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Observatório do Valongo Curso de Astronomia Evolução do Pensamento Astronômico – 2022/1 TEORIA DO CONHECIMENTO E DO MÉTODO CIENTÍFICO uma introdução Gustavo F. Porto de Mello OVL361 – EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ASTRONÔMICO (60H – 4T + 0P - 4CR) Cosmogonia dos povos primitivos. A ciência dos gregos. Astronomia na Idade Média. A grande revolução: Copérnico; Kepler; Galileu; Newton. Medindo a Via Láctea. Surgimento da Astrofísica. A escala de tempo do Universo. A Grande Controvérsia: Curtis x Shapley. Os limites do Universo. O Método Científico. A busca por dados: observação. A busca por hipóteses: indução. O teste de leis: predição e controle. As descobertas empíricas. Pré-requisitos: Astrofísica Geral PLANO DO CURSO E EMENTA OFICIAIS Objetivo: Apresentar ao aluno a evolução da Astronomia e o papel dela no cenário da ciência contemporânea, desde seus primórdios até os tempos atuais. Apresentar e discutir os princípios do método científico. Bibliografia - os três livros estão disponíveis em nossa biblioteca: La Investigación Científica, 1985, Bunge, M., Ariel Methods On the Shoulders of Giants, 2002, Ed. Stephen Hawking, Running Press The Cambridge Illustrated History of Astronomy, 1997, Hoskin, M., Cambridge University Press Textos avulsos selecionados PLANO DO CURSO E EMENTA OFICIAIS O curso está basicamente dividido em três partes: 1- Teoria do Conhecimento e do Método Científico: tipos de conhecimento; epistemologia, gnosiologia e ontologia; estrutura e aplicação do conhecimento científico, métodos científicos; 2- Introdução à Filosofia: concepção; história; conceito de mundividência; métodos filosóficos; 3- Evolução do Pensamento Astronômico: história do pensamento cosmológico do ser humano, da antiguidade à atualidade, exemplificada através de revoluções marcantes de visão de mundo: da mitologia neolítica à cosmologia extragaláctica. Sobrando tempo: Paradigma, Sociologia e Psicologia Científicas. PLANO DO CURSO E EMENTA – O que faremos BIBLIOGRAFIA SUGERIDA Alguns autores do século XX com importantes contribuições ao tema, os quais estaremos citando repetidamente: Arthur Koestler (1905-1983) Os Sonâmbulos (1959) Thomas Kuhn (1922-1996) A Estrutura das Revoluções Científicas (1962) Karl Popper (1902-1994) A Lógica da Descoberta Científica (1934) Esses três titulos estão disponíveis em nossa bibliotecaKoestler Kuhn Popper BIBLIOGRAFIA SUGERIDA Outros textos sugeridos: Filosofia da Ciência: uma Introdução ao Jogo e suas Regras Rubem Alves, Ed. Brasiliense (1981) A Criação Científica Abraham Moles, Ed. Perspectiva (1998) A Imaginação Científica Gerard Holton, Ed. Zahar (1979) O Valor da Ciência Henri Poincaré, Ed. Contraponto (2007) Esses quatro titulos estão disponíveis em nossa biblioteca BIBLIOGRAFIA SUGERIDA Outros títulos recomendados: Conhecimento Humano: seu Escopo e seus Limites Bertrand Russell, Ed. UNESP (2018) O Método, volumes I, II e III Edgar Morin, Ed. Sulina (2003) A Formação do Espírito Científico Gaston Bachelard, Ed. Contraponto (1996) Outros autores recomendados: Jean Piaget Paul C. Davies Ilya Prigogine Paul Feyerabend TEORIA DO CONHECIMENTO E DO MÉTODO CIENTÍFICO O Problema da Realidade Tipos de Conhecimento Astronomia no contexto das Ciências Algumas definições fundamentais A Possibilidade do Conhecimento A Origem do Conhecimento A Essência do Conhecimento As Formas do Conhecimento O Problema da Verdade Metaciência: a Ciência do Método Científico Mecanismos de Geração do Conhecimento Científico O PROBLEMA DA REALIDADE A aceitação da realidade nas sociedades humanas não passa de uma mera convenção social, estabelecida por um consenso entre as percepções sensoriais de um grupo de indivíduos. A realidade humana é exclusiva e especificamente baseada na capacidade (ou incapacidade) da percepção de fenômenos através dos sentidos e sua posterior tradução pela mente. A construção da realidade é, portanto, interna ao indivíduo e gerada no psiquismo. Sua manifestação coletiva é transmitida entre indivíduos através da linguagem em suas várias expressões. A realidade é, assim, uma convenção social, com nuances sutis de acordo com a civilização e a época histórica em questão. Pergunta: pode haver uma substancial modificação ou evolução histórica na percepção coletiva da realidade? TIPOS DE CONHECIMENTO CONHECIMENTO MITOLÓGICO É um conhecimento primitivo apreendido diretamente do mundo natural por culturas primitivas, através de uma narrativa construída e aceita. Ela possui caráter universal dentro das comunidades que a produzem. A tradição oral, e suas formas de transmissão, é essencial para esse tipo de conhecimento − o conhecimento mitológico possui uma estrutura narrativa. É um conhecimento forjado a partir de moldes psicológicos apriorísticos (fortemente ancorados no inconsciente coletivo, e, portanto, em arquétipos). Ele explica, organiza, justifica e torna menos assustador o mundo natural, muito mais vasto que o ser humano − um mundo perigoso e ameaçador, e do qual a existência humana depende inteiramente. TIPOS DE CONHECIMENTO CONHECIMENTO MITOLÓGICO A forte recorrência de temas e explicações mitológicas em culturas de épocas e localidades totalmente diferentes sugere a universalidade dos temas mitológicos. Tais temas seriam fundamentais à arquitetura psíquica do ser humano, possuindo componentes neurológicas universais e enraizadas possivelmente até (especulam alguns) no código genético. O conhecimento mitológico é o primeiro e mais fundamental dos tipos de conhecimento, ocorrendo em todas as culturas humanas, sem exceção. Ele não possui componente racional relevante: ele é baseado essencialmente em um imaginário e uma narrativa que, ao descrever o mundo natural, lhe dá ordem e sentido – sendo que esses são autojustificáveis. TIPOS DE CONHECIMENTO CONHECIMENTO RELIGIOSO Do mesmo modo que o conhecimento mitológico, ele não possui componente racional relevante, sendo um conhecimento revelado − a verdade sobre o mundo é revelada por entidades supra- humanas diretamente aos seres humanos, através de veículos humanos, tais como profetas e mensageiros. Esse conhecimento possui também elementos de tradição e uma estrutura frequentemente arquitetada ao redor de textos sagrados. Seu aparecimento exige a sofisticação da sociedade a um certo nível mínimo. Ele visa, como o mito, a explicação e organização do mundo natural. Ao contrário do primeiro, porém, é hierarquizado, formalizado e institucionalizado, ocupando papel fundamental na estrutura político-econômica. Ele é capaz de criar estruturas de poder, como vemos em nossa sociedade até os tempos atuais. Pergunta: qual a diferença entre o poder individual, por exemplo, de um pajé em uma tribo indígena brasileira e poder individual de um bispo ou cardeal católico? Ambos possuem poder social. TIPOS DE CONHECIMENTO CONHECIMENTOS RELIGIOSO E MITOLÓGICO Essas duas formas de conhecimento não buscam a explicação do mundo natural baseada na ação racional do intelecto. Elas não necessitam, e não exigem, qualquer comprovação através de experimentação direta no mundo natural. Ou seja − são tipos de conhecimento não refutáveis. O fato de que esses dois tipos de conhecimento são não- racionais, universais entre as comunidades humanas (no caso do conhecimento religioso, desde que um nível mínimo de complexidade seja atingido), mutuamente excludentes se visualizados de dentro de sua lógica própria, e parte integrante da cultura das comunidades no seio das quais emergem, é extremamente revelador sobre a natureza psíquica humana. TIPOS DE CONHECIMENTO CONHECIMENTOS RELIGIOSO E MITOLÓGICO TEMAS DE PESQUISA ADICIONAL: − Observem o caso das religiões artificiais da Polinésia, tais como exemplificadas no Caso John Frum (vide o livro Deus: um Delírio, de Richard Dawkins, 2009) − É um fato histórico que os povos chineses e hindus desenvolveram uma filosofia natural altamente sofisticada, assim como religiões de riquíssimo imaginário, mas nenhuma forma de ciênciaquantitativa refutável. − Não existe uma fronteira clara entre os conhecimentos mitológico e religioso, assim como a “sofisticação” de uma sociedade não é quantificável de maneira absoluta. Os dois tipos de conhecimento mitológico e religioso, apresentam uma transição difusa entre si, assim como as características das sociedades que os abrigam. TIPOS DE CONHECIMENTO CONHECIMENTO FILOSÓFICO É um tipo de conhecimento que postula a possibilidade de compreensão do mundo através da racionalização por parte do intelecto humano. Os objetos do mundo são tratados através de imagens lógicas e racionais. A análise desses objetos, assim como seus relacionamentos, é baseada em um discurso linguístico e lógico (uma comunicação semiótica). Este tipo de conhecimento reconhece explicitamente seu perspectivismo histórico e sua própria evolução − ou seja, ele é teleológico − admite um progresso rumo a formas mais completas de conhecimento. Ele admite também uma refutabilidade limitada principalmente no terreno da lógica: essa refutabilidade é tanto mais possível quanto maior for o grau de formalização atingido (detalhes sobre esse fato serão vistos mais adiante). TIPOS DE CONHECIMENTO CONHECIMENTO FILOSÓFICO O conhecimento filosófico exige, para a sua emergência, de uma considerável sofisticação por parte das comunidades humanas. Ele se desconecta das duas formas mais primitivas de conhecimento na medida em que envida esforços internos para obter a sua própria legitimação, justificando sua atuação. Isso é possível uma vez que as imagens geradas e manipuladas se originam dentro de um contexto racional e lógico − não reconhecendo a autoridade do conhecimento meramente tradicional, coletivo, revelado ou não. Essas imagens são aceitas apenas se obedecerem a um conjunto, coletivamente acordado, de regras. Pergunta: a Teologia pode ser considerada como uma forma de conhecimento filosófico, mesmo quando praticada apenas dentro do contexto de uma determinanda religião? TIPOS DE CONHECIMENTO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Em perfeita harmonia com o conhecimento filosófico, o conhecimento científico produz imagens manipuláveis do mundo através da racionalização por parte do intelecto humano. Tais imagens devem ser tão formalizadas (matematizadas) quanto possível, e devem ser estritamente refutáveis. O critério final para o estabelecimento do valor de verdade das proposições feitas sobre o mundo natural é dado pela sua comprovação direta pela experimentação e/ou observação. A construção das hipóteses, modelos e teorias (que são as estruturas lógico-racionais do método) pode se dar exclusivamente no terreno do conhecimento filosófico, mas a ação científica deve se basear na experimentação sobre, e observação do, mundo natural. Tais estruturas lógico-racionais devem ser obrigatoriamente refutáveis através dessas experimentações. TIPOS DE CONHECIMENTO CONHECIMENTO CIENTÍFICO O objetivo central da primeira parte de nosso curso é uma apresentação da natureza, dos métodos e das regras de aplicação do conhecimento considerado científico, assim como alguns aspectos do seu relacionamento com as outras formas de conhecimento. PERGUNTA Porque os conhecimentos religioso e científico erigem-se clara e fortemente em estruturas de poder socio-político-econômico nas sociedades humanas, ao passo que os conhecimentos mitológico e filosófico não o fazem? ASTRONOMIA NO CONTEXTO DAS CIÊNCIAS ASTRONOMIA NO CONTEXTO DAS CIÊNCIAS A Astronomia é a mais antiga de todas ciências, se levarmos em conta as raízes originais do relacionamento humano com seus objetos de estudo. O conhecimento que atravessou milênios até a atualidade teve sua origem em épocas imemoriais a partir de um reconhecimento direto, no mundo natural, dos ritmos da natureza (sazonalidades), dos quais o ser humano primitivo dependia de modo crucial para a sua sobrevivência. O ritmo dia/noite, somado ao ritmo regular das estações, possuía influência direta sobre a disponibilidade de alimentos, o amadurecer de frutos e castanhas silvestres e as migrações de animais. Mais tarde, esses mesmos ritmos determinaram o plantio e colheita na agricultura e a criação de animais. Esses ritmos foram reconhecidos pelo homem primitivo de todas as culturas como fundamental. ASTRONOMIA NO CONTEXTO DAS CIÊNCIAS A Astronomia praticada no mundo moderno é uma aplicação das leis da Física e da Matemática em um contexto cosmológico. Como tal, ela é uma das ciências ditas exatas e também uma ciência descritiva da natureza. O que a distingue da Física, na grande maioria dos contextos, é o fato de que, ao contrário desta última, que é experimental, a Astronomia é uma ciência observacional. O cientista-astrônomo não possui nenhum acesso físico direto ao − e nenhum tipo de controle do − fenômeno estudado (feitas poucas exceções) e é obrigado a teorizar exclusivamente em função do que o fenômeno oferece à observação. Não estão disponíveis os mecanismos usuais de controle, separação de variáveis ou de delimitação do fenômeno, os quais podemos encontrar nos processos experimentais. ASTRONOMIA NO CONTEXTO DAS CIÊNCIAS A Astronomia exerce um fascínio junto à população de nossa sociedade que é absolutamente desproporcional em relação ao seu papel puramente numérico no cenário da ciência − como por exemplo, o número de pessoas atuando na área, volume total de financiamento, quantidade de artigos publicados na área, e outros critérios puramente quantitativos. A razão principal deste fato, possivelmente, é que ela é uma ciência que nos conecta, em um sentido filosófico, diretamente ao Cosmos − em oposição ao Caos. Alguns autores sustentam que existe uma profunda memória racial da época em que a astronomia, como parte da contemplação direta da natureza, era um de nossos canais mais diretos com o mundo natural. ASTRONOMIA NO CONTEXTO DAS CIÊNCIAS A Astronomia aborda, de uma maneira direta − pela mera natureza de seus objetos de estudo − questões fundamentais de origem e de identidade que estão entre os mais básicos questionamentos levantados pelo ser humano, seja nos contextos mitológico, religioso, filosófico ou científico. Existe uma clara relação de identidade entre a percepção individual e coletiva do ser humano e a natureza dos problemas abordados pela Astronomia. Isto poderia explicar (pelo menos na opinião de alguns) a razão do enorme interesse público, que constitui-se muito mais em uma identificação com o tipo de problema levantado por essa ciência do que um desejo efetivo de estudar em profundidade esse mesmo problema através de suas ferramentas formais. EPISTEMOLOGIA Termo oriundo do grego epistheme, que significa “saber teórico, intelectual”. É o ramo da ciência que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento (daí também ser designada como a filosofia do conhecimento). Ela é, por excelência, a disciplina que se ocupa em descrever a estrutura geral do conhecimento humano, nos seus vários tipos, descrevendo sua natureza, seu alcance, suas expressões e seus limites. Esse tipo de conhecimento (também denominado como o conhecimento do conhecimento) ou, mais propriamente, esse meta- conhecimento, de acordo com alguns autores, pode ser abordado através de métodos científicos. METACIÊNCIA A Metaciência é a Ciência do Método Científico, ou seja, a ciência da Ciência, uma vez que a própria Ciência, seja como postura filosófica ou como método de obtenção de conhecimento, é ela mesma um objeto de estudo − e, se possível, através de uma abordagem científica. O objetivo último da metaciência é voltar as armas da própria ciência para ela mesma, aplicando métodos objetivos com o intuito de elaborar uma teoria objetiva acerca do conhecimento e seus métodos de obtenção, a mais despida possível de considerações acerca do sujeito. Seria isso possível? METACIÊNCIA Em relação a seus objetivos, a metaciência se divide em: Visão Interna: − lógica (a simplificação do problema); − metodologia (como abordar o problema); − epistemologia (que não é coincidentecom uma teoria completa do conhecimento); Visão Externa: − psicologia (Como o cientista trabalha? Qual é a sua produtividade? Ele tem prazer ou sofrimento? Trabalha com liberdade ou sob pressão? Isoladamente ou em grupo?); − sociologia (Qual é a função e a dinâmica do cientista dentro de seus vários grupos sociais?); − história (Como se dá a evolução temporal da Ciência?). GNOSIOLOGIA Termo oriundo do grego gnesie, “genuíno”. Tal disciplina por vezes também pode ser chamada de gnoseologia. É o ramo da filosofia que se preocupa com a validade do conhecimento em função do sujeito cognoscente (o sujeito que exerce o ato de conhecer), ou seja, daquele que conhece, ou busca conhecer, o objeto. A chamada relação gnosiológica é definida como a relação estabelecida pelo sujeito com o objeto. O conhecimento necessariamente se estabeleceria através dessa relação, que invoca a criação de uma imagem. O objeto passível de conhecimento seria então não o objeto em si (como entidade ôntica) mas sim a sua imagem (como entidade ontológica) tal como criada pelo sujeito em seu psiquismo. Se passível de conhecimento, de ser conhecido, o objeto é considerado cognoscível. Perceba que a natureza da relação gnosiológica é necessariamente semiótica − ou seja, o objeto é representado através de signos (veremos esse tema em mais detalhes posteriormente). razão ilusões fantasias aversões desejos ? psicologismo (sujeito) ontologismo (objeto) representação denominação logicismo signo GNOSIOLOGIA ONTOLOGIA Termo oriundo do grego ontos, na forma genitiva, “relativo ao ser”. A ontologia é a ciência dos objetos e da natureza do ser. A ontologia trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres: o ato de ser, em resumo. Ela costuma ser confundida com a metafísica, o que é uma interminável fonte de confusão, como veremos mais adiante. O domínio do ontológico é aquele dos objetos enquanto imagens para um determinado sujeito, de tal modo que se possa falar em classes de objetos, ou seja, de um ser geral, coletivo e inespecífico. Já o domínio do ôntico é aquele do ato de ser do objeto particular em si, em seu ser concreto e específico, um ato de ser que não é necessariamente compartilhado com os demais objetos de mesma classe. ONTOLOGIA COMO UMA TEORIA DOS OBJETOS O objeto é definido como tudo que admite um predicado, que pode ser sujeito de um juízo, uma conceituação intimamente ligada à linguística. Um objeto não precisa existir fisicamente (ou seja, ele pode ser abstrato), basta que algo possa ser dito a respeito dele. Um exemplo de classificação de objetos em filosofia é o seguinte: 1- Objetos reais: objetos físicos (possuem espacialidade e temporalidade), objetos psíquicos (não possuem espacialidade, mas possuem temporalidade); 2- Objetos ideais: são inespaciais, atemporais, e apresentam ausência de interação com outros objetos. Exemplo: objetos matemáticos e relações ideais; 3- Objetos axiológicos: cujo ser reside em seu valor. Exemplo: valores morais, éticos, estéticos e religiosos. 4- Objetos metafísicos: dependendo da escola filosófica, pode consistir em uma unificação dos demais grupos, pois o objeto metafísico enquanto ser em si e por si ou absoluto contém necessariamente, como elementos imanentes, todos os objetos tratados pelas demais ontologias ONTOLOGIA A ação ou operação do sujeito sobre qualquer objeto, seja no domínio da visualização, do discurso (logos), da lógica ou da intelectualização gera, inevitavelmente, uma distorção deste objeto. A relação gnosiológica, definida como a relação entre sujeito e objeto, afasta necessariamente, portanto, a imagem produzida pelo sujeito do objeto que a gerou. No domínio do ontológico o objeto pode ser qualquer coisa pensável e qualquer realidade representável. Exercício: Exemplifique e contraste a natureza concreta ou abstrata de diferentes objetos ontológicos O EXPERIMENTO INTERSUBJETIVO É definido como a interseção entre distintos sujeitos, entre as subjetividades específicas destes sujeitos. Uma vez que cada sujeito distorce o objeto de acordo com as características individuais de sua imagem particular, o conhecimento objetivo (ou seja, independente do sujeito) do objeto poderia em princípio ser recuperado através dessa interseção de conhecimentos subjetivos do objeto, de modo a evidenciar aspectos do objeto que fossem comuns a todas as imagens. Acredita-se, portanto, que a interseção, entre sujeitos, de seu particular conhecimento subjetivo do objeto, levaria, através desse experimento, a um conhecimento objetivo do objeto, abstraindo todos os sujeitos e suas distorções particulares. O EXPERIMENTO INTERSUBJETIVO Esse conceito bastante direto e simples subjaz, como um alicerce fundamental, a todo o gigantesco edifício construído pelo método científico tradicional e, portanto, a todo o conhecimento científico. O experimento intersubjetivo é a ferramenta fundamental de acesso à realidade. Ele se encontra como premissa no início do processo intelectual que gera todo o conhecimento científico, percebido como um processo coletivo. Desde esse ponto de vista, que é essencial dentro do conhecimento científico (uma vez que este busca a objetividade, eliminando o sujeito), o conhecimento não estaria em nenhum dos três domínios, nem no do sujeito, nem no do objeto, nem no da imagem: ele transcenderia os três. A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO Dogmatismo Dogma: definido como uma proposição aceita dentro de um sistema de pensamento, não sendo demonstrável de dentro deste mesmo sistema, ou seja, ele é externo à estrutura lógica do sistema, não podendo ser obtido através dela. A Escola do Dogmatismo é considerada como uma escola otimista e gnosiológica (ou seja, ela postula a possibilidade da relação gnosiológica). Ela acredita na possibilidade do conhecimento. O ser humano disporia da ferramenta necessária, que seria a razão – a ação intelectual como geradora de imagens sobre os objetos. Criticismo Essa escola identifica o papel central que a premissa exerce sobre a possibilidade de conhecimento e da construção da relação gnosiológica. As premissas são proposições aceitas sem questionamento, e supostas como verdadeiras dentro de uma estrutura lógica sem se fazer necessária uma referência aos fatos. Essa escola introduz a necessidade de uma postura crítica para vigiar a ação do racionalismo. Ela identifica o problema crucial da premissa na estrutura puramente lógica e formal do pensamento. É uma escola ainda assim otimista − que crê na possibilidade do conhecimento. A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO Relativismo O ser humano é a medida de todas as coisas: É uma escola pessimista que enfatiza que a relação gnosiológica é inevitavelmente condicionada às circunstâncias específicas do sujeito e do objeto − e, consequentemente, também da imagem. Relativismo físico: circunstância espaço-temporal Relativismo fisiológico : circunstância orgânica Relativismo psicológico: circunstância individual Relativismo antropológico: circunstância histórica e/ou cultural A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO Relativismo A Escola do Relativismo reconhece a importância fundamental da mundividência, ou da visão de mundo (em alemão: Weltanschauung) na construção da relação gnosiológica. A mundividência envolve a imagem criada mais a postura do sujeito, e ela não é contemplável como um retrato do mundo por um esforço intelectual externo à imagem. A mundividência está enraizada na psique do sujeito, faz parte de seu ser e de sua vida, não podendo ser abstraída no plano do indivíduo. A Ciência busca a imagem do mundo, porém o cientista possui apenas a mundividência. A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO Relativismo O ser humano é a medida de todas as coisas: É interessante perceber que o MITO é uma mundividência sem pretensões de chegar a imagem, sem pretensões de universalidade. O MITO é extremamente poderoso nas culturas humanas porquê ele é vivenciado. Sua natureza também éordenatória e explicativa, e ele tenta explicar e justificar a realidade através de uma vivência direta do mundo natural. A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO Perspectivismo É uma escola também otimista a respeito da relação gnosiológica, e que encara a mundividência do indivíduo como um reflexo da realidade. Cada uma dessas mundividências seria válida e necessária, contribuindo para uma perspectiva coletiva geral. Essa escola busca unir todas as perspectivas, obtendo assim a imagem de mundo da realidade a partir dessas composição das facetas individuais. A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO Historicismo É uma escola otimista que busca a formação da imagem de mundo a partir da integração de diversas perspectivas (mundividências) localizadas no tempo. Desse modo essa escola pode ser vista como um perspectivismo colocado em um contexto histórico (temporal). Nesse sentido ela reconhece explicitamente o sentido teleonômico (progressista) do conhecimento científico. A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO Ficcionalismo Trata-se de uma escola altamente pessimista que considera o conhecimento como constituído de meras ficções, por vezes até conscientes, acerca das imagens de mundo. Nessa acepção, nosso conhecimento da realidade seria nada mais que um reflexo puramente ficcional de um mundo real que seria completamente inacessível em sua natureza real (vide a famosa parábola da caverna de Platão). As imagens de mundo seriam tão fortemente distorcidas a ponto de não representarem efetivamente nenhuma informação sobre o mundo real objetivo. A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO Pragmatismo É uma escola bastante radical que só visualiza o interesse do conhecimento na sua componente operacional ou pragmática. Nessa perspectiva de pragmatismo extremo, o conhecimento só tem valor através de sua aplicação prática nos afazeres humanos. É interessante observar que, nesta visão, o valor do conhecimento aplicado existe independentemente de sua origem teórica − e que o próprio conhecimento aplicado prescinde de uma teorização inicial. A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO Ceticismo É uma escola altamente pessimista que sustenta que a obtenção do conhecimento simplesmente não é possível. Na acepção dessa escola seria impossível construir a relação gnosiológica. A imagem não teria qualquer relação com o objeto. A realidade seria totalmente inacessível aos sujeitos cognoscentes, mesmo que parcialmente. Essa escola explicitamente reconhece a natureza incognoscível dos objetos do mundo real. A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO Ceticismo Visões Otimistas Visões Pessimistas É impossível construir a relação gnosiológica FiccionalismoDogmatismo Criticitismo É possível construir a relação gnosiológica, e ela é válida (útil) Relativismo Perspectivismo Historicismo Pragmatismo É possível construir a relação gnosiológica, mas ela é fortemente condicionada É possível construir a relação gnosiológica, mas ela é inútil A relação gnosiológica nos informa sobre a realidade objetiva de modo substancial A relação gnosiológica nos informa tanto sobre nós, sujeitos, quanto sobre a realidade objetiva A relação gnosiológica não nos informa sobre nada A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO A ORIGEM DO CONHECIMENTO Racionalismo É uma visão da origem do conhecimento que sustenta que o ser humano possui a priori algum tipo de conhecimento através da racionalidade. Essa visão considera que o conhecimento possui pontos de partida que são juízos universais e necessários. Nesse sentido ela é favorável ao conceito de que algum tipo de mapeamento direto da realidade na psique é possível. Exemplo de juízo universal: Todos os corpos possuem extensão. Empirismo É uma visão bastante radical da origem do conhecimento que sustenta que não existe nenhuma forma de conhecimento a priori. Apenas a experimentação ou observação seriam capazes de gerar o conhecimento, produzindo, a partir daí, a necessidade de sua teorização. Desse modo, o empirismo postula que o conhecimento necessariamente nasce da ação da experimentação e nela termina. A ORIGEM DO CONHECIMENTO Intelectualismo É uma visão mista que parte do empirismo: no ato de coletar informações do mundo natural, o ser humano abstrai desse ato uma estrutura racional, lógico-formal. Desse modo, o ato de observação torna o sujeito capaz de manipular outros fluxos de informação. O fato empírico influencia a capacidade de formalização, e o uso da ferramenta racional influencia a percepção dos fatos empíricos, em um processo recorrente. conhecimento = conteúdo de percepção + lógica formal A ORIGEM DO CONHECIMENTO Apriorismo É uma visão que postula que os moldes mentais são natos, e são capazes dessa forma de operar aprioristicamente sobre o conteúdo da percepção, gerando assim o conhecimento. Nessa visão o ser humano possuiria embutidos na sua natureza biológica os métodos de aquisição do conhecimento, operando diretamente sobre o mundo natural de modo apriorístico. A ORIGEM DO CONHECIMENTO A priori A posteriori Apriorismo Os moldes mentais de aquisição do conhecimento são natos e biológicos O ser humano está equipado intrinsecamente em sua natureza biológica para a aquisição do conhecimento A ORIGEM DO CONHECIMENTO Racionalismo Empirismo O conhecimento só pode se originar na experimentação O ser humano só atinge o conhecimento quando realiza experimentos A racionalidade é um ponto de partida universal e necessário Algum tipo de mapeamento da realidade é possível através da ação do racional Intelectualismo O fato empírico interage com a capacidade de formalização, e vice-versa A coleta de informações do mundo real potencializa uma estrutura lógico-formal A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO Existe uma questão essencial dentro da discussão da essência do conhecimento: o que é mais importante, o sujeito ou o objeto? A postura majoritária difundida dentro da Ciência ocidental é a de que o objeto domina. O cientista busca retirar sua subjetividade para, através da imagem e do experimento intersubjetivo, poder assim extrair os elementos intrínsecos ao objeto, sendo essa a finalidade última do processo científico. Em outras palavras, buscamos evoluir de nosso conhecimento subjetivo, individual do objeto, para um conhecimento objetivo, coletivo do objeto. A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO Dentro dessa ótica, distinguimos duas escolas centrais de pensamento: Objetivismo O objeto é o senhor da situação e o elo mais fundamental da relação gnosiológica. Subjetivismo O sujeito é o senhor da situação: o objeto se confunde com o processo de criação da imagem pelo sujeito. Objetivismo Realismo Nessa visão da essência do conhecimento, existe uma crença na existência concreta dos objetos reais. O experimento intersubjetivo, desse modo, deixa inevitavelmente como resíduo algo que reflete a objetividade do objeto. A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO Objetivismo O Realismo possui diversas acepções: Ingênuo: o sujeito tem acesso direto à realidade, sem a necessidade da formação da imagem; Natural: reconhece a necessidade da formação da imagem, mas mantém a crença de que esta gera um acesso direto à realidade, ou seja, a imagem teria alto grau de pureza; Crítico: entende a imagem como falha e incompleta, aceitando que a relação gnosiológica é possível, mas alerta que os canais epistemológicos são inevitavelmente ruidosos. Subjetivismo Idealismo Nessa visão da essência do conhecimento, existe uma crença na existência apenas de objetos ideais. Não existiriam objetos reais, apenas coisas incognoscíveis. O sujeito seria o elo fundamental da relação gnosiológica nessa acepção, diante da incognoscibilidade intrínseca do mundo natural − em outras palavras, o mundo real existe, mas não temos acesso à ele. A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTOSubjetivismo Fenomenalismo Nessa visão da essência do conhecimento, as ordenações (imagens) sobre o universo são realizadas pelo observador.A forma dessas ordenações é subjetiva, mas o conteúdo poderia ser objetivo. Chega-se ao COMO, mas nunca ao PORQUÊ. Nomes fundamentais nessa escola filosófica são Immanuel Kant (1724-1804) e Edmund Husserl (1859-1938). Kant Husserl Subjetivismo Fenomenalismo Immanuel Kant, em relação à fenomenologia, pretendeu conciliar o realismo do senso comum, segundo o qual nossas representações correspondem às coisas, e o fenomenismo, que reduz toda a realidade apenas a estas representações (imagens). Para Kant, só existiriam os fenômenos, representados por imagens, e jamais conseguimos atingir as próprias coisas, que seriam os objetos reais. Ou seja, o mundo real existe, apenas não podemos conhecê-lo tal como é. A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO Kant Objetivismo Subjetivismo o objeto é o elo fundamental da relação gnosiológica; podemos extrair elementos intrínsecos (objetivos) ao objeto existem objetos reais: o experimento intersubjetivo reflete algo sobre a objetividade do objeto A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO Realismo Fenomenalismo Idealismo o sujeito é o elo fundamental da relação gnosiológica; existem apenas objetos ideais se existem objetos reais, jamais o saberemos: a realidade é incognoscível o objeto é objetivo; mas as ordenações (imagens) sobre o objeto são sempre subjetivas Realismo Ingênuo: não existe imagem Realismo Natural: a imagem é perfeita, ou quase isso Realismo Crítico: a imagem é falha; a relação gnosiológica é possível, mas os canais epistemológicos são ruidosos existem objetos reais, objetivos, mas nós apenas conheceremos as nossas representações (fenômenos) subjetivas É aquele conhecimento posto sob a forma de um discurso linguístico. O discurso está sempre associado a um sistema linguístico, e este é formal, ou seja, está sujeito a regras (sintaxe). O discurso consiste de um sistema de pensamento, um conjunto de proposições que enunciamos de forma coerente e logicamente conectada, com significado (semântica). O discurso ocupa tempo para ser enunciado (ou seja, ele possui estrutura temporal). AS FORMAS DO CONHECIMENTO Conhecimento Discursivo AS FORMAS DO CONHECIMENTO Conhecimento Discursivo O domínio do linguístico constitui-se em uma interface inevitável entre o suposto mundo objetivo e o mundo das imagens. A interface faz uma decodificação da linguagem do mundo para a linguagem humana. O mundo teria então uma sintaxe; o ser humano introduz uma semântica e uma pragmática. Sobre a relevância da sintaxe, semântica e pragmática, veremos mais adiante. AS FORMAS DO CONHECIMENTO É aquele conhecimento que não pode ser posto sob a forma de um discurso, ou seja, ele não é reduzível à lógica. Essa forma de conhecimento materializa aquelas formas que não podem ser comunicadas, o que apresenta-se necessariamente como uma limitação à realização do experimento intersubjetivo. Os cientistas sempre sabem mais do que conseguem comunicar (Michael Polanyi) A objetividade absoluta em ciência é uma perigosa ilusão (Michael Polanyi) Conhecimento Tácito AS FORMAS DO CONHECIMENTO Polanyi rejeitou alegações de empiricistas britânicos de que toda a experiência poderia ser reduzida a informações sensoriais. Segundo Polanyi nossa experiência é interpretada e nossas interpretações frequentemente se baseiam em práticas adquiridas. Conhecimento Tácito Michael Polanyi Michael Polanyi (1891-1976) foi um polimata húngaro-britânico que deu importantes contribuições às teorias do conhecimento em geral, e à do conhecimento tácito em particular. Ele influenciou a obra de Thomas S. Kuhn. AS FORMAS DO CONHECIMENTO Bons exemplos de formas de conhecimento tácito são o aprendizado de uma linguagem por parte de crianças, e todo tipo de conhecimento baseado diretamente em experiência pessoal, como aprender a andar de bicicleta ou a esquiar. O conceito de que sabemos mais do que podemos verbalizar explica, por exemplo, porquê aprendizes adquirem conhecimento não explícito, ou seja, alunos melhoram suas habilidades meramente observando um mestre em ação. Conhecimento Tácito AS FORMAS DO CONHECIMENTO Esse tipo de conhecimento configura-se em uma emergência completa, das partes para o todo, em um nível subliminar e inconsciente. Trata-se de uma forma de racionalização difícil de ser estudada; porém, há inúmeros exemplos nas ciências onde este tipo de conhecimento deu contribuições fundamentais em um campo. O conhecimento intuitivo não pode ser analisado, ou seja, não é possível reconstituir seu desenvolvimento de maneira temporal ou lógica. Ele emerge em seu todo sem nenhuma construção analítica intermediária que possa ser discernida. Conhecimento Intuitivo O PROBLEMA DA VERDADE A verdade como uma concordância entre objeto e imagem; A verdade como uma coerência entre ideias (uma nova ideia deve ser coerente com o conhecimento sistêmico anterior); A verdade como uma demonstrabilidade formal; A verdade como eficácia; A verdade como aplicação tecnológica; A verdade como propriedade física observável; A verdade como consenso social; A verdade como capacidade de previsão; A verdade é apenas científica e racional? O PROBLEMA DA VERDADE Em relação à essência e a possibilidade do conhecimento, a grande maioria dos cientistas ocidentais posiciona-se como: Objetivista O objeto é fundamental e prioritário: a subjetividade do cientista deve ser abstraída; Realista Existem objetos reais, independentemente do sujeito, e a imagem os representa pelo menos parcialmente; Criticista É essencial vigiar as premissas na estrutura lógica do raciocínio. A POSTURA DOS CIENTISTAS MECANISMOS DE GERAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Os pontos de partida filosóficos, ou premissas básicas, para a geração do conhecimento científico são: Primeira hipótese (filosófica) Existem objetos reais em um mundo real, e o exercício da objetividade pode extrair estes aspectos reais das imagens subjetivas criadas pelos observadores, desde que essa subjetividade possa ser abstraída. Segunda hipótese (ontológica) A realidade manifesta-se em diferentes níveis que estão hierarquicamente dispostos em crescente complexidade. MECANISMOS DE GERAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO − A estrutura pergunta-resposta é fundamental como uma ferramenta de conhecimento: O conhecimento científico é gerado através de perguntas, ou seja, observações e/ou experimentos, feitos ao/sobre o mundo natural, sendo os resultados observados desses atos considerados como as respostas. − A importância do sentido da pergunta: A pergunta circunscreve e determina a natureza da resposta. O próprio caráter da pergunta condiciona e elimina as possibilidades de interpretação. MECANISMOS DE GERAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO − A inutilidade de obter-se a resposta para uma pergunta mal formulada: Uma pergunta irrelevante feita no contexto de determinado problema não contribuirá para a obtenção de conhecimento sobre esse problema, mesmo que se obtenha uma resposta. − A dialética hegeliana no contexto filosófico − hipótese, antítese e síntese: Hipóteses geram a necessidade de observações, que podem gerar um contraditório (antítese) à hipótese, após o que se elaborará uma nova tese que irá, por sua vez, gerar novas hipóteses e novas observações em um processo cíclico, rumo à uma síntese final (considerada sempre temporária). MECANISMOS DE GERAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO O objetivo do conhecimento, em toda a sua variedade, é satisfazer uma ansiedade completamente natural do ser humano em organizar psicologicamente, de modo integrado e coerente, as percepções sensoriais que são recolhidas do mundo. Esse processo de organização possibilita a existência humana e a sua ação sobre o mundo − na verdade, ele se constitui em uma parte significativa da existência psíquica humana por si só. O ser humano é o único animal, tanto quanto se saiba, que tece considerações psíquicas sobre o mundo. Uma das consequências do conhecimento científico é a possibilidade de tecnologia complexa − com profundasalterações no meio ambiente. Vocês são capazes de conceber a civilização humana atual sem a presença de tecnologia complexa? MECANISMOS DE GERAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO As abordagens filosófica e científica podem ser consideradas apenas como uma linguagem: o que elas introduzem de novo é a natureza racional da pergunta feita ao mundo natural, e a expectativa em relação à resposta. Os conhecimentos mitológico e religioso utilizam apenas elementos não-racionais na constituição do conhecimento. Eles não preconizam a necessidade de fazer-se uma pergunta ao mundo, nem estão preocupados com uma eventual resposta. Eles tão somente criam o conhecimento a partir de um imaginário interno. É importante reconhecer-se que a única fonte psíquica que o ser humano possui para criar hipóteses (refutáveis ou não) em filosofia e ciência é tão somente esse mesmo imaginário… MECANISMOS DE GERAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO A Ciência, basicamente, introduz como um fato novo a capacidade de predição dos modelos baseados na racionalidade, na experimentação e no princípio de refutabilidade, além da formalização matemática dos resultados. É uma necessidade fundamental do processo científico que o ser humano questione constantemente, sem privilegiá-las em nenhum momento, as suas crenças mais queridas e reconfortantes. A esmagadora maioria das pessoas acha essa postura extraordinariamente difícil de manter… (Loren Eiseley) MECANISMOS DE GERAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Existe uma hierarquia, dentro do método científico, que vai da instância da HIPÓTESE, para a do MODELO, e por último para a da TEORIA, que é a instância máxima − representando o máximo nível de abrangência e sofisticação do pensamento científico. As divisões entre a abrangência dos três termos é bastante clara e hierárquica, mas podem se tornar um pouco difusas dependendo do contexto específico. HIPÓTESE, MODELO e TEORIA A HIPÓTESE é qualquer proposição intelectual objetiva sobre o mundo natural que tenha um imediato valor explicativo, ou seja, tenha uma interpretação causa-efeito admissível a partir de um ou mais fenômenos. Ela deve ser imediatamente testável e passível de ser descartada se não sobreviver a um teste observacional direto. Se bem sucedida, novas hipóteses podem ser formuladas a partir da hipótese original, erigindo eventualmente um sistema de hipóteses logicamente interligadas, cujo valor explicativo e interpretativo vai crescendo com a complexidade. Exemplos: qualquer construção lógica simples com uma relação causal. "Sempre que chove, ocorre um arco-íris", é uma hipótese. "Se chove, ocorre arco-íris se o sol está em uma determinada posição em relação às nuvens de chuva" é uma hipótese composta. HIPÓTESE, MODELO e TEORIA O MODELO evolui de um sistema de hipóteses e normalmente visa explicar um fenômeno de maneira abrangente. Um conjunto de hipóteses, quando bem sucedido, pode se tornar um modelo. Ele é hierarquicamente superior à hipótese por ter um valor explicativo mais abrangente e geral, podendo eventualmente ser exportado de uma área de conhecimento para outra. O modelo pode ter algumas de suas partes rejeitadas e substituídas, mas normalmente ele nasce de um conjunto de hipóteses cujo valor explicativo já foi estabelecido. É comum modelos serem passíveis de ajustes, adendos e correções e, mesmo quando incompletos, podem continuar a ser relevantes em sua área do conhecimento. Modelos podem mostrar relação entre si e se reunir para obter explicações mais amplas sobre uma gama de fenômenos. As hipóteses são construções simples que podem ser descartadas com facilidade. Um modelo, para ser descartado, tem que ser desafiado em vários níveis, e esse processo pode constituir-se em uma pequena revolução dentro de uma área específica do conhecimento. Exemplos: o oscilador harmônico amortecido e forçado; o modelo de Bohr para o átomo de hidrogênio; os modelos geocêntrico e heliocêntrico. HIPÓTESE, MODELO e TEORIA A TEORIA evolui quando um modelo, ou conjunto deles, atinge abrangência suficientemente ampla para ter impacto significativo na compreensão global de um vasta área do conhecimento, oferecendo uma explicação fundamental acerca das causalidades da natureza. Ela deve prover uma compreensão prática mas também filosófica de um conjunto de fenômenos. A teoria é uma entidade tão abrangente, intelectualmente falando, que pode ter influência ou relevância mesmo para fora de seu domínio específico de especialidade, ou mesmo para fora do pensamento científico! Uma teoria deve ser acurada em suas predições, consistente na sua formulação, de ampla aplicabilidade, e deve apresentar os fenômenos de modo ordenado e coerente. Ela deve ainda ser profícua em sugerir novos fenômenos potencialmente observáveis, assim como expor novos relacionamentos entre fenômenos já conhecidos. A teoria possui a hierarquia máxima dentro das estruturas explicativas científicas e só pode ser desafiada e/ou substituída através de um processo prolongado, conflituoso e intenso, e por vezes até revolucionário (ver Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas). HIPÓTESE, MODELO e TEORIA A teoria está normalmente associada a um paradigma, que é uma estrutura que transcende o nível puramente intelectual e possui também fortes componentes psicológicas e sociológicas, erigindo um verdadeiro sistema integrado de pensamento e de comportamento. O paradigma é uma instituição social que se defende e busca preservar a sua existência. Thomas S. Kuhn deu grandes contribuições ao conceito de paradigma em ciência, e de como o progresso científico está associado à quebra de paradigmas, que seriam as revoluções científicas. Kuhn via as tais revoluções como normais, recorrentes e periódicas. Um paradigma, deve enfrentar uma crise aguda e prolongada através da identificação de anomalias, desvios e incongruências, até que surja suficiente motivação sociológica para que o mesmo abandonado. A crise, na visão de Kuhn, é necessariamente positiva − o abalo do paradigma gerará um novo e melhor conhecimento. Exemplos de Teorias: Teoria da Gravitação; Eletromagnetismo Clássico; Termodinâmica; Mecânica Analítica; Teoria da Evolução das espécies através da seleção natural. HIPÓTESE, MODELO e TEORIA OS MÉTODOS 1) Estabeleça as diferenças, assim como os pontos em comum, entre os tipos de conhecimento mitológico e religioso, esclarecendo seus métodos e caráter psicológico, assim como o contexto social e histórico quando for necessário. 2) Estabeleça as diferenças, assim como os pontos em comum, entre os tipos de conhecimento filosófico e científico, esclarecendo seus métodos e caráter psicológico, assim como o contexto social e histórico quando for necessário. 3) Jamais haverá uma certeza ôntica a respeito da realidade enquanto a apreensão destas por parte do ser humano for baseada na percepção sensorial. Entretanto, o método científico obtém uma descrição objetiva da natureza que é socialmente aceita. Desenvolva. 4) No contexto das ciências do mundo natural e matemáticas, a Astronomia desperta um interesse bastante direto do público, apesar de estar de modo geral envolvida com questões bastante afastadas do cotidiano da sociedade. A que você atribuiria esse fato? 5) A gnosiologia é a disciplina que estuda a relação do objeto com o sujeito em função da construção da imagem como canal epistemológico. A Ontologia é a disciplina que estuda a natureza do objeto enquanto apreendido em função dessa imagem. Esclareça as semelhanças e diferenças entre essas disciplinas. QUESTÕES 6) A ciência é um tipo de conhecimento que visa a objetividade, ou seja, obter o entendimento do mundo de forma independente das particularidades do sujeito. Com esse objetivo, a ciência torna o conhecimento público, onde a crítica e a discussão têm por finalidade eliminar os “resíduos” individuais, Você vê algum limite nesse processo? Justifique. 7) A linguagem científica é usada para comunicar o conhecimento científico, e ela deve idealmente ser a mais formal possível.Toda linguagem, entretanto, possui sintaxe, semântica e pragmática. Na sua opinião existe algum limite na comunicação do conhecimento científico enquanto linguagem? Justifique. 8) Descreva o que você entende por Experimento Intersubjetivo. 9) Descreva o que você entende por Relação Gnosiológica. 10) Como se distinguem as escolas pessimistas e otimistas de Epistemologia, no que diz respeito à possibilidade do conhecimento? 11) Como você entende a diferença, se é que existe, entre a Epistemologia e a Ontologia? 12) A respeito da possibilidade de obtenção de conhecimento, a vertente filosófica do Dogmatismo sustenta que a relação gnosiológica é possível através do uso da lógica e da razão humana. De que modo a escola filosófica do Criticismo relativiza essa posição? QUESTÕES 13) A respeito da essência da obtenção do conhecimento, qual é a diferença entre as escolas do Objetivismo e a do Subjetivismo? 14) A Ciência ocidental que praticamos autointitula-se racionalista, realista, crítica e objetivista. Explique. 15) Porquê em Ciência e Filosofia atribui-se tanta importância ao conhecimento discursivo? Responda identificando também os principais componentes da comunicação do conhecimento através desse modo. 16) Descreva as características fundamentais das formas de conhecimento tácito e intuitivo, contrastando-as com o conhecimento discursivo. 17) Escolha pelo menos três das definições de verdade em epistemologia que foram discutidas em aula e desenvolva uma argumentação em favor de seu uso. 18) Quais são as duas componentes essenciais de uma metaciência? Dentre essas componentes, escolha um subtema para cada uma e descreva como você compreende a sua importância. QUESTÕES 19) No que diz respeito à chamada estrutura pergunta-resposta do método científico, como você compreende a importância da refutabilidade? Se essa estrutura não mais exigisse a refutabilidade, qual seria a principal consequência desse fato para a obtenção do conhecimento? Justifique. 20) Descreva de forma esquemática o processo geral da investigação científica, sob a forma de um fluxograma ou algoritmo. 21) Descreva de modo hierárquico o papel da hipótese, do modelo e da teoria na construção do conhecimento científico. 22) Comente a figura ao lado: QUESTÕES
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