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LINGUÍSTICA E FORMAÇÃO DA LÍNGUA Aline Ruiz Menezes E-book 4 Neste E-Book: INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3 A LINGUÍSTICA E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA ����������������������������������������������������������� 5 Os primeiros passos da linguística no Brasil e o ensino de língua portuguesa ����������������������������������������������������������������9 Metodologias do ensino de língua portuguesa ���������������������16 Gêneros textuais como objetos de ensino de língua portuguesa ������������������������������������������������������������������������������26 A variação linguística e o ensino de língua portuguesa �������31 CONSIDERAÇÕES FINAIS �����������������������������������34 SÍNTESE �������������������������������������������������������������������� 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS �������������������������������������������������������36 2 INTRODUÇÃO Olá, estudante! Chegamos ao último módulo de nossa disciplina� Até aqui, analisamos pontos importantes para os estudos linguísticos, especialmente os que focam a Língua Portuguesa� Neste momento, nossa intenção é entender como aplicar esses conceitos em sala de aula� Quando estamos ensinando uma nova língua, há diversas metodologias que podemos utilizar para que os nossos alunos cheguem a um nível de pro- ficiência. Há sempre pesquisadores estudando o impacto que essas metodologias têm no aprendizado e de que forma elas podem ser repensadas para que o maior número possível de pessoas aprenda com elas� Agora, quando estamos falando do estudo de Língua Portuguesa, em que os alunos já chegam à escola com uma bagagem, o que devemos fazer? Assim como para o ensino de outras línguas, há di- versas pesquisas que estudam o ensino de Língua Portuguesa� Já descobrimos, ao longo dos anos, que aquele método de ensino decoreba, em que o aluno é obrigado a decorar uma série de regras – única e exclusivamente com o objetivo de fazer provas – já não é tão bem aceito assim� Mas, o que podemos fazer para aprimorar aquilo que nossos alunos já sabem e desenvolver outras habilidades? Sentimos informar que não há uma receita pronta� 3 Afinal, algumas das frases que mais ouvimos são: “os alunos não sabem ler”, “as pessoas não sabem mais escrever”, “as pessoas estão assassinando o portu- guês”. Como desmistificar esses posicionamentos? Será que eles estão corretos? Será que temos que voltar para as aulas cheias de gramática do passado? Juntos vamos trilhar esses caminhos, por vezes bem tortuosos, a fim de entender o que uma aula de Língua Portuguesa deve contemplar para alcançar os objetivos� 4 A LINGUÍSTICA E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Vamos começar este módulo com a leitura de um poema originalmente publicado em 1927, no li- vro Catimbó do autor Ascenso Ferreira� Ele come- çou a publicar seus textos nos jornais Diário de Pernambuco e A Província, em 1922, ano em que contamos como o início do Modernismo no Brasil� Minha escola A escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões� E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário; Complicado como as Matemáticas; Inacessível como Os Lusíadas de Camões! À sua porta eu estava sempre hesitante��� De um lado a vida��� — A minha adorável vida de criança: Pinhões��� Papagaios��� Carreiras ao sol��� Voos de trapézio à sombra da mangueira! Saltos da ingazeira pra dentro do rio��� Jogos de castanhas��� — O meu engenho de barro de fazer mel! Do outro lado, aquela tortura: “As armas e os barões assinalados!” — Quantas orações? 5 — Qual é o maior rio da China? — A 2 + 2 A B = quanto? — Que é curvilíneo, convexo? — Menino, venha dar sua lição de retórica! — “Eu começo, atenienses, invocando a proteção dos deuses do Olimpo para os destinos da Grécia!” — Muito bem! Isto é do grande Demóstenes! — Agora, a de francês: — “Quand le christianisme avait apparu sur la terre���” — Basta — Hoje temos sabatina... — O argumento é a bolo! — Qual é a distância da Terra ao Sol? — ?!! — Não sabe? Passe a mão à palmatória! — Bem, amanhã quero isso de cor��� Felizmente, à boca da noite, eu tinha uma velha que me contava histórias��� Lindas histórias do reino da Mãe-d’Água��� E me ensinava a tomar a bênção à lua nova� (FERREIRA, Ascenso� Catimbó) O que você sentiu ao ler esse poema? Essa escola que está sendo retratada pelo poeta faz com que você se lembre da escola em que estudou? O que tem de diferente? Agora, compare com as escolas 6 que temos atualmente: o que tem de diferente? Há alguma semelhança? Essas questões são para que ativemos nossa memó- ria escolar� Ao dizer que a escola tinha grades como prisões, o autor parece descrever muitos espaços escolares que temos atualmente. O mestre “carran- cudo como um dicionário; / Complicado como as Matemáticas; / Inacessível como Os Lusíadas de Camões!” nos mostra como aquela figura era ame- drontadora e complicada� Você se lembra do nosso primeiro módulo, quando falamos sobre a formação da Língua Portuguesa? Lá, refletimos sobre as dife- renças da nossa língua no tempo de Camões e o que temos hoje em dia� Aquela forma de falar e escrever hoje não está próxima do que produzimos� Na sequência, ele vem enumerando uma série de conceitos que deveriam ser memorizados pelos alu- nos para que não sofressem as consequências, no caso, a palmatória. Para finalizar, ele nos mostra que o momento em que ficava feliz era quando, à noite, contavam-lhe histórias� A partir da linguagem poética de Ascenso, podemos entender, e até mesmo voltar em algumas memórias, como uma criança encara o universo escolar, muitas vezes� Não é fácil ser aluno, assim como não é fácil ser professor� Todo mundo sabe que o trabalho do professor não é simples, mas é necessário olhar para esse traba- lho com o objetivo de entender o que pode ser feito 7 para que ele seja prazeroso para todos os sujeitos envolvidos – aquele que aprende, aquele que ensina� De acordo com Spinassé (2006, p. 04), “a aquisição da Primeira Língua, ou da Língua Materna, é uma parte integrante da formação do conhecimento de mundo do indivíduo, pois junto à competência lin- guística se adquirem também os valores pessoais e socias�”, essa é a língua usada no dia a dia� Não necessariamente a língua materna é a língua de nossas mães ou a primeira que aprendemos� Normalmente, é a língua que usamos em casa, com nossa família e comunidade� Por isso, ela sempre vem vinculada a fatores sociais e culturais muito fortes� Devemos lembrar que nem sempre a língua falada pelos pais é a língua da comunidade� Para isso, po- demos pensar no caso das crianças que têm pais imigrantes. Observemos a seguinte situação: uma criança que nasça e cresça no Brasil, filha de um hai- tiano com uma peruana� O pai vem de um país cujas línguas oficiais são o francês e o criolo haitiano; já a mãe vem de um país de Língua Castelhana� Essa criança, na escola e com a comunidade, interagirá em português, mas, em casa com os pais poderá se co- municar em francês, criolo, castelhano ou português� Dessa forma, ela terá mais de uma língua materna� O mesmo pode acontecer com pessoas que vivem em comunidades fora de seus países de origem, como é o caso dos asiáticos no Brasil� A comuni- 8 dade japonesa, por exemplo, é muito forte no país e boa parte dos integrantes mais velhos não sabe completamente a Língua Portuguesa, pois passam a maior parte do tempo interagindo em japonês� SAIBA MAIS No dia 21 de fevereiro é celebrado o Dia Internacional da Língua Materna� De acordo com a Organização das Nações Unidades para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), qua- se 40% da população mundial não tem acesso à educação em uma língua que fale ou entenda, por isso, é fundamental reconhecer a importância de todas as línguas maternas no mundo� Para saber mais sobre isso, acesse: https://naco- esunidas.org/unesco-todas-as-linguas-maternas- -merecem-ser-conhecidas-e-reconhecidas/�Acesso em: 23 fev. 2019. Partindo dessa noção de língua materna, refletire- mos sobre o ensino de Língua Portuguesa no Brasil a partir dos pressupostos da Linguística� Os primeiros passos da linguística no Brasil e o ensino de língua portuguesa De acordo com Ilari (2009), Mattoso Câmara Jr, um importante linguista brasileiro, começou suas refle- xões sobre o ensino da Língua Portuguesa em 1957� 9 Nessa primeira publicação, Câmara Jr. afirmava que muitos erros encontrados pelos professores do ensi- no básico na fala e na escrita dos seus alunos nada mais que eram do que as inovações pelas quais a Língua Portuguesa estava passando naquela época� Além disso, ele apontava que não era correto tomar esses erros como uma incapacidade dos alunos em aprender a língua e recomendava que os professores tomassem a situação linguística daquele momento como um pano de fundo para o ensino de língua materna no país� Naquele momento, a ideia de Câmara Jr� era muito inovadora� Estamos falando dos anos 1950, em que as escolas funcionavam de forma muito diferente do que estamos habituados atualmente� Era bem próximo do que trouxe o poema de Ascenso no início desse módulo� As ideias dele se baseavam “nos pressupostos de uma ciência recém-introduzida no Brasil – a Linguística – e interpretava de maneira totalmente nova uma situação pedagógica que se tornava cada vez mais frequente, por causa da chamada “democra- tização do ensino”” (ILARI, 2009, s/p), a qual estava tornando mais acessível a crianças e adolescentes pertencentes às classes populares o ingresso em escolas, o que, até então, era algo apenas da elite� A partir desses dois processos – presença de alunos das classes populares e a difusão das ideias de ensino propostas pela Linguística – Câmara Jr� surge com seus pressupostos sobre o ensino de língua no Brasil� 10 FIQUE ATENTO A educação é um direito? A noção de educação como um direito surge em meados do século 20, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual foi proclamada em 1948, que, em seu artigo 26, aponta que “toda pessoa tem direito à instrução”� Não há país no mundo que não traga essa prerrogativa em algum dos seus documentos legais� Na Constituição Federal do Brasil, o artigo 6º defende a educação como direito social de todo cidadão brasileiro� Neste artigo, Clarice Seixas Duarte trata sobre esse assunto, a partir da análise dos documentos legais brasileiros� Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/ v28n100/a0428100. Acesso em: 08 mar. 2019. Ilari (2009) aponta que as primeiras disciplinas uni- versitárias de Linguística foram introduzidas nos currículos apenas nos primeiros anos de 1960, até então o estudo da língua era feito pelos filólogos e pelos gramáticos� A Filologia estuda as línguas em todos os seus as- pectos, incluindo também os escritos que as docu- mentam� Ela surgiu com os grandes estudiosos das literaturas grega e latina. Havia a necessidade de se compreender os textos da Antiguidade Clássica, por isso, era essencial o desenvolvimento de métodos e técnicas apropriados para entender os documentos 11 em sua origem� Assim como há a Filologia Clássica, há também a Filologia Portuguesa� Já a Gramática surgiu entre os gregos, próxima aos estudos sobre Retórica, e era uma disciplina que mar- cava como deviam se comunicar as pessoas que “falavam bem”. Por isso, ela sempre foi vista como uma disciplina normativa� Segundo Ilari (2009, s/p), No “colegial” da época, o estudo de Gramática consistia em ler na sequência todos os capítulos de um desses compêndios, onde cada “regra” vinha acompanhada de uma lista mais ou menos longa de exemplos descon- textualizados e de uma lista mais ou menos longa de exceções. Um tratamento análogo era dado ao estudo da acentuação gráfica e, até onde era possível, à grafia. A prática da análise sintática se fazia também à base de sentenças descontextualizadas (sobretudo quan- do tinha a finalidade de exemplificar a aplicação das regras); mas em alguns casos, era colocada a serviço da análise de textos, sobretudo quando era encarada como uma etapa necessária para a compreensão de autores como Camões ou Vieira, célebres por seus períodos gramaticais complexos e cheios de inversões em relação à “ordem direta” dos termos e das orações. Por esse motivo, as ideias de Câmara Jr� foram tão inovadoras para os anos 1950� Como estudamos nesta disciplina, a Linguística mo- derna surge com as ideias postuladas por Saussure� Para os estruturalistas, a língua é uma abstração, ou seja, um conhecimento que todos os falantes de 12 uma determinada língua compartilham, um código que possibilita a comunicação entre eles, mas que não tem uma forma fixa. Essas ideias ajudaram a perceber que a Língua Portuguesa utilizada no Brasil não era apenas uma, mas várias� Começa-se a perceber que o português brasileiro não é apenas aquele falado e escrito pelos escritores clássicos ou o que está nos documentos ofi- ciais, mas é também aquele falado nas conversas co- tidianas, nos diferentes falares das regiões brasileiras� Assim, Ilari (2009, s/p) afirma que Para um estruturalista, nenhuma dessas variedades é intrinsecamente errada, pois falar em “erro” é tão es- tranho numa ciência que descreve o comportamento linguístico como o seria para um meteorologista con- denar a chuva ou elogiar as frentes frias. Do ponto de vista da ciência da linguagem, nenhuma das variedades do português do Brasil é menos nobre ou menos digna de estudo do que qualquer outra. Aquilo que era visto como um erro (e, por vezes, ainda continua sendo) é, na verdade, uma diferença que está presente no sistema linguístico brasileiro� Durante a década de 1960, muitos pesquisadores se debruçaram em estudos que tinham como objetivo documentar a língua falada no Brasil� Surge também o interesse pelas línguas minoritárias, e não apenas as indígenas, mas também as africanas, asiáticas e europeias que acompanharam os povos que foram escravizados pelos portugueses e pelos imigrantes� 13 Entre um dos projetos importantes, durante esse período, foi o Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta (NURC), o qual tinha como foco os falantes das cinco capitais brasileiras que contava com mais de um milhão de habitantes na época – São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Porto Alegre� Para esse projeto, gravou-se cerca de 1�570 horas de entrevistas com informantes de nível universitário� SAIBA MAIS Quer saber mais sobre o trabalho do NURC? Neste link, você acessa uma entrevista feita com o Ataliba T� de Castilho, um dos pesquisadores idealizadores do projeto� https://www.parabolablog.com.br/index.php/blogs/ ataliba-teixeira-de-castilho-o-linguista-libertario- -parte-3. Acesso em: 10 mar. 2019. Assim, os pressupostos que trazia a Linguística para questionar o ensino de língua materna se davam, princi- palmente, no papel do ensino de gramática� Era neces- sário pensar que os objetos estudados pela Linguística estavam nos textos, e não apenas em frases isoladas, como era o estudo gramatical até aquele momento� Dessa forma, questionava-se o que os gramáticos estavam descrevendo, pois não era uma língua real, era apenas uma língua artificial criada para ensinar regras ou baseada em exemplos que fugiam do que praticavam os falantes� 14 Ilari (2009) apresenta que, num primeiro momento, os professores de português tiveram muita resis- tência com essas novas ideias, porque o ensino de gramática era compreendido como um momento em que se aprendiam as nomenclaturas e, na sequência, exercícios sobre o tema eram resolvidos� Esse era um dos principais pontos do ensino de língua materna� Atualmente, já observamos que boa parte dos professores compreende que o ensino de Língua Portuguesa ultrapassa o estudo gramatical, isolado em frases soltas, planejadas apenas para aquele conteúdo� Os primeiros linguistas brasileiros faziam suas pes- quisas com base no Estruturalismo� Num segundomomento, a Linguística brasileira passa a incorpo- rar as questões trazidas pela gramática gerativa de Noam Chomsky� Como estudamos, o Estruturalismo e o Gerativismo têm muitas diferenças, entre elas está que o segundo compreende a língua como um objeto matemático e também, de acordo com Chomsky, a linguagem tem que ser vista a partir da esfera psicológica e biológi- ca, e não apenas na esfera social como compreendia o Estruturalismo� Para Chomsky, as línguas são próximas entre si por- que são impulsionadas por uma capacidade inata que todos os indivíduos da espécie humana pos- suem, o que reflete na maneira como se dá o pro- cesso de aquisição da língua� Já os estruturalistas 15 sugeriam que a língua é aprendida a partir de um processo indutivo, em que o sujeito deve ser exposto a uma grande quantidade de dados� Posteriormente, surgem outras teorias, como o Funcionalismo, que busca compreender como se dá o fenômeno da aquisição de linguagem e buscam outras formas de se estudar a língua� A questão da aquisição de linguagem é estudada por uma outra área da Linguística, a Psicolinguística� Para saber mais sobre ela, ouça o PODCAST 1� Acesse o Podcast 1 em Módulos Vamos estudar melhor como as metodologias de ensino, a partir das teorias linguísticas, se desen- volveram no Brasil� Metodologias do ensino de língua portuguesa Figura 1: Tirinha de Alexandre Beck – Armandinho� Fonte: https://web.facebook.com/tirasarmandinho/photos/a.4883 61671209144/950345515010755/?type=1&theater� Acesso em: 10 mar. 2019. 16 Armandinho é apenas uma criança e está tentando entender como o mundo funciona� Nas tirinhas, pro- duzidas por Alexandre Beck, o garoto está sempre trazendo questionamento, seja para os mais velhos, seja para os seus colegas� Trouxemos esta para que fique como reflexão do que temos feito (e do que faremos) em sala de aula com nossos alunos: será que os estamos ensinando a fazer perguntas, a questionar? Ou será que os estamos transformando apenas em sujeitos que sabem dar as respostas que esperamos? Essas questões são muito importantes para pensar- mos o ensino de língua materna� Se o ensino basea- do apenas em questões gramaticais já não faz mais sentido, é necessário mudar o foco da forma como ensinamos para que seja possível construir também uma nova forma de aprender� Os alunos não devem mais seguir o esquema do “decoreba”, e sim devem estar aptos a refletir sobre os usos linguísticos e compreender que há situações de comunicação específicas. O principal desafio do professor de Língua Portuguesa é ensinar uma língua já dominada pelos alunos. De acordo com Gomes (2005, p. 38) A criança já vem para a escola dominando uma varie- dade da língua oral, e cabe aos professores respeitar sua forma de expressão e ensinar-lhe a fazer uso de linguagens adequadas a diferentes contextos comuni- cativos, dependendo dos interlocutores, das intenções e da natureza desses contextos. 17 Os alunos já chegam à escola com uma bagagem e não é possível desconsiderá-la� A Linguística é uma ciência teórica e descritiva que não busca necessariamente compreender o ensino e propor metodologias para ele, mas, a partir do que se é estudado por ela, é possível desenhar alguns caminhos� SAIBA MAIS Nesse vídeo, Irandé Antunes, uma importante lin- guista brasileira, fala sobre sua produção acadê- mica, que tem como foco os estudos sobre língua, texto e discurso, gêneros textuais, produção escri- ta, leitura e formação de professores� Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=Lqz9Jjbr5gA. Acesso em: 10 mar. 2019. Entre as reflexões sobre linguagem e pedagogia, surgiu uma nova disciplina, denominada Linguística Aplicada� Ela surgiu da necessidade de se aplicar as teorias linguísticas dentro de contextos educacio- nais� É uma área interdisciplinar que envolve diver- sas áreas do conhecimento, como a Antropologia, a Sociologia, a História, entre outras. Atualmente, os estudos dentro dessa disciplina não ficam apenas restritos à sala de aula e o trabalho do professor, há diversas pesquisas que focam em outros contextos� Além do ensino de gramática, o ensino de produção de textos, a leitura e a alfabetização também tiveram 18 impactos após as ideias da Linguística no Brasil, como aponta Ilari (2009)� A produção de texto, meramente como escrita, de redações que não levam o aluno à reflexão do que está fazendo ou qual a função daquele gênero textual foi, por muito tempo, aplicada em sala de aula� Atualmente, há uma preocupação com a con- textualização do que está sendo feito, e não ape- nas com a avalição posterior feita pelo professor� Cotidianamente, nós produzimos textos das mais diferentes formas, e isso não é diferente quando pen- samos nos nossos alunos� A tecnologia veio para facilitar a comunicação entre as pessoas e, na maior parte do tempo, ela é feita de forma escrita� Então, devemos pensar que nunca tivemos sujeitos que escrevem tanto como nos tempos atuais� Dessa maneira, introduzir textos que são do cotidiano dos alunos enriquece as aulas de produção de texto e dão a elas, não apenas o caráter utilitário, mas também de reflexão. Por que produzimos esse texto e não outro? A linguagem informal está adequada a esse gênero? O que poderia ser feito diferente? Há muitos estudos no Brasil sobre esse assunto, destacamos os trabalhos realizados por Luiz Antonio Marcuschi, Irandé Antunes e Ingedore Koch� No que concerne à alfabetização, Ilari (2009) ex- põe que há, pelo menos, três grandes momentos a considerar: 19 ● O início da Linguística no Brasil aconteceu no mo- mento em que se elaboravam as primeiras descri- ções fonológicas do português� Assim, foi possível compreender que o som das vogais, por exemplo, não poderia ser apenas compreendido a partir da grafia, uma vez que a letra e não tem apenas um som, e sim dois o “ê” e o “é”. Isso auxiliou na com- preensão de alguns “erros” de pronúncia dos alunos. No português, “a correspondência entre as letras e os sons é bastante complexa (���) e isso cria para o alfabetizador muitas dificuldades previsíveis”, por isso, muitos linguistas “preocupados com o proble- ma da alfabetização tenham trabalhado no sentido de mapear essas dificuldades.”. (ILARI, 2009, s/p). ● Os alfabetizadores, no início, se preocupavam com a maneira mais fácil de o aluno desenvolver a coorde- nação motora necessária para fazer a letra cursiva� Ilari aponta que, durante os anos 1980, o trabalho realizado por duas pesquisadoras, Emília Ferreiro e Anna Teberowsky, influenciadas pelas ideias cons- trutivistas de Jean Piaget, “mostraram que o grande salto da alfabetização se dá não quando a criança alcança o estágio da prontidão, mas quando des- cobre que as letras estão em correspondência com sons�”� (ILARI, 2009, s/p)� Obviamente, nem tudo na alfabetização se dá a partir dessa relação, e outros estudos, como os que foram realizados pela profes- sora e pesquisadora Magda Soares, foram feitos ao longo desses anos� ● A partir dos anos 1990, o conceito de letramento começou a ser usado no lugar da ideia de alfabeti- 20 zação� Atualmente, ele é mais corrente e se refere não apenas à representação dos sons da escrita, mas nas diversas formas de inserção do sujeito na sociedade a partir da escrita� Essa noção nos ajuda a entender que um indivíduo que saiba apenas escrever seu nome ou ler e construir poucas frases não está plenamente inserido em uma sociedade letrada� É necessário que se alcance para além desse apren- dizado para ser inserido completamente� Agora, quando falamos em leitura, estamos falando de algo muito sensível em nosso país� Da mesma forma que temos produzido muitos textos, também temos lido mais� Isso é perfeitamente compreensível em uma sociedade que está, cada vez mais, usando a tecnologia para se comunicar� No entanto, será que estamos compreendendo aquilo que lemos? Por que a interpretação de texto é tão temida na escola e nos examesde seleção para universidades? O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), ou Programme for International Student Assessment é uma avaliação comparada, feita com alunos matriculados a partir do 7º ano do Ensino Fundamental, faixa etária dos 15 anos, idade em que se pressupõe que o aluno está finalizando a escolaridade básica na maioria dos países� Ele é coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)� De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o 21 objetivo do Pisa é produzir indicadores que contri- buam com a discussão da qualidade da educação nos países participantes, e o Brasil é um desses pa- íses. A avaliação verifica até que ponto as escolas estão preparando os jovens para exercer a cidadania na sociedade atual� Ela acontece a cada três anos e abrange três áreas do conhecimento, que são: Leitura, Matemática e Ciência, sendo que, em cada edição, foca-se, mais detidamente, em alguma des- sas áreas� Em março de 2018, aconteceu a última edição do Pisa e o foco foi a Leitura; como ainda é uma apli- cação recente, os dados não foram divulgados pelo INEP� Por esse motivo, vamos observar os dados do exame de 2009, que também focou na Leitura� Figura 2: Tempo de leitura (Pisa)� Fonte: Elaborado por INEP, 2012, p� 45 Na Figura 2, observamos que a maior parte dos alu- nos não lê por prazer ou lê trinta minutos ou menos por dia� Isso nos mostra que os estudantes leem 22 muito pouco e, quando o fazem, quase sempre não estão fazendo por conta própria� Apesar dos resultados, naquela edição, o INEP con- siderou que os resultados mostravam uma melhora na educação brasileira, quando comparada com o ano 2000� Já em 2015, última edição da prova que já há tabula- ção de dados, mostra que houve queda de pontuação nas três áreas avaliadas, sendo que, em Leitura, o país ficou na 59ª posição. Figura 3: O Brasil no Pisa - Leitura, 2015� Elaborado por G1� Fonte: https://g1.globo.com/educacao/noticia/brasil- -cai-em-ranking-mundial-de-educacao-em-ciencias-leitura-e- -matematica.ghtml. Acesso em: 10 mar. 2019. Nesse gráfico (Figura 3), é possível observarmos que o Brasil, embora esteja melhor que no início dos anos 2000, caiu 5 pontos em relação a 2009 na avaliação de Leitura� O que isso pode nos indicar? 23 O INEP avaliou que os estudantes têm melhor desem- penho ao lidar com textos que representem situações pessoais, como e-mails, mensagens instantâneas, blogs, cartas pessoais, textos literários e textos infor- mativos e desempenho inferior, ao lidar com textos de situação pública, como notícias e documentos oficiais. Os linguistas têm refletido sobre a questão da Leitura no Brasil desde a década de 1980 e muitas hipóteses têm sido levantadas, entre elas estão os aspectos cognitivos envolvidos na compreensão de um texto� A leitura não como algo passivo, muito pelo contrário, quem lê um texto aciona diversos elementos para que possa compreendê-lo� Assim, um leitor competente não ficará apenas pas- sando pelas frases de forma superficial. Ele deterá informações, levantará hipóteses e tentará compre- ender o texto da melhor forma possível� Batista et al� (2016, p� 175) apontam que Ao compreender a atividade de leitura como um mé- todo de construção de significados percebe-se que a escola tem grande responsabilidade na formação, no desenvolvimento e na competência comunicativa dos alunos enquanto usuários da língua. Além disso, desempenha uma função importante no sentido de torná-los cidadãos críticos e conscientes do seu papel na sociedade. No entanto, atividades desenvolvidas em outros contextos também influenciam as capacidades trabalhadas na escola, como é o caso da leitura. Dessa forma, o que o aluno lê fora dessa instituição contribui para o incremento da atividade no contexto escolar. 24 O que nos leva pelo caminho das outras partes do ensino de Língua Portuguesa – gramática, produção de textos e alfabetização, é necessário considerar aquilo que é exterior à sala de aula� Nesta disciplina, falamos sempre sobre a relação entre língua e cultura e, na sala de aula, isso não pode ficar de fora. Os traços culturais são importantes para que haja uma educação efetiva, assim como uma compreensão dos fatos linguísticos� Vamos pensar em uma situação: uma escola isolada em uma comunidade ribeirinha no estado do Pará não terá a mesma situação que uma escola na pe- riferia da cidade de São Paulo� Mesmo que estejam afastadas do ponto central, elas têm uma comuni- dade com hábitos diferentes� Naquela comunidade, é comum que as pessoas se locomovam de barco; nesta, é comum que peguem ônibus e metrô para se movimentar pela cidade� Somente pelo transporte uti- lizado já temos a ideia de como o letramento desses indivíduos será diferente: enquanto o paraense terá que se certificar sobre o curso das águas; o paulista terá que se orientar pelas ruas e linhas férreas e a formas como se cruzam� Agora, vamos refletir sobre a forma como o ensino de Língua Portuguesa tem sido alicerçado no Brasil� 25 Gêneros textuais como objetos de ensino de língua portuguesa Como verificamos, os alunos têm apresentado, nos exames de avaliação, mais facilidade com a leitura de textos que são próximos a eles, e menos com textos que estão mais distantes� Isso já nos aponta para uma direção, não? Devemos, então, apenas ensinar os nossos alunos a ler e compreender esses textos que eles têm mais facilidade ou devemos traçar um caminho contrário e ensinar apenas os textos que apresentam maior dificuldade de leitura? A resposta é: nem uma coisa, nem outra� Usando um termo cunhado por Pierre Bourdieu, importante sociólogo francês, a escola é uma das responsáveis por ampliar o capital cultural dos alunos, ou seja, apresentar textos de diversos tipos para que os alunos assumam uma posição crítica e saibam compreendê-los� SAIBA MAIS As ideias de Pierre Bourdieu Este texto apresenta as principais ideias de Pierre Bourdieu, um sociólogo francês, que, ao longo de sua formação, se preocupou com a questão da dominação� Em suas obras, discutiu temas como educação, cultura, literatura, arte, mídia, linguística e política� 26 Disponível em: https://novaescola.org.br/conteu- do/1826/pierre-bourdieu-o-investigador-da-desi- gualdade. Acesso em: 11 mar. 2019. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua Portuguesa (1998) trazem a proposta da uti- lização dos gêneros textuais como objeto de ensino de leitura e produção de texto nas aulas de Língua Portuguesa, sejam eles escritos ou orais. Assim, “foi a partir dessa proposta que o contexto de uso e a esfera de circulação dos gêneros textuais foram con- siderados importantes no ensino da língua, pois, até então, prevalecia o estudo da forma e do conteúdo descontextualizados�” (SEGATE, 2010)� Primeiramente, vamos compreender o que são os gêneros textuais� De acordo com Marcuschi (2002), é uma noção vaga para se referir aos textos materia- lizados que encontramos em nossa vida cotidiana e que apresentam “características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica”� Já o tipo textu- al, de acordo com esse autor ainda, é uma constru- ção teórica que define a natureza linguística de sua composição, como os aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas� Dessa forma, os tipos textuais são limitados a nor- malmente cinco, que são: argumentativo, disserta- tivo, narrativo, descritivo e injuntivo� Já os gêneros textuais são inumeráveis e em constante inovação, como exemplo, temos as cartas, bilhetes, e-mails, 27 bate-papo, mensagem instantânea e assim por dian- te� Observe que eles surgem conforme a necessidade dos usuários da língua� A Linguística Textual é um dos ramos da Linguística que se ocupa em estudar os gêneros textuais� Você quer saber mais sobre ela? Ouça o PODCAST 2. Acesse oPodcast 2 em Módulos Os PCNs então propunham que o trabalho em sala de aula deveria objetivar a leitura e a compreensão de gêneros textuais diferentes, bem como a produção textual diversificada. Defendia também que não se deveria privilegiar o trabalho com a língua escrita em detrimento da língua oral� Essas ideias trazidas pelos Parâmetros foram inova- doras para a educação e propiciaram uma nova visão sobre o ensino de língua materna no país� Em 2018, a versão final da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi homologada pelo Governo Federal. Ela é um documento normativo que defi- ne a progressão das aprendizagens essenciais a que todos os alunos devem ter acesso na Educação Básica e deve ser a referência para a formulação dos currículos escolares de todo o país� A disciplina de Língua Portuguesa está agrupada juntamente com Artes, Educação Física e Língua Inglesa na área de Linguagens� A preocupação com 28 https://famonline.instructure.com/files/1107315/download?download_frd=1 o ensino pautado pelos gêneros textuais prossegue também na Base� Na Educação infantil, o documento aponta que a imersão na cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além disso, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. propi- cia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas cor- retas de manipulação de livros. Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em rabis- cos e garatujas e, à medida que vão conhecendo letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da escrita como sistema de representação da língua. (BRASIL, 2018, p. 42) Detecta-se, assim, que há a preocupação de se trabalhar com diversos gêneros textuais, desde a Educação Infantil, pois assim os alunos começam a conhecer as letras e vão construindo os saberes� O mesmo segue para o Ensino Fundamental, a Base coloca que, seguindo o que estava proposta nos PCNs, “o texto ganha centralidade na definição dos conteúdos, habilidades e objetivos, considerado a partir de seu pertencimento a um gênero discursivo que circula em diferentes esferas/campos sociais de 29 atividade/comunicação/uso da linguagem” (BRASIL, 2018, p. 67). Dessa forma, todos os objetivos que se esperam alcançar durante o Ensino Fundamental de- vem ser baseados no texto, e não de forma inversa� De forma progressiva, os professores devem traba- lhar com os diversos gêneros, de forma a ampliar o repertório dos alunos durante todos os anos da Educação Básica� Além disso, na Base, há uma preo- cupação com a aproximação dos gêneros à realidade do aluno, por isso, gêneros como vlogs e slams são propostos para o trabalho em sala de aula� Destacamos duas habilidades da BNCC para análi- ses. Observe: (EF69LP03) Identificar, em notícias, o fato central, suas princi- pais circunstâncias e eventuais decorrências; em reportagens e fotorreportagens o fato ou a temática retratada e a pers- pectiva de abordagem, em entrevistas os principais temas/ subtemas abordados, explicações dadas ou teses defendidas em relação a esses subtemas; em tirinhas, memes, charge, a crítica, ironia ou humor presente. (BRASIL, 2018, p. 141) (EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/ escuta, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor/audiência pre- vistos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero do discurso etc�), de forma a ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações� (BRASIL, 2018, p. 506) 30 O código, no início, indica Ensino Fundamental (EF) ou Ensino Médio (EM), a numeração aponta os anos em que podem ser trabalhados esses conteúdos (6º ao 9º ano do Ensino Fundamental ou 1º ao 3º do ano do Ensino Médio), na sequência, LP significa Língua Portuguesa e, para finalizar, o número da habilidade. Nas duas, o trabalho com o texto é central� Na primei- ra, os gêneros estão indicados: notícias, reportagens, fotorreportagens, entrevistas, tirinhas, memes, char- ges� Neles, o professor poderá explorar uma série de elementos para que o aluno compreenda o gênero e consiga também produzi-lo� No segunda, não há um gênero dado e o trabalho com o texto deve se dar por meio da relação do texto com uma série de fatores� Caminho parecido é percorrido por todo o documen- to, o que nos mostra a importância dessa discussão para o ensino de língua materna� O texto da BNCC está disponível na íntegra no endereço http://base- nacionalcomum.mec.gov.br/, aconselhamos a leitura� A variação linguística e o ensino de língua portuguesa Tantos os PCNs quanto a BNCC preconizam que o preconceito linguístico deve combatido na escola, por meio de reflexões sobre os fenômenos da mudança linguística e da variação linguística que são comuns a qualquer sistema linguístico� A BNCC traz que “em especial as variedades linguís- ticas devem ser objeto de reflexão e o valor social 31 atribuído às variedades de prestígio e às variedades estigmatizadas, que está relacionado a preconceitos sociais, deve ser tematizado.” (BRASIL, 2018, p. 81). Acreditamos que a escola deve ser um lugar para o exercício da liberdade e da democracia, como indi- ca Bagno (2007), por isso, não deve ser lugar para preconceitos, sejam eles quais forem� Como estudamos ao longo dessa disciplina, a língua é algo que está em constante mudança, pois ela é usada por sujeitos que estão inseridos em uma so- ciedade que se modifica. Os alunos, ao chegarem na escola, já passaram por processos de aprendizados anteriores com sua família e sua comunidade e isso não deve ser descartado� Tudo que o aluno aprendeu faz parte da história dele e não há liberdade nem democracia sem “uma pedagogia culturalmente sen- sível aos saberes dos alunos” (BORTONI-RICARDO, 2004, p� 42) em que o professor não estigmatize ou despreze as diferenças dos alunos� Dessa forma, os alunos têm direito a aprender as formas mais monitoradas e, consequentemente, mais prestigiadas para que alcancem outros lugares na sociedade, mas não podem ser desrespeitados por conta de suas diferenças� Barros (2015, pp� 754-755), baseando-se em Bagno (2010), propõe uma lista de sugestões do que fazer em sala de aula, a fim de valorizar a variação linguís- tica e não cometer preconceito linguístico: 32 ● Considerar que modos de falar de diferentes gru- pos são elementos da identidade cultural� ● Mostrar que a língua varia tanto quanto a socie- dade varia� ● Demonstrar que existem muitas maneiras de dizer a mesma coisa� ● Evitar exemplificar a variação apenas a partir de meios rurais ou menos escolarizados� ● Enfatizar que há variação (e mudança) linguística entre falantes e falas prestigiados(as)� Não há desculpa para não nos preocuparmos com essas questões em sala de aula a partir de agora, não é mesmo? 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos, neste módulo, como o ensino de Língua Portuguesa no Brasil sofreu influências diretas da Linguística� Ao longo dos anos, essas mudanças se mostraram profundas, pois modificaram toda a forma como era concebido o ensino antigamente� Destacamos a importância de se ensinar a língua materna a partir dos textos e como os documentos oficiais do país têm compreendido essa questão. Para finalizar, pensamos no papel da escola, enquan- to espaço da diversidade� 34 SÍNTESE DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E FORMAÇÃO DA LINGUA PORTUGUESA Língua materna • Língua que usamos em casa,com a nossa família e comunidade • Língua que usamos em casa, com a nossa família e comunidade • fatores sociais e culturais • Ensino de Língua Portuguesa se modificou ao longo das décadas a partir do desenvolvimento da Linguística no Brasil. • Gêneros textuais passam a ser os objetos de ensino de Língua Portuguesa a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua Portuguesa • Variação linguística deve ser valorizada em sala de aula. • Gramática, produção de textos, leitura e a alfabetização Pilares do ensino de Língua Portuguesa 1998 Referências Bibliográficas & Consultadas BAGNO, Marcos� A língua de Eulália: novela socio- linguística. 16. ed. São Paulo: Contexto, 2010. BAGNO, Marcos� Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola, 2007� BARROS, Luciana Kinoshita� Preconceito linguísti- co como parte da cultura escolar: aprendizagem/ reprodução e desaprendizagem/transforma- ção de variantes menos prestigiadas na escola� In: International Congress of Critical Applied Linguistics, 2015, Brasília. Anais... p. 741 - 758. BORTONI-RICARDO, S�M� Educação em língua ma- terna: a sociolinguística na sala de aula. 6. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. BRASIL� Ministério da Educação e Cultura� Base Nacional Comum Curricular� Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, 2018. Disponível em: http://basenacionalco- mum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/12/ BNCC_19dez2018_site.pdf. Acesso em: 11 mar. 2019� FERREIRA, Ascenso� Catimbó – Cana caiana – Xenhenhém: poemas de Ascenso Ferreira. 5. ed. Recife: Nordestal, 1995. GOMES, Maria Lúcia de Castro� Metodologia do ensino de língua portuguesa. Curitiba: Ibpex, 2005. ILARI, Rodolfo� Linguística e ensino da língua portuguesa como língua materna, in: SÃO PAULO (Estado)� Secretaria da Cultura� Museu da lín- gua portuguesa� Textos. São Paulo: s/e, 2009. Disponível em: http://museudalinguaportuguesa. org.br/wp-content/uploads/2017/09/ENSINO- COMO-LINGUA-MATERNA.pdf. Acesso em: 02 mar. 2019� INEP� Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira� Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa): resul- tados nacionais – Pisa 2009. INEP: Brasília, 2012. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R�; BEZERRA, M� A� (Orgs�)� Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. pp. 19-36. Segate, Aline� Gêneros Textuais no Ensino de Língua Portuguesa� Linha D’Água, (23), 13-24, 2010� https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242. v0i23p13-24. Acesso em: 10 mar. 2019. SPINASSÉ, Karen Pupp� Os conceitos Língua Materna, Segunda Língua e Língua Estrangeira e os falantes de línguas alóctones minoritárias no Sul do Brasil. In: Revista Contingentia, vol� 1, n� 1, 2006, pp� 1-10� Introdução A LINGUÍSTICA E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Os primeiros passos da linguística no Brasil e o ensino de língua portuguesa Metodologias do ensino de língua portuguesa Gêneros textuais como objetos de ensino de língua portuguesa A variação linguística e o ensino de língua portuguesa Considerações finais Síntese Referências Bibliográficas & Consultadas
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