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Patologia Geral Estuda de forma geral os aspectos das doenças, para compreender o processo da lesão/doença, com o objetivo de definir um diagnóstico, tratamento e prognóstico. Conceitos gerais: Lesão: Alteração em um tecido. Conjunto de alterações após uma agressão. Pode ser uma alteração macro ou microscópica. Patogenia: Descreve o processo da doença. Saúde: Estado de adaptação do organismo ao ambiente, sem apresentar alterações orgânicas. Doença: Estado de falta de adaptação ao ambiente, apresentando alterações orgânicas evidenciáveis. Necropsia (exame post mortem ou mesmo autópsia): É uma ferramenta para diagnosticar, determinar medidas de controle e também para a prevenção de doenças. Objetivos da necropsia são: ● Determinar a causa da morte, quando desconhecida; ● Confirmar ou esclarecer um diagnóstico clínico prévio, e excluir outra possibilidade diagnóstica; ● Evitar prejuízos futuros, pois, se um animal morre sem diagnóstico clínico, e este não for estabelecido na necropsia, o próximo caso clínico da mesma enfermidade, tampouco será corretamente diagnosticado antes do próximo animal morrer; ● Buscar enfermidades subclínicas que possam estar levando a redução de produtividade, como por exemplo abscesso hepático e paraqueratose ruminal; ● Compilar dados de determinada área/região, inclusive identificando enfermidades exóticas e emergentes; ● Como método de treinamento de estudantes de veterinária acerca dos aspectos clínico-patológico das enfermidades. Quando eu devo realizar uma necropsia? As mudanças nos tecidos ocorrem assim que o animal vem a óbito e podem ser observadas após 20 minutos. Uma vez que essas alterações podem obscurecer a causa verdadeira da morte de um animal, é importante coletar amostras o mais breve possível para um diagnóstico mais acurado. Isso é particularmente importante se o clima é quente, se o animal estava febril ou se este se agitou bastante antes da morte, ou quando os sinais clínicos da doença envolvem o trato gastrointestinal. Onde eu devo realizar uma necropsia? Na medida do possível deve ser distante de outros animais, alimentos armazenados e pessoas. Recomenda-se que seja numa superfície de cimento para uma fácil desinfecção posterior, caso necessária. Se está indisponível, um local no campo, inacessível aos animais (cercado), com ação direta dos raios solares, é a próxima opção mais segura, pois o calor e a luz ajudarão a matar os patógenos. Equipamentos de proteção individual (EPI): ● Luvas de procedimento; ● Botas; ● Macacão; ● Óculos de proteção. Materiais necessários para a necropsia: Antes de começar a necropsia: Necessário tentar obter informações por meio do histórico e anamnese do animal. Importante fotografar e pegar amostras (fatia fina de 1cm de espessura, conservado em formol 10:1) para análise histopatológica. 1. Identificação do animal: Em bovinos normalmente se refere ao nome dado ao animal, ao número do brinco, número de tatuagem, ou ainda o chip de identificação em animais que possuem; 2. Espécie; 3. Raça; 4. Sexo; 5. Idade; 6. Morte espontânea ou eutanásia; 7. Método de eutanásia: Forma que foi realizada e medicamentos utilizados; 8. Data e hora da morte: Não se refere a hora que o animal foi encontrado morto como a real data da morte. Estabeleça a hora acurada, se possível; 9. Proprietário: Nome, endereço e contato (telefone e/ou e-mail); 10. Veterinário ou requisitante: Nome, empresa que trabalha, endereço e contato (telefone e/ou e-mail); 11. Diagnóstico macroscópico provisório: Preencha após a necropsia para ajudar outras pessoas do laboratório a determinar os procedimentos de teste necessários. É importante questionar também o local que o animal foi encontrado morto; parece que o animal apenas deitou e morreu ou parece que ele sofreu?; anote se houver sangue no nariz, boca, reto, vulva, etc.; considere analisar os alimentos se você suspeita de problemas nutricionais. Coletar e fotografar: Se possível, sempre colete fragmentos de todos os órgãos. Nunca esqueça os órgãos principais: fígado, pulmão, rins, intestinos, abomaso, coração e útero. Colete qualquer órgão ou tecido que não pareça normal. Por exemplo, tecido inflamado (hiperêmico e edemaciado) ou qualquer tecido que apresente coloração anormal ou uma superfície não homogênea. ● Amostras devem ser coletadas de acordo com os sinais clínicos que o animal apresentou. Por exemplo, se o animal apresentou dificuldade respiratória, colete o pulmão; se o animal apresentou sinais neurológicos (andar em círculos, cegueira, head pressing, etc.), colete o sistema nervoso central. Se não forem observadas lesões macroscópicas durante a necropsia, colete fragmentos de todos os órgãos! Secções de cérebro e coração são indicadas em necropsias nesses casos, pois podem ter lesões fatais não vistas macroscopicamente. Exame histopatológico: ● Use formol 10% tamponado para fixar o tecido para histologia. ● Tecidos necessários para isolamento bacteriano ou viral não devem ser colocados em formol. ● O tecido deve ser fixado em formol na proporção de 10:1 de formol para tecido, por no mínimo 24 horas. Utilize frascos de boca larga, para facilitar a posterior retirada dos órgãos. ● Ao coletar o tecido, corte fatias com até 1 cm de espessura (aproximadamente o tamanho do seu dedo mínimo). ● Tenha certeza de enviar mais que uma amostra de cada órgão para a histopatologia. ● Inclua tecido normal adjacente à lesão. ● Nunca esmague o parênquima ou raspe a mucosa dos órgãos que você esteja coletando; ● Sempre colete secções de todos os tecidos com uma faca afiada, nunca com um par de tesouras; ● Quando coletar fatias de tecido para estudo histológico de órgão pareados, faça as fatias do órgão esquerdo mais compridas ou mais largas (não mais espessas) para facilitar a posterior identificação no momento da clivagem. Cultivo microbiológico: ● Coleta de amostra para cultivo microbiológico (bacteriano ou viral) deve ser a primeira coisa a ser feita, visando minimizar contaminação. ● Use uma faca limpa, sem deposição de material orgânico sobre a lâmina, e bem afiada. O melhor jeito de garantir uma faca limpa é embeber ela, ou qualquer outro instrumento usado, em álcool 70% por 5 a 10 minutos. ● Colete intestino por último, para evitar a contaminação de outras amostras pelas bactérias da flora intestinal. ● Acondicione a amostra em sacos plásticos ou potes estéreis. ● Tecidos enviados para cultura precisam ter aproximadamente 2,5 cm de espessura. ● Tenha certeza em obter de duas a três amostras de cada órgão necessário para coleta. ● Quando submeter intestino, você deve obter uma alça intestinal de até 15 cm de comprimento. ● Amarre as pontas do intestino com um barbante para evitar extravasamento do conteúdo intestinal. ● Para cultivo bacteriano também pode ser realizado swab, que deve ser acondicionado em tubos com meio de transporte Stuart. ● As amostras devem ser imediatamente refrigeradas após a coleta. O resfriamento deve ser rápido e atingir 4ºC. É essencial manter a amostra sempre a 4ºC. Se não for possível enviar a amostra dentro de 24 horas, ela pode ser congelada a -20ºC até o envio, mas não é o ideal, pois pode matar os microrganismos e prejudicar o cultivo futuro. ● Envie as amostras devidamente identificadas ao laboratório em tríplice embalagem, que consiste no saco plástico ou pote estéreis que a amostra foi colocada diretamente, dentro de outro saco plástico, e então dentro de uma caixa de isopor com gelo. Coleta de amostras para fetos abortados ● Medir o feto da base da nuca à base da cola; ● Coletar em sacos plásticos individuais para bacteriologia(manter resfriado ou congelado): fígado, pulmão, sistema nervoso central, rim, timo, baço e conteúdo do abomaso; ● Coletar em um tubo para bacteriologia (manter resfriado ou congelado): líquido da cavidade abdominal ou torácica; ● Coletar em formol: placenta, músculo, pálpebra, timo, coração, pulmão, fígado, rim, baço, abomaso e sistema nervoso central. Considerações importantes antes de iniciar a necropsia: ● Se realizar a necropsia no laboratório, deixe a mesa com os instrumentos necessários para a necropsia prontos e a disposição. Isso evita perda de tempo, confusão ou contaminação ao ter que ficar pegando outros instrumentos que estejam guardados. ● Deixe suas facas de necropsia sempre bem afiadas, elas são o instrumento mais importante. Uma faca propriamente afiada necessita de apenas algumas passadas no afiador durante a necropsia de um animal grande. Uma faca afiada é entendida como sendo capaz de depilar os pelos de um braço com cuidado. ● O uso da própria carcaça como superfície para corte previne perder o fio da faca. Evite ao máximo cortar o pelo, pois isso causa a perda do fio da faca. ● Molhe a superfície da mesa ou do piso onde será realizada a necropsia para prevenir a adesão de sangue e outros fluidos e facilitar a posterior limpeza. ● Leia o histórico para indicações de técnicas especiais e cuidados a serem tomados durante a necropsia. ● Uma bandeja de fundo branco é muito útil para examinar o conteúdo do abomaso e de porções intestinais e procurar por parasitas. ● Ao examinar órgãos bilaterais, sempre examine o órgão direito antes, para facilitar lembrar as lesões de cada um na hora de descrição. Durante a necropsia ● Ao fazer uma necropsia, sempre use os EPIs; ● Mantenha a sua faca sempre bem afiada; ● Cuide onde sua faca está o tempo todo; ● Cuide onde você está posicionado o tempo todo; ● Tenha cuidado ao trabalhar em pisos que ficam escorregadios quando molhados com água e/ou sangue; ● Sempre esteja atento com a enfermidade suspeita. Preocupe-se em não infectar outros animais, assim como não infectar a si mesmo em casos de zoonoses. Após a necropsia ● Limpe as mãos, roupa, botas e a área onde foi realizada a necropsia antes de entrar em contato com outros animais ou pessoas. Antes de iniciar o procedimento no animal, observe: ● Posição do animal na hora da morte; ● Aparência geral da carcaça (se está com timpanismo, rigor mortis, decomposição post mortem, desidratação, etc.); ● Escore de condição corporal (status nutricional aparente); ● Condição da pelagem e ocorrência de ectoparasita; ● Coloração e aparência de todas as membranas mucosas visíveis; ● Ocorrência de secreção de todas as aberturas corporais e glândula mamária; ● Evidência de edema, feridas, hérnias e fraturas; ● Avalie linfonodos superficiais; ● Avalie a genitália externa; ● Palpe membros e articulações; Necropsia parte 1: abertura externa ● O procedimento a seguir explica através de texto, fotos e vídeos como realizar adequadamente uma necropsia de um bovino adulto. ● Quando se trata de necropsia de ruminantes, comece com o animal posicionado em decúbito lateral esquerdo: assim, com o rúmen para baixo, fica mais fácil de visualizar os órgãos abdominais. Também, quando o rúmen está cheio, é mais fácil retirar primeiro o intestino e fígado, separadamente, deixando então somente os pré-estômagos, por último. ● Entretanto, há situações específicas em que esse decúbito pode ser alterado. Por exemplo, quando há suspeita de enfermidade envolvendo o rúmen ou que o acesso rápido e primário ao órgão pode ser benéfico. Como em casos de intoxicação por ácido cianídrico (ingestão de plantas cianogênicas como Prunus sp., Manihot sp. Sorghum sp., entre outras). Nessa intoxicação, o conteúdo ruminal adquire odor de “amêndoas”, e ao abrir o animal pelo decúbito lateral direito, dando de cara com o rúmen, é possível puncioná-lo, permitindo que o gás ruminal seja liberado e você possa sentir o odor do conteúdo. Em casos de timpanismo gasoso ou espumoso, a distensão abdominal do lado esquerdo é severa, dificultando com que o cadáver fique em decúbito lateral esquerdo, então o animal pode ser aberto também com o lado esquerdo para cima. ● Mesmo nestes casos, recomenda-se a abertura da carcaça pelo lado direito. ● Outras vezes, o animal morre em decúbito lateral direito em um local de difícil acesso e que não há a possibilidade de virá-lo, como neste caso: ● Com o animal em decúbito lateral esquerdo, abduza o membro torácico direito e faça uma incisão na axila direita. Rebata o membro torácico direito cortando entre os músculos da escápula e da parede do corpo. Corte esse tecido conectivo enquanto puxa para trás o membro. ● Depois que isso está feito, o membro torácico direito deve deitar no mesmo ângulo do resto do corpo. ● Abduza completamente o membro pélvico direito, seccione a musculatura até chegar à articulação coxofemoral e seccione o ligamento da cabeça do fêmur. É importante verificar a integridade deste ligamento e o perfeito encaixe entre a cabeça do fêmur e o acetábulo. Pois este momento é quando deve ser avaliado possível luxação ou sub-luxação. ● Uma vez que você tenha feito isso, o membro também deve deitar no mesmo ângulo do corpo do animal. ● Rebata a glândula mamária ou pênis e testículos. ● Para liberar a pele da parede abdominal no lado direito do animal, faça uma incisão longitudinal próximo a medula vertebral e então corte o tecido conectivo entre a pele e a musculatura. Tente não fazer muitos furos na pele para não perder o fio da faca. ● Em recém-nascidos, nesse momento, avalie o umbigo. Necropsia parte 2: abertura da cavidade abdominal e torácica ● Cuidadosamente, faça uma incisão inicial próxima ao arco costal. Tente não cortar tão profundamente para evitar perfurar as vísceras, principalmente se o animal já morreu há algumas horas e as vísceras gastrintestinais estão repletas de gás. Insira sua mão e a faca empunhados na cavidade na incisão que você criou previamente. Dessa forma você protege as vísceras distendidas da lâmina. ● Continue a incisão até o flanco dorsal e através do aro pélvico. ● Rebata esse flap de musculatura e examine a cavidade peritoneal e as vísceras. Note a quantidade e o tipo de fluídos da cavidade e outros conteúdos assim que é aberta.Puncione (pequeno orifício) com a faca o diafragma e note (ouça) a saída de ar da cavidade. Normalmente o tórax fica em pressão negativa, mantendo os pulmões inflados. Depois da morte deve haver ainda pressão negativa, a não ser que haja trauma no tórax causando pneumotórax. Corte todo o lado direito do diafragma ao longo do arco costal. ● Corte os músculos cobrindo as costelas ao longo do topo do gradil costal, próximo às articulações costovertebrais. ● Com o podão ou um machado, corte as costelas ao longo da incisão que você acabou de criar no músculo. ● A primeira costela, a mais cranial, é mais larga, o que dificulta quebrar a articulação esternocostal. Recomendamos que com o podão ou machado quebre-a o mais próximo possível da articulação esternocostal e então a remova com a faca; ou tracione com força a costela ao mesmo tempo que passa a lâmina da faca na articulação esternocostal. ● Cheque a posição de todos os órgãos torácicos e anote se houver líquido ou outros conteúdos dentro da cavidade. Necropsia parte 3: retirada do trato gastrointestinal ● Com uma mão agarre o omento, corte e remova-o. ● Agora você deve ser capaz de examinar os órgãos abdominais. Observe a cor, posição e tamanho de todos os órgãos. Examine a cavidade abdominal por qualquer aderência, nódulos ou outras anormalidades. ● Antes de remover qualquer víscera da cavidade abdominal, procure por vasos anormais (shunts -foto abaixo) do ou para o fígado ou intestinos, e especialmente levando à veia cava caudal. ● Examine o pâncreas aderido ao duodeno. ● Em animais com icterícia, no duodeno, faça uma incisão longitudinal na porção caudal adjacente onde se encontra o esfíncter de Oddi. Então, aperte a vesícula biliar e observe a saída de bile pelo esfíncter no intestino. Esta é a Manobra de Virchow que possibilita verificar se os ductos que levam a bile para o duodeno estão obstruídos ou não, assim descartando icterícias de origem pós-hepática (obstrutivas). ● Puxe dorsalmente os intestinos sobre a medula lombar. "Ordenhe" (retire o conteúdo interior para ao secciona-lo não "sujar" a cavidade) o conteúdo do duodeno e, com auxílio de outra pessoa, segure-o em dois pontos, seccionando no meio e evitando que extravase conteúdo intestinal dentro da cavidade. ● "Ordenhe" o conteúdo da porção final do cólon cranialmente e corte o reto. ● Seccione o mesentério que segura os intestinos na porção dorsal da cavidade. Assim o intestino foi completamente liberado e pode ser removido. ● Os intestinos também podem ser removidos puxando-os ventralmente, e não sobre a área lombar como mostrado antes. Utilize a gravidade a seu favor. ● Por alguma razão, o reto inteiro e o ânus não são removidos neste momento. Sairão conjuntamente com o gênito-urinário. Caso haja suspeita de lesão no reto, será necessário quebrar e tirar os ossos pélvicos para removê-los. ● O fígado é facilmente removido ao cortar as conexões anteriores com o diafragma e os ligamentos laterais, conforme realizado nos vídeos abaixo. Antes de retirá-lo, examine os bordos buscando possível aderência entre o fígado, diafragma e retículo. Após a retirada do órgão, isso não será mais possível! ● Busque por lesões de retículo pericardite traumática entre retículo e diafragma antes de remover o rúmen. ● Seccione o esôfago próximo à inserção do cárdia. Corte os ligamentos dorsais do rúmen da parede abdominal. Agarre firmemente o rúmen (frequentemente um corte no próprio órgão permite segurar melhor para esse esforço - entretanto, isso poderá liberar conteúdo ruminal na cavidade: evite esta opção) e puxe os pré-estômagos e o abomaso para fora da cavidade abdominal. ● O baço normalmente vem junto com o rúmen. ● Posicione o TGI em uma ordem relativa para ser aberto posteriormente, como o último processo principal da necropsia, prevenindo a contaminação fecal dos tecidos e instrumentos. Necropsia parte 4: avaliação do trato gastrointestinal ● O TGI, apesar de ser removido inicialmente, é deixado de lado e aberto apenas depois de todas as outras vísceras serem removidas e examinadas. ● Posicione-o da forma abaixo, para que possa abrir de forma completa e sequencial. Algumas vezes há que dissecar um pouco entre o omaso e retículo e entre o omaso e abomaso; mas sempre sem cortar a parede do órgão completamente. Corta-se só a serosa e alguns ligamentos. ● Corte ao longo da curvatura maior do abomaso e pré-estômagos. ● O maior compartimento é o rúmen (1). Sua superfície interna se parece com um tapete felpudo, feito de milhares de papilas. O retículo (2) é o próximo compartimento. É um saco menor que tem aparência de favo de mel dentro. É onde deve estar o imã intrareticular, se utilizado. O omaso (3) deve ser firme e conter folhas como um livro. Essas são usadas para moer partículas de comida que passam para o rúmen, além de absorver água. O abomaso (4) tem uma superfície macia e normalmente contém liquido. ● As papilas dos pré-estômagos não devem se desprender quando você raspa a faca através dela, a não ser que o animal esteja morto há mais de uma hora. Se essas papilas desprendem e o animal acabou de morrer, pode-se considerar coletar o conteúdo ruminal para sinais de mudança de pH, como uma acidose ou alcalose ruminal, ou perturbações gastrointestinais. ● Examine todos os compartimentos e anote a aparência dos tecidos, assim como dos conteúdos. ● Lembre-se que em fetos, natimortos e recém-nascidos, os pré-estômagos possuem outra aparência, como na foto abaixo, pois não chegaram a ingerir alimentos sólidos e realizar fermentação. ● Faça várias fatias no baço para inspecioná-lo. Em órgãos com cápsula (baço, fígado, rins) deve-se fazer primeiramente uma incisão única, e verificar se há protrusão. A cápsula não expande, portanto se ao corte o parênquima expandir, é porque está aumentado e comprimido dentro da cápsula. Após isso, deve-se fazer vários outros cortes para examinar o parênquima em busca de qualquer alteração, por exemplo, um abscesso, um trombo, etc. ● O fígado deve ter margem afiadas e superfície macia. Corte-o para avaliar o parênquima e incise os vasos maiores. Avalie a sua coloração. Para avaliar a sua consistência, corte uma fatia e a aperte. ● Localizada dentro dos lobos hepáticos está a vesícula biliar. Esse órgão é verde e é tipicamente do tamanho de uma laranja em uma vaca adulta. Há ductos associados com a vesícula biliar que vão em direção ao fígado. Corte a vesícula biliar e esses ductos para procurar por anormalidades. Observe a consistência e aspecto da bile. ● Incise várias porções dos intestinos, abrangendo comprimentos representativos de cada porção.Examine a mucosa, observando a coloração e aparência, assim como a aparência do conteúdo intestinal. Todo o intestino deve ser brilhante e suave. ● Tecidos decompostos, incluindo intestinos, são mais frágeis que um tecido fresco. É necessário cuidado redobrado na hora de remover os órgãos de um animal em estado avançado de autólise. ● Existem vários tipos de úlceras, mas deve haver evidência de uma resposta inflamatória com fibrina, necrose, hiperemia e edema. Necropsia parte 5: retirada dos sistemas urinário e reprodutor ● O rim direito se encontra na gordura próximo à medula vertebral, perto do fígado. ● Na porção crânio medial adjacente a cada rim, você encontrará as adrenais (foto acima). Ambas ficam no meio do tecido adiposo. Para removê-las basta dissecar o tecido adiposo ao redor. Tenha cuidado para não espremer a glândula com os dedos ao retirá-la. ● O rim esquerdo é encontrado ao rebater todo o intestino sobre a coluna vertebral do animal. Onde todos os intestinos se encontram, recém acima do rúmen, com uma outra área de gordura recobrindo o rim.Se não houverem suspeitas de doença renal, os rins podem ser retirados dissecando o tecido adiposo ao redor e seccionando nos ureteres próximo a pelve renal. ● Caso tenha suspeita de doenças como urolitíase, hidronefrose, pielonefrite, etc., os rins devem ser removidos unidos aos ureteres e vesícula urinária. Para isso será necessário abrir a cavidade pélvica com uma serra, podão ou machado, quebrando através da púbis até o forame obturador, então através do ísquio, em ambos os lados, para no fim remover a sínfise púbica. ● Então corte próximo ao osso, seccionando os tecidos conectivos entre a cavidade pélvica e o útero e vesícula urinária. Remova os rins com ureter, vesícula urinária, uretra, útero e vagina nas fêmeas, ou com o pênis e testículos no macho. ● Se a vesícula urinária estiver cheia de urina, colete uma amostra com uma seringa e agulha limpas antes de retirar o órgão. Necropsia parte 6: avaliação dos sistemas urinário e reprodutor ● As cápsulas renais adiposa e fibrosa recobrem o rim e precisam ser removidas para examinar completamente a superfície externa renal. Corte o rim longitudinalmente da porção cortical em direção à pelve e examine o tecido interno. Faça várias fatias transversas para inspecionar através do órgão. Colete uma fatia de tecido que inclua o córtex, medula e o epitélio pélvico. ● Faça uma incisão no ureter com uma tesoura ou uma faca com ponta fina até chegar à vesícula urinária.Corte para abrir a vesícula urinária e examinar a mucosa. ● Ou inicie da uretra, indo em direção à vesícula urinária e então os ureteres. ● Incise a adrenal longitudinalmente. Note a relação córtex-medula-córtex que deve ser aproximadamente 1:2:1. ● Corte os ovários primeiro longitudinalmente, e então transversalmente. ● Comece cortando da vagina, seguindo para a cérvix e cornos uterinos. Se há um feto, examine-o e examine a placenta. ● Na glândula mamária, corte todos os quartos mamários e observe o parênquima mamário. Corte através do canal do teto também. ● Nos machos, inicie dissecando a glande para expor a uretra. Então, incise a uretra até a vesícula urinária. ● Avalie a flexura sigmoide e os corpos cavernosos e corpo fibroso do pênis. Depois abra o escroto, observe as túnicas e faça um corte longitudinal ou diversos cortes transversais nos testículos para examina-los. Necropsia parte 7: retirada do sistema cardiorrespiratório ● Para a retirada do sistema cardiorrespiratório. ● Faça uma incisão na pele iniciando da região mandibular até a entrada da cavidade torácica. ● Após isso, examine as veias jugulares. ● Corte o frêmito lingual e libere a língua manualmente. Puxe a língua para traz e pra baixo. ● Agora, no hioide, coloque a faca por dentro da articulação entre o basi-hioide (ou corpo) e o tireo-hioide, e faça um movimento de alavanca, com força, para desarticular. Corte o palato mole. ● Continue tracionando, removendo a traqueia e esôfago ao cortar os tecidos adjacentes no pescoço, até chegar na cavidade torácica. ● Rebata o pulmão direito agarrando a ponta do pulmão próximo ao diafragma. Puxe o pulmão em direção à cabeça, cortando qualquer tecido conjuntivo. Seccione o esôfago e a aorta próximo ao diafragma. Seccione os tecidos que unem o saco pericárdico à região ventral da cavidade torácica. Para remover o pulmão esquerdo seccione o mediastino que separa os lados da cavidade e corte qualquer tecido conjuntivo que fixa o órgão na cavidade. Necropsia parte 8: avaliação do sistema cardiorrespiratório ● Examine a língua fazendo secções transversais. ● Iniciando da laringe, corte o esôfago longitudinalmente em direção aos pulmões. Examine a mucosa do esôfago. ● Agora corte a laringe no meio, seccionando entre as cartilagens aritnóide e cricóide. ● Corte a traqueia longitudinalmente em direção à carina e examine por qualquer lesão. ● Corte da traqueia em direção aos brônquios maiores e observe os finais de corte das artérias pulmonares por embolia. ● Pode haver um pouco de comida ou espuma nas vias aéreas. Isso normalmente ocorre durante os últimos respiros terminais, contanto você deve anotar a quantidade e cor. ● Agora corte o pulmão para observar o parênquima profundo do órgão. ● Examine a aparência geral dos pulmões, que devem ter uma coloração levemente rosa e consistência esponjosa ao toque. ● O timo de um bezerro atinge seu desenvolvimento máximo próximo a um ano de vida, sendo uma estrutura que se prolonga desde a laringe até o pericárdio. Já em bezerros recém-nascidos, como observado na foto abaixo, observa-se mais facilmente a porção torácica do timo. Para removê-lo e examina-lo, basta dissecar os tecidos adjacentes. ● In situ, abra o pericárdio e examine o conteúdo do saco pericárdico assim como a superfície externa do próprio coração. Note a quantidade e tipo de fluído. ● Normalmente o saco não é aderido ao coração e há uma pequena quantidade de líquido dentro. Anote se houver quantidade grande de líquido, fluído, sangue ou pus no saco pericárdico. ● Segure o coração com a mão esquerda, com o ápice em sua direção, e faça um corte no ventrículo direito adjacente ao septo e estenda o corte dorsalmente e caudalmente na veia cava caudal, Estenda o corte anteriormente da veia cava caudal abrindo a veia cava cranial. Estenda o corte inicial no ventrículo direito dorsocranialmente adjacente ao septo continuando para fora do conus arteriosus e artéria pulmonar. Examine todas as valvas e aberturas no ventrículo e átrio direito. Rotacione o coração no sentido horário até que o átrio esquerdo esteja em evidência. Segure o coração na mão esquerda com o dedo polegar sobre a aurícula esquerda. Corte o ventrículo esquerdo, próximo ao ápice, e estenda o corte dorsalmente nas veias pulmonares. Examine a valva atrioventricular esquerda. Com o dedo indicador e dedo polegar agarre a metade da parede esquerda do ventrículo, corte através do ventrículo esquerdo indo por baixo da valva atrioventricular esquerda. Estenda a incisão para fora até a aorta. Examine as artérias coronárias, subclávias e braquiocefálicas. Você observará sangue coagulado no coração e nos vasos. Aparecerá como um material avermelhado ou amarelado ou misto, brilhante, gelatinoso, elástico e não deve estar aderido à parede do coração ou dos vasos. Anote se houver aderência do coágulo na parede, isso pode ser um trombo. Em casos específicos, como suspeita de fibrose ou necrose miocárdica, miocardite abscedativa ou retículo pericardite traumática (RPT), o coração pode ser aberto fazendo fatias transversais. Após a abertura do coração, meça a parede dos dois ventrículos. A proporção entre ventrículo esquerdo e direito deve ser. 3:1.Necropsia parte 9: retirada e avaliação do sistema nervoso central Para remover a cabeça, estenda-a para trás e corte os músculos do pescoço diretamente atrás da mandíbula. Você deve ir em direção à articulação atlanto-ocipital. Obtenha o líquido cefalorraquidiano nessa hora, se necessário, de uma abordagem dorsal ou ventral. Corte todos os ligamentos e a medula vertebral. A pele e os músculos sobre a vértebra agora devem ser cortados, liberando a cabeça do corpo. Olhe no forame magno e note a ausência normal de vermis cerebelar. Suspeite de uma lesão cerebral se visto (prolapsado). Remova a maior porção de pele da cabeça e remova as orelhas. Examine as glândulas salivares maiores nessa hora. Quanto mais velho o animal, mais espessos são os ossos craniais que devem ser quebrados. Se o bovino tem chifres, é melhor cortá-los fora próximo a sua base. Os seios frontais de grandes animais aumentam de tamanho com a idade, e consequentemente, animais mais velhos terão duas camadas de ossos distintas, separadas por um espaço sinusal, que deve ser cortado antes do cérebro ser exposto. Para expor o cérebro é preciso remover a calota craniana. Com um machado ou serrote, há três incisões necessárias para fazer isso, e um pouco de experiência é necessária para fazer os cortes profundos o suficiente para permitir a remoção da calota sem danificar o tecido cerebral abaixo. O primeiro corte é transverso, atravessando o crânio ao longo de uma linha desenhada entre a comissura posterior de cada olho. O segundo corte é da parte dorsal do côndilo occipital direito lateralmente na região atrás da orelha e anteriormente desse ponto para intersectar com o primeiro corte imediatamente medial ao olho. Um corte similar é feito do outro lado da cabeça. O terceiro corte é logo acima dos côndilos occipitais. Assim deve ser possível remover a calota craniana. Será necessário realizar mais uma incisão vertical nos côndilos para facilitar a remoção do cerebelo. Em bovinos com chifre, as batidas no crânio devem ser feitas conforme a foto abaixo. Em suínos, o corte inicial deve ser feito imediatamente cranial às órbitas oculares. As meninges são examinadas e então removidas cortando com a faca ou tesouras. Os nervos craniais, principalmente os nervos olfatórios, devem ser seccionados. Uma vez que o cérebro está solto da base, assim que inclinar a cabeça, ele cairá na sua mão, junto com o cerebelo. É normal encontrar uma única massa branca firme com ½-1 cm suspensa na calota craniana mediana aderidaas meninges. Essa é a glândula pineal. ● Faça de duas a três secções transversas no cérebro e uma secção sagital no cerebelo para fixar no formol. ● Para remover o gânglio de Gasser, hipófise e rete mirabile (GRH), pegue a dura-máter da parte basilar do osso occipital entre os côndilos serrados/quebrados. Descasque para frente para incluir o GRH. Corte a hipófise transversalmente antes de colocar no formol. ● Para remover a medula vertebral, corte os músculos e tendões dos processos dorsais, ventrais e transversos da medula vertebral. Um machado pode ser usado para expor os processos transversos ao longo da coluna. Com o machado, continue lascando paralelo aos processos transversos até que o lado direito da coluna vertebral esteja removido e a medula vertebral seja exposta. Iniciando da articulação atlantoccipital, a medula vertebral é removida ao agarrar as meninges com os dedos ou uma pinça e cortando as raízes ventrais e dorsais, liberando-a do canal vertebral. Não aperte, esmague, ou puxe-a bruscamente. Depois da medula ser removida, corte as meninges em todo o comprimento e examine-a. Cortes transversos podem ser feitos para procurar por lesões com o órgão ainda fresco e para ajudar na fixação no formol. Para remover o olho aperte, com um mínimo de tração, a pele ao redor. Com a barriga da faca, corte o tecido macio, mas resistente ao redor da órbita. Corte profundamente ao redor da orbita, ficando perto do osso. Seccione o nervo óptico e remova o olho. Necropsia parte 10: avaliação do sistema músculoesquelético e coleta de medula óssea Cinco articulações são rotineiramente checadas, na ordem dada, na necropsia da maioria das espécies; sete são checadas em animais jovens, especialmente em bezerros. Essas são representativas e facilmente acessadas. ● Quadril direito; ● Joelho direito e esquerdo; ● Ombro direito; ● Atlanto-occipital; ● Jarrete direito e esquerdo em animais jovens. Rebata a pele da articulação de interesse. Dobre a articulação em sua direção normal e corte através dos músculos em direção ao meio da articulação. ● Todas as articulações são rodeadas por uma fina camada de tecido conectivo, corte para expor o interior da articulação. ● Cuidadosamente examine o líquido sinovial e os ossos envolvidos na articulação. Normalmente o líquido sinovial é transparente a levemente amarelado e viscoso. Não pode ter sangue ou pus. Os ossos devem ser lisos e brancos. ● Músculos diferentes devem ser observados se o animal apresentava qualquer claudicação. Simplesmente corte o músculo e procure por qualquer anormalidade. O músculo todo deve ter a mesma cor e textura. Colete áreas pálidas ou enegrecidas. ● Para fazer um esfregaço ou obter uma secção de medula óssea, quebre qualquer osso de um animal jovem, ou um osso que ainda tenha medula óssea vermelha em um animal adulto, usando o quebrador de costelas para cortar obliquamente o osso. Registrando a necropsia Se possível, sempre tire fotos de todas as lesões observadas nas necropsias. Anote e descreva os achados o quanto antes, no máximo em até 24 horas, para diminuir as chances de esquecer alguma lesão, como no laudo feito pelo LPV abaixo: Aqui no site, você pode acessar e realizar o curso de descrição de lesões para aprender a descrever corretamente os achados necroscópicos. Uma boa descrição deve ser capaz de retratar as lesões com acurácia, para que quando outras pessoas leiam, possam imaginar o que foi observado com exatidão.
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