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TÉCNICA DE NECROPSIA PARA RUMINANTES 1. Estude o histórico clínico e considere todas as possibilidades de diagnóstico antes de começar a necropsia. Dados de anamnese também são importantes, por exemplo, idade, sexo, raça. Algumas doenças atingem preferencialmente certas faixas etárias, raças, etc. (Quando possível colha históricos detalhados junto ao proprietário). 2. Cuidadosamente examine o cadáver para detecção de eventuais lesões externas e parasitas. Examine a coloração das mucosas e as aberturas naturais. Vire animal de modo a examinar ambos os lados. 3. Ruminantes devem ser colocados em decúbito lateral esquerdo, se possível com o dorso em posição mais alta que o ventre. Essa posição permite a remoção das vísceras abdominais menores sem envolver os órgãos maiores de posição mais baixas. 4. Em seguida, incida a pele seguindo a linha média desde o mento até o ânus. Corte ao redor do prepúcio ou glândula mamária. Use a faca de dentro para fora da pele. Rebata dorsalmente a pele e os membros do lado direito. Desarticule o membro posterior direito ao nível da articulação coxofemoral. Ao terminar essa operação, os dois membros do lado direito ficarão numa posição acima e em ângulo reto com o dorso da carcaça. Abra o abdome e examine-o com atenção particular ao fígado, pró-ventrículos e diafragma antes de cortar as costelas 5. Faça uma incisão entre as costelas para verificar se há pressão negativa no tórax. Se há, o que é o normal, ouvir-se-á o som característico (sibilo) do ar entrando na cavidade torácica. Com um podador do tipo usado para podarem-se galhos de árvores, corte as costelas no sentido caudo- cranial, começando à altura do diafragma, logo abaixo (ventral) dos grandes músculos do dorso e indo em direção à cabeça. 6. Após incidir levemente as articulações costocondrais no seu aspecto medial, isto é, na sua superfície que dá para o interior da cavidade torácica, rebata ventralmente as costelas e a parte da parede abdominal direita até que as articulações costo-condrais se rompam. A carcaça fica então com toda a parede do lado direito aberta e numa posição estável. 7. Examine as cavidades abdominal e torácica, observando possíveis anormalidades. É aconselhável, a essa altura, a colheita de material para cultura bacteriológica ou virológica, uma vez que as manipulações que serão feitas no cadáver desse ponto em diante irão contaminar os órgãos, tornando-os inadequados para cultura. À medida que a necropsia se desenvolve, fragmentos de órgãos poderão ir sendo colhidos para exame histopatológico (ver local que trata especificamente da colheita de material para histopatologia). 8. Remova o omento após cortá-lo rente às suas inserções visíveis. 9. Palpe entre o retículo e diafragma para verificar aderências ou corpos estranhos penetrantes nessa região. As retículo-peritonites ou retículo-pericardites traumáticas são comuns em bovinos, e esse é o momento indicado da necropsia para certificar-se da presença ou não dessas alterações. Em caso de necropsia de fêmeas, a glândula mamária e os linfonodos supramamários devem ser retirados e examinados nesse ponto. 10. Remova a adrenal direita que fica numa posição adjacente e posterior ao fígado e anterior ao rim direito. Destaque o rim e a gordura perirrenal e rebata-os em direção à parte posterior do animal. A artéria e veia renais que ficam numa posição ântero-medial ao rim são seccionadas nesse processo. O ureter deve permanecer intacto e ligado ao rim e ser dissecado até sua entrada 2 na bexiga. O aparelho urinário será então examinado posteriormente como um todo. 11. Seccione o duodeno em cada lado da entrada do colédoco, de maneira que alguns centímetros da víscera fiquem ligados ao fígado. Com uma tesoura, abra esse segmento de duodeno e pressionando a vesícula, teste a permeabilidade do colédoco. Examine o pâncreas que fica numa posição póstero-dorsal à mesma área. 12. Seccione o cólon à altura da abertura pélvica. Então, à medida que a ponta seccionada é tracionada ventralmente, corte as suas inserções com o mesentério. Em seguida, segure toda a massa de alças intestinais, puxe-as ântero-ventralmente e seccione suas ligações com o mesentério tão dorsalmente quando possível. Remova a totalidade dos intestinos como um monobloco. 13. Destaque o mesentério do intestino delgado, cortando-o rente a sua linha de inserção de maneira que o intestino possa ser estendido numa linha em ziguezague. Após, com o enterótomo ou uma tesoura, abra alternadamente segmentos dessas alças intestinais. O cólon espiral pode ser desenrolado em alças duplas começando na sua parte central. Uma técnica alternativa é a abertura do cólon espiral in situ. Dá-se preferência à técnica anterior. 14. Remova a adrenal esquerda, rim esquerdo e ureter. O ureter deve ser dissecado até a sua inserção na bexiga, permanecendo ligado a esta e ao rim. 15. Remova rúmen, retículo, omaso, abomaso e baço como um único bloco. Esse processo pode ser facilitado por uma forte tração ântero-ventral, realizada por um auxiliar, enquanto outra pessoa corta o esôfago e as inserções dorsais desses órgãos. Após a remoção desse monobloco, destaque o baço do rúmen e examine-o cuidadosamente. 16 - Seccione a junção retículo-omasal, separando o omaso e abomaso do rúmen e do retículo. Começando da parte posterior, incida o rúmen e retículo na linha dorsal média. Examine e remova o conteúdo de ambos. Lave a mucosa do rúmen usando água corrente fria. Examine a mucosa ruminal e do retículo. Remova o omento e incida o abomaso ao longo de sua curvatura menor. Estenda o corte através do sulco omasal. Examine o conteúdo, lave e examine a de ambos os órgãos (omaso e abomaso). 17 - Remova juntos diafragma, fígado, (que está ligado ao diafragma) e remanescentes da veia cava posterior. Isso se consegue facilmente se as vísceras da cavidade torácica já tiverem sido removidas; caso contrário, as estruturas que atravessam o diafragma, aorta, esôfago e veia cava devem ser seccionadas primeiro. 18. Separe a pelve na sínfise pubiana. Após, usando uma serra, seccione o lado direito dos ossos púbis e ísquio. Remova a parte direita da pelve que acaba de ser serrada. Remova, como um mono bloco, o reto, a genitália e a bexiga. Após separar o reto e o ânus da genitália, abra todas as outras estruturas removidas e examine-as. Em casos de machos, remova em seguida o prepúcio, pênis e testículos e examine-os. 19. Após dissecar as ligações da língua à mandíbula, rebata-a no sentido posterior. (A separação da sínfise mandibular ajuda nessa operação e é essencial quando a necropsia for realizada em solípedes). Usando uma faca ou costótomo, desarticule o hioide na articulação da haste média com a haste menor após dissecar língua. Disseque então a laringe, a traqueia e o esôfago até a entrada da cavidade torácica. Levante o esôfago e a traqueia e vá dissecando a parte do mediastino dorsal à aorta e a inserção do pericárdio ao esterno (evite perfurar o saco pericárdico). Seccione esôfago, aorta e veia cava anteriormente ao diafragma e então remova os pulmões com o coração, 3 grandes vasos, esôfago, traqueia, língua, etc. tudo como um monobloco. 20. Coloque esse monobloco numa mesa com a língua voltada para o lado direito. Palpe os pulmões profunda e cuidadosamente a fim de detectar lesões não visíveis à inspeção da superfície do órgão. a. Abra o esôfago longitudinalmente, examine sua mucosa e então o destaque do mono bloco. b. Examine as glândulas tireoides. c. Examine a superfície natural e a superfície de corte de todos os linfonodos. d. Abra a laringe e a traqueia. Em seguida, separe os pulmões esquerdo e direito do coração e do mediastino. Abra as veias pulmonares, artérias pulmonares e brônquios principais. e. Incida, examine e remova o pericárdio parietal, verificando as características do líquido do saco pericárdico. f. Examineo coração e aorta. Ao abrir o coração, use técnica descrita à página 27. 21. Disseque a pele da cabeça e remova os músculos dessa região. Após, desarticule a cabeça na articulação atlanto-occipital. 22. Remova o encéfalo usando a técnica descrita à página 32. 23. Músculos, ossos e articulações sao após a remoção da pele e dissecção cuidadosa da parte a ser examinada. 24. Terminada a necropsia, coloque todos os órgãos e restos da carcaça de volta na cavidade do animal. Ponha a parede e membros do lado direito da carcaça de volta em sua posição. Em casos de necropsia feita no campo, algumas pessoas recomendam que a incisão original da linha média seja costurada com fio muito forte ou arame. 25. Registre todos os achados de necropsia por escrito . TÉCNICA DE NECROPSIA PARA EQUINOS Inicialmente familiarize-se com a técnica de necropsia anteriormente descrita. A técnica para equinos aqui apresentada é resumida e pressupõe um conhecimento prévio da técnica para ruminantes. 1. Estude a história clínica e considere todos os diagnósticos possíveis. Observe a existência ou não de quaisquer pedidos especiais do clínico para exames mais detalhados de determinadas partes ou órgãos. Exemplo: na requisição de necropsia de um animal que apresentou cegueira antes da morte pode haver solicitação especial para o exame dos olhos. A não-observância desse item poderá levar o patologista a negligenciar essa parte. 2. Examine externamente o cadáver, virando-o de lado, de modo a examinar ambos os lados. Ao concluir-se esse procedimento, o animal deverá permanecer em decúbito lateral direito (isto é, com o lado esquerdo para cima) e, se possível, com o dorso mais elevado que o ventre. 3. Seguindo a linha média, faça uma incisão na pele desde o mento até o ânus, desviando o prepúcio DU mama pela parte superior desses. Rebata a pele e os membros esquerdos para cima (dorsalmente) desarticulando o fêmur do acetábulo. 4. Verifique se há pressão negativa na cavidade torácica fazendo um pequeno orifício entre as costelas. 5. Faça uma pequena abertura na cavidade peritoneal imediatamente abaixo da ponta da protuberância da cabeça do fêmur. Estenda cranialmente essa abertura até um na ponto última 4 costela imediatamente abaixo dos grandes músculos do dorso. Usando um podador de ramos de árvore, corte as costelas, iniciando pela última e indo até a primeira, usando um traçado imaginário imediatamente abaixo dos grandes músculos do dorso. Depois de cortar o diafragma rente a sua inserção na parede da carcaça e após cortar levemente as articulações costo-condrais no seu aspecto medial, as paredes da cavidade torácica e abdominal podem ser rebatidas ventralmente de uma só vez. Examine todas as vísceras in situ e observe se há exsudatos ou transudatos nas cavidades do corpo. Nesse ponto, considere a necessidade ou nao da coleta de material para cultura e/ou histopatologia. 6. Remova omento e baço, juntos. 7. Puxe a curvatura pélvica do cólon maior ventralmente, de maneira que a maior parte deste fique em ângulo reto com o corpo do animal. Rebata o cólon menor para a parte posterior do cadáver. Usando barbante grosso, ate-o duas vezes à altura das entradas na cavidade pélvica e no cólon transverso. Remova a parte do cólon menor e mesentério que ficam entre as duas ataduras. 8. Remova a adrenal e o rim esquerdos. Remova o rim com o ureter intacto. 9. Abra a aorta abdominal desde o tórax até sua bifurcação. Se necessário, limpe o sangue com toalhas de papel. Usando tesouras afiadas, abra a artéria mesentérica anterior e tantos dos seus ramos quantos sejam possíveis. Abra também os outros ramos da aorta. Depois da remoção do ceco e do cólon (ver a seguir), a abertura dos ramos da artéria mesentérica anterior deve ser completada procurando por lesões de arterite verminótica por Stronylus. vulgaris que é (pelo menos era, antigamente!) uma importante causa e cólica em cavalos. 10. Remova o intestino delgado com seu mesentério correspondente. Ate com barbante o piloro e a entrada ileocecal. O mesentério deve ser cortado rente a sua inserção para permitir que o intestino seja colocado numa linha em ziguezague antes de ser aberto com o enterótomo Um pequeno segmento de íleo e de duodeno são deixados ligados ao ceco e ao estômago, respectivamente. 11. Remova juntos o cólon maior, ceco, artéria mesentérica anterior com aproximadamente 15 cm da aorta de onde ela se origina. Nessa operação haverá muito sangue, uma vez que a veia cava posterior e a artéria aorta serão seccionadas. 12. Remova o estômago com o pequeno segmento de duodeno ainda ligado a ele. Isto é feito seccionando o esôfago na altura do cárdia e as ligações mesentéricas do estômago. 13. Remova a adrenal direita e o rim direito com o ureter a ele ligado. O rim direito está localizado num profundo chanfro do fígado. 14. Remova juntos o fígado, diafragma e a maior parte da veia cava posterior. 15. Após abrir a cavidade pélvica de acordo com o item 18 da técnica de necropsia para ruminantes, remova todas as vísceras da cavidade pélvica como um monobloco. Faça isso rebatendo todas as vísceras juntas no sentido posterior do cadáver, cortando os tecidos de suporte à medida que seja necessário. Separe o reto e o ânus das outras vísceras da cavidade pélvica e abra todas as estruturas. No caso de machos, remova em seguida o pênis e prepúcio, o saco escrotal e seus conteúdos e examine-os. Em caso de fêmeas, remova e examine a glândula mamária. 16. Remova a língua, faringe, laringe, traqueia, esôfago, coração e pulmões e examine-os de uma maneira similar àquela descrita no item 20 da técnica de necropsia para ruminantes. 17. Disseque a pele e músculos da cabeça e remova o cérebro, examinando-o a seguir. 5 18. Examine os músculos, ossos e articulações da maneira como é descrita no item 21 técnica de necropsia para ruminantes. 19. Após completar o exame de todos os órgãos, proceda como o descrito no item 24 da técnica de necropsia para ruminantes. 20 - Registre todos os achados de necropsia por escritos. TÉCNICA DE NECROPSIA PARA CARNÍVOROS 1. Estude o histórico clínico. Considere todos os possíveis diagnósticos; observe se existe alguma requisição especial por parte do clínico que encaminhou a necropsia. Veja o item 1 da técnica de necropsia para ruminantes 2. Faça o exame externo do cadáver em ambos os lados, observando toda e qualquer alteração, tais como incisões cirúrgicas, aumentos de volume, tumores, fraturas, parasitas e outras lesões. 3. Coloque o animal em decúbito dorsal com a cabeça voltada para o lado esquerdo da pessoa que vai fazer a necropsia. 4. Faça uma incisão longitudinal na linha média desde o mento até o ânus. Rebata, lateralmente, a pele e membros. Rebata a genitália masculina posteriormente. Desarticule ambas as articulações coxo-femorais. Quando essas operações são adequadamente realizadas, os membros ficam estendidos lateralmente e o cadáver numa posição estável, em decúbito dorsal. 5. Começando no púbis, faça duas incisões, uma de cada lado da parede abdominal, estendendo cada uma dessas incisões até a parte média dorso-ventral da última costela. Verifique a presença de pressão negativa na cavidade torácica por meio de uma pequena incisão no diafragma. Com costótomo ou podão, continue as incisões no sentido cranial, seccionando as costelas mais ou menos à altura da metade do comprimento dessas. Usando uma faca, remova a parte soltas da parede abdominal e o plastrão. 6. Examinar as vísceras abdominais e torácicas in situ. Nesse ponto, considere a necessidade de colher espécimes para cultura e/ou histopatologia. 7. Remova omento e baço, dissecando suas inserçoes. 8. Examine o aspecto dorsal e ventral do pâncreas. 9. Seccione.o reto à altura da entrada da cavidade pélvica; segurando-o firmemente, destaque o reto, ceco e intestino delgado, dissecando seusligamentos mesentéricos Seccione o duodeno junto ao pólo posterior do pâncreas. Abra o intestino ao longo de sua inserçao mesentéri ca, após terem sido desfeitas essas inserções. 10. Com o estômago ainda no lugar, abra a parte anterior do duodeno longitudinalmente e examine os locais onde o colédoco e o ducto pancreático entram no duodeno. Aplique pressão à vesícula biliar para verificar se os ductos biliares estão permeáveis. Caso estejam permeáveis, o que é o desejável, a bile fluirá facilmente pelo esfíncter de Oddi. 11. Seccione o esôfago na altura do cárdia. Seccione o mesentério gástrico e o ducto biliar (colédoco). Remova o estômago com o duodeno e pâncreas. Abra o estômago ao longo de sua curvatura maior. 12. Remova as adrenais e, em seguida, a gordura perirrenal e rins com ureteres. Em casos em que há suspeita de afecção do trato urinário, é aconselhável removê-lo como um mono bloco. Corte os rins longitudinalmente em duas partes iguais e retire a cápsula, usando uma pinça dente- 6 de-rato. 13. Remova juntos o fígado e parte do diafragma aderida ao fígado e veia cava posterior. 14. Remova a parte ventral da bacia após fazer cortes com um podão (de preferência) ou costótomo na parte anterior e posterior ao forâmen obturador. Abra a bexiga e a uretra em sua totalidade. Rebata todos os órgãos da cavidade pélvica posteriormente e remova-os. Separe o reto e o ânus dos outros órgãos. Abra a genitália e o reto. 15. Iniciando na língua, disseque, rebata posteriormente e remova, como um monobloco, a língua, laringe, traqueia, esôfago e vísceras da cavidade torácica. Proceda como foi descri to na técnica de necropsia para ruminantes nos i tens 19 e 20. 16. Disseque a pele e músculos da cabeça. e desfaça a articulação atlanto-occipital, removendo a cabeça. Remova o encéfalo. Abra todos os seios e a bula do ouvido médio. Examine os dentes. Remova a medula espinhal. conforme técnica à página 36. 17. Músculos, ossos e articulações são examinados após a remoção da pele que os recobre e da dissecção da parte a ser examinada. 18- Anote todos os achados da necropsia por escrito TÉCNICA DE NECROPSIA PARA SUÍNOS A técnica de necropsia do porco é semelhante àquela descrita para os carnívoros com as seguintes ou adições modificações ou adições: 1. Com o animal em decúbito ventral ou dorsal, serre o focinho transversalmente. Esse corte deve ser feito num ponto levemente posterior às comissuras da boca. Feito isso, examine os cornetos. 2. Remova o trato intestinal após seccionar o reto, esôfago e mesentério na sua inserção sublombar. Feito isso, separe o intestino delgado de seu mesentério; faça-o cortando ao longo da inserção mesentérica do intestino delgado. Desenrole o cólon espiral usando dissecção romba. Abra. todo o intestino, cortando ao longo de sua inserção mesentérica. EXAMES ESPECIAIS DE ÓRGÃOS Abertura do coração Como ocorre em outros órgãos o exame do coração, por ocasião da necropsia, pode variar, dependendo do processo patológico envolvido. Por exemplo, se há suspeita de anomalia congênita, deve-se deixar os pulmões ligados ao coração, pelo menos até que a presença ou ausência de drenagem venosa anormal seja estabelecida, o que se faz abrindo do os átrios e seguindo os vasos no sentido contrário ao fluxo. Da mesma forma, a abertura de uma cavidade cardíaca pode variar, dependendo do defeito ou anomalia específica suspeitada. Damos preferência ao método abaixo descrito par King et al.4 para exame rotineiro do coração e dos vasos de sua base após a remoção dos pulmões. Abra e remova o pericárdio anotando possíveis conteúdos anormais e o aspecto das superfícies epicárdica e pericárdica. Observe a configuração geral do coração especialmente o tamanho e forma relativa das câmaras cardíacas vis tas externamente. A flacidez ou firmeza aparentes do miocárdio podem estar relacionadas com o grau de sístole por ocasião da morte ou com alterações 7 patológicas reais associadas à dilatação e/ou hipertrofia cardíacas. Observe a presença de sangue coagulado nos ventrículos. Presença de sangue coagulado no ventrículo esquerdo indica processos degenerativos do miocárdio. Para abrir o ventrículo direito, segure o coração na mão esquerda, com o lado esquerdo do órgão voltado para você. Faça a incisão começando no tronco pulmonar, penetrando no ventrículo direito, margeando o septo interventricular. Abra o tronco pulmonar passando pela sua bifurcação e examine a íntima da artéria pulmonar e as válvulas semilunares e endocárdio do ventrículo direito. Vire o coração de maneira que o ventrículo direito fique voltado para você. Continue a incisão seguindo o septo interventricular para dentro do átrio direito. Abra o ventrículo e átrio direitos. Examine a válvula atrioventricular direita (tricúspide), endocárdio, cavas etc.. O átrio e ventrículo esquerdos abertos com uma incisão reta. Corte através da cúspide parietal da mitral. Observe a válvula mitral e as aberturas das veias pulmonares. Para abrir a aorta, coloque a faca sob a cúspide septal da válvula mitral e corte a parede do átrio em direção a aorta. Com a aorta aberta, observe as válvulas semilunares da aorta, orifício das coronárias e tronco braquiocefálico. Feito isso, corte o miocárdio em várias fatias, procurando por possíveis alterações. EXAME DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL: Considerações gerais. O exame do sistema nervoso central deve ser praticado como rotina em todo o exame de necropsia. Não é uma tarefa difícil e requer apenas alguns minutos7. Como os tecidos do sistema nervoso central entram em autólise rapidamente, é recomendável o exame do cadáver tão logo quanto possível. No entanto, lesões como meningite supurativa, abscessos cerebrais, infartos cerebrais etc. podem ser facilmente identificáveis mesmo em presença de alterações pós-mortais. Portanto, a simples presença de autólise da carcaça não justifica negligenciar-se o exame do sistema nervoso central. Remoção do cérebro. Remova a cabeça, desfazendo a articulação atlanto-occipital através de acesso ventral7. No processo, seccione músculos e também a medula espinhal em sua parte cervical. Examine a superfície e as cápsulas articulares nesse ponto, como também o aspecto físico do líquido cefalorraquidiano (LCR) que fluirá quando a dura-máter for seccionada. Em cadáveres com pouco tempo decorrido desde a morte, pode-se retirar uma amostra asséptica do LCR através de uma punção do espaço subdural, antes de seccionar-se a dura-máter. Quando cegueira ou visão deficiente fazem parte da história clínica, os dois globos oculares devem ser enucleados. Use tração apenas nos músculos ao redor do globo e nunca diretamente no globo ocular quando realizar essa enucleação. Corte o nervo óptico tão distante do globo quanto possível de maneira que grande extensão do nervo óptico fique ainda junto ao globo ocular enucleado. Após essa enucleação, disseque todos os tecidos extraoculares deixando globo ocular e o nervo óptico completamente livres de tecidos perioculares antes de colocá-los no fixador. Feito isso, a cabeça é dissecada de maneira a retirar-se a pele e os músculos. Após, abra a cavidade craniana. Existe muita variação no instrumento recomendado para a abertura do crânio (machadinha, cutelo de açougueiro, serra elétrica, etc.). Damos preferência a um cutelo do tipo usado por açougueiros. Costótomos ou alicates podem ser usados quando os animais são muito 8 jovens e os ossos fáceis de cortar. É preferível que a cabeça seja colocada sobre um cepo do tipo usado por açougueiros para facilitar a abertura. Segurando o focinho do animal com a base do crânio pressionada firmemente contra a superfície do cepo, abra o crânio com golpes de cutelo. Para isso use o cutelo em um angulo de 45C com o crânio. O cérebro é então exposto com a dura-máter intacta. Após, usando tesouras, retire a dura-máterseccionando a foice do cérebro e a tenda do cerebelo. A remoção do cérebro intacto da cavidade craniana sem o prévio corte dessas duas estruturas é impossível. Evite ao máximo nanusear, pressionar e apertar o tecido nervoso durante o processo de remoção, para evitar artefatos histológicos. A rete mirabile (quando aplicável) gânglio de Gasser e pituitária devem ser retiradas como um monobloco. Obs.: No caso de suspeita clínica que necessite de exame complementares virológicos, imunológicos, ou bacteriológicos para a confirmação do diagnóstico (raiva é um bom exemplo disso), é recomendável que um corte longitudinal seja feito no cérebro separando os dois hemisférios, cortando-o pelo verme do cerebelo, etc.. Metade do cérebro será então fixada a outra metade colocada no congelador para exames posteriores. Após o período de fixação os cortes devem ser feitos como é instruído para o Dx. Note que esses cortes deverão ser feitos sempre que houver indicação clínica de doença neurológica e não forem encontradas lesões macroscópicas. Caso haja sinais neurológicos específicos, indicando envolvimento de outras partes do SNC, cortes respondentes devem ser feitos. Remoção da medula espinhal Pequenos carnívoros: Remova a cabeça do animal, os membros juntamente com a pele e todos os tecidos moles em volta da coluna vertebral, deixando-a livre. Com um costótomo, corte o arco vertebral de ambos os lados. Proceda assim com todas as 'vértebras individualmente. Grandes animais: Coloque o animal em decúbito lateral, preferencialmente após a remoção da cabeça e de todos os órgãos internos na maneira usual. Numa sequência rotineira de necropsia, no momento em que for iniciar a retirada da medula, os órgãos estarão já fora da carcaça. Rebata a pele, membros dianteiros e traseiros. Remova as grandes massas musculares ao redor das vértebras. Usando um cisel para traqueotomia, corte os processos laterais e corpos vertebrais e posteriormente remova a medula. DESCRIÇÃO DA NECROPSIA A descrição da necropsia é uma técnica que pode ser aprendida e dominada e não depende de talento especial. Embora quem realize a necropsia, compulsoriamente interprete seus achados, as lesões encontradas devem ser descritas, concisa e objetivamente, evitando interpretações diagnósticas sumárias. Um exemplo disto é dado a seguir. Se as lesões encontradas num rim forem interpretadas como infarto renal, elas devem ser descritas objetivamente. Ao invés de escrever simplesmente "o rim apresenta infarto", escrever algo como: "o córtex renal apresenta uma área vermelho-escura, bem demarcada, levemente proeminente e irregular, com forma de cunha e que se estende profundamente no parênquima. O ápice desta cunha está localizado na 9 junção córtico-medular. A superfície de corte apresenta uma zona vermelho escura periférica e uma área central de cor amarelada, consistência friável e seca". Somente então a interpretação da pessoa que realizou a necropsia deve ser mencionada e colocada entre parênteses. No caso, "infarto". As descrições de necropsia devem ser revistas e corrigidas antes de serem dadas como definitivas. A técnica de bem escrever uma necropsia pode ser aperfeiçoada com a prática. Ao desenvolver uma técnica para descrição de necropsia, o estudante pode ser auxiliado por uma lista de itens a considerar na descrição de uma lesão ou órgão. Os principais aspectos da descrição das lesões foram mencionados na primeira aula de Mecanismos de Produção as Doenças e devem servir de orientação para a descrição da necropsia. 1 Na descrição da necropsia, use o tempo dos verbos no presente do indicativo (N. do A.).
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