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Medicina Baseada em Evidências Professora Ana Luiza Cabrera INTRODUÇÃO À MBE A medicina baseada em evidências estabelece um forte elo entre a pesquisa científica de qualidade e a prática clínica. David Sackett: “Uso consciencioso, explícito e sensato da melhor evidência disponível na tomada de decisão sobre o cuidado a pacientes, acrescida da experiência do profissional e das preferências dos pacientes.” Antigamente, epidemiologia e prática clínica eram vistas separadamente. Nos anos 70, as duas vertentes se uniram, criando a epidemiologia clínica. A epidemiologia clínica, por sua vez, originou a medicina baseada em evidências nos anos 90. A partir dos anos 2000, a MBE se expandiu, de forma que atualmente temos a Saúde Baseada em Evidências. Pilares da MBE A integração entre as melhores evidências científicas de pesquisa com a habilidade clínica individual e a preferência (valores e expectativas) do paciente geram os melhores resultados, sendo esses os três pilares da medicina baseada em evidências. Sem as melhores evidências, a prática clínica corre o risco de se tornar rapidamente desatualizada e ainda causar “prejuízos” aos pacientes. Modelo Tradicional MBE - Intuição - Experiência clínica não sistematizada - Conhecimentos adequados de fisiopatologia e bom senso são suficientes para a prática clínica - Experiência clínica é crucial e necessária, mas deve ser somada às evidências científicas - Conhecimentos de fisiopatologia são necessários, mas - Opiniões de especialistas são suficientes para gerar protocolos clínicos insuficientes para a prática clínica - Para busca de evidências na literatura, o médico deve ser capaz de avaliar os trabalhos científicos Por que a MBE é necessária? A MBE é necessária para que as recomendações sempre sejam baseadas em evidências de qualidade. A pergunta central de toda intervenção clínica deve ser: A intervenção trará mais benefícios do que malefícios para o paciente? Alguns tratamentos ficam em uso por longos períodos antes que se perceba que eles podem trazer mais malefícios do que benefícios. Efeitos esperados podem não ocorrer. Exemplo Baby and child care, Dr. Benjamin Spock: mais de 50 milhões de cópias (2° livro mais vendido no mundo), tradução em 42 idiomas. Conselhos para profissionais e pais: “Desvantagens para um bebê dormindo de costas. Se ele vomita, é mais provável que ele se engasgue com o vômito”. → Síndrome da Morte Súbita Infantil (SMSI): risco 4 vezes maior. De barriga para baixo os bebês morriam por asfixia. As recomendações sobre a posição de dormir dos bebês mudaram ao longo do tempo → campanhas para bebês dormirem de barriga para cima. Princípios da MBE 1. Não necessariamente a lógica (fisiológica) se aplica na prática. 2. Não necessariamente o que é feito na prática é embasado no melhor conhecimento científico. Raciocínio clínico baseado em evidências “A medicina é a arte da probabilidade, e a ciência da incerteza.” - William Osler (pai da medicina interna). Probabilidade= quantificação da incerteza. O raciocínio clínico baseado em evidências, a partir do pensamento probabilístico, deve levar às decisões terapêuticas e prognósticas. Exemplo: Risco para infarto ● Alto risco= probabilidade de 20% em 10 anos (a probabilidade de não ter o evento é maior do que a de ter) Geovana Sanches - TXXIV ● Baixo risco= < 10% (não é um risco inexistente) Ao assumir e incorporar a incerteza ao raciocínio clínico temos uma resposta clínica sob a forma de probabilidade. Decisão clínica ou “Dilemas” clínicos Avaliação da probabilidade, desempenho e utilidade → aproxima o médico das evidências científicas. Probabilidade Vem de um estudo científico observacional (de incidência, prevalência...). Exemplo: Qual a probabilidade de Angelina Jolie desenvolver CA de mama? ● Marcador genético é positivo ● Qual é a incidência de CA ao longo da vida? ● Estudos mostram probabilidade em torno de 80 a 90% ● Questão/ dilema prognóstico. Desempenho do tratamento Desenho de estudo ideal – Estudo clínico randomizado (ECR). ● Qual é o desempenho do tratamento? ● Ao retirar as mamar, óbvio que a redução relativa do risco (RRR) será próxima a zero. Utilidade Estudos que avaliaram desfechos como a qualidade de vida e a perspectiva do paciente. ● O tratamento será útil para esta pessoa? ● Do ponto de vista psicológico, o que esta intervenção representa? ● Pode se tornar uma pessoa infeliz com o resultado estético? ● Reduz a qualidade de vida? ● Ou existe a possibilidade de uma cirurgia plástica de reconstrução e ela ficaria satisfeita? Risk-reducing mastectomy for the prevention of primary breast cancer (Review) ● 61 estudos observacionais com limitações metodológicas (nenhum ERC) ● Dados de 15.077 mulheres com fator de risco elevado para CA de mama, submetidas à mastectomia bilateral. ● Conclusões: não há evidência suficiente para comprovar o real benefício da intervenção (necessidade de estudos de melhor qualidade). O médico e paciente precisam compreender o risco real de cada paciente. Considerar outras opções de tratamento, como quimioprevenção. Pirâmide dos níveis de evidência Estudos com alto nível de evidência são aqueles que tem metodologia rigorosa, visando minimizar possíveis vieses. O número 1 são as revisões sistemáticas: estudo que avalia os demais estudos. Com exceção da revisão sistemática, o nível de evidência tem início nos ensaios clínicos randomizados. Cochrane: reúne revisões sistemáticas de altíssimo rigor metodológico, sendo considerado o mais alto padrão. Vale ressaltar que “ausência de evidência” não é o mesmo que “evidência de ausência” do efeito, ou seja, quando dizemos que algo não possui evidência científica, não significa que ele não funcione, apenas que não há estudos que comprovem essa eficácia → ainda faltam estudos que respondam adequadamente aquela pergunta. COMO PRATICAR MBE 1. Formular uma pergunta clínica: ● Caracterização do tipo de pergunta clínica; ● Identificação de componentes da pergunta clínica para construção da pergunta estruturada (incluindo o uso de acrônimos); ● Identificação do desenho de estudo mais adequado para responder à pergunta clínica. Quão frequente é o problema? Prevalência e Incidência O teste diagnóstico é preciso? Diagnóstico Quais os fatores de risco e o que ocorre se nenhuma Etiologia e Prognóstico Geovana Sanches - TXXIV intervenção for oferecida? A intervenção funciona? Tratamento (métodos preventivos ou terapêuticos) Quais são os malefícios da intervenção? Riscos associados a tratamentos (eventos adversos) Fonte: Centre of evidence-based medicine, Oxford 2. Conduzir uma busca eficiente na literatura, a fim de encontrar as melhores evidências: busca na literatura por estudos com desenho adequado. Principais bases de dado: PubMed, LILACS, Google scholar, Cochrane Library, Embase, Elsevier scopus, Cinahl. 3. Avaliar criticamente as evidências disponíveis: utilizar as ferramentas de avaliação para analisar o risco de viés. ● Viés: erro sistemático, ou desvio da verdade, que podem influenciar os resultados e conclusões de um estudo. ● Risco de viés: grau de possibilidade de presença de viés nos resultados de um estudo. ● Avaliação: desenho de estudo adequado, tamanho da amostra, critérios de inclusão e exclusão, seleção dos participantes, randomização, etc. Nem todos os artigos publicados possuem metodologia adequada, de forma que as conclusões podem não ter validade. ● Existem ferramentas para avaliação do risco de viés dos diferentes desenhos de estudo, mas alguns tipos ainda não têm ferramentas disponíveis. ● Outras questões a serem consideradas ao avaliar o risco de viés: fonte de financiamento, viés de publicação e viés de relato. 4. Aplicabilidade nos diferentes cenários da prática clínica: ● Os resultados se aplicam ao meu paciente? ● Isso mudará a maneira como eu trato esse paciente? ● É uma intervenção/exame disponível? ● É culturalmente aceito? ● Os efeitos positivos são maiores que os colaterais? ● O custo é aceitável? A MBE se tratade um processo e não apenas de se guiar por “evidências”. É importante pensar em como lidar com as questões clínicas e dúvidas na prática do dia-a-dia. A tomada de decisão clínica deve ser embasada pelas 5 etapas da MBE, pois a prática não baseada em evidências pode prejudicar o paciente. O uso dos métodos da MBE não garante os resultados, mas reduz a incerteza e aumenta a probabilidade de acerto. Conforme a questão clínica, existe um desenho de estudo mais adequado: 1. Diagnóstico → estudos de acurácia 2. Tratamento → ensaio clínico randomizado 3. Prognóstico → estudo de coorte 4. Prevenção → ensaio clínico randomizado PERGUNTA CLÍNICA ESTRUTURADA E TIPOS DE ESTUDOS Há um desenho de estudo adequado para responder cada tipo de pergunta clínica. Tipos de estudos Estudos primários Quando o autor produz seus dados. Eles podem ser divididos entre: ● Experimentais: o pesquisador controla a exposição à determinada intervenção e analisa o resultado o Ensaio clínico (EC) o Ensaio clínico randomizado (ECR): maior nível de evidência; a randomização diminui vieses ● Observacionais: o pesquisador observa o curso natural dos eventos. o Coorte o Caso-controle o Transversal analítico Estudo secundários Utilizam dados provenientes dos estudos primários e sintetizam as evidências disponíveis sobre determinada questão clínica. Geovana Sanches - TXXIV ● Revisão narrativa ou bibliográfica ou integrativa: resultados descritivos ● Revisão sistemática (com ou sem metanálise): análise dos resultados; maior nível de evidência científica para tomada de decisão Construção da pergunta clínica PICO População ● Quais são os indivíduos do estudo? ● Qual o sexo, faixa etária, aspectos da doença (gravidade, subtipo)? Intervenção ● Qual é o esquema de tratamento (dose, duração, frequência...)? Controle ou Comparador ● Há um grupo controle? ● Placebo, controle ativo, nenhuma intervenção? Outcomes ou Desfechos ● São as variáveis avaliadas para se chegar ao resultado. Como os desfechos serão mensurados? Por quem? Em que momento? ● Podem ser divididos entre desfechos primários (clinicamente relevantes) e secundários (avalia demais variáveis). ● Cuidado: os resultados do estudo não entram aqui, tendo em vista que o PICO é um acrônimo apenas para construção da pergunta clínica. PECO População ● Quais são os indivíduos do estudo? ● Qual o sexo, faixa etária, aspectos da doença (gravidade, subtipo)? Exposição ● Qual é o fator de risco ou tratamento exposto? Controle ou Comparador ● Há um grupo controle? ● Placebo, controle ativo, nenhuma intervenção? Outcomes ou Desfechos ● Como os desfechos serão mensurados? Por quem? Em que momento? PIRD População ● Quais são os indivíduos do estudo? ● Qual o sexo, faixa etária, aspectos da doença (gravidade, subtipo)? Teste Index ● Qual é o exame/teste a ser analisado? Teste de Referência ● Qual é o teste de referência (padrão-ouro)? Exame frequentemente utilizado e consagrado. Diagnóstico de interesse ● Qual é o resultado diagnóstico de interesse? BASES DE DADOS Bases de dados são coleções de publicações (principalmente artigos) indexadas e disponibilizadas online. Os artigos científicos são publicados em periódicos (revistas científicas) e “arquivados” em diferentes bases de dados. Há divulgação e acessibilidade. Fontes de evidências em saúde Fontes primárias: bases de dados bibliográficos eletrônicas na área da saúde que armazenam estudos novos e originais. As duas principais são a MEDLINE (PUBMED) e a LILACS. Fontes secundárias: bases de dados com resumos de evidências filtrados por qualidade e relevância. A principal é a Cochrane Library. MEDLINE (via PUBMED) É uma base de dados americana, considerada a maior fonte de informação em saúde. São mais de 23 milhões de citações (> 5.000 periódicos), presente em mais de 80 países. Possui artigos com título em inglês e texto completo no idioma original de publicação. Estratégia de busca Mecanismo planejado para identificar todos os estudos relevantes para responder a uma pergunta específica. Não localizar estudos sobre determinado assunto não significa que tais estudos não existam. Como os estudos são armazenados? Todos os artigos são “armazenados” (indexados) utilizando “tags” (descritores) específicos para cada “arquivo” (base de dados). Devemos, portanto, identificar os descritores através do DeCS ou do MeSH (PUBMED). Operadores booleanos Uma vez identificados os descritores (critérios para armazenar estudos), devemos unir os termos por meio dos operadores booleanos: AND ou OR. Geovana Sanches - TXXIV ● Para identificar termos compostos, delimitar com “aspas”. ● Para isolar diferentes sentenças, utilizar os (parênteses). ENSAIO CLÍNICO Ensaio clínico é um desenho de estudo no qual duas ou mais intervenções são comparadas de modo controlado. A partir de uma população, retira-se uma amostra de pessoas, que se adequem aos critérios de inclusão e exclusão do estudo. Normalmente, dividem-se 2 grupos: experimental (intervenção) e controle (placebo, nada, outro medicamento). O estudo depende de tempo, pois é necessário avaliar ambos os grupos para chegar a conclusões plausíveis. Para esse desenho de estudo, temos o PICO, sendo que o desfecho será o que foi avaliado no estudo. Histórico 1º ensaio clínico controlado: James Lind, 1753 → tratamento de escorbuto (seis marinheiros alocados em cada grupo) → 2 do grupo intervenção apresentaram melhora. 1º ensaio clínico randomizado duplo-cego: estreptomicina para tuberculose, 1948. ● População: pacientes com tuberculose ● Intervenção: estreptomicina ● Controle: placebo ● Desfecho: melhora radiográfica e clínica (2 radiologistas + 1 clínico) Duplo-cego diz respeito a falta de conhecimento pela equipe e pelo participante se ele está no grupo controle ou intervenção. O responsável pela avaliação dos resultados também não está ciente a qual grupo o participante pertence. Em contrapartida, no simples-cego apenas o participante não sabe a qual grupo pertence. A equipe pode saber ou não; o pesquisador sabe. Definição e seleção dos pacientes Amostra: deve ser representativa da população (validade externa). Amostra homogênea: indivíduos com características semelhantes. Devem-se evitar fatores de confusão como: idade, sexo, uso e medicamentos... Cálculo do tamanho amostral: para cada estudo é necessário um número mínimo de participantes, tendo em vista que se a amostra for muito reduzida, podem ocorrer resultados ao acaso → o tamanho da amostra deve condizer ao número mínimo necessário para detectar possíveis diferenças entre as intervenções. P= significância estatística; < 0,01 significa que há diferenças estatísticas. Randomização A randomização é o processo de distribuição aleatório dos participantes dentro dos grupos, tornando impossível prever em qual grupo o próximo paciente será alocado. Todos os pacientes têm a mesma chance de alocação em qualquer um dos grupos. Assegura que a diferença encontrada no resultado seja atribuída somente ao efeito da intervenção e não, por exemplo, a viés de seleção. Evita que a diferença encontrada no resultado possa ser atribuída a uma característica presente em apenas um dos grupos. A forma mais correta de se fazer a randomização é a partir de indivíduo que não está ciente do objetivo do estudo ou um site que distribua de forma aleatória. Etapas: lista de randomização → pesquisador pode modificar os grupos. Sendo assim, antes da lista chegar na mão do pesquisador, alguém pega os números e os coloca em envelopes fechados e opacos; existem programas de computador que fazem isso atualmente, resultando em uma tabela de números randômicos. A ausência de randomização adequada pode aumentar em 30% o risco de viés nos resultados do ensaio clínico. Classificação ● Estudo clínico randomizado ● Estudo clínico não randomizado Geovana Sanches - TXXIV ● Estudo quasi-randomizado: tem alocação previsível pois ocorre a partir de uma regra de alocação, como por exemplo: ordem de chegada, número do prontuário etc. Alto riscode viés para seleção dos participantes. Mascaramento Para avaliar o mascaramento do estudo, os seguintes questionamentos podem ser realizados: O paciente sabe o que está recebendo? O responsável por aplicar a intervenção sabe o que está fazendo? Quem vai avaliar os desfechos sabe para qual grupo o paciente foi designado? Ensaio clínico duplo-cego: pacientes, pesquisadores e responsáveis pela intervenção e pela avaliação dos desfechos não sabem a alocação do paciente. Pode ocorrer dificuldade de mascaramento devido à natureza da intervenção, como por exemplo: procedimentos cirúrgicos, fisioterapêuticos, psicoterápicos, etc. Open label: é um estudo que não é nem duplo cego e nem simples. Ambos sabem o que em que grupo o paciente está alocado, tanto o paciente, como o pesquisador. Não possui mascaramento, podendo apresentar um sério viés → o paciente pode achar que se sente melhor ao tomar o medicamento e pior ao tomar o placebo; o pesquisador pode induzir respostas. Para avaliação da qualidade do estudo, as variáveis têm que ser diferenciadas. Para avaliar dor e morte, por exemplo, não é tão problemático que o estudo seja um open label. No caso de variáveis mais subjetivas, o mascaramento muda tudo e pode alterar muito o resultado final. Perdas Entre as perdas, são incluídas tanto as perdas de dados (missing data), quanto de pacientes (withdraw) após a randomização. As perdas são universalmente aceitas até no máximo 20%. A partir disso, o tamanho da amostra é desestruturado e o estudo perde poder estatístico. Deve-se avaliar o equilíbrio entre os grupos quanto a % de perdas, razões para perdas e uso de análise adequadas para lidar com as perdas. Exemplo: detectar pessoas com efeitos colaterais e que tiveram que interromper o estudo devido a esses sintomas → é uma perda, mas deve ser tratada como um evento adverso no estudo, não podendo ser excluído. Ensaio clínico randomizado crossover No ensaio com crossover, quem utiliza inicialmente a droga, usará placebo posteriormente e vice-versa. É utilizado quando o indivíduo não pode ficar sem o tratamento. ENSAIOS CLÍNICOS RANDOMIZADOS Vantagens: principal estudo primário para avaliar eficácia/efetividade de uma intervenção. Desvantagens: pela sua duração curta, acaba não permitindo avaliar a segurança da intervenção adequadamente. Eficácia da intervenção Avaliar a eficácia de uma intervenção consiste em avaliar se a intervenção funciona sob condições ideais, ou seja, em um cenário no qual o paciente segue corretamente a prescrição sem imprevistos como efeitos colaterais ou falta de recurso para comprar a medicação. Análise “per protocol”: exclui pacientes que não adotaram o protocolo. As perdas são excluídas de forma que não sabemos se o paciente teve efeitos colaterais ou simplesmente mudou de endereço → não sabemos a segurança da intervenção. Efetividade da intervenção Avaliar a efetividade de uma intervenção consiste em avaliar se a intervenção funciona sob condições reais, ou seja, em um cenário no qual o paciente recebe a prescrição, mas seu uso adequado está sujeito a efeitos colaterais ou falta de recurso para compra-la. Análise “por intenção de tratar”: analisa o paciente de acordo com o seu grupo original. Garante homogeneidade da randomização. Considera uma realidade prática. Nesse caso, as Geovana Sanches - TXXIV perdas por efeitos colaterais são consideradas separadamente. Eficiência da intervenção Avaliar a eficiência da intervenção consiste em avaliar se a intervenção funciona no mundo real (é efetiva), é de fácil implementação e economicamente viável. Um tratamento é eficiente quando é efetivo e economicamente viável. Segurança da intervenção Avaliação dos efeitos adversos associados à intervenção. Alguns efeitos potencialmente graves podem não ser detectados no ensaio clínico randomizado devido ao tamanho insuficiente da amostra e tempo de seguimento usualmente mais curto. CONSORT Publicado em 1996, é um conjunto de diretrizes (checklist) que devem ser seguidas para realização de um ensaio clínico: regras de planejamento, desenvolvimento e publicação dos ensaios. É aceito mundialmente e seu objetivo é monitorar a qualidade das publicações de ensaios clínicos. Registro de ensaios clínicos O registro de ensaios clínicos começou em 2004, de forma que cada ECR deve ter seu projeto de pesquisa registrado antes de conduzido. Isso é eticamente adequado e facilita a identificação de estudos que não foram publicados. Clinicaltrials.gov apresenta ensaios clínicos que estão sendo realizados ou que irão começar, com todo o protocolo. Todos os protocolos publicados nessa plataforma possuem a identificação NCT. LITERATURA CIENTÍFICA: CENÁRIO ATUAL Há uma grande quantidade de informação, com mais de 1 milhão de artigos publicados ao ano. Na área da saúde, são cerca de 80 artigos/dia. Estudos pré-print: não passaram pelo crivo de uma revista científica, mas estão disponíveis em uma base de dados. Archibald Cochrane: "É certamente uma grande crítica para nossa profissão que não tenhamos organizado um sumário crítico, por especialidade e subespecialidade, atualizado periodicamente, de todos ensaios clínicos aleatórios". REVISÃO SISTEMÁTICA A revisão sistemática é um estudo do tipo secundário, que utiliza métodos claros, rigorosos e explícitos para identificar, selecionar, sintetizar e avaliar todas as evidências disponíveis sobre uma pergunta clínica. Faz uma síntese de informações adequadas (soma pelo menos 2 estudos), agrupando evidências para validar intervenções diárias. É um método científico eficiente, mais barato e mais rápido que a realização de novas pesquisas. PRINCIPAIS OBJETIVOS ● Grandes quantidades de informação necessitam ser reduzidas. ● Quando os estudos são pequenos, é útil para detectar diferenças. ● Resultados dos trabalhos existentes contraditórios ● Profissionais, pesquisadores e os que determinam as políticas públicas de saúde necessitam conhecer os resultados de uma determinada pergunta clínica rapidamente. REVISÃO SISTEMÁTICA X REVISÃO NARRATIVA A revisão narrativa ou bibliográfica é uma revisão simples da literatura, semelhante a um capítulo de livro. Não possui um método claro, podendo ser incompleta. Podem chegar a conclusões equivocadas. Revisões narrativas podem não ser científicas o suficiente e/ou podem ter viés no modo como são feitas, avaliadas e resumidas. Na pirâmide dos graus de evidência, a revisão narrativa é equivalente a opinião de experts. Revisões sistemáticas buscam reduzir este viés em todas as etapas, para fornecer base confiável para as tomadas de decisão. Tem como objetivo não excluir nenhum ensaio clínico randomizado, seja por data ou idioma. REVISÃO SISTEMÁTICA X METANÁLISE A revisão sistemática visa coletar, analisar e manter atualizados resultados de pesquisas com metodologia clara e reprodutível. Geovana Sanches - TXXIV A metanálise, por sua vez, é um método estatístico para agrupar os resultados dos estudos encontrados na revisão, quando possível. Não é um desenho de estudo. Aumenta a precisão e validade quando comparado a ECRs isolados, já que aumenta o tamanho da amostra e reduz o intervalo de confiança (ambos são inversamente proporcionais). É possível realizar uma revisão sistemática sem metanálise. Por outro lado, não é adequado realizar uma metanálise sem fazer uma revisão sistemática inicialmente. COMO REALIZAR UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Há uma metodologia padronizada: ● Manual Cochrane para revisões sistemáticas ● PRISMA: checklist → principais itens para relatar revisões sistemáticas e metanálises. ETAPAS DE UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Antes de iniciar uma revisão sistemática, é necessário registrá-la no Registro do Protocolo da RS prospectivamente. 1. Definição da pergunta clínica estruturada (PICO) ● Identificação dos componentes para construção da pergunta estruturada; ● Identificação do desenho de estudo adequado para responder à pergunta clínica. 2. Busca na literatura ● Ampla busca em diferentes bases de dados (gerais e específicas); ●PubMed, Embase, LILACS e Cochrane Librabry sempre são bases de dados pesquisadas, além de outras mais específicas. 3. Seleção dos estudos e extração dos dados ● Leitura dos títulos e resumos recuperados por 2 revisores independentes; ● Plataforma Rayyan; ● Leitura dos artigos completos selecionados; ● Caso haja discordâncias, há um terceiro revisor. 4. Avaliação do risco de viés dos estudos incluídos A avaliação da qualidade metodológica avalia o risco de viés dos estudos incluídos, sendo viés um erro sistemático, ou desvio da verdade, que pode influenciar os resultados e conclusões de um estudo. Ferramenta Cochrane (Rob) É realizado por dois autores diferentes e, em caso de discordância, há um terceiro autor. Se necessário, pode ocorrer contato com os autores dos estudos incluídos, solucionando todas as incertezas. A ferramenta Cochrane (Rob) é composta por 7 domínios, os quais devem ser avaliados: ● Geração da sequência de randomização: impede viés de seleção. ● Sigilo de alocação: impede viés de seleção. ● Mascaramento dos participantes e da equipe ● Mascaramento dos avaliadores dos desfechos ● Dados faltantes/incompletos: perdas. ● Relato seletivo: o autor do estudo clínico planeja como será o estudo e os desfechos, os quais devem constar no planejamento do projeto. Quando o autor planeja avaliar uma variável, mas não a considera nos resultados, temos um relato seletivo. O autor da revisão sistemática deve comparar se todos os desfechos realmente foram avaliados ou se houve algum relato seletivo. ● Outras fontes de viés: domínio aberto para incluir outros vieses considerados importantes pelo autor da revisão sistemática. Dependendo do PICO, alguns domínios serão mais relevantes do que outros. É avaliada de acordo com 3 julgamentos para cada domínio: alto risco de viés, risco incerto de viés ou baixo risco de viés. Geovana Sanches - TXXIV 5. Resultados quantitativos (se possível, metanálise) Nem todas as revisões sistemáticas possuem uma metanálise, pois as vezes os resultados apresentados pelos ensaios clínicos não podem ser unidos para realizá-la. Para a confecção da metanálise, os EC incluídos devem ser homogêneos e com dados disponíveis (devem ter o mesmo PICO), a fim de somar os efeitos encontrados, criando um único efeito. Uma revisão pode ter diversas metanálises, de acordo com a quantidade de variáveis avaliadas; nem todos os estudos da revisão precisam ser incluídos na metanálise. Quando a variável é um desfecho dicotômico, ou seja, apresenta apenas duas respostas opostas, utilizamos o Risco Relativo (RR) para avaliar, o qual é uma comparação do risco entre dois grupos. Um exemplo com desfecho dicotômico é a mortalidade. ● RR=1 → não há diferença entre os grupos ● RR > 1 → a intervenção é melhor que o grupo controle ● RR < 1 → o controle se mostrou melhor que a intervenção Em cada risco pontual há o intervalo de confiança, o qual é apresentado entre parênteses. Por exemplo: RR= 0,88 (0,79 a 0,99)→ o intervalo de confiança é estreito e isso será refletido no tamanho do diamante. O diamante é referente a soma dos estudos e quando ele passa pelo 1, temos que o risco entre os dois grupos é o mesmo. Quanto mais estreito é o intervalo de confiança, mais preciso é o resultado. Sendo assim, o tamanho do intervalo deve ser o mais estreito possível e isso se relaciona com o tamanho da amostra: uma amostra pequena normalmente apresenta um intervalo de confiança muito grande. Quando a variável é contínua, como a dor, o desfecho é contínuo e, ao invés do RR, é utilizada a diferença entre as médias (DM). Interpretação da metanálise ● Intervalo de confiança: intervalo de valores que contém o ponto de efeito estimado. ● A amostra precisa ser representativa da população. ● Quanto menor a barra do intervalo de confiança, maior a confiabilidade do estudo. ● Os pontos sobre cada barra do IC representam medidas (odds ratio, risco relativo, etc) de cada estudo, sendo o tamanho proporcional ao peso do estudo. Exemplo 1 Exemplo 2 Geovana Sanches - TXXIV Entre a intervenção e o controle, não houve diferença na melhora da dor, tendo em vista que o diamante passa pelo 0. Exemplo 3 I²: se passar de 50% indica que há heterogeneidade significativa entre os desfechos analisados. E, caso isso ocorra, o autor da revisão precisa justificar-se. → Heterogeneidade ● Qualquer tipo de variabilidade entre os estudos incluídos em uma revisão sistemática. ● A soma (metanálise) de estudos muito diferentes entre si pode induzir a erro, invalidando as conclusões decorrentes. ● Heterogeneidade entre os estudos incluídos na metanálise sempre vai existir ● Problema: quando é substancial, pode comprometer os resultados da metanálise. Na primeira imagem não há heterogeneidade significativa e na segunda imagem, há maior heterogeneidade (o segundo estudo pode ser um outlier) → análise de sensibilidade, o autor pode tirar esse outlier desde que justificado. 6. Avaliação do conjunto de evidências (GRADE) Grades of Recommendation, Assessment, Development and Evaluation criado nos anos 2000 pelo GRADE Working Group. Gradua a certeza no conjunto das evidências mapeadas sobre uma questão clínica, sendo que a certeza da evidência reflete a confiança de que o efeito estimado é adequado para apoiar uma recomendação clínica. Nem sempre uma síntese rápida terá as informações necessárias. Apresenta 5 domínios e a classificação da evidência é feita em quatro níveis: ● Alta: há confiança de que o efeito estimado esteja próximo ao verdadeiro efeito da intervenção. É improvável que estudos futuros alterem a confiança na estimativa do efeito. ● Moderada: há confiança moderada no efeito estimado. É provável que novos estudos possam impactar a confiança na estimativa do efeito e talvez modificá-la. ● Baixa: a confiança no efeito estimado é limitada, É provável que estudos futuros tenham um impacto importante na estimativa do efeito e provavelmente modificá-la. ● Muito baixa: há importante grau de incerteza na estimativa do efeito 7. Interpretação dos resultados ESTUDOS OBSERVACIONAIS Existem três tipos de estudos observacionais: Coorte, Caso-controle e Transversal. Diferentemente dos estudos experimentais nos quais o pesquisador controla a exposição alocando os participantes ao grupo intervenção, os estudos observacionais têm várias funções: Geovana Sanches - TXXIV ● O pesquisador mede a exposição a um fator de risco ou tratamento dos grupos ● Incluem grupos de participantes correspondentes (pareados) ● Avaliam associações entre exposições e desfechos Não há como responder perguntas de intervenção com estudos observacionais. Os estudos observacionais podem ser divididos em dois grupos, sendo eles com ou sem grupo comparação. Caso não haja comparação, estamos diante de um estudo descritivo (relatos de casos e séries de casos), no qual se encontra a perspectiva do que está acontecendo na população, prevalência ou experiência de um grupos. Por outro lado, caso haja um grupo comparação, temos os estudos analíticos, nos quais há relação entre dois efeitos: efeito de uma intervenção/exposição em um desfecho. Os estudos analíticos podem ser subdivididos em três desenhos, sendo a principal diferença entre eles a direção do evento: 1. Coorte: exposição ao fator de risco ou tratamento → desfecho (da causa ao efeito). 2. Caso-controle: é retrospectivo, ou seja, parte do desfecho e busca resposta no passado, a fim de identificar algum fator de risco. 3. Transversal: são estudos de frequência, em que a exposição e o desfecho ocorrem no mesmo momento. Ao nos referirmos a esses desenhos de estudo, esqueceremos o PICO e entraremos no PECO, o qual não possui espaço para intervenção: ESTUDO COORTE É um estudo longitudinal, ou seja, inicia com a exposição e segue em um período de tempo para obter o desfecho. Os dados são obtidos de grupos que foram expostos ou não ao fator de risco. Faz-se análise posterior da incidência de doenças e utiliza como medida o cálculo do RR (risco relativo). É ideal paraanálise da etiologia, prognóstico e fator de risco. Estudo coorte prospectivo O estudo começa antes da ocorrência do desfecho, ou seja, a exposição precede o efeito. Avalia-se o risco relativo de um grupo sobre o outro. Risco relativo (RR) Compara o risco entre dois grupos e determina o risco de apresentar uma condição em relação à presença ou ausência de um fator de exposição (risco ou proteção). Exemplo 3355 fumantes e 2810 não fumantes participando de um estudo coorte cujo objetivo é analisar o risco de desenvolver Ca de pulmão após um período de tempo em contato com o tabagismo. Os pesquisadores acompanham esses participantes durante 20 anos. Observou-se que 255 fumantes e 110 não fumantes apresentaram a doença. Geovana Sanches - TXXIV 1. Qual é o risco (absoluto) de fumantes desenvolverem Ca de pulmão? 255/3355= 0,07= 7% 2. Qual é o risco (absoluto) de não fumantes desenvolverem Ca de pulmão? 110/2310= 0,04= 4% 3. Qual é o risco (relativo) de Ca de pulmão entre fumantes e não fumantes? 0,07/0,04= 1,75 (Maior risco) Vantagens ● Ideal para incidência, etiologia e fator de risco. ● Prospectivo → aumenta a precisão do resultado ● O investigador tem a possibilidade de avaliar diretamente a exposição (minimiza viés) ● Diversos desfechos podem ser mensurados ao mesmo tempo Desvantagens ● Pode ser muito demorado e com alto custo ● Perdas durante o seguimento ● Expostos e não expostos podem ser diferentes (controle dos fatores de confusão → outros fatores que podem influenciar os resultados). Estudo de coorte retrospectivo ou histórico Exposição e condição já ocorreram (em momentos históricos diferentes). Os dados são coletados por registros/ prontuários. Vantagens ● Útil para doenças com longo período de latência ● Menos recursos financeiros e menor tempo necessários Desvantagens ● Controle limitado na obtenção da amostra e mensuração das variáveis (registros históricos: sujeito a confusão) ● Depende da disponibilidade de registro→ dados incompletos. CASO-CONTROLE Estudos retrospectivos, ou seja, partem do desfecho (presença ou ausência de doença), para investigar exposição a fatores de risco ou fatores de proteção no passado. É muito útil para doenças raras ou com longos períodos de latência e também para investigação de fatores de risco ou de proteção. Odds Ratio (OR) Em Caso controle, avalia-se a força da associação entre um fator de exposição e uma condição através do Odds Ratio. O OR se refere a chance dos casos terem sido expostos ao fator de risco/proteção dividida pela chance dos controles terem sido expostos ao mesmo fator de risco/proteção. Diferença entre chance e risco RR: risco de apresentar uma condição em relação à presença ou ausência de um fator de exposição (risco ou proteção). OR: chance de, ao apresentar uma condição clínica, o indivíduo ter ou não sido exposto ao fator de risco ou proteção. ESTUDO TRANSVERSAL Os estudos transversais se referem ao estudo de um grupo de pessoas em um ponto no tempo. São mensurações em um único momento, ou seja, exposição e desfecho são mensurados concomitantemente; não há seguimento. Geovana Sanches - TXXIV É útil para descrever características de uma população e descrever associações entre variáveis. Prevalência: medida por meio do levantamento de uma população definida: quem tem e quem não tem a condição/desfecho de interesse? Não utilizamos os termos retrospectivo ou prospectivo para esse desenho de estudo. O que pode ter essa denominação é a coleta de dados para sua realização. Vantagens ● Mais fácil e barato de ser realizado ● Gerador de hipóteses de associação Desvantagens ● Não testa hipóteses, pois as variáveis são medidas simultaneamente. ESTUDOS DE ACURÁCIA DIAGNÓSTICA "Estabelecer um diagnóstico é um processo imperfeito, resultante mais da probabilidade do que da certeza". (Fletcher) Os testes diagnósticos envolvem uma questão complexa, sendo o objetivo reduzir as incertezas sobre o estado de saúde de uma pessoa. Múltiplos testes podem ser realizados, a partir de diferentes processos. Os testes diagnósticos se apresentam como estudo de acurácia diagnóstica e estudo de intervenção, os quais diferentes → overdiagnosis. São estudos que auxiliam os médicos na tomada de decisão entre pedir ou não determinados exames. CONCEITOS BÁSICOS Acurácia: capacidade do teste em acertar o diagnóstico corretamente, seja para presença ou ausência de doença. Se aplicarmos um teste em N indivíduos, qual a probabilidade do teste "acertar" os indivíduos que têm e os indivíduos que não têm a doença? Padrão Ouro / Padrão de Referência: teste que oferece maior grau de acurácia. Quando surgem exames novos, é necessário que se faça a comparação com o padrão ouro. Teste Index: teste sob avaliação. Quando nos referimos aos estudos de acurácia, a pergunta clínica é guiada pelo PIRD, sendo " I " o index. População-alvo: pessoas com a suspeita da doença / desfecho de interesse. PIRD População ● Quem são os indivíduos do estudo? ● Qual o sexo, faixa etária, aspectos da doença (gravidade, subtipo)? I - teste index ● Qual é o exame/ teste a ser analisado? R - teste de referência ● Qual é o teste referência (padrão ouro)? Exame frequentemente utilizado e consagrado. Diagnóstico de interesse ● Qual é o resultado diagnóstico de interesse? (Sim ou não) Amostra A amostra do teste consiste em pacientes consecutivos do serviço ou instituição onde o teste será utilizado. Todos devem ser submetidos ao padrão outro (de referência) e ao novo teste, sendo que a avaliação de ambos deve ocorrer ao mesmo tempo, mascarada e independente. Deve-se fazer a associação entre os resultados e o estado de saúde dos indivíduos. Os estudos de acurácia diagnóstica não são encontrados na pirâmide, mas são essencialmente estudos transversais (também podem ser comparativos). Verdadeiro-positivo: indivíduo com a doença e com teste positivo. Falso-positivo: indivíduo sem a doença e com teste positivo. Verdadeiro negativo: indivíduo sem a doença e com teste negativo. Falso negativo: indivíduo com a doença e teste negativo. Geovana Sanches - TXXIV Os verdadeiros positivos e verdadeiros negativos correspondem a situações favoráveis, pois o teste mostra os indivíduos que realmente possuem a doença ou que realmente não possuem a doença. Sensibilidade: probabilidade do teste ser positivo quando a doença está presente (verdadeiro positivo). Se aplicarmos o teste em N indivíduos com a doença, quantos terão o teste positivo? Especificidade: probabilidade do teste ser negativo quando a doença está ausente (verdadeiro negativo). Se aplicarmos o teste em N indivíduos sem a doença, quantos terão o teste negativo? Exemplo: TVP ● Padrão-outro: US com compressão ● Teste D-dímero: rápido, barato e fácil acesso Acurácia Trata-se da relação entre sensibilidade e especificidade, ou seja, da capacidade de identificar doentes e excluir não doentes. Testes sensíveis são aqueles que reduzem positivos, enquanto testes específicos, falsos-negativos. Importante! ● Sensibilidade e especificidade devem ser analisados juntos para determinar a acurácia de um teste. ● São características próprias do teste e não variam com a prevalência da doença. ● Podem mudar de acordo com os diferentes cenários. ● Não podem ser utilizados para detectar a probabilidade de um indivíduo ter ou não a doença. Valor preditivo Valor preditivo positivo: probabilidade de uma pessoa estar realmente doente, diante de um resultado positivo (entre todos os testes positivos). Caminha com a sensibilidade. Valor preditivo negativo: probabilidade de uma pessoa realmente não estar doente, diante de um resultado negativo (entre todos os testes negativos). Caminha com a especificidade. O valor preditivo de um teste depende, portanto, da prevalência da doença. Exemplo: se o teste de HIV é aplicado em um usuário de droga injetável, o VPP é maior do que quando o teste é positivo em um indivíduo escolhido ao acaso na população geral. Para melhorar o valor preditivo de um teste para doenças,pode-se selecionar grupos de risco. Exemplo: medir colesterol em crianças obesas e com antecedentes familiares (maior VPP). Ponto de corte (cutt of) Limite superior da normalidade, acima do qual o teste será considerado positivo. Ponto de corte baixo Se quisermos detectar todos os indivíduos da população com uma doença, sem "deixar escapar" nenhum, precisamos de um teste muito sensível, ou seja, com alta sensibilidade. Para isso, é necessário diminuir o limite da normalidade ou o ponto de corte. QUAL O PAPEL DO NOVO TESTE? Comparar apenas com o padrão ouro pode ser insuficiente. Deve-se verificar se o teste é utilizado em triagem; substitui os exames existentes ou será adicionado aos exames existentes. Geovana Sanches - TXXIV Triagem Exemplo: dor abdominal com suspeita de apendicite. Substituição Exemplo: Mielografia é um teste existente, mas invasivo. A ressonância magnética é menos invasiva. Adição de novo exame AVALIAÇÃO DOS ESTUDOS DE ACURÁCIA DIAGNÓSTICA Reprodutibilidade Variação depende de quando, como e por quem é realizado o exame. Deve estar descrito na metodologia. ● Variação intra-observador: falta de reprodutibilidade quando um mesmo observador ou laboratório realiza o teste repetidas vezes. ● Variação interobservador: falta de reprodutibilidade entre dois ou mais observadores ● Testes com baixa reprodutibilidade intra e interobservador tem pouca utilidade clínica. Kappa: grau de concordância além do esperado pelo acaso ● Mais próximo de 0 = sem concordância ● Mais próximo de 1 = ótima concordância → Os resultados alteram a decisão clínica? Checklist STARD: itens que devem constar nos estudos de acurácia diagnóstica → qualidade do relato → Os pacientes do estudo eram representativos? ● Incluir pacientes com suspeita da doença, para quem o teste será utilizado. ● O ideal é que seja um estudo transversal. → Foi utilizado um padrão ouro/ referência? ● Padrão referência adequado ● Aplicado de maneira “cega” e de forma semelhante nos dois grupos → Quais os resultados? ● Sensibilidade ● Especificidade ● Valor preditivo positivo ● Valor preditivo negativo → Posso aplicar nos meus pacientes? ● Reprodutibilidade ● Disponibilidade ● O teste pode alterar minha prática clínica? ● O paciente pode ser beneficiado com o resultado? Geovana Sanches - TXXIV
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