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LEO CUNHA ANDRE NEVES UM DIA UM Rio UM DIA, UM RIO da edição Editora Pulo do Gato, 20166 do texto Leo Cunha, 2016 O da ilustração André Neves, 2016 Epigrale na orelha da capa: versos do poema "O Tejo é mais belo que o riop que corre pela minha aldeia", de Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Alberto Caeiro, em O guardador de rebanhos (1911-12). Coordenação Pulo do Gato Márcia Leite e Leonardo Chianca Direção editorial Márcia Leite Projeto grálico e edição de arte André Neves Digitalização e tratamento de imagens Cesar Wolf Inpressåo Pancrom A edição deste livrO respeitou o novo Acordo Ortográfico da Lingua Portuguesa. Dados Internacionais de Latalogação na Publicação (CP) (anara Biasilena do Livro, SP, Brasil) Cunlha, Le0 Um dia, um ro Leo Cunha, André Neves. Sao Paulo: Lditora Pulo do Gato, 2016. ISBN 978 85 64974 96 8 1. Poesia Literalura infantojuvenl Titulo 16-07497 CDD-028.5 indices para catalogo SIslematico I Poesta: Literatura intantit 028.5 'esia Lilelalura intantojuvenil 028.5 FSC www.so.rg Càu 2 unpressao julho. 2017 I idos o5 dil eitns. desta edigào reservados à tditora Pulo do Gato. MISTO Parol praa Aontea reamadves pulo do gato uil uelieral Jarhn, 482. conj 22 CEP 01223-010 Sào Paulo, SP, Brasil Tel 155 1| 3214 0228 www.editorapulodogato combr FSC C18 UM RIO. CAMA DE CANOA ESPELHO DA LUA. CAMINHO DE PEIXE, CARINHO DE PEDRA. MINHA DANÇA COLORE OS MAPAS MEU CANTO REFRESCA AS MATAS. MINHAS VEIAS IRRIGAM FLORESTAS, ALIMENTAM O CERRADO ALIVIAM O SERTÃO. CORRI POR ENTRE TRIBOS POVOADOS. GENTES ENCHI DE CASOS OS PESCADORES. DE LEMBRANÇAS OS VIAJANTES, DE ENCANTOS OS MENESTRÉIS. UM DIA EU FUI RIOD. BACIA, VALE. EU ERA MELODIA.. HOJE SOU SILENCIo MEU LEITO VIROU LAMA, MEU PEITO, CHUMBOECROMO MINHAS MARGENS, TRISTEZA. EU ERA DOCE HOJE SOU AMARGO. MINHA ALDEIA MORA SUBMERSA DENTRO DE MIM COM LAGRIMAS DE MINÉRIO. VOU SANGRANDO ATÉ O MAR EU FUI UM RIO, UM DIA NA DE LA TIVE UMA PRAÇA UMA IGREJA UM SINOD UMA NOIVA. OUVIA O CANTO DAS LAVADEIRAS. AS FESTAS DE DOMINGO. NA MARGEM DE CÁ, EU TIVE UMA ESCOLA, UM CAMPINHO OUVIA OS GRITOS DAS CRIANÇAS, O TROTE DoS CAVALOS, O APITO DO TREM. DA TERCEIRA MARGEM, EU CHORO POR TUDO E POR TODOs. OLHO PROS LADOS E NÃO VEJO MAIS NINGUEM. sO RESTARAM C E BONECAS, ESPERANDO, TEIMOSOs, PELOS QUE PARTIRAM. NAS MINHAS DOBRAS NÃO SOBROU UM PEIXE, UM SAPO UMA COBRA NINGUÉM PRA CONTAR A HISTÓRIA HOJE QUEM CONTA A HISTÓRIA SOU EU. FU FUI UM RIO, UM DIA A FLORES NASCEM NO DESERTO. A ÁGUA BROTA NA ROCHA EA LUZ, DA ESCURIDÃO. SEREI UM RIO UM DIA . LEO CUNHA Os rios têm papel marcante na minha vida. Minha mãe e sua familia vieram de Ribeirão Vermelho, sul de Minas. Meu pai e sua família são de Jequitinhonha, a cidade, o rio, o vale. Quem me conhece sabe que meu Som favorito, o que me acalma, o que me descansa, é o barulho da água corrente, do córrego, do rio, da cachoeira. Poucas tragédias me abalaram mais do que a do Rio Doce engolido pela lama da mineração, em novembro de 2015. Mas, curiosamente, a editora Márcia Leite, da Pulo do Gato, não sabia de nada disso quando me escreveu, em março de 2016, para dizer que queria publicar um livro motivado pela tragédia do Rio Doce. Gostaria que o autor fosse mineiro e, mais que isso, desejava que fosse eu. Por pura intuição, ela me escolheu para este desafio. Tentei escrever a história como um lamento e, ao mesmo tempo, Como um grito de alerta, uma homenagem ao Rio Doce e a todos os rios que ainda banham, alimentam e enriquecem o nosso povo. Enxuguei o texto daqui e dali, deixando só mesmo o que era essencial pra contar a história. E as maravilhosas imagens do mestre André Neves mudaram o curso do texto e deram outra dimensão ao livro. Viva os rios e a poesia! ANDRE NEVES Tenho sorte. Nasci em Recife, cidade encantada por rios e poetas. O Capibaribe e o Beberibe são tão importantes quanto o Rio Guaiba para Os gaúchos e poetas de Porto Alegre, cidade onde vivo hoje. Inevitável contê-los, os rios correm sempre e pra sempre desaguam em mim. Eles aceitam tudo, silêncios e sonhos. Opoema do Leo chegou ao meu olhar como um grito de socorro tardio. O Rio Doce, indefeso, já havia aceitado sua tragédia. Só restava-me gritar também, por imagens. E minha forma de chorar com o tempo que, como Este livro foi publicado pela Editora Pulo do Gato em outubro de 2016, um més antes do primeiro aniversário agua, correra ao longo do caminho em que o próprio Rio Doce se reconstrói e se destina. Voze vida. Viva os rios e os poetas! da catástrofe que vitimou o vale do Rio Doce. Um lamento, um grito tardio de socorro, uma homenagem ao Rio Doce e a todos os rios que banham, alimentam e enriquecem nossas terras e nossa história. pulo do gato ISBN 978-85-64974-96-8
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