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SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA Prof. Luiz Henrique Biscaia Ribeiro da Silva SANEAMENTO Marília/SP 2022 “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 SUMÁRIO CAPÍTULO 01 CAPÍTULO 02 CAPÍTULO 03 CAPÍTULO 04 CAPÍTULO 05 CAPÍTULO 06 CAPÍTULO 07 CAPÍTULO 08 CAPÍTULO 09 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 07 16 25 30 38 48 57 68 78 87 95 103 114 123 131 SANEAMENTO BÁSICO: IMPORTÂNCIA SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL SANEAMENTO BÁSICO E SAÚDE RECURSO ÁGUA SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA TRATAMENTO DA ÁGUA GERAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS ESGOTOS SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO TRATAMENTO DOS ESGOTOS DRENAGEM URBANA E MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS SISTEMA DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS RESÍDUOS SÓLIDOS GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS SANEAMENTO BÁSICO RURAL: ABASTECIMENTO DE ÁGUA SANEAMENTO BÁSICO RURAL: ESGOTAMENTO SANITÁRIO, DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS E MANEJO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 INTRODUÇÃO Você sabe o que é saneamento básico? Qual a importância do saneamento básico para a população? Qual é a realidade do saneamento básico no Brasil? Durante nossa jornada, iremos responder a essas perguntas, buscando entender o que é saneamento básico e qual a sua importância para a saúde da população e para a preservação do meio ambiente. O saneamento básico envolve alguns recursos naturais, principalmente o recurso mais importante para a vida dos seres vivos, a água. Sendo assim, também iremos estudar como a água está envolvida no processo de saneamento básico. Veremos que o saneamento básico é sustentado por 4 pilares fundamentais para saúde da comunidade, que são: abastecimento de água; esgotamento sanitário; drenagem e manejo das águas pluviais; e o gerenciamento dos resíduos sólidos. Cada um desses pilares será abordado de forma individual durante nossa caminhada, e é muito importante que ao final dos estudos você, estudante, compreenda todos eles e saiba das suas devidas importâncias. Mas é claro que o saneamento básico não se aplica apenas às áreas urbanas, pois as áreas rurais também precisam de água devidamente tratada e em condições potáveis, assim como de um sistema de esgotamento sanitário para a destinação e tratamento dos esgotos, de medidas de manejo e drenagem das águas pluviais e também de um gerenciamento dos resíduos sólidos gerados. Assim, também iremos estudar alternativas capazes de suprir as necessidades das áreas rurais. Convido você a aprofundar seus conhecimentos no universo do saneamento básico ao longo da leitura das 15 aulas. Vamos lá? SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 CAPÍTULO 1 SANEAMENTO BÁSICO: IMPORTÂNCIA Olá, estudante! Você conhece a importante relação entre o saneamento básico e suas unidades operacionais, como o sistema de abastecimento de água e sistema de esgoto sanitário com a saúde pública? Nesta primeira aula, iremos estudar sobre a importância do Saneamento Básico, bem como sua necessidade para a qualidade de vida do ser humano e preservação do meio ambiente. Introdução ao saneamento Sabemos que a água é um recurso fundamental para a existência do ser humano, motivo pelo qual o homem sempre se manteve próximo aos corpos d’água, a fim de garantir sua sobrevivência. Desde as antigas civilizações, compreendidas entre os séculos V e XV, poços no interior das casas já eram escavados, assim como perto de pocilgas e fossas, o que provocava a contaminação das águas e ocorrência de doenças de veiculação hídrica. Nesse mesmo período, os resíduos sólidos gerados pela população eram depositados em locais públicos, o que acabava atraindo vetores transmissores de doenças (ROCHA, 2018). Os romanos construíram aquedutos em toda a sua República, buscando a obtenção de água de fontes externas para suas cidades e vilas, as águas eram armazenadas em reservatórios, e, destes, até fontes menores para fontes públicas e banhos públicos. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 Figura 1.1: Aquedutos Romanos Fonte: https://stock.adobe.com/br/search/images?filters%5Bcontent_type%3Aphoto%5D=1&hide_panel=true&k=arqueduto+romano&search_ type=usertyped&asset_id=1874415 Já na Idade Moderna (entre os séculos XV e XVIII), foram desenvolvidos os sistemas de abastecimento de água por meio do bombeamento hidráulico, máquinas a vapor, tubos de ferro fundido e recalques d’água (ROCHA, 2018). Entre o século de 1800 a 1900, verificou-se a necessidade de autodepurar e tratar o esgoto sanitário antes de despejá-lo nos corpos hídricos a fim de evitar a contaminação do local. Assim, diversos países ao redor do mundo passaram a investir em tecnologias de tratamento de esgotos, as quais foram sendo aperfeiçoadas até os dias atuais, como tanque séptico, filtro biológico, lagoas de estabilização, entre outros. Vale a pena destacar o fato histórico em que o médico inglês John Snow (1813-1858) demonstrou que a cólera estava associada à água contaminada por fezes. Na época, novos conhecimentos da microbiologia ajudaram a reforçar a necessidade de adoção de ações preventivas voltadas para o avanço do saneamento básico (ROCHA, 2018). Logo, a consciência de que a contaminação dos corpos hídricos com o lançamento de esgotos domésticos trazia consequências como veículo de agentes transmissores de doenças e a necessidade de proteger a saúde pública se tornaram essenciais, e barreiras poderosas de contribuição nesse combate seriam os sistemas de tratamento de esgotos aliados aos sistemas de tratamento de água (CALIJURI & CUNHA, 2013). https://stock.adobe.com/br/search/images?filters%5Bcontent_type%3Aphoto%5D=1&hide_panel=true&k=arqueduto+romano&search_type=usertyped&asset_id=1874415 https://stock.adobe.com/br/search/images?filters%5Bcontent_type%3Aphoto%5D=1&hide_panel=true&k=arqueduto+romano&search_type=usertyped&asset_id=1874415 SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 Se avançarmos um pouco mais na história, veremos que alguns eventos tiveram importância para o desenvolvimento das questões ambientais, como a Conferência de Estocolmo, em 1972. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano ocorreu entre 5 e 16 de junho, na qual foram estabelecidos alguns critérios e princípios oferecidos aos países como forma de harmonizar o desenvolvimento econômico com o meio ambiente. O encontro contou com a presença de 113 países e 250 organizações não governamentais, além dos organismos da ONU. Figura 1.2: Conferência de Estocolmo Fonte: https://www.santos.sp.gov.br/?q=file/57253/download&token=cl6n84S_ Outra conferência importante foi a do Rio de Janeiro, em 1992, que ficou conhecida como “Cúpula da Terra” (Earth Summit). Nela, estiveram presentes representantes de 172 países, incluindo 116 chefes de Estado. E, como produto dessa conferência, foram assinados cinco documentos: 1. Declaração do Rio sobre Meio Ambientee Desenvolvimento: trata-se de uma carta que busca estabelecer um novo estilo de vida para o homem no planeta por meio do desenvolvimento sustentável e das melhores condições de vida dos povos. Para isto, a carta traz 27 princípios. 2. Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas: tal convenção tratou sobre o aumento de temperatura da Terra e, principalmente, da preocupação com os gases do efeito estufa e as formas pelas quais a mudança climática pode afetar a população. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 3. Convenção sobre a Biodiversidade: foi assinada na Rio 92 por 154 países e buscava três objetivos: “a conservação da biodiversidade, o uso sustentável de seus componentes e a repartição justa e igualitária dos benefícios derivados da utilização desses recursos” (LAGO, 2007, p. 75). 4. Declaração sobre as Florestas: uma das primeiras declarações voltadas à proteção universal das florestas. Segundo Lago (2007), essa declaração foi um dos pontos mais críticos da Rio 92 devido à disputa entre os países do Norte e os do Sul, já que os países centrais defendiam o controle das florestas. 5. Agenda 21: considerada uma obra-prima para o desenvolvimento sustentável, a Agenda 21 se tornou o documento mais importante assinado na Conferência do Rio de Janeiro em 1992. Levou este nome por ser um planejamento para o século XXI, tendo a ajuda de especialistas de todo o mundo durante sua preparação, levando dois anos para ser finalizada e, ao contrário de todos os outros tratados citados, é considerado um documento denso e profundo (OLIVEIRA, 2011). A Agenda 21 possui quatro seções: 1. Dimensões Sociais e Econômicas; 2. Conservação e Gestão dos Recursos para o Desenvolvimento; 3. Fortalecimento do Papel dos Grupos Principais; 4. Meios de Implementação. Também possui 40 capítulos que tratam sobre o combate à pobreza, a diminuição do consumo, a proteção da atmosfera, das florestas e dos recursos hídricos, a comunidade científica tecnológica, a educação, a ação de mulheres, o tratamento de resíduos e rejeitos, acrescenta o termo “sustentável” na agricultura, entre diversas outras inovações. Figura 1.3: Objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) Fonte: BCSD (2022). SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 A Figura 1.3 apresenta os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 2015. Quando falamos em desenvolvimento sustentável, estamos nos referindo a um desenvolvimento que busca garantir recursos naturais para as presentes e futuras gerações, aliado ao desenvolvimento econômico e social. ANOTE ISSO Desenvolvimento Sustentável: forma de desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da presente geração, de forma a não comprometer a capacidade das futuras gerações de suprir suas próprias necessidades. Nesse sentido, podemos notar que o saneamento básico vai ao encontro do contexto do desenvolvimento sustentável, uma vez que busca associar a preservação ambiental com a qualidade de vida da população. Segundo Tucci (2012), quando estudamos o histórico do saneamento ambiental é possível identificar diferentes fases, conforme os períodos de desenvolvimento da sociedade, que são: • Fase pré-higienista: a água é coletada para consumo humano de uma fonte próxima, sem passar por tratamento; o esgoto gerado também é lançado sem nenhum tipo de tratamento em fossas ou diretamente no solo. É uma fase marcada por inundações, doenças, epidemias e altos índices de mortalidade. • Fase higienista: é marcada pela percepção da necessidade de afastar os esgotos das áreas urbanas por meio de obras de canalização e escoamento, reduzindo o índice de doenças, porém ainda prevalece as inundações e deterioração da qualidade das águas. • Fase corretiva: passa-se a desenvolver e implantar o tratamento de esgoto e de efluentes líquidos, assim como algumas técnicas de drenagem urbana das águas pluviais. Com isso, há uma redução da poluição pontual e inundações e uma recuperação da qualidade das águas superficiais. • Fase de desenvolvimento sustentável: é marcada pelo tipo de tratamento terciário nas estações de tratamento e técnicas de preservação ambiental. Promove-se a qualidade de vida da população e a redução da contaminação dos corpos hídricos superficiais. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 1.2 Saneamento Básico no Brasil Após conhecermos um pouco sobre saneamento básico e sua evolução ao longo da história, você deve estar se perguntando: como é a situação do saneamento básico em nosso país? Será que nosso país conta com saneamento básico em todos os municípios? Vamos avaliar alguns aspectos históricos do saneamento básico no Brasil para tentarmos obter essas respostas. ISTO ESTÁ NA REDE O cenário do saneamento básico das cidades brasileiras pode ser consultado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), que contempla dados sobre serviços de abastecimento de água, esgoto e manejo de resíduos. Acesse o link http://snis.gov.br/ e fique por dentro. Ao lermos o livro Histórias do Saneamento, escrito por Aristides Almeida Rocha e publicado em 2018, podemos encontrar alguns dos principais marcos históricos do saneamento básico no Brasil. E alguns eu trago para você, caro(a) estudante, de forma resumida: • 1561: Foi escavado o primeiro posto de abastecimento de água em uma cidade brasileira (Rio de Janeiro), ação coordenada por Estácio de Sá. • 1673: Foi dado início às obras de adução de água no Rio de Janeiro. • 1723: Construía-se o primeiro aqueduto de transporte de água do Rio Carioca, os Arcos velhos, em direção ao chafariz. • 1744: Finalizado o primeiro chafariz na cidade de São Paulo, construído pelo famoso pedreiro Thebas. • 1746: Foram inauguradas linhas adutoras para os conventos de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, e da Luz, em São Paulo. • 1842: Já haviam sido construídos quatro chafarizes pela cidade de São Paulo. • 1857-1877: A empresa Achillis Martin D’Éstudens desenvolveu o primeiro Sistema Cantareira de abastecimento de água para a capital do estado. • 1880: Inauguração pioneira, em âmbito mundial, de uma Estação de Tratamento de Água (ETA), com seis filtros rápidos de pressão a Ar/Água, na cidade de Campos, no Rio de Janeiro. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 • 1887-1891: Construção da ETA da Companhia de Águas e Esgotos, na cidade de Campinas, com adutoras de tubos de aço e filtros lentos. • 1892: Na cidade de Bofete, em São Paulo, foi executado e instalado o primeiro Poço Profundo em território brasileiro • 1893: Inauguração do Sistema de Tratamento do Ribeirão Guaraú, na cidade de São Paulo, utilizando filtros lentos. • 1898: Primeiros exames bacteriológicos das águas do Rio Tietê. • 1898-1917: Projeto e construção finalizada do sistema de abastecimento do Rio Cotia, na região metropolitana de São Paulo. • 1919: Ano considerado um marco histórico, uma vez que o engenheiro Francisco Rodrigues Saturnino de Brito utilizou pioneiramente, em nosso território, o tratamento químico da água, na cidade de Recife, Pernambuco. • 1920: Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, houve a construção, instalação e operação, pela Ulen Corporation, de Chicago, Estados Unidos, dos primeiros Filtros Rápidos de Gravidade no Brasil. Nesse mesmo ano, em São Paulo, também foram inventados os tubos de ferro fundido centrifugados pelo brasileiro De Lavaud. • 1940: Foi fundada no Brasil, pelo engenheiro W. A. Rein, a pioneira indústria de equipamentos destinada ao tratamento de água. • 1958: As municipalidades representadas pela prefeitura de Santo André, São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo, secundadas, posteriormente, pelas de Diadema e Mauá, criaram a Comissão Intermunicipal de Controle da Poluição das Águas e do Ar (CICPAA).• 1962: Fundação da primeira empresa pública de abastecimento de água, na cidade de Campina Grande. • 1968: É criado o CETESB, que passou a ser a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, e, atualmente, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. • 1970: O professor José Martiniano de Azevedo Netto introduziu o uso de filtros russos nos processos de tratamento de água. Ainda nesse ano, passa-se a utilizar compostos químicos conhecidos como polieletrólitos em São Paulo, com a apresentação da segunda maior ETA do mundo, o Sistema Guaraú, Cantareira SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 Figura 1.4: Chafariz do Largo da Misericórdia. Fonte: https://arteforadomuseu.com.br/chafariz-da-misericordia/ Por meio da Figura 1.4, podemos observar o Chafariz da Misericórdia, o mais famoso chafariz da cidade de São Paulo, construído por Joaquim Pinto de Oliveira Thebas no ano de 1793. A partir dos principais marcos históricos, é possível notarmos que, com a vinda da família real, em 1808, a população brasileira dobrou de 50.000 para 100.000 habitantes em poucos anos, e isso fez com que ocorressem transformações urbanísticas tanto no Rio de Janeiro como em outras cidades. Com o início do período colonial, surgiram os primeiros serviços de saneamento no Brasil em resposta à ausência de infraestrutura urbana. Os serviços de utilidade pública ficam dependentes de concessionárias estrangeiras, principalmente inglesas, e o Rio de Janeiro se torna uma das primeiras cidades a adotar um sistema de coleta https://arteforadomuseu.com.br/chafariz-da-misericordia/ SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 de esgoto, embora ele cobrisse apenas as áreas urbanas, atendendo uma pequena parcela da população. Após a 1ª Guerra Mundial, houve o declínio do controle estrangeiro no Brasil, no campo das concessões dos serviços públicos, e com isso ocorreu a estatização dos serviços. O governo federal, na década de 1970, reorganizou o setor de saneamento a partir da implementação do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANASA), com vistas a melhorar a questão do abastecimento de água e esgotamento sanitário, que estava em déficit devido ao crescimento populacional acelerado nas cidades (BRASIL, 2015). No Brasil o saneamento básico não atinge as expectativas esperadas para um cenário ideal do século XXI. Grande parte da população ainda sofre por falta de saneamento, o que causa impactos sociais, ambientais e econômicos. A situação é ainda pior quando se trata de redes coletoras de esgotos e serviços municipais de coleta, tratamento e disposição final ambientalmente adequada dos resíduos. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 CAPÍTULO 2 SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL Agora que conhecemos um pouco sobre a história e a importância do saneamento básico, assim como alguns registros que marcaram sua evolução no nosso país, é hora de estudar um pouco sobre as leis voltadas ao assunto e como está a situação de cada uma das vertentes que formam o saneamento básico brasileiro. 2.1 Legislação Brasileira de Saneamento Básico O saneamento consiste no controle de fatores do meio físico que são capazes de causar efeitos negativos ao bem-estar do ser humano (físico, mental e social). O termo “saneamento” provém do verbo “sanear” e significa “tornar higiênico, salubrificar, remediar, tornar habitável, tornar apto a cultura” (SCALIZE & BEZERRA, 2020, p. 7). Brasil (2004, p. 14) define o saneamento como sendo O conjunto de ações socioeconômicas que têm por objetivo alcançar níveis de salubridade ambiental, por meio de abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais serviços e obras especializadas, com finalidade de proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural. A Constituição Federal de 1988 incluiu, em seu Art. 225, dedicado ao meio ambiente, o seguinte texto: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 O saneamento básico em nosso país é assegurado pela Constituição Federal de 1988 e definido pela Lei nº 11.445/2007, alterada e complementada pela Lei nº 14.026/2020, a qual estabelece as diretrizes nacionais para saneamento básico e o considera como disposto em seu Art. 3 como conjunto de serviços públicos, infraestruturas e instalações operacionais de: a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades e pela disponibilização e manutenção de infraestruturas e instalações operacionais necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e seus instrumentos de medição; b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades e pela disponibilização e manutenção de infraestruturas e instalações operacionais necessárias à coleta, ao transporte, ao tratamento e à disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até sua destinação final para produção de água de reúso ou seu lançamento de forma adequada no meio ambiente; c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: constituídos pelas atividades e pela disponibilização e manutenção de infraestruturas e instalações operacionais de coleta, varrição manual e mecanizada, asseio e conservação urbana, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos domiciliares e dos resíduos de limpeza urbana; e d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: constituídos pelas atividades, pela infraestrutura e pelas instalações operacionais de drenagem de águas pluviais, transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas, contempladas a limpeza e a fiscalização preventiva das redes” (BRASIL, 2007). A Lei nº 11.445/2007 é considerada um marco legislativo do Saneamento Básico no Brasil e apresenta como um de seus princípios a universalização dos serviços de saneamento básico, verificados anteriormente. A Lei ainda estabelece diretrizes para Política Federal de Saneamento, determinando a elaboração de um Plano Nacional de Saneamento (PLANSAB) pela União como forma de orientação das ações e investimentos do Governo Federal. O PLANSAB é um instrumento indispensável da política pública de saneamento, podendo ser elaborado individualmente pelos municípios ou em consórcio, de modo SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 que a prestação dos serviços de saneamento básico observará o plano, abrangendo, segundo o Artigo 19 da Lei nº 11.445/2007, no mínimo: I. Diagnóstico da situação e de seus impactos nas condições de vida, utilizando sistema de indicadores sanitários, epidemiológicos, ambientais e socioeconômicos e apontando as causas das deficiências detectadas; II. Objetivos e metas de curto, médio e longo prazos para a universalização, admitidas soluções graduais e progressivas, observando a compatibilidade com os demais planos setoriais; III. Programas, projetos e ações necessárias para atingir os objetivos e as metas, de modo compatível com os respectivos planos plurianuais e com outros planos governamentais correlatos, identificando possíveis fontes de financiamento; IV. Ações para emergências e contingências; V. Mecanismos e procedimentos para a avaliação sistemática da eficiência e eficácia das ações programadas. Note que o PLANSAB consiste no planejamento integrado do saneamento básico, com um horizonte de20 anos, no período compreendido entre 2014 a 2033. Além disso, o PLANSAB determina a elaboração de três programas para a implementação da Política Federal de Saneamento Básico: Saneamento Básico Integrado, Saneamento Estruturante e Saneamento Rural. Podemos então concluir que o saneamento ambiental tem como propósito ampliar os serviços, fundamentalmente em saúde pública, com o objetivo de elevar os níveis de salubridade ambiental. 2.2 Abastecimento de Água no Brasil Se investigarmos as vertentes do saneamento básico no Brasil por meio do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico, podemos encontrar algumas informações gerais da última atualização a respeito do abastecimento de água no Brasil. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 Figura 2.1: Informações gerais sobre abastecimento de água no Brasil no ano de 2020. Fonte: SINIS (2020). Podemos perceber por meio da Figura 2.1 que no ano de 2020 tivemos resultados com uma amostra de 5.350 municípios dos 5.570 existentes do Brasil, abrangendo 98,6% da população, e que o consumo médio de água para esse ano foi de 152,1 L/ hab.dia. Esses municípios possuem uma extensão de rede de distribuição de água potável de 728 mil km e 61,7 milhões de ligação de água, atendendo um total de 175,5 milhões de habitantes brasileiros, uma média de índice de atendimento total de 84,1% da população, ou seja, aproximadamente 15% da população brasileira não tem acesso a água potável. A região com maior população atingida pelo sistema de abastecimento é a região Sudeste com 91,3%; já a menor é a região Norte, com 58,9%. Quanto aos investimentos realizados em sistemas de abastecimento de água no ano de 2020, chegamos ao valor de R$ 6,02 bilhões, um aumento quando comparado com o investimento realizado no ano de 2019, de R$ 5,76 bilhões. É possível identificar também que mais da metade dos serviços prestados são de administração pública, com 54,28%, seguido de autarquias, que atinge os 34,27%, sendo sua grande maioria realizada por prestadores de serviço local. Outro indicador apresentado na Figura 2.1 que chama a atenção é que 40,1% da água potável que percorre todo o sistema de abastecimento não é contabilizada ou é perdida na rede de distribuição, uma quantidade expressiva e que, de certa forma, demonstra a necessidade de melhorias. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 2.3 Esgotamento Sanitário no Brasil Quando falamos sobre o sistema de esgotamento sanitário brasileiro, estamos nos referimos à rede coletora de esgoto doméstico, implantada em ruas, avenidas e locais de servidão. Devemos, então, analisar se esses sistemas alcançam toda população, garantindo qualidade de vida, saúde, além de evitar a poluição dos córregos, rios e mares, preservando recursos hídricos e fontes de abastecimento de água. Figura 2.2: Informações gerais sobre esgotamento sanitário no Brasil no ano de 2020. Fonte: SINIS (2020). De acordo com a Figura 2.2, a amostra para obtenção dos dados abrange 4.744 (85,2%) municípios dos 5.570 existentes, ou seja, 94,6% da população total do Brasil. Toda essa rede coletora de esgoto instalada alcança um total de 362,4 mil km de extensão, com 36 milhões de ligações de esgoto. A população total atendida por rede coletora de esgoto no Brasil, em 2020, atingiu 114,6 milhões de habitantes dos 211,8 milhões contabilizados, um índice médio de atendimento total de 55%, sendo a região Sudeste a mais evoluída, atendendo 80,5% da população, e a região Norte a menos evoluída, atendendo apenas 13,1% da população. Quando paramos para pensar que 45% da população dessa amostra (94,6% da população total do Brasil) não tem acesso à rede coletora de esgoto, inicia- se uma preocupação com a saúde dessa população, assim como a proteção do meio ambiente e recursos naturais dessas regiões. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 Quanto ao investimento em sistema de esgotamento no ano de 2020, chegamos ao valor de R$ 5,89 bilhões, um aumento do valor investido quando comparado com os R$ 5,33 bilhões do ano de 2019. A grande maioria dos serviços prestados para esgotamento sanitário no Brasil é realizado pela administração pública (81,25%), seguido de autarquias (13,91%), sendo prestadores de serviços locais em sua grande maioria. De todo o esgoto gerado no país em 2020, apenas 50,8% foi tratado antes de ser despejado em seu destino final; os outros 49,2% não passaram por nenhum tipo de tratamento, o que nos remete novamente à preocupação com a saúde da população e o meio ambiente. Percebe-se que o sistema de rede coletora de esgoto do Brasil encontra-se atrasado quando comparado com a rede de distribuição de água potável e que essa vertente do saneamento básico precisa de melhorias para garantir a todos um direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e com uma sadia qualidade de vida. 2.4 Manejo dos Resíduos Sólidos Urbanos O gerenciamento inadequado dos resíduos sólidos urbanos pode gerar impactos tanto ambientais quanto na saúde da população. Considerando a tendência de crescimento do problema, os resíduos sólidos vêm ganhando destaque como um grave problema ambiental contemporâneo. Os resíduos sólidos urbanos (RSU) incluem os resíduos gerados nos domicílios e na limpeza de logradouros públicos. Um contexto de proteção ambiental a gestão dos RSUs pode incluir a separação dos resíduos na fonte de geração e por meio da coleta seletiva, visando direcionar parte dos resíduos para reciclagem e processos de compostagem. A Figura 2.4 apresenta algumas informações a respeito da situação do manejo dos resíduos sólidos urbanos no Brasil no ano de 2020. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 Figura 2.4: Informações gerais sobre manejo dos resíduos sólidos urbanos no Brasil no ano de 2020. Fonte: SINIS (2020). Como podemos ver, os dados obtidos para Manejo dos Resíduos Sólidos Urbanos no ano de 2020 foram obtidos por meio de uma amostra de 4.589 municípios, 82,4% de um total de 5.570 existentes no país, atingindo, assim, 92,3% da população total. Desses 4.589 municípios, 36,3% possuem um gerenciamento com coleta seletiva e um total de 35,7 mil catadores envolvidos. A recuperação estimada desses resíduos sólidos coletados seletivamente é de 1,07 milhões de toneladas recuperadas para 1,90 milhão de toneladas coletadas, com um total de 1.325 unidades de triagem. A população total atendida com coleta de resíduos domiciliar no Brasil é de 190,9 milhões, com destaques para a região Sul, com 91,6% da população atendida, sendo a maior, e, para a região Norte, com 80,7%, a menor entre as regiões do país. Quanto à disposição final dos resíduos sólidos, última etapa do processo de gerenciamento de resíduos, estima-se que 65,3 milhões de toneladas das 66,6 milhões coletadas no ano de 2020 tiveram uma disposição final. E 73,8% desses resíduos foram destinados para aterro sanitário, 14,6% para lixões, o que, de acordo com a Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010, que institui a política nacional de resíduos sólidos, é proibido de acordo com o art. 47, que trata das formas de destinação ou disposição de resíduos sólidos in natura a céu aberto, com metas para eliminação e recuperação dos lixões. A despesa total com manejo de resíduos urbanos foi de R$ 25,25 bilhões, R$ 141,22 por habitante e apenas 1.841 municípios com cobrança pelo serviço. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 2.5 Drenagem e Manejo das Águas Pluviais Urbanas O manejo das águas pluviais consiste em drenar o escoamento superficial gerado depois das chuvas, com o principal objetivo de evitar inundações e danos a propriedades, atenuando impactos humanos, sociais e ambientais e econômicos provenientes desses eventos hidrológicos. Alguns desses impactosocasionados por esses eventos podem ser erosões e poluição de rios e lagos, redução da incidência de doenças de veiculação hídrica e melhores condições de circulação de veículos e pedestres em áreas urbanas. Essa drenagem das águas pluviais consiste em um conjunto de obras que garantem o escoamento devido das águas da chuva por meio de receptores e tubulações de acordo com a necessidade de cada área. Vamos dar uma olhada em alguns dados referentes à drenagem e manejo das águas pluviais urbanas do nosso país no ano de 2020? Figura 2.5: Informações gerais sobre Drenagem e Manejo das Águas Pluviais no Brasil no ano de 2020. Fonte: SINIS (2020). A amostra analisada foi de 4.107 municípios, abrangendo 89,2% da população do país, tal que a infraestrutura desses municípios fica distribuída da seguinte forma: 64,4% dos municípios pavimentados, 28,6% com obras de redes ou canais subterrâneos e 14,7% com soluções de drenagem naturais, como faixas e valas de infiltração em vias públicas. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 Quanto à gestão de riscos, 67,6% dos municípios não possui um mapeamento das áreas sujeitas a inundações, o que inviabiliza ações emergenciais para proteção da população, um total de 3,9% dos domicílios estão sujeitos a inundações e um total de 218,4 pessoas foram desabrigadas devido a eventos hidrológicos que causaram impactos significativos nessas cidades. Pensando em um sistema de drenagem exclusivo para águas pluviais, apenas 45,53% desses municípios estão equipados para tal, e 12% possuem um sistema unitário em que as águas pluviais são escoadas junto com a rede coletora de esgotos, aumentando, de certa forma, o volume de água contaminada e o risco de doenças de veiculação hídrica. Por fim, o investimento per capita realizado para Sistemas de Drenagem e Manejo das Águas Pluviais foi de R $38,21 por ano. Concluímos, então, que algumas áreas do saneamento básico brasileiro ainda precisam evoluir se pensarmos em garantia da saúde e qualidade de vida para toda população, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, que em praticamente todas as áreas, com destaque para o esgotamento sanitário, apresentam uma defasagem em relação às outras regiões do país. Ainda, diante dos dados apresentados a você, referentes às condições gerais do saneamento básico em nosso país, perceba a importância da universalização desse serviço. Mas não só isso: também de aumentar a qualidade de sua prestação, com vistas a promover a saúde e o bem-estar da população, bem como promover qualidade ambiental. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 CAPÍTULO 3 SANEAMENTO BÁSICO E SAÚDE Neste capítulo, iremos estudar sobre a importância do saneamento básico para a saúde da população. Veremos alguns dos impactos negativos e doenças que podem surgir devido à falta de saneamento básico e como essas doenças podem ser transmitidas. 3.1 Saúde pública Caro(a) estudante, vamos iniciar nossos estudos definindo o termo “saúde”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como sendo um estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades. A lei brasileira nº 8.080 (BRASIL, 1990) dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, e, em seu artigo 3º, cita que tem “a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais”. A lei também traz como obrigação do SUS (Sistema Único de Saúde) a promoção, proteção e recuperação da saúde, englobando ações de vigilância sanitária e vigilância epidemiológica. Por sua vez, saúde pública é considerada como um conjunto de medidas que são executadas pelo Estado, com vistas a garantir o bem-estar físico, social e mental da população. Winslow (1920 apud BRASIL, 2015, p. 17) conceitua saúde pública como sendo: [...] a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida e promover a saúde e a eficiência física e mental, através de esforços organizados da comunidade para o saneamento do meio e controle de doenças infectocontagiosas, promover a educação do indivíduo em princípios de higiene pessoal, a organização de serviços médicos e de enfermagem para diagnóstico precoce e tratamento preventivo das doenças, assim como o desenvolvimento da maquinaria social de modo a assegurar a cada indivíduo da comunidade um padrão de vida adequado à manutenção da saúde. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Dessa forma, para além do contexto político-administrativo, como ciência, a saúde pública é um ramo que tem por objetivo prevenir e tratar doenças por meio da análise de indicadores de saúde e aplicá-los, por exemplo, no controle de epidemias, para assim melhorar o ambiente físico. Trata-se, portanto, de uma ferramenta de desenvolvimento social, econômico e ambiental. No artigo 7º, X, da Lei nº 8.080 (BRASIL, 1990) verifica-se que as ações e serviços públicos de saúde devem obedecer, entre outros, os seguintes princípios: “integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico”. Percebe-se, assim, que é por meio do saneamento que há uma promoção da redução de enfermidades, rompendo com o ciclo de devolução do paciente medicado para um ambiente que não é saudável. De acordo com dados da UNICEF (2009) e da OMS, pelo menos 1,5 milhão de crianças de até 5 anos de idade, nos países em desenvolvimento, morrem devido à ingestão de água com qualidade insatisfatória e à ausência de saneamento. Falando da realidade brasileira, em 2018, os dados do DataSUS apontam que foram registradas mais de 230 mil internações decorrentes de doenças de veiculação hídrica, as quais resultaram em 2.180 óbitos. Naquele ano, o custo das internações ficou em torno de R$ 90 milhões. Além disso, o número de internações poderia ter sido reduzido para 74,6 mil se 100% da população brasileira tivesse acesso à coleta de esgoto. ISTO ESTÁ NA REDE Em 2017, o Ministro da Saúde afirmou que “cada real investido em saneamento economiza quatro reais em saúde, agora, a Organização Mundial da Saúde refez as contas e disse que não é mais quatro, é nove. Cada real investido em saneamento economiza nove reais em saúde”. Fonte: http://www.funasa.gov.br/todas-as-noticias/-/asset_publisher/lpnzx3bJYv7G/ content/-cada-real-gasto-em-saneamento-economiza-nove-em-saude-disse-ministro- da-saude?inheritRedirect=false A ausência ou ineficiência de saneamento básico gera diversos impactos sociais e econômicos. E, na saúde pública, a falta ou ineficiência da infraestrutura aumenta a proliferação de microrganismos e pragas que manifestam doenças como verminoses. O consumo ou uso de água com tratamento inadequado, bem como a exposição a um ambiente poluído ou contaminado, pode levar a quadros críticos ou até mesmo SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 à morte. Doenças como hepatite A, cólera, diarreias infecciosas e leptospiroses são as mais comuns associadas à ausência ou ineficiência de saneamento básico. Figura 3.1: Ilustração de ausência de saneamento básico Fonte: https://tratabrasil.org.br/pt/institucional-blog/como-a-falta-de-saneamento-basico-pode-afetar-a-infancia-de-nossas-criancas Assim, podemos concluir que a universalização do acesso aos serviços de saneamento leva a um efeito positivo na saúde da população de modo geral. O fornecimento contínuo de uma água de boa qualidade para consumo humano acarreta no controle e na redução de doenças como dengue, cólera, diarreia, hepatites, conjuntivites, leptospiroses, malária, febre tifoide e esquistossomose. A coleta e o tratamento do esgoto doméstico contribuem para a eliminação dos vetoresda teníase, verminoses, esquistossomose, cisticercose, malária e diarreias. Ainda, a coleta regular dos resíduos sólidos, bem como a sua correta disposição final, diminuem a incidência de casos de dengue, leishmaniose, febre amarela, leptospirose, cólera, febre tifoide, entre outras. 3.1.1 Doenças causadas direta ou indiretamente pela ausência ou ineficiência de saneamento Vamos agora conhecer com mais profundidade as doenças que são causadas, direta ou indiretamente, pela falta (ou ineficiência) de saneamento. O Quadro 3.1 apresenta aquelas relacionadas com o abastecimento de água, classificadas com base no mecanismo de transmissão, podendo ser hídrico, relacionado com a higiene, baseado na água ou transmitido por um inseto vetor, enquanto o Quadro 3.2 apresenta https://tratabrasil.org.br/pt/institucional-blog/como-a-falta-de-saneamento-basico-pode-afetar-a-infancia-de-nossas-criancas SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 as doenças relacionadas por contaminação de fezes e as medidas de prevenção que podem ser adotadas. Grupo de doenças Forma de transmissão Principais doenças e agente etiológico Formas de prevenção Doenças diarreicas e verminoses Ingestão de água com contaminantes, má higiene dos alimentos e a forma de tratamento dos dejetos Cólera (Vibrio cholerae) Giardíase (Giardia lamblia) Criptosporidíase (Cryptosporidium parvum) Febre tifoide (Salmonella typhi) Febre paratifoide (Salmonella paratyphi dos tipos “A”, “B” ou “C”) Amebíase (Entamoeba histolytica) Hepatite infecciosa (vírus: “A” e “B”) Ascaridíase (Ascaris lumbricoides) A educação sanitária, o saneamento e a melhoria do estado nutricional dos indivíduos Implantar sistema de abastecimento e tratamento da água, com fornecimento em quantidade e qualidade para uso e consumo humano Proteção de contaminação dos mananciais e fontes de água Doenças da pele Relacionadas com os hábitos de higiene Impetigo (Staphylococcus aureus) Dermatofitose e micoses (fungos dos gêneros Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton) Escabiose (Sarcoptes scabiei) Piodermite (Sarcoptes scabiei) Não permitir banhos de banheira, piscina ou de mar Lavar frequentemente as mãos com água e sabão Doenças dos olhos A falta de água e a higiene pessoal insuficiente criam condições favoráveis à sua disseminação Conjuntivites (vírus e bactérias) Evitar aglomerações ou frequentar piscinas de academias ou clubes e praias Lavar com frequência o rosto e as mãos, uma vez que eles são veículos importantes para a transmissão de microrganismos patogênicos Transmitidas por vetores As doenças são propagadas por insetos cujos ciclos possuem uma fase aquática Malária (Plasmodium vivax, P. falciparum, P. malariae) Dengue (DENV 1, 2, 3 e 4) Febre amarela (vírus do gênero Flavivirus) Filariose (Wuchereria bancrofti) Eliminar os criadouros de vetores com inspeção sistemática e medidas de controle (drenagem, aterro e outros) Dar destinação final adequada aos resíduos sólidos Associada à água O agente etiológico penetra pela pele ou é ingerido Esquistossomose (Schistosoma mansoni) Leptospirose (Bactéria do gênero Leptospira) Evitar o contato com águas infectadas Proteger mananciais Adotar medidas adequadas para disposição do esgoto Combate do hospedeiro intermediário Cuidados com a água para consumo humano Cuidados com a higiene, remoção e destino adequados de dejetos Quadro 3.1: Doenças relacionadas com o abastecimento de água. Fonte: Brasil (2015, p. 69). SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 Doenças Agente patogênico Transmissão Medidas Bactéria Febre tifoide e paratifoide Cólera Diarreia aguda Salmonella typhi e paratyphi Vibrio cholerae O1 e O139 Shigella sp. Escherichia coli, Campylobacter e Yersinia enterocolitica Fecal-oral em relação à água Abastecimento de água (implantação e/ou ampliação de sistema) Vírus Hepatite A e E Poliomielite Diarreia aguda Vírus da hepatite A Vírus da poliomielite Vírus Norwalk Rotavírus Astrovirus Adenovírus Calicivírus Fecal-oral em relação à água Imunização Qualidade da água/desinfecção Protozoário Diarreia aguda Toxoplasmose Entamoeba histolytica Giardia lamblia Cryptosporidium spp. Balantidium coli Toxoplasma gondi Fecal-oral em relação à água Instalações sanitárias (implantação e manutenção) Helmintos Ascaridíase Tricuríase Ancilostomíase Esquistossomose Teníase Cisticercose Ascaris lumbricoides Trichuris trichiura Ancylostoma duodenale Schistosoma mansoni Taenia solium Taenia saginata Taenia solium Fecal-oral em relação ao solo (geohelmintose) Contato da pele com água contaminada Fecal-oral em relação à água e alimentos contaminados Ingestão de carne mal cozida Esgotamentos sanitários (implantação e/ou ampliação de sistema) Higiene dos alimentos Quadro 3.2 - Doenças relacionadas por contaminação de fezes e medidas de prevenção. Fonte: Brasil (2015, p. 176-177). A partir dos Quadros 3.1 e 3.2, percebemos que são várias as doenças relacionadas com a ausência da coleta e tratamento de esgotos domésticos, bem como fornecimento de água sem qualidade. A ausência desses dois pilares do saneamento básico, abastecimento de água e esgotamento sanitário é capaz de gerar impactos negativos tanto para o meio ambiente como para a saúde da população por meio de doenças de veiculação hídrica, as quais acabamos de estudar. Nas próximas aulas, iremos nos aprofundar em cada um desses pilares que compõem o saneamento básico, para entendermos de forma mais ampla seu papel na garantia da saúde. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 CAPÍTULO 4 RECURSO ÁGUA Caro estudante, antes de nos aprofundarmos em cada sistema do saneamento básico, é interessante entendermos a importância da água como um recurso natural, uma vez que está inserida praticamente em todas as atividades essenciais para a existência do ser humano. A água é essencial para a manutenção da vida do ser humano, o que faz dela o recurso natural mais importante do planeta Terra, que aos poucos vem se tornando um bem de alto valor social e econômico (AITH & ROTHBARTH, 2015). A molécula de água é constituída por dois átomos de hidrogênio (H) e um de oxigênio (O), formando um ângulo de 105º, cuja fórmula química é dada por H2O. É de conhecimento de todos que a água é uma das substâncias mais comuns existentes na natureza, e não é à toa que o nosso planeta é, carinhosamente, apelidado de Planeta Água, uma vez que ela cobre cerca de 70% da superfície terrestre. No entanto, de toda essa distribuição, somente uma pequena parcela é doce (aproximadamente, 2,5%), estando distribuída entre rios, lagos, reservatórios, geleiras e aquíferos. Dessa pequena parcela, apenas 0,3% situa-se nos rios e lagos, formas de mais fácil acesso às atividades humanas, e de onde provém a maior quantidade da água que consumimos. Figura 4.1: Distribuição da água no planeta. Fonte: Rebouças, Braga e Tundisi (2006, p. 8) SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 De acordo com Derisio (2013), nenhum outro recurso natural, exceto o ar atmosférico, apresenta tantos usos pelos seres vivos como a água. Esses usos podem ser classificados em 2 grupos: o primeiro é aquele que necessita de sua retirada da natureza para utilização, como, por exemplo: • abastecimento público; • abastecimento industrial; • irrigação. Esse primeiro grupo chama-se consuntivo, ou seja, há uma certa perda do que foi retirado para o que é retornado à fonte hídrica. O segundo grupo diz respeito aos usos não consuntivos, que são feitos na própria natureza, não havendo necessidade de retirada da água do recurso hídrico para sua utilização. Alguns exemplos são: • recreação e lazer; • geração de energia elétrica; • transporte; • diluição de despejos; • preservação da fauna e da flora. A água é consideradaum recurso natural limitado pelo meio científico. Assim, a necessidade de monitoramento e regras para seu uso e consumo se tornam indiscutíveis. O direito das águas equivale a um conjunto de normas de natureza civil, ambiental e administrativa, que foram criadas com o objetivo principal de melhoria da qualidade e da quantidade dos recursos hídricos existentes e garantia deles para gerações futuras. 4.1 Política Nacional dos Recursos Hídricos A Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos, é considerada a mais importante norma legal relativa à proteção dos recursos hídricos, estando apenas abaixo da Constituição Federal, na qual estão definidos os princípios legais para regulamentação dos recursos hídricos. O art. 2º da PNRH define quais são seus objetivos: Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 I. A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; II. A prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. A gestão dos recursos hídricos deve contar com ajuda do Poder Público e da comunidade, a ser implantada de forma descentralizada e participativa. A PNRH se baseia nos seguintes fundamentos: I. A água é um bem de domínio público; II. A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; III. Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; IV. A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; V. A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; VI. A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades (BRASIL, 1997). Dentre seus instrumentos criados com o objetivo de auxiliar na gestão dos recursos hídricos, podemos citar: I. Os Planos de Recursos Hídricos; II. O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; III. A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; IV. A cobrança pelo uso de recursos hídricos; V. A compensação a municípios; VI. O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. 4.2 Resolução 357/2005 – Conselho Nacional do Meio Ambiente No Brasil, o Conselho Nacional de Meio Ambiente, por meio da Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005, dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências, complementada e alterada pela Resolução nº 430, de 13 de maio de 2011. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 De acordo com a própria resolução, as águas podem ser classificadas em (art. 2º): • Águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,5%; • Águas salobras: águas com salinidade superior a 0,5% e inferior a 30%; • Águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30%; Por meio dessa resolução estão preconizadas condições de qualidade para o enquadramento dos corpos hídricos segundo seus usos preponderantes. Assim, para cada classificação dos recursos hídricos, há uma separação em classes, sendo as classes de melhor qualidade aproveitadas em usos menos exigentes (CONAMA, 2005). O art. 4º define as classes das águas doces: I. Classe especial: águas destinadas: • Ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; • À preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; • À preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. II. Classe 1: águas que podem ser destinadas: • Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; • À proteção das comunidades aquáticas; • À recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA nº 274, de 2000; • À irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; • À proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas. III. Classe 2: águas que podem ser destinadas: • Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; • À proteção das comunidades aquáticas; • À recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA nº 274, de 2000; • À irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto • À aquicultura e à atividade de pesca. IV. Classe 3: águas que podem ser destinadas: SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 • Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; • À irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; • À pesca amadora; • À recreação de contato secundário; • À dessedentação de animais. V. Classe 4: águas que podem ser destinadas: • À navegação; • À harmonia paisagística. ISTO ESTÁ NA REDE Também é importante conhecer as classes para as águas salobras e salinas. Leia na íntegra a Resolução CONAMA 357/2005 no link: http://www.mma.gov.br/port/ conama/res/res05/res35705.pdf. 4.3 Poluição dos Recursos Hídricos Os recursos hídricos devem apresentar condições físicas e químicas adequadas para utilização pelos seres vivos, contendo substâncias essenciais à vida e isentos de substâncias que possam causar efeitos insalubres. Assim, a água deve estar disponível, de forma a se ter quantidade e qualidade adequadas para uma dada região, para suprir as necessidades dos seres vivos (BRAGA et al., 2005). A disponibilidade da água vai depender estreitamente da estrutura e funcionamento dos ecossistemas envolvidos, dos sedimentos existentes e transportados, das atividades antrópicas, como: agricultura, pesca predatória, desflorestamento e lançamento de efluentes com tratamentos ineficazes, que comprometem os parâmetros químicos, físicos e biológicos da água (KLEPKA, 2011). A poluição da água é qualquer alteração de suas características, sejam elas provenientes de ações naturais ou provocadas pelo homem. Como consequência dessas alterações, podemos citar os impactos estéticos, fisiológicos ou ecológicos (BRAGA et al., 2005). Para Kobiyama (2008), a escassez de água em vários locais ao redor do mundo vem a ser um problema, pois desacelera e limita o desenvolvimento econômico dos http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 países. Essa escassez de água é resultado da má distribuição das águas superficiais e subterrâneas, principais fontes de abastecimento público. O Brasil, devido à sua localização e condições climáticas, é o país que possui a maior disponibilidade hídrica no mundo, com uma produção de 182,170 m3/s. Porém, a distribuição hídrica e populacional não é proporcional. No Norte, concentram-se apenas 7% da população nacional e encontram-se 70% da disponibilidade hídrica disponível para uso. Os outros 93% da população dividem os 30% restantes dos recursos hídricos disponíveis, reflexo da escassez de água em alguns locais devido à má distribuição (GALINDO, 2004). A carência ou ausência dos sistemas de saneamento básico pode acarretar impactos negativos dos recursos hídricos. O Quadro 4.1 apresenta alguns desses impactos e sua relação com os sistemas de saneamento. Área dosaneamento básico Função do Recurso Hídrico Principais impactos aos recursos hídricos Abastecimento de água Prover quantidade de água com características físico-químicas e biológicas adequadas ao consumo. Redução da vazão/volume de água disponível nos mananciais; Aumento do estresse hídrico em ecossistemas naturais e antrópicos. Esgotamento Sanitário Prover a diluição e o transporte dos efluentes, bem como favorecer a autodepuração. Eutrofização; Alteração do ecossistema aquático; Alteração da qualidade da água. Manejo e Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Prover quantidade de água para limpeza pública e para processos de reciclagem. Contaminação de corpos d’água e aquíferos subterrâneos; Assoreamento. Drenagem e Manejo das Águas Pluviais Gerar água para o sistema por meio de fenômenos de precipitação e escoamento superficial Erosão; Assoreamento; Alteração da qualidade e quantidade da água. Quadro 4.1: Impactos dos recursos hídricos associados ao saneamento básico. Fonte: Segundo Derisio (2012), além da poluição natural da água, existem diversas atividades antrópicas capazes de poluir os corpos hídricos, que são as principais fontes desse recurso devido ao fácil acesso pelos seres vivos. Assim, dentre as poluições existentes, podemos citar: • poluição natural: não está associada à atividade humana, sendo causada por chuvas e escoamento superficial, salinização e decomposição de vegetais e animais mortos. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 • poluição industrial: constituída pelos resíduos líquidos gerados nos mais diversos processos industriais, como a indústria de papel e celulose, siderúrgicas e metalúrgicas, refinarias de petróleo e outras. • poluição urbana: proveniente dos habitantes de uma cidade, que geram esgotos domésticos, os quais são direta ou indiretamente lançados nos corpos d’água. • poluição agropastoril: é proveniente das atividades ligadas à agricultura e à pecuária a partir de defensivos agrícolas, fertilizantes e excrementos de animais. Para Zhao et al. (2011), a qualidade das águas superficiais de uma bacia hidrográfica é controlada pela complexa atividade antrópica e por fatores naturais. Estes influenciam no processo de contaminação das águas, dentre os quais pode-se destacar a erosão e o carreamento de sedimentos, que são intensificados com as precipitações pluviométricas. Porém, aquelas bacias que se localizam próximas de centros urbanos acabam tendo que suportar, além dos processos naturais, a contaminação antrópica pelas atividades industriais e agrícolas, como o lançamento de efluentes, lixiviação e percolação de fertilizantes e pesticidas (SINGH et al., 2004). As fontes poluentes dos corpos d’água são classificados em dois grandes grupos: pontual e difusa. Os resíduos líquidos urbanos e industriais constituem o grupo das fontes pontuais por serem lançados em pontos específicos ao corpo hídrico receptor, de forma concentrada. Enquanto para as cargas difusas, elas não possuem um ponto de lançamento específico, como, por exemplo, a infiltração de agrotóxicos no solo que são carregados para os corpos hídricos. Atente-se para o fato de que poluição pontual é mais facilmente identificada e, por isso, seu controle é mais fácil e rápido de ser feito. Figura 4.2: Fontes pontuais e difusas de poluição das águas. Fonte: Braga et al. (2005, p. 83). SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 Segundo Braga et al. (2005), o uso de fertilizantes busca atender à necessidade de nutrientes que as culturas exigem. Ainda de acordo com os autores, mesmo quando realizado de maneira mais facilmente assimilável pelo vegetal, utilizando a melhor técnica, a eficiência da utilização dos fertilizantes pelas culturas nunca é de 100%, o que faz com que esse excedente se incorpore ao solo, movimentando-se junto com a fração líquida. Segundo Di Bernardo e Paz (2008), as características mínimas da água de consumo para os diferentes riscos e suas consequências para a saúde humana são: • Risco físico: turbidez, cor aparente, cor verdadeira, ferro, manganês, cloretos, odor, gosto e dureza. Não geram perigo direto para a saúde humana, mas sua presença pode criar condições para o aparecimento de microrganismos patogênicos e de compostos químicos; • Risco químico: metais pesados, substâncias orgânicas e inorgânicas, agrotóxicos, cianotoxinas e subprodutos da desinfecção. Podem causar doenças crônicas após longo período de exposição; • Risco biológico: presença de patógenos como bactérias, vírus e protozoários. Podem acarretar efeitos agudos nos indivíduos expostos; • Risco radioativo: radioatividade presente na água. Pode causar efeitos agudos ou crônicos para a população exposta. Para finalizarmos esta aula, é importante destacar que o consumo da água do planeta tende a aumentar, acompanhando a tendência de aumento populacional e de desenvolvimento industrial. Dessa forma, é importante manejar adequadamente os recursos hídricos, garantindo-os em quantidade e em qualidade para as presentes e futuras gerações. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 CAPÍTULO 5 SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA Olá, estudante! Vimos um pouco sobre a importância do recurso natural à água na vida dos seres vivos na aula 4. Mas você já parou para pensar de onde vem a água a que temos acesso diariamente? Qual o caminho que essa água percorre para chegar até a torneira ou chuveiro da sua casa? O sistema de abastecimento de água é responsável por fornecer uma água em condições de qualidade potável para a população. Ele constitui um importante investimento em saúde pública, uma vez que reduz a incidência de doenças e a mortalidade infantil e aumenta a expectativa de vida, promove hábitos higiênicos, facilita o combate a incêndios e proporciona maior progresso para as comunidades, entre outras vantagens. A classificação dos sistemas de abastecimento de água é realizada com base na forma de atendimento, podendo eles serem individuais ou coletivos. No abastecimento individual, a produção e o consumo são capazes de atender somente uma residência, diferentemente do que ocorre no abastecimento coletivo, o qual é capaz de atender várias residências, sendo comumente empregado em áreas urbanas. A modalidade de funcionamento dos sistemas de abastecimento de água também interfere em sua classificação. A solução alternativa individual de abastecimento de água é definida como “modalidade de abastecimento de água para consumo humano que atenda a domicílios residenciais como uma única família, incluindo seus agregados familiares”, segundo a Portaria MS nº 2.914, Art. 5º, VII (BRASIL, 2011). Enquanto a solução alternativa coletiva é definida pela Portaria MS nº 2.914, Art. 5º, VIII como “modalidade de abastecimento coletivo destinada a fornecer água potável, com captação subterrânea ou superficial, com ou sem canalização e sem rede de distribuição” (BRASIL, 2011). SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 5.1 Unidades do Sistema de Abastecimento de Água Como já comentamos anteriormente, a água passa por diversas etapas até que chegue em sua forma potável e com qualidade para ser consumida pelos consumidores finais. Vamos agora conhecer o percurso que a água passa percorre dentro dos sistemas de abastecimento? A Figura 5.1 apresenta as unidades que compõem um sistema de abastecimento de água. Observe-a: Figura 5.1: Unidades de um sistema de abastecimento de água. Fonte: https://alfacomp.net/2019/04/18/abastecimento-de-agua/ Captação Todo o processo inicia-se com a captação da água “bruta”, extraída diretamente dos recursos hídricos existentes no meio ambiente. Esta constitui a primeira etapa do sistema de abastecimento. É muito comum que esse recurso hídrico seja um manancial superficial, considerado de extremaimportância, uma vez que influencia de forma direta na quantidade e qualidade de água a ser captada, tratada e distribuída. Vale lembrar que existem outras fontes de recursos hídricos, como, por exemplo, as águas subterrâneas, primordialmente recarregadas pelas águas da chuva que se infiltram no subsolo e percolam para as camadas mais profundas (HELLER & PÁDUA, 2010). Após a captação, a água bruta passa por uma estação elevatória, que consiste em um sistema de recalque ou elevatório, formado por tubulações, acessórios, bombas e motores de um nível de altitude inferior para um nível superior. https://alfacomp.net/2019/04/18/abastecimento-de-agua/ SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 Adução As unidades de adução são formadas por um conjunto de tubulações que realizam o transporte de água entre as unidades existentes no sistema de abastecimento que precedem a rede de distribuição. Na natureza da água transportada, existem as adutoras de água bruta e adutora de água tratada (Figura 5.2). Figura 5.2: Adutoras de água. Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/adutora-de-%c3%a1gua-floresta-5351032/ De acordo com Tsutiya, existem os seguintes tipos de adutoras sob o ponto de vista hidráulico: • Adutoras por gravidade: transportam água de uma altitude mais elevada para uma altitude menos elevada; • Adutoras por recalque: transportam água de um ponto ao outro mais elevado por meio de uma estação elevatória; • Adutoras mistas: possuem trechos de transporte de água por gravidade e trechos por recalque. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 Tratamento As adutoras de água bruta transportam a água até a estação de tratamento de água, responsável por tornar a água potável ao consumidor, de modo a melhorar suas características organolépticas, biológicas, físicas, químicas e radioativas, com vistas a atender ao padrão de potabilidade vigente estabelecido pela Portaria do Ministério da Saúde noº 2.914 (BRASIL, 2011). Falaremos sobre o tratamento da água na próxima aula. Reservatório de distribuição ou reservação Depois de tratada, a água é bombeada para reservatórios, nos quais fica armazenada com vista a atender às variações de consumo, manter a pressão mínima na rede e atender demandas de emergência (BRAGA et al., 2005). Os reservatórios podem ser: • Reservatório de montante: situado no início da rede de distribuição, é responsável por fornecer água à rede, consistindo na alternativa mais usada nos sistemas de abastecimento brasileiros; • Reservatório de jusante: situa-se no extremo do sistema ou em pontos estratégicos, podendo receber ou fornecer água da rede de distribuição, respectivamente, nos períodos de menor ou maior demanda; • Reservatório elevado: é construído sobre colunas, quando há necessidade de aumentar a pressão em áreas de maior cota topográfica; • Reservatório enterrado: construído abaixo da cota do terreno; • Reservatório semienterrado: ao menos um terço da altura está abaixo da cota do terreno; • Reservatório apoiado: quando mais de um terço da altura está abaixo da cota do terreno. Rede de distribuição A última unidade do sistema de abastecimento de água são as redes de distribuição, em que a água é efetivamente entregue ao consumidor final em regime contínuo, ou seja, 24 horas por dia, em quantidade, qualidade e pressão adequada. As redes de distribuição são formadas por conjunto de tubulações, conexões, registros e outras peças do sistema de abastecimento. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 Quanto aos tipos de rede de distribuição, existem as redes ramificadas e malhadas, conforme apresenta a Figura 5.3: Figura 5.3: Tipos de rede de distribuição: (a) Rede ramificada; (b) Rede malhada sem anel; (c) Rede malhada com anel. Fonte: Brasil (2015, p. 134-135) Ao se escolher o tipo de rede a ser utilizada, deve-se levar em consideração as características físicas, topográficas, ocupação da cidade e o traçado de arruamento. • Rede ramificada: a rede é alimentada por apenas um ponto, possuindo uma tubulação principal, da qual partem tubulações secundárias. É comum em áreas que apresentam desenvolvimento linear pronunciado e em que as ruas não se conectam entre si por impedimentos topográficos ou de traçado urbano (BRASIL, 2015).. • Rede malhada: típica de áreas com ruas que formam malhas viárias, permitindo que as tubulações se liguem entre si pelas suas duas extremidades. Pode ser sem anel ou com anel (BRASIL, 2015).: » Rede malhada sem anel: Possuem intercomunicação entre as tubulações principais e as tubulações secundárias, não havendo assim extremidades soltas. É típico de áreas com baixa densidade populacional, ou estreitas (BRASIL, 2015). » Rede malhada com anel: possui tubulações de maior diâmetro (anéis), os quais circundam a área a ser abastecida e alimentam as tubulações secundárias.Este tipo de rede permite que várias vias sejam alimentadas por um mesmo ponto, o que implica em melhorias como a redução da perda de cargas, geralmente é utilizada para áreas com grandes densidades populacionais (BRASIL, 2015).. Ligações domiciliares A ligação da rede pública de distribuição com o domicílio é feita por meio de um ramal predial (BRASIL, 2015), que tem as seguintes características: SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 • Colar de tomada ou peça de derivação: conecta à rede de distribuição com o ramal domiciliar; • Ramal predial: tubulação entre o colar de tomada e o cavalete; • Cavalete; conjunto de conexões, tubos e registros do ramal predial para a instalação do hidrômetro ou limitador de consumo. Ainda, a utilização da caixa d’água ou de reservatório domiciliar é de fundamental importância para que o sistema de abastecimento de água funcione de forma ininterrupta. O reservatório deverá ter volume suficiente para abastecimento do domicílio por, ao menos, um dia, devendo passar, ainda, por limpezas frequentes. Figura 5.4: Representação ilustrativa do ramal predial Fonte: https://www.ecivilnet.com/dicionario/o-que-e-ramal-predial.html 5.2 Projeto de sistema de abastecimento de água Os sistemas de abastecimento são projetos com prévio estudo que visam viabilizar o alcance da água tratada ao destino final, a casa do consumidor. Nas cidades, a solução ideal deve ser capaz de atender inúmeras residências, o que torna o projeto complexo. Assim, alguns pontos devem ser levados em consideração no momento dos estudos para elaboração dos projetos (HELLER & PÁDUA, 2010; BRASIL, 2015): • O porte da localidade a ser atendida; SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 • A densidade demográfica; • A definição do manancial; • As características demográficas; • As características geológicas e geotécnicas; • As instalações existentes; • A disponibilidade de energia elétrica; • Os recursos humanos; • As condições econômico-financeiras; • O alcance do projeto. Além disso, o consumo de água que será feito no local também deve ser considerado quando da concepção de um projeto. Esse consumo costuma ser classificado como doméstico ou residencial, comercial, industrial e público, considerando o período futuro de alcance do projeto, bem como as corretas vazões em cada uma das unidades. ANOTE ISSO É importante lembrar que, de acordo com Brasil (2015, p. 72), mesmo que haja disponibilidade de água para atender a todas as demandas e exigências legais, “é uma obrigação ética dos responsáveis pelas instalações de abastecimento de água garantir que esse uso seja equilibrado, ou seja, que seja utilizada a quantidade estritamente necessária, sem usos supérfluos”. Dessa forma, deve-se buscar minimizar as perdas e os desperdícios que podem ocorrer. 5.3 Perdas no sistema de abastecimento de água Mesmo que muito bem projetados, os sistemasde abastecimento de água possuem perdas de água durante todo processo. Essas perdas são comuns, uma vez que a extensão de todo o sistema até que a água chegue do recurso hídrico à casa dos consumidores é muito grande. Assim, toda água que é captada ou importada para o sistema, mas que não é fornecida para o usuário de forma autorizada, é considerada uma perda real ou aparente: • Perdas reais: perdas físicas de água que podem ocorrer desde a captação até a ligação predial, como vazamentos nas tubulações de distribuição e das ligações prediais, extravasamento de reservatórios etc. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 • Perdas aparentes: perdas que se associam às imprecisões de medição e ao consumo que não é autorizado, como ligações clandestinas, bypass irregular no ramal das ligações etc. Além das perdas, temos ainda os desperdícios, ou seja, toda a água que no momento da utilização pelo consumidor final pode ser poupada, minimizando o uso por meio de equipamentos sanitários de baixo consumo, a exemplo dos lavatórios acionados com temporizadores e, também, por meio de modelos tarifários que punem os consumos elevados (HELLER & PÁDUA, 2006). O consumo per capita se refere ao consumo médio diário de água por habitante, geralmente expresso em litros por habitante por dia (L/hab./dia). No entanto, um projeto de sistema de abastecimento de água deve levar em consideração todos os consumos existentes que irão usufruir desse recurso, como: consumo doméstico, consumo comercial, consumo industrial, consumo público, além, é claro, de prever as perdas do sistema. Para comunidades que não possuem um sistema de abastecimento de água com ligações domiciliares, a determinação do consumo per capita não foi possível de ser determinada na construção do projeto. Para tanto, utiliza-se a Tabela 5.1 como referência: Porte da Comunidade Faixa da População (habitantes) Consumo médio per capita (L/hab./dia) Povoado rural < 5.000 90 a 140 Vila 5.000 a 10.000 100 a 160 Pequena localidade 10.000 a 50.000 110 a 180 Cidade média 50.000 a 250.000 120 a 220 Cidade grande >250.000 150 a 300 Tabela 5.1: Consumo médio per capita para populações com ligações domiciliares. Fonte: Brasil (2015, p. 74) 5.4 Variações no Consumo da Água Além do consumo per capita que orienta sobre o consumo médio diário por habitante em litros de água, nos sistemas de abastecimento ainda ocorrem variações de consumo significativas, que podem ser anuais, mensais, diárias e horárias (Brasil, 2015): • Variações anuais: com o passar do tempo, é tendência que o consumo per capita aumente, uma vez que há o crescimento populacional. Aproximadamente, 1% ao ano no valor dessa taxa. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 • Variações mensais: devido às variações climáticas em determinados períodos do ano, em que temos estações mais quentes e secas, maior será o consumo verificado. • Variações diárias: ao longo do ano, verifica-se o dia de maior consumo de água e calcula-se o coeficiente do dia de maior consumo (K1) por meio da razão do maior consumo diário verificado em um ano e o consumo médio diário no mesmo ano. Normalmente, no Brasil adota-se o valor de K1 = 1,20 para todas as unidades do sistema. • Variações horárias: ao longo do dia existem períodos em que o consumo de água é mais elevado e períodos em que o consumo é menos elevado. O coeficiente K2 é referente ao período de maior consumo, calculado pela razão entre a máxima vazão horária e a vazão média diária do dia de maior consumo. No Brasil, geralmente utiliza-se K2 = 1,50 para dimensionamento da rede de distribuição. Sabendo-se dessas variações de consumo existentes, faz-se necessário calcular a vazão para cada etapa do sistema de abastecimento, considerando as unidades componentes, conforme Figura 5.3: Figura 5.5: Unidades do sistema de abastecimento de água, para fins de cálculo da vazão. Fonte: LEBEIS (2021). SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47 Para o cálculo das vazões, utilizam-se as seguintes fórmulas: Em que: P = população (hab) q = consumo per capita (L/hab./dia) t = período de funcionamento da produção (h) qETA = consumo de água na ETA (%) k1 = coeficiente do dia de maior consumo k2 = coeficiente da hora de maior consumo QS = vazão singular de grande consumidor QAAT = vazão da adutora da água tratada QPROD = vazão de captação, de adução de água bruta e da ETA QDIST = vazão total da distribuição Na presente aula, pudemos aprofundar um pouco nossos conhecimentos quanto ao sistema de abastecimento de água. É importante lembrar que as instalações desses sistemas devem ser capazes de fornecer água acessível, de qualidade e com regularidade a toda a população. Que tal nos aprofundarmos agora em uma das principais etapas do abastecimento que é o tratamento da água? Nos vemos na próxima aula. SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48 CAPÍTULO 6 TRATAMENTO DA ÁGUA Caro(a) estudante, nesta aula abordaremos alguns conceitos pertinentes ao tratamento de água para abastecimento público. Discutiremos as tecnologias de tratamento de água e algumas etapas pertencentes ao processo, como coagulação, floculação, decantação, flotação, filtração e desinfecção da água. A água não pode ser encontrada em condições de qualidade (potável) na natureza. Por isso, para consumo humano é necessário que ela esteja livre de microrganismos e contaminantes orgânicos e inorgânicos, com sabor e aspectos agradáveis para ser consumida. No Brasil, o tratamento é de responsabilidade das Concessionárias de Água, que possuem Estações de Tratamento de Água responsáveis por torná-la potável. Dessa forma, a água potável deve obedecer à seguinte ordem de requisitos: • Organoléptica: possuir gosto e odor agradável ou não objetável; • Física: ser de aspecto físico agradável, ou seja, não conter cor ou turbidez acima dos limites máximos permissíveis; • Química: não conter substâncias nocivas ou tóxicas acima dos valores máximos permissíveis, as quais possam causar doenças crônicas quando da exposição por longos períodos de tempo; • Biológica: não deve conter microrganismos patogênicos, os quais utilizam a água como veículo, podendo causar doenças nos seres humanos; • Radioativa: não pode ultrapassar os valores máximos permissíveis para substâncias radioativas, as quais podem causar efeitos agudos ou crônicos à população exposta. Em 2011, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 2914/2011, que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da água para consumo humano, proveniente de sistemas e de solução de abastecimento alternativa de abastecimento de água, bem como seu padrão de potabilidade (BRASIL, 2011). 6.1 Classificação dos corpos d’água O tipo de tratamento adotado em uma estação de tratamento de água depende muito da qualidade da água captada da fonte utilizada para o abastecimento. Dessa forma, antes de nos aprofundarmos em cada etapa do tratamento da água, é importante que SANEAMENTO PROF. LUIZ HENRIQUE BISCAIA RIBEIRO DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49 você, estudante, conheça a classificação dos corpos hídricos superficiais, que temos representados por lei aqui no Brasil. A Resolução Conama nº 357/2005 é que dá essa classificação em termos de salinidade, em que águas com valores iguais ou inferiores a 0,5% de salinidade são ditas doces; águas com valores entre 0,5% e 30% são ditas salobras; e águas com valores iguais ou superiores a 30% são denominadas salinas. Para cada uma delas, os mananciais são enquadrados em classes, variando da classe 1 (mais nobre) até a classe 4 (menos nobre), de forma a definir critérios ou condições a serem atendidos. Classificação das águas Principais Usos Águas doces Classe Especial Abastecimento humano, com desinfecção. Preservação
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