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20220823 - ESTELIONATO TJDFT

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Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
Órgão 3ª Turma Criminal
Processo N. HABEAS CORPUS CRIMINAL 0704278-36.2020.8.07.0000
IMPETRANTE(S) TANIA CRISTINA XISTO TIMOTEO e GUILHERME CORREIAEVARISTO
AUTORIDADE(S) JUIZO DA PRIMEIRA VARA CRIMINAL E TRIBUNAL DO JÚRI DESANTA MARIA
Relator Desembargador WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR
Acórdão Nº 1237747
EMENTA
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE ESTELIONATO. LEI
N. 13.964/2019. PACOTE ANTICRIME. AÇÃO PENAL CONDICIONADA A REPRESENTAÇÃO.
ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. INEXISTÊNCIA DE RIGOR
FORMAL. REGISTRO DE OCORRÊNCIA POLICIAL. PRECEDENTES DO STF E STJ.
1. Com o advento da Lei n. 13.964/19 (Pacote Anticrime), o crime de estelionato, antes processado
mediante ação penal pública incondicionada, passará a ter o seu processamento mediante ação pública
condicionada à representação.
2. Arepresentaçãoda vítima para a investigação ou deflagração de ação penal prescinde de
qualquerrigor formal,bastando a demonstração inequívoca de que a vítima tem interesse na
persecução penal, o que ocorreu na hipótese dos autos, visto que a vítima foi à delegacia registrar
ocorrência, narrou os fatos e apontou o paciente como autor do estelionato.
3. Ordem denegada.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - Relator, SEBASTIÃO COELHO -
1º Vogal e DEMÉTRIUS GOMES CAVALCANTI - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor
Desembargador JESUINO RISSATO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. DENEGADA A
ORDEM. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 12 de Março de 2020
Desembargador WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR
Relator
RELATÓRIO
Cuida-se de , com pedido de liminar, impetrado pela advogada TANIA CRISTINAhabeas corpus
XISTO TIMOTEO em favor de GUILHERME CORREIA EVARISTO, apontando como autoridade
coatora o Juízo da 1ª Vara Criminal e Tribunal do Júri de Santa Maria.
Narra a impetrante que o paciente foi denunciado como incurso no artigo 171, caput c/c artigo 14,
. Aduz que, segundo a denúncia, entre o final de 2016 e 22 deinciso II, ambos do Código Penal
fevereiro de 2017, via Facebook e Whatsapp, o denunciado teria tentado obter para si vantagem ilícita
em prejuízo de Maicon Ferreira Dantas, induzindo-o a erro mediante meio fraudulento.
Alega que, com a entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime), o crime de estelionato
passou a ser ação penal publica condicionada a representação, razão pela qual requer seja reconhecida
a extinção da punibilidade do paciente, uma vez que não houve representação por parte da suposta
vítima para a propositura de denúncia.
Salienta que requereu a extinção da punibilidade ao Juízo , mas o pedido foi indeferido (processoa quo
n. 0001902-59.2018.8.07.0010).
Requer a concessão da ordem para que seja determinada a extinção da punibilidade do paciente em
relação ao crime previsto no art. 171 c/c art. 14, II, do CP.
Liminar indeferida.
Informações prestadas.
A il. Procuradoria de Justiça oficiou pela admissão e da ordem.denegação
É o relatório.
VOTOS
O Senhor Desembargador WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - Relator
Admito a impetração.
GUILHERME CORREIA EVARISTO, paciente, foi denunciado por incurso no art. 171, caput, c/c
 (Ação processo n.art. 14, II, e no art. 304 c/c 298, na forma do art. 69, todos do Código Penal
0001902-59.2018.8.07.0010). Narrou a denúncia:
DO ESTELIONATO (art. 171, caput, do CP)
Entre o final de 2016 e 22 de fevereiro de 2017, via Facebook e Whatsapp, o denunciado, de forma
consciente e voluntária, tentou obter para si vantagem ilícita em prejuízo de Maicon Ferreira Dantas,
induzindo-o a erro mediante meio fraudulento.
Nas circunstâncias acima declinadas, Guilherme, com nítido propósito de enganar a vítima, prometeu
a retirada do nome de Maicon dqs órgãos de proteção ao crédito, bem como o recebimento de
indenização por repáração de danos morais, mediante ajuizamento de ação cível. Para tanto,
ficou-g-O-ráado que Guilherme ficaria com 50% do valor que Maicon deveria receber.
Acreditando no denunciado, Maicon enviou para Guilherme seus dados pessoais (cópia da
identidade, cópia do CPF e endereço residencial).
Na sequência, para consumar seu intento de conseguir lucro ilícito em razão do engano provocado
na vítima, alterou o endereço de Maicon no documento de fl. 16, a fim de que a vítima não fosse
intimada dos atos processuais e, com isso, pudesse levantar em nome próprio o valor total que seria
recebido por Maicon.
O crime somente não se consumou por circunstâncias alheias à vontade de Guilherme, na medida em
que, apesar de efetivamente enganar Maicon, a fraude foi descoberta pelo juízo do 2° Juizado
Especial Cível e Criminal de Santa Maria-DF. Na ocasião, a magistrada oficiante naquele órgão
jurisdicional percebeu que a mesma fatura, montada de forma fraudulenta para comprovar o
endereço de Maicon, havia sido utilizada por Guilherme em outros processos judiciais no Distrito
Federal, também para comprovar o endereço de outras vítimas.
Com efeito, a demanda foi julgada improcedente, o que impediu Guilherme de obter o lucro
pretendido, mesmo após ter conseguido enganar Maicon.
DO FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR E DO USO DE DOCUMENTO FALSO
(arts. 298 e 304 do CP)
Entre o final de 2016 e 22 de fevereiro de 2017, o denunciado, de forma consciente e voluntária,
falsificou documentos particulares, a saber uma procuração e uma fatura da empresa NET a fim de
comprovar a residência de Maicon.
Nas circunstâncias acima declinadas, Guilherme, com nítido propósito de enganar a Maicon,
prometeu a retirada do nome da vítima dos órgãos de proteção ao crédito, bem como o recebimento
de indenização por reparação de danos morais, mediante ajuizamento de ação cível. Para tanto, ficou
acordado que Guilherme ficaria com 50% do valor que Maicon deveria receber.
Acreditando no denunciado, Maicon enviou para Guilherme seus dados pessoais (cópia da
identidade, cópia do CPF e endereço residencial).
Após obter tais documentos, o denunciado, de forma consciente e voluntária, falsificou documento
particular, consistente na procuração em anexo e no comprovante de residência de Maicon (fl. 16).
 Na ocasião, Guilherme fez inserir (a) na procuração os dados de Maicon e uma assinatura falsa; e
(b) na fatura de fl. 16 os dados de Maicon, a fim de comprovar a residência de Maicon para fixação
da competência do órgão judiciário de Santa Maria-DF.
Em seguida, o denunciado, como advogado, fez uso da procuração e do comprovante de residência
por ele falsificados, na instrução dos autos 0700303-78.2017.8.07.0010, distribuídos ao Segundo
Juizado Especial Cível e Criminal de Santa Maria-DF, em ação proposta em nome de Maicon contra
Ativos SÃ. Securitizadora de Créditos Financeiros, na qual se pleiteava a declaração de inexistência
de débitos e indenização por danos morais em favor do autor.
A trama criminosa, porém, somente foi descoberta pela Juíza de Direito daquele órgão jurisdicional
no decurso da instrução processual, consoante se depreende da sentença de improcedência acostada às
fls. 6/7.
A defesa requereu a extinção da punibilidade na origem, em relação ao crime previsto no art. 171 c/c
art. 14, II, do CP, considerando que, com a entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019 (Pacote
Anticrime), o crime de estelionato passou a ser de ação penal pública condicionada à representação.
O pedido foi indeferido pelo MM. Juiz da 1ª Vara Criminal e Tribunal do Júri de Santa Maria nos
seguintes termos:
“A Lei n. 13.964/2019 alterou dispositivos de cunho processual e material no âmbito do Direito Penal,
tendo, portanto, reflexos materiais que atraem, prima facie,a aplicação do princípio da retroatividade
da lei penal mais benéfica.
Por tratar-se de norma processual penal material, e, especificamente, dispor sobre o direito de
representação, a retroatividade da lei não tem caráter absoluto,devendo ser aplicada com
razoabilidade em cada caso concreto.
O entendimento jurisprudencial é de que o ato da representação prescinde de maiores formalidades.
Portanto, o termo de declaração da vítima M.F.D. (ID 49331961) deve ser considerado elemento
eficaz de representação.
Por essas razões, INDEFIRO o pedido.”
No presente habeas corpus, busca a defesa a extinção da punibilidade do paciente, em relação ao
crime de estelionato.
Entrou em vigor, em 23/1/2020, a Lei n. 13.964/19, conhecida como “Pacote Anticrime”.
Com a nova lei, o crime de estelionato, antes processado mediante ação penal pública incondicionada,
passará a ter o seu processamento mediante ação pública condicionada à representação, salvo nos
casos em que o ofendido for a Administração Pública, criança ou adolescente, pessoa com deficiência
mental ou maior de 70 anos de idade ou incapaz.
Eis o teor da norma:
Art. 171.
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
I – a Administração Pública, direta ou indireta;
II – criança ou adolescente;
III – pessoa com deficiência mental; ou
IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
Trata-se de lei penal mais benéfica, pois passou a exigir representação do ofendido para início da ação
penal no crime de estelionato, sendo que, de acordo com o art. 38 do CPP, a representação deverá ser
feita no prazo decadencial de 6 (seis) meses. 
Apesar de tratar-se de norma de natureza mista, com viés de direito material, a ensejar a retroatividade
da lei mais benéfica, há de se considerar que .a representação não exige rigorismo formal
Renato Brasileiro (in Manual de processo penal: volume único. 5. Ed. Salvador: Ed. JusPodvum,
2017, p. 249) aponta que a representação prescinde de que “haja uma peça escrita com nomen iuris de
representação nos autos do inquérito policial ou do processo criminal. Basta que haja a
manifestação da vontade da vítima ou de seu representante legal, evidenciando a intenção de
que o autor do fato delituoso seja processado criminalmente. Não por outro motivo, já se
considerou como representação um mero boletim de ocorrência, declarações prestadas na
.”polícia, etc)
Esse entendimento é pacífico no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal:
5. De acordo com entendimento já pacificado nesta Corte Superior de Justiça, a representação
da vítima ou de seus representantes legais para a investigação ou deflagração de ação penal
prescinde de qualquer rigor formal, bastando a demonstração inequívoca de que a vítima tem
, o que ocorreu na hipótese dos autos, visto que a ofendida,interesse na persecução penal
acompanhada de seus familiares, dirigiu-se até a Promotoria local para narrar o ocorrido, bem
como ratificou suas declarações posteriormente perante a autoridade policial e se submeteu a
 6. Habeas corpus não conhecido. (HC 466.047/SC,exame pericial junto ao Serviço Médico Legal.
Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 19/02/2019,
DJe 01/03/2019)
[...] 1. A representação do ofendido é ato que dispensa maiores formalidades, bastando a
inequívoca manifestação de vontade da vítima, ou de quem tenha qualidade para representá-la,
 (INQ 3438, de minha relatoria,no sentido de ver apurados os fatos acoimados de criminosos
Primeira Turma, DJe 10/2/2015). Preliminar de ofensa ao art. 44 do CPP rejeitada.[...] (AP n. 926/AC,
Ministra Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 2/12/2016)
Sobre o tema, já decidiu esta eg. Corte de Justiça:
Embargos de declaração. Estelionato. L. 13.964/19. Pacote Anti-crime. Ação pública condicionada à
representação do ofendido.
1 - Com o advento da L. 13.964/19 (Pacote Anti-crime, a ação penal, no crime de estelionato,
passou a ser pública condicionada à representação (§ 5º do art. 171 do CP).
2 - Se o ofendido demonstrou de modo irrefutável o interesse na persecução penal, tem-se por
suprida a falta de representação.
3 - Embargos não providos.
( , 00036499020178070006, Relator: JAIR SOARES, 2ª Turma Criminal, data deAcórdão 1234222
julgamento: 20/2/2020, publicado no null: . Pág.: Sem Página Cadastrada.)
No caso dos autos, em consulta à Ação Penal n. 0001902-59.2018.8.07.0010, via PJe, verifica-se que 
 houve inequívoca manifestação da vítima, que foi à delegacia, em 6/6/2018, registrar ocorrência,
narrou os fatos e apontou o paciente como autor do estelionato, demonstrando o interesse na
 (ID 49331961 da ação penal). Em juízo, a vítima compareceu à audiência depersecução penal
instrução e julgamento realizada em 8/5/2019 e novamente prestou declarações.
Conforme a autoridade coatora consignou, “o termo de declaração da vítima M.F.D. (ID 49331961)
deve ser considerado elemento eficaz de representação”, não havendo qualquer lacuna a ser
preenchida.
Ante o exposto, admito o e a ordem.writ DENEGO
É o meu voto.
O Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO - 1º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador DEMÉTRIUS GOMES CAVALCANTI - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO
CONHECIDO. DENEGADA A ORDEM. UNÂNIME.

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