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05_Nocoes_de_Direitos_Humanos

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. 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PM-AP 
Soldado 
 
Origem, sentido e evolução histórica dos Direitos Humanos. ............................................................... 1 
 
Os fundamentos filosóficos dos Direitos Humanos. ............................................................................. 9 
 
Teoria crítica dos Direitos Humanos. ................................................................................................. 15 
 
As tensões da Modernidade ocidental e as tensões dos Direitos Humanos: da colonialidade à 
descolonialidade. .................................................................................................................................... 16 
 
Direito internacional dos Direitos Humanos: fontes, classificação, princípios, características e gerações 
de direitos humanos. .............................................................................................................................. 25 
 
Normas de interpretação dos tratados de Direitos Humanos. ............................................................ 36 
 
O sistema internacional de proteção e promoção dos Direitos Humanos: Organização das Nações 
Unidas (ONU). ........................................................................................................................................ 39 
 
Sistema Regional Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos. .............................................. 41 
 
Mecanismos de proteção aos direitos humanos na Constituição da República do Brasil. .................. 68 
 
Reflexos do Direito Internacional dos Direitos Humanos no direito brasileiro. .................................... 69 
 
Direitos Humanos em espécie e grupos vulneráveis. ......................................................................... 78 
 
Candidatos ao Concurso Público, 
O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas 
relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom 
desempenho na prova. 
As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar 
em contato, informe: 
- Apostila (concurso e cargo); 
- Disciplina (matéria); 
- Número da página onde se encontra a dúvida; e 
- Qual a dúvida. 
Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O 
professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. 
Bons estudos! 
 
1332057 E-book gerado especialmente para SAMIO DOS SANTOS SILVA
 
. 1 
 
 
Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante 
todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica 
foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida 
conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente 
para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores @maxieduca.com.br 
 
Origem 
 
O homem ao longo da história percorreu um longo caminho marcado por lutas, principalmente 
causadas pelo desejo de lucro e poder, visto que traz a herança da personalidade humana desde os 
primórdios dos tempos, de extinto animal. Para eliminar, ou pelo menos diminuir essa personalidade “não 
social” é indispensável a educação para “retirar o homem dos resquícios de sua condição primitiva”. 
Os direitos humanos surgiram como um dos fatores mais importantes para a convivência do homem 
em sociedade, refinando seu comportamento. 
 
A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que este significa. Direitos Humanos são os 
direitos do Homem (seres humanos). Diria que são direitos que visam resguardar os valores mais 
preciosos da pessoa humana, ou seja, direitos que visam resguardar a solidariedade, a igualdade, a 
fraternidade, a liberdade, a dignidade. No entanto, apesar de facilmente identificado, a construção de um 
conceito que o defina, não é uma tarefa fácil para a doutrina, em razão da amplitude do tema. 
 
Não há um rol predeterminado desse conjunto mínimo de direitos essenciais e indispensáveis a uma 
vida digna. As necessidades humanas variam e, de acordo com o contexto histórico de uma época, novas 
demandas sociais são traduzidas juridicamente e inseridas na lista dos direitos humanos. 
 
A concepção contemporânea de direitos humanos, foi estabelecida internacionalmente em 1948, 
pela Declaração Universal de Direitos Humanos, pouco tempo depois das crueldades cometidas pelos 
nazistas na Segunda Guerra Mundial. Referida declaração foi ratificada pela Declaração dos Direitos 
Humanos de Viena, em 1993, onde os direitos humanos e as liberdades fundamentais foram declarados 
direitos naturais de todos os seres humanos, bem como definiu que a proteção e promoção dos direitos 
humanos são responsabilidades primordiais dos Governos. 
Nessa visão contemporânea os direitos humanos são universais e indivisíveis, visando proteger os 
direitos a vida, a liberdade, igualdade e segurança pessoal, o que leva ao respeito integral a dignidade 
humana. 
 
Em linhas gerais, podemos definir direitos humanos, como aqueles que pertencem à pessoa 
humana, independentemente de leis, sendo considerados os principais: a vida, a liberdade, a igualdade 
e a segurança pessoal, sendo ainda direitos universais e indivisíveis. 
 
No mesmo sentido afirma o doutrinador João Baptista Herkenhoff1, ao definir os Direitos Humanos: 
“Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos aqueles direitos 
fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria natureza humana, pela 
dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. 
Pelo contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir”. 
 
Para ele, direitos humanos são as ressalvas e restrições ao poder político ou as imposições a este, 
expressas em declarações, dispositivos legais e mecanismos privados e públicos, destinados a fazer 
respeitar e concretizar as condições de vida que possibilitem a todo o ser humano manter e desenvolver 
suas qualidades peculiares de inteligência, dignidade e consciência, e permitir a satisfação de suas 
necessidades materiais e espirituais. 
 
Os direitos humanos se orientam pelas seguintes expressões: 
- Direitos do homem: empregada aos direitos conexos ao natural, direito a vida. 
 
1 HERKENHOFF, João Baptista. Direitos Humanos. A construção Universal de uma utopia. São Paulo: Ed. Santuário, 1997. 
Origem, sentido e evolução histórica dos Direitos Humanos. 
1332057 E-book gerado especialmente para SAMIO DOS SANTOS SILVA
 
. 2 
- Direitos humanos em sentido estrito: direitos conexos positivados em tratados e convenções 
internacionais 
- Direitos fundamentais: quando os tratados dos direitos humanos foram incorporados no 
ordenamento jurídico do Estado. 
 
A doutrina aponta certa distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais, sustentando que 
os direitos humanos são a concretização das exigências de liberdade, igualdade e dignidade humana, as 
quais devem ser reconhecidas nos ordenamentos jurídicos nacionais e internacionais, em cada momento 
histórico. E que quando esses direitos são reconhecidos positivamente pela ordem jurídica são 
considerados direitos fundamentais. Assim, é possível notar que os direitos fundamentais são direitos 
humanos positivados no ordenamento jurídico. 
Para que os direitos humanos sejam concretizados é necessário que o Estado cumpra seu dever de 
respeitar a liberdade e autonomia do homem e, por outro lado, implementar ações aptas a proporcionar 
a dignidade humana. 
 
Estrutura dos Direitos Humanos 
 
Em geral, todo direito exprime a faculdade de exigir de terceiro, que pode ser o Estado ou mesmo um 
particular, determinada obrigação. Por isso, os direitos humanostêm estrutura variada, podendo ser: 
direito-pretensão, direito-liberdade, direito-poder e, finalmente, direito-imunidade, que acarretam 
obrigações do Estado ou de particulares, como segue: 
 
DIREITO-PRETENSÃO: Consiste na busca de algo, gerando a contrapartida de outrem do dever de 
prestar. Nesse sentido, determinada pessoa tem direito a algo, se outrem (Estado ou mesmo outro 
particular) tem o dever de realizar uma conduta que não viole esse direito. Assim, nasce o “direito- 
pretensão”, como, por exemplo, o direito à educação fundamental, que gera o dever do Estado de prestá-
la gratuitamente (art. 208, I, da CF/88). 
 
DIREITO-LIBERDADE: Consiste na faculdade de agir que gera a ausência de direito de qualquer outro 
ente ou pessoa. Assim, uma pessoa tem a liberdade de credo (art. 5º, VI, da CF/88), não possuindo o 
Estado (ou terceiros) nenhum direito (ausência de direito) de exigir que essa pessoa tenha determinada 
religião. 
 
DIREITO-PODER: Implica uma relação de poder de uma pessoa de exigir determinada sujeição do 
Estado ou de outra pessoa. Assim, uma pessoa tem o poder de, ao ser presa, requerer a assistência da 
família e de advogado, o que sujeita a autoridade pública a providenciar tais contatos (art. 5º, LXIII, da 
CF/88). 
DIREITO-IMUNIDADE: Consiste na autorização dada por uma norma a uma determinada pessoa, 
impedindo que outra interfira de qualquer modo. Assim, uma pessoa é imune à prisão, a não ser em 
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos 
de transgressão militar ou crime propriamente militar (art. 5º, LVI, da CF/88), o que impede que outros 
agentes públicos (como, por exemplo, agentes policiais) possam alterar a posição da pessoa em relação 
à prisão. 
 
Sentido 
 
Como visto os direitos humanos compreendem um rol mínimo de direitos do ser humano, derivados 
da soberania da vontade popular e são importantes na medida em que sua finalidade compreende duas 
funções. Explica-se: uma das funções dos direitos humanos é limitar a atuação e os abusos de poder por 
parte dos governantes, quando estes devem obedecer, por exemplo, a dignidade da pessoa humana e a 
liberdade da pessoa humana (competência negativa do Estado). Têm sua importância na relação que 
estabelece entre o homem e seus governantes. 
Tem, ainda, importância o tema em função da liberdade positiva que expressam esses direitos, isto é, 
são direitos fundamentais que o ser humano pode exercer e exigir respeito, por tratarem sobre a dignidade 
do indivíduo em sentido amplo. 
 
 
 
 
1332057 E-book gerado especialmente para SAMIO DOS SANTOS SILVA
 
. 3 
Evolução histórica dos Direitos Humanos 
 
A evolução dos Direitos Humanos está intrinsecamente ligada a questões sociais, econômicas e 
culturais, moldando-se de acordo com a mobilização social para garantir que suas demandas possam ser 
atendidas. 
Difícil traçar um marco cronológico para a evolução dos direitos humanos, haja vista a complexidade 
dos fatos e a identificação de pontos aleatórios para traçar tal análise2. Contudo, através do estudo do 
Direito Natural é possível identificar que os direitos humanos existem desde os primórdios dos tempos. 
O Direito Natural é o conjunto dos direitos à vida, à segurança pessoal, à liberdade e à igualdade, pois 
são inerentes ao indivíduo desde o seu nascimento, sendo, portanto, justo por natureza. 
No início da História, o direito teve raízes fincadas na dinâmica da natureza, porque o homem era 
movido pelas leis naturais da sobrevivência. 
Tales de Mileto, nascido por volta do ano 600 a.C., é considerado o mais antigo filósofo ocidental. 
Fundou a Escola de Mileto, cujos principais pensadores foram Anaximandro e Anaxímenes. 
A Escola de Mileto postulava que os elementos da natureza (physis), especificamente água, ar, fogo 
e terra, eram os condicionantes da vida humana. Como nada escreveram, essa teoria chegou até nós por 
meio dos filósofos que vieram depois de Sócrates. Segundo ela, o destino dos homens era regido por 
fenômenos naturais, principalmente aqueles ocasionados pela água, que seria o princípio de todas as 
coisas e estava em todas as coisas. Por isso, Tales de Mileto e seus seguidores eram chamados de 
filósofos naturalistas. Esse pensamento, baseado no bom senso e na equidade (segundo definição dada 
por Aurélio Buarque de Holanda), inspirou o Direito Natural. As primeiras noções do Direito Natural 
surgem principalmente com os estudos do filósofo Aristóteles, que definiu duas concepções 
complementares: o justo legal (díkaion nomikón) e o justo natural (díkaion physikón). 
O Direito Natural também é chamado Jusnaturalismo. 
Antonio Fernández-Galiano, no artigo “El jusnaturalismo”, inserido no livro Lecciones de teoría del 
derecho y derecho natural, de Benito de Castro Cid (1999 – p. 419-420), diz o seguinte: 
... o jusnaturalismo afirma a existência de uma ordem preceptiva de caráter objetivo, imutável e 
derivada da natureza, que não pode contrariar os mandamentos dos homens e na qual encontra esse 
direito humano sua fonte e fundamento. 
Mas o entendimento da noção do que seja o jusnaturalismo modificou-se ao longo dos tempos.”3 
O primeiro conceito de jusnaturalismo, foi o Jusnaturalismo clássico, que trazia em sua essência a 
ideia de que o fundamento do direito é a natureza das coisas, ou seja, a ordem natural da natureza, que 
deve ser seguida, pois, segundo Aristóteles, por exemplo, o que é natural é bom e justo. Esta primeira 
ideia de jusnaturalismo acredita-se que adveio com a Antígona, de Sófocles, onde há a invocação de leis 
divinas para justificar a desobediência às ordens dadas pelos rei. 
Com o passar do tempo o direito passou a ser considerado uma herança divina, momento no qual 
surgiu o Jusnaturalismo Teológico, tendo como fundamento as leis concedias por Deus. Referida 
posição imperou até a Idade Média, até onde prevaleceu as convicções religiosas. Um dos primeiros 
pensadores desse tipo de naturalismo foi Heráclito, que defendia a ideia de que o Universo era governado 
por uma lei divina. 
Posteriormente, surgiu o jusnaturalismo escolástico (ou tomista), onde acreditavam que o direito 
tinha como base os mandamentos divinos, advindos da “lei eterna”. Para estes pensadores cristãos, como 
São Tomás de Aquino, dentro desses mandamentos haviam as leis naturais e as leis humanas e que a 
lei natural estabelece hierarquia entre as criaturas, mas que só é justa se baseada na lei eterna, na qual 
Deus é o fundamento de todas as coisas. 
Um dos primeiros pensadores do jusnaturalismo racional foi o holandês Hugo Grotius. Ele o definiu 
desta maneira: “Ditame da justa razão, destinado a mostrar que um ato é moralmente torpe ou 
moralmente necessário segundo seja ou não conforme a própria natureza racional do homem, e a mostrar 
que tal ato é, em consequência disto, vetado ou comandado por Deus, enquanto autor da natureza”. Este 
trecho está no livro de Norberto Bobbio, O Positivismo Jurídico: Lições de Filosofia do Direito.4 Para este 
pensador, o fundamento do direito é o homem, que analisa as leis da natureza e as aplica. A base desse 
pensamento foi elaborada por Zenon e os estoicos, mas a essência já estava em Protágoras, cuja célebre 
fórmula determinava que o homem é a medida de todas as coisas. O jusnaturalismo racional foi, mais 
tarde, adotado pelos romanos, mas profundamente modificado nos séculos XVII e XVIII, quando se 
 
2 AGRA. Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 6ª edição. Ed. Forense. 2010 
3 Sinopses Jurídicas. Direitos Humanos. Ricardo Castilho. Editora Saraiva. 2011 
4 Idem 
1332057 E-book gerado especialmente para SAMIO DOS SANTOS SILVA
 
. 4 
passou a atribuir à razão, por meio das ciências, o descobrimento da verdade, e não mais à entidade 
divina. Surgia, então, uma nova conceituação para o Direito Natural.5 
Nos séculos XIX e XX surgiu o jusnaturalismo contemporâneo, considerando que o direito precisade um fundamento ético justo, ou seja, o direito precisa ser analisado de acordo com o plano histórico e 
social, considerando a variação da justiça no tempo e no espaço. Um dos pensadores desse 
jusnaturalismo foi Joaquín Herrera Flores. 
Importante ressaltar o contraponto do Direito Natural, qual seja, o Direito Positivo. 
O direito positivo, também chamado de juspositivismo que direito é somente o conjunto de leis postas 
pelo Estado, que define o que é justo por convenção ou justo por lei. 
“O pensador Thomas Hobbes, no livro Leviatã (publicado em 1651) analisou cuidadosamente as leis 
da natureza e chegou à conclusão de que elas somente funcionariam se fossem respeitadas por todos. 
Mas considerou impossível essa obediência, porque achava que os homens são egoístas e somente 
poderiam viver em harmonia se estivessem subordinados a uma autoridade que fiscalizasse o 
cumprimento das leis naturais. Numa análise que considerava realista, definiu que havia grande perigo 
na falta de uma autoridade central, porque os homens em situação de igualdade tinham o mesmo direito 
a todas as coisas; o que ocorreria quando duas pessoas desejassem a mesma coisa e se considerassem 
donas dessa coisa? 
Cada uma tentaria tomar posse do objeto à força e acabariam deflagrando guerras generalizadas. 
Nessas guerras, nem sempre valeria a lei do mais forte, porque mesmo o fraco poderia lançar mão de 
recursos e desenvolver armas para vencer o oponente teoricamente mais poderoso. Por isso, Hobbes 
desenvolveu a teoria em que defendia o absolutismo, ou seja, o poder absoluto ao rei, ao governante que 
representava o Estado. Haveria entre os cidadãos e a autoridade um “pacto social”, pelo qual os homens 
abriam mão de parte de sua liberdade, para permitir que o rei (o Estado) cuidasse de todos, garantindo 
direitos e cobrando obrigações. Essa era a teoria, mas na prática sabemos que o absolutismo levou os 
reis a pensarem que eram donos dos destinos dos súditos. Houve até a publicação de obras de filosofia 
que demonstravam que os reis tinham poder originado dos deuses. Uma dessas obras foi A Política tirada 
da Sagrada Escritura, de Jacques Bossuet, publicada em 1701, da qual o rei Luís XIV, da França, lançou 
mão para justificar suas decisões totalitárias. É famosa uma frase de Luís XIV: “L’Etat c’est moi” (“O 
Estado sou eu”). 
“Curiosamente, nessa época, a Inglaterra já havia abandonado os princípios da doutrina do direito 
divino dos reis, desde a Revolução Gloriosa de 1688, que expulsou os católicos do poder.”6 
Augusto Comte é considerado o pai do positivismo sociológico, porque sistematizou a doutrina, em 
obras que publicou a partir de 1816. Mas o conceito já existia em Roma, quando o imperador Justiniano 
criou um código legislativo para regular os povos conquistados e que firmou a base do Direito Romano. 
O conceito juspositivista também estava incluído em obras de autores como Descartes, Humes e Kant, 
que publicaram livros por volta de 1750. E é preciso considerar também o Código Napoleônico (também 
conhecido como Código Civil Francês), já em 1804, na Idade Moderna, fortemente influenciado pelo 
Direito Romano. Sua aceitação foi ampla em razão de a França ter sido berço da revolução que brandiu 
os conceitos básicos dos direitos humanos modernos: liberdade, igualdade e fraternidade. O avanço 
principal do Código Napoleônico foi a noção da separação dos poderes. No livro Memorial de Santa 
Helena, escrito em 1817 por Emmanuel Les Cases, Napoleão Bonaparte incluiu a seguinte reflexão: 
Minha verdadeira glória não foi ter vencido quarenta batalhas; Waterloo apagará a lembrança de tantas 
vitórias; o que ninguém conseguirá apagar, aquilo que viverá eternamente, é o meu Código Civil”. 
O Código de Napoleão deu origem a chamada Escola Exegética, que determinava que o juiz deve 
julgar estritamente de acordo com a lei criada pelo poder legislativo. Referido Código reconhece o direito 
natural, mas privilegia o direito positivo como forma de atuação do Estado, aplicando-se o Direito Natural 
apenas nos casos em que haja conformidade. Referido código foi fundamental para o desenvolvimento 
do direito no mundo ocidental contemporâneo, já que foi a primeira codificação do direito e fundamental 
para o direito atual. 
Em resumo, o Direito Positivo é norteado estritamente nas leis impostas pelo homem, havendo 
punição real e concreta pelo seu descumprimento. Já o Direito Natural, se baseia no que é justo por 
natureza, tempo como fonte a ordem natural das coisas, a moral, a justiça, não havendo, portanto, punição 
no plano concreto, mas apenas no plano moral. 
Apesar de tais diferenças, e do fato do Direito contemporâneo ser baseado no Direito Positivo, não é 
possível excluir o direito natural na interpretação das leis, do contrário, haveria o risco de grandes 
injustiças, apoiado em leis frias, não interpretadas de acordo com a moral e a ética, aplicadas no caso 
concreto. Além disso, o risco do legislador tornar-se totalitário seria enorme. 
 
5 Idem 
6 Ibidem 
1332057 E-book gerado especialmente para SAMIO DOS SANTOS SILVA
 
. 5 
O Direito Positivo, orientado também pelo Direito Natural, auxilia na correta distribuição da Justiça e 
ordem social. 
Ademais, para preservar os direitos humanos é preciso levar em conta que o direito muda ao longo do 
tempo, tendo em vista que os valores mudam, os costumes mudam, e por isso a interpretação das leis 
também é modificada com o tempo. 
 
Em termos contemporâneos, temos que a Magna Carta de 1215, é o primeiro documento escrito que 
consagra os direitos humanos, assinado obrigatoriamente pelo rei da Inglaterra, João Sem-Terra. 
Neste documento, pela primeira vez na história foram listados os direitos das pessoas em relação ao 
poder da autoridade e é a base das Constituições Modernas. 
“A história começa quando o rei Ricardo da Inglaterra, conhecido como Coração de Leão, seguiu para 
o Oriente, para combater nas cruzadas. Seu irmão, o príncipe João, assume o trono e estabelece para si 
mesmo prerrogativas que desagradaram profundamente os seus aliados, principalmente os barões. Entre 
essas prerrogativas estava o Direito de Nomeação, segundo o qual o soberano podia nomear bispos, 
abades e funcionários eclesiásticos, e o Direito de Veto, segundo o qual o soberano podia excluir pessoas 
de determinadas funções ou impedir que tomassem posse. Quando foi escolhido para a função de 
arcebispo o religioso Stephen Langton, o rei João não o aceitou e usou contra ele o Direito de Veto. O 
arcebispo Langton tinha sido escolhido pelo próprio papa Inocêncio III, e a posição do rei iniciou uma 
grande revolta da Igreja. Aproveitando-se da situação, os barões que formavam a corte real apoiaram o 
pontífice, exigindo que o rei renunciasse a direitos que consideravam exagerados. O movimento revoltoso 
ganhou força, e foram levadas ao rei duas exigências: que prometesse respeitar a lei e que admitisse que 
a vontade do rei não era mais forte do que a lei. Os barões queriam um documento escrito, com essas 
promessas, e para consegui-lo ameaçaram liderar os aldeões medievais, no seu legítimo direito de 
rebelar-se, previsto no pactum subjectionis. 
No início do século XVIII, os cidadãos não aceitavam mais a tese do absolutismo dos reis nem o 
pretexto de que o poder dos soberanos provinha dos deuses. A própria palavra de São Paulo (omnis 
potestas a Deo = todo poder vem de Deus) começava a ser questionada. 
Entrava em cena a ideologia revolucionária chamada liberalismo, que defendia a liberdade individual. 
A partir desse pensamento, a sociedade política da época fez um acordo de convivência com a autoridade 
real, o pactum subjectionis (pacto de sujeição), que funcionava assim: os aldeões, religiosos e nobres 
concordavam em subordinar-se a um senhor que, em troca, cuidaria de manter o país protegido pelo 
exército, organizar a produção agrícola e pecuária, cuidar do comércio e guardar as fronteiras. Nesse 
pacto estavaprevisto que, se os cidadãos não concordassem com as decisões do rei, tinham o direito de 
rebelar-se. No entanto, era um acordo tácito. Não havia documento escrito que o legitimasse. Por isso 
mesmo os barões da Inglaterra queriam que João Sem-Terra assinasse um documento que tornasse 
oficial a sua promessa de respeitar as liberdades individuais.”7 
A partir da Magna Carta foi implementada a monarquia constitucional inglesa, imitada mais tarde pelo 
mundo ocidental, apesar de em 1215 ter sido criada apenas para controlar o comportamento tirano do rei 
João Sem- Terra. 
A cláusula mais conhecida da Magna Carta é a 39, que contém em seu texto o seguinte: 
Nenhum homem livre será preso, encarcerado ou privado de uma propriedade, ou tornado fora da lei, 
ou exilado, ou de maneira alguma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra 
ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pela lei da terra. 
Em síntese, a Magna Carta foi o primeiro documento escrito a resguardar direitos humanos, criada 
para limitar o comportamento tirano do rei João Sem-Terra da Inglaterra, que foi forçado a assinar o 
documento, sob ameaça dos barões de liderarem uma revolta dos aldeões. Além disso, referido 
documento foi a base para a as constituições modernas, notadamente com observância ao artigo 40: “A 
ninguém venderemos, nem a ninguém recusaremos ou atrasaremos o direito ou a justiça”. 
 
Em 1789, a Assembleia Nacional da França votou a Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão, 
importante documento para mudança das relações entre Direitos humanos e Estado, positivando as 
prerrogativas do homem e obrigando os entes estatais a respeitá-los e garanti-los. Referida Declaração 
tinha o objetivo de levar a ideia de liberdade a todos os povos e a todos os tempos, tendo, portanto, 
caráter universal. 
 
A Carta dos Direitos dos Estados Unidos ou Declaração dos Direitos dos Cidadãos dos Estados 
Unidos (em inglês: United States Bill of Rights) é o nome pelo qual as dez primeiras emendas à 
 
7 Sinopses Jurídicas. Direitos Humanos. Ricardo Castilho. Editora Saraiva. 2011 
1332057 E-book gerado especialmente para SAMIO DOS SANTOS SILVA
 
. 6 
Constituição dos Estados Unidos são conhecidas. Elas foram introduzidas por James Madison para o 
Primeiro Congresso dos Estados Unidos em 1789 como uma série de artigos e entrou em vigor em 15 de 
dezembro de 1791, quando tinha sido ratificada por 3/4 (três quartos) dos estados. Thomas Jefferson era 
um defensor da Bill of Rights. 
Com o Bill of Rights há um maior desenvolvimento dos direitos fundamentais, ocorrendo a positivação 
dos direitos imprescindíveis ao desenvolvimento humano. Ele foi importante pela afirmação de que os 
homens possuem direitos que são inerentes a sua própria natureza, de acordo com os ideais 
jusnaturalistas; e por asseverar que todos são livres e iguais, sem distinção de qualquer natureza, no que 
contribuiu para sepultar a ideia de superioridade da realeza e da nobreza advindas da idade média.8 
Outro documento importante para evolução dos Direitos Humanos foi a Declaração de Direitos do Povo 
Trabalhador e Explorado, a primeira a defender a doção de direitos sociais, garantindo prestações 
mínimas que deveriam ser providas pelos entes estatais. Tal declaração surgiu em decorrência da 
Revolução Bolchevique de 1917 e conferiu direitos as mulheres, restringiu a propriedade privada, 
expandiu as liberdades associativas e colocou, em nível teórico, os trabalhadores como classe dominante 
da sociedade. 
Um marco muito importante para a evolução do conceito de Direitos que conhecemos atualmente foi 
a Segunda Guerra Mundial, na qual ocorreram incontáveis atrocidades, como, por exemplo, a morte de 
milhões de judeus. Com o fim dessa Guerra, em 1945 foi assinada a Carta de Organização das Nações 
Unidas, que tem por fundamento o princípio da igualdade soberana de todos os Estados que buscam a 
paz e, em 10 de dezembro de 1948 a ONU elaborou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
Alexandre de Moraes9 lembra que a Declaração dos Direitos Humanos foi a mais importante conquista 
no âmbito dos direitos humanos fundamentais em nível internacional, muito embora o instrumento 
adotado tenha sido uma resolução, não constituindo seus dispositivos obrigações jurídicas dos Estados 
que a compõem. O fato é que desse documento se originam muitos outros, nos âmbitos nacional e 
internacional, sendo que dois deles praticamente repetem e pormenorizam o seu conteúdo, quais sejam: 
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais, ambos de 1966. 
Posteriormente, surgiram muitos outros pactos importantes para o desenvolvimento dos direitos 
humanos, como: Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de Discriminação 
Racial, Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, Convenção 
sobre os Direitos da Criança, Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Convenção 
contra a Tortura, etc. 
Além do Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos, surgiram os sistemas regionais, que 
buscam internacionalizar os direitos humanos no plano regional, em especial na Europa, na América e na 
África10. Desse Sistema Regional surgiu em 1969, a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto 
de San José da Costa Rica). 
Em âmbito nacional, destaca-se a Constituição Federal, que positivou direitos humanos e conforme 
explica Lafer11, a afirmação do jusnaturalismo moderno de um direito racional, universalmente válido, 
gerou implicações relevantes na teoria constitucional e influenciou o processo de codificação a partir de 
então. Embora muitos direitos humanos também se encontrem nos textos constitucionais, aqueles não 
positivados na Carta Magna também possuem proteção porque o fato de este direito não estar 
assegurado constitucionalmente e uma ofensa à ordem pública internacional, ferindo o princípio da 
dignidade humana. 
Questões 
 
01. (SEGEP/MA - Agente Penitenciário – FUNCAB/2016). Acerca do conceito e estrutura dos direitos 
humanos, assinale a assertiva correta. 
(A) Os direitos humanos têm estrutura variada, podendo ser: direito-pretensão, direito-liberdade, 
direito-poder e, finalmente, direito-imunidade. 
(B) Os direitos humanos são os essenciais e dispensáveis à vida digna. 
(C) O direito-pretensão consiste na autorização dada por uma norma a uma determinada pessoa, 
impedindo que outra interfira de qualquer modo. 
(D) O direito-liberdade implica uma relação de poder de uma pessoa de exigir determinada sujeição 
do Estado ou de outra pessoa. 
(E) O direito-poder consiste na busca de algo, gerando a contrapartida de outrem do dever de prestar. 
 
8 AGRA. Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 6ª edição. Ed. Forense. 2010 
9 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. Ed. Atlas. São Paulo. 1997. 
10 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 9 ed. São Paulo. Saraiva.2008. 
11 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: Cia. Das letras. São Paulo. 2009 
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. 7 
02. (MPE/SC - Promotor de Justiça - MPE/SC/2016) Julgue o item a seguir: 
 
Conceitualmente, os direitos humanos são os direitos protegidos pela ordem internacional contra as 
violações e arbitrariedades que um Estado possa cometer às pessoas sujeitas à sua jurisdição. Por sua 
vez, os direitos fundamentais são afetos à proteção interna dos direitos dos cidadãos, os quais encontram-
se positivados nos textos constitucionais contemporâneos. 
( ) Certo 
( ) Errado 
 
03. (PC/SP - Atendente de Necrotério Policia – VUNESP) Assinale a alternativa correta com relação 
ao conceito de direitos humanos. 
(A) Direitos humanos é uma forma sintética de se referir a direitos fundamentais da pessoa humana,aqueles que são essenciais à pessoa humana, que precisa ser respeitada pela dignidade que lhe é 
inerente. 
(B) Direitos humanos são aqueles que estão previstos de forma expressa em uma Constituição e que 
se referem somente a direitos das pessoas que respondem a um inquérito ou a um processo penal. 
(C) Como os direitos humanos são inerentes à natureza humana, somente derivam do espírito humano 
e não devem ser positivados nas leis. 
(D) No âmbito da filosofia, a expressão direitos humanos significa a independência do ser humano, 
tratando exclusivamente do direito de liberdade. 
(E) Considerando o que prevê a Constituição de 1988, os direitos humanos se dão por meio da 
propriedade, que se impõe como um valor incondicional e insubstituível, que não admite equivalente. 
 
04. (MPT - Procurador do Trabalho - MPT) Sobre a evolução histórica dos direitos humanos, assinale 
a alternativa CORRETA: 
(A) O Bill of Rights dos Estados Unidos da América consiste em um rol de direitos fundamentais 
inserido na Declaração de Independência proclamada por Thomas Jefferson em 1776, posteriormente 
incorporado aos Artigos da Confederação. 
(B) O Bill of Rights dos Estados Unidos da América constitui-se de normas originárias constantes da 
Constituição aprovada na Convenção da Filadélfia em 1787. 
(C) O Bill of Rights dos Estados Unidos da América foi inserido somente em 1791 na Constituição 
americana, sob a forma de emendas constitucionais. 
(D) O Bill of Rights formalmente não é uma norma federal nos Estados Unidos da América, mas sim 
uma interpretação extensiva da Declaração de Direitos da Virginia promovida pela jurisprudência da 
Suprema Corte americana. 
(E) Não respondida. 
 
05. (PC/SP - Investigador de Polícia – VUNESP) O ano de 1948 representou um marco histórico 
mundial no tocante aos direitos humanos, pois foi nesse ano que: 
(A) foi criada a Corte Internacional dos Direitos Humanos. 
(B) aconteceu a Independência dos Estados Unidos da América 
(C) eclodiu a Revolução Francesa, trazendo os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade 
(D) foi outorgada a Carta Magna na Inglaterra 
(E) foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos do Homem. 
 
06. (DPE/PI – Defensor– CESPE) A respeito do desenvolvimento histórico dos direitos humanos e 
seus marcos fundamentais, assinale a opção correta. 
(A) Os direitos fundamentais surgem todos de uma vez, não se originam de processo histórico 
paulatino. 
(B) Não há uma correlação entre o surgimento do cristianismo e o respeito à dignidade da pessoa 
humana. 
(C) As gerações de direitos humanos mais recentes substituem as gerações de direitos fundamentais 
mais antigas. 
(D) A proteção dos direitos fundamentais é objeto também do direito internacional. 
(E) A ONU é o órgão responsável pela UDHR e pela Declaração Americana de Direitos. 
 
07. (DPE/MS – Defensor– VUNESP) Quando se fala em Direitos Humanos, considerando sua 
historiciedade, é correto dizer que 
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(A) somente passam a existir com as Declarações de Direitos elaboradas a partir da Revolução 
Gloriosa Inglesa de 1688. 
(B) foram estabelecidos, pela primeira vez, por meio da Carta Magna de 1215, que é a expressão 
maior da proteção dos Direitos do Homem em âmbito universal. 
(C) a concepção contemporânea de Direitos Humanos foi introduzida, em 1789, pela Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão, fruto da Revolução Francesa. 
(D) a internacionalização dos Direitos Humanos surge a partir do Pós-Guerra, como resposta às 
atrocidades cometidas durante o nazismo. 
 
08. (PC/SP - Delegado - PC/SP) Quando, no final do século XVIII, foram declarados os direitos 
fundamentais, eram encarados essencialmente como 
(A) interesses coletivos não individualizáveis 
(B) proliferação dos direitos naturais e objetivos 
(C) expressões da liberdade humana em face do Poder 
(D) objetivos políticos efetivamente protegidos 
(E) vulgarização e trivialização dos direitos naturais 
 
Respostas 
 
01. Resposta: A 
Em geral, todo direito exprime a faculdade de exigir de terceiro, que pode ser o Estado ou mesmo um 
particular, determinada obrigação. Por isso, os direitos humanos têm estrutura variada, podendo ser: 
direito-pretensão, direito-liberdade, direito-poder e direito-imunidade. 
 
02. Resposta: Certo 
De acordo com que dispõe a doutrina aponta certa distinção entre direitos humanos e direitos 
fundamentais, sustentando que os direitos humanos são a concretização das exigências de liberdade, 
igualdade e dignidade humana, as quais devem ser reconhecidas nos ordenamentos jurídicos nacionais 
e internacionais, em cada momento histórico. E que quando esses direitos são reconhecidos 
positivamente pela ordem jurídica são considerados direitos fundamentais. Assim, é possível notar que 
os direitos fundamentais são direitos humanos positivados no ordenamento jurídico. 
 
03. Resposta: A 
Direitos Humanos é a concretização das exigências de liberdade, igualdade e dignidade humana, as 
quais devem ser reconhecidas nos ordenamentos jurídicos nacionais e internacionais, em cada momento 
histórico. Direitos fundamentais são os direitos humanos reconhecidos positivamente pela ordem 
constitucional. 
 
04. Resposta: C 
A Carta dos Direitos dos Estados Unidos ou Declaração dos Direitos dos Cidadãos dos Estados Unidos 
(em inglês: United States Bill of Rights) é o nome pelo qual as dez primeiras emendas à Constituição dos 
Estados Unidos são conhecidas. Elas foram introduzidas por James Madison para o Primeiro Congresso 
dos Estados Unidos em 1789 como uma série de artigos e entrou em vigor em 15 de dezembro de 1791. 
 
05. Resposta: E 
O ano de 1948 representou um marco histórico mundial no tocante aos direitos humanos, pois foi 
proclamada a Declaração Universal dos Direitos do Homem, após a Segunda Guerra Mundial, na qual 
ocorreram incontáveis atrocidades, como, por exemplo, a morte de milhões de judeus. Com o fim dessa 
Guerra, em 1945 foi assinada a Carta de Organização das Nações Unidas, que tem por fundamento o 
princípio da igualdade soberana de todos os Estados que buscam a paz e, em 10 de dezembro de 1948 
a ONU elaborou a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ou do homem). 
 
06. Resposta: D. 
A proteção dos direitos fundamentais pela Constituição Federal não exclui outros adquiridos por meio 
do direito internacional. É o que dispõe o art. 5º, § 2º, CF: os direitos e garantias expressos nesta 
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
 
 
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07. Resposta: D. 
Conforme ensina Flávia Piovesan, “(...) internacionalização dos direitos humanos, que constitui um 
movimento extremamente recente na história, surgindo a partir do Pós-Guerra, como resposta às 
atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo”. 
 
08. Resposta: C. 
O direito à Liberdade pertence aos direitos de 1ª dimensão. Possui como marco histórico a Revolução 
Francesa e a Revolução norte-americana, ocorridas no final do século XVIII. É a busca pela não 
intervenção do Estado, tratado assim como direito negativo, por afastar o Estado do indivíduo. 
 
 
 
Para melhor entendimento do tema, vamos realizar a leitura de parte do texto: “Fundamentos dos 
Direitos Humanos”, escrito por Marconi Pequeno12: 
 
Os direitos humanos são aqueles princípios ou valores que permitem a uma pessoa afirmar sua 
condição humana e participar plenamente da vida. 
Tais direitos fazem com que o indivíduo possa vivenciar plenamente sua condição biológica, 
psicológica, econômica, social cultural e política. Os direitos humanos se aplicam a todos os homens e 
servem para proteger a pessoa de tudo que possa negar sua condição humana. Com isso, eles aparecem 
como um instrumento de proteção do sujeito contra todo tipo de violência. 
Pretende-se,com isso, afirmar que eles têm, pelo menos teoricamente, um valor universal, ou seja, 
devem ser reconhecidos e respeitados por todos os homens, em todos os tempos e sociedades. 
Os direitos humanos servem, assim, para assegurar ao homem o exercício da liberdade, a preservação 
da dignidade e a proteção da sua existência. 
Trata-se, portanto, daqueles direitos considerados fundamentais que tornam os homens iguais 
independentemente do sexo, nacionalidade, etnia, classe social, profissão, opção política, crença 
religiosa ou convicção moral. 
Eles são essenciais à conquista de uma vida digna, daí serem considerados fundamentais à nossa 
existência. Uma vez que já sabemos o que são os direitos humanos fundamentais, cabe-nos agora 
encontrar o sentido daquilo que chamamos de fundamento de tais direitos. 
Quando falamos em fundamento dos direitos humanos, estamos nos referindo à sua natureza ou ainda 
à sua razão de ser. Mas qual a razão de ser desses direitos? Uma resposta possível seria: eles existem 
para zelar, proteger ou promover a humanidade que há em todos nós, fazendo com que o ser humano 
não seja reduzido a uma coisa, a um objeto qualquer do mundo. 
O fundamento pode também ser concebido como fonte ou origem de algo. Nesse sentido, a ideia de 
fundamento serve também para justificar a importância, o valor e a necessidade desses direitos. Ainda 
que não se possa afirmar a existência de um fundamento absoluto que possa garantir a efetivação dos 
direitos humanos – já que a noção do que vem a ser dignidade pode mudar no tempo e no espaço – é 
possível considerar que haverá sempre uma ideia, um valor ou um princípio que servirá para definir a 
natureza própria do homem. Uma vez que o fundamento é, como vimos, aquilo que representa a causa 
ou razão de ser de um fato, situação ou fenômeno, pode-se considerar o fundamento dos direitos 
humanos como a essência que torna humano o nosso ser. 
É certo que o problema do fundamento dos direitos humanos não parece ser algo prioritário nas 
discussões e estudos elaborados sobre o tema. 
Alguns autores consideram até mesmo impossível que a definição de um fundamento único seja capaz 
de nos fazer superar os desafios representados pela diversidade de culturas, hábitos, costumes, 
convenções e comportamentos próprios às inúmeras sociedades. Além do que, a determinação de 
apenas um fundamento seria incapaz de refletir as múltiplas noções do que vem a ser o homem, sua 
natureza e constituição. Nesse caso, teríamos que reconhecer que cada cultura poderia definir, a partir 
de seus próprios valores ou hábitos, aquilo que melhor pode definir a essência do homem. Com isso, 
poderíamos pensar como Bobbio (1982, p. 25) para quem “o problema grave do nosso tempo, com 
relação aos direitos humanos, não é mais o de fundamentá-los e sim o de protegê-los”. 
Talvez seja correto considerar que a grande questão que nos desafia não é de caráter filosófico, 
histórico ou jurídico, mas sim político. O problema político se revela do seguinte modo: como evitar que 
os direitos humanos sejam violados, negados, ignorados. Ora, os direitos humanos somente adquirem 
 
12 Disponível em: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/01/02_marconi_pequeno_fundamento_dh.pdf. Acessado em: 10.07.2017. 
Os fundamentos filosóficos dos Direitos Humanos. 
1332057 E-book gerado especialmente para SAMIO DOS SANTOS SILVA
 
. 10 
existência efetiva quando são vivenciados. Eis por que precisamos criar os meios que tornem possível a 
sua realização. Afinal, quando falamos na necessidade de que esses direitos sejam praticados, isso já 
supõe que os mesmos têm uma causa ou razão de ser. Mas será que o problema referente à 
fundamentação dos direitos humanos está mesmo resolvido? Trata-se de uma questão com a qual nós 
não deveríamos mais nos preocupar? A resposta é: nem o problema foi resolvido, nem essa questão 
deixou de ter importância, como indicam as múltiplas concepções do tema ao longo do tempo. 
No transcorrer da história do pensamento, muitas foram as tentativas de justificar a existência dos 
direitos humanos e de fundamentá-los. Uma delas já se anuncia no século XVII com a ideia de que o 
homem naturalmente tem direito à vida e à igualdade de oportunidades (Locke, 1978). Este preceito é 
seguido pela noção de que todos os homens nascem livres e iguais (Rousseau, 1985) ou ainda pela 
afirmação de que os indivíduos possuem direitos inatos e indispensáveis à preservação de sua existência. 
Os homens teriam, assim, direitos decorrentes de sua própria natureza. 
A atribuição de direitos naturais ao indivíduo se inspira na ideia de que o homem é um ser provido de 
sensibilidade e razão, capaz de se relacionar com o seu semelhante e de constituir as bases do seu 
próprio viver. Além disso, ele é também caracterizado pela sua tendência à sociabilidade, autonomia da 
vontade, capacidade de dominar os instintos e de seguir normas de conduta moral. Todos esses 
elementos caracterizam a sua humanidade e servem para justificar aquilo que marca a sua essência 
fundamental: a dignidade. 
O fundamento dos direitos humanos está baseado na ideia de dignidade. A dignidade é a qualidade 
que define a essência da pessoa humana, ou ainda é o valor que confere humanidade ao sujeito. Trata-
se daquilo que existe no ser humano pelo simples fato de ele ser humano. Cada homem traz consigo a 
forma inteira da condição humana, afirmava o filósofo francês Montaigne (2000), ao se referir a esse 
elemento que nos define em nossa condição própria de ser. A ideia de dignidade deve, pois, garantir a 
liberdade e a autonomia do sujeito. Tal noção nos permite afirmar que todo ser humano tem um valor 
primordial, independentemente de sua vida particular ou de sua posição social. Eis por que o homem 
deve ser considerado como um fim em si mesmo, jamais como um meio ou instrumento para a realização 
de algo (Kant, 1980). 
O homem é um ser cuja existência constitui um valor absoluto, ou seja, nada do que existe no mundo 
lhe é superior ou equivalente. 
A dignidade é um valor incondicional (ela deve existir independentemente de qualquer coisa), 
incomensurável (não se pode medir ou avaliar sua extensão), insubstituível (nada pode ocupar seu lugar 
de importância na nossa vida), e não admite equivalente (ela está acima de qualquer outro princípio ou 
ideia). Trata-se de algo que possui uma dimensão qualitativa, jamais quantitativa. A dignidade possui um 
valor intrínseco, por isso uma pessoa não pode ter mais dignidade do que outra. 
Apesar de sua indiscutível importância, parece claro que nem sempre podemos dizer com segurança 
o que significa essa noção. Não é fácil definir de maneira ampla, satisfatória e inquestionável, o que vem 
a ser dignidade humana. Assim como também acontece com alguns fenômenos como o tempo, o amor 
ou a felicidade, por exemplo, podemos até saber o que significa a dignidade, porém nem sempre somos 
capazes de explicá-la. Todavia, ainda que esta noção pareça confusa, complexa ou imprecisa, sempre é 
possível perceber quando ela, a dignidade, é negada, violada, esquecida. 
De fato, não precisamos saber definir dignidade humana para reconhecer que ela existe como uma 
marca fundamental do sujeito. Por isso, não é necessário compreender o que este termo significa para 
proteger os que têm sua dignidade ameaçada. Defender, zelar, promover a dignidade do homem já parece 
ser o bastante para tornar nossa vida social menos injusta e violenta. 
Portanto, mesmo que esse termo se revele pouco claro ou mesmo indefinível, parece evidente que 
somos capazes de reconhecer um comportamento ou uma situação em que a dignidade é atingida. Assim 
é o que acontece, por exemplo, quando constatamos o sofrimento de pacientes em filas de hospitais 
públicos, a condição de exclusão a que são submetidos os mendigos e crianças em situação de risco, o 
drama dos desempregados e outros marginalizados sociais. Quando defendemos os direitos desses 
indivíduos,nós o fazemos sempre em nome de uma dignidade que foi negada, esquecida, violada. Desse 
modo, os direitos humanos são considerados fundamentais porque são indispensáveis para que a pessoa 
possa viver com dignidade. 
Mas, convém saber, em que se baseia essa ideia de dignidade. Durante muito tempo a ideia de 
dignidade estava baseada exclusivamente na crença da criação divina, isto é, na afirmação de que a 
essência do homem residia no fato de ele ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. Ainda que 
essa noção continue a ser defendida por muitos, há ainda os que concebem a dignidade não como 
produto da ordem divina, mas da natureza racional do homem. O homem seria detentor de uma faculdade 
superior que o torna essencialmente único e, portanto, diferente dos demais seres. Assim, de posse da 
razão, o homem teria criado o mundo da cultura, o universo da moral e do direito e até mesmo a ideia de 
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. 11 
dignidade que lhe serve de fundamento. Assim, enquanto atributo essencial do homem, a dignidade é 
frequentemente justificada pelo fato de que o homem goza de uma qualidade especial que o difere dos 
demais seres: a razão. É esta faculdade que funda a autonomia da sua vontade e a liberdade que orienta 
sua ação no mundo. 
Mas sabemos que a dignidade do ser humano não pode ser definida apenas pela racionalidade que 
caracteriza o sujeito. O homem é um ser dotado de razão, mas também de emoção, isto é, de sensações 
que o permitem se indignar, sentir vergonha, remorso, compaixão, culpa. O homem não seria um animal 
racional se ele também não fosse um animal afetivo. Pode-se afirmar que nos tornamos diferentes dos 
outros animais porque, dentre outras capacidades, usamos nossos sentimentos em prol dos nossos 
semelhantes e da conquista de uma vida social mais justa e harmoniosa. Portanto, o ser humano também 
tem sua dignidade extraída desses elementos que o tornam capaz de agir com autonomia, liberdade e 
responsabilidade. 
O homem é concebido como o único ser dotado de vontade, ou seja, ele é capaz de agir de forma livre 
e de controlar os apetites, desejos e inclinações determinados pelos seus instintos. Essa capacidade de 
escolher e de elaborar suas próprias normas de conduta faz com que o homem se diferencie dos outros 
animais. Com isso, ele constrói as bases do mundo social com base nos valores de bem e mal, justiça e 
injustiça, vício e virtude. O homem é um ser moral e político e essas características revelam que ele não 
é um simples produto das forças da natureza. Ele constrói seu próprio viver a partir de suas decisões e 
escolhas, de modo que as suas criações culturais fazem com que ele não seja apenas determinado por 
fatores genéticos ou hereditários. Por isso, ninguém nasce bom, mal, justo ou injusto. A pessoa se torna 
injusta ou bondosa, egoísta ou generosa, por força de suas ações, por isso é que sua existência é sempre 
produto de suas escolhas, decisões, condutas. Apesar de ser definido como um animal racional, é 
possível afirmar que o homem jamais está livre de agir movido por inclinações naturais. Há, na conduta 
humana, comportamentos ora ditados pela liberdade, ora determinados pelos instintos. 
A conclusão de que todos os seres humanos são dotados da mesma dignidade, não evita que os 
homens continuem a sofrer violências e discriminações por motivos sociais, culturais, políticos, étnicos, 
religiosos, dentre outros. Por isso, falar em dignidade universal pode parecer uma ideia vaga, já que uma 
vida verdadeiramente digna é reservada apenas a certas classes de indivíduos, ou seja, àqueles que 
pertencem a determinados grupos sociais. 
O respeito, a garantia e a promoção da dignidade é um processo que envolve avanços e conquistas, 
mas também está sujeito a recuos e fracassos. 
Por isso, é necessário que o tema da dignidade humana esteja sempre presente no cotidiano das 
pessoas, seja como objeto de reflexão e discussão, seja como motivo para uma prática de respeito ao 
direito alheio. 
O homem é um ser em construção que pode ser melhorado. Sua existência é resultado dessa busca 
de aperfeiçoamento e da sua capacidade de superar os instintos egoístas e nocivos à vida em sociedade. 
Por isso, é possível defender e promover a dignidade do indivíduo mediante meios educativos 
apropriados, como é o caso de uma educação voltada para os direitos humanos. Esta deve, pois, preparar 
o sujeito para o exercício da cidadania e, sobretudo, para o reconhecimento da dignidade que define sua 
natureza e condição. O processo educacional pode fornecer ao homem os instrumentos necessários para 
que ele possa constituir as bases de um viver compartilhado e baseado nos valores de solidariedade, 
justiça, respeito mútuo, liberdade e responsabilidade. A realização desses valores o torna mais apto a 
viver com dignidade. Porém, sem eles o homem se revela destituído de sua essência fundamental, ou 
seja, ele perde aquilo que define o seu ser: a sua humanidade. 
A educação em direitos humanos é, pois, uma forma de o sujeito reconhecer a importância da 
dignidade e, sobretudo, agir visando a conquista, a preservação e a promoção de uma vida digna. 
 
O relativismo cultural e o universalismo 
 
Para os adeptos do relativismo cultural é impossível afirmar que os assim denominados “direitos 
humanos” tenham uma conotação unívoca e universal para todos os povos e em todas as localidades do 
planeta. 
 
O primeiro argumento que reforça essa tese é o do caráter filosófico, segundo o qual a noção dos 
direitos humanos está embasada na visão antropocêntrica do mundo, o que acarreta a negação da visão 
cosmoteológica predominante em algumas culturas. Desta forma, a definição do arcabouço normativo-
valorativo dos direitos humanos deve espelhar as identidades locais de cada sociedade. De certo, ao 
constatar a multiplicidade cultural, como algo inerente às nações do mundo, torna-se impensável, a vista 
deste argumento, a defesa de uma moral universal. Por exemplo, citam-se as diferenças conceituais que 
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. 12 
o espectro dos direitos humanos assume na análise dos standards morais e culturais dos Estados-
membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-
Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste). Para ilustrar melhor, mencionam-se 
os contornos que o direito fundamental à cultura assume, principalmente, nos países africanos da CPLP. 
 
Um segundo argumento refere-se à política imperialista cultural ocidental que procura impor seus 
valores aos povos do oriente, numa relação top down. Este questionamento foi aventado em virtude de 
que a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 fora adota pela ONU sem voto em sentido 
contrário, e com 8 abstenções (Bielorússia, Checoslováquia, Polônia, União Soviética, Ucrânia Iugoslávia, 
Arábia Saudita e África do Sul), num foro deliberativo composto por apenas 56 países. O pequeno número 
de adesões numa constelação de mais ou menos 200 Estados, de fato, é pouco significativo, para uma 
declaração de direitos que tem pretensões de universalidade. Ademais, frisa-se que muitos dos direitos 
previstos nas cartas internacionais de direitos humanos são incompatíveis com várias práticas culturais 
orientais tradicionais como, por exemplo, o dote obrigatório das noivas, a clitoridectomia, a desigualdade 
entre os sexos, entre outros. O que, por si, denota a predominância do viés cultural ocidental, ao impor 
suas crenças aos demais povos subjugando suas práticas culturais, ao invés de procurar compatibilizá-
las. 
 
Uma crítica bastante incisiva concentra-se no fator teleológico da cultura ocidental de direitos 
humanos. Enquanto para os povos, por exemplo, de tradição islâmica a ideia de “deveres” é o traço 
diretivo inspirador dos direitos humanos, em sentido diametralmente oposto, os ocidentais priorizam a 
vertente reducionista de atribuiçãode direitos sem a conjugação da observância de deveres. De fato, a 
“cultura de direitos”, pode, e tem trazido vastos malefícios para a humanidade, haja vista as preocupações 
ambientais atuais. 
 
Nessa perspectiva, sob o pretexto de se usufruir o direito de explorar os recursos naturais, de gerar 
riquezas, de se reduzir as desigualdades regionais, entre outros, hodiernamente, constata-se um sem 
número de problemas climáticos, físicos e geológicos que poderiam ter sido evitados, se àqueles direitos 
fossem impostos os respectivos deveres de cuidado, de preservação, de reflorestamento, etc. 
 
Uma quarta crítica diz respeito ao desvirtuamento da noção universalista dos direitos humanos para o 
uso estratégico em questões geopolíticas. Conforme RAMOS: “Vários autores desconfiam de uso do 
discurso de proteção de direitos humanos com um elemento da política relações exteriores de numerosos 
Estados, em especial dos Estados ocidentais, que se mostram incoerentes em vários casos, omitindo-se 
na defesa de direitos humanos na exata medida de seus interesses políticos e econômicos. Como 
exemplo, as relações exteriores dos Estados Unidos mostrariam que a universalidade dos direitos 
humanos, de acordo com essa visão, é instrumento de uso específico para o atingimento de fins 
econômicos e políticos, sendo descartável quando inconveniente. O caso sempre citado é o constante 
embargo norte-americano a Cuba, justificado por violações maciças de direitos humanos por parte do 
governo comunista local, e as relações amistosas dos Estados Unidos com a China comunista, sem 
contar o apoio explícito norte-americano a contumazes violadores de direitos humanos.” 
 
O quinto argumento em desfavor da universalidade dos direitos humanos refere-se à supervalorização 
do indivíduo em detrimento da comunidade. Enquanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos 
privilegia, quase exclusivamente, o indivíduo como o único titular de direitos a ser respaldado dentro do 
chamado mínimo ético irredutível, a maioria das sociedades africanas e asiáticas primam pela prevalência 
dos direitos e deveres dos grupos e da comunidade frente aos dos indivíduos. De fato, os ocidentais não 
se preocupam, via de regra, com as questões metafísicas, ao passo que, por exemplo, para os povos de 
tradição islâmica o ser humano só pode ser entendido como ente detentor de direitos e deveres a partir 
de uma visão teológica. Nesse sentido, assevera DONNELLY: 
 
“Uma das diferenças chaves entre a moderna concepção ocidental de dignidade humana e a 
concepção não ocidental se atém em muito ao elemento do individualismo constante da concepção 
ocidental. Os direitos relativos aos indivíduos tendem, obviamente, a ser mais individualísticos em sua 
realização e efeitos que os direitos concernentes a grupos. (..) Quando estes direitos situam-se em um 
nível básico, esse individualismo reflete a inexistência quase completa de reivindicações sociais (...) A 
concepção não ocidental também aponta essa diferença. Por exemplo, Asmaron Legesse escreve que 
uma diferença crítica entre a África e as tradições ocidentais refere à importância que esta última atribui 
aos indivíduos em si. Nas democracias liberais do mundo ocidental, o titular primeiro de direitos é a 
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. 13 
pessoa humana. O indivíduo assume uma posição quase sagrada. Há uma perpétua e obsessiva 
preocupação com a dignidade do indivíduo, seu valor, autonomia e propriedade individual (...) Escrevendo 
a partir de uma perspectiva islâmica, no mesmo sentido, Ahmad Yamani observa que o Ocidente é 
extremamente zeloso na defesa de liberdades, direitos e dignidade individual, enfatizando a importância 
de atos exercidos por indivíduos no exercício desses direitos, de forma a pôr em risco a comunidade”. 
 
Por fim, os relativistas, ainda, destacam a questão econômica como entrave inviabilizador do caráter 
universal dos direitos humanos. Nesse contexto, muitos países subdesenvolvidos, principalmente, os 
latino-americanos justificaram a não implementação, principalmente, de direitos sociais e econômicos 
alegando a escassez de recursos financeiros. Dessa forma, a pretensão de universalidade seria algo 
irrealizável, uma vez que a consagração destes direitos estaria condicionada à existência de riquezas. 
 
Aventadas as principais críticas à universalidade dos direitos humanos, pelos adeptos do relativismo 
cultural, analisar-se-ão, no próximo capítulo, quais são os argumentos favoráveis à posição universalista. 
 
A Prevalência da Posição Universalista Frente à Defesa do Relativismo Cultural 
 
A concepção universalista, notadamente demarcada a partir da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos de 1948, oferece como contra-argumentos à crítica relativista, os seguintes: 
a) No que diz respeito ao argumento filosófico, os universalistas refutam as visões antropocêntricas e 
cosmoteleológicas, afirmando que os direitos expressos nas declarações de direitos humanos não têm o 
condão de abranger todas as nuanças da vida em sociedade. Nesse sentido completa RAMOS: 
“Os direitos humanos não oferecem ritos ou símbolos: são conceitos jurídicos-normativos, que 
estabelecem o ethos de liberdade no regramento da vida em sociedade, não competindo nem servindo 
como substitutos às convicções religiosas.” 
Ainda nesse sentido, os universalistas argumentam que é possível identificar traços comuns em 
qualquer sociedade, como, por exemplo, a valorização da dignidade da pessoa humana e a proteção 
contra opressão ou arbítrio. Nessa esteira, afirma-se a ideia de um núcleo mínimo de direitos os quais 
merecem a salvaguarda em nível global. 
 
b) Contra a crítica da imposição da cultura ocidental aos demais povos, como expressão imperialista, 
os universalistas reagem à postura relativista afirmando que vários Estados promovem graves e 
generalizadas violações aos direitos humanos, sob a justificativa da manutenção da identidade cultural. 
O discurso relativista, nesses termos, estaria impregnado de conveniência e segundas intenções, haja 
vista valer-se como ideologia para oprimir as populações subjugadas por essas práticas vis e 
inexpugnáveis, e, ao mesmo tempo, para impedir a interferência da sociedade internacional na seara dos 
direitos humanos. Nos dizeres de DONNELLY: 
 
“Nós não podemos passivamente assistir a atos de tortura, desaparecimento, detenção e prisão 
arbitrária, racismo, antissemitismo, repressão a sindicatos e Igrejas, miséria, analfabetismo e doenças em 
nome da diversidade ou respeito a tradições culturais. Nenhuma dessas práticas merece nosso respeito, 
ainda que seja considerada uma tradição”. 
 
Para reforçar essa crítica, ainda, era imprescindível refutar o argumento da falta de representatividade 
dos Estados na adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, o que para os relativistas 
era um sinal da arrogância dos países ocidentais. Assim, em 1993, foi adotada a Declaração e Programa 
de Ação de Viena. Neste acordo internacional houve a tentativa, via normativa, de se afirmar a 
universalidade como característica intrínseca aos direitos humanos. Para tanto o fórum de Viena contou 
com a participação de 171 Estados, os quais de forma livre e consensual acordaram que, resguardadas 
as particularidades culturais, os direitos humanos devem possuir um caráter protetivo de cunho universal, 
conforme dispõe o seguinte dispositivo: “5. Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis 
interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de 
forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora particularidades 
nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como diversos contextos históricos, 
culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades 
fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econômicos e culturais.” 
Desta forma, pode-seinferir que, se a Declaração de 1948 consagrou a perspectiva ocidental da 
definição dos direitos humanos, foi em Viena, em 1993, que se efetivou a tese da universalidade, haja 
vista os amplos debates que se travaram, em uma arena política mais numerosa e representativa das 
1332057 E-book gerado especialmente para SAMIO DOS SANTOS SILVA
 
. 14 
diversas perspectivas regionais e culturais, os quais repercutiram, inclusive, na modificação de algumas 
tradições ocidentais. 
 
c) No que concerne à crítica da supervalorização dos direitos humanos, na perspectiva individual, os 
universalistas explicam que, em face da fragilidade do indivíduo frente ao Estado, ao capital privado e, 
até mesmo, à comunidade, era necessário elencar um rol mínimo de direitos que resguardassem a 
dignidade humana, minimizando os aspectos negativos, inerentes a vulnerabilidade individual, em 
situações de opressão e desigualdade extrema. Soma-se a isso a inexistência de impedimentos 
normativos para assunção de deveres, isto é, os direitos consagrados nas declarações de direitos 
humanos podem ser implementados à luz dos deveres correlatos. Esta interpenetração, direitos-deveres, 
é salutar e deve ser fomentada para possibilitar uma aproximação entre as culturas, num contexto de 
aprendizado recíproco. 
 
d) Para refutar o argumento do direcionamento geopolítico dos direitos humanos, os universalistas 
reconhecem a existência desse tipo de prática instrumentalização-interesse, entretanto acentuam que tal 
assertiva não é, de forma alguma, exclusiva da seara humanista. Em outros termos, essa censura pode 
ser estendida a qualquer tema do Direito Internacional, visto que, na Sociedade internacional a correlação 
de forças não é isonômica, tão pouco homogênea, o que facilita a seletividade das normas internacionais 
de acordo com a influência política. Nesses termos, preconiza RAMOS: 
 
“A história do Direito Internacional mostra que o direito dos tratados, a teoria da responsabilidade 
internacional, entre outros temas, já sofreram interpretações de modo a justificar o atingimento de fins 
políticos e econômicos por parte de Estados (em geral, os mais poderosos), da mesma forma que o Direito 
Internacional dos Direitos Humanos. Cite-se por exemplo, a construção norte-americana da era Reagan 
da doutrina da “legítima defesa preventiva e ideológica”, que ampliava o próprio conceito de legítima 
defesa previsto na Carta da Organização das Nações Unidas e que serviu para justificar agressões 
armadas durante a década de 80. Assim, a crítica deve recair não sobre o Direito Internacional dos 
Direitos Humanos, mas sim sobre as próprias características da sociedade internacional, cujos atores 
principais, Estados, são, ao mesmo tempo, produtores, destinatários e aplicadores da norma 
internacional, podendo, então interpretá-la de modo unilateral para atingir seus fins”. 
 
Por derradeiro, rebate-se a crítica “desenvolvimentista” à perspectiva universalista dos direitos 
humanos, afirmando-se que a inexistência de recursos econômico-financeiros não deve servir de mote a 
permitir uma postergação ad infinitum do gozo destes direitos. Ademais é preciso lembrar que os direitos 
previstos nas declarações de direitos humanos são denominados de mínimo ético irredutível ou mínimo 
existencial, ou seja, compõe o rol mínimo de direitos e garantias que devem ser asseguradas para 
possibilitar a existência de uma vida digna. Nesse sentido, vislumbra-se que as políticas de Estado devem 
ser orientadas, prima facie, para a implementação fático-jurídica dos direitos humanos, os quais, em 
muitos casos, também são direitos fundamentais, por estarem também previstos nas diversas 
Constituições estatais. Além disso, é falacioso o argumento de que a existência de riquezas fomenta a 
implementação dos Direitos Humanos, em especial, os econômicos, sociais e culturais. A realidade dos 
Estados é demarcada por grandes desigualdades econômicas internas, as quais alijam a grande 
população do acesso a tais direitos, mantendo o status quo de seletas elites locais, como enfatiza 
RAMOS: 
 
“Aliás, o Brasil, como uma das maiores economias industriais do mundo, é amostra evidente que o 
aumento da riqueza não leva a maior proteção de direitos humanos. Muito pelo contrário: a lógica da 
postergação da proteção de direitos humanos e em especial dos direitos sociais faz com que o 
desenvolvimento econômico beneficie poucos, em geral àqueles que circundam a elite política 
dominante.” 
 
Questão 
 
(DPE/RS - Defensor Público - FCC/2014) Na teoria geral dos direitos humanos, um dos debates mais 
relevantes diz respeito ao dilema dos seus fundamentos filosóficos. Duas correntes bem distintas lideram 
a discussão: o relativismo cultural e o universalismo. Os adeptos da doutrina universalista defendem a 
visão de que 
 
 
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. 15 
(A) não há uma moral universal, pois a história do mundo é a história de uma pluralidade de culturas. 
(B) na medida em que todas as culturas possuem concepções de dignidade humana, deve-se 
aumentar a consciência das incompletudes culturais mútuas, como pressuposto para um diálogo 
intercultural. 
(C) a noção de direitos está estritamente relacionada ao sistema político, cultural, econômico, moral e 
social vigente em determinada sociedade. 
(D) os direitos humanos decorrem da dignidade humana, na qualidade de valor intrínseco à condição 
humana, concebendo-se uma noção de direitos baseada em um mínimo ético irredutível. 
(E) a cultura é a única fonte de validade de um direito ou regra moral. 
 
Resposta: D 
Conforme aduz Flávia Piovesan, "(...) para os universalistas, o fundamento dos direitos humanos é a 
dignidade humana, como valor intrínseco à própria condição humana. Nesse sentido, qualquer afronta ao 
chamado mínimo ético irredutível que comprometa a dignidade humana, ainda que em nome da cultura, 
importará em violação a direitos humanos" (PIOVESAN, F. Direitos humanos e o direito constitucional 
Internacional. 14a ed. São Paulo: Saraiva, p. 224). 
 
REFERÊNCIAS: 
 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Brasília: Editora da UnB, 1992. 
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1992. 
CRANSTON, Maurice. O que são os direitos humanos? Rio de Janeiro: DIFEL, 1979. 
HOBBES, Thomas. O Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. São Paulo: 
Nova Cultura, 1998, (Coleção Os Pensadores), 
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril, 1980, (Coleção Os 
Pensadores). 
_______________. Crítica da Razão Prática. Lisboa, Edições 70, 1994. 
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os 
Pensadores). 
MONTAIGNE, Michel de. Os ensaios. Livro II. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 
PEQUENO, Marconi. Ética, direitos humanos e cidadania. In Curso de Formação de Educadores em 
Direitos Humanos. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2001. 
RABENHORST, Eduardo. Dignidade humana e moralidade democrática. Brasília: Brasília Jurídica, 
2001. 
RICOEUR, Paul. Fundamentos filosóficos de los derechos humanos: una sintesis. In: Los 
Fundamentos filosóficos de los derechos humanos. Barcelona: Serbal (UNESCO), 1985. 
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato Social. São Paulo: Abril Cultural, 1985, (Coleção Os 
Pensadores). 
PEQUENO, Marconi. Fundamentos dos Direitos Humanos. Disponível em: 
http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/01/02_marconi_pequeno_fundamento_dh.pdf. Acessado 
em: 10.07.2017. 
MORAIS, André de Oliveira. O debate entre universalismo e relativismo cultural se justifica? Disponível 
em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11200&revista_caderno=16. Acessado em: 
10.07.2017. 
 
 
 
Segundo resenha de Nildo Inácio,13 para a reflexão teórica dominante, os direitos “são” os direitos; 
quer dizer, os direitos humanos se satisfazem tendo direitos. Os direitos, então, não seriammais que uma 
plataforma para se obter mais direitos. Nessa perspectiva tradicional, a ideia do “que” são os direitos se 
reduz à extensão e à generalização dos direitos. A ideia que inunda todo o discurso tradicional reside na 
seguinte fórmula: o conteúdo básico dos direitos é o “direito a ter direitos”. Quantos direitos! E os bens 
que tais direitos devem garantir? E as condições materiais para exigi-los ou colocá-los em prática? E as 
 
13 Os direitos humanos a partir da perspectiva crítica de Joaquim Herrera Flores. http://www.oab-sc.org.br/artigos/os-direitos-humanos-partir-perspectiva-critica-
joaquim-herrera-flores/176 
Teoria crítica dos Direitos Humanos. 
1332057 E-book gerado especialmente para SAMIO DOS SANTOS SILVA
 
. 16 
lutas sociais que devem ser colocadas em prática para poder garantir um acesso mais justo a uma vida 
digna? 
Em comparação entre a perspectiva tradicional e a perspectiva crítica dos direitos humanos, 
fundamental diferença existe entre uma teoria e outra em relação a questão da neutralidade. A teoria 
tradicional dos direitos humanos, aqui considerada aquela que assume as bases de um modelo 
juspositivista do fenômeno jurídico internacional da dignidade da pessoa humana, pretende uma teoria 
pura do direito, ou seja, afastar ou, no mínimo, neutralizar o comprometimento ideológico do plano jurídico. 
É preciso retirar do fenômeno jurídico tudo aquilo que não seja propriamente jurídico, ou seja, retirar da 
produção da teoria do direito as questões políticas e sociais (KELSEN, 2003, p. 1). O que é 
diametralmente oposto da teoria crítica dos direitos humanos, ou seja, esta é uma teoria comprometida 
com os anseios sociais (HERRERA FLORES, 2001, p. 85 a 91), onde “o desafio consiste em nos defender 
da avalanche ideológica provocada por um neoliberalismo agressivo e destruidor das conquistas sociais” 
(HERRERAFLORS, 2001, p. 72) Ressalta-se que o fundamento da ‘impureza’ da teoria crítica reside 
justamente na alienação do real, do vivido, pela teoria tradicional (HERRERA FLORES, 2009, p. 86). 
Não seria engano dizer que em um aspecto ambas as perspectivas aqui discutidas dos direitos 
humanos concordam. Trata-se da afirmação de que os direitos humanos existem em função de uma 
concepção de dignidade humana. Entretanto, o significado do conceito ‘dignidade humana’ não é o 
mesmo para estas teorias, obviamente. As teorias tradicionais se valeram de um idealismo na construção 
da ideia de dignidade humana, utilizando, sobretudo, a máxima kantiana (KANT, 2008, [s.p]) de que aquilo 
a que não se pode ser atribuído um valor, tem dignidade. Em contrapartida, a teoria crítica propõe 
construir a dignidade a partir de uma perspectiva material com relação aos processo de lutas pela 
implementação de melhores condições de vida. Nesse sentido, a dignidade, segundo propõe Herrera 
Flores, deve se estruturar sob dois conceitos, quais sejam, atitudes e aptidões para lutar pelos processos 
de implementação de melhores condições de vida. Para compreender melhore esta ideia, vejamos o que 
diz o próprio autor: 
[...] reafirmamos o que as lutas da humanidade contra as injustiças e opressões aportaram a tradição 
ocidental antagonista. Assim fazemos apelando ao sufixo latino tudine, que significa “o que faz algo”. Por 
exemplo, multidão: o que faz muitos, o que nos une a outros. Então, das nossas lutas antagonistas, 
propomos uma ideia de dignidade baseada em dois conceitos que compartilham tal sufixo latino: a atitude, 
ou consecução de disposições para fazer algo, e a aptidão, ou aquisição do suficiente poder e capacidade 
para realizar o que estamos dispostos previamente a fazer. Se os direitos humanos, como produtos 
culturais ocidentais, facilitam e generalizam a todas e a todos ‘atitudes’ e “aptidões” para fazer, estamos 
diante da possibilidade de criar ‘caminhos de dignidade’ que possam ser trilhados não somente por nós, 
mas por todos aqueles que não se conformem com as ordens hegemônicas e queiram enfrentar as 
“falácias ideológicas” que bloqueiam a nossa capacidade cultural de propor alternativas (Herrera flores, 
2009, p. 116). 
A teoria proposta por Herrera Flores, além de redefinir ou reconceitualizar os direitos humanos como 
processos de lutas sociais por dignidade, que adquire sentido, sobretudo, no contexto de expansão, ao 
nível global, da ideologia neoliberal e suas consequências, situa o objetivo desta teoria que é buscar 
incluir todas e todos aqueles que foram excluídos dos processos hierárquicos de acessos aos bens, com 
uma visão dos direitos humanos em uma perspectiva que tenha como elemento fundamental a realidade 
material na qual vivem as pessoas, considerando o direito como um instrumento de implementação da 
dignidade, e não um fim em si mesmo. 
 
 
 
As tensões da Modernidade ocidental e as tensões dos Direitos Humanos 
 
Durante muitos anos, após a Segunda Guerra Mundial, os direitos humanos foram parte integrante da 
política da Guerra Fria, e como tal foram considerados pela esquerda. Duplos critérios na avaliação das 
violações dos direitos humanos, complacência para com ditadores amigos, defesa do sacrifício dos 
direitos humanos em nome dos objetivos do desenvolvimento — tudo isto tornou os direitos humanos 
suspeitos enquanto guião emancipatório. 
Quer nos países centrais, quer em todo o mundo em desenvolvimento, as forças progressistas 
preferiram a linguagem da revolução e do socialismo para formular uma política emancipatória. E, no 
As tensões da Modernidade ocidental e as tensões dos Direitos Humanos: 
da colonialidade à descolonialidade. 
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. 17 
entanto, perante a crise aparentemente irreversível destes projetos de emancipação, essas mesmas 
forças progressistas recorrem hoje aos direitos humanos para reinventar a linguagem da emancipação. 
É como se os direitos humanos fossem invocados para preencher o vazio deixado pelo socialismo. 
Devem ser compreendidas as tensões dialéticas que informam a modernidade ocidental. A crise que hoje 
afeta estas tensões assinala, melhor que qualquer outra coisa, os problemas que a modernidade ocidental 
atualmente defronta. 
São identificadas três tensões dialéticas. A primeira ocorre entre regulação social e emancipação 
social. Tenho vindo a afirmar que o paradigma da modernidade se baseia numa tensão dialética entre 
regulação social e emancipação social, a qual está presente, mesmo que de modo diluído, na divisa 
positivista "ordem e progresso". 
A emancipação deixou de ser o outro da regulação para se tornar no duplo da regulação. Enquanto, 
até finais dos anos sessenta, as crises de regulação social suscitavam o fortalecimento das políticas 
emancipatórias, hoje a crise da regulação social — simbolizada pela crise do Estado regulador e do 
Estado-Providência — e a crise da emancipação social — simbolizada pela crise da revolução social e 
do socialismo enquanto paradigma da transformação social radical — são simultâneas e alimentam-se 
uma da outra. 
A política dos direitos humanos, que foi simultaneamente uma política reguladora e uma política 
emancipadora, está armadilhada nesta dupla crise, ao mesmo tempo que é sinal do desejo de a 
ultrapassar. 
A segunda tensão dialética ocorre entre o Estado e a sociedade civil. O Estado moderno, não obstante 
apresentar-se como um Estado minimalista, é, potencialmente, um Estado maximalista, pois a sociedade 
civil, enquanto o outro do Estado, auto reproduz-se através de leis e regulações que dimanam do Estado 
e para as quais não parecem existir limites, desde que as regras democráticas da produção de leis sejam 
respeitadas. 
Os direitos humanos estão no cerne desta tensão: enquanto a primeira geração de direitos humanos 
(os direitos cívicos e políticos) foi concebida como uma luta da sociedade civil contra o Estado, 
considerado como o principal violador potencial dos direitos humanos, a segunda e terceira gerações

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