua utilização. No caso do sentido subjetivo da ação, destaca-se que a análise da ação baseada em valores não é claramente interpretada, gerando conclusões frágeis. É exatamente a polêmica que seu trabalho causou e continua causando que permite afirmar que Max Weber figura entre os maiores pensadores da Humanidade. 10 KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 1691. (Edição para Kindle) 11 KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 1696. (Edição para Kindle) Algumas considerações Weber criou uma abordagem rigorosa, bem-definida que combinou a descrição empírica com a generalização teórica. Caracterizada por sua impressionante amplitude histórica e comparativa, a sociologia de Max Weber investiga a ação social das pessoas, com respeito a valores tradições, interesses e emoções.11 Por exemplo, embora o significado subjetivo seja o cerne de seus textos metodológicos, a linguagem usada nos estudos históricos comparados muitas vezes deixa a impressão de que os fatores estruturais são o alvo principal da analise.12 16 Unidade: Max Weber Material Complementar Seguem algumas sugestões para aprofundar seus estudos. Trecho do filme de animação frânces “Les Douze Travaux d’Astérix” (Os Doze Trabalhos de Asterix), de René Goscinny e Albert Uderzo, estreado em 1976: • Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=FQPe0aQSitM; • Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=QP9foKGy6kQ. https://www.youtube.com/watch?v=FQPe0aQSitM https://www.youtube.com/watch?v=QP9foKGy6kQ 17 Referências ARON, Raymond. Etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999. COSER, Lewis. Masters of Sociological Thought: ideas in historical and social context. Londres: Waveland Pr Inc. 2003. KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. (Edição para Kindle) RITZER, George, Sociological Theory. New York, McGraw-Hill, 1992. WEBER, Max. Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. London. Routlege Classics, 2005. 18 Unidade: Max Weber Anotações
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