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Dvfab Neoplasias O termo Neoplasia significa “novo crescimento”, em que o novo crescimento é denominado neoplasma. O termo tumor originalmente era aplicado para o edema causado pela inflação, mas atualmente é utilizado como sinônimo para neoplasia. (BOGLIOLO) Proliferação celular em condições normais é atividade complexa que depende da atuação coordenada de produtos de vários genes, os quais controlam o processo em resposta a estímulos internos e externos. (BOGLIOLO) A célula neoplásica sofre alteração nos seus mecanismos regulatórios de multiplicação, adquire autonomia de crescimento e torna-se independente de estímulos fisiológicos. (BOGLIOLO) As atividades celulares que se manifestam continuamente, sem regulação, são chamadas constitutivas; para a célula tumoral, proliferação é atividade constitutiva. (BOGLIOLO) Uma das características principais das neoplasias é justamente proliferação celular descontrolada. (BOGLIOLO) Em neoplasias, em geral ocorre, junto com o aumento da proliferação, perda da diferenciação celular. Como resultado de tudo isso, as células neoplásicas progressivamente sofrem perda de diferenciação e tornam-se atípicas. (BOGLIOLO) A neoplasia consiste em um distúrbio de crescimento celular desencadeado por uma série de mutações adquiridas que afetam uma única célula e sua progênie clonal, essas mutações conferem para as células neoplásicas vantagens de sobrevivência e de crescimento, resultando em proliferação excessiva. (BOGLIOLO) Os tumores apresentam dois componentes básicos: (BOGLIOLO) ➢ Células neoplásicas clones que constituem o parênquima tumoral, ➢ Estroma reativo composto por tecido conjuntivo, vasos sanguíneos e células do sistema imune. Existem neoplasias benignas e malignas, as primeiras são consideradas relativamente inocentes por seus aspectos micro e macroscópicos evidenciarem seu baixo potencial disseminativo e sua localização fixa; as neoplasias malignas, referidas coletivamente como cânceres, têm alto potencial disseminativo para áreas distantes (metástase), além de invadir e destruir as estruturas adjacentes, podendo levar o indivíduo à morte. (BOGLIOLO) Os tumores malignos seguem uma nomenclatura importante para seu estudo, tumores que surgem em tecidos mesenquimais são chamados de sarcomas (do grego sar = carnosa), os que surgem em células sanguíneas são denominados leucemias (literalmente, sangue branco) ou linfomas (tumores em linfócitos ou seus precursores). Neoplasias malignas originadas nas células epiteliais são denominadas carcinomas. Os carcinomas podem receber ainda algum grau de especificidade, sendo o carcinoma de células escamosas um tumor com células tumorais que lembram o epitélio escamoso, e o adenocarcinoma denota uma lesão em que as células tumorais apresentam padrão glandular. Quando a origem tecidual é desconhecida refere-se como tumor maligno indiferenciado. (BOGLIOLO) Epidemiologia do câncer pulmonar O câncer de pulmão, segundo as estimativas 2020, é o terceiro mais comum em homens (17.760 casos novos) e o quarto em mulheres no Brasil (12.440 casos novos) - sem contar o câncer de pele não melanoma. É o primeiro em todo o mundo em incidência entre os homens e o terceiro entre as mulheres. (INCA) Em mortalidade é o primeiro entre os homens e o segundo entre as mulheres segundo estimativas mundiais de 2020, que apontou incidência de 2,12 milhão de casos novos, sendo 1,35 milhão em homens e 770 mil em mulheres. (INCA) A taxa de incidência vem diminuindo desde meados da década de 1980 entre homens e desde meados dos anos 2000 entre as mulheres. Essa diferença deve-se aos padrões de adesão e cessação do tabagismo constatados nos diferentes sexos. (INCA) A maioria dos casos de câncer do pulmão ocorre entre os 50 e 70 anos. Em pacientes com menos de 40 anos, sua incidência é menor do que 5%. (BARRETO) Câncer de Pulmão Julia Menezes de Souza Soares • 3 período de Medicina Tutoria 16 No Brasil, a doença foi responsável por 28.620 mortes em 2020. No fim do século XX, o câncer de pulmão se tornou uma das principais causas de morte evitáveis. (INCA) Em cerca de 85% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco. (INCA) O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão. (INCA) O cigarro é, de longe, o mais importante fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão. A taxa de mortalidade de 2011 para 2015 diminuiu 3,8% ao ano em homens e, 2,3% ao ano em mulheres, devido à redução na prevalência do tabagismo. (INCA) A taxa de sobrevida relativa em cinco anos para câncer de pulmão é de 18% (15% para homens e 21% para mulheres). (INCA) Apenas 16% dos cânceres são diagnosticados em estágio inicial (câncer localizado), para o qual a taxa de sobrevida de cinco anos é de 56%. (INCA) Etiologia e fatores de risco do câncer de pulmão Tabagismo O tabagismo é o grande responsável pela altíssima incidência do câncer do pulmão: 90% dos pacientes são fumantes ou ex-fumantes e em torno de 3% são fumantes passivos. (BARRETO) Os responsáveis pelo desenvolvimento da doença são os inúmeros carcinógenos contidos na fumaça inalada diretamente pelo fumante e na fumaça do ambiente, liberada do tabaco queimado entre as tragadas e somada à fumaça exalada pelo fumante. (BARRETO) Embora o risco de câncer do pulmão diminua significativamente depois da cessação do fumo, a redução total do risco da doença leva anos, e o risco de um indivíduo nunca retorna ao nível de outro que nunca fumou. (BARRETO) Sabe-se que as populações com exposição ao fumo de 20 maços/ano ou mais têm sido consideradas as de mais alto risco. Devido ao grande número de antigos fumantes, os novos casos de câncer do pulmão são diagnosticados de forma mais comum nos fumantes antigos que nos jovens. (BARRETO) O tabagismo, atualmente, é uma epidemia mundial entre as mulheres jovens, e isto poderá ser traduzido, nos próximos anos, pelo aumento expressivo na incidência das doenças relacionadas com o cigarro nessa população (BARRETO) Radon Concentrações aumentadas de gás radônio em casa estão associadas a um pequeno, mas estatisticamente significativo, aumento no risco de câncer de pulmão. (MANINNO, uptode) O radônio, um produto gasoso do decaimento do urânio- 238 e do rádio-226, é capaz de danificar o epitélio respiratório através da emissão de partículas alfa (MANINNO, uptode) Amianto A exposição ao amianto é um fator de risco estabelecido para câncer de pulmão. Pacientes com exposição ao amianto complicada por fibrose intersticial (ou seja, asbestose) são muito mais propensos a desenvolver câncer de pulmão do que pacientes com exposição ao amianto isoladamente (MANNINO, uptode) Radioterapia A radioterapia (RT) pode aumentar o risco de um segundo câncer de pulmão primário em pacientes que foram tratados para outras malignidades. Este aumento no risco parece ser mais pronunciado em fumantes. (MANNINO, uptode) Inflamação e doença pulmonar benigna Várias doenças pulmonares benignas têm sido associadas a um risco aumentado de câncer de pulmão, que parece ser mediado por inflamação crônica. O risco de câncer de pulmão foi elevado em pacientes com história de enfisema, pneumonia e tuberculose. (MANNINO, uptode) Absteto Quando inaladas, as partículas de asbesto alojam-se nos pulmões sem serem eliminadas, levando à lesão celular e ao aumento do risco de câncer de pulmão. Vale ressaltar que a exposição ao asbesto isolada aumenta o risco em 4 a 5 vezes o da população normal, porém a associação asbesto-tabaco potencializa esse risco em progressão geométrica, chegando a valores de risco 80 vezes maiores em relação a quem não sofrenenhuma das 2 exposições. (MANNINO, uptode) Julia Menezes de Souza Soares • 3 período de Medicina Outras influências Outras influências carcinogênicas associadas a exposições ocupacionais atuam em conjunto com o tabagismo e podem ser, por vezes, responsáveis pelo câncer de pulmão sozinhas; como exemplos, têm-se o trabalho em minas de urânio, o trabalho com asbesto e a inalação de poeiras contendo arsênio, cromo, níquel ou cloreto de vinil. Um exemplo comum da interação sinérgica entre dois carcinógenos é o asbesto e o tabagismo. (ROBBINS). Classificação do câncer pulmonar Os principais tipos histológicos de carcinoma de pulmão são adenocarcinoma, carcinoma de células escamosas, carcinoma de pequenas células e carcinoma de grandes células. Em alguns casos pode ocorrer a combinação de diferentes tipos histológicos em um mesmo paciente. (BARRETO) Até pouco tempo, as neoplasias pulmonares eram classificadas em dois grupos: câncer de pulmão de células pequenas (CPCP), que tinha por característica a apresentação de metástase no momento do diagnóstico, não podendo ser curados por meio de cirurgia, e câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP), que inclui adenocarcinomas, carcinoma de células escamosas e carcinoma de grandes células, caracterizados por uma grande propensão ao tratamento cirúrgico por não responderem bem à quimioterapia. (BARRETO) Entretanto, com o avanço das técnicas terapêuticas, os CPCNP são mais bem classificados com base em seu tipo histológico e características moleculares. (BARRETO) O CPCNP apresenta tre ̂s tipos principais: (BARRETO) ➢ Carcinoma de células escamosas (25 a 35% dos casos), que se origina do epitélio brônquico e mostra, tipicamente, localização mais central; ➢ Adenocarcinoma ( 25 a 35% dos casos), que origina-se das glândulas mucosas e, tipicamente, localiza-se perifericamente; ➢ Carcinoma de grandes células (10% dos casos), um grupo heterogêneo dos tumores mal diferenciados que não apresenta aspectos de adenocarcinoma, carcinoma escamoso ou CPPC. Um subtipo distinto do adenocarcinoma é o carcinoma bronquíolo-alveolar, que se origina das células epiteliais na porção distal da via respiratória, atapetando os alvéolos, e se apresenta, mais comumente, como um infiltrado difuso em ambos os pulmões ou como nódulos únicos ou múltiplos. (BARRETO) Cânceres pulmonares de pequenas células Os CPPC caracterizam-se por um tipo celular distintivo, isto é, células redondas ou ovais pequenas com tamanho semelhante ao de um linfócito. (PORTH) As células proliferam em grupos que não demonstram organização glandular ou escamosa. (PORTH) É de origem brônquica e, de modo peculiar, se inicia como uma lesão central que pode, com frequência, estreitar ou obstruir os brônquios (ZAMBONI, 2009) Exames de microscopia eletrônica revelam a existência de grânulos neurossecretórios em algumas células do tumor, que são semelhantes aos encontrados no epitélio brônquico do feto ou do recém-nascido. Esses grânulos sugerem a possibilidade de que alguns desses tumores secretem hormônios polipeptídicos. (PORTH) Marcadores neuroendócrinos, como enolase específica dos neurônios, peptídio semelhante ao paratormônio e outros produtos hormonais ativos, sugerem que esses tumores podem ter origem nas células neuroendócrinas do epitélio brônquico. Esse tipo de célula está diretamente associado ao tabagismo e somente em casos raros é observado em indivíduos que nunca fumaram. (PORTH) Os CPPC são altamente malignos, tendem a causar infiltrados difusos, disseminam em estágios precoces de sua evolução e quase nunca são operáveis. (PORTH) Metástases cerebrais são especialmente comuns e podem ser as primeiras manifestações do tumor. Esse tipo de câncer pulmonar está associado a várias síndromes paraneoplásicas, inclusive síndrome de secreção inadequada de hormônio antidiurético (SSIADH), síndrome de Cushing associada à secreção ectópica de hormônio adrenocorticotrófico e síndrome de EatonLambert (um distúrbio neuromuscular). (PORTH) Julia Menezes de Souza Soares • 3 período de Medicina Cânceres pulmonares de células não pequenas Carcinoma espinocelular É diagnosticado mais comumente nos homens e está relacionado com a história de tabagismo. (PORTH) Esse tipo de carcinoma tende a originar-se dos brônquios centrais, como uma proliferação intraluminar e, por isso pode ser diagnosticado mais precocemente pelo exame citológico do escarro, em comparação aos outros tipos de câncer do pulmão. (PORTH) O carcinoma espinocelular busca disseminar-se centralmente aos brônquios primários e aos linfonodos hilares e, nos estágios mais avançados que com os outros cânceres broncogênicos, espalha-se para fora do tórax. (PORTH) O carcinoma espinocelular está associado às síndromes paraneoplásicas que causam hipercalcemia. (PORTH) Adenocarcinoma Hoje em dia, adenocarcinoma é o tipo mais comum de câncer de pulmão nos EUA. (PORTH) A associação desse tipo de câncer ao tabagismo é menos evidente que a do carcinoma espinocelular. O adenocarcinoma de pulmão é mais comum nas mulheres e em não fumantes. (PORTH) Os adenocarcinomas podem originar-se dos tecidos bronquiolares ou alveolares do pulmão. Esses tumores tendem a se localizar mais perifericamente que os carcinomas espinocelulares e, em alguns casos, estão associados a áreas de retração fibrótica. (PORTH) Essas áreas podem ser ocasionadas por infartos antigos, corpos estranhos metálicos, feridas e infecções granulomatosas, inclusive tuberculose. Em geral, os adenocarcinomas têm prognóstico mais desfavorável que os carcinomas espinocelulares nos estágios correspondentes. (PORTH) Carcinoma de células grandes Caracteriza-se por células poligonais volumosas. Esses tumores constituem um grupo de neoplasias altamente anaplásicas e difíceis de classificar como carcinomas espinocelulares ou adenocarcinomas. (PORTH) Os carcinomas de células grandes tendem a ocorrer na periferia dos pulmões e invadir brônquios segmentares e vias respiratórias mais calibrosas. (PORTH) Os tumores desse tipo têm prognóstico desfavorável, em razão de sua tendência a produzir focos metastásticos distantes em estágios iniciais de sua evolução. (PORTH) Morfologia do câncer de pulmão Carcinomas de pulmão de pequenas células Geralmente aparecem como massas localizadas centralmente, de cor cinza-pálida, estendendo-se para o interior do parênquima pulmonar. (ROBBINS) Estes cânceres são compostos de células tumorais relativamente pequenas, com formato redondo a fusiforme, citoplasma escasso e cromatina finamente granular, com aparência de “sal e pimenta”. Há presença de numerosas figuras de mitose. (ROBBINS) As células tumorais são frágeis e frequentemente apresentam fragmentação e artefato de “esmagamento” em espécimes de biópsia pequenos. Outro achado, que é mais bem visualizado em espécimes citológicos, é o amoldamento nuclear, em virtude da aposição das células tumorais com citoplasmas escassos. Estes tumores expressam vários marcadores neuroendócrinos e podem secretar uma gama de hormônios polipeptídicos que podem resultar em síndromes paraneoplásicas. No momento do diagnóstico, a maior parte terá se metastatizado para linfonodos hilares e mediastinais. Adenocarcinoma Os adenocarcinomas são, de modo geral, localizados perifericamente, mas também podem ocorrer próximos Julia Menezes de Souza Soares • 3 período de Medicina ao hilo. Em geral, os adenocarcinomas crescem lentamente, formando massas menores do que outros subtipos, porém tendem a metastatizar amplamente, mesmo nos estágios iniciais. Podem assumir uma variedade de padrões de crescimento, como os tipos: (ROBBINS) ➢ Acinar: estruturas glandulares com formação de lúmen; glândulas redondas/ ovais invadindo o estroma (geralmentefibroso). ➢ Lepídico: proliferação na parede alveolar; pouca complexidade arquitetônica; sem invasão linfovascular ou perineural. ➢ Papilar: crescimento longo de eixo fibroconjuntivo; células cuboidais/colunares malignas substituem o revestimento alveolar; contém núcleos fibrovasculares. ➢ Micropapilar: arranjo papilar sem eixo fibroconjuntivo; projeção/tufagem mal definida sem núcleos fibrovasculares (pior prognóstico). ➢ Mucinoso: (frequentemente multifocal e pode se manifestar como consolidação semelhante à pneumonia): mucina intracitoplasmática. Anteriormente chamada bronquioloalveolar mucinosa; tende a se espalhar pelos espaços aéreos, formando tumores satélites. Estes podem surgir como nódulos solitários ou múltiplos, ou comprometer um lobo inteiro (menor probabilidade de cura por cirurgia) ➢ Sólido: A variante sólida geralmente requer a evidenciação de mucina intracelular por colorações especiais para identificar sua diferenciação adenocarcinomatosa. Tem localização mais periférica, apresentando-se com maior prevalência no lobo superior do pulmão. Na radiologia, se apresenta com bordas bem definidas, lobuladas ou espiculadas, com presença de broncogramas aéreos. Tem aspecto sólido; opacidades em vidro fosco são subtipo mucinoso ou padrão lepídico. Pode conter focos de metaplasia e displasia escamosa no epitélio proximal, não sendo essas, no entanto, suas lesões precursoras. Acredita-se que a lesão precursora do adenocarcinoma seja a hiperplasia adenomatosa atípica, com progressão para o adenocarcinoma in situ, adenocarcinoma minimamente invasivo (tumores menores que 3 cm e com componente invasivo menor que 5 mm), e adenocarcinoma invasivo (tumor de qualquer tamanho, infiltrando maiores áreas). (ROBBINS) ➢ Hiperplasia adenomatosa atípica: se organiza como uma proliferação epitelial bem demarcada ao longo dos alvéolos, com espessura de até 5 mm; é composta por epitélio cuboidal ou colunar baixo, com atipia citológica de grau variado (hepercromasia nuclear, pleomorfismo e nucléolo proeminente). ➢ Adenocarcinoma in situ (AIS): também é chamado de carcinoma broncoalveolar; afeta áreas periféricas dos pulmões, com nódulo único. Tem proliferação atípica padrão lepídico, sem áreas de invasão estromal e destruição da arquitetura alveolar, diâmetro menor que 3 cm. Carcinoma de células escamosas São mais comuns em homens do que em mulheres, e estão fortemente relacionados com um histórico de tabagismo; tendem a surgir no centro dos brônquios principais, podendo eventualmente se disseminar para nódulos hilares locais; contudo, disseminam-se para fora do tórax mais tardiamente do que outros tipos histológicos. Lesões de grandes dimensões podem sofrer necrose central, levando à formação de cavitação (ROBBINS) As lesões pré-neoplásicas que os antecedem, e que geralmente os acompanham, são bem-caracterizadas (ROBBINS) Os carcinomas de células escamosas costumam ser precedidos pelo desenvolvimento, durante anos, de metaplasia ou displasia escamosa do epitélio brônquico, a qual, então, transforma-se em carcinoma in situ. Esta fase pode durar muitos anos. Neste momento, as células atípicas podem ser identificadas em raspados citológicos de escarro ou em Julia Menezes de Souza Soares • 3 período de Medicina fluido de lavado brônquico, embora a lesão seja assintomática e indetectável por meio de radiografias. Eventualmente, a pequena neoplasia alcança um estágio sintomático, quando uma massa tumoral bem-definida começa a obstruir a luz de um brônquio principal, frequentemente produzindo atelectasia distal e infecção. Simultaneamente, a lesão invade o parênquima pulmonar adjacente (ROBBINS) Carcinoma de grandes células São tumores epiteliais malignos indiferenciados que não possuem as características citológicas do carcinoma neuroendócrino, nem qualquer evidência de diferenciação glandular ou escamosa. (ROBBINS) As células tipicamente apresentam núcleos aumentados, nucléolos proeminentes e quantidades moderadas de citoplasma. (ROBBINS) Fisiopatologia do câncer de pulmão O câncer do pulmão se origina mais comumente nos lobos superiores do que nos lobos inferiores e mais no pulmão direito do que no pulmão esquerdo. A localização mais comum das neoplasias dos pulmões é o segmento anterior do lobo superior direito (ZAMBONI, 2009) Assim como ocorre com outros cânceres, os carcinomas de pulmão relacionados com o tabagismo surgem a partir de acúmulos graduais de mutações condutoras que resultam em transformação maligna de células progenitoras benignas no pulmão em células neoplásicas, que possuem as características típicas do câncer. (ROBBINS) A sequência de alterações moleculares não é aleatória, mas tende a seguir uma sequência caminhando paralelamente à progressão histológica em direção ao câncer. Desta forma, a inativação pontual dos genes supressores de tumor localizados no braço curto do cromossomo 3 (3p) é um evento inicial muito comum, ao passo que mutações no gene supressor de tumor TP53 e no oncogene KRAS ocorrem de forma relativamente tardia. (ROBBINS) Determinadas alterações genéticas, como a perda de material cromossômico no 3p, são encontradas no epitélio brônquico benigno de tabagistas sem câncer de pulmão, o que sugere que grandes áreas da mucosa respiratória sofrem mutação pela exposição aos carcinógenos (“efeito de campo”). Neste solo fértil, as células que acumulam mutações adicionais eventualmente progridem para o câncer. (ROBBINS) Um subgrupo de adenocarcinomas (cerca de 10% em brancos e 30% em asiáticos), especialmente os que surgem em mulheres não tabagistas, apresenta mutações que ativam o receptor do fator de crescimento epidérmico (epidermal growth factor receptor – EGFR), que é um receptor tirosina cinase que estimula as vias prócrescimento envolvendo RAS, PI3K e outras moléculas de sinalização. (ROBBINS) Embora o tabagismo e outras influências ambientais sejam fundamentais para a origem do câncer de pulmão, nem todos os indivíduos expostos à fumaça do tabaco desenvolvem câncer de pulmão (cerca de 11% dos fumantes inveterados o desenvolvem). (ROBBINS) É bastante provável que o efeito mutagênico dos carcinógenos seja modificado por fatores hereditários (genéticos). Cabe lembrar que muitos químicos requerem a ativação metabólica através do sistema da enzima monoxigenase do P-450 para a conversão em carcinógenos efetivos. (ROBBINS) Os indivíduos que possuem determinados polimorfismos envolvendo os genes do P-450 apresentam maior capacidade de ativar pró-carcinógenos, encontrados na fumaça do cigarro, e assim são expostos a doses mais altas destes carcinógenos, o que aumenta o risco de desenvolvimento do câncer de pulmão. (ROBBINS) De maneira semelhante, indivíduos cujos linfócitos do sangue periférico sofrem quebras cromossômicas após exposição a carcinógenos relacionados com o tabagismo Julia Menezes de Souza Soares • 3 período de Medicina (genótipo sensível a mutagênicos) possuem risco mais de 10 vezes maior para o desenvolvimento de câncer de pulmão do que indivíduos do controle. (ROBBINS) Manifestações clínicas do câncer de pulmão A clínica da neoplasia pulmonar é extremamente variável, existindo pacientes assintomáticos e pacientes com múltiplos sintomas. Esses carcinomas são geralmente silenciosos e, muitas das vezes, as lesões insidiosas se espalham de modo que se tornam irressecáveis antes mesmo de produzir sintomas. (BARRETO) Tosse A tosse, seca ou produtiva, é o sintoma mais comum associado ao câncer do pulmão. A maioria dos pacientes com suspeita de câncer do pulmão é fumante de longa data e freqüentemente portador de bronquite crônica. Por isso, a tosse e a expectoração, habitualmente presentes nesses pacientes, com freqüe ̂ncianão são devidamente valorizadas (BARRETO) A tosse pode ser causada por um pequeno tumor agindo como um corpo estranho dentro do brônquio ou pode ser secundária à ulceração da mucosa. (BARRETO) Anorexia e emagrecimento Assim como outros tipos de câncer, o de pulmão causa sinais e sintomas inespecíficos como anorexia e emagrecimento. Uma vez que seus sintomas são parecidos com aqueles associados ao tabagismo e à bronquite crônica, tais queixas geralmente não são levadas em consideração. Muitos pacientes que se apresentam com indícios de um câncer de pulmão já têm metástases. (PORTH) Hemoptise Hemoptise (i. e., sangue no escarro) acontece quando a lesão provoca erosão dos vasos sanguíneos. (PORTH) A hemoptise está presente em um terço dos casos das neoplasias pulmonares. Por isso, toda hemoptise, em indivíduo com mais de 40 anos, deve ser investigada com raio X do tórax e broncofibroscopia. Aproximadamente 20% de todos os casos de hemoptise resultam do câncer do pulmão. (BARRETO) Rouquidão Os tumores que invadem o mediastino podem causar rouquidão secundária ao envolvimento do nervo laríngeo recorrente (PORTH) Dificuldade de deglutir Dificuldade de deglutir em consequência da compressão do esôfago. (PORTH) Dispneia A dispneeia geralmente é causada pela obstrução tumoral de um brônquio principal ou da traqueia. Os tumores periféricos somente causam dispnéia quando são suficientemente grandes para interferir na função pulmonar, quando associados aos derrames pleurais volumosos ou como conseqüência de extensa linfangite carcinomatosa (BARRETO) Dor torácica Os receptores de dor do tórax estão limitados a pleura parietal, mediastino, grandes vasos sanguíneos e fibras vagais aferentes peribrônquicas. (PORTH) Dor retrosternal difusa, intermitente e mal localizada é comum com os tumores que invadem o mediastino. (PORTH) A dor torna-se persistente, localizada e mais grave quando a doença invade a pleura. (PORTH) Sibilo O sibilo é causado pelo estreitamento de um grande brônquio, pela obstrução tumoral ou pela compressão A presença de neoplasias pulmonares pode acarretar em efeitos secundários, distais ao ponto de envolvimento brônquico. Destaca-se a seguir alguns sintomas primários e suas possíveis patologias secundárias: ➢ Obstrução parcial: enfisema focal acentuada; ➢ Obstrução: atelactasia; ➢ Drenagem prejudicada das vias aéreas: bronquite supurativa ou ulcerativa severa ou bronquiectasia; ➢ Abscessos pulmonares: sinal para carcinoma silencioso sob outros aspectos; ➢ Compressão ou invasão da veia cava superior: congestão venosa e edema da cabeça e dos braços; ➢ Comprometimento circulatório: síndrome da veia cava superior. Julia Menezes de Souza Soares • 3 período de Medicina extrínseca, e tem significado quando é unilateral, localizado e de origem recente. (BARRETO) Estridor O estridor é produzido pela obstrução quase total do brônquio principal ou da traquéia, em sua porção inferior, e geralmente é pouco valorizado pelo paciente (BARRETO) Febre A febre e os calafrios podem estar presentes nos pacientes com câncer do pulmão como manifestações secundárias à pneumonite obstrutiva ou à atelectasia. (BARRETO) Síndrome da veia cava superior Uma complicação rara conhecida como síndrome da veia cava superior ocorre em alguns pacientes com envolvimento mediastínico. A interrupção do fluxo sanguíneo desse vaso geralmente é causada pela compressão pelo tumor ou linfonodos afetados. A síndrome pode interferir na drenagem venosa da cabeça, do pescoço e da parede torácica (PORTH) Síndrome paraneoplásicas O termo síndrome paraneoplásica é utilizado para identificar um grupo de sinais e sintomas secundários às neoplasias que ocorrem em locais distantes do tumor primitivo e de suas metástases (BARRET0). Essas síndromes são resultado da produção ectópica de peptídios hormonais pelo tumor ou da formação de autoanticorpos liberados em resposta ao tumor. Têm etiologia endócrina, neurológica e/ou imune (PORTH) Elas são causadas pela produção sistêmica pelo tumor de diversas substâncias, como polipeptídeos, hormônios, anticorpos, complexos imunes, prostaglandinas, citocinas (BARRETO). As síndromes paraneoplásicas mais comumente associadas ao câncer do pulmão são: ➢ Endócrinas (síndrome de Cushing) ➢ Hipercalcemia ➢ Neurológicas (neuropatia periférica sensorial subaguda, encefalomielite, neuropatia autonômica, síndrome miastênica de Lambert- Eaton e polimiosite) ➢ Osteoartropatia hipertrófica (caracterizada por baqueteamento digital, proliferação periostal dos ossos longos e artrite) Diagnóstico do câncer de pulmão O diagnóstico do câncer de pulmão baseia-se na história e no exame físico detalhados, bem como em outros exames, incluindo radiografias do tórax, broncoscopia, exames citológicos do escarro ou lavados brônquicos, biopsia dos tecidos pulmonares por agulha percutânea e biopsia de linfonodo escalênico (PORTH) Radiografia do tórax É útil para o diagnóstico do câncer do pulmão nos pacientes assintomáticos e tem uma sensibilidade maior do que a citologia do escarro (BARRETO). Apesar dos lobos superiores serem os locais mais comuns, são regiões de difícil avaliação radiológica por causa da superposição das imagens das clavículas e dos primeiros arcos costais (BARRETO) Achados no raio-x: ➢ Aumento hilar: é provavelmente, o achado radiológico mais comum nos pacientes com câncer do pulmão. Esse aumento pode ser devido ao próprio tumor, ao aumento dos linfonodos do hilo ou a ambos. As massas hilares aparecem nos carcinomas escamosos e dos CPPCs ➢ Cavitação é típica do carcinoma escamoso, mas também pode estar presente no carcinoma de grandes células. TC, RM e ultrassonografia São usadas para localizar as lesões e avaliar a extensão da doença (PORTH). Os pacientes com CPPC também devem fazer TC ou RM do encéfalo para detectar metástases (PORTH) Tomografia por emissão de pósitrons (PET) É uma alternativa não invasiva para detectar lesões metastáticas do mediastino ou de estruturas distantes (PORTH) Citologia do escarro A citologia do escarro é um método não-invasivo de muita utilidade na definição diagnóstica do câncer do pulmão (BARRETO). Julia Menezes de Souza Soares • 3 período de Medicina Seu rendimento depende da existência de expectoração, do tamanho e localização do tumor e da experiência do citopatologista. (BARRETO) Sua sensibilidade para os tumores proximais está em torno de 80%. Para os tumores periféricos e menores que 3 cm seu rendimento é menor do que 20% (BARRETO). O número apropriado de amostras que devem ser coletadas não está bem definido, mas o recomendado é que se colha 3 amostras matinais em três dias consecutivos (BARRETO) Broncofiblroscopia É comumente utilizada para o diagnóstico e o estadiamento do câncer do pulmão (BARRETO) As alterações endoscopicamente visíveis devem ser lavadas, escovadas e biopsiadas. A biópsia transbrônquica está indicada nas lesões submucosas e naquelas que causam compressão extrínseca (BARRETO) Mediastinoscopia cervical e a mediastinotomia anterior Têm sido utilizadas tradicionalmente para o diagnóstico do câncer do pulmão e principalmente para o estadiamento mediastinal (ZAMBONI, 2009) A mediastinoscopia cervical alcança os linfonodos paratraqueais à direita e os subcarinais, e, por meio da mediastinotomia anterior, pode-se alcançar os linfonodos paratraqueais à esquerda, os supraaórticos e os da janela aortopulmonar (BARRETO) Estadiamento do câncer do pulmão O estadiamento é a avaliação da extensão da doença neoplásica de um paciente, permitindo seu agrupamento com outros pacientes com extensão de doença semelhante e objetivando uniformizar os tratamentos e facilitara análise de dados epidemiológicos (BARRETO) O estadiamento baseia-se na avaliação do tamanho, da localização e do grau de invasão do tumor primário, bem como na identificação da possível presença de doença loco-regional ou metastática (BARRETO) Segundo Zamboni (2009), o atual sistema de estadiamento do câncer do pulmão baseia-se naquele proposto por Denoix, em 1946, no qual são avaliados: ➢ Tumor (T) ➢ Linfonodos (N) ➢ Presença ou não de metástases a distância(M) CPCNP: são classificados de acordo com o tipo de célula (icarcinoma de espinocelular, adenocarcinoma e carcinoma de células grandes) e estagiados com base no sistema internacional de estadiamento TNM (PORTH)´ CPPC: não são estagiados com base no sistema TNM, porque se supõe que existam micrometástases por ocasião do diagnóstico. Esses tumores são classificados, em geral, como: ➢ Doença limitada quando o tumor está confinado a um hemitórax (PORTH). ➢ Doença extensiva: quando se disseminou além desses limites (PORTH) Referências: NSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (Brasil). Tipos de câncer. [Brasília, DF]: Instituto Nacional do Câncer, 2022. Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia . Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2021. Kumar, Vinay. Robbins Patologia Básica . Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2018. Barreto, Sérgio S. M. Pneumologia. (Série no Consultório). Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo A, 2008. FILHO, Geraldo B. Bogliolo - Patologia Geral . [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2018. E-book. Julia Menezes de Souza Soares • 3 período de Medicina
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