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O DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS SOB O ASPECTO SUSTENTÁVEL: O CASO DO ROBÔ AMBIENTAL HÍBRIDO, PROJETADO PARA ATUAR EM ÁREAS DE VÁRZEA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA Mara Telles Salles (UFF) mara@labceo.uff.br Jaqueline Colares Viegas (UFF) jaqueviegas@hotmail.com Ney Robinson Salvi dos Reis (UFF) salvireis@petrobras.com.br A busca cada vez mais intensa por novas fontes de energia, bem como a disponibilização e uso eficiente daquelas já existentes exige estratégia. No Brasil, sociedade, governo, indústria e academia unem esforços para buscar novas soluções parra um país mais sustentável, numa visão de médio e longo prazo. O presente artigo tem como objetivo apresentar uma contribuição para uma metodologia de desenvolvimento de produtos sustentáveis. O trabalho se desenvolve tomando como base a metodologia para projeto de produtos industriais proposta por Eppinger e Ulrick, inserindo as diretrizes propostas por Manzini e Vezzoli para produtos sustentáveis, com isso, montando uma nova proposta de metodologia para projeto de produtos sustentáveis. Para validar a nova proposta é feito o acompanhamento do caso do Robô Ambiental Híbrido, criado para atuar em áreas de várzea na Amazônia brasileira sem causar impacto ambiental significativo, sob a ótica dos conceitos contidos na nova metodologia. E os resultados alcançados satisfazem, na medida em que se consegue fazer a correspondência do desenvolvimento do estudo de caso, nas suas várias fases, com as fases e ações propostas pela metodologia. Palavras-chaves: Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis, Sustentabilidade, Amazônia XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 2 1 Introdução O conceito de sustentabilidade tem se tornado cada vez mais relevante na sociedade, nas políticas públicas, nos governos, na indústria, na economia e, sobretudo nas ONGs que abordam as questões sociais, ambientais e econômicas e nas instituições de ensino e pesquisa. A crescente preocupação com a preservação do Planeta e dos seus recursos naturais tem como principais motivos as mudanças climáticas e a escassez de recursos. Segundo Manzini e Vezzoli (2008), ao considerar as mudanças climáticas como um quadro problemático no qual se encontra o planeta Terra, o conceito de sustentabilidade ambiental refere-se à não interferência das atividades humanas nos ciclos naturais para proteger as gerações futuras e o capital natural. O termo Triple Bottom Line, criado nos anos 1990 por John Elkington, fundador da SustainAbility (LAVILLE, 2009), apresenta uma abordagem aos modelos de gestão de uma empresa baseados no tripé da sustentabilidade relacionando os fatores sociais, econômicos e ambientais. Assim uma organização pode crescer de forma sustentável. Quando se trata de preservação do meio ambiente em território brasileiro, logo se pensa em uma fonte de riqueza natural que é a Amazônia brasileira. Considerando que a Região Amazônica é definitivamente parte do cotidiano de todo o planeta, a Amazônia deve ser tratada como um tema referente às questões ambientais bem como às questões estratégicas (REIS, 2010). As tecnologias devem surgir para reduzir ao máximo o impacto ambiental das atividades humanas na Amazônia brasileira, cada vez mais frequentes em territórios antes desconhecidos. Em função deste cenário e para reforçar a tendência de se agir de maneira mais sustentável, o INPI irá iniciar um programa piloto de patentes verdes para tecnologias limpas e com o tempo de concessão reduzido para menos de dois anos, segundo o site da Revista Sustentabilidade – Inovação para uma economia verde. Essa iniciativa incentiva a pesquisa por tecnologias mais limpas e também a proteção do conteúdo técnico para que estas tecnologias tenham valor no mercado. 2 Revisão da Literatura 2.1 A Sustentabilidade no Projeto de Produto A expressão “desenvolvimento sustentável” teve a sua formalização no Relatório Brundtland – Nosso Futuro Comum em 1987 pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ZYLBERSZTAJN E LINS, 2010). Para Pinto-Coelho (2009) um marco para o crescimento da consciência ambiental é o documento Agenda 21 na Eco92, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro. Segundo o site RIO+20 – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, o evento Rio+20 será realizado de 13 a 20 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, marcando os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e tem como objetivo a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 3 De acordo com Manzini e Vezzoli (2008) para propor novas soluções sustentáveis em produtos e serviços, as novas combinações entre a demanda e a oferta de produtos e serviços estão relacionadas com a dimensão técnica e a dimensão sociocultural da inovação. Para eles a mudança cultural e a mudança tecnológica foram fatores significativos para deixar mais clara a discussão sobre soluções sustentáveis (e não sustentáveis) em produtos inovadores e já existentes no mercado. Manzini e Vezzoli (2008) sugerem uma série de indicações no projeto de um produto sustentável, dentre as quais: facilitar reutilização intensificar uso usar materiais e processos de baixo impacto usar fontes energéticas com baixo impacto minimizar conteúdo de material minimizar perdas e refugos minimizar energia na produção do produto minimizar embalagens minimizar consumos do transporte minimizar consumo de recursos durante o uso minimizar e facilitar movimentos e operações de desmontagem e separação usar sistemas de junções reversíveis prever tecnologias específicas e formas especiais para desmontagem destrutiva adotar a reciclagem em efeito cascata facilitar coleta e transporte após o uso minimizar número de materiais incompatíveis entre si facilitar limpeza 2.2 O Desenvolvimento de Produtos e os Conceitos Atuais de Sustentabilidade A metodologia de desenvolvimento de produtos proposta por Ulrich e Eppinger (2007) e aplicada no MIT - (Massachusetts Institute of Technology) é composta por etapas que dão suporte ao desenvolvimento de projeto de produtos industriais. Esta será a metodologia na qual este trabalho propõe adaptações. Um breve resumo das etapas é apresentado na Tabela 1. Os conceitos atuais de sustentabilidade, que podem ser relacionados ao desenvolvimento de produtos têm como representantes créditos de carbono, indicadores de sustentabilidade, ciclo de vida dos produtos, logística reversa, reciclagem, coleta seletiva, políticas ambientais e certificações ambientais. Lombardi (2008) afirma que desde que os temas relacionados ao aquecimento global e sustentabilidade tornaram-se relevantes e obrigatórios nos grandes centros empresariais e financeiros, também é crescente a preocupação com o estado e o futuro das empresas. Quanto aos créditos de carbono, refere-se a uma redução nas emissões de carbono na atmosfera. Segundo Bellen (2006), o objetivo dos indicadores é agregar e quantificar informações de forma mais simplificada para melhorar o processo de comunicação. AAnálise do Ciclo de Vida (ACV) é uma ferramenta que considera o impacto ambiental associado ao ciclo de vida do produto, ou seja, desde a extração de matérias-primas utilizadas na produção até o descarte do produto (CHEHEBE, 1997). Leite (2009) comenta que os primeiros estudos sobre logística reversa se iniciaram nas décadas de 1970 e 1980 relacionando o retorno de bens a serem processados em reciclagem de materiais, denominados e analisados como canais de distribuição reversos e que a partir da década de 1990, o tema tornou-se mais visível no cenário empresarial. A reciclagem é uma forma de economizar energia e poupar recursos, e também na geração de menos lixo (PINTO-COELHO, 2009). A coleta seletiva é um sistema de recolhimento de materiais que podem ser reciclados como papéis, plásticos, vidros, metais e orgânicos define Pinto-Coelho (2009) e que estes materiais devem ser previamente separados na fonte geradora para que sejam vendidos às indústrias de reciclagem e aos sucateiros. O relacionamento entre Governo, Indústria e Consumidores está baseado no claro entendimento dos papéis de cada um e de suas responsabilidades afirma Chehebe (2002) e que o governo deve ajudar a estabelecer limites e regular quando necessário. Moreira (2006) comenta que a série de normas ISO 14000 refere-se à série de normas ambientais e que, desde a sua origem, buscou afinidades com a série da Qualidade, integrando os conceitos de Qualidade e Meio Ambiente. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 6 Etapas de Desenvolvimento de Produtos Metodologia Processos de Desenvolvimento e Organizações Apresenta o processo de desenvolvimento de produtos de forma geral e mostra como as variáveis deste processo são utilizadas em diferentes situações industriais. Discute a forma como os indivíduos estão organizados em grupos, a fim de empreender projetos de desenvolvimento de produtos Planejamento do Produto Apresenta um método para decidir quais os produtos a desenvolver. Como resultado deste método é o planejamento e a declaração de missão para um projeto particular Identificação das Necessidades do Consumidor A identificação das necessidades do cliente é uma parte integrante da fase do processo de desenvolvimento do conceito do produto. As necessidades do cliente resultantes são utilizadas para orientar a equipe a estabelecer as especificações do produto gerando conceitos de produtos e selecionando um conceito de produto para o desenvolvimento Gerenciamento de Projeto de Desenvolvimento de Produto Apresenta alguns conceitos fundamentais para a compreensão e representação das tarefas do projeto de interação, juntamente com um método para planejamento e execução do desenvolvimento de um projeto Especificações do Produto As necessidades dos clientes são geralmente expressas na "língua do cliente". A fim de fornecer orientações específicas sobre como design e engenharia de um produto, as equipes de desenvolvimento estabelecem um conjunto de especificações para expor em detalhes precisos e mensuráveis que o produto tem que fazer para ser bem sucedido comercialmente. As especificações devem refletir as necessidades do cliente, diferenciar o produto a partir dos produtos competitivos e ser tecnicamente e economicamente realizável Geração de Conceitos O conceito do produto é uma descrição aproximada da tecnologia, os princípios de trabalho e a forma do produto. O grau em que um produto satisfaz os clientes e pode ser comercializado com sucesso depende em grande medida da qualidade do conceito Seleção de Conceitos A seleção de conceitos é o processo de avaliação de conceitos com respeito às necessidades dos clientes e outros critérios, comparando os pontos fortes e fracos dos conceitos e selecionando um ou mais conceitos para posterior investigação ou desenvolvimento Teste do Conceito O teste do conceito solicita uma resposta direta a uma descrição do conceito do produto de clientes potenciais no mercado-alvo. O teste de conceito é distinto da seleção de conceitos em que se baseia em dados recolhidos diretamente de potenciais clientes e se baseia em um grau menor pela equipe de desenvolvimento Arquitetura do Produto Discute as implicações da arquitetura do produto sobre a mudança do produto, variedade de produtos, a padronização de componentes, o desempenho do produto, custo de fabricação e gerenciamento de projetos que em seguida apresenta um método para estabelecer a arquitetura de um produto Desenho Industrial Discute o papel do designer industrial e como questões humanas de interação, incluindo estética e ergonomia, são tratadas no desenvolvimento do produto Projeto para Manufatura Discute técnicas usadas para reduzir custo de produção. Estas técnicas são principalmente aplicadas durante as fases do processo do nível de sistema e do projeto detalhado Prototipagem Apresenta um método para assegurar que os esforços de criação de protótipos são aplicados de forma eficaz Projeto Robusto Explica métodos para a escolha de valores das variáveis de projeto para assegurar desempenho confiável e consistente Economia para o Desenvolvimento de Produtos Descreve um método para a compreensão da influência dos fatores internos e externos sobre o valor econômico de um projeto Projeto de Patente Apresenta uma abordagem para criar um pedido de patente e discute o papel da propriedade intelectual no desenvolvimento de produtos XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 7 Tabela 1: As etapas da metodologia de desenvolvimento de produtos Fonte: Adaptada de Ulrich e Eppinger (2007) 2.3 As Áreas de Várzea na Amazônia Brasileira Há algum tempo, a Região Amazônica passou, definitivamente, a fazer parte do cotidiano de todo o planeta e tal tema nos leva, cada dia mais, às questões ambientais, bem como às questões estratégicas. Além disso, é crucial que os brasileiros a conheçam em detalhe, a fim de que seja possível traçar e aplicar estratégias eficientes, assim como propor políticas públicas adequadas às suas especificidades. Sobre a questão do território regional da Amazônia segundo Becker (2004), é apresentada na citação abaixo. “No caso da Amazônia, perduram imagens obsoletas sobre sua realidade, verdadeiros mitos que dificultam a tomada de decisão nas políticas públicas, complicadas também por fortes conflitos de interesses quanto ao uso do território regional.” A problemática das áreas de várzea na Amazônia brasileira refere-se às dificuldades de acesso, mobilidade e locomoção em grande parte das áreas alagadas e/ou alagáveis de Florestas Úmidas Tropicais. Assim como os componentes naturais das áreas inundáveis, as populações locais devem adotar estratégias de adaptação entre as fases aquáticas e terrestres. A malha hídrica apresenta ciclos de cheia, vazante, seca e enchente, característicos da Região Amazônica (REIS, 2010). Considerando não só os efeitos das mudanças climáticas, a existência nas várzeas dos rios de extensos tapetes de vegetação flutuante (macrófitas aquáticas), conforme Figura 1, podem interromper os barcos a remo ou a motor (CARRIL apud REIS, 2010). Figura 1: Tipo de vegetação flutuante que cobre a superfície da água dos rios Fonte: Reis (2010) 2.4 A Robótica e o Meio Ambiente Sempre que a sociedade se defronta com situações onde o ambiente pode ser classificado como hostil à presençado ser humano, são desenvolvidos artefatos com o intuito de aumentar a capacidade adaptativa do homem a este cenário. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 8 A robótica é um dos ramos da tecnologia que lida preferencialmente com sistemas compostos por máquinas e partes mecânicas automáticas e controlados por dispositivos mecânicos e/ou circuitos integrados (micro-processadores). Como produtos, são obtidos sistemas mecânicos motorizados, controlados manual ou automaticamente por circuitos elétricos, por computadores ou tele-operados. Na prática, um robô é um dispositivo autônomo ou semi-autônomo que realiza trabalhos sob comando humano. Além de ser usado como redutor de custos pela indústria, a grande vocação dos robôs é para a realização de tarefas em locais inóspitos ou impróprios à presença do ser humano. Locais mal iluminados, ruidosos, poluídos ou contaminados quimicamente, ambientes radioativos, hiper ou hipobáricos, todos são candidatos ao uso de tais sistemas. A Robótica tem um grande potencial como ferramenta multi e transdisciplinar, pois pode religar fronteiras anteriormente estabelecidas entre várias disciplinas. Independente de suas origens, a robótica está se tornando mais conhecida, mas ainda hoje, o termo é utilizado sem que haja um consenso no âmbito mundial sobre o seu real significado. Essas tecnologias podem e devem se somar aos estudos e conhecimentos já conseguidos no campo da biomimética, que é a ciência que relaciona a robótica e a biologia com o objetivo de estudar as estruturas biológicas e suas funções, para que, junto com a tecnologia possa desenvolver protótipos com características e movimentos de elementos da natureza. A busca em emprestar da natureza algumas características é um enorme passo. A junção da robótica com a biomimética para propor algo que lide em cenários de várzea pode ser mais eficiente e sustentável (REIS, 2010). 3 Metodologia de Pesquisa O presente estudo tem um formato metodológico pois, segundo Vergara (2010) a pesquisa metodológica caracteriza-se como um instrumento para avaliar a forma de atingir um determinado objetivo. O trabalho se desenvolve a partir da análise da metodologia de desenvolvimento de produtos proposta por Ulrich e Eppinger (2007) onde, através de análise, são inseridas contribuições sustentáveis a cada etapa da metodologia com base nos conceitos de Produtos Sustentáveis (MANZINI E VEZZOLI, 2008). Daí resulta uma nova proposta de metodologia de projeto de produtos. A fim de verificar se essa análise é aplicável, é apresentado um estudo de caso sobre o desenvolvimento de um produto que tem como conceito a sustentabilidade. O estudo de caso refere-se ao desenvolvimento do Robô Ambiental Híbrido, desenvolvido em uma empresa petrolífera para atuar em áreas de várzea da Amazônia brasileira. 4 A Sustentabilidade e o Desenvolvimento de Produtos De acordo com a metodologia, já apresentada, aplicada no MIT no desenvolvimento de produtos, as quinze etapas que devem ser consideradas em projeto de produtos foram divididas em macro etapas (Figura 2) de forma adaptada para inserir inicialmente os aspectos sustentáveis (Figura 3) que podem ser atribuídos para cada macro etapa. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 9 Figura 2: As etapas da metodologia de desenvolvimento de produtos Fonte: Adaptada de Ulrich e Eppinger (2007) A macro etapa planejamento corresponde à fase inicial do projeto para o processo de criação do produto. Em seguida, a macro etapa apresentada é o desenvolvimento do conceito que considera a identificação das necessidades do consumidor e do mercado alvo, alinhando as expectativas dos consumidores e da empresa. A próxima macro etapa a ser considerada é o planejamento do sistema que avalia o sistema de módulos do produto em subprodutos e componentes e, também, o design do produto. Esta macro etapa representa o layout geométrico do produto e a especificação funcional. A macro etapa projeto detalhado refere-se à análise da disposição dos recursos e o processo produtivo. O teste e refinamento corresponde à construção de protótipos para testar e avaliar o desempenho do produto. A análise financeira e aspectos legais é a macro etapa que avalia a viabilidade econômica do projeto (que agora já leva em conta a economia sustentável), o direito do consumidor e da sociedade e, por último, o direito de propriedade industrial (das características técnicas do produto). Processos de Desenvolvimento e Organizações Planejamento do Produto Identificação das Necessidades do Consumidor Gerenciamento de Projeto de Desenvolvimento de Produto Especificações do Produto Geração de Conceitos Seleção de Conceitos Teste do Conceito Arquitetura do Produto Desenho Industrial Projeto para Manufatura Prototipagem Projeto Robusto Economia para o Desenvolvimento de Produtos Projeto de Patente Planejamento Desenvolvimento do Conceito Planejamento do Sistema Projeto Detalhado Teste e Refinamento Análise Financeira e Aspectos Legais Legais XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 10 Figura 3: As macro etapas da metodologia de desenvolvimento de produtos sob o aspecto sustentável XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 11 Fonte: Adaptada de Viegas (2011) 5 Estudo de Caso: O Desenvolvimento do Robô Ambiental Híbrido em Áreas de Várzea na Amazônia Brasileira As jazidas de gás natural e óleo leve descobertas no interior da Floresta Amazônica nas décadas de 70 e 80 trazem uma questão: como colocar tão nobre recurso natural à disposição dos centros consumidores de modo eficiente, econômico e sustentável, garantindo, ao mesmo tempo a confiabilidade e segurança das operações e instalações industriais necessariamente situadas em áreas alagadas de vegetação densa? Como resposta uma complexa malha de dutos foi indicada como solução para transportar o gás natural produzido no município de Urucu-AM que apresenta inegáveis vantagens se comparado ao diesel, atualmente usado como base da matriz energética da cidade de Manaus e seu entorno. Diante disso, novas questões passam a ser consideradas para atender operacional e ambientalmente as faixas de influências desta malha que atualmente conta com 800 km de dutos. Tais questionamentos incitam oportunidades de desenvolvimento em várias áreas tecnológicas, mormente no que se refere à mobilidade e acessibilidade em tal região. Se faz necessário o exame e a proposta um novo conceito de locomoção (de pessoas, equipamentos e mercadorias), em locais de dificílimo acesso e condições inóspitas. Um veículo com ênfase ambiental que, desde as primeiras especificações, seja concebido para tais cenários e propicie aos responsáveis mantenedores de tal empreendimento condições de mobilidade e acessibilidade sustentáveis em regiões sensíveis da várzea amazônica. O Robô Ambiental Híbrido surgiu a partir da visita de um integrante da equipe do Laboratório de Robótica do CENPES na Amazônia, o Eng Ney Robinson dos Reis, para conhecer oProjeto do Gasoduto Coari-Manaus da Petrobras. Os primeiros desenhos e esboços do Robô Ambiental Híbrido tiveram grande importância na concepção do produto, pois se basearam na propriedade da flutuação de um inseto típico local (imitação da natureza). A proposta do Projeto de desenvolvimento do Robô Ambiental Híbrido tem como base um novo conceito de veículo como alternativa de locomoção com condições de mobilidade e acessibilidade sustentáveis em regiões da várzea amazônica. Por sua capacidade de locomoção em lugares onde pesquisadores não conseguem chegar com embarcações simples, o Robô Ambiental Híbrido pode agregar muitas funções como é o caso da coleta de parâmetros da água em tempo real e a coleta de espécies e o recurso da visão com câmeras acopladas proporcionando o conhecimento de uma Amazônia ainda desconhecida. A criação do Robô Ambiental Híbrido contribuiu para o trabalho de conhecimento da região Amazônica durante a construção do gasoduto (Figura 4). XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 12 Figura 4: Robô Ambiental Híbrido em atuação Fonte: Reis (2010) A equipe de trabalho verificou também que os membros participantes do Projeto do gasoduto deveriam aprender com a comunidade ribeirinha. A população, mesmo com condições precárias de qualidade de vida, desenvolveu, ao longo do tempo, estratégias de locomoção e moradia em áreas de várzea. O levantamento das informações junto à comunidade ribeirinha e a experiência de conhecer algumas regiões da Amazônia brasileira por parte do Projeto do gasoduto proporcionaram a vontade de desenvolver um veículo que pudesse ir até onde o homem não conseguia chegar sem impactar o meio ambiente. O Robô Ambiental Híbrido é um robô por ser tele-operado, ambiental por impactar o menos possível o meio ambiente e híbrido por atuar em áreas de várzea com características de cheia e seca dos rios onde é possível flutuar e andar em terra firme, a possibilidade de ser um veículo tele-operado ou dirigido e pelos diversos tipos de energia que podem alimentá-lo. 6 Resultados Com base na metodologia de desenvolvimento de produtos proposta por Ulrich e Eppinger (2007), o estudo de conceitos atuais que abordam a sustentabilidade nos Produtos (MANZINI E VEZZOLI, 2008), o resultado da análise referente ao projeto de produtos sustentáveis apresenta alguns exemplos de atribuições sustentáveis às etapas da metodologia de desenvolvimento de produtos como uma contribuição para a proposta de uma metodologia de desenvolvimento de produtos sustentáveis (Figura 5). O conceito da biomimética foi usado quando se estabeleceu que o mesmo deveria ter um sistema de suspensão com capacidade de atingir ângulos diversos que fossem compatíveis com os movimentos necessários para o deslocamento em áreas alagadas ou de terra firme sem danificar a vegetação local, semelhante aos movimentos observados nos insetos patinadores. Considerando que a Amazônia brasileira é conhecida por suas características naturais, desenvolver um produto para atuar em áreas desconhecidas visando à preocupação da preservação ambiental e o conceito da sustentabilidade proporciona como vantagem a redução dos impactos ambientais e a possibilidade de deslocamento de difícil acesso para estudos da biodiversidade natural. Porém, como desvantagem apresenta de forma contraditória o avanço em áreas desconhecidas o que de fato pode causar impacto ambiental. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 13 O estudo de metodologias voltadas para o desenvolvimento de produtos sustentáveis contribui para direcionar o projeto para a perspectiva da sustentabilidade. Os requisitos ambientais, sociais e econômicos relacionados ao desenvolvimento de produtos contribuem para a geração de conceito sustentável e proporcionando na fase projetual o nascedouro do conceito de produto sustentável. Como pode ser notado na figura 5, em todas as etapas propostas no modelo, o Robô apresentou correspondência de aspectos sustentáveis compatíveis com os propostos na nova metodologia. Figura 5: Algumas atribuições sustentáveis às etapas da metodologia de desenvolvimento de produtos Fonte: Viegas (2011) 7 Conclusão O desenvolvimento de produtos sob o enfoque da sustentabilidade pode ser considerado uma forma de repensar o conceito do produto e seus processos produtivos. Trata-se de uma mudança cultural e tecnológica. Processos de Desenvolvimento e Organizações Planejamento do Produto Identificação das Necessidades do Consumidor Gerenciamento de Projeto de Desenvolvimento de Produto Especificações do Produto Geração de Conceitos Seleção de Conceitos Teste do Conceito Arquitetura do Produto Desenho Industrial Projeto para Manufatura Prototipagem Projeto Robusto Economia para o Desenvolvimento de Produtos Projeto de Patente Sistema de Gestão Ambiental Análise do Ciclo de Vida do Produto Educação Ambiental Aspectos e Impactos Ambientais Vida Útil dos Materiais Conceito Sustentável Análise de Risco Ambiental Indicadores de Sustentabilidade Montagem e Desmontagem Ecodesign Recursos e Processos Sustentáveis Prototipagem Virtual Desempenho Ambiental Economia Verde Inovações Sustentáveis XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 14 A metodologia proposta se mostrou eficiente neste estágio de desenvolvimento. É, portanto possível e desejável que se implemente melhorias a ela e investimento também no estudo de outras, pois o mundo demanda contribuições urgentes nesta área. O papel das empresas e das indústrias é produzir produtos que possam reduzir ao máximo os impactos ambientais e sociais, com o pensamento de manter a economia atual, mas protegendo as gerações futuras. O grande desafio dos projetistas de produtos é proporcionar formas que possam contribuir para a redução do impacto sócio-ambiental e a preservação do meio ambiente, e isso foi o que se pode observar ao estudar o caso do Robô Ambiental Híbrido, cujo projetista, mesmo não tendo tido contato com a metodologia, aplicou todos os princípios aqui preconizados. 8 Referências BECKER, Berta K. Amazônia: Geopolítica na Virada do III Milênio. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. BELLEN, H. M. van. Indicadores de Sustentabilidade – Uma Análise Comparativa. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. CHEHEBE, J. R. B. 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