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Poeticas do Design Contemporaneo- A REINVENÇÃO DO OBJETO

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POÉTICAS DO DESIGN CONTEMPORÂNEO: A REINVENÇÃO DO 
OBJETO1 
 
Mônica Moura 
monicamoura.design@gmail.com 
UNESP | FAAC| Depto DESIGN 
Resumo 
O presente artigo visa discutir o design contemporâneo analisando as relações, aproximações 
e fusões existentes entre o design e a arte. Para isso, toma como referência os estudos a 
respeito do papel do objeto e as pesquisas desenvolvidas a respeito da interdisciplinaridade e 
da transdisciplinaridade. Nessa investigação traz questões resultantes da observação e análise 
de uma seleção de objetos criados e produzidos perante o rompimento de fronteiras entre 
design e arte e que apresentam as características da contemporaneidade, revelando as 
reinvenções tanto dos objetos como as relações do homem em seus modos e estilos de vida. 
Palavras-chave: 
Design Contemporâneo; poética; objeto; reinvenção; transdisciplinaridade. 
 
Abstract 
This paper discusses contemporary design by analyzing the relationships, approaches and 
mergers between art and design. To do so, takes as reference the studies regarding the role of 
the object and the research about interdisciplinarity and transdisciplinarity. In this investigation 
raises issues arising from the observation and analysis of a selection of objects created and 
produced before the breaking of boundaries between art and design and the features of the 
contemporary world, revealing the reinvention of both objects as the relations of man in their 
moods and styles of life. 
Keywords: 
Contemporary Design; poetic; object; reinvention; transdisciplinarity. 
 
 
Introdução 
 
Vivemos em um momento repleto de mudanças que implicam diretamente nas 
manifestações de sentidos e de interpretações sendo estas influenciadas e 
geradas pelo desfacelamento de fronteiras entre áreas distintas, corporificadas 
e mediadas pela busca e pela atuação interdisciplinar perante as possibilidades 
transdisciplinares. Esses fatos implicam na mudança dos modos 
contemporâneos de pensar, produzir e de agir. Porém, ainda vivemos sob o 
jugo e a herança herdada do século XIX com relação a divisão existente entre 
as ciências, seus campos e suas áreas distintas. Atuamos em departamentos e 
áreas separadas nas ações profissionais e cotidianas, mesmo quando 
 
1
 Artigo publicado nos Anais do Seminário de Cultura Visual da Universidade Federal de Goiânia. 
 Moura, Mônica. POÉTICAS DO DESIGN CONTEMPORÂNEO: A REINVENÇÃO DO OBJETO. III Seminário Nacional de Pesquisa em Cultura 
Visual, 2010, Goiânia. Anais do III Seminário Nacional de Pesquisa em Cultura Visual. Goiânia: Editora da UFG, 2010. 
mailto:monicamoura.design@gmail.com
admiramos e acreditamos no discurso transdisciplinar, seja ele denominado 
também como transversal, hibrido ou sincrético. 
 
Esses são alguns dos motivos que nos movem a colocar em discussão um 
tema delicado e controverso, tal qual é a aproximação e, porque não dizer, a 
fusão do design e da arte na contemporaneidade. Os discursos corporativistas 
insistem em manter essas áreas separadas, mesmo quando as produções 
atuais nos provam que a delimitação dessas áreas não mais existe, numa 
atuação e visão típica da contemporaneidade. 
 
O Design na Contemporaneidade 
 
Como sabemos, o design é um campo no qual sempre foram revelados os 
hábitos e estilos de vida do ser humano, bem como a produção estética em um 
processo entrecruzado com o tempo e que é proclamado por meio dos objetos, 
espaços, sistemas ou estratégias desenvolvidas e produzidas por essa área, 
mediante as diversas abordagens históricas. Refletir sobre o design implica 
especialmente no pensar sobre a contemporaneidade e nos reflexos e 
movimentos que ocorrem nos modos de criação, produção e na vida do homem 
que são explicitados no design contemporâneo. 
 
É importante ressaltar que a abordagem do design contemporâneo não é 
fechada e nem conclusiva, uma vez que viver ao mesmo tempo em que essas 
expressões e produções são construídas e reveladas, exige a incorporação da 
atitude da flexibilidade tanto no estudo e na pesquisa quanto na observação e 
análise. Essas devem ser sempre pautadas e abertas às novas dinâmicas e 
revelações. 
 
O momento no qual se insere o design contemporâneo é o presente, o 
momento atual no qual vivemos, mas onde também deve ser incluído o 
passado recente e as relações históricas e sociais, visando uma melhor 
abordagem de análise, comparação e interpretação. 
 
O design se faz por meio de expressões, projetos e produtos que 
compreendem uma dinâmica diferenciada e ampla, fato que comprova a cada 
vez mais a sua relação com outras ciências para a leitura mais precisa e 
completa desse campo que, devido a sua complexidade, exige o diálogo e a 
inter-relação com outros campos de conhecimento e com outras linguagens. 
Desse modo, as ciências humanas e sociais, em suas diversas áreas, tais 
como, a história, a sociologia, antropologia, a filosofia, a comunicação e a 
semiótica, entre outras, constituem a amplitude de caminhos para análise do 
design contemporâneo onde as questões transdisciplinares se constituem 
como fundamento para o entendimento dessa área. 
 
O design contemporâneo é marcado e constituído pelo rompimento de 
fronteiras e integração entre as diversas áreas dialógicas a esse campo, tais 
como, a arte, a arquitetura, a engenharia, a moda, a sustentabilidade, a 
ergonomia mais diretamente e, outras que parecem distantes, mas que 
também atuam em conjunto tais como, a medicina, a física e a biotecnologia. 
 
O modo de atuação se faz principalmente por meio da noção de coletivo. Ou 
seja, em duplas, trios ou grupos de criação. São novas formas de organização 
de grupos sem hierarquias que reafirmam o desfacelamento do conceito de 
autoria e confirmam a interdisciplinaridade presente na ação projetual e 
política. Também lida com as questões da diversidade, multiplicidade, 
confronto e visões de mundo diferenciadas, interação entre imaginários e 
culturas, novas construções materiais e simbólicas, multidimensionalidades, 
fragmentações, metamorfose e hibridismo são presentes como elementos 
característicos dos discursos desenvolvidos e construídos no cotidiano e esses 
dialogam com os olhares mais atentos. 
 
Além disso, ocorre a diluição dos segmentos da área do design no sentido de 
um pensar o design como um campo maior e como uma questão mais 
abrangente, incorporando atitudes e desafios políticos e sociais e deixando de 
lado a fragmentação das áreas e subáreas divisórias em busca de um 
pensamento projetual mais amplo e consistente. 
 
Na contemporaneidade o design tem configuração diversa, com inúmeras 
possibilidades de relações e associações. É uma grande rede, um tecido 
entrelaçado e articulado, repleto de signos, significações e semioses 
resultantes do entrelaçamento e articulação de signos que geram linguagens 
diferenciadas. Essa grande rede flexível atua na esfera da informação, 
comunicação e conhecimento, tendo como o foco central o homem, as 
dinâmicas e produções culturais que o envolvem. Um universo plural e aberto. 
Um campo amplo e fértil que retrata e impulsiona os hábitos, estilos de vida, o 
viver e estar no mundo, escrevendo a história do cotidiano. 
 
O Objeto como Signo Vivo do Design 
 
Para falar do design contemporâneo em sua relação de aproximação e fusão 
com a arte vamos enfocar nesse texto o objeto como o resultado da criação, 
expressão e produção, mas também como o elemento eleito para compor o 
conjunto simbólico do ser humano, que nessa relação pode ser também 
denominado de usuário. Elegemos o objeto como uma forma de considerar as 
relações expandidas e as produções realizadas de forma mais ampla do que a 
significação trazida pelas nomenclaturas: produtos, peças ou obras. Afinal, 
produtos carregam o estigma de que são feitos apenas para vender; peças são 
parte de uma linha ou coleção, geralmente destinadas ao mercado de modo a 
atender as variações de gostos e opções do público-alvoe obras carregam em 
si o significado do intocável, aquilo que à primeira vista não pode ser 
questionado, pois foi nomeado no universo dos distintos e eleitos. Por sua vez, 
os objetos são aquém e vão além disso tudo. 
 
Um objeto é uma coisa, é algo que é colocado diante de nós. É aquilo que 
existe fora de nós e que estabelece uma relação de mediação entre o homem e 
a sociedade. Um objeto constrói o ambiente carregando valores porque são 
portadores de signos. Objetos despertam pensamentos, desejos, ações e 
também são reveladores do nosso modo de viver, dos nossos hábitos e de 
nossas atitudes. Objetos servem de mediadores entre situações, atos e 
pessoas. Podem assumir o papel de produtos ou obras, mas vão além disso, 
carregam uma dinâmica que transforma, que gera novos pensamentos e 
relações, suscitam perguntas, despertam e provocam novos e outros olhares, 
novas e outras relações do ser com a coisa em si. 
 
Na relação do objeto com o homem se constituem valores implícitos que levam 
a construir e organizar coleções pessoais e até institucionais devido à 
importância que o objeto exerce em nossa vida cotidiana. 
 
Mas, como podemos na contemporaneidade separar e distinguir os objetos de 
arte e os objetos de design? 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Objetos de Jacqueline Terpins; Timo Sparneva; Marcel Duchamp. 
Ao observarmos as imagens acima somos instigados a refletir sobre o que ou 
sobre quais as características que as separam esses objetos do universo da 
arte e do universo do design. Ou serão esses objetos exemplos típicos de uma 
fusão, da integração dos discursos e das práticas? Serão a revelação de um 
novo modo de olhar e de se relacionar com os objetos, com a cultura e com os 
campos de conhecimento? 
 
Serão esculturas ou vasos? Qual a função principal? Utilitária ou estética? 
Confundem-nos ou possibilitam que, ao observá-las, nos voltemos para nosso 
interior, ao sentir, ao fruir a sua beleza ou a sua estranheza? Um vaso teria o 
papel de propiciar prazer estético? Porque não associar a função à poética? 
 
Será que uma ampola não carrega questões prementes ao design, tal como a 
relação entre a forma e a função, o desenvolvimento industrial, as relações de 
precisão relacionadas a seu uso em laboratório? Um porta garrafas não seria 
outro exemplo de objeto direto do campo do design onde formato, material e 
finalidade devem estar inter-relacionadas para atender as necessidades do 
cotidiano do homem? 
 
Timo Sparneva projetou o vaso escultura (figura 1, item a.) questionando já nos 
anos de 1950 as aproximações do design e da arte. Esse vaso denominado 
Orkidea foi produzido industrialmente pela empresa Litalla, mas é conhecido 
como vaso escultura de Sparneva. Por sua vez, a designer Jacqueline Terpins 
declara a importância de ter desenvolvido seus estudos tanto no campo da arte 
quanto no do design e, além disso, a conviver e aprender com os vidreiros, 
artesãos do vidro. Essa associação de conhecimentos diversos a levaram a 
desenvolver projetos e objetos que carregam em si as questões 
transdisciplinares e também as da relação entre a arte e o design de forma 
 
implícita. Tal como o vaso que observamos acima, é uma escultura, mas 
também é um produto. É um objeto de fruição estética, mas também de 
finalidade prática-utilitária. Nessa fusão, esse objeto, essa criação carrega uma 
poética própria. 
 
A história nos comprova que Marcel Duchamp foi um mestre ao 
recontextualizar objetos do cotidiano, digam-se objetos de design para o campo 
da arte, ao colocá-los nos locais instaurados da arte, os museus. A ampola foi 
denominada por ele como Ar de Paris 50 cc. e assumiu o papel de ready-made 
em 1919. O objeto Ar de Paris e a ação de Duchamp influenciaram muitos 
outros designers, tal como Kenzo ao lançar seu perfume com o mesmo nome e 
inundar a sua Maison francesa com os odores de arroz japonês cozido. Pura 
associação de diferentes culturas e universos distintos integrados em uma 
ação não apenas de criação, mas também de marketing. Outro exemplo de 
Duchamp é o porta garrafas de 1964, outra recontextualização de objeto que 
dialoga e aproxima o design e a arte. 
 
“Arte, deve-se repetir a cantilena, não é uma questão de assunto, mas 
de tratamento formal de um determinado assunto. Ademais, desde que 
Marcel Duchamp realizou o primeiro ready-made, ficou patente que um 
dos aspectos basilares da produção artística era o questionamento de 
suas fronteiras. Vale dizer que muito do que hoje se faz em nome da 
arte é contra as compreensões correntes do que seja arte. Vai daí que 
discutir se design (gráfico) é arte ou não é perder-se em uma falsa 
questão. Discute-se a pertinência de um rótulo e, em contrapartida, 
perde-se de vista a densidade da dimensão estética de um 
determinado produto, uma dimensão que jamais poderá ser reduzida 
às demandas funcionais, sob pena de perder seu interesse no âmbito 
da cultura” (Farias: 1999, 29). 
Instalação do quê? 
 
Instalações são manifestações presentes na arte desde os anos de 1960 e 
muito exploradas na arte contemporânea. Segundo Junqueira (1996) abrangem 
um sem número de experiências diversas na arte onde o espaço é associado a 
outros elementos visando catalizar várias qualidades e condições ali 
manifestadas e integram a experiência do sensível, completando-se com a 
presença e fruição do observador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: Instalações de Arte ou de Design? 
Se observarmos os três exemplos de instalações acima, provavelmente, só 
poderemos indicar se elas pertencem ao campo do design ou ao campo da arte 
se soubermos em qual exposição ou espaço ocorreram. Porém, é importante 
lembrar que locais instaurados para a arte, tais como museus, galerias e 
espaços culturais, na contemporaneidade também abrigam exposições de 
design e de outras manifestações pulsantes do nosso tempo, como a moda. E 
há inúmeros museus especializados em design distribuídos pelo mundo. Então, 
até os locais de arte tornaram-se híbridos e não nos servem como referência 
única para distinguir design e arte, ao contrário, aproximam e fundem esses 
dois campos. 
 
O primeiro exemplo de que vamos tratar e descrever é um espaço coberto por 
uma parede e um piso de tecido que pode ser explorado. Essas paredes de 
tecido contem diversas divisões dispostos como bolsos onde se encontram 
objetos, tais como cartas, fotos, mechas de cabelos, papéis com anotações e 
colagens e documentos. Ao observarmos mais detalhadamente esse espaço 
de tecido percebemos que ele é dobrável e transforma-se em uma sacola, 
possível de ser carregada, transportada. O titulo da instalação é In Situ (no 
lugar) e deriva das experiências mediante catástrofes e situações de risco 
quando devemos abandonar rapidamente nossas casas. Especialistas indicam 
que em situações dessa natureza o mais importante é levar consigo as 
lembranças, recordações e documentos fundamentais, pois são essas três 
questões que nos ajudam a reconstruir a vida, tanto emocionalmente quanto 
nas questões práticas. Fotos, lembranças e outros pertences desse gênero nos 
dão força psicológica e emocional para retomar a vida e seguir em frente. 
 
Outra situação ocorre quando adentramos um espaço escuro com sons e 
ruídos da natureza e no meio do ambiente vemos uma seqüência de imagens 
que nos envolvem, a partir de abstrações e figurações somadas aos sons e 
ruídos, numa relação de conexão com o ambiente e a força da natureza: água, 
folhas, lama, pássaros, peixes. 
 
O último exemplo se dá quando entramos em um estreito túnel escuro, todo 
pintado em preto e só ouvimos sons de água jorrando. Andamos mais um 
pouco nesse ambiente e vemos uma seqüência de jatos de água e os nossos 
sentidos são estimulados tanto pela questão cinestésica quanto sonora e 
visual. 
 
O primeiro exemplo, In Situ é uma proposta desenvolvida pelas designers 
uruguaias Irene Maldini e Fabiana Aragão para a Mostra Internacional de 
Design que teve a curadoria da italiana Paola Antonellie foco temático 
denominado ‘O Ninho Seguro’ que propunha a discussão sobre a segurança e 
a violência nas cidades como metáforas dominantes deste século e também a 
respeito do papel do design na busca pela segurança e proteção a partir de 
olhares diferenciados e diversas culturasr. Foi realizada nas unidades do SESC 
Pinheiros e Santo André, em São Paulo, no ano de 2006. 
 
O segundo exemplo é uma vídeo-instalação das artistas e fotógrafas Gabriela 
Ferrite e Andréa Pesek a partir de uma vivência no Pantanal e foi exposta no 
Museu Histórico do Pantanal, no ano de 2007. 
 
Cabe ressaltar que no terceiro exemplo ao chegar ao final do túnel via-se a real 
intenção: o lançamento de uma nova linha de duchas. O local era a Zona 
Tortona, bairro de Milão onde ocorrem diversos lançamentos de produtos na 
semana da feira do móvel de Milão. Vale lembrar que a feira de Milão é 
considerada atualmente como a Meca do design. 
 
Todos os exemplos carregam características típicas de instalações de arte e 
poderiam integrar as principais bienais de arte contemporâneas. Porém, duas 
delas estão no âmbito do design, seja o design contemporâneo de uma linha 
mais conceitual, como é o caso do objeto para catástrofes, seja o design 
destinado apenas ao cunho comercial e utilitário, como é o caso da ducha. Os 
elementos, as situações, os espaços, o estímulo das sensações, as propostas 
de interação com o observador são comuns tanto nas instalações de design 
quanto na instalação de arte. Portanto, os universos arte e design não apenas 
dialogam, mas se integram na contemporaneidade a ponto de não 
conseguirmos distinguir claramente seus limites e suas fronteiras. Então, 
instalações apresentam reflexos e reflexões sobre o sensível, do ser humano 
para o ser humano, dos objetos e espaços para o ser humano acionando sua 
sensibilidade e interiorização no pensar sobre o mundo e sobre si mesmo. 
 
Poéticas do Cotidiano 
 
No design contemporâneo os objetos são carregados das questões de inter-
relação entre arte e design. Desde o envolvimento e a interação das pessoas 
no universo da experenciação e do sensível até no lidar com a construção de 
discursos, provocar questionamentos, despertar para vivências e 
interpretações pessoais e subjetivas, estimulando a experiência do sensível e 
da fruição estética, constituindo novas poéticas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3: Criações de Matthias Megyeri, Alemanha e Simone Mattar, Brasil. 
 
Objetos de design se aproximam da arte ao trazerem discussões 
contemporâneas sobre questões sociais, políticas e ao refletir e questionar a 
vida do homem nesse momento e nessa sociedade. 
 
Matthias Megyeri, designer alemão, discute a insegurança e a crueldade 
atribuindo novo conceito ao que é considerado normal na nossa sociedade: as 
grades de segurança e os recursos utilizados para a proteção. Dessa forma, 
explora sensações e percepções humanas relacionando o que é 
aparentemente ingênuo, como inocentes figuras de bichinhos (coelhos, 
pingüins), seqüências de pequenas borboletas que lembram flores e o perfil de 
imagens de cidade que lembram o clima natalino: pinheiros, casas com 
chaminé, igrejas, fábrica, e um pássaro que parece ter pousado em um muro 
para observar o silêncio e a singela paisagem. Discute a nossa fragilidade e ao 
mesmo tempo a nossa crueldade com o outro, na busca por nossa proteção e 
segurança. 
 
Megyeri diz que “(...) designers devem oferecer soluções para as necessidades 
e problemas reais contemporâneos (...) uso os produtos como veículo para 
explorar questões sociais relevantes com abordagens críticas.” (Megyeri: 2006, 
p. 6) 
 
Por outro lado, Simone Mattar brinca e explora o efêmero, as sensações, o 
despertar dos sentidos conectando pessoas e objetos. Faz isso criando uma 
luminária de gelatina, denominada Gelúmina. Esse objeto é para ser visto, 
sentido e tocado, degustado, experimentado. Essa designer diz que os objetos 
que cria são “formas de pensamento que podem ser interpretados” (Mattar: 
2006, p.6). 
 
Podemos inferir que tanto a arte quanto o design surgem da interferência e do 
conhecimento humano sobre a matéria que, somada ao universo do sensível e 
da estética, dá forma ao objeto. Na contemporaneidade os objetos não 
atendem mais apenas as questões da função e da utilidade e sim levam a 
fruição, a vivências, o experenciar e experimentar outras questões e relações 
que vão além do objeto em si mesmo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4: Objetos de Manus e dos Irmãos Campana, Brasil. 
 
Vejamos esses objetos: uma xícara alada, um ovo alado e uma série de 
piaçavas sobre uma base acrílica. O ovo sempre foi símbolo do design, pois 
evoca a perfeita relação entre forma e função, embalagem e conteúdo. E a 
maioria das xícaras contem asas, local onde as seguramos, podemos pegar 
mais facilmente. Então, a dupla Manus confere releituras a esses objetos e as 
destacam com o acabamento dourado. São asas que propiciam e falam da 
liberdade de criação e expressão, asas que possibilitam dar liberdade ao 
pensamento. Uma xícara que não é apenas para tomar um café e sim navega 
entre o lúdico e o irreverente destacadas pelo teor do dourado que contrasta 
com a porcelana branca. O objeto de acrílico é na verdade uma fruteira, mas 
não uma fruteira qualquer, não armazena apenas frutas e sim questiona pela 
estranheza do objeto, pela relação tátil do liso e do áspero. Por nos lembrar as 
buchas de limpeza pesada que são feitas para esfregar e contrapõe a 
transparência e certa leveza do acrílico que aparece aí remetendo ao cristal. 
Aquele cristal das fruteiras clássicas. Mas, os seus criadores também a 
remetem para o universo cultural ao denominá-la de Xingú lembrando os 
cocares e as diademas utilizadas por essa tribo, povo da floresta. 
 
Os Campana, entre outros designers brasileiros, foram eleitos nesse universo 
da arte e do design. Eles dizem que subvertem a utilidade dos materiais e a 
função dos objetos abrindo destinos novos para eles. Dessa forma criam 
objetos de experimentação em um mundo inundado pelo discurso da 
criatividade e inovação. Foram os primeiros designers brasileiros a terem peças 
e coleções expostas em museus internacionais e nacionais. 
 
Nesse aspecto tanto o professor, crítico e curador Agnaldo Farias quanto o 
designer e coordenador do Sistema Nacional de Cultura do MinC, João 
Roberto Peixe apontam e discutem muito bem essa relação sobre o design no 
museu, como podemos ver a seguir. 
 
“(...) passados aproximadamente 50 anos em que o Museu de Arte 
Moderna do Rio de Janeiro foi o embrião da ESDI, decidiu-se retomar a 
apresentação regular de exposições de arquitetura e design (...). 
Enxergou-se o museu não como um templo, que com sua iluminação 
sóbria e temperatura controlada possui a atmosfera propícia para a 
adoração dos ídolos, mas como um fórum de debates, vivo, e, 
sobretudo, aberto a todos os interessados no avanço da produção 
cultural. Atenção! A chave aqui é o avanço da produção cultural. 
Retomam-se exposições de design (gráfico) porque é anacrônico 
prosseguir mantendo a oposição entre arte e design. Um produto visual 
despojado como um logotipo, pode ser dotado da mesma força de um 
haikai.(...) Supor que ele tenha importância menor pelo fato, de por 
exemplo, representar uma empresa é um raciocínio tão absconso 
quanto supor que a Sistina não deveria ter a importância que tem por 
haver sido encomendada pela Igreja.” (Farias: 1999, 29). 
 
“Se as portas dos mais importantes museus do mundo, especialmente 
aqueles voltados para a arte moderna, são abertas ao público para 
exposições de design, se incorporam em seus acervos objetos, 
produtos e peças gráficas criadas pelos designers, significa que o 
reconhecimento do design como uma das expressões artísticas deste 
século deverá ocupar um espaço maior no século XXI.” (Peixe, 2000, p. 
37) 
 
 
 
 
 
 
Figura 5: Objetos de Piero Gatti, Cesare Paolini e Franco Teodoro, Itália; Irmãos 
Campana, Brasil; Gerson deOliveira e Luciana Martins, Brasil. 
Na figura acima podemos ver três tipos de cadeira que, apesar da utilidade 
latente, do desenvolvimento projetual e da produção industrial questionam 
valores de concepção, de uso, de relação com o usuário, provocando o 
inusitado e o sensível. Ora pela visualidade onde subvertem e colocam em 
questionamento a forma, a textura, o material, as relações táteis e também as 
relações espaciais. A primeira figura da imagem acima é a poltrona Sacco. 
Criada pelo trio Piero Gatti, Cesare Paolini e Franco Teodoro em 1968 e 
produzida pela Zanotta, na Itália. Essa poltrona não aponta só o despojamento, 
pois se adapta e se integra ao corpo humano, confortando-o em um variado 
número de posições, mas exige do usuário uma tomada de decisão, tanto na 
maneira e forma como quer se sentar quanto no formato que dar a esse objeto 
adaptável, sentando-se ou não. E, perante a possibilidade de dar a forma, 
percebemos como esse objeto dialoga com o universo escultórico. Aliás, essa 
poltrona escultura pode ser utilizada apenas para ver, apreciar a forma, sua 
presença no espaço e sua textura. A cadeira Corallo dos Irmãos Campana, de 
2008, produzida pela empresa italiana Edra questiona o observador-usuário no 
primeiro contato. Fica-se em duvida se é um objeto para sentar ou apenas para 
apreciar, pois a solução formal coloca em dúvida sua resistência, transita do 
leve ao frágil, da transparência a insegurança. Porém é produzida em aço inox, 
portanto resistente. A maneira como os fios de aço são trançados permite a 
segurança e o conforto necessário a sua função principal. Mas as relações 
despertadas são as mais diversas, como a referencia de criação dos designers, 
gaiolas de passarinhos que são abertas pelas grades para possibilitar a 
liberdade, assim como a liberdade é questionada no observador e usuário 
desse objeto. A poltrona Cadê de Gerson de Oliveira e Luciana Martins, 
produzida pela ,OVO nos questiona diretamente pois coloca em duvida a 
própria função, será mesmo um objeto de sentar, nos perguntamos ao observá-
la. Ilude com relação ao que é, pois ora parece uma mesa de apoio e ora um 
módulo para canto de parede. Dúvida e insegurança são questões presentes 
diante desse objeto caso não esteja sendo utilizado para sua função principal. 
O tecido flexível e a estrutura interna somada aos pontos de apoio no ato de 
sentar derrubam a insegurança, remetem ao lúdico, redimensionando o objeto, 
 
reinventando o cotidiano e as relações do homem com os objetos, dessa 
maneira reinventando o próprio homem, tanto no seu papel de ser criativo 
quanto no seu papel de usuário. 
 
 
“Os melhores objetos contemporâneos são aqueles que expressam a 
história e a contemporaneidade; esbanjam o humor da cultura material, 
a linguagem global e carregam a memória do passado e a inteligência 
do futuro; aqueles que, como os grandes filmes, nos levam a lugares 
onde nunca fomos. E, claro, aqueles que nos dizem por que estão 
sendo feitos e revelam os processos com os quais foram feitos, 
nesses tempos de tantas possibilidades tecnológicas e culturais.” 
(Antonelli: 1999, p. 34) 
 
Portanto, objetos contemporâneos retratam e revelam ambientes, modos e 
estilos de vida e são expressões do criar, fazer e produzir. Ajudam a 
interpretar o homem, o tempo e a cultura. Remetem ao universo de valorização 
e conferem outra esfera, outro lugar e outro valor aos objetos de design e aos 
campos de conhecimento e de produção tanto do design quanto da arte. 
 
Outros discursos estéticos são construídos e incorporados no cotidiano, não 
apenas no âmbito material, mas também no âmbito dos sentidos. Objetos 
contemporâneos podem também ser lidos como poesias e constroem ricas 
poéticas no cotidiano e do cotidiano. 
 
 
Considerações Finais 
 
O design contemporâneo estabelece a aproximação e a fusão entre arte e 
design ao romper com limites e fronteiras, ao atuar com fusões e a partir da 
somatória advinda de diferentes áreas, propondo novas visões, 
comportamentos e aguçando outros saberes. É plural, atua no âmbito da 
transformação, conceituação, reflexão, criação e produção. 
 
Como dizia Flüsser (1999) o design apresenta a reunião de ótimas idéias 
resultantes do cruzamento fertilizado e da complementação dos pensamentos 
da arte e da ciência. Também Munari (1993) há muito tempo já nos alertava 
que um objeto projetado por um designer carrega em si a presença de um 
artista que favorece a transformação da habitual relação com o mundo da 
estética. 
 
Cabe a nós, observar e olhar atentamente para essas manifestações de 
sentidos, interpretando a reinvenção desses objetos e, desprovidos de 
preconceitos e conscientes da ação transdisciplinar perceber as aproximações, 
os diálogos e as fusões do design e da arte a partir das construções das 
poéticas como reflexos dinâmicos da contemporaneidade. 
 
 
 
 
 
 
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MINI-CURRÍCULO 
Mônica Moura é bacharel em Artes Visuais e licenciada em Arte-Educação pela 
Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Desenvolveu seus estudos de 
mestrado sobre a visualidade perante as novas mídias com dissertação 
denominada ‘O Ponto e a Linha na Leitura da Imagem’ defendida no Programa 
de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Seu doutorado 
envolve as questões sobre ‘O Design de Hipermídia’ tendo defendido sua tese 
na mesma instituição do seu mestrado. Atualmente, desenvolve estudos e 
pesquisa de Pós-Doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Design 
da PUC-Rio discutindo a temática relacionada a transdisciplinaridade e aos 
coletivos de design na cidade de São Paulo.

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