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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA MONIKE DE CARVALHO E SILVA MAPEAMENTO DE AÇÕES E PRÁTICAS ANTIRRACISTAS EM BIBLIOTECAS ESCOLARES DO RIO GRANDE DO NORTE NATAL-RN 2022 MONIKE DE CARVALHO E SILVA MAPEAMENTO DE AÇÕES E PRÁTICAS ANTIRRACISTAS EM BIBLIOTECAS ESCOLARES DO RIO GRANDE DO NORTE. Monografia apresentada ao Departamento de Ciência da Informação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia. Orientadora: Prof. Me. Maria da Conceição Davi NATAL-RN 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Silva, Monike de Carvalho e. Mapeamento de ações e práticas antirracistas em bibliotecas escolares do Rio Grande do Norte / Monike de Carvalho e Silva. - 2022. 57f.: il. Monografia (Graduação em Biblioteconomia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Ciências da Informação. Natal, RN, 2022. Orientador: Prof. Me. Maria da Conceição Davi. 1. Biblioteca escolar - Monografia. 2. Relações étnico-raciais - Monografia. 3. Lei 10.639/03 - Monografia. 4. Lei 11.645/08 - Monografia. I. Davi, Maria da Conceição. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 027.8 Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 MAPEAMENTO DE AÇÕES E PRÁTICAS ANTIRRACISTAS EM BIBLIOTECAS ESCOLARES DO RIO GRANDE DO NORTE. Monografia apresentada ao Departamento de Ciência da Informação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia. Orientadora: Prof. Me. Maria da Conceição Davi MONOGRAFIA APROVADA EM ____/____/2022. BANCA EXAMINADORA ____________________________________________ Prof. Me. Maria da Conceição Davi Orientadora _____________________________________________ Prof. Me. Arthur Ferreira Campos (UFRN) _____________________________________________ Prof. Me. Wagner Oliveira de Medeiros (UFRN) AGRADECIMENTOS Quero agradecer primeiramente à minha família, em especial à minha mãe, Maria, que me apoia em todos os meus sonhos e acredita em mim, mesmo quando nem eu acreditei. Agradeço à minha irmã, Mona, que me apoiou durante toda minha jornada de graduação com seus conselhos e que sempre torce por mim. Agradeço aos meus gatinhos que amo tanto, quarta, berlin e bobô, e aos que já se foram, açúcar e bambina. Agradeço aos amigos que fiz no curso, o companheirismo e as risadas foram essenciais para chegarmos até aqui, jamais os esquecerei. A todos os professores do curso de biblioteconomia da UFRN agradeço pela dedicação e amor com que nos ensinam. Agradeço à minha orientadora Maria da Conceição Davi, a nossa querida Nina, obrigada pela paciência, dedicação e pela confiança em mim. RESUMO A biblioteca escolar é elemento importante da composição das instituições de ensino, sua missão é promover serviços e materiais que gerem aprendizado aos alunos e dar apoio aos planos pedagógicos dos professores. A biblioteca escolar deve estar inserida no projeto político-pedagógico da escola para que as discussões sobre as relações étnico-raciais possam ocorrer dentro da biblioteca combatendo o racismo e disseminando conhecimento sobre os grupos étnicos do Brasil. Assim, o objetivo geral da pesquisa é identificar as práticas pedagógicas de combate ao racismo idealizadas ou implementadas por bibliotecários nas bibliotecas escolares de Natal-RN, e os objetivos específicos são: a) Discorrer sobre as relações entre a biblioteca escolar e a educação antirracista na educação de crianças e adolescentes; b) Verificar a integração das Leis 10.639/03 e 11.645/08 com as atividades das bibliotecas escolares do RN; e c) Identificar e discutir as ações culturais e práticas antirracistas que são aplicadas dentro das bibliotecas escolares. Apresenta contexto histórico da construção do racismo e as nuances que existem no Brasil, bem como o desenvolvimento e as lutas dos movimentos negros, grupos militantes que exigem reparações aos negros brasileiros, pelo histórico da escravidão e pela herança deixada no pós-abolição, que defendem a educação antirracista dentro das instituições como meio de combater e erradicar o racismo estrutural que existe no Brasil. Para determinar as ações e práticas antirracistas em bibliotecas escolares em Natal-RN, duas escolas de ensino fundamental, uma particular e uma municipal, foram selecionadas. As responsáveis pelas respectivas bibliotecas aceitaram ser entrevistadas e suas respostas foram analisadas a partir das Leis, 10.639/03 e 11.645/08, que determinam o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena no currículo nacional, e da Lei 12.244/10 que dispõe sobre a universalização das bibliotecas escolares. Por fim, concluímos que a pesquisa contribui para a disseminação do tema das relações étnico-raciais no contexto das bibliotecas escolares e da importância do profissional bibliotecário. Palavras- chave: Biblioteca escolar; relações étnico-raciais; Lei 10.639/03; Lei 11.645/08; racismo. ABSTRACT The school library is an important element in the composition of educational institutions, its mission is to promote services and materials that generate learning for students and support the pedagogical plans of teachers. The school library must be part of the school's political-pedagogical project so that discussions on ethnic-racial relations can take place within the library, fighting racism and disseminating knowledge about the ethnic groups in Brazil. Thus, the general objective of the research is to identify the pedagogical practices to combat racism idealized or implemented by librarians in school libraries in Natal-RN, and the specific objectives are: a) To discuss the relationship between the school library and anti-racist education in education of children and adolescents; b) Verify the integration of Laws 10.639/03 and 11.645/08 with the activities of the RN school libraries; and c) Identify and discuss the cultural actions and anti-racist practices that are applied within school libraries. It presents the historical context of the creation of racism and the nuances that exist in Brazil, as well as the development and struggles of black movements, militant groups that demand reparations to Brazilian blacks, for the history of slavery and for the legacy left in the post-abolition, which defend anti-racist education within institutions as a means of combating and eradicating the structural racism that exists in Brazil. To determine the anti-racist actions and practices in school libraries in Natal-RN, two elementary schools in the initial and final years, one private and one municipal, were selected. Those responsible for the respective libraries agreed to be interviewed and their answers were analyzed based on the Laws, 10.639/03 and 11.645/08, which determine the teaching of Afro-Brazilian and Indigenous History and Culture in the national curriculum, and the Law 12.244/10 that provides for the universalization of school libraries. Finally, we conclude that the research contributes to the dissemination of the theme of ethnic-racial relations in the context of school libraries and the importance of the professional librarian. Keywords: school library; ethnic-racial relations; Law 10.639/03; Law 11.645/08; racism. LISTA DE ILUSTRAÇÕES E QUADROS Quadro 1 - Grau de escolaridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Quadro 2 - Quantitativo de recursos humanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Quadro 3 - Abordagem étnico-racial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Quadro 4 - Implementação da 10.639/2003 e 11.645/2008. . . . . . . . . . .. . . 43 Quadro 5 - Situações de racismo na escola. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Quadro 6 - Ensino das relações étnico- raciais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Quadro 7 - Atividades, projetos, eventos e práticas antirracista . . . . . . . . . . 47 Quadro 8 - Datas importantes no contexto das relações étnico raciais. . . . . . 48 Quadro 9 - Resposta dos estudantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Quadro 10 - Bibliografia antirracista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS RN Rio Grande do Norte BE Biblioteca Escolar IFLA International Federation of Library Associations and Institutions LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MNU Movimento Negro Unificado (MNU) MUCDR Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial CNE Conselho Nacional de Educação CECAN Centro de Cultura e Arte Negra ABREVIDA Associação Afro-Brasileira de Educação Cultural e Preservação da Vida NEN Núcleo de Estudos do Negro UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro UNB Universidade de Brasília MEC Ministério da Educação ONU Organização das Nações Unidas UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura SEPPIR Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial GEMAA Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa SME Secretaria Municipal de Educação UERN Universidade Estadual do Rio Grande do Norte EJA Ensino de Jovens e Adultos JENAT Jornada de Educação das Unidades de Ensino de Natal SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.1 OBJETIVO GERAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.3 JUSTIFICATIVA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2 METODOLOGIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.2 CAMPO DE PESQUISA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 3 CONTEXTUALIZANDO O RACISMO NO BRASIL. . . . . . . . . . . 18 4 EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 4.1 LEI Nº 10.639/03 E LEI Nº 11.645/08 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 5 A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES ÉTINCO-RACIAIS NA BIBLIOTECA ESCOLAR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 6 AÇÕES CULTURAIS E PRÁTICAS ANTIRRACISTAS NAS BIBLIOTECAS ESCOLARES DO RIO GRANDE DO NORTE. . 40 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 APÊNDICE A - PERGUNTAS DA ENTREVISTA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 11 1 INTRODUÇÃO A desigualdade racial no Brasil por muito tempo foi, e ainda é hoje por uma parcela da população, posta em dúvida com argumentos de que a única desigualdade que seria observada no país seria de classe e não de raça, pois no brasil não existiria racismo. Essa ideia é estabelecida como verdade no imaginário de muitos brasileiros, pois é o que se costumava aprender nas aulas e nos livros de história, quando se estudava sobre escravidão africana, abolição e imigrantes europeus no brasil, até pelo menos início do século XXI. No Brasil, as bases teóricas da educação são direcionadas para a epistemologia colonial, que reforça a ideia de monocultura, ou seja, que os únicos povos com cultura milenar, com produção intelectual e científica, invenções tecnológicas, protagonismo histórico, e religião e tradições adequadas, eram os europeus e seus descendentes na América, o que se mostra como uma educação violenta e desumana em um país intercultural como o Brasil. Durante muitas décadas o racismo estrutural e institucionalizado marginaliza os corpos negros e indígenas no Brasil, a cidadania é usurpada e o genocídio e epistemicídio ocorrem sob o olhar da democracia, das periferias das cidades às Terras Indígenas desprotegidas no interior do país. O racismo pode se manifestar de diversas formas, uma delas é o apagamento das culturas, uma arma poderosa usada no período colonial e também pós-colonial para destruir nações. Para Sueli Carneiro (2005, p. 96), o epistemicídio é, para além da anulação e desqualificação do conhecimento dos povos subjugados, um processo persistente de produção da indigência cultural: pela negação ao acesso a educação, sobretudo de qualidade; pela produção da inferiorização intelectual; pelos diferentes mecanismos de deslegitimação do negro como portador e produtor de conhecimento e de rebaixamento da capacidade cognitiva pela carência material e/ou pelo comprometimento da autoestima pelos processos de discriminação correntes no processo educativo. Isto porque não é possível desqualificar as formas de conhecimento dos povos dominados sem desqualificá-los também, individual e coletivamente, como sujeitos cognoscentes. E, ao fazê-lo, destitui-lhe a razão, a condição para alcançar o conhecimento “legítimo” ou legitimado. Por isso o epistemicídio fere de morte a racionalidade do subjugado ou a sequestra, mutila a capacidade de aprender etc. Foi através das lutas, protestos e demandas dos movimentos negros, durante todo o século XX, que medidas puderam ser tomadas para fomentar um sistema educacional que realmente propicie uma educação antirracista e que possa trabalhar as relações étnico-raciais e representar as etnias não-brancas e não-ocidentais existentes no brasil de forma digna. Dentro 12 da instituição escolar, a biblioteca tem seu protagonismo social no ensino-aprendizagem em conjunto com os professores, bem como na disseminação do conhecimento, incentivo à leitura e contribuição positiva para as relações étnico-raciais, quando está devidamente apoiada e inserida no projeto político-pedagógico da instituição. De acordo com o Manifesto da IFLA (International Federation of Library Association and Institutions) para a Biblioteca Escolar (BE) (1999, p. 1), A biblioteca escolar promove serviços de apoio à aprendizagem e livros aos membros da comunidade escolar, oferecendo-lhes a possibilidade de se tornarem pensadores críticos e efetivos usuários da informação, em todos os formatos e meios. As bibliotecas escolares ligam-se às mais extensas redes de bibliotecas e de informação, em observância aos princípios do Manifesto UNESCO para Biblioteca Pública. A Lei 12.244/2010 sobre a universalização das bibliotecas, determina a obrigatoriedade da biblioteca escolar em todas as escolas do Brasil, e que seja administrada por um profissional bibliotecário, com a data limite de 10 anos para a adaptação nacional. Porém sabemos que não é o que acontece na prática, pois a profissão de bibliotecário é desvalorizada e a população muitas vezes não entende a importância das bibliotecas no desenvolvimento educacional de uma sociedade. Assim, tem-se as Leis 10.639/03 e 11.645/08, as duas alteram a Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, adicionando a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura da Afro-brasileira e Indígena no currículo nacional e determina, também, a data oficial do dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Através das Diretrizes Curriculares para ensino das Relações Étnico-Raciais a biblioteca é mencionada como local que o ensino das relações raciais também deve ocorrer. Desse modo, assim como os professores, os bibliotecários devem, também, ter conhecimentos sobre as Leis e capacidade para administrar essas relações e combater o racismo. Logo, a partir da perspectiva de o bibliotecário combater o racismo dentro da biblioteca escolar, surge a curiosidade de identificar seexistem práticas pedagógicas que combatam o racismo, idealizadas ou implementadas por bibliotecários através da biblioteca escolar no estado do Rio Grande do Norte, especificamente na cidade de Natal. Assim, este trabalho está estruturado em 7 seções, primeiro a introdução, em seguida, na seção 2, é apresentada a metodologia, a caracterização e o campo de pesquisa. Na seção 3 é 13 contextualizado o racismo no Brasil através de breve resgate histórico, bem como na seção 4 é apresentado a educação antirracista e os caminhos percorridos pelos ativistas dos movimentos negros até conseguir assegurar o direito das ações afirmativas para os negros. Em seguida, na seção 5 é dissertado sobre a importância das relações étnico-raciais na biblioteca, e na seção 6 temos a análise comparativa das respostas das entrevistas. Por fim, as considerações finais do trabalho são expostas na seção 7. 1.1. OBJETIVO GERAL Identificar as práticas pedagógicas de combate ao racismo idealizadas ou implementadas por bibliotecários nas bibliotecas escolares de Natal-RN. 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ● Discorrer sobre as relações entre a biblioteca escolar e a educação antirracista na educação de crianças e adolescentes; ● Verificar a integração das leis 10.639/03 e 11.645/08 com as atividades das bibliotecas escolares do RN; ● Identificar e discutir as ações culturais e práticas antirracistas que são aplicadas dentro das bibliotecas escolares. Assim, a preocupação sobre a conscientização do combate às desigualdades raciais na sociedade, a começar na infância com as relações na escola, e com o protagonismo da biblioteca escolar na luta antirracista, são os objetivos norteadores desta pesquisa. 14 1.3 JUSTIFICATIVA O tema das relações étnico-raciais é atual e necessário, com o aumento da desinformação, do negacionismo e desconfiança nas ciências, bem como radicalização das crianças e adolescentes que tem se observado no Brasil nos últimos anos, abre uma questão de preocupação com a situação do racismo no Brasil. É preciso pensar de que modo as práticas do dia a dia nas escolas podem combater o racismo nas instituições, e nas relações dos estudantes nos anos iniciais, e como a biblioteca escolar e o bibliotecário podem contribuir para erradicar as desigualdades raciais e o racismo no Brasil. Entendemos que a biblioteca escolar é um local de transformação social que pode contribuir no combate ao racismo com práticas tais como, apresentações, eventos, projetos, cursos, clubes, grupos de leitura, etc. Durans (2018, p. 13) indica, Os conflitos e a discriminação são fatores latentes e vigentes na escola, e não se limitam apenas às relações interpessoais. Nos diversos materiais didáticos pedagógicos, tais como, jornais, revistas e principalmente no livro didático que é bastante usado em sala de aula, percebe-se que a visão eurocêntrica é um fator determinante, pois a cultura do branco (europeu) é retratada de maneira positiva em detrimento da cultura afro. No livro didático, o negro não é visto como guerreiro, líder e sim como escravo sem raízes e sem cultura. logo o próprio livro didático reforça o processo discriminatório no cotidiano escolar. A pesquisa contribui para a disseminação do tema das relações étnico-raciais no contexto das bibliotecas escolares, e da importância do profissional bibliotecário atuando em seu cargo, no contexto da cidade do Natal no Rio Grande do Norte, e sobre o cumprimento das Leis sobre o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, e da universalização das bibliotecas escolares, bem como sobre a importância da luta antirracista dentro das instituições. A motivação com a abordagem do tema das relações étnico-raciais através da biblioteca escolar surge do histórico pessoal da autora com o racismo sofrido na escola por ser negra, e com a preocupação de como experiências do tipo poderiam ser abordadas através de práticas que os estudantes pudessem engajar ativamente pelo combate ao racismo. 15 2 METODOLOGIA A escolha do método de investigação é de grande importância quando se pretende iniciar uma pesquisa científica, é a fase do trabalho que irá nortear o caminho a ser tomado de modo a organizar o conhecimento e fazer com o que a pesquisa mantenha seu caráter científico. “Para que um conhecimento possa ser considerado científico, torna-se necessário identificar as operações mentais e técnicas que possibilitam a sua verificação. Ou, em outras palavras, determinar o método que possibilitou chegar a esse conhecimento.” (GIL, 2008). Assim, para pôr em prática o processo de investigação sobre as questões levantadas na problematização da pesquisa, bem como atender aos objetivos do trabalho, é necessário definir a metodologia científica e as técnicas adequadas para que a coleta e análise dos dados de pesquisa tenham credibilidade e valor científico. 2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA A pesquisa se caracteriza como exploratória pois objetiva identificar quais são as práticas antirracistas adotadas dentro de bibliotecas escolares da cidade de Natal. Desse modo, o método científico usado é o indutivo, e a pesquisa tem uma abordagem qualitativa, do tipo exploratória quanto aos objetivos. Os procedimentos de investigação escolhidos foram, método histórico, levantamento bibliográfico, entrevista estruturada e estudo de caso comparado. O método indutivo foi o escolhido pois os dados usados foram coletados das respostas dos bibliotecários das Escolas Municipais e Privadas escolhidas para a pesquisa, que aceitaram responder à entrevista e a partir desses dados específicos é possível inferir uma conclusão ampla sobre a situação das bibliotecas escolares de Natal. A problematização da proposta desta pesquisa pode se aprofundar na observação a situação das bibliotecas escolares seguindo este método como explica Marconi e Lakatos que caracterizam a indução como: Processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal. O objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam. (MARCONI; LAKATOS, 2017, p. 93). O método histórico foi utilizado para contextualizar as desigualdades raciais no Brasil, com intuito de construir uma linha temporal que possa explicar a estruturação do racismo, 16 dentro das especificidades do país, e mostrar as lutas dos movimentos negros em busca de uma educação antirracista para cidadania dos negros brasileiros. Assim, Portanto, colocando os fenômenos, como, por exemplo, as instituições, no ambiente social em que nasceram, entre as suas condições “concomitantes”, torna-se mais fácil sua análise e compreensão, no que diz respeito à gênese e ao desenvolvimento, assim como às sucessivas alterações; ao permitir a comparação de sociedades diferentes, o método histórico preenche os vazios dos fatos e acontecimentos, apoiando-se em um tempo, mesmo que artificialmente reconstruído, que assegura a percepção da continuidade e do entrelaçamento dos fenômenos. ((MARCONI; LAKATOS, 2017, p. 114). A entrevista estruturada foi escolhida devido a característica de ter maior flexibilidade e possibilidade de obter informações diversas dos entrevistados. A entrevista é do tipo estruturada para seguir um roteiro pré-estabelecido com intuito de conseguir comparar as respostas de cada pergunta. De acordo com Marconi e Lakatos (2017, p. 211) a entrevista é: um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas, mediante conversação, obtenha informações a respeito de determinado assunto. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados, ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social. Por fim, com as respostas das entrevistas, a comparação foi construída em forma de quadros para cada questão e resposta onde as respondentes foram identificadas como entrevistada 1 e entrevistada 2, e as respostas foram analisadas uma a uma.2.2 CAMPO DE PESQUISA Duas regiões da cidade foram escolhidas, as Zonas Norte e Sul, em seguida foram selecionadas 2 escolas - uma particular e uma pública - de nível fundamental, para cada zona, totalizando 4 escolas que possuem bibliotecas em suas instalações físicas. A escolha das escolas municipais se deu através da obtenção de uma lista de escolas disponibilizada no site da Prefeitura de Natal, e as escolas particulares foram selecionadas por uma busca simples no google. Em seguida as escolas foram contatadas via e-mail, telefone, Facebook e Instagram, porém muitas escolas não responderam os pedidos de participação para a pesquisa ou não aceitaram participar por não ter representantes responsáveis pelas bibliotecas, essas situações foram identificadas tanto na rede de ensino pública quanto privada. 17 Após fracasso em encontrar uma escola municipal na zona sul e uma escola particular na zona norte para participar da pesquisa, entramos em contato com a Secretaria de Educação para descobrir se existia alguma escola municipal com bibliotecário e entrar em contato, porém a secretaria não soube informar sobre nossos questionamentos, e assim foi decidido continuar apenas com a Escola Municipal Professora Adelina Fernandes, da zona norte, e com uma escola particular da zona sul, a Escola Centro Educacional Teresa de Lisieux. 18 3 CONTEXTUALIZANDO O RACISMO NO BRASIL O ato de classificar é intrínseco aos seres humanos, a todo momento estamos realizando ações de classificação de diferentes formas, em nosso convívio social, profissional, e até educacional. Na área da biblioteconomia por exemplo estamos acostumados com a ideia de classificar devido a necessidade de organizar o conhecimento para possibilitar o acesso à informação. É através dessa necessidade de classificar, de categorizar o conhecimento que surge o conceito de raça, que aparece no século XVIII, na área das ciências naturais, como a zoologia e a botânica, com a finalidade de classificar as espécies de animais e vegetais. No entanto, na Europa medieval, o conceito de raça já era utilizado para categorizar hierarquicamente os seres humanos, com intenção de estabelecer uma relação de dominação de uns sobre os outros. Para pensar os passos dados pelas ciências para chegar ao racismo que observamos hoje no brasil, em específico, é necessário voltar ao ano de 1500, o ano que nasce “o outro”, ano em que o brasil é invadido pela Europa e é descoberto a existência de novos povos, os Indígenas. De acordo com Munanga (2003) até o século XV, as diferentes raças eram explicadas através das escrituras bíblicas, representados pelos 3 Reis Magos que seriam as 3 raças até então reconhecidas, os Semitas, os Brancos e os Negros, deixando assim os indígenas com sua humanidade em xeque. Com o iluminismo no século XVIII, surge a necessidade de buscar respostas através da razão, e de afastar as explicações da natureza e humanidade das mãos da igreja e da realeza. É neste sentido que as teorias das ciências naturais, como a ideia de raças puras, são adaptadas para projetar uma explicação científica para as diferenças humanas, porém ser capaz, dentro dessa explicação, de justificar a hierarquização das raças. Reconhecer que existem diferenças e similaridades entre os humanos não é um problema, esse processo se tornou um problema para a humanidade a partir do momento que a ciência foi usada para credibilizar a teoria da superioridade da raça branca sobre as outras. A característica de classificar a espécie humana em diferentes raças deveria servir para reconhecer o desenvolvimento da história e cultura da humanidade, mas através das relações de poder político-ideológicas se transformou no racismo baseado em teorias biológicas, o chamado racialismo. 19 A cor da pele foi inicialmente o critério principal para categorizar raças, porém ao longo do século XIX foram sendo adicionados ao processo de categorização humana, critérios como formato do crânio, do nariz, entre outros para justificar a inferioridade das raças negra e amarela. Já na idade moderna o intelectual europeu se deu a razão de se posicionar no topo da hierarquia racial, o que se configura como um movimento completamente consciente e ligado aos interesses colonizadores na África e nas Américas, e não uma consequência arbitrária da pós-escravidão. Ao passo que o branco valoriza a própria raça e suas características como superiores relacionando elementos fenotípicos com qualidades morais, culturais e psicológicas, em que pessoas da raça branca são denominadas bondosas, confiáveis, inteligentes, civilizadas e o mais importante, a raça branca como propícia a dominar outras raças, a raça negra se classifica, para o europeu, como o total oposto de todas essas qualidades, são selvagens, sem inteligência, sem civilidade e etc. Kabengele Munanga (2003, p. 6) vai descrever, Podemos observar que o conceito de raça tal como o empregamos hoje, nada tem de biológico. É um conceito carregado de ideologia, pois como todas as ideologias, ele esconde uma coisa não proclamada: a relação de poder e de dominação. A raça, sempre apresentada como categoria biológica, isto é natural, é de fato uma categoria etnosemântica. De outro modo, o campo semântico do conceito de raça é determinado pela estrutura global da sociedade e pelas relações de poder que a governam. Com os avanços científicos do século XX na área da Genética e Biologia molecular, os princípios da raciologia são eventualmente refutados, porém o dano social, em relação à percepção mundial dos negros como população e indivíduos, já estava instaurado ao redor do mundo e é o resquício deste tipo de racismo que se estende aos dias de hoje em diversos países. Em lugar da perspectiva biológica de raça, já descartada nos estudos modernos, tem-se a perspectiva das ciências sociais que entende raça como marcas sociais que explicam a história de uma população. Diferente de raça, o conceito de etnia é tomado como mais apropriado para se classificar os seres humanos seguindo a noção de identificação de populações, que definem que dentro destes marcadores conhecidos como raças branca, preta e amarela podem ocorrer diferentes etnias. Kabengele Munanga (2003, p. 12) define bem o conceito de etnia como, “um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um ancestral comum; têm 20 uma língua em comum, uma mesma religião ou cosmovisão; uma mesma cultura e moram geograficamente num mesmo território.” Nesta pesquisa o conceito de raça aqui entendido é o de raça social e não biológico, o reconhecimento das relações através de raça no Brasil é necessário pois apenas argumentar que biologicamente os humanos não tem raça não impede de que o racismo vivenciado no nosso país pelos negros se constituiu dessas teorias científicas um dia aceitas. Desse modo, a negritude como identidade se forma como processo político necessário para o desenrolar das lutas pelos direitos dos negros descendentes da diáspora africana que se procedeu na era escravagista do período colonial e imperial do Brasil, bem como após a abolição. Deste modo Schucman (2010, p. 49), afirma, O uso da categoria raça, a meu ver, é necessário tanto para a implementação de políticas públicas quanto para o reconhecimento positivo da população negra brasileira, pois se esta população é discriminada através da categoria raça – e, portanto, do racismo – esta mesma categoria é a única capaz de unificá-los. No brasil, essencialmente, a escravidão dos africanos durou de 1500 à 1888, são 400 anos de um modelo de sociedade que marcou a construção da identidade do Brasil, bem como dos outros países da América, e as relações étnico-raciais entre os 3 povos encontrados aqui, os indígenas e os negros sob a violenta dominação do colonizador branco europeu. Abdias Nascimento (2017, p. 57), afirma, A imediata exploração da nova terra se iniciou com o simultâneo aparecimento da raça negra, fertilizando o solo brasileiro com suas lágrimas,seu sangue, seu suor e seu martírio na escravidão. Por volta de 1530, os africanos, trazidos sob correntes, já aparecem exercendo seu papel de “força de trabalho”; em 1535 o comércio escravo para o brasil estava regularmente constituído e organizado, e rapidamente aumentaria em proporções enormes. Durante todo o período de escravidão que os africanos foram submetidos no Brasil, não só o racismo científico, mas também o cristianismo foram ferramentas usadas para o posicionamento estratégico dos negros na base da pirâmide que representa a hierarquia das raças, bem como doutrinação dos cativos à uma absurda “aceitação” de sua condição em nome de Cristo ao mesmo passo em que as expressões religiosas desses povos sequestrados eram proibidas levando ao apagamento de suas culturas. Muitas foram as formas de resistência dos negros escravizados à condição a que foram submetidos nas colônias, e muitos anos antes do Brasil se render às pressões internacionais e 21 ser o último país a abolir a escravidão, os negros já lutavam por si mesmos. Os Quilombos são as organizações mais famosas e mais comentadas quando se pensa em resistência à escravidão, sendo o Quilombo do Palmares, sob a liderança de Zumbi no século XVII, em Alagoas, o mais famoso de todos, porém outras formas de resistência não podem ser esquecidas, tais como revoltas, rebeliões, assassinatos, e suicídios fazem parte da história de pessoas muito fortes que morreram lutando pela causa da humanidade. A abolição da escravidão no Brasil foi decretada em 1888, pela Lei Imperial Nº 3.353, mais conhecida como Lei Áurea, apesar da forte resistência da elite brasileira, afinal o trabalho escravo construiu o Brasil e a riqueza de muitas famílias brancas. Da era das plantações de cana-de-açúcar, através da era da mineração no século XVIII, e durante o ciclo do café no século XIX o escravizado era visto como essencial para economia do país, por isso tanta resistência à mudança do modelo, porém também como descartável pelo nível de crueldade física e falta de zelo por tal “posse”, com que eram tratados. Abdias Nascimento (2017, p. 59) nos enfatiza muito bem, [...] Sem o escravo, a estrutura econômica do país jamais teria existido. O africano escravizado construiu as fundações da nova sociedade com a flexão e a quebra da sua espinha dorsal, quando ao mesmo tempo seu trabalho significava a própria espinha dorsal daquela colônia. Ele plantou, alimentou e colheu a riqueza material do país para o desfrute exclusivo da aristocracia branca. Tanto nas plantações de cana-de-açúcar e café e na mineração, quanto nas cidades, o africano incorporava as mãos e os pés das classes dirigentes que não se auto degradam em ocupações vis como aquela do trabalho braçal. A nobilitante ocupação das classes dirigentes - os latifundiários, os comerciantes, os sacerdotes católicos - consistia no exercício da indolência, no cultivo da ignorância, do preconceito e na prática da mais licenciosa luxúria. É verdade que a abolição não foi uma decisão da bondosa princesa que um belo dia decidiu abençoar os negros com sua piedade e libertá-los, no entanto, essa ideia viveu por muitas décadas no imaginário dos brasileiros, bem como o mito da escravidão nas américas espanhola e portuguesa como tendo sido versões leves da escravidão, comparadas à américa inglesa. Abdias Nascimento chama de mito do senhor benevolente, e explica que essas ideias absurdas, que foram conscientemente inseridas no imaginário da população pelos governantes e pela elite com intuito de se distanciar da responsabilidade da crueldade que acontecera neste país, não por culpa, mas por auto preservação, obviamente. Os apoiadores do mito da escravidão branda apontam para mentiras como a de que existia muita tolerância religiosa no brasil, que seria apoiada pela igreja cristã e pelos 22 governantes, pois existiam algumas organizações de cunho religioso para os negros, chamadas “Nações” e “Fraternidades religiosas”, quando na realidade essas organizações eram permitidas para manter viva a lembrança das diferenças e rivalidades entre as diferentes culturas africanas em dia para que eles não se unissem contra o verdadeiro inimigo, os seus sequestradores. Outra suposta prova de que a escravidão aqui era mais “humanizada”, é na verdade outro mito, o de que devido à intimidade entre a ama negra que cuidava de bebês brancos, desde amamentação até ensinar a falar as primeiras palavras, seria indício das relações mais relaxadas entre os senhores e os negros. Esse mito é muito interessante e nos remete a uma famosa expressão bem conhecida na cultura brasileira, o “como se fosse da família”, usado para se referir às empregadas domésticas e outros funcionários do lar. Uma expressão extremamente carregada de racismo e que primeiramente nunca foi honesta, mas usada geralmente com intuito ou como argumento para abusar dos direitos básicos do trabalho doméstico ao mesmo tempo em que manipula com sentimentalismos esses trabalhadores a aceitarem tratamentos análogos à escravidão sob a ilusão de pertencimento familiar. Quanto às sobrevivências culturais citadas para provar um "antirracismo” brasileiro, elas são apenas resultados diretos dos mecanismos de controle social exercidos pelos senhores sobre seus escravos. (NASCIMENTO, 2017, p. 68) Através de mentiras a colônia conseguiu esconder do mundo o que realmente se passava nas terras do brasil, e qual era a real condição de vida dos escravizados e fazer fama ao redor dessa farsa de uma escravidão justa e civilizada. Tal cultura de disfarçar a crueldade do sistema escravocrata brasileiro se estende após a abolição durante o início do século XX com o bastante conhecido mito da democracia racial, mito que estimula o não reconhecimento de que racismo sequer exista no Brasil, algo que se mostrará extremamente danoso para a vida dos negros brasileiros desde então. É importante citar que imediatamente após à abolição se seguiu a proclamação da república em 1889, e que o número de negros no Brasil era muito superior ao número de brancos, e em 1890 Deodoro da Fonseca decide fazer um decreto para regularizar a imigração com intenção explicita de selecionar quem seria a mão-de-obra ideal para substituir os negros nas propriedades agrícolas e assim por em prática a estratégia do embranquecimento do Brasil 23 através dos imigrantes e da mestiçagem, como podemos ver no artigo primeiro do decreto nº 528 de 28 de junho de 1890, Art. 1º É inteiramente livre a entrada, nos portos da Republica, dos indivíduos válidos e aptos para o trabalho, que não se acharem sujeitos à ação criminal do seu país, excetuados os indígenas da Ásia, ou da África que somente mediante autorização do Congresso Nacional poderão ser admitidos de acordo com as condições que forem então estipuladas. (BRASIL, 1890). Nascimento (2017) afirma que o mestiço era visto como “um degrau na escada da branquificação sistemática do povo brasileiro, ele é o marco que assinala o início da liquidação da raça negra no Brasil”. Mesmo assim o mestiço, ou mulato, era visto como homem de cor, racializado, e recipiente do mesmo racismo dado ao africano. Nascimento segue dizendo também que a mestiçagem não se dava em sua maioria através de casamentos interraciais, mas, primeiro com o estupro das escravas durante toda a era da escravidão, e depois por “concubinagem e de relações fortuitas”, e cita uma fala do escritor José Veríssimo para ilustrar as expectativas em torno do embranquecimento da população como medida em prol do desenvolvimento da nação. Como nos asseguram os etnógrafos, e como pode ser confirmado à primeira vista, à mistura de raças é facilitada pela prevalência do elemento superior. Por isso mesmo, mais cedo ou mais tarde, ela vai eliminar a raça negra daqui. É óbvio que isso já começa a acontecer. (NASCIMENTO, 2017, p. 84). Para Guimarães (2004) em sua análise dos estudos sobre as relações raciais no Brasil ao longo do século XX, diversas vertentes tentaramrepresentar o racismo, ou a não existência deste, no Brasil. Na década de 1930 que perpassa sobre a teoria da chamada “democracia social e étnica” de Gilberto Freyre, que seria renomeada de “Democracia racial” mais a frente, que se refere ao mito de que no brasil não existe racismo devido grande número de mestiços, representantes do novo tipo de brasileiro. Para Guimarães (2004) ao passo que Freyre alega essa aceitação dos mestiços na cultura do Brasil, marcado desde a era da escravidão, e que essa mestiçagem seria em si a cultura brasileira formada, essa teoria foi aceita internacionalmente e serviu para mascarar o racismo vivido pelos brasileiros em uma forma de Gaslighting a seu tempo sobre a psique dos negros no Brasil, principalmente no âmbito das denúncias de vitimização pelo racismo. Outros estudiosos como o médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues já deixavam sua 24 contribuição contra a miscigenação e a favor do embranquecimento do Brasil, para ele o mestiço, ou mulato, era a fonte de toda a imoralidade que se passava no Brasil. Essa distinção do que realmente acontecia no Brasil no séc. XX pós-abolição com o tratamento dos negros era tão complexa de se observar devido muitas das teorias sociais originarem de cientistas americanos, que observavam o racismo da América do Norte, onde o racismo era explícito e segregacional, enquanto que no Brasil esse racismo é velado ou negado, com apoio das elites intelectuais que tinha a esperança de embranquecer o país no período de tempo de 5 gerações de mestiços, conforme cita Nascimento. Por isso para Guimarães (2004) os estudos sobre racismo no brasil se deram sob bases teóricas não bem definidas, primeiro, devido aos cientistas quererem que uma teoria fosse aceita para representar as relações raciais em todas as nações das américas ignorando as particularidades da formação do brasil. Segundo, pela falta de aprofundamento sobre a origem das desigualdades raciais, se são decorrentes da classificação de raça, classe, cor, conflitos ideológicos? Etc. Ou seja, além de identificar as desigualdades é preciso entendê-las. E em terceiro, devido a definição de racismo no brasil ser muito abrangente, muito generalizada. Ou seja, sob o rótulo de racismo, são tratados objetos tão distintos quanto os sistemas de classificação racial, o preconceito racial ou de cor, as formas de carisma (para usar o conceito de Elias), que podem ser observadas em diversas instituições e comunidades, a discriminação racial nos mais distintos mercados, e as desigualdades raciais e sua reprodução. (GUIMARÃES, 2004, p. 29). Assim é possível identificar que desde os sécs. XIX, com as políticas de imigração, o desejo é eliminar o negro, através de uma “limpeza étnica lenta”, pois o negro é visto como um problema para desenvolvimento da nação. Deste modo surge a identificação do brasileiro mestiço que é extirpado imediatamente de sua identidade negra, porém é vítima do mesmo racismo antinegro. Apesar das políticas de embranquecimento terem sido explícitas, bem como a vontade das elites e intelectuais do brasil de “limpar a mancha negra” e de “resolver o problema”, como cita Abdias do Nascimento, existia, e ainda existe, uma certa tentativa de alienação dos negros sobre o racismo que sofrem. Apropriadamente, Guimarães comenta que qualquer teoria de democracia racial é interrompida quando a democracia política é atacada em 1964 com o golpe militar. Dentro do imaginário racista brasileiro, observamos a negação do racismo, mas também da discussão sobre, principalmente se o debate for levantado pelos negros, e essa cultura se mistura com os 25 mitos citados anteriormente, mas também se misturam com os crimes de censura do golpe de 64. Nascimento (2017, p. 94) afirma, Em verdade, porém, a camada dominante considera qualquer movimento de conscientização afro-brasileira como ameaça ou agressão retaliativa. [...] A ele não se permite esclarecer-se e compreender a própria situação no contexto do país; [...] Como o cientista político Anani Dzidzienyo, tão propriamente conclui: uma opinião do negro à situação brasileiro enfrentaria dois inconvenientes: uma opinião oficial que consideraria ‘atividades raciais’ como subversivas, e a atitude geral da sociedade que as considera divisionistas. Ora, se foi estabelecido que racismo não existe, pois no brasil não teve um Apartheid como na África do sul, ou uma política como da era Jim Crow de segregação de raças dos Estados Unidos, não haveria necessidade se debater sobre o tema, essa prática também nos remete uma fala bastante famosa no dia a dia dos brasileiros, bem como nas interações em redes sociais, o de que “apontar o racismo na verdade só faz de você o racista da situação”, mais uma vez remete ao ato de gaslighting, de fazer a vítima duvidar da sua própria razão. Essa característica do racismo velado se mostra como uma das mais intensas entre os elementos que constitui o racismo do Brasil. É assim, fingindo não atacar que atacam, e ao mesmo passo espera-se passividade, a não reação, pois, “não sou racista, tenho amigos negros”, tudo isso através das condutas sociais da não aceitação da pele negra retinta, do cabelo crespo, da perpetuação de que os negros são desprovidos de beleza, de talento para as artes e que não podem atuar ou aparecer na tv, a não ser que seja como personagens marginalizados, ou como alvo de piadas sobre ser negro, identificado como racismo recreativo por Adilson Moreira. Esses estereótipos inundam a mente da sociedade brasileira, e assim se expressa sem pudor a discriminação racial, que se argumenta apenas como “opinião” ou "preferência” ou senso de humor. É preciso entender as diferenças entre racismo, discriminação racial e preconceito racial. Enquanto que o “preconceito racial” é o julgamento de grupos radicalizados com base em estereótipos, que são marcadores superficiais e racistas sobre outras raças e etnias e são prejudiciais para as relações raciais, por isso o preconceito acaba sendo discriminatório. Já a “discriminação racial” é o tratamento diferenciado das raças, está atrelado ao poder de um grupo sobre outro e de influenciar negativamente a condição de vida de um grupo racial dentro da sociedade. 26 A discriminação pode ser direta ou indireta, a direta está relacionada aos crimes de ódio, quando o racismo é mais evidente e o tratamento diferenciado é nítido, enquanto que a discriminação indireta se manifesta na ignorância voluntária, do privilégio de escolher não reconhecer a existência das desigualdades raciais ou de se manter neutro sobre relações raciais, como o uso do conceito de “colorblindness”, ou seja, a prática de não enxergar as cores de pele ou raça das pessoas, o que consequentemente leva à não enxergar, e admitir, as injustiças sofridas pelas pessoas devido sua cor de pele e raça. Logo, o racismo, que se manifesta pela discriminação racial direta e sistêmica, é entendido por três concepções que Almeida (2018) avalia como, as formas individualista, institucional e estrutural. A concepção individualista entende o racismo como um comportamento individual de pessoas ignorantes que precisam ser repreendidas, essa concepção não enxerga o racismo na sociedade como um todo, mas apenas em algumas pessoas/grupos agindo dessa forma. Já a concepção institucional entende que o racismo se manifesta dentro das instituições, de forma indireta, menos evidente, influenciando beneficamente uma raça em detrimento de outra, e que constitui forte característica das relações de poder na sociedade através das instituições diversas - estado, mídia, escola, etc. Enquanto que a concepção estrutural do racismo significa que a estrutura social é racista e por isso o racismo se manifesta em todas as instituições e em todos os indivíduos. Almeida (2018, p. 36) explica que, “As instituições são apenas a materialização de uma estrutura social ou de um modo de socialização que tem o racismo como um de seus componentes orgânicos. Dito de modomais direto: as instituições são racistas porque a sociedade é racista”. Assim, entender como se dá o racismo institucional, bem como se estrutura na sociedade, é crucial para a autoconsciência do negro brasileiro, inclusive dos mestiços. O racismo acontece através da escola, quando os livros didáticos perpetuam microagressões através de piadas racistas, quando não há presença de livros escritos por negros ou com protagonistas negros e isso é normalizado, quando não se ensina sobre a cultura africana e afro-brasileira e das contribuições que pessoas negras fizeram na história da humanidade. O racismo acontece pelas mãos do estado quando usa da força policial militarizada para represar as comunidades negras, acontece na mídia que apresenta novelas como espelho do Brasil e o faz, subalternizando as narrativas das vidas negras, o racismo está ao redor de todos os negros 27 brasileiros todos os dias, no trabalho, na universidade, nos relacionamentos, no lazer, é uma estrutura tão forte quanto antiga. Abdias do Nascimento (2017, p. 112) reafirma que, Além dos órgãos de poder - o governo, as leis, o capital, as forças armadas a polícia - as classes dominantes brancas têm à sua disposição poderosos implementos de controle social e cultural: o sistema educativo, as várias formas de comunicação de massas a imprensa, o rádio, a televisão - a produção literária. É a partir da perspectiva da educação como mecanismo de transformação social, que podemos entender que a educação antirracista pode ser usada no processo de reparação histórica ao desmantelar o racismo institucional dentro do sistema educacional. No Brasil a cultura de meritocracia foi instrumental, e ainda é um conceito muito defendido nos dias de hoje, para a manutenção das desigualdades raciais no século XX, pois esta ideologia assume que em uma democracia todos têm as mesmas oportunidades de ascensão social e quem não consegue sair do ciclo da pobreza não fez por merecer, não se esforçou tanto quanto outros. Por isso defensores da meritocracia são contra as ações afirmativas como as cotas raciais em concursos públicos e vestibulares, pois essa perspectiva se recusa a aceitar a influência do racismo na própria constituição de democracia que alegam existir. A Educação Antirracista está presente na legislação brasileira em diversas expressões, através da Constituição Federal, pelo Artigo 5º, inciso XLII, que define racismo como crime inafiançável e imprescritível, e na prática a criminalização é feita através da Lei do racismo, a lei nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989. Assim também se tem a Lei nº 12.711 de 29 de agosto de 2012, que dispõe sobre a reserva de 50% de vagas em cursos universitários para estudantes egressos de escola pública e autodeclarados pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência (pcd), e a Lei nº 12.288 de 20 de julho de 2010 que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial. 28 4 EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA A educação antirracista se inicia com os movimentos negros, que são movimentos de protestos, denuncias, e demandas por ações para garantir o fim do racismo e proporcionar a cidadania dos negros no brasil. Podemos afirmar que os movimentos negros se iniciaram desde a era da escravidão com as revoltas, rebeliões e fugas para os quilombos pois foram formas de resistência à crueldade do sistema de escravidão e racismo, e que é no decorrer do século XX, através, principalmente, de lutas e reivindicações por ações afirmativas em prol do desenvolvimento das relações étnico-raciais no Brasil se inicia a luta pela educação antirracista dos brasileiros. Como cita Almeida (2018) a discriminação pode ser de caráter negativo ou positivo, e as ações afirmativas se classificam como positivas na sociedade pois são políticas públicas que direcionam um tratamento diferenciado à um grupo de pessoas, mas com intuito de erradicar as desigualdades e os preconceitos que afetam a dignidade e a cidadania do grupo ao qual se destinam as ações afirmativas. Domingues (2008, p. 106), Mas, afinal, o que são ações afirmativas, que também recebem o nome de políticas compensatórias? São programas cuja finalidade é eliminar ou minimizar as desigualdades de oportunidades por meio de políticas públicas (ou privadas) voltadas para favorecer aqueles grupos que, historicamente, sofreram (e sofrem) discriminação negativa, como é o caso de negros, mulheres, gays e deficientes físicos. É a partir das iniciativas dos movimentos negros e de suas demandas que medidas institucionais são tomadas pelo governo, em formas de leis, decretos e diretrizes. Desde a década 1900 já se tem as expressões de pensadores negros capazes de aglomerar cidadãos em associações diversas, e também de produzir registros e provas das desigualdades que os negros eram submetidos no brasil pós-abolição, essas produções se manifestaram através dos jornais e revistas voltados para os negros, e o conjunto dessas produções ficou conhecido como Imprensa Negra Paulista. De acordo com o portal da Imprensa Negra Paulista elaborado pela Universidade de São Paulo (USP) (2022), [...] Nas duas primeiras décadas do século XX, a maior parte dos periódicos foram elaborados por associações que atuavam como grêmios recreativos, clubes dançantes, esportivos, dramáticos, literários ou carnavalescos. Dessa forma, boa parte desses noticiosos tinha como principal finalidade tratar de assuntos relacionados à vida social dos associados e da população negra em geral. Ao longo dos anos, cresceu também a preocupação dos grupos que dirigiam esses veículos em 29 denunciar as restrições sociais sofridas pela população negra, traduzidas na diferença de tratamento e de acesso a oportunidades por causa do preconceito de cor. Muitos desses jornais e revistas tiveram breve tempo de publicação devido a precariedade dos meios de produção da época. No Portal da imprensa Negra Paulista da USP estão disponíveis vinte periódicos, o mais antigo deles é o O Baluarte com data de início em 1903, e os que tiveram maior duração foram: O Clarim d’Alvorada (1924-32), Progresso (1928-1931), A Voz da Raça (1933-1937) e Novo Horizonte (1946-1961). Em 1931 é fundada a Frente Negra Brasileira (FNB), a maior entidade pelos direitos dos negros na primeira metade do século XX, chegando a ter 20 mil sócios. A FNB mantinha um importante trabalho de assistência aos negros nas mais diversas áreas necessárias que abarcam a dignidade e cidadania de uma pessoa. Além de ter sido a responsável pela publicação do periódico A voz da Raça, a FNB desenvolvia projetos culturais como, grupo musical e teatral, time de futebol, mantinha escola, assistência jurídica, atendimento médico e odontológico e cursos sobre política, artes e ofícios. “Um dos principais objetivos da Frente Negra Brasileira era a defesa de uma “Segunda Abolição”, pois a primeira (1888) havia deixado um legado de exclusão social e pobreza.” (Geledés, 2017). A FNB foi perdendo força com a polarização das lideranças, enquanto Arlindo Veiga dos Santos (1902-1978) tinha uma visão ultranacionalista e conservadora, José Correia Leite (1900-1989) tinha visão socialista. Em 1937, com a instauração do Estado Novo, a Frente Negra assim como todas as outras organizações políticas, foram extintas, mas com a queda de Vargas em 1945, os movimentos negros foram se reorganizando e entidades de grande impacto na história das lutas antirracistas surgiram, como a União dos Homens de Cor (UHC) em 1943 e o Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1944. A “UHC”, também chamada de Uagacê, foi fundada por João Cabral Alves e se caracterizava pelo potencial em expandir para outros estados, chegando a ter sedes por 10 estados entre sul, sudeste e nordeste. De acordo com Domingues (2007) a finalidade principal era “elevar o nível econômico, e intelectual das pessoas de cor em todo o território nacional, para torná-las aptas a ingressarem na vida social e administrativa do país, em todos os setores de suas atividades”. Com a ditadura de 64 aUHC, assim como muitos grupos dos movimentos sociais foram extintos. 30 O Teatro Experimental do Negro, sob a principal liderança de Abdias Nascimento, foi um marco nos movimentos pela conscientização contra o racismo nas artes devido o objetivo inicial de formar um grupo teatral de atores negros, mas que além disso acabou evoluindo com a publicação do jornal O Quilombo, integração de cursos, a fundação do Instituto Nacional do Negro e do Museu do Negro, promoveu a Convenção Nacional do Negro, no Rio de Janeiro e São Paulo (1945-1946), bem como o 1º Congresso do Negro Brasileiro no Rio de Janeiro em 1950. Domingues (2007) cita: "Com a instauração da ditadura militar em 1964, o TEN ficou moribundo, sendo praticamente extinto em 1968, quando seu principal dirigente, Abdias do Nascimento, partiu para o auto-exílio nos Estados Unidos.” As entidades citadas acima, não eram as únicas no país, em nível nacional, em quase todos os estados, os negros se reuniam e se expressavam contra o racismo e a tentaram reeducar a sociedade em busca de dignidade para os negros. Com a violência da ditadura os movimentos negros começaram a se reerguer novamente no final dos anos 1970 para uma terceira fase de tentar acabar com as desigualdades raciais. Em 1978 é fundado o Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial (MUCDR) que depois tem seu nome simplificado para Movimento Negro Unificado (MNU). De acordo com Domingues (2007, p. 113) o MUCDR foi criado em 18 de junho de 1978, em uma reunião de entidades negras de São Paulo como, CECAN (Centro de Cultura e Arte Negra), Grupo Afro-Latino-América, Câmara do Comércio Afro-Brasileiro, Jornal Abertura, Jornal Capoeira e Grupo de Atletas e Grupo de Artistas Negros, e o primeiro protesto planejado foi um ato de repúdio à duas situações, a discriminação racial sofrida por 4 rapazes negros no Club de Regatas Tietê e a morte do jovem Robson Silveira da Luz, torturado até a morte no 44° Distrito policial de Guaianases. O ato de protesto ocorreu em julho daquele ano nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, onde, na ocasião, os participantes divulgaram uma carta aberta à população em que o grupo identifica a manifestação como uma campanha de denúncia contra o racismo, a opressão policial, o desemprego, o subemprego e a marginalização. Domingues (2007, p. 115) afirma que, No Programa de Ação, de 1982, o MNU defendia as seguintes reivindicações “mínimas”: desmistificação da democracia racial brasileira; organização política da população negra; transformação do Movimento Negro em movimento de massas; formação de um amplo leque de alianças na luta contra o racismo e a exploração do trabalhador; organização para enfrentar a violência policial; organização nos sindicatos e partidos políticos; luta pela introdução da História da África e do Negro 31 no Brasil nos currículos escolares, bem como a busca pelo apoio internacional contra o racismo no país. Domingues (2007) afirma ainda que com as contestações do MNU e o princípio de unificar as lutas das minorias junto a dos negros o movimento ganhou bastante força, e novas medidas foram tomadas, como o fim da identificação com o símbolo da Mãe-preta pois teria significação de possessividade dos negros, o dia 13 de maio deixou de ser comemorado dia da abolição e passa a ser chamado de Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo e para a data de comemoração do MNU é escolhido o dia 20 de novembro, dia da morte de Zumbi, que passa a ser chamada de Dia da Consciência Negra. Como é possível observar, as lutas dos negros foram ininterruptas mesmo quando a democracia em si parecia estar paralisada, os movimentos se reorganizavam e reinventavam, pois os anos mudavam, mas o racismo não, e as mazelas do povo negro só se intensificava, principalmente a opressão policial que já se registrava como brutal, mas que depois da ditatura militar de 1964 se torna ainda mais letal. A ditadura militar acaba em 1985, mas não o aparato e modo de agir da polícia e de tratar os favelados, principalmente os que são negros. Em todos os estados do brasil onde vivem negros e brancos se preserva o racismo, devido a estrutura racista se preservar. A partir desse histórico de lutas que o Movimento negro, que sempre esteve ligado à educação dos negros através de cursos diversos, passa também a reivindicar a educação antirracista curricular dos brasileiros em geral. Com as demandas de ações afirmativas na forma de cotas raciais para os negros nas universidades, a adesão do ensino da História e cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas de todo o país bem como repensar a literatura eurocêntrica nas escolas. Domingues (2008) cita que é nos anos 1990 que as entidades negras começam a promover assistências especializadas, e na área da educação algumas dessas entidades eram a Associação Afro-Brasileira de Educação Cultural e Preservação da Vida (Abrevida), em São Paulo; o Educafro, no Rio de Janeiro; o Núcleo de Estudos do Negro (NEN), em Florianópolis; Munanga (2007) aponta a pesquisa de Ricardo Henriques de 2001 para demonstrar que o número de universitários no Brasil correspondia a 97% brancos, 2% negros, e 1% de “orientais” e observando essa desigualdade Munanga discorre em defesa das cotas raciais contra-argumentando as maiores reclamações de quem é contra a implementação das cotas. 32 Em 2000 a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) foi a primeira a oferecer 50% de cotas para alunos de escolas públicas em cursos de graduação, e a Universidade de Brasília (UNB) foi a primeira a adotar as cotas raciais em 2004. Apenas em 2012, a lei 12.711/12, a lei de cotas, foi aprovada para todas instituições de ensino superior, direcionada a estudantes de escola pública e pode conter critérios de raça, social e até regional. Assim devido às lutas dos movimentos negros pelo fim do racismo e das desigualdades de raça que duraram todo o século XX, bem como exigências por respeito e equidade feitas à sociedade como um todo e aos governantes, que os movimentos negros voltados para a educação antirracista conseguem que em 2003 seja criada a Lei 10.639/03. 4.1 LEI Nº 10.639/03 E LEI Nº 11.645/08 A Lei 10.639/03 de 9 de janeiro de 2003, se trata de uma alteração feita na Lei 9.394/96, que estabelece Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), e passa a integrar no currículo oficial da rede de ensino básica, ou seja, o ensino fundamental e médio, a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira, e define oficialmente o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar. Dois artigos foram adicionados à Lei, foram eles o artigo 26A e 79B, Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B: "Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. “§ 3o (VETADO)" "Art. 79-A. (VETADO)" "Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (BRASIL, 2003). Após esta alteração da LDB ter sido sancionada em 2003, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou o parecer CNE/CP 03/2004, em março de 2004 e a Resolução em junho do mesmo ano. São esses dois documentos que constituem a publicação, em outubro de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm#art26ahttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm#art79a 33 2004, das “Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana”, que é um documento elaborado em parceria do Ministério da Educação (MEC) com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (SEPPIR). A Lei 10.639/03 foi um marco para a educação étnica e racial, mas antes dela já existiam algumas leis municipais que regularizavam o ensino das relações raciais, a educação contra discriminação e a história das contribuições do povo e da cultura negra, são elas, Lei Municipal nº 7.6985, de 17 de janeiro de 1994 de Belém, a Aracaju – Lei Municipal nº 2.251, de 30 de novembro de 1994 de Aracaju, e a Lei Municipal nº 11.973, de 4 de janeiro de 1996 de São Paulo. (BRASIL, 2004). As Diretrizes têm a finalidade de existir como um guia de implementação da legislação para as instituições, para a capacitação e especialização de funcionários, professores, alunos e seus familiares, com o propósito de que as exigências da Lei 10.639/03 não fossem mal aplicadas e assim evitar o fracasso na fase da aplicabilidade. Desse modo, em 2008 a LDB, alterada pela Lei 10.639/03, é alterada novamente pela Lei 11.645/08 que adiciona os estudos da História e Culturas Indígenas ao currículo nacional, assim o artigo alterado diz, Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (NR) Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (BRASIL, 2008). É importante citar que o Dia Nacional da Consciência Indígena é comemorado no dia 20 de janeiro, em homenagem à morte do guerreiro Aimberê Tupinambá, um dos líderes da confederação dos Tamoios, que morreu em 1567 durante a Batalha de Uruçumirim, e também é celebrado o Dia do Índio, no dia 19 de abril, devido ao I Congresso Indigenista http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm#art26a. 34 Interamericano de 1940, mas também é em homenagem ao índio Pataxó Galdino do Santos, que foi queimado vivo em 20 de abril de 1997. Com a adição da obrigatoriedade do ensino de história e culturas indígenas, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional passa, então, a abarcar o ensino antirracista sobre as duas principais culturas participantes da construção da identidade do Brasil. Assim as Leis citadas constituem-se como políticas de ações afirmativas que atuam como medidas políticas educacionais e de reparação, em busca da igualdade racial no país ao ensinar a valorização do legado e da contribuição cultural dos negros e indígenas na formação do Brasil. Ao trazer a luta e militância antirracista para o currículo escolar, em forma de educação das crianças e adolescentes, os novos artigos da LDB existem com propósito de educar para eliminar o racismo estrutural, agindo dentro das instituições que são racistas. De acordo com o parecer CNE/CP 03/2004, Cabe ao Estado promover e incentivar políticas de reparações, no que cumpre ao disposto na Constituição Federal, Art. 205, que assinala o dever do Estado de garantir indistintamente, por meio da educação, iguais direitos para o pleno desenvolvimento de todos e de cada um, enquanto pessoa, cidadão ou profissional. Sem a intervenção do Estado, os postos à margem, entre eles os afro-brasileiros, dificilmente, e as estatísticas o mostram sem deixar dúvidas, romperão o sistema meritocrático que agrava desigualdades e gera injustiça, ao reger-se por critérios de exclusão, fundados em preconceitos e manutenção de privilégios para os sempre privilegiados. (BRASIL, 2004, P. 11). A Lei é justificada como resposta às demandas pelo reconhecimento por parte do governo das desigualdades raciais na sociedade brasileira, e que o reconhecimento se dá através de políticas pedagógicas de valorização da diversidade, da desconstrução o mito da democracia racial, no questionamento de estereótipos racistas, e da desqualificação dos negros através da normalização de apelidos depreciativos e piadas racistas sobre a fisionomia, textura do cabelo, e as religiões de matriz Africana. Deve-se respeitar e divulgar o histórico das resistências individuais e coletivas dos descendentes de Africanos, e instituir condições para o fim da evasão escolar de jovens negros devido ao racismo. A respeito da autonomia das instituições de ensino e de como os projetos pedagógicos devem ser implementados para abarcar o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana, o parecer cita que. Caberá, aos sistemas de ensino, às mantenedoras, à coordenação pedagógica dos estabelecimentos de ensino e aos professores, com base neste parecer, estabelecer conteúdos de ensino, unidades de estudos, projetos e programas, abrangendo os 35 diferentes componentes curriculares. Caberá, aos administradores dos sistemas de ensino e das mantenedoras prover as escolas, seus professores e alunos de material bibliográfico e de outros materiais didáticos, além de acompanhar os trabalhos desenvolvidos, a fim de evitar que questões tão complexas, muito pouco tratadas, tanto na formação inicial como continuada de professores, sejam abordadas de maneira resumida, incompleta, com erros. (BRASIL, 2004, p. 17). As determinações de ações educativas de combate ao racismo exemplificadas no documento, algumas são: criticar a representação dos negros e minorias nos materiais didáticos; integrar as experiências dos alunos e professores com as atividades pedagógicas para construir relações étnico-raciais positivas; proporcionar condições para os professores discutirem conflitos raciais; valorização da oralidade, da arte e dança africana, bem como escrita e leitura; ensino da preservação do patrimônio cultural afro-brasileiro; valorização das contribuições dos grupos étnico-raciais para a construção da nação; e a participação de representantes dos movimentos negros nos projetos político-pedagógicos. Desse modo, as diretrizes orientam ainda, sobre o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, e como deve ser adaptado à cultura diária da escola devendo ser abordado em todas as disciplinas do currículo escolar, bem como dar evidencia e representar os negros e suas realizações e contribuições mundiais, do passado, presente e potencial de contribuir com futuro da sociedade, em perspectivas positivas. Assim, [...] a educação das relações étnico-raciais, tal como explicita o presente parecer, se desenvolverão no cotidiano das escolas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, como conteúdo de disciplinas, particularmente, Educação Artística, Literatura e História do Brasil, sem prejuízo das demais, em atividades curriculares ou não, trabalhos em salas de aula, nos laboratórios de ciências e de informática, na utilização de sala de leitura, biblioteca, brinquedoteca, áreas de recreação, quadra de esportes e outros ambientes escolares.(BRASIL, 2004. p. 21). Devido a tantas adaptações, o parecer deixa claro que os mais diversos profissionais da educação,com apoio dos gestores das instituições, necessitam de aperfeiçoamento sobre a educação antirracista e as relações étnico-raciais, e que os cursos de licenciaturas, pedagogia entre outros deveriam passar a adotar na formação de educadores, o ensino das relações étnico-raciais, mas que as instituições de ensino superior devem ter autonomia para implementar essas disciplinas. Essas determinações são explicitadas nos parágrafos a seguir. Introdução, nos cursos de formação de professores e de outros profissionais da educação: de análises das relações sociais e raciais no Brasil; de conceitos e de suas bases teóricas, tais como racismo, discriminações, intolerância, preconceito, estereótipo, raça, etnia, cultura, classe social, diversidade, diferença, multiculturalismo; de práticas pedagógicas, de materiais e de textos didáticos, na 36 perspectiva da reeducação das relações étnico-raciais e do ensino e aprendizagem da História e Cultura dos Afro-brasileiros e dos Africanos. - Inclusão de discussão da questão racial como parte integrante da matriz curricular, tanto dos cursos de licenciatura para Educação Infantil, os anos iniciais e finais da Educação Fundamental, Educação Média, Educação de Jovens e Adultos, como de processos de formação continuada de professores, inclusive de docentes no Ensino Superior. (BRASIL, 2004, p. 23). Ressaltando que a orientação é para a educação das relações raciais deve ser parte do cotidiano das escolas, e desse modo todos os profissionais educadores, e aqui se inserem os bibliotecários também, devem conhecer as leis 10.639/03 e 11.645/08, e as diretrizes apontam que centros de informação como a biblioteca devem proporcionar espaços seguros para os usuários identificarem a valorização da cultura não-branca quando diz que é preciso criar “centros de documentação, bibliotecas, midiatecas, museus, exposições em que se divulguem valores, pensamentos, jeitos de ser e viver dos diferentes grupos étnico-raciais brasileiros, particularmente dos afrodescendentes.”(BRASIL, 2004, p. 24). É apontado sobre a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira que as diretrizes nacionais devem servir como referência e fornecer critérios para os Conselhos de Educação dos Estados, Distrito Federal e Municípios possam ter a autonomia de formular suas próprias diretrizes de acordo com as especificidades da região. Ao entender as propostas das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, é possível vislumbrar o potencial de transformação que a implementação das leis 10.639/03 e 11.645/08 proporcionou no início do novo milênio. 37 5 A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES ÉTINO-RACIAIS NA BIBLIOTECA ESCOLAR A Biblioteca Escolar (BE) é elemento importante da composição das instituições de ensino, esse pensamento é promovido por documentos como o Manifesto da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) e UNESCO para Biblioteca Escolar (1999), que aponta a missão da BE de fornecer serviços e materiais para a comunidade escolar para cultivar a aprendizagem, formação ética e competente dos estudantes, bem como dar suporte aos professores. Como apoio ao Manifesto foi criado o documento Diretrizes da IFLA para a Biblioteca Escolar que a respeito de seu objetivo, indica que: “As orientações contidas neste documento foram produzidas para informar os decisores a nível nacional e local em todo o mundo e para dar apoio e orientação à comunidade das bibliotecas.” (IFLA, 2016, p. 15). O Manifesto IFLA (1999) aponta que o bibliotecário escolar é o profissional adequado para fazer o planejamento e a gestão de bibliotecas escolares, estando apoiado por uma equipe para atender a comunidade escolar. De acordo com as Diretrizes da IFLA a respeito da necessidade de bibliotecários em sua função dentro de Bibliotecas Escolares. Os serviços e atividades devem ser concebidos por um bibliotecário escolar qualificado, trabalhando em estreita cooperação com o diretor ou coordenador, com os coordenadores de departamento e outros especialistas de aprendizagem na escola, com os professores de sala de aula, com pessoal de apoio e com os alunos. Sem um bibliotecário escolar qualificado que selecione recursos educativos adequados e colabore com os professores para planear a aprendizagem com base nesses recursos, as melhorias no desempenho dos alunos, que a investigação relata, não são atingíveis. (IFLA, 2016, p 46). Sobre as atividades que o bibliotecário escolar deve difundir, as Diretrizes da IFLA para Biblioteca Escolar apontam a promoção da leitura, competência em informação, aprendizagem baseada em investigação, integração da tecnologia, formação de professores e valorização da literatura e cultura. Tomando a perspectiva antirracista dessas atividades, percebe-se como o ensino das Relações Étnico-Raciais é basilar para qualquer nação e ainda mais o Brasil, um país com grande diversidade étnica e cultural em sua formação, especialmente na atividade principal que é a educação pelo incentivo à leitura, como indicam as Diretrizes, As atividades de literacia, de incentivo à leitura e fruição de media envolvem vertentes cognitivas e socioculturais de aprendizagem. Devem ser feitos esforços 38 para garantir que a coleção da biblioteca escolar inclua materiais escritos e criados local e internacionalmente e que reflitam as identidades nacionais, culturais e étnicas dos membros da comunidade escolar. O bibliotecário escolar deve assumir a liderança no sentido de garantir que os alunos tenham oportunidades, em sala de aula, bem como na biblioteca, para a leitura de materiais que eles próprios selecionam e para discutir e partilhar com outros o que estão a ler. (IFLA, 2016, p.47). Tendo em mente que a Lei 12.244 de 24 de maio de 2010, que dispõe sobre a Universalização das bibliotecas escolares, sanciona a obrigatoriedade de existência de bibliotecas nas instituições de Educação Básica, sejam elas particulares ou públicas, é uma propulsora no reconhecimento da profissão do bibliotecário escolar, ainda assim não é o que se observa nas instituições de ensino da cidade de Natal, onde as bibliotecas da rede Municipal não tem bibliotecários formados registrados, como foi constatado no decorrer desta pesquisa quando entramos em contato com a Secretaria de Educação em 03 de Fevereiro de 2022. Apesar de ter sido instaurada em 2010 a data limite para que o Brasil se adequasse à Lei foi até o ano de 2020, porém durante essa década indicada, a instabilidade política e ideológica do Brasil pôs em risco a priorização da Educação influenciando o resultado da situação atual. A referida Lei indica, Art. 1o As instituições de ensino públicas e privadas de todos os sistemas de ensino do País contarão com bibliotecas, nos termos desta Lei. Art. 2o Para os fins desta Lei, considera-se biblioteca escolar a coleção de livros, materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados a consulta, pesquisa, estudo ou leitura. Parágrafo único. Será obrigatório um acervo de livros na biblioteca de, no mínimo, um título para cada aluno matriculado, cabendo ao respectivo sistema de ensino determinar a ampliação deste acervo conforme sua realidade, bem como divulgar orientações de guarda, preservação, organização e funcionamento das bibliotecas escolares. Art. 3o Os sistemas de ensino do País deverão desenvolver esforços progressivos para que a universalização das bibliotecas escolares, nos termos previstos nesta Lei, seja efetivada num prazo máximo de dez anos, respeitada a profissão de Bibliotecário, disciplinada pelas Leis nos 4.084, de 30 de junho de 1962, e 9.674, de 25 de junho de 1998. Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (BRASIL, 2010). Pensando na combinação da obrigatoriedade da biblioteca escolar pela Lei 12.244/10, com a obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena como
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