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Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Órgão 3ª Turma Criminal Processo N. HABEAS CORPUS CRIMINAL 0704278-36.2020.8.07.0000 IMPETRANTE(S) TANIA CRISTINA XISTO TIMOTEO e GUILHERME CORREIAEVARISTO AUTORIDADE(S) JUIZO DA PRIMEIRA VARA CRIMINAL E TRIBUNAL DO JÚRI DESANTA MARIA Relator Desembargador WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR Acórdão Nº 1237747 EMENTA DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE ESTELIONATO. LEI N. 13.964/2019. PACOTE ANTICRIME. AÇÃO PENAL CONDICIONADA A REPRESENTAÇÃO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. INEXISTÊNCIA DE RIGOR FORMAL. REGISTRO DE OCORRÊNCIA POLICIAL. PRECEDENTES DO STF E STJ. 1. Com o advento da Lei n. 13.964/19 (Pacote Anticrime), o crime de estelionato, antes processado mediante ação penal pública incondicionada, passará a ter o seu processamento mediante ação pública condicionada à representação. 2. Arepresentaçãoda vítima para a investigação ou deflagração de ação penal prescinde de qualquerrigor formal,bastando a demonstração inequívoca de que a vítima tem interesse na persecução penal, o que ocorreu na hipótese dos autos, visto que a vítima foi à delegacia registrar ocorrência, narrou os fatos e apontou o paciente como autor do estelionato. 3. Ordem denegada. ACÓRDÃO Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - Relator, SEBASTIÃO COELHO - 1º Vogal e DEMÉTRIUS GOMES CAVALCANTI - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador JESUINO RISSATO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. DENEGADA A ORDEM. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 12 de Março de 2020 Desembargador WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR Relator RELATÓRIO Cuida-se de , com pedido de liminar, impetrado pela advogada TANIA CRISTINAhabeas corpus XISTO TIMOTEO em favor de GUILHERME CORREIA EVARISTO, apontando como autoridade coatora o Juízo da 1ª Vara Criminal e Tribunal do Júri de Santa Maria. Narra a impetrante que o paciente foi denunciado como incurso no artigo 171, caput c/c artigo 14, . Aduz que, segundo a denúncia, entre o final de 2016 e 22 deinciso II, ambos do Código Penal fevereiro de 2017, via Facebook e Whatsapp, o denunciado teria tentado obter para si vantagem ilícita em prejuízo de Maicon Ferreira Dantas, induzindo-o a erro mediante meio fraudulento. Alega que, com a entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime), o crime de estelionato passou a ser ação penal publica condicionada a representação, razão pela qual requer seja reconhecida a extinção da punibilidade do paciente, uma vez que não houve representação por parte da suposta vítima para a propositura de denúncia. Salienta que requereu a extinção da punibilidade ao Juízo , mas o pedido foi indeferido (processoa quo n. 0001902-59.2018.8.07.0010). Requer a concessão da ordem para que seja determinada a extinção da punibilidade do paciente em relação ao crime previsto no art. 171 c/c art. 14, II, do CP. Liminar indeferida. Informações prestadas. A il. Procuradoria de Justiça oficiou pela admissão e da ordem.denegação É o relatório. VOTOS O Senhor Desembargador WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - Relator Admito a impetração. GUILHERME CORREIA EVARISTO, paciente, foi denunciado por incurso no art. 171, caput, c/c (Ação processo n.art. 14, II, e no art. 304 c/c 298, na forma do art. 69, todos do Código Penal 0001902-59.2018.8.07.0010). Narrou a denúncia: DO ESTELIONATO (art. 171, caput, do CP) Entre o final de 2016 e 22 de fevereiro de 2017, via Facebook e Whatsapp, o denunciado, de forma consciente e voluntária, tentou obter para si vantagem ilícita em prejuízo de Maicon Ferreira Dantas, induzindo-o a erro mediante meio fraudulento. Nas circunstâncias acima declinadas, Guilherme, com nítido propósito de enganar a vítima, prometeu a retirada do nome de Maicon dqs órgãos de proteção ao crédito, bem como o recebimento de indenização por repáração de danos morais, mediante ajuizamento de ação cível. Para tanto, ficou-g-O-ráado que Guilherme ficaria com 50% do valor que Maicon deveria receber. Acreditando no denunciado, Maicon enviou para Guilherme seus dados pessoais (cópia da identidade, cópia do CPF e endereço residencial). Na sequência, para consumar seu intento de conseguir lucro ilícito em razão do engano provocado na vítima, alterou o endereço de Maicon no documento de fl. 16, a fim de que a vítima não fosse intimada dos atos processuais e, com isso, pudesse levantar em nome próprio o valor total que seria recebido por Maicon. O crime somente não se consumou por circunstâncias alheias à vontade de Guilherme, na medida em que, apesar de efetivamente enganar Maicon, a fraude foi descoberta pelo juízo do 2° Juizado Especial Cível e Criminal de Santa Maria-DF. Na ocasião, a magistrada oficiante naquele órgão jurisdicional percebeu que a mesma fatura, montada de forma fraudulenta para comprovar o endereço de Maicon, havia sido utilizada por Guilherme em outros processos judiciais no Distrito Federal, também para comprovar o endereço de outras vítimas. Com efeito, a demanda foi julgada improcedente, o que impediu Guilherme de obter o lucro pretendido, mesmo após ter conseguido enganar Maicon. DO FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR E DO USO DE DOCUMENTO FALSO (arts. 298 e 304 do CP) Entre o final de 2016 e 22 de fevereiro de 2017, o denunciado, de forma consciente e voluntária, falsificou documentos particulares, a saber uma procuração e uma fatura da empresa NET a fim de comprovar a residência de Maicon. Nas circunstâncias acima declinadas, Guilherme, com nítido propósito de enganar a Maicon, prometeu a retirada do nome da vítima dos órgãos de proteção ao crédito, bem como o recebimento de indenização por reparação de danos morais, mediante ajuizamento de ação cível. Para tanto, ficou acordado que Guilherme ficaria com 50% do valor que Maicon deveria receber. Acreditando no denunciado, Maicon enviou para Guilherme seus dados pessoais (cópia da identidade, cópia do CPF e endereço residencial). Após obter tais documentos, o denunciado, de forma consciente e voluntária, falsificou documento particular, consistente na procuração em anexo e no comprovante de residência de Maicon (fl. 16). Na ocasião, Guilherme fez inserir (a) na procuração os dados de Maicon e uma assinatura falsa; e (b) na fatura de fl. 16 os dados de Maicon, a fim de comprovar a residência de Maicon para fixação da competência do órgão judiciário de Santa Maria-DF. Em seguida, o denunciado, como advogado, fez uso da procuração e do comprovante de residência por ele falsificados, na instrução dos autos 0700303-78.2017.8.07.0010, distribuídos ao Segundo Juizado Especial Cível e Criminal de Santa Maria-DF, em ação proposta em nome de Maicon contra Ativos SÃ. Securitizadora de Créditos Financeiros, na qual se pleiteava a declaração de inexistência de débitos e indenização por danos morais em favor do autor. A trama criminosa, porém, somente foi descoberta pela Juíza de Direito daquele órgão jurisdicional no decurso da instrução processual, consoante se depreende da sentença de improcedência acostada às fls. 6/7. A defesa requereu a extinção da punibilidade na origem, em relação ao crime previsto no art. 171 c/c art. 14, II, do CP, considerando que, com a entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime), o crime de estelionato passou a ser de ação penal pública condicionada à representação. O pedido foi indeferido pelo MM. Juiz da 1ª Vara Criminal e Tribunal do Júri de Santa Maria nos seguintes termos: “A Lei n. 13.964/2019 alterou dispositivos de cunho processual e material no âmbito do Direito Penal, tendo, portanto, reflexos materiais que atraem, prima facie,a aplicação do princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica. Por tratar-se de norma processual penal material, e, especificamente, dispor sobre o direito de representação, a retroatividade da lei não tem caráter absoluto,devendo ser aplicada com razoabilidade em cada caso concreto. O entendimento jurisprudencial é de que o ato da representação prescinde de maiores formalidades. Portanto, o termo de declaração da vítima M.F.D. (ID 49331961) deve ser considerado elemento eficaz de representação. Por essas razões, INDEFIRO o pedido.” No presente habeas corpus, busca a defesa a extinção da punibilidade do paciente, em relação ao crime de estelionato. Entrou em vigor, em 23/1/2020, a Lei n. 13.964/19, conhecida como “Pacote Anticrime”. Com a nova lei, o crime de estelionato, antes processado mediante ação penal pública incondicionada, passará a ter o seu processamento mediante ação pública condicionada à representação, salvo nos casos em que o ofendido for a Administração Pública, criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental ou maior de 70 anos de idade ou incapaz. Eis o teor da norma: Art. 171. § 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for: I – a Administração Pública, direta ou indireta; II – criança ou adolescente; III – pessoa com deficiência mental; ou IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. Trata-se de lei penal mais benéfica, pois passou a exigir representação do ofendido para início da ação penal no crime de estelionato, sendo que, de acordo com o art. 38 do CPP, a representação deverá ser feita no prazo decadencial de 6 (seis) meses. Apesar de tratar-se de norma de natureza mista, com viés de direito material, a ensejar a retroatividade da lei mais benéfica, há de se considerar que .a representação não exige rigorismo formal Renato Brasileiro (in Manual de processo penal: volume único. 5. Ed. Salvador: Ed. JusPodvum, 2017, p. 249) aponta que a representação prescinde de que “haja uma peça escrita com nomen iuris de representação nos autos do inquérito policial ou do processo criminal. Basta que haja a manifestação da vontade da vítima ou de seu representante legal, evidenciando a intenção de que o autor do fato delituoso seja processado criminalmente. Não por outro motivo, já se considerou como representação um mero boletim de ocorrência, declarações prestadas na .”polícia, etc) Esse entendimento é pacífico no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal: 5. De acordo com entendimento já pacificado nesta Corte Superior de Justiça, a representação da vítima ou de seus representantes legais para a investigação ou deflagração de ação penal prescinde de qualquer rigor formal, bastando a demonstração inequívoca de que a vítima tem , o que ocorreu na hipótese dos autos, visto que a ofendida,interesse na persecução penal acompanhada de seus familiares, dirigiu-se até a Promotoria local para narrar o ocorrido, bem como ratificou suas declarações posteriormente perante a autoridade policial e se submeteu a 6. Habeas corpus não conhecido. (HC 466.047/SC,exame pericial junto ao Serviço Médico Legal. Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 19/02/2019, DJe 01/03/2019) [...] 1. A representação do ofendido é ato que dispensa maiores formalidades, bastando a inequívoca manifestação de vontade da vítima, ou de quem tenha qualidade para representá-la, (INQ 3438, de minha relatoria,no sentido de ver apurados os fatos acoimados de criminosos Primeira Turma, DJe 10/2/2015). Preliminar de ofensa ao art. 44 do CPP rejeitada.[...] (AP n. 926/AC, Ministra Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 2/12/2016) Sobre o tema, já decidiu esta eg. Corte de Justiça: Embargos de declaração. Estelionato. L. 13.964/19. Pacote Anti-crime. Ação pública condicionada à representação do ofendido. 1 - Com o advento da L. 13.964/19 (Pacote Anti-crime, a ação penal, no crime de estelionato, passou a ser pública condicionada à representação (§ 5º do art. 171 do CP). 2 - Se o ofendido demonstrou de modo irrefutável o interesse na persecução penal, tem-se por suprida a falta de representação. 3 - Embargos não providos. ( , 00036499020178070006, Relator: JAIR SOARES, 2ª Turma Criminal, data deAcórdão 1234222 julgamento: 20/2/2020, publicado no null: . Pág.: Sem Página Cadastrada.) No caso dos autos, em consulta à Ação Penal n. 0001902-59.2018.8.07.0010, via PJe, verifica-se que houve inequívoca manifestação da vítima, que foi à delegacia, em 6/6/2018, registrar ocorrência, narrou os fatos e apontou o paciente como autor do estelionato, demonstrando o interesse na (ID 49331961 da ação penal). Em juízo, a vítima compareceu à audiência depersecução penal instrução e julgamento realizada em 8/5/2019 e novamente prestou declarações. Conforme a autoridade coatora consignou, “o termo de declaração da vítima M.F.D. (ID 49331961) deve ser considerado elemento eficaz de representação”, não havendo qualquer lacuna a ser preenchida. Ante o exposto, admito o e a ordem.writ DENEGO É o meu voto. O Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO - 1º Vogal Com o relator O Senhor Desembargador DEMÉTRIUS GOMES CAVALCANTI - 2º Vogal Com o relator DECISÃO CONHECIDO. DENEGADA A ORDEM. UNÂNIME.
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