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Introdução ao Direito Penal Conceito de Direito Penal CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS O delito ocorre em todas as sociedades constituídas pelo ser humano, conforme preceitua Durkheim. Pelo fato das relações humanas serem contaminadas pela violência, são necessárias normas que as regulem. Assim, o fato social que contrariar o ordenamento jurídico constitui um ilícito jurídico, sendo o ilícito penal a modalidade mais grave, já que ele atinge bens considerados importantes pelos membros da sociedade. O direito penal surge quando as infrações aos direitos e aos interesses dos indivíduos não conseguem ser resolvidos pelos outros meios de controle social. CONCEITO DE DIREITO PENAL O direito penal é um conjunto de normas, princípios e valorações. Por um lado, ele é conjunto de normas jurídicas que determina quais são as infrações de natureza penal e suas correspondentes sanções (penas e medidas de segurança). Por outro lado, também é um conjunto de valorações e de princípios que orientam a aplicação e a interpretação das normas penais. Direito penal é tanto um (i) conjunto de leis penais (legislação penal) quanto um (ii) sistema de interpretação penal. Pode-se dizer, também, que o direito penal é um conjunto de normas jurídicas que vão regular o exercício do poder punitivo do Estado, sendo o delito um pressuposto e a pena uma consequência. caracteres Do DIREITO PENAL O direito penal é um meio de controle social altamente formalizado, sendo exercido exclusivamente pelo Estado. Assim, o direito penal só acontece se observadas as normas preestabelecidas, legisladas conforme um sistema democrático. Dessa forma, os bens protegidos não são de interesse apenas da vítima, mas da sociedade como um todo, já que quem pode punir é apenas o Estado. O Estado é o detentor da ius puniendi. O direito penal é fragmentado, ele representa a ultima ratio, ou seja, deve ser usado como última alternativa do sistema para proteger bens e interesses de maior importância. O direito penal, quanto à forma, se caracteriza pela imposição de sanções específicas (penas e medidas de segurança) como resposta aos conflitos, Quanto à finalidade, o direito penal tem o objetivo de produzir efeitos não só sob quem delinque, mas também para toda a sociedade. Primeiramente, o direito penal tem finalidade preventiva genérica, ou seja, procura motivar a sociedade em geral a evitar a prática do crime, por meio da criação das normas penais e de suas consequentes sanções. Falhando essa função motivadora, o direito penal deixa de ter uma sanção abstrata e passa a ter uma sanção efetiva sob o indivíduo que delinquiu. Assim, o direito penal assume a finalidade de prevenção especial, atuando sob o indivíduo especificamente. O direito penal também é normativo, valorativo e finalista. Normativo porque tem o intuito de estudar a norma e os critérios de ponderação jurídica que estruturam esse dever-ser, assim como as consequências jurídicas do não cumprimento das normas penais. O direito penal é valorativo porque sua atuação está pautada a partir de valores consolidados pelo ordenamento jurídico. E tem caráter finalista porque visa a proteção de bens jurídicos fundamentais. O direito penal também é sancionador, uma vez que protege os bens jurídicos através da cominação de sanções. Assim, ele é predominantemente sancionador porque não cria bens jurídicos, geralmente, mas sim acrescenta uma tutela penal aos bens jurídicos já regulados em outras áreas do direito. Mas, excepcionalmente, o direito penal é constitutivo, quando protege bens não regulados em outras áreas, como a omissão de socorro, os maus-tratos a animais, etc. Vale lembrar que, mesmo tutelando bens jurídicos já cobertos pela proteção de outras áreas do direito, o direito penal faz isso de forma totalmente peculiar, sendo, portanto, autônomo. direito penal objetivo e subjetivo O Direito Positivo é o conjunto de normas criadas ou reconhecidas pelo poder político, ou seja, é o direito posto. O direito positivo depende, então, de um ato da vontade soberana que garanta a criação e o cumprimento das normas de forma coercitiva. Assim, pode-se concluir que o Direito penal é Direito Positivo, já que sua obrigatoriedade depende da vontade estatal soberana que o impõe, e o seu cumprimento é garantido pela coerção (penas). Direito Penal objetivo é, justamente, o conjunto de normas positivadas, preceitos legais que regulam o exercício do poder punitivo do Estado, definindo crimes e suas respectivas sanções penais. O Direito Penal objetivo é dividido em: (i) normas penais não incriminadoras, que são aquelas localizadas na Parte Geral do CP, responsáveis por regular o exercício do poder punitivo e (ii) normas penais incriminadoras, localizadas na Parte Especial, responsáveis por definir as infrações e suas correspondentes sanções. Direito Penal Subjetivo é o próprio poder punitivo, ou seja, é o direito de punir, que é limitado pelo Direito Penal Objetivo que limita a atuação estatal por meio das normas penais positivadas, direito penal comum e especial O direito penal comum é aquele cujas normas podem ser aplicadas pela Justiça Comum. Já aquelas normas que precisam ser aplicadas por órgãos especiais, tais como a Justiça Eleitoral e a Justiça Militar, tratam-se de normas do direito penal Especial. Esses conceitos não se confundem com legislação penal comum - Código Penal - e legislação penal especial ou extravagante - demais diplomas legais que não se encontram no Código Penal. direito penal substantivo e adjetivo Direito penal substantivo, ou direito penal material é aquele conhecido por Direito Penal Material, isto é, normas que regulam os institutos jurídico-penais e os princípios que orientam a aplicação dessas normas. Já o direito penal adjetivo, ou direito penal formal é aquele conhecido por Direito Penal Processual, que contém a forma como deve ser aplicado o direito Penal, sendo um instrumento de aplicação do direito penal substantivo. direito penal num estado democrático O direito penal pode ser construído em uma concepção autoritária e totalitária de Estado, ou pode ser construído sob uma concepção democrática de Estado. Pela CF de 1988, o direito penal brasileiro foi concebido em um ambiente democrático, respeitando os princípios e as garantias constitucionais. Isso quer dizer que o direito de punir do Estado foi submetido ao império da lei, estando o Direito Penal à serviço dos interesses da sociedade. Pode-se dizer que a função do direito penal num Estado democrático de direito é justamente a proteção subsidiária de bens jurídicos fundamentais, com limites do poder punitivo estatal, Acerca do bem jurídico, Roxin defende que as normas penais somente podem perseguir a finalidade de assegurar aos cidadãos uma coexistência livre e pacífica. O Estado deve garantir penalmente as condições individuais necessárias para a coexistência, como a proteção da vida, ao mesmo tempo que deve garantir as instituições estatais imprescindíveis para alcançar esse fim, como uma administração da justiça que funcione. Dessa maneira, bens jurídicos seriam todos os objetos legitimamente protegidos pelas normas sob essas condições. É a proteção do bem jurídico o fundamento de um Direito Penal liberal, sendo um princípio interpretativo do Direito Penal, sendo um ponto de partida da estrutura do delito. Acerca da função da pena, Welzel considera que ela tem função ético-social e função preventiva. A função ético-social diz respeito à proteção dos bens jurídicos, que são os bens vitais da sociedade e do indivíduo, Assim, o direito penal visa assegurar o reconhecimento e a proteção desses valores. A função preventiva surge como consequência lógica da função ético-social. O direito penal visa a proteção dos bens jurídicos através da proteção de valores de caráter ético-social. CONCEITO DE PENA Pena é a imposição pelo Estado ao condenado de sanção contra a prática de um fato definido na lei como crime. É a sanção imposta pelo Estado, mediante a ação penal, ao autor de uma infração penal, como forma de retribuiçãode seu ato ilícito, sendo essa pena consistente na diminuição de um bem jurídico e com o fim de evitar novos delitos. Atenção: pelo conceito agnóstico de pena, nenhuma função positiva da pena é aceita. A pena tem alguns momentos de concretização: 1) COMINAÇÃO: A pena encontra seu fundamento no dever do Estado de preservar a ordem e a segurança da convivência social. Isso se faz com a incriminação de determinadas condutas que mais gravemente atingem certos bens e interesses. 2) APLICAÇÃO: Com a transgressão da norma impõe-se a pena ao transgressor, ou seja, a ele impõe-se um mal, a perda de determinados bens jurídicos. O fundamento da pena aqui é a realização da conduta delituosa. 3) EXECUÇÃO: No momento da execução o fundamento da pena é a sentença condenatória. Esta impõe a perda ou diminuição de bens jurídicos ao condenado MEDIDAS DE SEGURANÇA ● Penas para os imputáveis. Avalia a culpabilidade do agente. ● Medidas de segurança para os inimputáveis por insanidade mental. ● Sistema Duplo Binário: Vigorava antes de 1984, no texto original do CP. Nesse modelo, o inimputável poderia receber pena OU medida de segurança. A medida de segurança era iniciada após o condenado cumprir a pena privativa de liberdade. ● Sistema Vicariante: Pós reforma do CP. O inimputável só pode ser colocado em medida de segurança, o sujeito é absolvido, mas recebe medida de segurança. Ou seja, o sujeito que pratica ● ato ilícito e típico, porém não culpável. Imputáveis recebem pena e o inimputável medida de segurança. HISTÓRIA DO DIREITO PENAL Não há continuidade histórica no Direito Penal (Zaffaroni). Não se trata de uma progressão sistemática, com princípios, períodos e épocas caracterizadoras de cada um de seus estágios. É composto de uma sucessão de marchas e contramarchas na qual vai surgindo a concepção de homem como pessoa. A legislação penal tem caráter cultural, e não natural, e a história das penas é mais sangrenta que a história dos crimes. ERA DA VINGANÇA 1. Vingança privada: A pena, nesse caso, representava o revide a uma agressão sofrida pela coletividade. Era punido o indivíduo isoladamente, ou o seu grupo social, por meio de sangrentas batalhas que, muitas vezes, eliminavam todo o grupo. Não havia a ideia de proporcionalidade na retribuição, as punições não seguiam a justiça. Não havia individualização da pena e nem proporcionalidade. ● Lei de Talião e composição: Para evitar a dizimação das tribos, surgiu essa lei que possuía a ideia de proporcionalidade. Assim, o mal praticado receberia sua pena proporcional. "Olho por olho, dente por dente". Essa lei foi considerada o embrião do princípio da proporcionalidade. No entanto, com o passar do tempo, as populações foram ficando deformadas devido ao Direito Talional. Assim, surgiu a composição, sistema em que o infrator poderia comprar a sua liberdade e não sofrer castigo. Esse sistema é um dos antecedentes da reparação no direito civil e das penas pecuniárias do Direito Penal. 2. Vingança divina: Trata-se do direito penal religioso. A igreja possuía a posição de liderança e utilizava o direito penal para defender seus interesses. O castigo era aplicado pelos sacerdotes (tribunais eclesiásticos) e por delegação divina. Eram penas cruéis, desumanas, que serviam para a purificação da alma do criminoso e com a finalidade maior de intimidação. Os povos antigos possuíam grande influência da religião, por isso, o princípio que dominava a repressão era a satisfação da divindade, ofendida pelo crime. Assim, a rigorosidade da punição tinha relação com a grandeza do deus ofendido. Direito penal e Igreja se confundiam, assim, o pecado trazia punição. Era muito comum as penas corpóreas, pois os criminosos precisavam de purificação da alma. Os deuses exigiam que fossem punidos aqueles que fossem contrários aos seus valores, ou seja, aos valores da igreja. O delito era tido como pecado, e a pena como punição. Havia forte influência da religião, e os castigos eram aplicados pelos sacerdotes. Era o oposto da vingança privada. Aqui, a prisão era pena de reflexão para punir clérigos faltosos, a famosa penitência. 3. Vingança Pública ou política: Posteriormente, com uma melhor organização social, o Estado assumiu o dever de manter a ordem e a segurança social. Com o enfraquecimento da igreja, esta não detinha mais a autonomia de aplicar penas, mas mesmo assim exercia alguma influência. O Estado passa a ser o detentor do jus puniendi. A vingança pública surge, então, com objetivo de repressão criminal intimidatória. Mantém-se as características de crueldade e de severidade, com o objetivo de segurança do monarca. Transferência do poder divino ao monarca. Era o monarca o representante do Estado. Os interesses desse soberano eram protegidos. Crimes de lesa majestade são aqueles que se sobressaíram na época. A consequência dos crimes eram as sentenças de pena de morte. Direito Penal Hebraico – Talmud. Vingança privada. Composição (Lei de Talião dá lugar a penas mais brandas) Direito Penal Romano – viveu todas as fases. Inova o Direito Penal com incorporação de princípios como erro, dolo, culpa, imputabilidade, atenuante, agravante. Direito Penal Germânico – vingança privada + composição. Era consuetudinário. Punição embasava-se somente no dano causado. Uso de ordálias ou juízo de Deus. Direito Canônico (D. Penal da Igreja) – influência do cristianismo. Incorpora Direito Romano. Busca humanizar o Direito Penal. Pregava Igualdade entre os homens. Visavam a regeneração do delinquente pelo arrependimento e purgação da culpa. Direito Medieval – Direito Romano + Canônico + Bárbaro. Intimidação com violência. Penas cruéis (morte, suplícios, etc). Insegurança jurídica. Sistema inquisitorial. - Antiguidade: A antiguidade desconheceu a privação de liberdade no sentido de uma sanção penal. Acontece que até o século XVIII, a prisão serviu somente à contenção e à guarda dos réus para preservá-los até o momento de serem julgados. A prisão servia de depósito - contenção e custódia - da pessoa que esperava em situações desumanas a celebração da sua pena - que normalmente era pena de morte e pena de mutilação corporal. - Idade Média: Modelo penal: Vingança divida e Vingança pública Nessa época, o delito era visto como pecado e a pena como libertação.Aqui também se desconheceu a ideia de pena privativa de liberdade. A privação da liberdade servia apenas para a custódia. As penas mais comuns eram as de mutilação e de morte, que serviam de espetáculo para as multidões. Nessa época surgem a prisão de Estado e a prisão eclesiástica. Na prisão de Estado ficavam os inimigos do poder que tinham cometido crime de traição ou os adversários dos governantes. Ela servia, então, tanto como custódia daqueles que aguardavam até a sua pena, ou como detenção temporária ou perpétua, ou até que se recebesse o perdão real. A prisão eclesiástica, por sua vez, destinava aos clérigos rebeldes e tinham a finalidade de penitência e meditação. O pensamento cristão proporcionou, tanto no aspecto material quanto no ideológico, fundamentos para a futura pena privativa de liberdade. A prisão canônica que se aplicava aos membros de clero era uma das poucas exceções de prisão custódia no século XVI. O direito canônico contribui decisivamente para o surgimento da prisão moderna. A jurisdição criminal era bipartite (Igreja e Estado). Havia tribunais de inquisição, que julgavam crimes contra a fé, a moral e os bons costumes, comandados pela Igreja, e os tribunais leigos, que julgavam crimes contra a vida e o patrimônio, comandados pelo Estado. Penas aplicadas eram de morte civil, de morte na fogueira e de suplícios. As penas acessórias eram as de multa e de confisco de bens. Os suplícios eram técnicas sofisticadas de poder e foram aplicados oficialmente até a primeira metade do século XVIII. Suplícios eram penas corpóreas de intensa dor e sofrimento, eram torturas corporais de longa duração. Os crimes punidos pela inquisição (feitiçaria, heresia, judaísmo, protestantismo, entre outros) sofriamdois tipos de penas: as penas acessórias (multas e confisco de bens) e as penas principais (morte civil, pena de morte na fogueira e os suplícios). Procedimentos inquisitoriais: 1. Denúncia anônima; 2. Instauração do processo inquisitorial; 3. Sigilo no curso do processo até a sentença, e o réu sem advogado; 4. Confisco de todos os bens (Casa trancada. Família na rua); 5. Prova: confissão mediante tortura. Réu declina da versão anterior; 6. Publicidade na execução da pena. Corpo exposto, espetáculo público, leitura de sentença nos Autos de Fé; 7. Pena de morte na fogueira sob o patíbulo. - Idade Moderna: Com o iluminismo, as pessoas já estavam cansadas com os abusos do absolutismo. Assim, eles se rebelam contra o poder soberano. O direito penal passa a ser visto com um viés humanitário. Beccaria, em seu livro "Dos delitos e das Penas" é um nome importante nesse processo de humanização do direito penal. Houve, então, uma transição das penas de suplícios para a pena de prisão. ANTES: as penas eram para chamar a atenção, com o objetivo de ridicularizar o criminoso e de intimidar o povo. DEPOIS: as penas passaram a ser discretas. Reação humanitária advinda com o Iluminismo trouxe reforma no sistema penal. Houve a afirmação de princípios penais, tais quais a legalidade, a individualização da pena e o devido processo legal. Na segunda metade do século XVIII, as penas de morte entram em crise, e deu origem a uma nova modalidade de pena: a pena privativa de liberdade, que se mostrava mais eficiente no quesito controle social. O fator principal para a mudança foi a revolução industrial. As prisões representavam um interesse econômico. Quando a pena privativa de liberdade se torna a principal resposta penológica, principalmente no século XIX, acreditava-se que ela seria um meio adequado para conseguir a reforma do delinquente. No entanto, a prisão hoje está em crise, já que não se acredita que ela seja capaz de ressocializar o apenado. Transição dos suplícios para as penas de prisão. Inicialmente as penas de prisão eram apenas para mendigos, prostitutas, vagabundos e loucos. Depois foi para todos. A prisão, então, passou pelas seguintes fases: primeiro foi meramente cautelar, depois foi tida como penitência canônica, e após como pena no sentido de salvação (ressocialização, reeducação, reinserção social). - Sistema penitenciário Brasileiro: 1º) Período Colonial - Ordenações Filipinas (1603) Não havia sistema penitenciário. A legislação portuguesa punia com a morte na fogueira, suplícios e açoites. 2º) Período Imperial – Código Criminal do Império (1830) – As penas eram de açoites apenas para os escravos, trabalhos forçados, exílio e morte por enforcamento, para os demais. A partir de 1835 – construção do primeiro sistema penitenciário. 3º) República Velha Código Penal Republicano (1890) A pena de morte foi oficialmente abolida, juntamente com o exílio e os trabalhos forçados. Expansão do sistema penitenciário 4º) Código Penal de 1940 (até o presente) Mantém a prisão e a reduz Introdução de penas Alternativas Lei de Execução Penal ESCOLAS PENAIS 1. ESCOLA CLÁSSICA Vigorou no fim do século XVIII e início do século XIX, como reação ao Estado Absolutista, filiando-se ao movimento iluminista. Os seus fundamentos tiveram origem com os estudos de Baccaria. Era utilizado o método lógico-abstrato e dedutivo (lógico). Basicamente, entendiam o crime como um conceito meramente jurídico, tendo como sustentáculo o direito natural. Predominava-se a concepção do livre arbítrio, ou seja, o homem com faculdade de agir teria de ser moralmente responsável pelos seus atos. Assim, por ser responsável, teria de ser imposta uma pena como forma de retribuição caso cometesse um crime. Se, no entanto, o agente não estivesse em pleno gozo de suas condições psíquicas não poderia ser punido. 2. ESCOLA POSITIVA Vigorou no final do século XIX e início do século XX, em ambientes póliticos e filosóficos em ascendencia. Manifestava-se a necessidade de defesa da sociedade. Lombroso acreditava que o homem não tinha livre vontade, mas era determinado por forças inatas. Assim, com ele se iniciou a aplicação do método experimental no estudo da criminalidade. Lombroso acreditava que a prática de infrações eram determinadas pelas características antropológicas do indivíduo. Nessa escola se utilizava o método indutivo. 3. ESCOLA ITALIANA Principal doutrinador: Manuel Carnevale A responsabilidade penal tem por base a imputabilidade moral, sem o livre arbítrio, que é substituído pelo determinismo psicológico. O delito é contemplado no seu aspecto real – fenômeno natural e social. A pena tem função de defesa social. Ignora qualquer hipótese de ressocialização do individuo. A pena serve apenas para afastar o criminoso do meio social. 4. ESCOLA ALEMà Principal doutrinador: von Liszt imposição de pena para os delinquentes normais e de medida de Segurança para os perigosos (anormais e reincidentes) A pena retributiva se transforma em pena determinada totalmente pela prevenção ajustada a um fim (prevenção geral - intimidação) Sugestão de que as penas privativas de liberdade de curta duração devem ser eliminadas ou substituídas. 5. ESCOLA CORRECIONALISTA Surge na Alemanha (1839) com Karl Roder, depois na Espanha Busca fixar a correção ou cura do delinquente como fim único de pena (forte influência cristã) A administração da Justiça deve visar o saneamento social (higiene e profilaxia social) e o juiz ser entendido como médico social Começa-se a pensar, mesmo que forma indireta, na ressocialização do delinquente através da pena A pena deve ser indeterminada – sem prévia fixação do tempo de sua duração (até buscar a cura) A pena tem a finalidade de corrigir a injusta e perversa vontade do criminoso e, dessa forma, não pode ser fixa e determinada. A pena deve ser indeterminada e passível de cessação de sua execução quando se tornar prescindível. 6. ESCOLA DA DEFESA SOCIAL Pós II GM - Felipe Gramática (Itália) e Marc Ancell (França) Propõe-se a substituição da responsabilidade penal, fundada no delito, pela anti-sociabilidade, fundada em dados subjetivos do autor; substituir a pena por medidas sociais Funda-se a política criminal inserida no processo de ressocialização Consegue atribuir a pena uma preocupação com os direitos humanos, pensando numa política criminal de prevenção e redução da criminalidade, defendendo a sociedade dos riscos dos delitos 7. ESCOLA TÉCNICO JURÍDICA Expulsa a defesa social do Direito Penal e a acomoda na Política Criminal, elaborando o modelo de ciência penal mais apto à realização concreta dos ideais dos estados autoritários. Inicia-se em 1905 e é uma reação à corrente positivista. Procura restaurar o critério propriamente jurídico da ciência do Direito Penal. O seu primeiro expoente é Arturo Rocco. O maior objetivo é desenvolver a ideia que a ciência penal é autônoma, com objeto e métodos próprios, ou seja, ela é única não se misturando com outras ciências. PRINCÍPIOS PENAIS As ideias de Igualdade e de liberdade, trazidas pelo Movimento Iluminista, forneceram ao Direito Penal um caráter menos cruel, impondo limites à intervenção estatal nas liberdades individuais, diferente do que acontecia no Absolutismo. Esses princípios limitadores passaram a integrar diversos Códigos Penais em países democráticos. Hoje, esses princípios são garantias do cidadão perante o poder punitivo do Estado e estão amparados pela Constituição Brasileira de 1988. Além disso, o corpo da constituição também traz princípios como liberdade, igualdade e justiça, que orientam todo o sistema normativo, inclusive orientam a interpretação das normas infraconstitucionais em matéria penal. princípio de legalidade e da reserva legal Previsão: artigo 1º do CP e art. 5º, XXXIX da CF, O princípio da legalidade serve para controlar o poder punitivo estatal. Por esse princípio, a elaboração das normas penais e suas respectivas sanções é função exclusiva da lei. Isso quer dizer que nenhum fato pode ser consideradocrime e nenhuma pena pode ser aplicada sem que antes tenha uma lei definindo o crime e sua sanção. O princípio da legalidade está em concordância com o art. 5º XXXIX CF que diz que “não haverá crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Trata-se de cláusula pétrea. Já o princípio da reserva legal determina que a regulação de certas matérias deve ser feita por meio de lei formal. Assim, pelo art. 22, I CF, compete à União legislar sobre Direito Penal. Princípio da taxatividade: Dentro do princípio da legalidade, é necessário pontuar que o legislador penal deve evitar ao máximo expressões vagas, equívocas ou ambíguas. Isso porque se a lei não for clara e precisa, não poderá proteger o cidadão contra a arbitrariedade do Estado. Além disso, caso a lei seja muito ambígua e imprecisa, o juiz irá fazer sua interpretação própria, gerando insegurança jurídica. É claro que o legislador não deve abandonar os conceitos valorativos, no entanto, deve, também, descrever efetivamente a conduta proibida, para não resultar na violação à segurança jurídica. Dessa forma, para uma técnica correta ao princípio da legalidade, deve-se evitar ambos extremos: tanto a proibição total da utilização de conceitos normativos gerais, quanto o exagerado uso dessas cláusulas gerais valorativas que não descrevem com precisão as condutas proibidas. É preciso achar um meio-termo entre o uso equilibrado de cláusulas gerais valorativas que permitem a abertura do Direito Penal à adequação da realidade dinâmica, e a efetiva proteção dos bens jurídicos. Assim, o princípio da taxatividade diz que a lei precisa ser certa. No Brasil, crimes e contravenções penais são instituídos por lei ordinária. É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria de direito penal (art. 62, §1º, I, alínea b), seja ela prejudicial ou favorável ao réu. Entretanto, a jurisprudência do STF está firmada no sentido de que as medidas provisórias podem ser utilizadas na esfera penal, desde que benéficas ao agente (RHC 117.566/SP). O princípio da reserva legal compreende três fundamentos: I) fundamento jurídico, que é a taxatividade, a certeza, a determinação precisa do conteúdo do tipo penal e da sanção penal a ser aplicada (pelo legislador) e na máxima vinculação ao mandamento legal (pelo magistrado). O juiz deve, inclusive, vincular-se à lei na apreciação de benefícios legais. “O princípio da reserva legal atua como expressiva limitação constitucional ao aplicador judicial da lei, cuja competência jurisdicional, por tal razão, não se reveste de idoneidade suficiente para lhe permita a ordem jurídica ao ponto de conceder benefícios proibidos pela norma vigente, sob pena de incidir em domínio reservado ao âmbito de atuação do Poder Legislativo” (HC 92.010/ES). II) fundamento político, que é a proteção do ser humano frente ao arbítrio do Estado. III) fundamento democrático, que revela a aceitação pelo povo, representado pelo Congresso Nacional. Em tese, é o povo quem escolhe os crimes e as penas, visto que os parlamentares são eleitos pelo povo. Diferença entre reserva legal (estrita legalidade) e legalidade é que o princípio da legalidade apenas impõe que os crimes e as penas devem ser construídos por lei, enquanto o princípio da reserva legal compreende a visão de que deve ser utilizada lei em sentido formal, ou seja, lei editada em consonância com o processo legislativo previsto pela CF. O princípio da anterioridade também decorre do art. 5º, XXXIX da CF e do art. 1º do CP. O crime e a pena devem estar definidos em lei prévia ao fato cuja punição se pretende. A lei penal somente produz efeitos a partir da data em que entra em vigor. Daí decorre a irretroatividade da lei, que nao se aplica a fatos pretéritos, salvo se beneficiar o réu (art. 5º, XL, CF) Possui quatro desdobramentos: lex praevia, lex stricta, lex scripta e lex certae. 1) Lei Prévia - o agente somente poderá ser validamente punido se já houver aquela norma incriminadora no momento anterior a prática da conduta (Princípio da Anterioridade). 2) Lei Estrita - Deve ser elaborada através de Lei Ordinária, conforme o processo legislativo constitucionalmente estabelecido (Princípio da Legalidade Estrita). 3) Lei Escrita - Não pode haver incriminação por costumes ou por jurisprudência. 4) Lei Certa – O tipo penal deve ser o mais preciso possível, evitando termos vagos ou genéricos (Princípio da Taxatividade) PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA O princípio da legalidade impõe limites ao arbítrio judicial, mas não impede que o Estado crie tipos penais absurdos e nem comine sanções cruéis. Por isso, há a necessidade da observância do princípio da intervenção mínima, que limita o arbítrio do legislador no que diz respeito ao conteúdo das leis penais. Esse princípio também é conhecido como ultima ratio, isto porque a criminalização de uma conduta só pode ser feita em último caso, ou seja, quando os demais ramos do direito não forem suficientes para tutelar a conduta. Assim, a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para prevenção de ataques contra bens jurídicos importantes e quando as outras formas de sanção forem insuficientes. O direito penal deve ser a ultima ratio legis. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE Está relacionado com o princípio da intervenção mínima. O direito penal é um ramo da ciência jurídica que protege somente os valores imprescindíveis à sociedade. Não se pode utilizá-lo como instrumento de tutela de todos os bens jurídicos. Nem todas as ações que lesionam bens jurídicos são proibidos pelo Direito Penal, ele limita-se apenas a castigar as ações mais graves praticadas contra os bens jurídicos mais importantes, daí o seu caráter fragmentário. O direito penal se ocupa apenas de uma parte dos bens jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico. Segundo o princípio da fragmentariedade, só devem os bens jurídicos ser defendidos penalmente diante de certas formas de agressão, consideradas socialmente intoleráveis. Se houver outro ramo do direito que possa conter a lesão ao bem jurídico, esse deve prevalecer ao detrimento do direito penal. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA É o princípio da bagatela. Nem sempre qualquer ofensa aos bens jurídicos protegidos é suficiente para configurar um injusto típico. É necessário uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se pretende punir e a drasticidade da intervenção estatal. A insignificância não é sinônimo de pequenos crimes, mas se refere à gravidade e à extensão da ofensa produzida a determinado bem jurídico penalmente tutelado. Quando a lesão ao bem jurídico não é significante, não há crime devido a esse princípio. A insignificância da ofensa afasta a tipicidade. Não se configura a tipicidade material porque a rigor o bem jurídico não chegou a ser lesado. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA Art. 5º, XLVI, CF: a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; Individualizar a pena significa não adotar um padrão de pena, mas buscar um cálculo de pena para aquele réu e para aquele crime praticado. O juiz não pode padronizar penas para os crimes, deve ter um olhar individualizado, considerando a pessoa do réu e as circunstâncias do crime praticado, buscando a pena perfeita para aquele caso. Cada indivíduo deve ser apenado levando as características da conduta de cada um. É uma noção de justiça. (artigo 59 CP) O julgador deve fixar a pena conforme a cominação legal e determinar a forma de sua execução. Deve ser concretizado em três âmbitos: i) Legislativo; ii)Judicial e iii) Executória. O legislador é aquele que comina as penas em abstrato, ele estabelece uma modalidade e duração da pena em tempo mínimo e máximo, mas ela vai ser estabelecida com um olhar individualizado do juiz. O juiz da condenação é diferente do juiz da execução penal, este também deve acompanhar o processode cumprimento da pena com olhar individualizado. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE Algumas penas são vedadas pela Constituição Federal: penas cruéis, pena de morte, pena de trabalhos forçados, pena de banimenta e penas perpétuas. Art. 5º, XLVII, CF: não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; Antes, se preponderava penas corporais, período de extrema crueldade. Com o tempo, percebeu-se que essas penas eram inviáveis, devido ao aumento exacerbado de crimes, o que resultaria em grande número de pessoas mutiladas e mortas. Não se usava penas privativas de liberdade, era apenas uma transição onde a pessoa ficava até receber a pena de morte ou de mutilação. Atribui-se ao direito canônico o nascimento da pena privativa de liberdade, os clérigos eram levados a penitenciarem pelos seus erros, abre espaço para as penitenciárias. Surgem no século XVIII. Embora haja esse processo de humanização, ainda hoje não é o ideal, o sistema prisional possui muitos problemas. A constituição brasileira elevou a dignidade da pessoa humana a um valor fundante de toda ordem normativa interna. O princípio da humanidade no direito penal sustenta que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa ou que lesionem a constituição físico-psíquico dos condenados. Nenhuma pena privativa de liberdade pode ter uma finalidade que atente contra a incolumidade da pessoa como ser social, o que violaria o princípio da dignidade humana postulado na Constituição. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE não há crime sem culpabilidade, ou seja, se na conduta não houver dolo ou culpa, o sujeito não pode ser responsabilizado. A culpabilidade permite atribuir responsabilidade pela prática de um fato típico a uma certa pessoa para que seja aplicada a consequente pena; funciona como limite e medida da pena que deve ser proporcional à gravidade do fato realizado e impede a atribuição da responsabilidade penal objetiva. É a impossibilidade de se responsabilizar uma ação ou omissão que tenha ocorrido sem dolo ou culpa. Postulado basilar de que não há pena sem culpabilidade (nulla poena sine culpa) e de que a pena não pode ultrapassar a medida da culpabilidade – proporcionalidade na culpabilidade. PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS SEVERA Desde que uma lei entra em vigor até que se cesse a sua vigência, ela rege todos os atos abrangidos pela sua destinação. Assim, os fatos ocorridos antes ou depois de sua eficácia não são alcançados por essa lei. Ela não retroage. Essa regra está consagrada no artigo 1º do CP. Não alcança assim, os fatos ocorridos, antes ou depois dos dois limites extremos: não retroage e nem tem ultra-atividade. É o princípio do TEMPUS REGIT ACTUM. Contudo, o princípio da irretroatividade vige somente em relação à lei mais severa. Admite-se, no Direito intertemporal, a aplicação retroativa da lei mais favorável (art. 5° inc. XL, da CF). PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE Deve sempre haver uma medida de justo equilíbrio entre a gravidade do fato praticado e a sanção imposta. O princípio da proporcionalidade é uma concordância material entre ação e reação, causa e consequência jurídico-penal, constituindo parte do postulado de justiça: ninguém pode ser incomodado ou lesionado em seus direitos com medidas jurídicas desproporcionais. Com relação à proporcionalidade entre os delitos e as penas (poena debet commensurari delicto), deve existir sempre uma medida de justo equilíbrio – abstrata (legislador) e concreta (juiz) – entre a gravidade do fato ilícito praticado, do injusto penal (desvalor da ação e desvalor do resultado), e a pena cominada ou imposta. A pena deve estar proporcionada ou adequada à intensidade ou magnitude da lesão ao bem jurídico representado pelo delito e a medida de segurança à periculosidade criminal do agente. A noção de proporcionalidade vem a ser uma exigência de justiça e não somente de prevenção (geral/especial). PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL O direito penal tipifica somente condutas que tenham uma certa relevância social, caso contrário, não poderiam ser delitos. Assim, de acordo com esse princípio, as condutas socialmente aceitas não se revestem de tipicidade e não podem ser delitos. Para o princípio da adequação social, apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal, não será considerada típica se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente condicionada. PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DO BEM JURÍDICO Para que se tipifique um crime, em sentido material, é indispensável que haja um perigo concreto, real e efetivo de dano a um bem jurídico penalmente protegido. Somente se justifica a intervenção estatal, em termos de repressão penal, se houver efetivo e concreto ataque a um interesse socialmente relevante, que represente perigo concreto a um bem jurídico tutelado. PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE DA PENA Só o autor pode ser responsabilizado pela conduta. É o princípio da intranscendência. Art. 5º XLV, CF: nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; A ideia é de que no direito penal a pena não passa da pessoa do criminoso, o que difere do direito civil, onde existe a possibilidade de uma terceira pessoa ser responsabilizada, mas no direito penal, somente a pessoa que cometeu o ilícito penal é que poderá ser penalizada. A responsabilidade é obrigatoriamente pessoal no direito penal. Só a pessoa do réu pode sofrer as sanções penais. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM não se pode valorar um fato duas vezes para o mesmo réu. PRINCÍPIO DA JURISDICIONALIDADE Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente. Art. 5, LXI, CF :ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; PRINCÍPIO DA INDERROGABILIDADE Não se pode deixar de aplicar a lei penal por vontade do julgador. Exceções: anistia, graça, indulto, livramento condicional, perdão judicial. TEORIA DA NORMA GERAL As normas penais se classificam da seguinte maneira: 1. Normas Penais Incriminadoras: são as que criam crimes e cominam penas. Descrevem as condutas puníveis e suas respectivas sanções. 2. Normas Penais Permissivas: autorizam a prática de condutas típicas, são as causas de exclusão da ilicitude (art. 23 CP), as causas de exclusão de culpabilidade e as causas de exclusão de ilicitude. 3. Normas Penais Complementares ou Explicativas: esclarecem o conteúdo das outras, ou delimitam o âmbito de sua aplicação. Ex: Art. 327 do CP, que explica quem é considerado funcionário público para efeitos penais. NORMAS PENAIS EM BRANCO: são aquelas em que o preceito está incompleto. É aquela cujo preceito precisa de ser complementado por outra norma para que possa ter exequibilidade, a) Norma Penal em Branco em sentido LATO. É aquela cujo complemento advém da mesma fonte formal ou legislativa da norma incriminadora, ou seja, o complemento nasce da mesma fonte legislativa. Ex.: art. 237 do CP. Qual é esse impedimento? O juiz terá que recorrer ao Código Civil. Ex: O casamento de irmãos é NULO. b) norma penal em sentido estrito: É aquela cujo complemento está contido em norma procedente de outra fonte legislativa, diversa daquela da criação da norma penal incriminadora. Ex.: art. 33 da Lei 11.343 de 2006. Como o juiz irá aplicar o art. 33 sem saber quais são as substâncias que causam dependência física ou psíquica? O Magistrado irá precisar de uma portaria do Ministério da Saúde, determinando quais são as substâncias que causem tal dependência. O que está completando a norma penal em branco é uma portaria. INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA: Quando se iniciao estudo da Analogia em Direito Penal, devemos partir da seguinte premissa: é terminantemente proibido, em virtude do princípio da legalidade, o recurso à analogia quando esta for utilizada de modo a prejudicar o agente, seja ampliando o rol de agravantes, seja ampliando o conteúdo dos tipos penais incriminadores, a fim de abranger hipóteses não previstas expressamente pelo legislador. ANALOGIA IN BONAM PARTEM: O que justifica a aplicação da analogia in bonam partem no Direito Penal, para beneficiar o réu, é o princípio da equidade. A diferença entre interpretação analógica e analogia é que na primeira. pretende a vontade da norma abranger os casos semelhantes aos por ela regulados; na segunda, ocorre o inverso: não é a pretensão da lei aplicar o seu conceito aos casos analógicos, tanto que silencia respeito, mas o intérprete assim, o faz, suprindo a lacuna. Interpretação analgica é método de interpretação. Diferentemente da analogia, na interpretação analógica há uma lei a ser aplicada e interpretada e, então, não há lacuna ou omissão legislativa ou normativa. LEI PENAL NO TEMPO Uma lei penal nasce, vive e morre. Desde que ela entra em vigor, rege todos os atos abrangidos por sua destinação, até que cesse sua vigência. A lei anterior, como regra, perde sua vigência quando entra em vigor uma lei nova regulando a mesma matéria. Assim, via de regra, uma lei não retroage e nem tem ultra-atividade pelo princípio do tempus regit actum, ou seja, durante sua vigência a lei abarca os fatos ocorridos naquele período. Pelo princípio da irretroatividade da lei penal, a lei de matéria penal não retroage. No entanto, segundo o artigo 2º do código penal, a lei pode retroagir para beneficiar o infrator. Essa é a retroatividade da lei penal mais benigna. O inverso também ocorre, ou seja, a lei anterior, quando for mais favorável, terá ultratividade e prevalecerá mesmo ao tempo de vigência da lei nova, apesar de já estar revogada. Assim, o princípio da irretroatividade vige somente em relação à lei mais severa. OBS: O princípio da retroatividade da lei mais benéfica restringe-se à leis de CARÁTER PENAL. As LEIS PROCESSUAIS não se submetem, estas terão incidência imediata. CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO: 1. Abolitio Criminis - ocorre quando uma lei nova deixa de considerar crime um fato anteriormente tipificado como ilícito penal. Nesse caso, como a lei nova é mais adequada, mais benéfica e o Estado não tem mais interesse na punição dos autores de tais condutas, a lei nova retroage para afastar as consequências jurídico-penais dos sujeitos condenados. (artigo 2º CP) É causa de extinção da punibilidade do agente, pelo artigo 107, inciso III do CP (pela retroatividade da lei que não mais considera fato como criminoso) 2. Novatio Legis incriminadora - acontece quando uma lei nova considera crime um fato anteriormente não tipificado como crime. Nesse caso, a lei nova não retroage, não podendo ser aplicada a fatos praticados antes de sua vigência, pelo princípio da anterioridade que define que nullum crimen sine praevia lege, ou seja, de que não há crime e nem pena sem lei prévia. 3. Novatio legis in pejus - lei posterior que de qualquer modo agrave a situação do sujeito não retroagirá. Se houver um conflito entre duas leis, sendo a anterior mais benigna, ela será ultra-ativa, enquanto a posterior mais severa não retroagirá. Conceito de tempus regit actum está sendo cumprido. 4. Novatio legis in mellius - a lei nova, mesmo sem descriminalizar, dá tratamento mais favorável ao sujeito, nesse caso ela retroage para beneficiar o réu. LEIS EXCEPCIONAIS E TEMPORÁRIAS As leis excepcionais e temporárias são leis que vigem por um período predeterminado, pois nascem com a finalidade de regular circunstâncias transitórias especiais que, em situação normal, seriam desnecessárias. Tem como características a auto-revogação e a ultra-atividade. Leis temporais são aquelas cuja vigência é previamente fixada pelo legislador, por exemplo a lei da copa, enquanto as leis excepcionais são as que vigem durante situações de emergência, como em guerras. Pelo artigo 3º CP elas têm ultra-atividade. Dessa forma, o sujeito pode ser responsabilizado posteriormente, mesmo que a lei não esteja mais em vigor, desde que tenha cometido o ato durante o prazo de vigência. É a exceção da regra da retroatividade da lei penal mais benéfica. As leis temporárias perdem sua vigência automaticamente na data prevista, e as leis excepcionais perdem a vigência quando cessar o período. LEX TERTIA (CONJUGAÇÃO DE LEIS) Na busca pela lei mais favorável, é possível conjugar os aspectos favoráveis da lei anterior com os aspectos desfavoráveis da lei posterior? Há dois posicionamentos: a doutrina majoritária diz que não seria possível, já que representaria a criação de uma terceira lei e colocaria o juiz como legislador. Já a doutrina minoritária, como Bitencourt, é favorável a essa possibilidade já que o desejo da CF é que retroaja a norma mais benéfica e não o texto integral. Se há vários dispositivos, uns benéficos e outros não, retroage apenas os benéficos. O entendimento do STF, com a súmula 501 é que é vedada a conjunção de leis. LEI PENAL NO ESPAÇO Lugar do crime: Há três teorias sobre o lugar do crime. TEORIA DA ATIVIDADE/AÇÃO: onde a conduta foi realizada. Lugar do delito é aquele em que se realizou a conduta típica. TEORIA DO RESULTADO/EVENTO: o crime ocorre no momento da consumação da conduta. Lugar do delito é aquele em que ocorreu o evento ou o resultado, isto é, onde o crime se consumou, pouco importando a ação ou intenção do agente. TEORIA DA UBIQUIDADE/MISTA: é a teoria mista, que defende que o lugar do crime pode ser no lugar da conduta ou no lugar da consumação. Lugar do crime tanto pode ser o da ação como o do resultado, ou ainda o lugar do bem jurídico atingido. Essa é a teoria adotada pelo Direito brasileiro: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou a omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado” (art. 6º do CP). No brasil, considera-se local do crime aquele em que se realizou qualquer dos momentos do iter, seja da prática dos atos executórios, seja da consumação. CONCEITO DE CRIME PLURILOCAL: tipo de delito praticado em mais de um Estado da federação. É aquele que, dentro de um mesmo país, tem a conduta realizada em um local e a consumação do delito acontece em outra localidade. Ex: quadrilha de roubo de carros, rouba em SP e vende no RJ. Ex: Mévio, alvejado por tiros na cidade de Crato/CE (local da conduta) é transportado em um avião e falece em hospital no Rio de Janeiro (local da morte, consumação) CRIME A DISTÂNCIA: é aquele em que parte do iter criminis é realizada dentro de um país, e a outra acontece em localidade diferente, mas em outro país. A ação e o resultado realizam-se em países diversos. Ex: Se a manobra abortiva se fez no Brasil e a morte do feto ocorreu na Bolívia, em face do art. 6º do CP, o processo deve tramitar no Brasil. TERRITORIALIDADE: No tocante aos crimes praticados no país, o Brasil adotou o princípio da Territorialidade temperada, aplica-se a lei penal brasileira aos fatos praticados no território nacional, independentemente da nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico lesado, com observância de convenções, tratados e regras de direito internacional. (art. 5°, caput, do CP). O fundamento desse princípio é a soberania política do Estado, que, segundo Juarez Cirino dos Santos, apresenta três caracteres: “a plenitude, como totalidade de competências sobre questões da vida social; a autonomia, como rejeição de influências externas nas decisões sobre essas questões; e a exclusividade, como monopólio do poder nos limites de seu território. Território Nacional é o local no qual o Estado exerce a sua soberania, e compreende a faixa terrestre, o seu subsolo, seus cursos de águas internos, lacustres ou fluviais, o mar territorial (vale da faixa litorânea até 12 milhas marítimas), e o espaço aéreocorrespondente. Admitem-se hipóteses de extensão territorial. Existem extensões do território nacional, cuja lei penal brasileira irá ser aplicada, previstas no artigo 5º CP referente a aeronaves e embarcações. Embarcações e Aeronaves de natureza Pública (ex.: de guerra), ou a serviço do governo brasileiro (ex.: transportando o Presidente da República) – art. 5°, § 1°, 1ª parte, do CP; Embarcações e Aeronaves brasileiras, de natureza privada (ex.: mercantes, turismo) que estejam em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente a este - art. art. 5°, § 1°, in fine, do CP Aplica-se, ainda, a lei brasileira aos fatos cometidos a bordo de aeronaves e embarcações de natureza privada que estejam em nosso espaço aéreo ou mar territorial – art. 5°, § 2° do CP. REGRAS DE TERRITORIALIDADE: (quando aplica-se a lei brasileira) Regra 1: aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo do que está previsto nos tratados e nas convenções nacionais, ao crime ocorrido no território nacional. Regra 2: extensão do território nacional: aeronaves e embarcações brasileiras públicas (forças armadas) ou a serviço do Estado Brasileiro, onde quer que estejam. (art. 5°, § 1°, 1ª parte, do CP) Regra 3: Aeronaves e embarcações brasileiras, privadas ou mercantes, localizadas no alto mar ou no espaço aéreo referente ao alto mar. (art. 5°, § 1°, in fine, do CP) Regra 4: aeronaves estrangeiras privadas estando em pouso no território nacional ou no espaço aéreo brasileiro (art. 5°, § 2° do CP). Regra 5: embarcações estrangeiras privadas em portos brasileiros ou no mar do brasil (art. 5°, § 2° do CP). EXTRATERRITORIALIDADE: aplica-se algumas leis brasileiras, como exceção, fora do território nacional. As contravenções praticadas fora do território brasileiro NÃO estão sujeitas às regras de extraterritorialidade (art. 2°, da LCP- Dec-Lei 3.688/41). As regras de extraterritorialidade podem ser condicionadas ou incondicionadas: 1. Extraterritorialidade incondicionada Artigo 7º inciso I, CP: A) contra a vida ou a liberdade do presidente da república. (não é todo crime praticado contra o presidente) B) contra o patrimônio ou a fé pública da administração pública direta (União, estados, municípios e DF) ou indireta (autarquia federal). C) contra a administração pública a quem esta o seu serviço. D) Genocídio quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. Nesses casos aplica-se a lei brasileira sem nenhuma condição. 2. Extraterritorialidade condicionada Artigo 7º inciso II, CP: Aplica-se condicionalmente a lei penal brasileira aos crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. Condições: Esses requisitos são cumulativos, é preciso acoplar todas as hipóteses. A) o agente deve ter entrado no Brasil B) o fato deve ser punível no país em que foi praticado C) o crime deve ser incluído no rol dos crimes que a lei brasileira admite a extradição. (artigo 77 da lei 6815/80) D) Não ter sido o agente absolvido ou não ter cumprido integralmente a pena no exterior. E) Não pode existir perdão judicial F) Não pode estar extinta a punibilidade. Competência para julgamento ► Se o crime é praticado no exterior por brasileiro, a competência para processar e julgar o caso é do juiz criminal da capital do Estado onde reside o acusado. A pena cumprida integralmente no exterior, sendo hipóteses de extraterritorialidade condicionada, impede a aplicação de lei penal brasileira (art. 7º§2º, “d” do CP). Se a pena for cumprida parcialmente ou for hipótese de extraterritorialidade incondicionada pode haver duas consequências: a) diminuição da pena se ela for de natureza diversa b) é computada na pena a ser imposta no Brasil, caso seja da mesma natureza. PRINCÍPIOS DA EXTRATERRITORIALIDADE ● Princípio da defesa ou proteção real (art. 7°, I, “a”, “b” e “c”, do CP e §3 do CP): princípio que leva em conta a nacionalidade da vítima. ● Princípio da representação (artigo 7º Inciso II, "c"): quando o crime é praticado em aeronaves ou embarcações brasileiras privadas em território estrangeiro e lá não tenham sido julgados. ● Princípio da personalidade ou da nacionalidade (artigo 7º, II, "b"): refere-se ao fato dele ser brasileiro ● Princípio da justiça universal (artigo 7º, II, "a"): Crimes que o Brasil se obriga a reprimir em razão de tratados ou convenções internacionais. Tribunal Penal Internacional foi adotado pelo Brasil com a EC 45. O Brasil se submete a esse tribunal. Os crimes jugados no TPI: genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e a agressão. Esses crimes estão definidos no Estatuto de Roma. CLASSIFICAÇÃO DE CRIME No direito brasileiro não há diferenciação entre Crime e delito, eles são sinônimos. No entanto, diferencia-se contravenção penal de crime. Crime e Contravenção são duas modalidades de infração penal. Fato punível pode ser: a) crime ou delito b) contravenção penal Crimes são regulados pelo código penal, enquanto as contravenções estão previstas na lei de contravenções penais (decreto nº 3683/41) Contravenção penal não é um crime, é uma infração penal menos gravosa. ex: jogo do bicho, perturbação da tranquilidade, importunação ofensiva ao pudor. Possuem penas muito pequenas. Pena prevista é prisão simples, enquanto para o crime é reclusão ou detenção. CONCEITOS DE CRIME: CONCEITO FORMAL: "Crime é toda a ação ou omissão proibida por lei, sob ameaça de pena." Crime é a conduta que adequa-se a um determinado tipo penal. CONCEITO MATERIAL: "Crime é a ação ou omissão que contraria os valores ou interesses do corpo social, exigindo sua proibição com a ameaça de pena." Conceito material de crime diz que o crime é uma conduta que viola valores sociais relevantes, os chamados bens jurídicos. Não basta esta dentro de um tipo penal, mas é necessário violar bens jurídicos. Os conceitos formal e material são insuficientes para permitirem à dogmática penal a realização de uma análise dos elementos estruturais do conceito de crime. CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME: pressupõe que o crime possui três elementos: tipicidade, ilicitude e culpabilidade. É o conceito mais moderno de crime. Obs: antijuridicidade é sinônimo de ilicitude. Nesse caso, o crime é toda AÇÃO TÍPICA, ANTIJURÍDICA (ou ilícita) e CULPÁVEL. Ação - conduta humana Típica - tipicidade: adequa-se a um tipo penal, ou seja, a um crime previsto no ordenamento. Antijurídica (ilícita) - contrária ao direito. A conduta não é ilícita quando não há causa de exclusão da ilicitude. O direito autoriza uma conduta quando há uma causa de exclusão da ilicitude. Ex: legítima defesa. Culpável - culpabilidade é a possibilidade de responsabilizar alguém penalmente. Juízo de reprovação que recai sobre a conduta ilícita de imputável que tem ou pode ter consciência da ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento conforme o direito. Fato típico é o comportamento humano que provoca um resultado previsto como infração penal. Fato antijurídico é aquele que contraria o ordenamento jurídico. TIPO PENAL: É uma abstração, é criada uma conduta delitiva na norma penal. Conduta descrita no dispositivo legal, uma norma incriminadora Tipo é a descrição concreta da conduta proibida. DOLO E CULPA: Segundo os ensinamentos da teoria da ação finalista, dolo e culpa são elementos psicológicos que animam a conduta, ligando o agente ao seu fato. Esses elementos, portanto, não são a causa da responsabilidade da conduta, situando-se no terreno da tipicidade e não da culpabilidade. ● DOLO: é ação na qual o sujeito age com vontade livre e consciente e deseja o resultado. ● CULPA: Não há o desejo de produzir resultado. Mas nos dois casos há responsabilidade penal. Se não há dolo e nem culpa não há crime. Formas de responder culposamente pelo crime: - Imprudência- ex: furar o sinal vermelho e matar uma pessoa. - Negligência- ex: viajar de carro sem freio eatropelar alguém. - Imperícia- ex: dirigir sem carteira de motorista e matar alguém. ESTRUTURA DO TIPO DOLOSO: O tipo doloso se compõe de duas partes: tipo objetivo e tipo subjetivo 1) TIPO OBJETIVO: compreende a ação delituosa descrita com todas as suas características descritivas e, às vezes, de elementos normativos e subjetivos. Compõem assim, o verbo, o objeto material, o resultado, circunstâncias de tempo, lugar, modo e meios executivos, finalidades da ação. O tipo objetivo abstrato tem como única função descrever os elementos que devem ser constatados no plano dos fatos capazes de identificar e delimitar o conteúdo da proibição penal. Tudo aquilo que estiver previsto no tipo objetivo deverá estar objetivado no mundo exterior. Os elementos que compõem o tipo objetivo são: autor da ação, uma ação ou uma omissão, um resultado, nexo causal e imputação objetiva. 2) TIPO SUBJETIVO: finalidade específica que deve ou não animar o agente. É quando examina-se se há dolo. Dolo é a ação livre e consciente, deseja o resultado. O tipo subjetivo reúne todas as características subjetivas direcionadas à produção de um tipo penal objetivo. Os elementos que formam o tipo subjetivo são: o dolo na condição de elemento geral e os elementos acidentais também denominados elementos subjetivos especiais do tipo com incidência esporádica. O tipo subjetivo tem como finalidade investigar o ânimo do sujeito que praticar um tipo penal objetivo, ou seja, sua função é averiguar o ânimo e a vontade do agente. O dolo, como elemento subjetivo geral, resume-se à consciência e vontade do agente direcionadas à realização da conduta descrita em um tipo penal objetivo. O dolo, em suma, é a vontade de realizar um tipo objetivo orientada pelo conhecimento de todos os elementos componentes do tipo objetivo constatadas no caso concreto. ESTRUTURA DO TIPO CULPOSO: Os tipos culposos não descrevem a conduta. É um tipo penal aberto, a estrutura não descreve elementos do tipo. Em geral, no tipo somente está descrito o resultado, ou seja, a lesão ou perigo de lesão do bem jurídico, constituindo-se assim num “tipo aberto”. Há um resultado punível. O crime culposo é exceção. O crime admite a classificação de tipo penal culposo apenas quando está previsto expressamente em lei. Ex: artigo 121 parágrafo 3º indica o homicídio culposo. SUJEITOS DO CRIME SUJEITO ATIVO: É o autor do delito. O sujeito ativo é quem pratica o fato descrito na norma penal incriminadora. Somente o homem possui capacidade para delinquir. É possível haver mais de um. O sujeito ativo pode ser chamado de agente; na fase do inquérito policial recebe o nome de indiciado; durante o processo recebe o nome de acusado, denunciado ou réu. Aquele que já sofreu sentença condenatória é chamado sentenciado, condenado, recluso ou detento, Na ação penal privada é chamado de querelado e na fase de execução, apenado. SUJEITO PASSIVO: Vítima do crime. É o titular do bem jurídico tutelado pelo tipo penal e que foi violado. Em alguns crimes o sujeito passivo pode não ser uma pessoa específica, mas o Estado ou a sociedade. Ex: fabricou moeda falsa sem entrar em circulação, a vítima é o Estado Obs: Os animais e as coisas inanimadas podem ser objeto material do delito, mas não sujeito passivo. OBJETO JURÍDICO: Objetividade jurídica é o bem jurídico que está sendo protegido. Ex: no furto, o objeto jurídico é o patrimônio e no estupro o objeto jurídico é a dignidade sexual. É imprescindível que haja objeto jurídico, mas nem sempre há objeto material OBJETO MATERIAL: é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta do sujeito ativo Ex: furto de celular, o objeto material é o celular e no estupro o objeto material é a pessoa. Formação de quadrilha (associação criminosa) não tem objeto material especificamente, não é identificável o objeto material por vezes. CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES PENAIS: CRIME DOLOSO: o sujeito assume o risco (dolo eventual) ou deseja o resultado (dolo direto). Está previsto no código no artigo 18, I.. Crime doloso é quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. A regra é o crime ser doloso, sendo o culposo a exceção. CRIME CULPOSO: O sujeito não quer o resultado, mas na sua conduta há imprudência, negligência ou imperícia. Previsto no artigo 18, II CP. CRIME PRETERDOLOSO: Preter quer dizer pretérito, anterior. Assim, o crime preterdoloso pressupõe dois resultados. O resultado total é mais grave do que o resultado pretendido pelo agente. Dolo no antecedente e culpa no consequente. Ex: dar um soco (lesão corporal com dolo) e o cara morreu porque bateu a cabeça no chão (morte com culpa) Crime de lesão corporal seguida de morte, artigo 129 parágrafo 3º Ex: espancar uma mulher grávida e causar aborto (dolo ao espancar e culpa no aborto) CRIME COMISSIVO: Fruto de uma ação dirigida a um fim, de um agir. Realização de uma ação positiva visando a um resultado tipicamente ilícito, ou seja, fazer o que a lei proíbe. A regra é o crime ser comissivo. CRIME OMISSIVO PRÓPRIO: Consiste no fato de o agente deixar de realizar uma conduta, tendo a obrigação jurídica de fazê-lo. Deixar de agir é a premissa para o crime ser omissivo. No omissivo próprio o agente responde por uma conduta descrita nesse tipo penal, fruto de omissão. O resultado não é relevante, por exemplo, deixou de prestar socorro e a pessoa morre, você não responde pelo resultado da morte, apenas pela conduta de deixar de prestar socorro. ex: omissão de socorro artigo 135 verbo- deixar de prestar socorro CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO: a omissão é o meio pelo qual o agente produz um resultado. Nesses crimes, o agente responde não só pela omissão, mas pelo resultado decorrente dessa, a que estava, juridicamente, obrigado a impedir. Crimes comissivos por omissão: via de regra é comissivo mas é possível praticá-lo na forma de omissão. ex: homicídio é conduta comissiva (matar alguém) mas é possível praticar esse crime na forma omissiva imprópria Existe um personagem chamado de garantidor ou o garante, que é um sujeito que tem dever de agir e a possibilidade de evitar o resultado. ex: o salva vidas é o garantidor que tem o dever de salvar alguém que está se afogando, se ele não faz isso ele responde pelo crime. Responde pelo RESULTADO, a pessoa morreu afogada, então ele responde pelo homicídio culposo, caso ele não quisesse o resultado. Exemplos de garantidor: policial, salva vidas, segurança, pai. CRIME INSTANTÂNEO: É o crime que se esgota com a ocorrência do resultado. Crime em que a consumação ocorre no momento da conduta. É o que se completa num determinado instante, sem continuidade temporal. Ex: furto, roubo, lesão corporal CRIME PERMANENTE: é o crime cuja consumação prolonga-se no tempo. Depende da atividade do agente, que poderá cessar quando este quiser. Ex: sequestro. O crime acontece desde o momento em que a vítima é privada de liberdade até o momento em que ela é liberada. O crime permanente está sendo consumado durante todo esse tempo. Consequência- em qualquer momento do período de consumação o agente pode ser preso em flagrante. O flagrante acontece apenas no período de consumação de um crime. O tráfico tem alguns verbos que é de crime permanente. Ex: transportar, guardar, armazenar. CRIME INSTANTÂNEO DE EFEITO PERMANENTE: o resultado praticado é irreversível, não pode ser reparado. Ex: homicídio. CRIME CONTINUADO: previsto no artigo 71. Em tese, há vários crimes da mesma característica, mas o indivíduo responde por um crime só, e acrescenta uma fração à pena. CRIME HABITUAL: crime que para ser consumado exige habitualidade na conduta do sujeito. CRIME DE DANO: para ser consumado necessita gerar uma lesão ao bem jurídico, não basta tentativa. É necessária a superveniência de um resultado material que consiste na lesão efetiva do bem jurídico. A ausência dessa caracteriza a tentativa. Ex: homicídio retira o bem jurídico da vida. Lesão é diferente de risco ao bem jurídico. CRIME DE PERIGO: para ser consumado não necessita gerar lesão ao bem jurídico,um dano efetivo, mas basta que ele coloque o bem jurídico EM RISCO. Se subdivide em perigo abstrato e perigo concreto: A) Perigo concreto: é necessário provar o risco ao bem jurídico. Não pode ser presumido, é necessário comprovar nos autos do processo. Ex: crime de incêndio coloca em risco a vida, a integridade física e o patrimônio. Para responder a esse crime basta que tenha colocado em risco esses bens. Precisa comprovar esse risco, esse crime deixa vestígio, então dá para ser comprovado B) Perigo abstrato: ao contrário, não precisa ser comprovado, ele é presumido. A simples prática da ação se pressupõe perigosa. Ex: crime de ingestão de bebida alcoólica para condução de veículo. Coloca em risco o bem jurídico de alguém, por isso é crime de perigo, e é crime abstrato porque não precisa haver comprovação do risco, o risco é presumido. CRIME MATERIAL: para ser consumado é necessário que seja produzido um resultado naturalístico, ou seja, uma determinada consequência, alteração no mundo exterior. É preciso haver um resultado separado do comportamento que o precede. A não ocorrência de um resultado caracteriza a tentativa. Ex: homicídio para ser consumado é preciso que produza o resultado naturalístico da morte da vítima, é uma consequência da conduta. CRIME FORMAL: até existe a descrição de um resultado naturalístico, no entanto não é necessário que este resultado ocorra para o crime ser consumado. Basta a ação do agente e a vontade de concretizá-lo. No crime formal, o legislador antecipa a consumação, satisfazendo-se com a simples ação do agente. Ex: crime de extorsão tem como resultado naturalístico exigir vantagem indevida, mas não é necessário receber essa vantagem, só o ato já se consuma como crime. Ex: crimes contra a honra (injúria, difamação, calúnia...) Mesmo que a honra não tenha sido atingida, acontece o crime. Esses crimes também são chamados de crimes de consumação antecipada. Os crimes formais não admitem tentativa. Uma exceção é o crime contra a honra de forma escrita, por exemplo, tentar mandar uma carta e ela não chegar. CRIME DE MERA CONDUTA: não existe sequer um resultado naturalístico. O legislador descreve somente o comportamento do agente, sem se preocupar com o resultado. Ex: crime de violação de domicílio. CRIME UNISSUBJETIVO: pode ser praticado por apenas um sujeito, ou por mais de um. Ex: homicídio, furto, roubo, estupro, lesão corporal CRIME PLURISSUBJETIVO: só pode ser praticado por mais de um sujeito. Ex: associação criminosa, crime de bigamia CRIME UNISSUBSISTENTE: pressupõe um único ato que não pode ser fracionado, não admite tentativa. Ex: calúnia e difamação. Nos crimes unissubsistentes NÃO EXISTE ATO PREPARATÓRIO, é consumação desde logo. Assim, não admite tentativa de crime. CRIME PLURISSUBSISTENTE: sua execução pode desdobrar-se em vários atos sucessivos. Cabe tentativa, vez quepode parar o processo nos atos executórios .A tentativa tem consequência de diminuição da pena. OBS: INTER CRIMINIS (PROCESSO DO CRIME) 1- Cogitatio (NÃO HÁ CRIME) 2- Atos preparatórios (NÃO HÁ CRIME) 3- Atos Executórios (se para aqui é TENTATIVA DE CRIME) 4- Consumação (CRIME) ate o segundo ponto não é punível, a não ser o terrorismo que somente preparar já é necessário para consumar o crime. Em alguns crimes exige o EXAURIMENTO: como no caso do furto que é necessário estar com a posse mansa, não pode estar em fuga porque aí é tentativa de furto. CRIME COMUM: é o que pode ser praticado por qualquer pessoa (lesão corporal, homicídio, estelionato, furto). CRIME PRÓPRIO OU ESPECIAL: é aquele que exige determinada qualidade ou condição pessoal do agente. Ex: infanticídio. CRIME DE MÃO PRÓPRIA: só pode ser praticado pelo agente pessoalmente. Ex: crime de falso testemunho só pode responder a testemunha, mesmo que outra pessoa tenha ajudado a inventar a história. CRIME IMPOSSÍVEL: artigo 17 CP CRIME CONSUMADO: consumou a conduta. Artigo 14, I CP CRIME TENTADO: a conduta foi interrompida nos atos executórios. Artigo 14, II CP TENTATIVA BRANCA: erra o objeto material. O objeto material não sofre lesão TENTATIVA VERMELHA: o agente atinge o objeto material, mas não consegue consumar o delito. CRIME TRANSEUNTE: não deixa vestígios. Ex: calúnia e difamação CRIME NÃO-TRANSEUNTE: deixa vestígios. Ex: homicídio deixa cadáver CRIME DE TIPO FECHADO: possuem conteúdo claro CRIME DE TIPO ABERTO: não há clareza na descrição, como nos crimes culposos TIPICIDADE CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME: Conceito analítico de crime pressupõe que o crime possui três elementos: tipicidade, ilicitude e culpabilidade. ELEMENTOS DO FATO TÍPICO: 1. conduta 2. resultado 3. relação de causalidade (nexo causal) 4. tipicidade Para um fato ser típico é preciso ter conduta, que pode ser dolosa ou culposa, que provoque um resultado, que tenha nexo causal e tipicidade. A doutrina atual diz que a tipicidade penal seria constituída pela tipicidade formal e tipicidade conglobante. TIPICIDADE é a adequação do fato da vida real ao modelo descrito abstratamente na lei penal. ● TIPICIDADE FORMAL: mera adequação de uma conduta abstratamente ao conteúdo de um tipo penal. ● TIPICIDADE CONGLOBANTE: é preciso haver duas coisas: 1. A conduta deve ser anti normativa: ANTINORMATIVIDADE- quando a conduta praticada não é autorizada pelo direito. 2. Tem que ter tipicidade material. ● TIPICIDADE MATERIAL: a conduta deve gerar uma lesão ou risco de lesão relevante ao bem jurídico. Princípio da insignificância e o Princípio da adequação social acarretam a exclusão da tipicidade. Ex: uma pessoa ao fazer manobra em um carro, encosta na perna de uma outra, causando lhe lesão de apenas um arranhão na perna. Ao analisar o fato: a conduta foi culposa, houve um resultado; existe um nexo de causalidade entre a conduta e o resultado; há tipicidade formal, pois existe um tipo penal abstrato incriminando esta conduta. Porém, ao verificar a tipicidade material, analisa-se que, embora a nossa integridade física seja importante a ponto de ser protegida pelo direito penal, nem toda e qualquer lesão estará abrangida pelo tipo penal. Somente as lesões corporais que tenham algum significado, isto é, que gozem de certa importância, é que nele estarão previstas. ADEQUAÇÃO TÍPICA PENAL: adequação da conduta praticada pelo sujeito a um tipo penal. ● Adequação típica imediata ou direta: ocorre quando a conduta consuma o delito. ● Adequação típica mediata ou indireta: não ocorre a forma consumada do delito, mas sim a forma tentada. Consequência de praticar o crime de forma tentada: artigo 14 inciso II, consequência é a causa de diminuição de um terço a dois terço da pena. Tipicidade é uma decorrência do princípio da reserva legal que diz que não há crime sem lei anterior que o defina. Conceito: conformidade do fato praticado pelo agente com o descrito na lei penal. ELEMENTOS DO FATO TÍPICO: Fato típico é o fato dotado de tipicidade. O fato típico é constituído por elementos: 1. Conduta Humana. 2. Resultado (provocado pela conduta humana). 3. Relação de causalidade (entre a conduta e o resultado), 4. Tipicidade (adequação da conduta a um tipo penal). CONDUTA Conceito: é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada finalidade. A conduta pode ser comissiva ou omissiva, ser uma ação ou uma omissão. É uma conduta humana que deve ser consciente. Uma conduta pressupõe um ato de vontade dirigido a um fim e a manifestação dessa vontade que abrange o aspecto psíquico e o aspecto mecânico. Constituem elementos da conduta, um ato de vontade dirigido a um fim e a manifestação dessa vontade (atuação), que abrange o aspecto psíquico (campo intelectual derivado do comando cerebral) e o aspecto mecânico ou neuromuscular (movimento ou abstenção de movimento). A vontade domina a conduta dolosa ou culposa, a diferença, na ação dolosa, é que a voluntariedade alcança o resultado, enquanto a culposa só vai até a causa do resultado. Fato atípico não é criminoso porque não tem tipicidade CAUSAS QUE EXCLUEMA CONDUTA: (tornam o fato atípico) ● Coação física irresistível - o sujeito não tem vontade nem ação. (Coação moral irresistível - exclui a culpabilidade, existe ação livre mas não há vontade livre). ● Estados de inconsciência. (sonho, sonambulismo, hipnose, desmaio) ● Atos reflexos. (ataque epilético, espirro, tosse) Elementos da conduta: a. Elemento subjetivo: dolo ou culpa. Se na conduta não há dolo nem culpa, não se pode punir o sujeito. Se alguém for punido sem a presença de dolo ou culpa, estaria sendo admitida a responsabilidade penal objetiva. Hoje a responsabilidade penal exige elemento subjetivo. b. Elemento objetivo: realização do projeto, movimentar o corpo para a obtenção do fim. A conduta é, em regra, consubstanciada em uma AÇÃO em sentido estrito ou ato comissivo, que é um movimento corpóreo, um fazer, um comportamento ativo (atirar, subtrair, ofender, etc.). Poderá, entretanto constituir-se numa OMISSÃO, que, segundo a teoria normativa, é a inatividade, a abstenção de movimento, é o “não fazer alguma coisa que é devida”. Um crime pode ser enquadrado em omissivo próprio e impróprio CONDUTA OMISSIVA (artigo 13) A omissão é penalmente relevante quando o omitente podia e devia evitar o resultado. O dever de agir incube ao garantidor: artigo 13 §2 CP Deve agir quem: 1. Alguém que tenha por lei a obrigação de cuidado, proteção e vigilância. (gatinador por forma de obrigação legal). Ex: pai que tem o dever de alimentar o filho 2. Aquele que assumiu a responsabilidade de evitar o resultado (garantidor por obrigação legal) Ex: médico em pronto socorro. 3. Criou o risco de ocorrência do resultado com seu comportamento anterior (é garantidor porque gerou o risco). Pode agir quem: 1. Tem conhecimento da situação de fato. 2. Tem consciência da condição que o coloca na qualidade de garantidor. 3. Tem consciência de que pode executar a ação. 4. Tem possibilidade real - física de executar a ação. A conduta é, em regra, consubstanciada em uma AÇÃO em sentido estrito ou ato comissivo, que é um movimento corpóreo, um fazer, um comportamento ativo (atirar, subtrair, ofender, etc.). Poderá, entretanto constituir-se numa OMISSÃO, que, segundo a teoria normativa, é a inatividade, a abstenção de movimento, é o “não fazer alguma coisa que é devida”. Caso fortuito e força maior são fatos atípicos, geram atipicidade RESULTADO Nos crimes materiais, a ação modifica algo externamente, produzindo um resultado. Nesses crimes, sem o resultado não há tipicidade. No entanto, há crimes sem resultado, já que o legislador descreveu condutas típicas que se consumam sem a necessidade de produção de alteração natural. Ex: artigos 130 a 135. Há crimes que só em colocar em perigo já é crime. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE (NEXO CAUSAL) É necessário um vínculo entre minha conduta e o resultado. Exige-se um nexo causal. 1. TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA: Causa é a condição mais adequada para se gerar o resultado. 2. TEORIA DA EFICIÊNCIA: Causa é a mais eficaz para a produção do resultado 3. TEORIA DA RELEVÂNCIA JURÍDICA: É tudo o que concorre para a adequação da conduta ao tipo penal. No Brasil prevalece a TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES. Não diferenciamos o que é causa ou condição, ambas contribuem para o resultado e é isso que importa. (ARTIGO 13 CP) Causa- aquilo que uma coisa depende para existir Condição- o que permite à causa produzir seus efeitos. Condição indispensável (conditio sine qua non): A conduta deve ter condição indispensável para o resultado. Ex: dar um soco em pessoa com câncer terminal e ela morre. Não há crime de homicídio pq ela já estava para morrer, apenas lesão corporal. O soco não foi uma condutio sine qua non. PROCESSO HIPOTÉTICO DE ELIMINAÇÃO Se eu retirar essa conduta, mesmo assim o resultado vai acontecer? Para que se possa reconhecer se a condição é causa do resultado, utiliza-se o PROCESSO HIPOTÉTICO DE ELIMINAÇÃO, segundo o qual causa é todo antecedente que não pode ser suprimido IN MENTE, sem afetar o resultado (Fragoso). Assim, se a vítima se fere na fuga quando procura fugir à agressão, há relação de causalidade, pois, se hipoteticamente se suprimisse a agressão, a vítima não fugiria e, portanto, não sofreria a lesão. CONCAUSAS: mais de uma causa que concorre ao resultado. É outra causa que, ligada a primeira, concorre ao resultado. A Teoria da Equivalência das Condições tem a desvantagem de levar AD INFINITUM a pesquisa do que seja causa: Todos os agentes das condições anteriores responderiam pelo crime. Na verdade, se remontarmos todo o processo causal, vamos descobrir que uma série de antecedentes bastante remotos foram condições indispensáveis à ocorrência do resultado. A relação de causalidade entre a conduta humana e o resultado é uma relação valorada, que deve ser aferida conjuntamente com o vínculo subjetivo do agente. Causalidade relevante para o Direito Penal é aquela que pode ser prevista, isto é, aquela que é previsível, que pode ser mentalmente antecipada pelo agente. Em outros termos, a cadeia causal, aparentemente infinita sob a ótica puramente naturalística, será sempre limitada pelo dolo ou pela culpa. Concausas podem ser: preexistentes, concomitantes ou supervenientes. 1. CONCAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES São aquelas que não interferem no resultado, este iria acontecer mesmo que incluíssem a concausa. ● Preexistentes: as concausas absolutamente independentes preexistentes o sujeito responde pela forma tentada do crime. Ex: : X atirou às 20h em Y, porém este já tinha sido envenenado por Z às 19h. Assim, X responde por tentativa de homicídio. ● Concomitante: as concausas absolutamente independentes concomitante também respondem por tentativa. Ex: X está envenenando Y, ao mesmo tempo em que Z atira em Y. X responde por tentativa de homicídio. ● Supervenientes: as concausas absolutamente independentes supervenientes respondem por tentativa. Ex: X envenenou Y às 19h, às 20h caiu um lustre na cabeça de Y. X responde por tentativa de homicídio. Essa segunda causa, superveniente, sendo totalmente independente da primeira, impede o fluxo do nexo causal entre a conduta (envenenamento) e o resultado (morte por traumatismo encefálico). 2. CONCAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES ● Preexistentes: responde por crime consumado. Ex: X dá facadas em Y, hemofílico. ● Concomitante: responde pela consumação do crime Ex: X dispara um projétil contra Y que vendo a bala se aproximar sofre um ataque cardíaco fulminante. ● Superveniente: também é de consumação do crime Ex: X sofre um tiro, na cirurgia ocorre um erro médico e X vem a óbito. ● Superveniente fora da linha de desdobramento: responde por tentativa se ocorrer fora da linha de desdobramento lógico. Ex: X sofre um tiro, no hospital cai o teto na cabeça de X. DOLO E CULPA Dispõe o parágrafo único do art. 18 do CP: “Salvo os casos expressos em lei ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente”. A regra contida neste parágrafo é a de que todo crime é doloso, somente havendo a possibilidade de punição pela prática de conduta culposa se a lei assim o prevê EXPRESSAMENTE. Na teoria causalista, dolo e culpa eram analisados na culpabilidade. Na teoria finalista, dolo e culpa são elementos da conduta e por isso são pressupostos para o fato típico. DOLO Artigo 18 paragrafo único: "salvo casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente". A regra é o crime possuir modalidade dolosa, excepcionalmente pode haver modalidade culposa quando expressamente prevista em lei. Exemplo de crimes que admitem a modalidade culposa: homicídio TEORIAS DO DOLO 1. Teoria da Vontade: de acordo com essa teoria, dolo é a ação consciente e voluntária na qual o sujeito deseja o resultado. O brasil adota essa teoria para configurar o chamado dolo direto. (artigo 18 primeira parte) 2. Teoria da representação: Dolo é a mera previsão do resultado, independente do sujeito desejar
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