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3ª GERAÇÃO POÉTICA: Condoreira ou Hugoana → Poesia de forte apelo visual, luta pela abolição da escravatura, grandiloquência, sensualidade. → Autor principal: Castro Alves (“Poeta dos escravos”) O navio negreiro Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! Existe um povo que a bandeira empresta P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... E deixa-a transformar-se nessa festa Em manto impuro de bacante fria!... Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia? Silêncio. Musa... chora, e chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto!... Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança... Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!... Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu nas vagas, Como um íris no pélago profundo! Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! Andrada! arranca esse pendão dos ares! Colombo! fecha a porta dos teus mares! Uma noite... entreabriu-se um reposteiro... E da alcova saiu um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus... Era eu... Era a pálida Teresa! “Adeus” lhe disse conservando-a presa... E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!” Passaram tempos... séc’los de delírio... Prazeres divinais... gozos do Empíreo... ...Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...” Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou-me: “adeus!” Quando voltei... era o palácio em festa!... E a voz d’ela e de um homem lá na orquestra Preenchiam de amor o azul dos céus. Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa!... E ela arquejando murmurou-me: “adeus!” O adeus de Teresa A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus... E amamos juntos... E depois na sala “Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala... E ela, corando, murmurou-me: “adeus”. ROMANTISMO - PROSA E por que razão não podemos considerar o romancista a principal personagem da sua obra? Assim debatia comigo, ao reler o impetuoso Alencar. Ou melhor, ao ver: a sua obra entra pelos olhos como um filme, ela é sobretudo sugestão visual, sucessão de quadros vivos e ousados, com vigorosa concentração de luz sobre os episódios principais e, de vez em quando, o emprego do estratagema oportuno. Que soberano desprezo da verossimilhança! Que insolência admirável no seu vá como for, em que o poder de inventiva leva tudo de arrasto e a poesia tudo encobre! É verdade que não se encontra profundez alguma nessa riqueza de imagens; trata-se de uma obra construída em superfície, notável pelo poder descritivo, mas não acode a nin- guém procurar nas suas páginas outra coisa senão o encanto dessa mesma superfície. É belo o espetáculo e como tal satisfaz. (MEYER, Augusto. De um leitor de romances: Alencar. Sobretudo compreendam os críticos a missão dos poetas, escritores e artistas, nesse período especial e ambíguo da formação de uma nacionalidade. São estes os operários incumbidos de polir o talhe e as feições da individualidade que se vai esboçando no viver do povo. Palavra que inventa a multidão, inovação que adota o uso, caprichos que surgem no espírito do idiota inspirado: tudo isto lança o poeta no seu cadinho, para escoimá-lo das fezes que porventura lhe ficaram do chão onde esteve, e apurar o ouro fino. E de quanta valia não é o modesto serviço de desbastar o idioma novo das impurezas que lhe ficaram na refusão do idioma velho com outras línguas? Ele prepara a matéria, bronze ou mármore, para os grandes escultores da palavra que erigem os monumentos literários da pátria. (...) Portanto, ilustres e não ilustres representantes da crítica, não se constranjam. Censurem, piquem, ou calem-se, como lhes aprouver. Não alcançarão jamais que eu escreva neste meu Brasil coisa que pareça vinda em conserva lá da outra banda, como a fruta que nos mandam em lata. (José de Alencar. Bênção paterna.) A estreia se dá aos vinte e sete [anos] com Cinco Minutos, série de folhetins do Correio Mercantil em que esboça o primeiro dos "poemas da vida real". O Guarani, publicado no mesmo jornal à medida que ia sendo escrito, em três rápidos meses de 1857, é um largo sorvo de fantasia, que realiza talvez com maior eficiência a literatura nacional, americana, que a opinião literária não cessava de pedir e Gonçalves de Magalhães tentara n'A Confederação dos Tamoios. Toda a sua obra, por vinte anos, será variação e enriquecimento dessas duas posições iniciais: a complication sentimentale, tenuemente esboçada em Cinco Minutos e A Viuvinha, e a idealização heroica d'O Guarani. (...) Todavia, há pelo menos um terceiro Alencar, menos patente que esses dois, mas constituindo não raro a força de um e outro. É o Alencar que se poderia chamar dos adultos, formado por uma série de elementos pouco heroicos e pouco elegantes, mas denotadores dum senso artístico e humano que dá contorno aquilino a alguns dos seus perfis de homem e de mulher. (Antonio Candido. Formação da literatura brasileira.) Características do romance romântico: a) Histórias de amor → O sentimentalismo é mais visível na nova ficção. As histórias do Romantismo são histórias de amor, sentimento eleito como o principal objetivo da existência humana. O amor confere sentido à vida, dá forma ao caos. O leitor considera que sem o amor não há razão de ser, o indivíduo é um marginal. A chegada do sentimento excita e estimula. A impossibilidade da realização amorosa leva à morte. b) Heróis e Heroínas → A própria aparência física das personagens retrata a maior ou menor capacidade de amar: o herói e a heroína dos romances de amor são belos, corajosos, intrépidos, limpos. Os que não amam são feios, mesquinhos, abrutalhados, baixos. O romance romântico será o embate entre esses dois grupos, o jogo sempre repetido dos empenhos do amor versus o ódio e a intolerância; beleza contra feiura; verdade em oposição à mentira. Essa arte — a do romance romântico — estrutura um universo maniqueísta, isto é, um lugar onde o bem, para existir, deve estar sempre em confronto com as forças do mal. c) Individualismo burguês → A sociedade burguesa valorizou a conquista pessoal do poder econômico, estimulando a livre concorrência e o capital privado. O individualismo incorporou-se à literatura porque refletia o traço burguês de personalidade (a pessoa que consegue subir socialmente devido aos seus méritos pessoais) e porque satisfazia ao desejo da massa anônima, que acabava se "encontrando" em alguma personagem. Esse grande público, que cada vez mais se identificava com as personagens dos romances, exigiu que estes tivessem tramas cada vez mais novelescas, sempre em torno de grandes valores pessoais e conquistas heroicas. d) Protagonistas fortíssimos → O protagonista do romance burguês ama — e seu amor é sempre uma vontade impossível. O herói é castigado por todo tipo de sofrimento; é obrigado a enfrentar exigências do meio; está sujeito a toda sorte de reveses. É dele mesmo que depende para transpor todas as dificuldades e, nesse sentido, o herói é sempre um ser capacitado, vigoroso, de qualidades (cont.) fantásticas. Também se dissemina a literatura moralista, que tem um fundo de ensinamento. A intriga do romance romântico deixa clara a defesa do casamento, por exemplo, e não admite a prática sexual antes de sacramentado oficialmente o amor. Nesse sentido, a família é supervalorizada. e) Defesa do casamento → O romance burguês termina quando as personagens se casam. O essencial,então, foi obtido, pois o casamento é o fim último — o maior objetivo é constituir família. Os heróis românticos, sobretudo as mulheres, não podem deixar evidente terem sido tocados pelo desejo sexual. As personagens esforçam-se por fazer parecer que estão apenas preocupadas com o verdadeiro amor e todos se guardam para o "sim" à beira do altar, em juramentos de amor eterno. É um estado de coisas que se prolonga até nossos dias — basta notar as produções cinematográficas para a grande massa, as novelas de televisão, a litera- tura de best-sellers: muito amor, muita emoção, muito sentimento para compensar o peso da vida real. (CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Literatura. v.2. São Paulo: Saraiva, 1999.) Não é aqui o lugar adequado à narração da carreira do autor de Iracema. Todos vós sabeis que foi rápida, brilhante e cheia; podemos dizer que ele saiu da Academia para a celebridade. Quem o lê agora, em dias e horas de escolha, e nos livros que mais lhe aprazem, não tem ideia da fecundidade extraordinária que revelou tão depressa entrou na vida. Desde logo pôs mãos à crônica, ao romance, à crítica e ao teatro, dando a todas essas formas do pensamento um cunho particular e desconhecido. No romance que foi a sua forma por excelência, a primeira narrativa, curta e simples, mal se espaçou da segunda e da terceira. Em três saltos estava o Guarani diante de nós; e daí veio a sucessão crescente de força, de esplendor, de variedade. O espírito de Alencar percorreu as diversas partes de nossa terra, o norte e o sul, a cidade e o sertão, a mata e o pampa, fixando-as em suas páginas, compondo assim com as diferenças da vida, das zonas e dos tempos a unidade nacional da sua obra. (Discurso proferido por Machado de Assis na cerimônia do lançamento da primeira pedra da estátua de José de Alencar, em 1906.)
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