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ENGENHARIA CIVIL 1 Materiais de Construção Civil II Materiais de Construção Civil II ENGENHARIA CIVIL 2 Materiais de Construção Civil II ENGENHARIA CIVIL 3 Materiais de Construção Civil II Sumário 1 – Breve introdução ................................................................................... 10 1.1 – Ciência e engenharia dos materiais .................................................................... 10 1.2 – Materiais compósitos ......................................................................................... 12 1.2.1 – Definição ................................................................................................................. 12 1.2.2 – Classificação............................................................................................................ 12 1.3 – Sobre esta apostila ............................................................................................. 13 2 – Materiais cerâmicos ............................................................................... 14 2.1 – Introdução .......................................................................................................... 14 2.2 – Argilas para cerâmica vermelha ........................................................................ 14 2.3 – Constituintes das argilas .................................................................................... 15 2.4 – Principais ensaios de caracterização da matéria-prima ...................................... 15 2.5 – Ensaios visando à identificação da composição química e mineralógica da matéria-prima .............................................................................................................. 15 2.5.1 – Identificação dos elementos constituintes por análise térmica ................................ 16 2.6 – Ensaios visando à caracterização física da argila .............................................. 17 2.6.1 – Distribuição granulométrica .................................................................................... 17 2.6.2 – Plasticidade.............................................................................................................. 17 2.7 – Característica da fabricação de cerâmica ........................................................... 19 2.7.1 – Umidade de conformação ........................................................................................ 19 2.7.2 – Contração linear ...................................................................................................... 19 2.7.3 – Massa específica ...................................................................................................... 19 2.7.4 – Porosidade ............................................................................................................... 19 2.7.5 – Tensão de ruptura à flexão ...................................................................................... 20 2.8 – Fabricação de componentes de cerâmica vermelha ........................................... 20 2.8.1 – Preparação da matéria prima ................................................................................... 21 2.9 – Componentes de cerâmica vermelha ................................................................. 23 2.9.1 – Tijolos maciços ....................................................................................................... 23 2.9.2 – Blocos cerâmicos ..................................................................................................... 23 2.9.3 – Telhas cerâmicas ..................................................................................................... 26 2.9.4 – Tubos cerâmicos ...................................................................................................... 28 2.9.5 – Outros produtos cerâmicos ...................................................................................... 30 2.10 – Materiais cerâmicos para acabamentos e aparelhos......................................... 30 ENGENHARIA CIVIL 4 Materiais de Construção Civil II 2.11 – Processo de fabricação da cerâmica branca ..................................................... 31 2.12 – Características geométricas .............................................................................. 32 2.13 – Características técnicas .................................................................................... 33 2.14 – Fatores de agressão .......................................................................................... 41 2.15 –Manifestações patológicas ................................................................................ 42 2.16 – Especificação ................................................................................................... 44 2.17 – Peças especiais ................................................................................................. 47 2.18 – Embalagem ...................................................................................................... 48 2.19 – Louças sanitárias .............................................................................................. 49 3 – Vidros .................................................................................................... 50 3.1 – Introdução .......................................................................................................... 50 3.2 – Conceitos fundamentais ..................................................................................... 50 3.3 – Classificação ...................................................................................................... 51 3.3.1 – Principais tipos de vidros utilizados na construção civil ......................................... 52 3.4 – Propriedades do vidro ........................................................................................ 56 3.4.1 – Propriedades mecânicas dos vidros planos ............................................................. 56 3.4.2 – Propriedades térmicas dos vidros comuns ............................................................... 57 3.4.3 – Propriedades acústicas ............................................................................................. 57 3.4.4 – Propriedades ópticas ................................................................................................ 58 3.5 – Ensaios ............................................................................................................... 58 3.5.1 – Dimensional ............................................................................................................ 58 3.5.2 – Choque mecânico .................................................................................................... 59 3.5.3 – Choque térmico ....................................................................................................... 59 3.5.4 – Fragmentação .......................................................................................................... 59 3.5.5 – Impacto de segurança .............................................................................................. 59 4 – Madeiras ................................................................................................ 60 4.1 – Introdução .......................................................................................................... 60 4.1.1 – Utilização das madeiras como material de construção ............................................ 60 4.2 – Classificação ...................................................................................................... 63 4.3 – Produção de madeiras ........................................................................................ 64 4.4 – Defeitos .............................................................................................................. 674.5 – Propriedades ....................................................................................................... 70 4.5.1 – Propriedades físicas ................................................................................................. 71 4.5.2 – Propriedades mecânicas .......................................................................................... 73 ENGENHARIA CIVIL 5 Materiais de Construção Civil II 5 – Metais .................................................................................................... 76 5.1 – Introdução .......................................................................................................... 76 5.2 – Classificação ...................................................................................................... 76 5.3 – Tipos de metais .................................................................................................. 77 5.3.1 – Ferro ........................................................................................................................ 77 5.3.1.1 – Minério de Ferro ........................................................................................................... 77 5.3.1.2 – Ferro forjado.................................................................................................................. 77 5.3.1.3 – Ferro gusa ...................................................................................................................... 78 5.3.1.4 – Ferro fundido ................................................................................................................. 78 5.3.2 – Aço .......................................................................................................................... 79 5.3.2.1 – Produção do aço ............................................................................................................ 80 5.3.3 – Cobre ....................................................................................................................... 82 5.3.4 – Alumínio.................................................................................................................. 83 5.4 – Propriedades do aço para construção civil ......................................................... 84 5.4.1 – Massa específica ...................................................................................................... 84 5.4.2 – Módulo de elasticidade ............................................................................................ 84 5.4.3 – Coeficiente de dilatação térmica ............................................................................. 84 5.4.4 – Características de ductilidade .................................................................................. 85 5.4.5 – Diagrama de tensão – deformação .......................................................................... 85 5.5 – Processo de classificação, inspeção e fornecimento das barras de aço para a construção civil ........................................................................................................... 87 5.5.1 – Classificação............................................................................................................ 87 5.5.2 – Inspeção ................................................................................................................... 88 5.5.3 – Fornecimento ........................................................................................................... 88 5.6 – Manifestações patológicas e falhas de projeto em estruturas metálicas ............ 89 6 – Materiais Poliméricos ............................................................................ 91 6.1 – Introdução .......................................................................................................... 91 6.2 – Aditivos .............................................................................................................. 91 6.2.1 – Plastificantes............................................................................................................ 92 6.2.2 – Pigmentos ................................................................................................................ 92 6.2.3 – Estabilizadores ........................................................................................................ 93 6.2.4 – Retardadores de chama ............................................................................................ 93 6.2.5 – Cargas ...................................................................................................................... 93 6.3 – Técnicas de conformação dos polímeros ........................................................... 93 6.3.1 – Moldagem por injeção ............................................................................................. 94 ENGENHARIA CIVIL 6 Materiais de Construção Civil II 6.3.2 – Moldagem por extrusão ........................................................................................... 94 6.4 – Comportamento mecânico ................................................................................. 94 6.4.1 – Propriedades térmicas e elétricas ............................................................................ 96 6.5 – Tipos de polímeros ............................................................................................. 96 6.5.1 – Polímeros termoplásticos e termofixos ................................................................... 97 6.5.2 – Demais tipos de polímeros ...................................................................................... 98 6.6 – Principais aplicações dos polímeros na construção civil ................................... 99 6.6.1 – Instalações hidráulicas prediais ............................................................................... 99 6.6.2 – Instalações elétricas ............................................................................................... 100 7 – Tintas e Vernizes ................................................................................. 101 7.1 – Introdução ........................................................................................................ 101 7.2 – Componentes ................................................................................................... 102 7.2.1 – Resina .................................................................................................................... 102 7.2.2 – Pigmento................................................................................................................ 102 7.2.3 – Solvente ................................................................................................................. 103 7.2.4 – Aditivos ................................................................................................................. 104 7.3 – Tintas usadas na construção civil ..................................................................... 104 7.3.1 – Verniz .................................................................................................................... 104 7.3.2 – Tinta a óleo ............................................................................................................ 104 7.3.3 – Esmalte sintético ................................................................................................... 104 7.3.4 – Base de água .......................................................................................................... 105 7.3.5 – Caiação .................................................................................................................. 106 7.4 – Principais constituintes dos sistemas de pintura .............................................. 106 7.5 – Principais defeitos das pinturas ........................................................................ 1078 – Materiais Betuminosos ........................................................................ 110 8.1 – Introdução ........................................................................................................ 110 8.2 – Agregados ........................................................................................................ 111 8.2.1 – Classificação.......................................................................................................... 112 8.2.2 – Propriedades físicas e ensaios com agregados ...................................................... 112 8.2.2.1 – Amostragem de agregados .......................................................................................... 113 8.2.2.2 – Granulometria ............................................................................................................. 113 8.2.2.3 – Limpeza ....................................................................................................................... 115 8.2.2.4 – Resistência à abrasão ................................................................................................... 116 8.2.2.5 – Forma .......................................................................................................................... 116 8.2.2.6 – Absorção ..................................................................................................................... 118 ENGENHARIA CIVIL 7 Materiais de Construção Civil II 8.2.2.7 – Adesividade ao ligante asfáltico .................................................................................. 118 8.2.2.8 – Densidade Específica/Massa Específica ...................................................................... 119 8.3 – Ligantes Asfálticos .......................................................................................... 122 8.3.1 – Asfalto Diluído de Petróleo (ADP) ....................................................................... 123 8.3.2 – Emulsão Asfáltica de Petróleo (EAP) ................................................................... 124 8.3.3 – Asfalto Espuma ..................................................................................................... 125 8.3.4 – Asfalto Borracha ................................................................................................... 125 8.3.5 – Asfaltos Modificados ............................................................................................ 126 8.3.6 – Manta Asfáltica ..................................................................................................... 126 8.3.7 – Ensaios de Caracterização de Ligantes Asfálticos ................................................ 127 8.3.7.1 – Ensaios de Penetração ................................................................................................. 127 8.3.7.2 – Ensaio de Ponto de Amolecimento ............................................................................. 128 8.3.7.3 – Ensaio de Viscosidade ................................................................................................. 129 8.3.7.4 – Ensaio de Dutilidade ................................................................................................... 130 8.3.7.5 – Ensaio de Recuperação Elástica .................................................................................. 130 8.3.7.6 – Ensaio de Ponto de Fulgor .......................................................................................... 130 8.3.8 – Propriedades dos Ligantes Asfálticos .................................................................... 131 8.4 – Misturas Asfálticas .......................................................................................... 133 8.4.1 – Concreto Asfáltico Denso (CA) ............................................................................ 133 8.4.2 – Camada Porosa de Atrito (CPA) ........................................................................... 134 8.4.3 – Stone Matrix Asphalt (SMA) ................................................................................. 134 8.4.4 – Misturas Asfálticas Usinadas a Frio ...................................................................... 135 8.4.5 – Lama Asfáltica ...................................................................................................... 135 8.4.6 – Microrrevestimento Asfáltico................................................................................ 135 8.4.7 – Misturas Asfálticas Recicladas .............................................................................. 136 8.4.8 – Tratamentos Superficiais ....................................................................................... 137 8.4.9 – Densidades, Massas Específicas e Volumetria para Misturas Asfálticas .............. 138 8.4.9.1 – Densidade Relativa Aparente e Massa Específica Aparente de Mistura Asfáltica Compactada ................................................................................................................................ 138 8.4.9.2 – Densidade Relativa Máxima Medida e Massa Específica Máxima Medida de Mistura Asfáltica Não Compactada ......................................................................................................... 140 8.4.9.3 – Volumetria de Misturas Asfálticas .............................................................................. 141 8.4.10 – Dosagem Marshall ............................................................................................... 142 8.4.11 – Dosagem Superpave ............................................................................................ 148 8.4.12 – Propriedades Mecânicas das Misturas Asfálticas ................................................ 150 8.4.12.1 – Estabilidade Marshall ................................................................................................ 150 8.4.12.2 – Módulo de Resiliência ............................................................................................... 151 8.4.12.3 – Módulo Complexo..................................................................................................... 153 ENGENHARIA CIVIL 8 Materiais de Construção Civil II 8.4.12.4 – Resistência à Tração Indireta .................................................................................... 155 8.4.12.5 – Vida de Fadiga .......................................................................................................... 156 8.4.12.6 – Creep Estático ........................................................................................................... 158 8.4.12.7 – Creep Dinâmico ........................................................................................................ 159 8.4.12.8 – Simulador de Tráfego de Laboratório ....................................................................... 160 9 – Inovações na Construção Civil............................................................ 162 9.1 – Água e uso do solo no futuro ........................................................................... 162 9.2 – Fibras vegetais como material de construção .................................................. 163 9.2.1 – Principais tipos de fibras vegetais utilizadas na construção civil .......................... 164 9.2.2 – Aplicações ............................................................................................................. 167 9.3 – Bambu .............................................................................................................. 167 9.3.1 – Obtenção dos colmos ............................................................................................ 168 9.3.2 – Aplicações ............................................................................................................. 170 9.4 – Resíduos Industriais e Agrícolas para a Construção Civil ...............................170 9.4.1 – O desenvolvimento da pesquisa na área de reciclagem para construção .............. 171 9.4.2 – Resíduos sólidos: Classificação do ponto de vista ambiental ............................... 172 9.4.3 – Classificação quanto a origem do resíduo ............................................................. 172 9.4.4 – Resíduos industriais e agrícolas utilizados como materiais e componentes de construção ......................................................................................................................... 172 9.4.4.1 – Mapa de resíduos segundo a origem: Resíduos e subprodutos de mineração ............. 173 9.4.4.2 – Mapa de resíduos segundo a origem: Resíduos e subprodutos metalúrgicos/siderúrgicos ................................................................................................................................................... 175 9.4.4.3 – Mapa de resíduos segundo a origem: Resíduos e subprodutos de outros setores industriais ................................................................................................................................................... 176 9.4.4.4 – Mapa de resíduos segundo a origem: Resíduos e subprodutos agrícolas florestais ..... 177 9.4.4.5 – Mapa de resíduos segundo a origem: Resíduos e subprodutos municipais urbanos .... 178 9.5 – Resíduos provenientes da indústria de rochas ornamentais: Setor de beneficiamento mármore e granito ........................................................................... 178 9.5.1 – Processo produtivo na serragem das rochas e geração de resíduos ....................... 179 9.5.2 – Características física, química, magnética e morfológica do resíduo .................... 179 9.5.3 – Aplicações e aspectos relevantes sobre a utilização de resíduos de mármore e granito ........................................................................................................................................... 180 9.6 – Resíduos da indústria de celulose e papel: cinzas, dregs, grits ........................ 181 9.6.1 – Pesquisas e aplicações dos resíduos de indústria de celulose na construção civil. 181 9.6.2 – Aspectos relevantes sobre a utilização de resíduos da indústria de celulose em materiais de construção civil ............................................................................................. 181 9.7 – Resíduos e subprodutos metalúrgicos/siderúrgicos: Escórias ......................... 182 9.7.1 – Aplicações das escórias ......................................................................................... 183 ENGENHARIA CIVIL 9 Materiais de Construção Civil II 9.8 – Materiais Reciclados na Construção Civil ....................................................... 184 9.8.1 – O resíduo da construção civil e sua composição ................................................... 184 9.8.2 – Produtos reciclados provenientes da fração cerâmica dos resíduos da construção civil ........................................................................................................................................... 185 9.8.3 – Blocos de concreto para vedação .......................................................................... 186 9.8.4 – Argamassas para assentamento e revestimento de alvenaria................................. 187 9.8.5 – O mercado de agregados reciclados na construção civil ....................................... 187 9.8.5.1 – Os desafios a serem vencidos para o desenvolvimento do mercado dos reciclados .... 187 9.8.6 – Classificação dos resíduos ..................................................................................... 188 9.8.7 – Produtos reciclados provenientes de resíduos poliméricos ................................... 188 9.8.7.1 – A produção de madeira plástica .................................................................................. 189 9.8.7.2 – Concretos e asfaltos preparados com resíduos de pneus ............................................. 190 9.8.7.3 – Produtos reciclados provenientes de resíduos de madeira ........................................... 190 9.8.7.4 – Madeira reciclada para utilização como combustível .................................................. 190 9.9 – Nanotecnologia e Materiais de Construção ..................................................... 190 9.9.1 – Nanocompósitos com matriz polimérica ............................................................... 191 9.9.2 – Nanocompósitos com matriz polimérica e cargas inorgânicas lamelares ............. 191 9.9.3 – Nanocompósito com matriz polimérica reforçada por nano partículas e nanofibras ........................................................................................................................................... 193 9.9.4 – Metais e ligas nanomodificadas ............................................................................ 194 9.9.5 – Nanocompósitos: Metal/Nanofibras ...................................................................... 194 9.9.6 – Aerogéis ................................................................................................................ 196 9.9.7 – Nanotecnologia do cimento e seus produtos ......................................................... 196 9.9.7.1 – Melhorando a coesão e fluência .................................................................................. 197 9.9.7.2 – Evitando a fissuração nas primeiras idades ................................................................. 198 9.9.7.3 – Aumentando a resistência e a ductilidade ao mesmo tempo ....................................... 198 9.9.7.4 – Aumentando a velocidade de ganho de resistência ..................................................... 198 9.9.7.5 – Melhorando o rendimento do cimento ........................................................................ 198 9.9.7.6 – Materiais a base de cimento Portland com nanopartículas .......................................... 199 9.10 – Concretos Especiais ....................................................................................... 199 9.10.1 – Concreto de Alto Desempenho............................................................................ 199 9.10.2 – Concreto Reforçado com Fibras .......................................................................... 200 9.10.3 – Concreto Geopolimérico ..................................................................................... 200 9.10.4 – Concreto Auto-Adensável ................................................................................... 201 9.10.5 – Concreto com Agregados Reciclados .................................................................. 202 Referências Bibliográficas ........................................................................ 204 ENGENHARIA CIVIL 10 Materiais de Construção Civil II 1 – Breve introdução 1.1 – Ciência e engenharia dos materiais Para a ciência, um material é qualquer conglomerado de matéria ou de massa. Na engenharia, um material é uma substância (composto químico) com uma propriedade útil, podendo ser mecânica, elétrica, óptica, térmica ou magnética. Material, em sua definição significa qualquer substância que pode vir a ser utilizada em ações práticas, logo isso gera uma forte ligação entre a ciência dos materiais e outras áreas como engenharia, física, química, eletricidade, mecânica e metalurgia. O que faz com que a ciência de materiais se destaque das demais está na investigação de todos os fatores durante seu período de vida útil, desde o local onde são encontrados, extração, fabricação e, quando possível, reciclagem. Sendo assim, este tipo de ciência se define por estudar a relação entre a estrutura de um material e suas propriedades. Desde as mecânicas, químicas, elétricas ou magnéticas, visando a otimização das atividades derivadas de cada material tornando-as maispráticas e rápidas. Segundo Morris Cohen, a Ciência e Engenharia dos Materiais é a área da atividade humana associada com a geração e a aplicação de conhecimentos que relacionem composição, estrutura e processamento de materiais às suas propriedades e seus usos (PADILHA, 1997). – LEITURA – Amplie seus conhecimentos lendo a aula do Professor Dr. André Paulo Tschiptschin (Poli- USP) sobre Fundamentos de Ciência e Engenharia de Materiais no seguinte link: http://www.pmt.usp.br/pmt5783/Liga%C3%A7%C3%B5es%20qu%C3%ADmicas%20e%20est rutura%20dos%20s%C3%B3lidos.pdf De acordo com Smith e Hashemi (2012), a produção e o processamento de materiais em produtos acabados constituem uma grande parte da economia atual. Os engenheiros projetam a maioria dos produtos manufaturados, bem como os sistemas de processamento necessários à sua produção. Uma vez que os produtos requerem materiais para sua fabricação, o engenheiro deve conhecer a estrutura interna e as propriedades dos materiais objetivando escolher os materiais mais adequados para cada aplicação e ao desenvolvimento dos melhores métodos de processamento. Os engenheiros de pesquisa https://conceito.de/ser http://www.pmt.usp.br/pmt5783/Liga%C3%A7%C3%B5es%20qu%C3%ADmicas%20e%20estrutura%20dos%20s%C3%B3lidos.pdf http://www.pmt.usp.br/pmt5783/Liga%C3%A7%C3%B5es%20qu%C3%ADmicas%20e%20estrutura%20dos%20s%C3%B3lidos.pdf https://www.amazon.com.br/s/ref=dp_byline_sr_book_1?ie=UTF8&field-author=William+F.+Smith&text=William+F.+Smith&sort=relevancerank&search-alias=stripbooks ENGENHARIA CIVIL 11 Materiais de Construção Civil II e desenvolvimento criam novos materiais ou modificam as propriedades de materiais existentes. Os engenheiros de projeto (projetistas) utilizam tanto materiais já existentes quanto materiais modificados ou novos para projetar e criar outros produtos e sistemas. Algumas vezes, estes engenheiros encontram um problema em seu projeto que demanda a criação de um novo material por parte dos engenheiros de pesquisa e desenvolvimento. É o caso, por exemplo, do projeto de um transporte civil de alta velocidade (high-speed civil transport – HSTC) (Figura 1.1), que exige o desenvolvimento de materiais para altas temperaturas capazes de suportar até 1.800 ºC. Visando esta aplicação e outras similares, atualmente vêm sendo realizadas pesquisas para se desenvolver compósitos de matriz cerâmica, compostos intermetálicos refratários e superligas de cristal único. Figura 1.1: Transporte civil de alta velocidade (high-speed civil transport – HSTC) Fonte: Smith e Hashemi (2012) – SAIBA MAIS – A ciência dos materiais e a engenharia dos materiais (ou, simplesmente, engenharia e ciência dos materiais) constituem uma ponte de conhecimento sobre materiais entre as ciências básicas (e a matemática) e as várias áreas da engenharia. A ciência dos materiais busca principalmente conhecimentos básicos sobre materiais, enquanto a engenharia dos materiais se volta, sobretudo, para a utilização de conhecimentos práticos sobre materiais. Os três tipos principais de materiais são os metálicos, os poliméricos e os cerâmicos. Outros dois tipos de materiais muito importantes para a engenharia moderna são os compósitos e os materiais eletrônicos. Os materiais inteligentes e os dispositivos em escala micrométrica, bem como os nanomateriais, são apresentados como novas classes de materiais, com aplicações importantes e inovadoras em muitos setores da indústria. Para Moreira (2009), a diversidade de materiais atualmente disponíveis para o uso em engenharia é extraordinariamente grande, existindo por isso materiais cada vez mais https://www.amazon.com.br/s/ref=dp_byline_sr_book_1?ie=UTF8&field-author=William+F.+Smith&text=William+F.+Smith&sort=relevancerank&search-alias=stripbooks ENGENHARIA CIVIL 12 Materiais de Construção Civil II especializados para aplicações específicas. Os materiais compósitos representam um caso de particular importância dentro dos designados materiais de engenharia não tradicionais. Os constantes avanços tecnológicos permitem diminuir os custos de processamento das matérias-primas garantindo desta forma um melhor aproveitamento das vantagens dos materiais não tradicionais. Prevê-se que estes materiais, para além de continuarem a ter uma aplicação privilegiada em mercados avançados (militar, espacial e aeronáutico), substituam também, de forma crescente, os materiais tradicionais nas aplicações mais frequentes da engenharia civil. Salientando que os principais materiais tradicionais na construção civil são, os já estudados no semestre anterior, concretos e argamassas. 1.2 – Materiais compósitos 1.2.1 – Definição Para entendimento dos conteúdos abordados nesta apostila, faz-se necessário o conhecimento preliminar de materiais compósitos. Moreira (2009) os define como misturas (ao nível macroscópico) não solúveis de dois ou mais constituintes com distintas composições, estruturas e propriedades que se combinam e em que um dos materiais garante a ligação (matriz) e o outro a resistência (reforço). O concreto armado é um exemplo de um material compósito. Para Smith (1998), trata-se de um material formado por uma mistura ou combinação de dois ou mais micro ou macroconstituintes que diferem na forma e na composição química, bem como, na sua essência, são insolúveis uns nos outros. Além do exposto, os materiais compósitos tornam-se novos materiais, com propriedades superiores, em alguns aspectos, às propriedades de seus constituintes. Veja a seguir exemplos de materiais compósitos. Figura 1.2: Exemplos de materiais compósitos. a) Colete à prova de balas – Kevlar; b) Tecido compósito de fibra de carbono; c) Vidro como material cerâmico a) b) c) Fonte: Editado pelos autores (2021) 1.2.2 – Classificação Segundo Callister (2002), existem diversos tipos de materiais compósitos, que podem ser classificados conforme o esquema apresentado na Figura 1.3. ENGENHARIA CIVIL 13 Materiais de Construção Civil II Figura 1.3: Classificação dos materiais compósitos segundo Callister Fonte: Adaptado de Callister (2002) Não é objetivo, da presente apostila, explanar sobre todas as classes de materiais compósitos, no entanto, serão apresentados nos próximos capítulos os principais tipos de materiais (matriz cerâmica, matriz metálica e matriz polimérica). Sendo, ainda, de fundamental importância que o aluno de Materiais de Construção Civil II busque o estudo aprofundado deste tema em livros, artigos e demais referências. 1.3 – Sobre esta apostila Assim como na apostila de Materiais de Construção Civil I, a presente apostila tem o objetivo de ser um material introdutório para ampliação dos conhecimentos apreendidos em sala de aula e em demais referências. Portanto, indica-se a leitura deste material não como limitador dos temas abordados, mas como um passo inicial para a compreensão dos conteúdos. Logo, assim como na apostila anterior, espera-se que o(a) aluno(a) seja capaz de: a) Reconhecer os diversos materiais em situações típicas de uso. Reconhecer, por exemplo, que uma estrutura foi feita em aço, material cerâmico, vidro ou madeira; b) Avaliar o desempenho dos materiais, por meio da leitura de laudos de ensaios laboratoriais; c) Criticar a forma que está sendo usado certo material, apontando se está sendo usado de forma segura, racional e duradoura. Criticar, por exemplo, o uso de madeira não tratada em situações de exposição a altas variações de umidade; d) Contextualizar o uso do material dentro da localidade e da cultura em questão, como anotar as variações de materiais construtivos em cada região brasileira. Notar que, dependendo da localidade, optar por construir uma rodovia em asfalto pode ir contra valores históricos e patrimoniais. ENGENHARIA CIVIL 14 Materiaisde Construção Civil II Figura 2.1: Materiais de cerâmica vermelha 2 – Materiais cerâmicos 2.1 – Introdução As primeiras peças cerâmicas foram criadas enquanto a sociedade ainda estava em evolução para se modernizar, servindo de matéria-prima para a criação de artefatos, revestimentos, decoração e utensílios importantes, demonstrando assim seu histórico positivo. Os materiais cerâmicos são constituídos por elementos metálicos e não- metálicos que em quase totalidade possuem ligação iônica. Algumas curiosidades da cerâmica são suas altas resistências a temperatura por seu elevado ponto de fusão, diante disso são utilizadas em laboratórios e construção de fornos especiais, além de serem bons isolantes térmicos de resistores e capacitores. 2.2 – Argilas para cerâmica vermelha As cerâmicas são obtidas a partir da secagem lenta da massa base de argila e outros materiais inorgânicos, seguida por uma queima em altas temperaturas. Com ela é possível obter vários materiais usados na construção civil como blocos cerâmicos, tijolos, telhas cerâmicas, tavelas, porcelanatos e entre outros. São classificadas em cerâmica branca e vermelha. A cerâmica vermelha será a primeira a ser estudada, ela tem esse nome pela cor avermelhada que ela adquire ao fim do processo de queima da argila, a causa dessa coloração vem da grande presença de materiais inorgânicos compostos de ferro na argila. A argila é misturada com água para formar uma massa base muito plástica que pode ser moldada em várias formas diferentes. Fonte: Eurotech do Brasil, 2021 ENGENHARIA CIVIL 15 Materiais de Construção Civil II 2.3 – Constituintes das argilas A granulometria dos grãos da argila é de 2µm e vem da decomposição de rochas, é formada principalmente pelos argilominerais ilita e montmorilonita e podem conter outros minerais como quartzo, feldspato, mica, pirita e hematita, teores de impurezas também podem ser encontrados na argila como materiais orgânicos. Tabela 2.1: Elementos da argila e suas funções Elementos Principais propriedades Alumina Propicia estabilidade dimensional em temperaturas elevadas Carbonato e sulfato de cálcio e magnésio Resultam em expansão volumétrica; agem como fundentes Matéria orgânica Resulta em retração; fissuras durante os processos de sazonamento e queima e diferenças de coloração em um mesmo componente cerâmico Sílica livre Diminui a retração durante os processos de sazonamento e queima; reduz a plasticidade da argila Silicatos e fosfatos São fundentes, alguns aumentam a resistência da cerâmica Sais solúveis Propiciam o aparecimento de eflorescências nos componentes cerâmicos Fonte: ABNT NBR 5645:1991 2.4 – Principais ensaios de caracterização da matéria- prima A cerâmica possui diversos ensaios de caracterização para comprovar determinadas propriedades, em função das especificações do componente a ser fabricado. Os ensaios realizados diretamente na matéria-prima possuem o fito de analisar a moldagem e secagem do corpo, os demais ensaios verificam o processo de produção no produto final. 2.5 – Ensaios visando à identificação da composição química e mineralógica da matéria-prima O método mais rápido de determinar a composição química dos materiais cerâmicos é a fluorescência de raios X. Ou podendo recorrer análises como, difração de raio X, análise térmica, microscopia ótica e eletrônica, espectroscopia no infravermelho e análise química. Esse dado importante é apresentado pelo aparelho em intensidades, demonstrado no gráfico a seguir, representando a pureza do material Sendo uma das técnicas mais comuns, a difração de raios X que mostra picos identificando os elementos no difratograma. ENGENHARIA CIVIL 16 Materiais de Construção Civil II Figura 2.2: Elementos da argila e suas funções Fonte: IBRACON (p. 568) 2.5.1 – Identificação dos elementos constituintes por análise térmica A análise térmica, analisa as mudanças das propriedades químicas e físicas da argila quando submetida a alterações de temperatura, o teste principal é o ATD e este analisa a variação de temperatura de uma amostra ao longo de ciclos de aquecimento e resfriamento, comparando com uma peça controle. TG é a variação da massa em decorrência da temperatura e é possível calcular o total de massa perdida pela área da curva de DTA. Figura 2.3: Elementos da argila e suas funções Fonte: ABNT NBR 5645:1991 Figura 2.4: Elementos da argila e suas funções Fonte: ABNT NBR 5645:1991 ENGENHARIA CIVIL 17 Materiais de Construção Civil II 2.6 – Ensaios visando à caracterização física da argila Os ensaios deferidos abaixo são de extrema importância para avaliar a distribuição granulométrica e dos índices de plasticidade da argila que compõe a cerâmica. 2.6.1 – Distribuição granulométrica O material argiloso é um pó fino e seus grãos são menores que 2µm, essa menor parte chamada de argila é quem influencia na porosidade e na resistência da cerâmica vermelha, quando é adicionada de água na quantidade certa torna-se um material muito plástico que pode ir ao fogo em altas temperaturas e ser fundida para criar cerâmicas. Para obter a argila, sua matéria prima passa pelo processo de laminação a fim de alcançar o tamanho desejado dos grãos e a granulometria pode ser feita por peneiramento, porém é um método pouco preciso. Os meios mais precisos de obter a curva granulométrica são por meio da difração a laser e a determinação da sedimentação por absorção de raio X. 2.6.2 – Plasticidade A argila tem sua plasticidade em decorrência das tensões superficiais de atração da água misturada com os argilominerais, essa combinação tem característica lubrificante que permite os lamares dos argilominerais deslizarem sob a ação de uma tensão. Para massa se tornar plástica é necessário adicionar a quantidade ideal, uma vez que muita água é colocada a cerâmica vermelha será comprometida, pois terá um aumento de sua porosidade, a secagem de mais água do que o necessário também pode deformar e causar fissuras pelas elevadas contrações da argila nesses processos, portanto a cerâmica final terá sua resistência gravemente afetada. Pouca água na mistura, ela não terá tanta propriedade plástica e, portanto, será mais difícil sua extrusão. Figura 2.5: Elementos da argila e suas funções Fonte: Portal Virtuhab (2021) Limites de Atterberg são medidas que mostram a plasticidade de um solo, existem dois limites o LP (Limite de Plasticidade), que indica o limite do teor de água em que o material passa do estado original e começa a ganhar plasticidade com o acréscimo de água, e LL (Limite de Liquidez), que é o limite o qual o teor de água faz com que o material passe do estado plástico para um estado liquefeito com o acréscimo de água. Há também o IP (Índice de Plasticidade) que é dado pela subtração do LL pelo LP. ENGENHARIA CIVIL 18 Materiais de Construção Civil II Figura 2.8: Limite de liquidez Fonte: ABNT NBR 6459:2016 Figura 2.6: Elementos da argila e suas funções Fonte: Repositório UNESP Segundo a ABNT NBR 7180:2016, para determinar o limite de plasticidade é preciso ser possível formar um cilindro de aproximadamente 3mm de diâmetro e 100mm a 150mm de comprimento com as mãos sem que a argila se rompa ou fissure. Figura 2.7: Elementos da argila e suas funções Fonte: Repositório UNESP O método para determinar o Limite de Liquidez descrito na ABNT NBR 6459:2016 é realizado pelo aparelho de Casagrande, que consiste num aparelho que aplica de forma sucessivas quedas de 1cm no prato com a argila. Essas quedas têm intensidade constante e o limite ocorre quando é preciso 25 quedas para fechar o sulco feito na argila. ENGENHARIA CIVIL 19 Materiais de Construção Civil II Fonte: Anicer Figura 2.9:Tijolos maciço cerâmicos Figura 2.10: Máquina de deformação Fonte: Gelenski Fonte: Gelenski São feitos ensaios de caracterização da matéria prima em corpos de provas retangulares, esses corpos de prova podem ser conformados por meio de prensagem ou extrusão do material e ele é identificado, logo depois é aferido as dimensões lineares dimensões lineares do CP, massa específica e resistência à flexão. Em seguida ele passa pelo processo de secagem em estufa até obter uma umidade de 1%, depois é realizado uma queima controlada que pode chegar de 800°C a 1000°C. Após o resfriamento são feitos os ensaios de caracterização que medem a deformação linear, resistência a flexão, porosidade, massa específica e absorção de água. 2.7 – Característica da fabricação de cerâmica 2.7.1 – Umidade de conformação É o teor de água para conformar uma massa de argila plástica ideal, é um valor dentro do limite de plasticidade e é obtido por meio de testes até chegar no valor ideal o qual não causará fissuras quando a massa passar pelo processo de extrusão do CP. 2.7.2 – Contração linear É o quão a cerâmica irá deformar após a queima, é aferido as dimensões lineares dos corpos de prova e é calculado com base nas medições da cerâmica após a queima. Quanto mais calor for inserido no forno da queima, mais o bloco cerâmico pode ter suas dimensões distorcidas. 2.7.3 – Massa específica É a relação massa/volume do bloco cerâmico, o valor é calculado com a massa ainda plástica após a extrusão, logo após a secagem onde a argila está semi sólida e por fim após a queima. Quanto mais calor for inserido no forno da queima, maior será sua massa específica. 2.7.4 – Porosidade Depende do tipo de argila utilizada e do teor de umidade na massa na etapa de conformação. Em resumo, a porosidade está associada com a maneira em que os argilominerais estão agrupados, logo os esses argilominerais, a quantidade de água na mistura e as alterações volumétricas estão diretamente associadas com a porosidade. De ENGENHARIA CIVIL 20 Materiais de Construção Civil II Fonte: Biopdi Fonte: IBRACON (p. 574) Tabela 2.2: Tabela de comparação entre os diferentes tipos de cerâmicas praxe, quanto mais água, maior serão as contrações e, portanto, a porosidade e a permeabilidade da argila serão maiores. Outro fator é a temperatura/tempo de queima, quanto maior esses fatores, menos porosa será a cerâmica, pois os argilominerais se fundirão mais, diminuindo a porosidade, aumentando sua massa específica e resistência. 2.7.5 – Tensão de ruptura à flexão É uma característica medida nos corpos de prova logo após a conformação e depois da queima, é uma propriedade muito importante medida através de um ensaio de resistência à flexão de dois apoios. A seguir, os valores de tensão e absorção recomendados pela literatura: 2.8 – Fabricação de componentes de cerâmica vermelha O processo de fabricação da cerâmica vermelha consiste em 5 etapas, a preparação da matéria prima, moldagem, secagem, queima e resfriamento. Cada uma das etapas são importantes e podem dar características para o produto final de cerâmica vermelha, Figura 2.11: Ilustração do equipamento ENGENHARIA CIVIL 21 Materiais de Construção Civil II Figura 2.12: Jazida em Itu Fonte: Fonte: Cerâmica São João Itu sobretudo características prejudiciais quando alguma etapa é feita em desacordo com as normas e procedimentos técnicos. A argila é um material terroso, fino e é extraído a céu aberto, porém elas podem conter impurezas como material orgânico e partículas maiores em sua composição, por isso precisa de uma preparação antes de ser conformada. 2.8.1 – Preparação da matéria prima O processo de fabricação de componentes cerâmicos consiste em uma primeira etapa, que não é propriamente um processo de produção, é a extração da argila, que em grande parte das cerâmicas é utilizado o produto natural. As argilas são retiradas das lavras e levadas para as indústrias onde passam por uma redução granulométrica, mistura e homogeneização. Após a extração e a redução granulométrica, ocorre a eliminação de impurezas que possam prejudicar a matéria-prima, adicionando água para obter a plasticidade necessária. A argila é exposta à intempérie durante 1 a 12 meses, de modo que ocorram alterações de suas características, como a desagregação dos torrões, o aumento da reatividade e a lixiviação de sais solúveis. Este processo é chamado de sazonamento. É muito comum misturar duas argilas diferentes para suprir as especificações que estão faltando na argila original. Nesse processo também ocorre a laminação que vai amassar e triturar os torrões e grãos maiores do que o tamanho desejado para a argila, após esse processo é ajustado o teor de água para formar uma massa plástica facilitando a extrusão. Após esta etapa, a argila deve ser moída por via úmida (umidade entre 20 e 30%) e moldada pela máquina extrusora (maromba) a vácuo, onde a massa é impulsionada por meio de parafusos sem fim, passando através de uma boquilha e recebe o formato e dimensões desejados, obtendo as peças de tijolos de furos e blocos. O material também pode ser prensado para fabricação de telhas cerâmicas. Em seguida, as peças são cortadas nas dimensões padronizadas para cada produto e de acordo com os padrões da norma ABNT NBR 15270:2017. ENGENHARIA CIVIL 22 Materiais de Construção Civil II Figura 2.13: Maromba à vácuo Fonte: Duarte Indústria Metalúrgica (2021) Depois, no processo da secagem o material é levado para fornos (secagem artificial com duração média de 3 dias) ou secos ao ar livre (secagem natural com duração de 10 a 30 dias), deixando as peças prontas para a etapa da queima do produto cerâmico. A partir desta fase, as argilas são sintetizadas a partir de altas temperaturas, provocando transformações físico-químicas na massa, modificando as características de cru em propriedades cerâmicas. Até 150°C, ocorre a evaporação da água livre. Até cerca de 600°C, ocorre a perda de água adsorvida. E entre 800°C e 1100°C, ocorre a sinterização ou vitrificação da argila. É uma etapa essencial, a qual determina o correto desenvolvimento das propriedades finais do produto, como a característica de resistência do bloco cerâmico, sem que surjam problemas de fissuração ou de “coração negro” (parte central do material de cor cinza ou preta). Por fim, ocorre o processo de resfriamento lento, que pode durar entre 8 e 24 horas. Figura 2.14: Processo de fabricação de materiais cerâmicos Fonte: Associação Brasileira de Cerâmica (2021) ENGENHARIA CIVIL 23 Materiais de Construção Civil II 2.9 – Componentes de cerâmica vermelha Os principais componentes de cerâmica vermelha são os tijolos maciços, os blocos cerâmicos, as telhas, os tubos cerâmicos, as tavelas e os elementos vazados. Os dois primeiros componentes citados são bastante utilizados para a construção de alvenarias e são fabricados por extrusão ou prensagem, entretanto podem ser diferenciados pela medida da altura, visto que os blocos possuem altura superior a 115 mm. As telhas, por sua vez, são componentes que, em conjunto com acessórios, podem ser utilizados para a construção de telhados e são moldados por extrusão com posterior prensagem. Enquanto os tubos cerâmicos, também denominados manilhas, são componentes utilizados para a canalização de águas pluviais e esgotos, embora venham perdendo espaço para outras alternativas, como tubo PVC, principalmente pelos custos de instalação e manutenção. 2.9.1 – Tijolos maciços Os tijolos maciços são componentes que possuem forma paralelepipédica, podendo apresentar rebaixos de fabricação em uma das faces de maior área. Podem ser classificados em comuns e especiais, de acordo com as dimensões nominais apresentadas.Assim, tijolos maciços com dimensões de 19 x 9 x 5,7 cm ou de 19 x 9 x 9 cm são considerados comuns, enquanto os que são fabricados com dimensões diversas das especificadas são denominados, segundo a NBR 15270:2017, tijolos especiais. Este componente possui resistência a compressão entre 1,5 MPa e 20 MPa; elevada absorção de água (entre 15% e 25%), o que melhora a aderência à argamassa; e facilidade de corte. 2.9.2 – Blocos cerâmicos Os blocos são produzidos em diversas formas e com furos paralelos a uma de suas faces, que podem ter função de vedação e/ou estrutural. Os blocos de vedação suportam somente o peso da alvenaria e tem por função separar (“vedar”) ambientes de uma edificação, enquanto os blocos estruturais têm por função sustentar todas as cargas de uma edificação, sem a necessidade de elementos estruturais, como pilares e vigas. Os blocos de vedação possuem furos horizontais ou verticais e os blocos estruturais possuem somente furos verticais, podendo ser classificados em blocos com paredes vazadas, blocos com paredes maciças e blocos perfurados. Além destes, existem outros termos importantes para o assunto, como canaleta em J, canaleta em U, desvio em relação ao esquadro ou flecha para verificação de planeza das faces, que podem ser verificados na norma ABNT NBR 15270-1:2017. A alvenaria construída com tijolos geralmente possui um preço mais elevado em comparação a alvenaria de blocos, visto que, devido a menores medidas de altura e a maiores quantidades de juntas, exige um consumo maior de argamassa (representa a maior “fatia” do custo da construção). ENGENHARIA CIVIL 24 Materiais de Construção Civil II Figura 2.15: Blocos cerâmicos utilizados para a construção de alvenarias Fonte: IBRACON (p. 579) Os blocos e tijolos são comercializados conforme sua aplicação, vedação (VED) ou estrutural (EST), e de acordo com os requisitos estabelecidos na Tabelas 1. A classificação VED indica uso exclusivo para vedação, podendo ser VED15 ou VED30. Enquanto a classificação EST indica uso estrutural e uso como vedação racionalizada, podendo ser EST40, EST60, EST80 e outras. As denominações 15, 30, 40, e assim por diante, indicam a resistência característica mínima do bloco ou tijolo em quilograma- força por centímetro quadrado (kgf/cm2), aproximando 1 kgf/cm2 igual a 0,1 MPa. Tabela 2.3: Requisitos mínimos conforme aplicação Classe Aplicação Tipo de construção Vedação Estrutural Geral Racionalizada Um único pavimento Até dois pavimentos Acima de dois pavimentos VED X X EST X X X X Largura mínima do bloco e tijolo Todas as larguras são aplicáveis. Blocos e tijolos com largura de 70 mm, admitidos, excepcionalmente, somente em funções secundárias (como em shafts ou pequenos enchimentos) e respaldados por projeto com identificação de responsabilidade técnica. 90 mm 115 mm 140 mm Fonte: Adaptado da ABNT NBR 15270-1:2017. Os blocos cerâmicos podem ser fabricados em diversas dimensões, havendo uma tendência à modularidade. Esta tendência diz respeito ao estabelecimento de um módulo básico de 10 cm, sendo as dimensões dos blocos múltiplas desta medida. A dimensão modular também considera a espessura da junta de argamassa, ou seja, para as dimensões modulares de 10 cm (largura) x 20 cm (altura) x 40 cm (comprimento) com 1 cm de junta, temos o bloco de dimensões 9 cm x 19 cm x 39 cm. ENGENHARIA CIVIL 25 Materiais de Construção Civil II Figura 2.16: Modulação de fiada de blocos cerâmicos com juntas amarradas Fonte: Blog da Liga (2020) A alvenaria de blocos cerâmicos apresenta propriedades muito importantes de acordo com as exigências de projeto, como precisão dimensional, boa resistência à compressão, isolamento térmico e acústico, resistência ao fogo e à penetração da chuva. Dentre estas propriedades que podem ser analisadas, três são consideradas fundamentais e constituem os parâmetros de controle dos blocos. Estas são: a resistência à compressão; a precisão dimensional e o índice de absorção. A resistência do bloco depende dos matéria-prima utilizada na fabricação do bloco assim como do processo de queima. Em geral, considera-se a resistência como um indicador de qualidade do bloco. Devido à importância deste parâmetro, a norma ABNT NBR 15270-2:2017 define um procedimento a ser utilizado para estimar a resistência à compressão de um lote. O valor de resistência mínima para bloco estrutural é 3 MPa, sendo a resistência de 6 MPa o valor mais comum no mercado. A demanda por prédios mais altos tem incentivado algumas fábricas a disponibilizarem blocos de 10, 15 e 18 MPa. O resultado da racionalização em alvenaria estrutural exige um controle rigoroso de vários aspectos dos blocos. Uma boa modulação tanto horizontal quanto vertical dependerá das dimensões dos blocos. Por outro lado, o prumo lateral afeita diretamente o consumo de material necessário para o revestimento das paredes. Variações grandes nas espessuras das paredes podem afetar a resistência Assim é muito importante realizar o controle das dimensões para manter estas dentro dos limites estabelecidos pela norma. A figura mostra os parâmetros de controle e as posições onde devem ser medidos. ENGENHARIA CIVIL 26 Materiais de Construção Civil II Figura 2.17: Determinação das medidas das dimensões efetivas das faces Fonte: ABNT NBR 15270-2:2017 O índice de absorção, por sua vez, permite definir a quantidade de água que um bloco é capaz de absorver e serve como um indicador de qualidade também. O índice representa a proporção, em relação a sua massa é capaz de absorver. É um indicador importante pois a penetração de água e outros agentes agressivos por absorção leva a várias patologias e deve ser controlado. A norma estabelece os requisitos para seu uso na alvenaria estrutural. Os blocos, quando assentados entram em contato com a argamassa em estado plástico, que contém a quantidade de água necessária para garantir a trabalhabilidade no assentamento e a hidratação correta do cimento. O bloco ao absorver parte da água da mistura pode prejudicar o processo de hidratação. Para prevenir estes problemas a norma estabelece um índice de absorção de água inicial (AAI) que mede a capacidade de absorção inicial, fixando os valores aceitáveis para garantir o processo de hidratação. A absorção inicial representa a quantidade de água, absorvida por capilaridade através de uma área patrão de 193,55 cm², em 1 mm, por um bloco imerso 3 mm em água. Este valor deve estar entre 5 e 25 g/mm/Área padrão. 2.9.3 – Telhas cerâmicas Estes são os principais componentes utilizados para a construção de telhados, possuem diversas características geométricas e tipos de fixação. São produzidas de forma a não permitir a passagem de água, quando submetida à ação concomitante de chuva e vento. Além de atenderem à exigência de impermeabilidade, devem apresentar retilineidade e planidade para que não haja problemas de encaixe e no desempenho do telhado. A absorção de água deste componente deve ser limitada, para que não surjam esforços de tração ou compressão devido à retração por evaporação ou expansão por elevada absorção. Até a massa da telha deve ser controlada de acordo ENGENHARIA CIVIL 27 Materiais de Construção Civil II com o dimensionamento do telhado, para que não ocorra movimentações que prejudiquem o comportamento da estrutura. Segundo a ABNT NBR 15310:2009, a classificação dos tipos de telhas é função de suas características geométricas e do tipo de fixação, havendo quatro tipos. Inicialmente, existem as telhas planas de encaixe, que se encaixam por meio de sulcos e saliências, apresentando pinos, ou pinos e furos de amarração, para fixação na estrutura de apoio.As telhas compostas de encaixe, por sua vez, possuem geometria formada por capa e canal no mesmo componente, para permitir o encaixe entre si, possuem pinos, ou pinos e furos de amarração, para fixação na estrutura de apoio. As telhas simples de sobreposição são formadas pelos componentes capa e canal independentes. A concavidade ou convexidade define a utilização como canal ou capa respectivamente. O canal deve apresentar pinos, furos ou pinos e furos de amarração, para fixação na estrutura de apoio; a capa está dispensada de apresentar furos ou pinos. As telhas planas de sobreposição somente se sobrepõem e que podem ter pinos para o encaixe na estrutura de apoio ou pinos e furos de amarração para fixação. Em média, o peso por unidade varia entre 2,5 kg e 3,6 kg, dependendo do fabricante. O rendimento desse tipo de telha costuma ser de 25 peças por m² e a inclinação exigida é de, pelo menos, 25%. É possível encontrá-la em diversas cores, além de opções esmaltadas. Figura 2.18: Tipos de telhas: plana de encaixe, composta de encaixe, simples de sobreposição e plana de sobreposição, respectivamente Fonte: IBRACON (p. 582) Além das propriedades mencionadas, a resistência mecânica deste componente deve ser compatível com os modos de transporte e de montagem do telhado. O ensaio mais utilizado para determinação desta propriedade é a o ensaio de ruptura à flexão. As cargas de ruptura à flexão não devem ser inferiores às indicadas na tabela abaixo. A telha colonial é um modelo de telha cerâmica simples de sobreposição bastante utilizado em projetos residenciais. Com um formato arredondado, essa é uma telha bem tradicional e presente em boa parte dos telhados. ENGENHARIA CIVIL 28 Materiais de Construção Civil II Tabela 2.4: Tipos de telhas e cargas de ruptura Tipos de telhas Exemplos Cargas N (kgf) Planas de encaixe Telhas francesas 1000 (100) Compostas de encaixe Telhas romanas 1300 (130) Simples de sobreposição Telhas capa e canal colonial 1000 (100) Telhas planas Telhas paulista Telhas Piauí Planas de sobreposição Telhas alemã e outras Fonte: Adaptado da ABNT NBR 15310:2009 Tabela 2.5: Exigências de fabricação para telhas cerâmicas Características da telha Especificação da norma Retilineidade Telhas planas: ≤ 1% do comprimento efetivo e ≤ 1% da largura efetiva Telhas simples de sobreposição e telhas compostas de encaixe: ≤ 1% da largura efetiva Planaridade ≤ 5 mm Tolerância dimensional ± 2,0% em relação às dimensões especificadas na norma Altura do pino Em telhas prensadas: ≥ 7 mm Em telhas extrudadas: : ≥ 3 mm Massa da telha seca No máximo 6% superior ao valor especificado no projeto do modelo da telha Absorção de água Em clima temperado ou tropical: ≤ 20% Em climas frios e temperados: ≤ 12% Em clima muito frio ou úmido, durante longos períodos, sujeitos a ciclos frequentes de gelo e degelo: ≤ 7% Impermeabilidade Não apresentar vazamentos ou formação de gotas em sua face inferior, ao longo do ensaio Características visuais São admitidos pequenos defeitos que não prejudiquem seu desempenho Sonoridade A telha deve apresentar som semelhante ao metálico, quando suspensa por uma extremidade e percutida Fonte: Adaptado do IBRACON (p. 584) 2.9.4 – Tubos cerâmicos Os tubos cerâmicos, ou manilhas, são utilizados para a canalização de águas pluviais e esgotos. São cilíndricos e podem ser retos ou fabricados com uma bolsa em uma das extremidades, que permite o encaixe diretamente com o tubo seguinte (tubos de ponta e bolsa). Para estes tubos, as juntas podem ser feitas de argamassa, betume ou elásticas, sendo as de betume semirrígidas e por isso mais duráveis. Durante o processo de queima, alguns tubos podem ser vidrados (nas duas faces ou apenas na face interna) com o lançamento de cloreto de sódio ao forno, o que lhes confere maior impermeabilidade. As dimensões dos tubos devem seguir o indicado na ABNT NBR 5645:1991. O diâmetro nominal varia entre 75 mm e 600 mm, enquanto o comprimento nominal pode ser de 600 mm, 800 mm, 1000 mm, 1250 mm, 1500 mm ou 2000 mm. ENGENHARIA CIVIL 29 Materiais de Construção Civil II Considerando as principais propriedades para a especificação de um tubo cerâmico de qualidade, observe as tabelas abaixo. Tabela 2.6: Resistência à compressão. Diâmetro nominal DN 75 100 150 200 250 300 350 375 400 450 500 600 Resistência (N/m) 15000 15000 15000 15000 16000 17000 19000 20000 22000 25000 28000 35000 Nota: Caso algum tubo rompa com valor inferior a 90% do especificado, o lote deve ser rejeitado. Fonte: Adaptado da ABNT NBR 5645:1991 Tabela 2.7: Exigências de fabricação para tubos cerâmicos. Características do tubo Especificação da norma Aspecto visual Não deve apresentar trincas e falhas Sonoridade Apresentar som característico de perfeita homogeneidade do material, quando submetido à percussão com martelo de madeira Permeabilidade Não apresentar vazamentos, quando submetido a uma pressão hidrostática interna de 70 kPa. É tolerada a formação de gotas na face externa do tubo, desde que estas não se desloquem sobre o tubo. O tempo de ensaio varia de 7 a 15 minutos, em função na espessura do tubo Absorção de água ≤ 10% Resistência química Resistir à ação química das águas puras, pluviais, servidas e residuárias, com exceção das que contenham ácido fluorídrico, e de solos de qualquer natureza. A perda de massa após ataque por soluções ácidas, durante 48 horas, deve ser inferior a 1% Fonte: Adaptado da ABNT NBR 5645:1991 As principais vantagens dos dutos de cerâmica incluem a simplicidade de fabricação, manutenção e reparo; as baixas taxas de rugosidade interna dos tubos de cerâmica, que fornecem uma alta vazão e uma eliminação suave do sedimento pelas paredes; a alta resistência mecânica; a resistência a temperaturas extremas; a inércia química; e a proteção confiável ao meio ambiente contra o contato com o conteúdo do esgoto. Como regra, as redes de esgoto são colocadas no solo, onde são submetidas a cargas estáticas e dinâmicas significativas. Com alta dureza e resistência ao estresse mecânico, a cerâmica garante a invariância da geometria da tubulação e elimina o aparecimento de rachaduras ou fraturas durante a operação. Ao contrário do plástico e do ferro fundido, a cerâmica não é exposta a mudanças bruscas de temperatura. Isso garante a integridade e a impermeabilidade dos tubos de esgoto de cerâmica, independentemente dos indicadores de temperatura dos ambientes externo ou interno. Entretanto, as vantagens que a cerâmica demonstra em comparação com o metal e o plástico não permitem ignorar suas desvantagens, que incluem fragilidade, instabilidade a temperaturas baixas, a complexidade do processamento "frio", a ENGENHARIA CIVIL 30 Materiais de Construção Civil II grande gravidade específica, a complexidade de transporte e instalação e o alto custo para a construção em pequena escala de redes de drenagem e esgoto. Apesar da alta resistência mecânica e resistência a cargas estáticas e dinâmicas, a cerâmica é um material muito frágil. Choques, mudanças repentinas na pressão interna ou externa, estresse mecânico durante a instalação são capazes de destruir o tubo. Uma desvantagem significativa do material é sua instabilidade a temperaturas negativas. Como resultado, tubos de cerâmica não são usados em regiões adversas. 2.9.5 – Outros produtos cerâmicos Há outros tipos de produtos de cerâmica vermelha disponíveis comercialmente, produzidos em quantidades menores que os demais componentes e divididos em: elementos vazados, como cobogós; ladrilhos e lajotas cerâmicas, utilizadas em pisos; plaquetas, utilizadas para revestimento de paredes; pingadeiras, utilizadas na parte superior de murose peitoris (evitar infiltração nas paredes); e tavelas, utilizadas em lajes volterranas. Figura 2.19: Cobogó cerâmico Figura 2.20: Lajotas cerâmicas Figura 2.21: Plaquetas cerâmicas Fonte: Leroy Merlin (2021) Fonte: Lajoteiro (2021) Fonte: Armazém Cerâmico (2021) Figura 2.22: Laje treliçada com tavelas (volterranas) Fonte: Escola Engenharia (2021) 2.10 – Materiais cerâmicos para acabamentos e aparelhos O revestimento cerâmico constitui-se de um sistema em que a qualidade de seu funcionamento depende de alguns fatores: 1. Qualidade da base ou substrato; 2. Qualidade do chapisco; 3. Qualidade da placa em função do local de uso; 4. Correta especificação de todo o sistema; ENGENHARIA CIVIL 31 Materiais de Construção Civil II 5. Correto assentamento. Estes fatores, portanto, são influenciados por uma correta preparação e aplicação da argamassa de rejunte e de uma mão de obra adequadamente treinada. Os revestimentos cerâmicos, se bem especificados em função do local de uso e bem assentados, apresentam excelente durabilidade, pois são materiais considerados inertes. Também, podem proteger as estruturas dos edifícios com relação a incêndio, pois são materiais não inflamáveis e de baixa condutividade térmica. Além destas propriedades, possibilitam diversas possibilidades de decoração e design aliadas ao baixo custo. As especificações do local de uso dizem respeito à absorção de água, à expansão por umidade e à resistência mecânica da base da placa. Posteriormente, deve-se especificar a facilidade de limpeza, o coeficiente de atrito, a dureza (para resistir ao risco proporcionado por sujeira nos calçados), a resistência à abrasão e a resistência ao ataque químico. Na fabricação de uma peça cerâmica, estas propriedades devem ser alcançadas concomitantemente ao baixo custo, alta absorção de água e baixa carga de ruptura admissível para o local. 2.11 – Processo de fabricação da cerâmica branca O início da produção da cerâmica branca nada difere do processo produtivo da cerâmica vermelha. Porém, visto que a cerâmica branca é utilizada para acabamento, promove-se etapas de esmaltação na fabricação deste material. Figura 2.23: Fabricação de revestimentos cerâmicos Fonte: IBRACON (p. 595) Normalmente, a maioria dos produtos cerâmicos é retirada dos fornos, inspecionada e remetida ao consumo. Alguns produtos, no entanto, requerem processamento adicional para atender a algumas características, não possíveis de serem obtidas durante o processo de fabricação. O processamento pós-queima recebe o nome genérico de acabamento e pode incluir polimento, corte, furação, etc. Muitos produtos cerâmicos, como louça sanitária, louça de mesa, isoladores elétricos, materiais de revestimento e outros, recebem uma camada fina e contínua de um material denominado de esmalte ou vidrado, que após a queima adquire o aspecto ENGENHARIA CIVIL 32 Materiais de Construção Civil II vítreo. Esta camada vítrea contribui para os aspectos estéticos, higiênicos e melhoria de algumas propriedades como a mecânica e a elétrica. Figura 2.24: Esquema de uma placa cerâmica Fonte: IBRACON (p. 594) Muitos materiais também são submetidos a uma decoração, a qual pode ser feita por diversos métodos, como serigrafia, decalcomania, pincel e outros. Neste caso são utilizadas tintas que adquirem suas características finais após a queima das peças. As composições dos esmaltes (vidrados) são inúmeras e sua formulação depende das características do corpo cerâmico, das características finais do esmalte e da temperatura de queima. Geralmente, são obtidos a partir de compostos minerais, que constituem seus três componentes básicos: elementos fundentes (chumbo, magnésio, cálcio e sódio); elementos opacificadores e refratários (estanho, zircônio e alumínio); e elementos vítreos (quartzo e feldspato). Esta esmaltação pode ser realizada por aplicação a velo, a disco, com aerógrafo ou por contato (pincel). Figura 2.25: Esmaltação a velo Figura 2.26: Esmaltação com aerógrafo Fonte: NETO, A. M. (2009, p. 9) Fonte: 123RF (2021) 2.12 – Características geométricas O controle das dimensões e formato dos revestimentos cerâmicos é fundamental para se garantir a qualidade do produto. Produtos que apresentam significativas variações dimensionais e/ou desvios da forma podem prejudicar os efeitos estéticos obtidos com as peças assentadas. Os parâmetros dimensionais também influenciam a seleção, estocagem ENGENHARIA CIVIL 33 Materiais de Construção Civil II e distribuição dos produtos, aumentando os custos operacionais quando se tem de trabalhar com várias bitolas. A obtenção de produtos capazes de atender os requisitos geométricos está diretamente ligada às características do processo de fabricação e com a estabilidade da massa utilizada A ABNT NBR ISO 10545-2/2020 estabelece os métodos para a determinação das características dimensionais (comprimento, largura, espessura, retitude dos lados, ortogonalidade, curvatura da superfície) e da qualidade superficial das placas cerâmicas. As tolerâncias admitidas pela norma são em função das dimensões nominais das placas, ou seja, placas maiores têm variações dimensionais permitidas maiores. No entanto, devido à retração que ocorre durante a queima, as dimensões reais das placas quase sempre diferem das dimensões nominais. Para que seja possível assentar as placas com rejuntamento adequado, os fabricantes identificam nas embalagens o número do lote, o que tem tolerâncias próprias de variações dimensionais. Logo, o usuário deve adquirir revestimentos sempre de um mesmo lote para evitar peças com variações geométricas diferentes definidas nesses calibramentos. Figura 2.27: Características geométricas Fonte: Cerâmica Industrial (2021) 2.13 – Características técnicas As placas cerâmicas disponíveis comercialmente apresentam características físicas e químicas diversas. O seu desempenho, quando assentadas, depende das condições de uso e do ambiente às quais estarão sujeitas. Assim, para uma correta especificação, é imprescindível o conhecimento dessas características. A absorção de água é uma propriedade do corpo cerâmico e está diretamente relacionada com a porosidade da peça. Outras características como a resistência ao ENGENHARIA CIVIL 34 Materiais de Construção Civil II impacto, a resistência à flexão, a resistência ao congelamento, a expansão por umidade e a resistência química estão associadas com a absorção de água. Fato este que justifica a presença desta característica, por exigência de norma, na embalagem de produtos cerâmicos. Os revestimentos cerâmicos possuem uma variação de absorção de água desde absorção quase zero para porcelanatos até cerca de 20% de absorção para azulejos. O método de ensaio, de acordo com a ABNT NBR ISO 10545-3/2020, consiste em pesar a peça após secagem em estufa (o tempo necessário para o alcance do peso constante), colocar a placa cerâmica em uma câmara à vácuo para a impregnação de água e pesá-la novamente. A absorção de água será a diferença de peso expressa em porcentagem, conforme a equação: 𝐸𝑉 = 100 𝑥 (𝑚2 − 𝑚1) 𝑚1 Onde, m1 é a massa da placa seca m2 é a massa da placa impregnada pela imersão sob vácuo A faixa de absorção de água é um dado importante na especificação de placas cerâmicas para utilização em locais onde as placas estão sujeitas a cargas diferentes, como, por exemplo, em pisos industriais, pisos em áreas públicas, garagens, paredes, fachadas. A resistência mecânica ao impacto refere-se à capacidade da placa de resistir a impactos, como queda de objetos pesados ou pontiagudos, e é uma característica necessária em locais sujeitos a fortes impactos, onde se trabalha com cargas pesadas. A avaliação desta propriedade
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