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51 ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 DO QUE VOCÊ PRECISA SABER u A propedêutica laboratorial e ultrassonográfica em cada trimestre. u Quando referenciar o pré-natal de alto risco para assistência mais especializada. u Saber as indicações de profilaxia intraparto para Streptococcus agalactiae. u Recomendações vacinais. u Entender as queixas mais comuns que aparecem durante a gravidez u Reconhecer alguns agentes teratogênicos. u Conhecer as leis que protegem a gestante. 1. AVALIAÇÃO PRÉ-CONCEPCIONAL A avaliação pré-concepcional se refere a um con- junto de medidas para determinar o momento ideal para que a gestação ocorra, além da identificação de riscos que possam complicar a gestação, sejam relacionados a aspectos sociais, comportamentais, ambientais ou biomédicos. Engloba aconselha- mento, educação em saúde e prevenção de des- fechos desfavoráveis. Deve-se esclarecer à mulher as alterações que a gestação e a maternidade podem trazer à vida, incluindo tanto as modificações fisiológicas da gestação quanto aquelas nas áreas afetiva, psíquica, social, profissional e econômica. É fundamental que seja feito antes da gestação, pois há situações em que a intervenção precoce é eficaz, como, por exemplo, o controle glicêmico, a suplementação de ácido fólico e a troca de medi- cações em uso por outras permitidas na gestação, pois o 1o trimestre é de alto risco para teratogênese e muitas grávidas iniciam o pré-natal tardiamente, após essa fase. Na consulta é feita uma anamnese detalhada com antecedentes pessoais, familiares, ginecológicos e obstétricos, os hábitos de vida e o interrogatório sobre os diversos aparelhos, além de exame clínico e ginecológico cuidadoso. Também será solicitada uma avaliação laboratorial das principais doen- ças que podem afetar o curso da gravidez, como diabetes, tireoidopatias, infecções sexualmente transmissíveis, anemias, hemoglobinopatias e incompatibilidade sanguínea. Deve-se investigar infertilidade, mau passado obs- tétrico, doenças crônicas, uso e abuso de substân- cias, idade avançada ou adolescência. A história familiar é importante para avaliar doenças genéticas e tromboembólicas. E não podemos esquecer de checar e atualizar o status vacinal da paciente. Caso seja identificada alguma possível situação de risco durante a avaliação, é importante orien- tar a gestante a respeito desses riscos e fazer as intervenções precocemente visando à proteção para que uma futura gravidez seja saudável para o binômio materno-fetal. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 52 DIA A DIA MÉDICO Muitas vezes nos deparamos com situações que são sabidamente de risco e somos obrigados a desencorajar uma gestação. Entretanto, a nossa função é de orientação. A decisão de arriscar ou não é da família. O importante é que ela tenha recebido todas as orientações possíveis para tomar essa decisão com sabedoria. 2. O PRÉ-NATAL O pré-natal representa papel fundamental na pre- venção e/ou detecção precoce de patologias mater- nas e fetais, permitindo o desenvolvimento e o nascimento de uma criança saudável, reduzindo ao máximo os riscos para a mãe. Sendo assim, é um instrumento importante na redução da morbi- mortalidade materna e infantil. Essa assistência é embasada na prevenção, na identificação precoce e no tratamento específico das gestantes com alta probabilidade de ter evolu- ção complicada. Alguns pontos são cruciais para que o pré-natal atinja seus objetivos, como início precoce, boa adesão, profissionais habilitados, estimativa fiel da idade gestacional, identificação de pacientes de risco para complicações, serviço de apoio para internações e avaliação constante do estado de saúde da mãe e do feto. Além disso, é também um momento de troca de experiências e conhecimentos necessários à promo- ção e compreensão de toda essa nova realidade que garantem o bem-estar físico e emocional ao longo dos processos da gestação, parto e nascimento. 2.1. CONSULTAS A Organização Mundial de Saúde orienta no mínimo seis consultas para que seja considerada uma boa assistência pré-natal, divididas da seguinte forma: 1 consulta no 1º trimestre, 2 consultas no 2º tri- mestre e 3 consultas no 3º trimestre. Porém, sempre que possível, a periodicidade ideal seria de consultas mensais até 28 semanas, quin- zenais até 36 semanas e a partir daí semanais, até o parto. Nesse caso, ainda é feita uma consulta de retorno 15 dias após a primeira para checagem de exames complementares solicitados no primeiro atendimento. Como você irá conferir na questão 1, essa periodicidade cai em provas. Tabela 1. Periodicidade das consultas da pré-natal Mínimo recomendado (6 consultas) Periodicidade ideal 1º trimestre: 1 consulta Até 28 semanas: consultas mensais 2º trimestre: 2 consultas 28 – 36 semanas: quinzenais 3º trimestre: 3 consultas 36 – parto: semanais Fonte. Ministério da Saúde – Referencia 4 Gestantes de alto risco necessitam de retornos ainda mais frequentes, de acordo com a sua doença de base. DIA A DIA MÉDICO Não existe ‘’alta’’ do pré-natal. Essa gestante deve ser acompanhada até o parto e ainda ter garantido o seu retorno puerperal para revisão. 2.1.1. PRIMEIRA CONSULTA Momento do contato inicial da gestante com o obstetra, em que serão estabelecidos vínculos de confiança e empatia. Na ocasião, é feita avaliação geral do estado mater- no-fetal, estima-se a idade gestacional e são dadas orientações sobre as mudanças do organismo materno e da importância da atividade física, da alimentação balanceada e de cuidados com saúde bucal. Além disso, são pontuados assuntos como a periodicidade e a rotina das consultas, é feita a orientação sobre urgência e emergência, além de serem discutidas as responsabilidades e expecta- tivas da gestante sobre a sua situação. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 53 É também uma oportunidade de fazer a primeira abordagem sobre a importância do aleitamento materno, tipos de parto e tirar as dúvidas referentes ao período gestacional. 2.1.1.1. Anamnese A anamnese é completa, com informações sobre a história pessoal, social, econômica, passado de doenças crônicas e cirurgias, vacinação, gestações anteriores, dados psiquiátricos e/ou psicológicos, vícios, passado obstétrico e IST. É necessário que se saiba a DUM (data do 1º dia da última menstruação) tanto para estimar a idade gestacional quanto para calcular a data provável do parto (DPP), correspondendo a 40 semanas, pela regra de Naegele. Para realizar esse cálculo, nos meses de janeiro a março são somados à DUM sete dias e nove meses, e nos meses de abril a dezembro somam-se sete dias e subtraem-se três meses. Lembrando que o resultado dos dias só pode atingir até 30/31 e o resultado dos meses só pode atingir até 12, adicio- na-se o excedente ao próximo mês ou ano. Janeiro a março Acrescentar 7 dias e 9 meses à DUM Abril a dezembro Acrescentar 7 dias e subtrair 3 meses à DUM Outro ponto importante é saber usar a terminologia para descrever a paridade de uma paciente. O sufixo GESTA (G) é para identificar o número de gestações, independentemente do desfecho ou duração de cada uma delas, sendo nuligesta a que nunca engravidou, e primigesta e secundigesta as que estão na primeira e segunda gestação, respectivamente. Já o sufixo PARA (P) é para informar a quantidade de partos de fetos com mais de 20 semanas e/ou com peso acima de 500 g. Sendo assim, primípara, secun- dípara e multípara são termos usados para designar a mulher que pariu ou vai parir pela primeira vez, segunda e terceira vez (ou mais), respectivamente. Para fins técnicos, as gestações que não evoluem além de 20 semanas são colocadas como abortamento, independentemente da causa da perda (ectópica, mola, gestação anembrionada, aborto). Um exemplo: G3 P0 A2 – essa paciente encontra- -se em sua terceira gestação e as outras duas não evoluíram além de 20 semanas. DIA A DIA MÉDICO No caso de gestação gemelar, serão consideradosapenas uma gestação e um parto na terminologia. Quando houver antecedente de abortamento, deve-se avaliar se a perda foi precoce ou tardia, espontânea ou provocada, e se houve necessidade de esvaziamento de cavidade endometrial. 2.1.1.2. Exame Físico O exame físico completo deve ser realizado na pri- meira consulta da gestação, o que inclui inspeção geral da pele, verificação de mucosas, temperatura, peso, estatura, ausculta cardíaca e respiratória, palpa- ção do tireoide, abdome e exame das extremidades. O peso será aferido em todas as consultas, mas logo na primeira faz-se o cálculo do IMC para adequar o ganho de peso ideal na gestação. Para a gestante com peso adequado, espera-se um ganho ponderal em torno de 11,5 kg até 16 kg durante a gestação. Para a obesa, o ganho ponderal deve ser entre 5 kg e 9 kg. A paciente com sobrepeso deve apresentar ganho entre 7 kg e 11,5 kg, e a mulher com baixo peso, entre 12,5 kg e 18 kg. Existem evidências de que o ganho de peso materno na gravidez influencia o peso ao nascer. Sendo assim, a desnutrição materna está relacionada ao baixo peso ao nascer e ao parto prematuro, enquanto a obesidade pode gerar macrossomia fetal e maior chance de cesariana. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 54 Tabela 2. Classificação e limites de Índice de Massa Corporal (IMC), segundo ganho de peso considerado normal durante a gravidez Classificação IMC pré-gravídico Ganho de peso (kg) Baixo <19,8 12,5 a 18,0 Normal 19,8 a 26,0 11,5 a 16,0 Elevado >26,0 a 29,0 7,0 a 11,5 Obeso >29,0 ≤ 7,0 Fonte. FEBRASGO, 2014. O exame de vulva e vagina inclui inspeção, exame especular com visualização do colo uterino e toque vaginal. Deve-se avaliar possíveis lesões sexual- mente transmissíveis e secreções patológicas. No toque digital, avalia-se comprimento, consistência e dilatação do colo uterino. O exame das mamas é obrigatório, pois, além de procurar alterações patológicas, já antecipa possí- veis fatores que dificultarão a amamentação. O exame obstétrico inclui medida da altura uterina e ausculta dos batimentos cardíacos fetais, além das manobras de Leopold. A altura de fundo uterino (AFU) auxilia no rastreamento das alterações do crescimento fetal, do volume de líquido amniótico e de gestação múltipla, quando a ultrassonografia não é de fácil acesso. A paciente precisa estar em decúbito dorsal, com as pernas estendidas e a bexiga vazia. A medida é realizada com fita métrica entre a sínfise púbica e o fundo uterino. Figura 1. Medida do fundo uterino Fonte. FEBRASGO, 2014 Figura 2. Altura do fundo do útero durante o envolver da gestação IDADE GESTACIONAL ALTURA UTERINA 12 SEMANAS Sínfise púbica 16 SEMANAS Entre s sínfise púbica e a cicatriz umbilical 20 SEMANAS Cicatriz umbilical 20 - 32 SEMANAS Crescimento de 1cm/ semana > 32 SEMANAS Crescimento de 0,5cm/semana Fonte. REZENDE, 2011. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 55 1ª manobra. Avalia situação fetal 2ª manobra. Avalia posição fetal 3ª manobra. Avalia apresentação fetal 2ª manobra. Avalia insinuação fetal Figura 3. Manobras de Leopold- Zweifel Fonte. REZENDE, 2011 ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 56 4 manobras de Leopold- Zweifel. 1. Situação: Lngitudinal, transversa ou oblíqua 3. Apresentação Fetal: Cefálica, pélvica ou cómica 2. Posição fetal: Diz respeito ao lado do dorso fetal em relação ao lado D ou E materno 4. Insinuação: Mostra o quando o feto está preenchendo a pelve materna DIA A DIA MÉDICO Ao aferir a AFU, o correto seria colocar o valor na curva para avaliar o percentil, mas saiba que entre a 20ª e a 34ª semana de gestação, a AFU pode ser correlacionada à idade gestacional. Uma diferença acima de 3 deve ser investigada. Os batimentos cardíacos fetais são detectáveis com o sonar Doppler entre 9 e 12 semanas, ao passo que a ausculta com o estetoscópio de Pinard é possível a partir de 16 semanas. 2.1.1.3. Alto Risco Caso haja critérios de indicação de pré-natal de alto risco, é importante frisar que o acompanhamento será realizado por obstetra em rede especializada e esclarecer as dúvidas, enfatizando a importância de adesão às consultas e terapêuticas indicadas. Há critérios para se considerar uma gestação como alto risco, baseados nas comorbidades maternas, história social, antecedentes gestacionais, inter- corrências maternas ou fetais durante a gestação: Quadro 1. Critérios para encaminhamento ao alto risco. Comorbidades maternas Antecedentes obstétricos Intercorrências maternas Intercorrências fetais Hipertensão Cardiopatias, trom- boses, endocrinopatias, DM, LES, entre outras. Óbito fetal de causas desco- nhecidas, eclâmpsia, aborta- mento de repetição, aborta- mentos tardios, infertilidade, entre outros. Infecções, hipertensão, dia- betes gestacional, anemias, exacerbações asmáticas, in- suficiência istmocervical, entre outras. Malformações, gemelaridade, CIUR, hidropsia, hidrocefalia, polidrâmnio, oligodrâmnio, en- tre outras. Fonte. Ministério da Saúde. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 57 Mulheres com DM, hipo ou hipertireoidismo, LES, DRC, obesidade, hipertensão arterial e cardiopa- tias congênitas possuem risco elevado de óbito materno ou fetal. Algumas situações não indicam alto risco, apenas uma maior observação, como as mulheres que tiveram intervalo curto entre partos, menor que dois anos, pois podem desenvolver complicações, visto que seu organismo ainda não está preparado, tendo suprimido as suas reservas nutricionais e orgânicas para uma nova gestação. Outro exemplo são mulheres com intervalo entre partos longo, maior que 10 anos, devido ao fato de o organismo comportar-se como o de uma nulípara. Algumas gestantes são vulneráveis, como as adolescen- tes que sofrem mais com quadros de hiperêmese gravídica e prematuridade, enquanto as gestantes com idade avançada (> 35 anos) estão relacionadas a malformações cromossômicas e doença hiper- tensiva grave. 2.1.2. SEGUIMENTO DA GESTAÇÃO Nas consultas seguintes, o exame clínico completo não precisa ser repetido nas gestantes de baixo risco, mas é rotineiro que peso materno, pressão arterial e altura uterina e ausculta dos batimentos cardíacos fetais sejam feitos em todas as consultas. Caso haja alguma queixa, o exame físico será dirigido, assim como o exame especular e o toque digital, que devem ser realizados sempre que houver queixa de perdas vaginais ou contrações, respectivamente. Em toda consulta, deve-se questionar sobre movi- mentação fetal e anotar adequadamente na cader- neta da gestante os dados obtidos. DIA A DIA MÉDICO Após o parto, ainda há a necessidade de avaliação da mulher e do recém-nascido na primeira semana e de consulta puerperal até o 42º dia pós-parto. 2.2. EXAMES LABORATORIAIS Os exames laboratoriais são importantes para o rastreamento e prevenção de possíveis doenças. Cada serviço costuma ter seu próprio protocolo. Vocês encontrarão detalhes sobre as alterações deles nos respectivos capítulos. Tabela 3. Exames subsidiários recomendados de acordo com o trimestre da gestação Primeiro Trimestre Segundo Trimestre Terceiro Trimestre Tipagem sanguínea (ABO/Rh) e Teste de Coombs indireto se indicado; Hemograma completo; Glicemia de jejum; Urina I com urocultura/antibiograma; Sorologias: rubéola, toxoplasmose, sífilis, citomegalovírus, hepatite B, hepatite C e HIV; TSH; Protoparasitológico de fezes (PPF); Colpocitologia oncológica; Ultrassonografia morfológica de 1º tri- mestre com perfil Bioquímico. Hemograma completo; Teste de tolerância oral à glicose (TTOG) de 75 g; Sorologias: toxoplasmose e sífilis; Ultrassonografia morfológica de 2º tri- mestre com Dopplerfluxometria colorida das artérias uterinas maternas e avaliação do colo por via vaginal. Hemograma completo; Sorologias: sífilis, toxoplasmose, hepatite B e HIV; Urina I com urocultura/antibiograma. Cultura seletiva para estreptococo hemo- lítico de introito vaginal e perianal; Ultrassonografia obstétrica comDoppler- fluxometria colorida; Ecocardiografia fetal; Cardiotocografia basal. Fonte. FEBRASGO, 2014. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 58 DIA A DIA MÉDICO Serviços credenciados à rede cegonha (programa do SUS que propõe a melhoria do atendimento às mulheres durante a gravidez, o parto e o puerpério) incluem eletro- forese de hemoglobina para todas as gestantes. A sorologia para citomegalovírus não é solicitada de rotina, pois, além de não haver tratamento, caso haja a infecção, o vírus pode reativar em pessoas imunocompetentes, sem motivo aparente. 2.2.1. TIPO SANGUÍNEO E PESQUISA DE ANTICORPOS IRREGULARES (COOMBS INDIRETO) Fazem parte do rastreamento da doença hemolítica perinatal e são solicitados na primeira consulta. O coombs indireto é repetido mensalmente para as gestantes RhD-negativo com parceiro RhD-positivo. Alguns protocolos indicam sua pesquisa para todas, inclusive para pacientes RhD-positivo, mas, nesse caso, se vier negativo, a pesquisa está encerrada e não será necessário repeti-la. 2.2.2. HEMOGRAMA BASES DA MEDICINA Algumas alterações nos valores de referência são decor- rentes da adaptação circulatória observada na gestante e constituem alterações do volume e da constituição do sangue. O volume sanguíneo materno aumenta, atingindo valores 30 a 50% maiores, causando hemodiluição, o que leva à anemia dilucional, fisiológica da gestação. O hemograma fornece dados importantes sobre os elementos do sangue, lembrando que os valores de referência são diferentes da população em geral. X Anemia: hemoglobina < 11 g/dL e hematócrito < 32% X Leucocitose: > 14.000/mm3 X Plaquetopenia: < 100.000/mm3 2.2.3. SOROLOGIAS a) rubéola A Organização Pan-Americana da Saúde declarou a eliminação da rubéola e da síndrome da rubéola congênita nas Américas, em abril de 2015, onde não há mais evidência da transmissão endêmica dessas doenças por cinco anos consecutivos. Portanto, o Ministério da Saúde recomenda que não seja rea- lizado o exame sorológico com pesquisa de IgM para rubéola, na rotina de pré-natal para gestantes assintomáticas. Solicita-se apenas a sorologia IgG e, caso negativo, orienta-se a vacinação no puerpério. b) toxoplasmose A investigação é pela detecção dos anticorpos IgG e IgM, e a repetição será baseada de acordo com o resultado encontrado. Lembrando que gestantes suscetíveis precisam repetir a sorologia mensal- mente ou bimensalmente, a depender do protocolo do serviço, até 36 semanas. Em gestantes imunes e imunocompetentes, a pesquisa está encerrada. Mais detalhes no capítulo específico de toxoplasmose. c) hepatites B e C Solicitadas na primeira consulta e repetidas se a gestante apresentar fatores de risco para hepatite ou suspeita de exposição. d) sífilis O Ministério da Saúde preconiza o rastreamento pelo VDRL e, se positivo, indica a realização do FTA-ABs para confirmação. e) vírus da imunodeficiência humana (HIV) O rastreamento é realizado pelo método Elisa, que detecta anticorpos para HIV 1 e 2. 2.2.4. GLICEMIA EM JEJUM Deve ser solicitado no 1o e no 3o trimestre. X < 92 mg/dL: normal e, nesse caso, fazer teste de tolerância à glicose oral de 75 g entre 24 e 28 se- manas para todas as gestantes (o período corre- to para a solicitação desse exame é importante, como você pode conferir nas questões 1 e 5). ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 59 X 92 a 125 mg/dL definem o diagnóstico de diabe- tes mellitus gestacional. X ≥ 126 mg/dL será considerado overt diabetes, ou seja, diabetes prévio à gravidez, porém não diagnosticado. Esse tema será abordado com mais detalhes no Capítulo de Diabetes gestacional. 2.2.5. HORMÔNIO TIREOESTIMULANTE (TSH) BASES DA MEDICINA A regulação da tireoide está alterada na gravidez em razão de três modificações: redução dos níveis séricos de iodo pelo aumento da taxa de filtração glomerular e pelo consumo periférico, aumento da produção e da glicosilação da globulina transportadora de hormônios tireoidianos com consequente aumento das frações liga- das dos hormônios e estimulação direta dos receptores de TSH pelo hCG. Por isso, o TSH é solicitado para rastreamento de tireoidopatias. Entretanto, não está presente em todos os protocolos. 2.2.6. URINA TIPO I COM UROCULTURA Que seja, de preferência, a urina da manhã. Avalia as características gerais, a presença de ele- mentos anormais e a microscopia do sedimento. A gestante tem indicação de tratar bacteriúria assintomática. DIA A DIA MÉDICO Para gestantes que apresentarem duas cistites ou uma pielonefrite, é indicada a profilaxia antibiótica até o final da gestação com nitrofurantoína ou amoxicilina. A uro- cultura deve ser repetida mensalmente. 2.2.7. PROTOPARASITOLÓGICO DE FEZES (TRÊS AMOSTRAS) É importante principalmente para casos de ane- mias, que podem ter como única causa parasi- toses intestinais. 2.2.8. COLPOCITOLOGIA ONCÓTICA (PAPANICOLAOU) Pode e deve ser feito caso esteja em atraso. 2.2.9. ESTREPTOCOCOS DO GRUPO B BASES DA MEDICINA O Streptococcus agalactiae, único representante do estreptocococos do grupo B, faz parte da flora gastroin- testinal e está presente na vagina ou no ânus de 10 a 30% das gestantes. Pode ser transmitido verticalmente, com altas taxas de complicações no recém-nascido, sendo responsável por mais da metade dos casos de sepse neonatal grave em recém-nascidos a termo. O rastreio para deve ser feito para todas as gestan- tes com idade gestacional entre 35 e 37 semanas (no máximo 5 semanas antes do parto) através da cultura de swab do introito vaginal e perianal. Entretanto, pacientes que já tiveram filho anterior com sepse neonatal por estreptococo do grupo B ou que apresentaram urocultura na gestação atual positiva para estreptococo do grupo B estão dis- pensadas da coleta, pois, nesses casos, a profilaxia intraparto é imperativa. Nas gestantes que não realizaram a coleta, ou seja, se o resultado da pesquisa de estreptococo for desconhecido, deverão receber a profilaxia caso apresentem: febre intraparto (≥ 38oC) e/ou trabalho de parto prematuro (< 37 semanas) e/ou bolsa rota há mais de 18h. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 60 Quadro 2. Indicações de profilaxia intraparto Swab vaginal/ perianal positivo Filho anterior acometido Febre intraparto Urocultura positiva na gestação atual Prematuridade Bolsa rota prolongada Fonte. Zugaib As gestantes que fazem cesárea eletiva, ou seja, fora de trabalho de parto e com bolsa íntegra, não têm necessidade de fazer a profilaxia mesmo se apre- sentarem os critérios já citados. Confira a questão 6. A antibioticoterapia de escolha é penicilina G cris- talina, dose de ataque 5 milhões de UI, EV, dose de manutenção 2,5 milhões UI, EV, 4/4h até o nas- cimento, ou ampicilina 2 gramas EV seguida de manutenção 1 grama 4/4 horas. Tabela 4. Posologia da profilaxia intraparto Antibiótico de escolha Ataque Manutenção Penicilina G Cristalina 5 milhões UI, EV 2,5 milhões UI, EV, 4/4 horas Ampicilina 2 gramas, EV 1 grama, EV, 4/4 horas Fonte. Zugaib Pacientes alérgicas a penicilina podem receber cefazolina 2 gramas de ataque seguida de 1 grama de manutenção a cada 8 horas, ou eritromicina 500 mg 6/6h ou clindamicina 900 mg 8/8h. Even- tualmente, 1 grama de vancomicina 12/12 horas até o parto. 2.3. ULTRASSONOGRAFIAS BASES DA MEDICINA Não há estudos que comprovem redução na morbimor- talidade com realização de exames ultrassonográficos de rotina durante a gestação. Portanto, a não solicitação deles não constitui uma omissão ou reduz a qualidade do pré-natal, não constituindo um exame obrigatório a ser realizado, segundo o Ministério da Saúde. Entretanto, consideramos sim que seja uma ferra- menta indispensável, que não traz prejuízo à saúde da gestante e do feto e é muito útil para lidar com preocupações como restrição do crescimento fetal, investigação do bem-estar fetal e na avaliação de complicações clínicas, então, sempre que disponível, ele pode e deve sersolicitado. Alguns locais utilizam quatro USG, e são elas a USG obstétrica, de preferência com até 10 semanas de idade gestacional, USG morfológica de primeiro trimestre, USG morfológica no segundo trimestre e USG obstétrico após 34 semanas. Isso pode variar de instituição e de disponibilidade e acesso no SUS. A USG inicial, quando realizada no 1º trimestre, é extremamente confiável para datar a gravidez, calculando a IG com maior precisão (estimada pelo comprimento da cabeça-nádega – CCN). Além disso, é importante para avaliar se a gestação é tópica, a corionicidade da gestação múltipla e a viabilidade dessa gestação. A USG morfológica de 1º trimestre deve ser rea- lizada entre a 11ª e a 14ª semana, quando o feto apresenta CCN de 45 a 84 mm. É uma ferramenta para triagem de cromossomopatias, com avaliação do osso nasal, translucência nucal e presença do ducto venoso. Também faz a predição de pré-e- clâmpsia quando, ao doppler, apresenta índice de pulsatilidade de artérias uterinas ≥ P95. A USG morfológica de 2º trimestre deve ser feita entre a 20ª e a 24ª semana para avaliar todos os sistemas do feto, podendo perceber até 75% de pos- síveis malformações. O estudo do fluxo das artérias uterinas permite identificar mulheres com risco de desenvolver pré-eclâmpsia, assim como permite identificar fetos com maior risco de crescimento restrito. Neste momento, é possível também medir o colo da paciente (cervicometria) como forma de estimar o risco de parto prematuro. A USG no 3º trimestre (obstétrico) deve ser reali- zada após 34 semanas, com objetivo de avaliar o crescimento fetal, a quantidade de líquido amnió- tico e a placenta. Quando associada ao doppler, é possível avaliar adaptação placentária e indícios de sofrimento fetal. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 61 Fluxograma 1. Avalia: presença do osso nasal, translucência nucal e ducto venoso. USG 1º TRIMESTRE: 2º TRIMESTRE: 3º TRIMESTRE: Realizada entre 11ª e 14ª semana, podendo realizar triagem de cromossomopatias. Avalia: fluxo das artérias uterinas materna (risco aumentado para pré-eclâmpsia e CIUR), cervicometria (risco de parto prematuro se colo <25mm). Realizada entre 20ª e 24ª semana, pois deste modo já e possível avaliar malformações. Avalia: crescimento fetal, quantidade de líquido amniótico e a placenta. Realizada entre 34 semanas. DIA A DIA MÉDICO Caso você tenha que optar por apenas um exame de imagem durante toda a gestação, escolha o morfológico do 2º trimestre (entre 20 e 24 semanas), que pode avaliar adequadamente a anatomia fetal e estimar a idade ges- tacional de maneira confiável. 2.4. SUPLEMENTAÇAO 2.4.1. FERRO BASES DA MEDICINA As necessidades de ferro durante o ciclo gravídico-puer- peral AUMENTAM EM FUNÇÃO DO consumo pela unidade fetoplacentária, DA utilização para produção de hemoglo- bina e de mioglobina (para aumento da massa eritrocitária, ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 62 e da musculatura uterina), ALÉM da depleção por perdas sanguíneas no parto e depois, pelo aleitamento. Portanto, para evitar a anemia ferropriva, é recomen- dada a suplementação universal de ferro durante a gravidez, pois essa medida reduz em 70% o risco de anemia na gestação e no puerpério. O Ministério da Saúde recomenda a ingesta de 30 a 60mg/dia de ferro elementar (150 a 300 mg de sulfato ferroso), de 20 semanas de gestação até 12 semanas de puerpério. DIA A DIA MÉDICO Para gravar e não confundir: a dose de sulfato ferroso é 5 vezes a dose de ferro elementar do comprimido. Por exem- plo, 1 comprimido de 150 mg SF tem 30 mg Fe elementar. 2.4.2. ÁCIDO FÓLICO BASES DA MEDICINA Esta vitamina contribui para o fechamento do tubo neural que acontece na 6ª semana de gestação, sendo fundamen- tal para a diminuição de até 75% de condições graves, como espinha bífida, meningomielocele, acrania, anencefalia, meningocele, encefalocele. Nas populações de baixo risco para tal patologia, recomenda-se o uso de 400 mcg/dia de 3 meses antes da gestação até 14 semanas. Já para gestantes com fator de risco como obesidade, uso de anti- convulsivantes, insulinoterapia, história prévia ou familiar de defeitos de tubo neural, recomenda-se a dose de 4 mg/dia. Fixe esse conhecimento com as questões 2 e 3. DIA A DIA MÉDICO Para gestantes que necessitam de dose alta, para facilitar a tomada diária, prescreve-se o comprimido de ácido fólico com a apresentação disponível no mercado, de 5 mg/dia. 2.4.3. CÁLCIO É preciso estimular a ingestão de cálcio pois sua necessidade aumenta durante o período gestacional. Suplementar em média de 1 a 1,5 g/dia, se gemela- ridade, doenças intestinais disabsortivas, intervalo entre partos curto, ingesta láctea pobre, risco de complicação hipertensiva. 2.4.4. VITAMINA A Os polivitamínicos com concentrações de vitamina A acima de 5.000 UI devem ser evitados, pois doses acima de 10.000 UI são teratogênicas. A alimentação supre a demanda necessária. Pode parecer irrelevante, mas é assunto que cai em prova, como você pode conferir na questão 4. Sony Realce Sony Realce Sony Realce ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 63 Fluxograma 2. SUPLEMENTAÇÃO DE OLIGOELEMENTOS CÁLCIO Se deficiência: 1,5g/dia. FERRO ÁCIDO FÓLICO 40mg de ferro elementar, 1h antes do almoço, até 3 meses pós-parto/pós- aborto Baixo risco Alto risco 5mg/dia0,4-0,8mg/dia de ácido fólico 1 mês antes da gravidez até a 12ª semana de gestação. 2.5. VACINAS BASES DA MEDICINA A atualização do calendário vacinal é solicitada e algumas vacinas como as de sarampo, caxumba, rubéola, poliomie- lite, febre amarela e varicela são contraindicadas no período gestacional por se tratar de substâncias com microrganis- mos vivos ou atenuados, podendo ser teratogênicas. Há ainda o risco, mesmo que baixo, de a gestante desenvolver a doença, pois ela encontra-se com a imunidade alterada por conta de alteração da quimiotaxia de leucócitos. O Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacio- nal de Imunizações (PNI), oferta quatro vacinas para gestantes: dTpa (difteria, tétano e coqueluche); dT (difteria e tétano); hepatite B; e influenza, esta última ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 64 ofertada durante campanhas anuais. Fixe essa infor- mação com a questão 8. 2.5.1. OBRIGATÓRIAS 2.5.1.1. Influenza Recomendada para todas as gestantes nas campa- nhas anuais, objetivando diminuir o risco de SARS. 2.5.1.2. Hepatite B Recomendada para as não vacinadas ou vacinação não comprovada. É iniciada o mais precocemente possível e respeitando o intervalo de 30 dias entre a primeira e a segunda dose e de 180 dias entre a primeira e a terceira dose. 2.5.1.3. Difteria e Tétano Objetiva a profilaxia do tétano neonatal e é recomen- dada para aquelas com esquema vacinal incompleto. As suas doses devem ter intervalo de 60 dias ou, pelo menos, 30 dias entre elas. 2.5.1.4. Difteria, Tétano e Coqueluche (DTPA) – Acelular Recomendada a todas as gestantes da 20ª a 36ª semana de gestação, o mais precocemente possível. Está recomendada em todas as gestações com o objetivo de diminuir a incidência e mortalidade por coqueluche nos recém-nascidos, pois, além de prote- ger a gestante e evitar que ela transmita a Bordetella pertussis ao recém-nascido, permite a transferência de anticorpos ao feto, protegendo-o nos primeiros meses de vida até que possa ser imunizado. Treine na questão 7. Fluxograma 3. 01 dose de DTPa na 20ª semana de gestação Esquema de vacinação da dT/DTPa Paciente com esquema de dT completo e/ou receberam DTPa na gestação anterior Paciente que foi vacinada com 01 dose de dT Pacientes com apenas 2 doses de dT na vida Paciente que nunca foi vacinada contra difteria/ tétano/coqueluche 01 dose de dT antes da 20ª semana de gestação seguida de 01 dose de DTPa 60 dias depois (esta preferencialmente após as 20 semanas de gestação) Faz-se 02 doses de dT com intervalo de 60 dias entre ambas e 01 dosede DTPa após as 20ª semana de gestação ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 65 2.5.2. SITUAÇÕES ESPECIAIS 2.5.2.1. Febre Amarela Apesar de ser contraindicada como rotina, em casos de área endêmica, na avaliação do risco-benefício, opta-se por vacinar. 2.5.2.2. Raiva Recomendado vacinar em caso de exposição ao vírus. DIA A DIA MÉDICO Caso sua paciente não tenha cartão de vacinas, pois é muito comum que eles sejam perdidos, você pode solicitar o Anti-HBs para checar imunidade prévia à hepatite B. Caso esteja positivo, mesmo sem comprovação vacinal em cartão, você pode dispensá-la das três vacinas do esquema de hepatite B. As vacinas inativadas para pneumococo e meningococo não têm suas indicações alteradas pela gestação. A vacina do pneumococo é dada em dose única para mulheres com cardiopatia, asplenia, doença metabólica renal, pneumopatas, tabagistas e imunodeprimidas, e a vacina para o meningococo, também aplicada em dose única e recomendada nos surtos epidêmicos. Sempre que possível, prefira vacinas combinadas e consi- dere aplicações simultâneas na mesma visita. Além disso, qualquer dose não administrada na idade recomendada deve ser aplicada na visita subsequente. Lembrar que eventos adversos signicativos devem ser noticados às autoridades competentes. 2.6. PRINCIPAIS QUEIXAS Durante o período da gestação, devido às alterações fisiológicas, haverá muitas manifestações clínicas. 2.6.1. NÁUSEAS E VÔMITOS BASES DA MEDICINA Queixas comuns no 1o trimestre, presentes em até 75% das gestantes. A provável etiologia seria a elevação súbita dos níveis de gonadotrofina coriônica humana (hCG) e estrógeno. O tratamento é paliativo, com antieméticos por via oral, geralmente sem alívio completo na maioria das vezes. Algumas recomendações: X refeições pequenas e fracionadas. X evitar alimentos com odores fortes, comidas gordurosas. X não consumir líquidos durante as refeições. X preferir alimentos gelados. X ao acordar, alimentar-se de alimentos sólidos. O agravamento pode provocar desidratação, distúrbio hidroeletrolítico e cetose, a conhecida hiperêmese gravídica (Mais detalhes no Capítulo 1). Tabela 5. Doses de antieméticos categoria B. Metoclopramida 10 mg Plasil®, Plabel® 1 comprimido, via oral, 8/8 horas. Dimenidrato 100 mg Dramin® 1 comprimido, via oral, 6/6 horas. Meclizina 25 mg, 50 mg Meclin® 1 comprimido 25 mg a cada 6 horas OU 1 comprimido de 50 mg a cada 12 horas. Ondansetrona 4 mg, 8 mg Vonau®, Nautex®, Jofix® 1 comprimido de 4 mg, sublingual, a cada 6 horas. OU 1 comprimido de 8 mg, sublingual, a cada 12 horas. Fonte: A autora DIA A DIA MÉDICO Estudos recentes associaram efeitos teratogênicos à administração de ondansetrona no 1º trimestre. Essa ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 66 droga continua sendo categoria B, mas não deve ser utilizada como 1ª escolha. 2.6.2. PIROSE BASES DA MEDICINA Um dos sintomas mais comuns na gestação ocorre pelo refluxo de conteúdo gástrico na porção baixa do esôfago, resultado da compressão uterina sobre o estômago e do relaxamento do esfíncter inferior esofágico. Em geral, sintomas leves melhoram com as seguin- tes medidas: X fracionamento das refeições. X evitar a posição plana ao deitar-se. X evitar a ingestão de alimentos gordurosos e con- tendo cafeína (relaxa o esfíncter esofágico inferior). X antiácidos, como hidróxido de alumínio ou mag- nésio, isolados ou em combinação. Tabela 6. Sintomáticos para pirose Associação 80 mg de hidróxido de alumínio + 80 mg de hidróxido de magnésio + 6 mg de simeticona Nome comercial Mylanta plus® #10 mL, via oral, até 6/6 horas, máximo 40 mL/dia. Sucralfato (Comprimido mastigável 1 g OU Flaconetes com 5 ou 10 mL de solução oral (200 mg/mL)) Nome comercial: Sucrafilm® #2 comprimidos mastigáveis, via oral, de 1g uma hora antes das principais refeições ou ao deitar-se. OU #1 flaconete de 2g via oral uma hora antes das principais refeições ou ao deitar-se. Fonte: A autora 2.6.3. TONTURAS E DESMAIOS Orienta-se que a gestante que não levante ou mude bruscamente de posição, pois isso pode levar à lipotimia, evitar jejum prolongado, assim como ambientes abafados. Em caso de mal-estar, pode deitar-se em decúbito lateral esquerdo, respirar profundamente, buscando a melhora do quadro. 2.6.4. DORES ABDOMINAIS Podem ser cólicas, flatulências, constipação intes- tinal, abdome agudo, além de síndrome HELLP. 2.6.5. HEMORROIDAS Deve-se orientar alimentação saudável com fibras, água e, se necessário, prescrever supositórios. Não realizar higiene com papel, pois lesiona a região. Pode usar anti-inflamatórios e anestésicos tópicos e com- pressas mornas para aliviar os sintomas e correção da obstipação intestinal. Raramente, há necessidade de abordagem cirúrgica da trombose hemorroidária. 2.6.6. CORRIMENTOS VAGINAIS Na maioria das vezes, é causado por um aumento de fluxo fisiológico e, caso haja indícios de infecção vaginal, devem ser tratados. É importante fazer o exame ginecológico para afastar infecções. X Candidíase: o tratamento é com cremes vaginais à base de nistatina, miconazol e clotrimazol, que são eficazes. X Vaginose: tratar com metronidazol. X Tricomoníase: tratar com metronidazol. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 67 Tabela 7. Tratamento para vulvovaginites Candidíase • Miconazol 2%, via vaginal, ao deitar-se, 7 noites. OU • Clotrimazol 100 mg/g, via vaginal, ao deitar-se, 7 noites. OU • Nistatina 25.000 UI/g, via vaginal, ao deitar-se, 14 noites. Vaginose Bacteriana Metronidazol: • 500 mg, via oral, 12/12 horas, 07 dias. OU • Gel vaginal a 0,75%, por 7 noites. Tricomoníase Metronidazol: • 2 gramas, via oral, dose única. OU • 250 mg, via oral, 8/8 horas, 7 dias. OU • 400 mg, via oral, 12/12 horas, 7 dias. Fonte: A autora DIA A DIA MÉDICO Tratar o parceiro nos casos de vaginose bacteriana (pro- tocolo atual) e tricomoníase, assim como nos casos de candidíase recorrente (nesse caso, usar 1 comprimido de fluconazol em dose única). 2.6.7. INCONTINÊNCIA URINÁRIA Devido ao aumento do tamanho uterino progressivo, a gestante pode se queixar de perda urinária. Sem tratamento específico. 2.6.8. DISPNEIA BASES DA MEDICINA Pode ser decorrente da ação da progesterona no centro respiratório ou pela percepção da hiperventilação fisio- lógica. Também pode ser causada por ansiedade e pelo aumento progressivo do volume uterino. Pode ser auxiliada com exercícios de relaxamento e decúbito lateral esquerdo. 2.6.9. MASTALGIA As mamas podem doer e liberar secreções, mas sempre devem ser examinadas. Está recomendado o uso de sutiã com boa sustentação. 2.6.10. LOMBALGIAS Queixa referida por pelo menos 70% das gestantes e mais evidenciada em obesas. Algumas recomen- dações para amenizar a queixa: X correção de postura. X uso de travesseiros no dorso ao sentar-se. X usar sapatos com saltos baixos. X aplicar calor local. X analgésicos simples (exemplo: paracetamol 500 mg, via oral, 6/6 horas). X Em alguns casos, está indicada fisioterapia. DIA A DIA MÉDICO Lembrar-se de afastar causas orgânicas, como, por exem- plo, hérnias de disco. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 68 2.6.11. CEFALEIA Mais comum no 1o trimestre e pode ser decorrente de sinusites, miopia e enxaquecas. Outras causas mais graves são hipertensão arterial crônica mal controlada e pré-eclâmpsia. Geralmente melhora espontaneamente na 2a metade da gestação. Na maioria das vezes, melhora espontaneamente, mas pode ser amenizada por analgésicos comuns ou aqueles com cafeína por curtos períodos. Tabela 8. Sintomáticos para cefaleia Paracetamol 500 mg 1 comprimido, via oral, 6/6 horas. Paracetamol 500 mg + cafeína 6 mg Nome comercial: Tylenol DC® 2 comprimidos, via oral, 6/6 horas. (não exceder 8 comprimidos/dia). Fonte: Autora. 2.6.12. VARIZES BASES DA MEDICINA Decorrentes do aumento da compressão das veias cava inferior, femorais e pélvicas pelo útero. Associadas à predisposiçãogenética, posição supina prolongada, gestação e idade avançada. Podem piorar no período gestacional, mas o trata- mento cirúrgico não está recomendado, a não ser em casos graves. Algumas sugestões para alívio: X repouso X elevação de membros inferiores. X meias elásticas de compressão. 2.6.13. MANCHAS NO ROSTO (CLOASMA) São fisiológicas e algumas vezes desaparecem progressivamente após o parto. Deve-se sugerir o uso de filtro solar. 2.6.14. EDEMA Comum na gestação, principalmente o postural, que piora no decorrer do dia. Se súbito ou anasarca, deve ser investigado, além de ser importante afastar risco de trombose. 2.6.15. OBSTIPAÇÃO BASES DA MEDICINA Sua etiopatogênia pode estar associada ao efeito inibidor da progesterona sobre a musculatura colônica. Queixa muito comum e piora à medida que a ges- tação evolui. O manejo inclui: X alimentação e hidratação adequados. X formadores de bolo fecal e, se necessário, probióticos. DIA A DIA MÉDICO O óleo mineral reduz a absorção de vitaminas lipossolú- veis, devendo ser evitado. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 69 Tabela 9. Náuseas e vômitos Gengibre, camomila, vitamina B6 e/ou acupunctura são recomendados para aliviar as náuseas no início da gravidez, com base nas preferências da mulher e nas opções disponíveis. Azia Recomenda-se aconselhamento sobre dieta e estilo de vida para evitar e aliviar a azia na gravi- dez. Podem ser oferecidos preparados antiácidos às mulheres com sintomas incómodos que não possam ser aliviados pela mudança de estilo de vida. Câimbra nas pernas Pode usar-se magnésio, cálcio ou opções de tratamento não farmacológico para alivio das câimbras nas pernas na gravidez, com base nas preferências da mulher e nas opções disponíveis. Dores lombares e pélvicas Recomenda-se exercício regular durante toda a gravidez, para evitar as dores lombares e pél- vicas. Existem várias opções de tratamento que podem ser usadas, como a fisioterapia, cintas de suporte e acupunctura, com base nas preferências da mulher e nas opções disponíveis. Obstipação A sêmola de trigo ou outras podem ser usadas para aliviar a obstipação durante a gravidez, se não houver resposta à modificação da dieta, com base nas preferências da mulher e nas opções disponíveis. Veias varicosas e edema Opções não farmacêuticas, como meias de descanso, elevação das pernas e imersão em água podem ser usadas para o tratamento das veias varicosas e edemas na gravidez, com base nas preferências da mulher e nas opções disponíveis. Fonte. OMS, 2016 2.7. TERATOGENICIDADE Diversas são as causas da teratogênese e incluem fatores genéticos e ambientais que afetam o embrião durante o seu desenvolvimento, como drogas, agen- tes químicos, radiação, hipertermia, infecções, meta- bolismo materno anormal ou fatores mecânicos. Esses fatores apresentam diferentes processos patológicos que resultam no desenvolvimento anor- mal do produto conceptual. A teratogenia deve ser avaliada quanto ao período exposto, à dose ou à magnitude da exposição e do genótipo do embrião. Exposições no período embrionário são mais graves por se tratar de uma fase de divisão e diferenciação celular e morfo- gênese. Em fases fetais, há problemas de ordem funcional neurológica. 2.7.1. AGENTES X ÁLCOOL: filhos de mães alcoólatras podem apre- sentar síndrome alcoólica fetal, caracterizada por graus variáveis de retardo mental, microcefalia, alterações faciais, CIUR, cardiopatias, hiperativi- dade, déficit de atenção, alterações cognitivas, entre outros acometimentos. Além disso, há risco de se tornar antissocial e abusar de substâncias na adolescência e fase adulta. Na mãe, o álcool irá causar reações sistêmicas, com alteração da pressão arterial, cortisol, vasopressina, reatividade vascular, fluxo sanguíneo e placentário, além de poder levar à hipóxia e acidose. X TABAGISMO: associado à gestação ectópica, abortamento espontâneo, baixo peso ao nascer, prematuridade, placenta prévia, rotura prematura de membranas, gastrosquise, hidrocefalia, micro- cefalia, anomalias de membros, fenda palatina e labial, doenças respiratórias na infância, adoles- cência e vida adulta, dermatite atópica, cefaleia crônica. A NICOTINA dos adesivos atravessa a barreira placentária. X COCAÍNA: associada ao abortamento, CIUR, des- colamento prematuro de placenta, prematuridade, microcefalia, anomalias cardíacas e gastrointesti- nais, alterações cognitivas, baixo QI e problemas comportamentais. Na mãe, podem ocorrer arrit- mias cardíacas, crises hipertensivas, convulsões. X CAFEÍNA: estimulante do SNC, não está asso- ciada a malformações ou danos ao feto. Porém, doses acima de 454 mg de cafeína podem causar síndrome de abstinência no RN, caracterizada ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 70 por taquicardia, tremores finos, taquipneia. Po- de ser usada em doses regulares na gestação e na lactação. X ANTICONVULSIVANTES: podem causar efeitos teratogênicos, sendo mais comuns problemas cardíacos e alterações faciais, porém podem ocorrer CIUR, microcefalia, anoftalmia, pé torto congênito, fenda palatina, malformações genitu- rinárias. Atuam principalmente nas membranas celulares, no ciclo do folato e no metabolismo da vitamina K. Os mais utilizados são carbama- zepina e lamotrigina. X ANTICOAGULANTES: a varfarina no primeiro tri- mestre pode levar a alterações faciais, calcifica- ção anormal de cartilagens e ossos. Além disso, se for em dose alta, pode levar ao abortamento. Nos outros trimestres, pode levar a inúmeros da- nos neurológicos funcionais e cognitivos. Deve ser evitada na gestação. X VITAMINA A: o retinol, vitamina A pré-fabricada, está associada a malformações em doses altas. X ANDRÓGENOS: a exposição à testosterona, me- droxiprogesterona, noretindrona e/ou danazol durante o primeiro trimestre irá causar hipertrofia de clitóris, agenesia de vagina. São contraindica- dos na gestação e lactação. X ESTRÓGENOS: na sua grande maioria, não cau- sam danos embrionários. X PROGESTÁGENOS: noretindrona, norgestrel e levonorgestrel são contraindicados na gestação e lactação, categoria X. Podem levar à masculi- nização da genitália feminina, genitália ambígua, malformações cardíacas e de membros. X CICLOFOSFAMIDA: antineoplásico que causa alterações no DNA de células sobreviventes, po- dendo levar a alterações de mãos e pés, fenda palatina, ânus imperfurado, CIUR, microcefalia. Categoria D. X METOTREXATO: antagonista do ácido fólico. Diante dessa frase, acredito que a essa altura do campeonato nem precise descrever as malfor- mações relacionadas (CIUR, alterações de ossi- ficação do osso craniano, micrognatia, retardo mental, anomalia de membros e alterações no tubo neural). X DOXICICLINA: tetraciclina que atravessa a barrei- ra placentária e se deposita nos dentes e ossos, causando no feto descoloração dos dentes e di- minuição de ossos longos. Categoria D. X SULFAS: devem ser evitadas ao final da gesta- ção, pois podem ser tóxicas ao feto se utilizadas próximo ao parto. O TRIMETOPRIM pode causar malformações cardiovasculares, de tubo neural e do sistema urinário. X FLUCONAZOL: pode levar a anomalias de crânio, alterações faciais, de ossos, cardíacas. Categoria C. O ITRACONAZOL não foi estudado claramente. X METILDOPA: droga categoria B, sem resultados negativos em fetos. HIDRALAZINA é segura, po- rém categoria C. X HIDROCLOROTIAZIDA: em doses baixas, em pa- cientes com hipertensão crônica, não é danoso ao feto. Porém, deve-se evitar o uso de diurético na gestação. X AMIODARONA: pode causar hipotireoidismo fe- tal, deve-se pensar em risco e benefício do uso. Categoria D. X PROPILTIOURACILA: antitireoidiano de escolha no primeiro trimestre para tratar tireotoxicose. Já nos segundo e terceiro trimestres, o medicamento de escolha é o metimazol. A LEVOTIROXINA é ca- tegoria A, de escolha para tratar hipotireoidismo. X PARACETAMOL: seguro na gestação. X AAS: pode levar a fechamento precoce do ductoarterial no feto quando usado em doses altas no terceiro trimestre. Foi relatada também relação com gastrosquise e atresia de delgado em do- ses altas. Pode provocar hemorragia materna. Categoria B. X IBUPROFENO, CETOPROFENO, NAPROXENO: não são teratogênicos, porém, no terceiro tri- mestre, podem levar a fechamento precoce do ducto arterial. X MORFINA, CODEÍNA, OXICODONA: os bebês podem nascer com síndrome de abstinência e apresentar irritabilidade, depressão respiratória, tremores, convulsões, disfunção gastrointestinal. São categoria B. X ANESTÉSICOS: todos atravessam a barreira pla- centária, os seguros (já estudados) são óxido ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 71 nitroso, etomidato, sevoflurano e tiopental são categoria C. X OMEPRAZOL, PROMETAZINA, RANITIDINA: não há evidências de danos ao feto. A ONDASETRONA e a METOCLOPRAMIDA são drogas categoria B. X METFORMINA: categoria B, sem resultados ne- gativos em fetos. X ESPIRAMICINA: categoria C. X ALBENDAZOL, MEBENDAZOL, PAMOATO DE PIRANTEL: categoria C. PRAZIQUANTEL, PIPE- RAZINA (categoria B). X DIAZEPAM, CLONAZEPAM, MIDAZOLAM: cate- goria D, podem causar alterações faciais, fenda labiopalatinas e, se usadas em altas doses no ter- ceiro trimestre, podem causar hipotonia, letargia e síndrome de abstinência (tremores, irritabilida- de, hipertonicidade, diarreia, sucção vigorosa). X SERTRALINA, FLUOXETINA, AMITRIPTILINA, IMIPRAMINA: categoria C. X LÍTIO: pode causar malformações cardíacas, polidrâmnio, espinha bífida, cianose, hipotonia, bradicardia fetal, convulsões. Categoria D. X AZATIOPRINA: imunomodulador que pode causar CIUR, pancitopenia, porém não causa malforma- ções. Categoria D. A CICLOSPORINA é categoria C. Os CORTICOIDES são categoria B. X RIFAMPICINA, ISONIAZIDA, ETAMBUTOL: dro- gas não teratogênicas para tratar TB. X RADIAÇÃO IONIZANTE: a depender da dose, período gestacional e resposta do embrião ou feto, pode causar abortamento, microcefalia, fenda palatina, catarata, malformações de ossos e genitais, CIUR, alterações cognitivas e funcio- nais do SNC. Algumas medicações da categoria X, para você não esquecer: varfarina, isotretinoína, ácido valproico, antagonistas do ácido fólico (metotrexato, pirimeta- mina ou trimetoprima), lítio, ouro, dietilestilbestrol, talidomida, vacinas de vírus vivos (inclusive vírus atenuados), antineoplásicos. Confira a questão 9. DIA A DIA MÉDICO Lembre-se: ácido valproico, hipoglicemiantes orais, IECA e metotrexato são fármacos que devem ser substituídos assim que se planeje ou se constate gestação. IECAS (captopril, enalapril), assim como os BRA (losartana e valsartana), podem causar hipotensão e hipoperfusão fetal, oligodrâmnio, hipoplasia pulmonar, CIUR, altera- ções cardíacas e do SNC. Devem ser substituídos pela metildopa na dose mínima para efeito de 750 mg, três tomadas ao dia de 250 mg. A maioria dos medicamentos utilizados para tratamento de asma NÃO são teratogênicos. 3. LEGISLAÇÃO E GESTAÇÃO A gestante tem alguns direitos que devem ser res- peitados, como prioridade em atendimento médico, em instituições públicas e privadas e assentos preferenciais em transportes coletivos. Tem tam- bém direito a atestado médico para mudança de função, caso a atual seja prejudicial ao binômio materno-fetal. Nenhum hospital ou maternidade pode deixar de realizar parto, e é direito a presença de um acom- panhante na sala de parto. Existe estabilidade empregatícia do período em que ela descobrir a gravidez até o quinto mês após o parto. A licença-maternidade dura 120 dias ou 180 dias, caso ampliada, e a qualquer momento entre 36 semanas (28 dias antes da DPP) até o dia do parto. Nos abortos espontâneos ou previstos em lei, tem direito a até duas semanas de atestado. Ao retornar ao trabalho, a lactante se beneficia do artigo 396 da CLT, que garante dois intervalos de meia hora para o aleitamento materno até que o bebê complete 6 meses. Em casos de adoção, os pais podem solicitar a licença-maternidade e o salário-maternidade. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 72 DIA A DIA MÉDICO A gestante tem direito à declaração de comparecimento, como qualquer outro paciente. Além disso, há possibili- dade de ser dispensada durante o horário de serviço para as consultas médicas e para realização de exames do pré-natal. Caso esteja amamentando, pode pausar seu trabalho e amamentar seu filho, até o 6º mês de vida, por período de 30 minutos. REFERÊNCIAS 1. Zugaib M, Francisco RPV. Zugaib obstetrícia. 4. ed. Barueri: Manole; 2020. 2. Montenegro CAB, Rezende Filho J. Rezende. Obstetrícia Funda- mental. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011. 3. Peixoto S. Manual de assistência pré-natal. 2. ed. São Paulo: FEBRASGO, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia: 2014. 4. Ministério da Saúde (BR). Atenção ao pré-natal de baixo risco (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n° 32). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2012. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 73 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (FUNDAÇÃO DE BENEFICÊNCIA HOSPITAL DE CIRURGIA) Segundo o Caderno de Atenção Básica nº 32 do Ministério da Saúde, na atenção ao pré-natal de baixo risco, é CORRETO afirmar: ⮦ Solicitar teste oral de tolerância à glicose entre 22 a 24 semanas de gestação. ⮧ As consultas pré-natais devem ter intervalo de 30 dias até 28 semanas de gestação. ⮨ A glicemia de jejum não precisa ser solicitada na primeira consulta pré-natal. ⮩ A gestante receberá alta do pré-natal de baixo risco ao chegar no termo. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. Entre 24 e 28 semanas! Alternativa B: CORRETA. Após as 28 semanas, encurta- mos o intervalo entre as consultas conforme o parto se aproxima, sendo a cada 15 dias até 36 semanas e semanais a partir de então. Alternativa C: INCORRETA. Precisa ser solicitada na primeira consulta e no terceiro trimestre! Alternativa D: INCORRETA. A gestante não é liberada do pré-natal até que o nascimento aconteça e inclusive, ela terá que fazer consulta de puerpério. Questão 2 (SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO DE VOLTA REDON- DA) A suplementação com ácido fólico no período periconcepcional: ⮦ Reduz em cerca de 20% o risco de defeitos do tubo neural (DTN). ⮧ Está associada à redução de malformações cardíacas. ⮨ Diminui a incidência de fenda palatina em até 70% dos recém-nascidos. ⮩ Reduz o risco de anencefalia. dificuldade: Resolução: O ácido fólico é uma vitamina do complexo B fundamental para a síntese de ácidos nucleicos, sendo muito importante para o desenvol- vimento normal de células nervosas. Dessa forma, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Minis- tério da Saúde do Brasil (MS) recomendam a dose de 400 µg (0,4 mg), diariamente, por pelo menos 30 dias antes da concepção até o primeiro trimestre de gestação para prevenir os defeitos do tubo neural, como espinha bífida, encefalocele e anencefalia. Há evidências suficientes de que a suplementação de ácido fólico no início da gestação reduz em até 75% o risco de anomalias relacionadas ao defeito de fe- chamento do tubo neural. ✔ resposta: ⮩ Questão 3 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UEL) Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a dose diária de ácido fó- lico, pré-concepcional, preconizada em mulher com antecedente de feto com defeito do tubo neural. ⮦ 7,0 mg ⮧ 4,0 mg ⮨ 2,0 mg ⮩ 0,4 mg ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 74 dificuldade: Resolução: Atenção para não fazer confusão! A dosagem profilática habitual é de 0,4 mg, porém, em paciente com antecedente de defeito de fechamento do tubo neural, a profilaxia é com dose 10 vezes maior do que a habitual, sendo então 4,0 mg! Além da his- tória pessoal aquelas com história familiar para DTN ou paciente usuárias de anticonvulsivantes, usuárias de insulina, também farão dose máxima. ✔ resposta:⮧ Questão 4 (HOSPITAL SANTA TERESA) ML, 18 anos, primeira gesta- ção, ao procurar serviço de atendimento primário é orientada para tomar ácido fólico. Ela afirma que consome, regularmente, vitaminas na forma de su- plemento. Qual vitamina abaixo não pode ser dada em grandes quantidades por ser teratogênica, por- tanto, devendo ser evitada em doses altas? ⮦ Vitamina A. ⮧ Vitamina B12. ⮨ Vitamina C. ⮩ Vitamina D. dificuldade: Resolução: A vitamina A é um composto li- possolúvel que participa de uma série de funções biológicas, sendo essencial à preservação e ao fun- cionamento normal dos tecidos, assim como ao crescimento e desenvolvimento. A ação teratogêni- ca dessa vitamina já vem sendo demonstrada em várias espécies de animais e também há evidências desse efeito durante as primeiras semanas de ges- tação em humanos quando em excesso. Elevadas concentrações de certos metabólitos do ácido reti- noico sobre o funcionamento dos genes em períodos críticos da organogênese e da embriogênese seriam os responsáveis pela ação teratogênica atribuída à vitamina A. O tipo do defeito, no entanto, depende da dose de vitamina A e do estágio gestacional em que a vitamina A é administrada. ✔ resposta: ⮦ Questão 5 (INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES DO ESTADO DE MINAS GERAIS) Ao examinar o cartão pré-natal de uma pa- ciente de risco habitual, já próxima à data do parto, qual dos elementos abaixo não é indicativo de um acompanhamento gestacional adequado? ⮦ Registro do grupo sanguíneo e fator Rh. ⮧ Resultado do teste oral de tolerância à glicose na 13ª semana de gestação. ⮨ Registro de urocultura negativa após tratamento de episódio de infecção do trato urinário. ⮩ Anotação das alterações de medida do fundo uterino. dificuldade: Resolução: O TOTG é adequadamente solicita- do entre a 24 e 28 semanas de gestação, no período mais diabetogênico da gestação. As demais estão corretas pois o registro da grupo sanguíneo e do fator Rh é fundamental para que sejam feitas medidas de profilaxia de aloimuniza- ção nas mães Rh negativas. Após tratamento de infecção urinΩária é preciso realizar o controle de cura sempre! A mensuração e anotação do fundo uterino será feita em todas as consultas a partir do momento em que o útero deixar de ser intrapélvico e tornar-se palpável. ✔ resposta: ⮧ Questão 6 (HOSPITAL INFANTIL SABARÁ) Uma paciente de 37 anos de idade estava em sua terceira gestação, após duas cesarianas anteriores por apresentação pél- vica, com 39 semanas, quando foi internada para a realização de cesariana fora de trabalho de parto e com bolsa íntegra. Negava antecedentes mórbidos nas gestações anteriores e na atual. Ao analisar os exames da gestante, a enfermeira do centro de parto notou cultura positiva para Streptococcus agalactie em swab vaginal. Preocupada, ela ligou para o médico, orientando‐o a prescrever ampici- lina. Com base nesse caso hipotético, assinale a alternativa correta. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Cap. 2 75 ⮦ A enfermeira tem razão sobre a indicação de antibioticoprofilaxia para infecção neonatal por estreptococo e sobre a medicação, já que há cultura positiva. ⮧ A enfermeira tem razão sobre a indicação de antibioticoprofilaxia para infecção neonatal por estreptococo, mas não sobre a medicação, que deveria ser penicilina cristalina. ⮨ A enfermeira tem razão sobre a indicação de antibioticoprofilaxia para infecção neonatal por estreptococo, mas pode estar errada sobre a me- dicação, uma vez que não avaliou o antibiograma. ⮩ A enfermeira está equivocada quanto à indicação de antibioticoprofilaxia para infecção neonatal por estreptococo, já que se trata de cesariana eletiva. dificuldade: Resolução: A profilaxia para estreptococo visa proteger o RN durante sua passagem pelo canal de parto colonizado, mas em uma cesárea eletiva, fora de trabalho de parto, com bolsa íntegra, não há este contato e está dispensada a profilaxia mesmo se houver swab positivo. ✔ resposta: ⮩ Questão 7 (COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS) Adriana, 29 anos, G2 A0 P1, IG= 17s, vem para con- sulta de pré-natal na UBS, trazendo seu cartão de vacina, onde se observam três doses de vacina anti- tetânica aplicadas na gestação anterior há sete anos. Em relação à profilaxia do tétano neonatal, deve-se: ⮦ Reiniciar o esquema vacinal com três doses, de- vido ao tempo desde a última vacina. ⮧ Orientar que a mesma está imunizada, não sen- do necessária dose de reforço. ⮨ Aplicar reforço após o parto, a fim de proteger a próxima gestação. ⮩ Orientar a necessidade de dose de dTpa a partir da 20ª semana de gestação, o mais precoce- mente possível. dificuldade: Resolução: Não caia na pegadinha! A vacina- ção para dTPa da gestante não funciona como para o restante da população (aquelas regrinhas de último reforço há 5 anos etc.) TODA gestação implica va- cinação dTPa entre 20 e 28 semanas, independen- temente do status vacinal, devido à necessidade de proteção contra coqueluche. ✔ resposta: ⮩ Questão 8 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC) Assinale a alternativa que contém vacinas seguras e indicadas rotineira- mente durante a gestação. ⮦ Difteria e HPV ⮧ Sarampo e gripe ⮨ Hepatite B e varicela ⮩ Febre amarela e tétano ⮪ Influenza e coqueluche dificuldade: Y Dica do autor: Gestante não deve tomar ne- nhuma vacina que contenha patógeno vivo atenuado!!! Alternativa A: INCORRETA. A vacina de HPV é relativa- mente recente e ainda não há estudos comprovando sua segurança durante a gestação. Alternativa B: INCORRETA. A tríplice viral contém vírus vivos atenuados! Alternativa C: INCORRETA. Vacina para varicela con- tém vírus vivos atenuados! Alternativa D: INCORRETA. A vacina de febre amarela não é indicada rotineiramente, somente em casos de exceção em que o risco-benefício seja favorável. Alternativa E: CORRETA. As vacinas indicadas na ges- tação são hepatite B (caso não tenha três doses), influenza e dTPa (muito mais pelo componente Per- tussis que pelos demais). Questão 9 (HOSPITAL SÃO DOMINGOS) Em relação à terapêutica me- dicamentosa na gestação, qual dentre as abaixo ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL Capítulo 2 76 contém alternativa em que todas as drogas são contraindicadas (classe X ou D): ⮦ Omeprazol, dipirona e metotrexato. ⮧ Talidomida, Metotrexato e Carbonato de Lítio. ⮨ Talidomida, Metotrexato e Ondansentrona. ⮩ Talidomida, Sinvastatina e Ondansentrona. dificuldade: Resolução: Utilizamos com certa frequência ondansetrona durante a gestação (categoria B) e omeprazol pode ser utilizado com moderação. Po- rém, talidomida causa focomelia, o metotrexato é utilizado para eliminar gestação ectópica e os filhos de usuárias de lítio na gestação tem entre 4% e 12% de risco de anomalias congênitas. ✔ resposta: ⮧ Questão 10 (HOSPITAL SAN JULIAN) Em relação às avaliações eco- gráficas na gestação, é correto afirmar: ⮦ [A] Recomenda-se como rotina uma ecografia obstétrica mensal mesmo para gestantes de baixo risco. ⮧ [B] É possível realizar sexagem fetal ecográfica com segurança entre 9 e 12 semanas de ges- tação. ⮨ [C] A ecografia obstétrica permite o diagnóstico de todas as malformações fetais. ⮩ [D] A ultrassonografia Doppler não tem boa sen- sibilidade no diagnóstico de quadros de má per- fusão placentária. ⮪ [E] A ecografia fetal entre 11 e 14 semanas tem como principal objetivo o rastreamento de aneu- ploidias fetais. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. Em gestações de baixo risco, solicitamos um US de 1º trimestre, morfológi- cos de 1º (entre 11 e 14 semanas) e 2º (20 - 24 se- manas) trimestres, e US de 3º trimestre. Nem todos os serviços usam o mesmo protocolo, o Ministério da Saúde por exemplo, recomenda 1 por trimestre, quando indicado. Alternativa B: INCORRETA. Nessa idade gestacional, o aspecto da genitália ao ultrassom ainda não en- contra-se bem definido. Só após a 16a semana, a genitália externa encontra-se diferenciada. Alternativa C: INCORRETA.Ela permite a visualização de até 70% das malformações fetais. Alternativa D: INCORRETA. Tem excelente sensibilida- de, sendo a inclusive a suspeita de insufiência pla- centária, uma indicação de realização do Doppler. Alternativa E: CORRETA. Através de marcadores ul- trassonográficos como a translucência nucal, o osso nasal e o ducto venoso. Fixe seus conhecimentos! 77 FIXE SEU CONHECIMENTO COM RESUMOS Use esse espaço para fazer resumos e fixar seu conhecimento! ___________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________________________________ Fixe seus conhecimentos! 78 FIXE SEU CONHECIMENTO COM FLUXOGRAMAS Use esse espaço para construir fluxogramas e fixar seu conhecimento! FIXE SEU CONHECIMENTO COM MAPAS MENTAIS Use esse espaço para construir mapas mentais e fixar seu conhecimento!
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