Buscar

Fundamentos epistemológicos da geografia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 225 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 225 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 225 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

2019
Fundamentos 
epistemológicos da 
geograFia
Prof. Carlos Odilon da Costa
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Carlos Odilon da Costa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C837f
 Costa, Carlos Odilon da 
 Fundamentos epistemológicos da geografia. / Carlos Odilon da 
Costa. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
 217 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0255-6
 1.Fundamentos da geografia – Brasil. II. Centro Universitário 
Leonardo Da Vinci.
CDD 910.01
III
apresentação
Caro acadêmico, seja bem-vindo! Iniciaremos a disciplina de 
Fundamentos Epistemológicos da Geografia. Você já venceu algumas etapas 
de seu curso e chegou até aqui. Parabéns! 
Ao receber este livro de estudos, folheie-o, verifique o sumário, 
olhe as imagens, as sugestões; em um segundo momento, mergulhe 
profundo, leia atentamente, faça relação com outras leituras. A partir daí 
pergunte, compartilhe ideias. Nosso desejo é que você possa enriquecer 
seu conhecimento sobre a temática estudada, fornecer-lhe subsídios para 
uma boa discussão, para sua atuação docente, e contribuir para um olhar 
aprofundado e renovado para a compreensão do mundo. 
A disciplina apresenta um desafio: abrir discussões, reflexões em 
torno dos fundamentos epistemológicos da Geografia, sobre aqueles autores 
e obras correntes, já consolidados, e também possibilitar o entendimento 
das novas formas de construção epistemológicas nascentes no âmbito da 
Geografia. Que possamos realizar esses encontros, buscando aprender 
novos conhecimentos que marcam de forma singular a presença deles 
na vida humana planetária e local. Que estejamos todos receptivos ao 
enfrentarmos e ao mirarmos as novas formas de compreender e conhecer a 
realidade por meio da Geografia, considerando que aprender e ensinar são 
atitudes de acolhimento e amorosidade. Que possamos ser, nesse estudo, 
amorosos e respeitosos uns com os outros e assim tornar nossa jornada pelo 
conhecimento proveitosa e vitoriosa, não permitindo que nenhum de nós se 
perca nesse caminhar.
O livro de estudos está organizado em três unidades. A primeira 
unidade aborda a Epistemologia, Fundamentos e a Institucionalização da 
Geografia. A segunda unidade apresenta a epistemologia da geografia no 
contexto moderno e a terceira unidade contempla as epistemologias da 
geografia no contexto contemporâneo. 
Pensamos que, além do texto em si, você poderá explorar as sugestões 
aqui apresentadas em duas aulas. Foi organizado, no final de cada tópico das 
unidades, uma sugestão de aula, uma questão ENADE, além das autoatividades. 
Bom estudo e sucesso!
 
Cordialmente,
Prof. Dr. Carlos Odilon da Costa
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
V
VI
VII
UNIDADE 1 – EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO
 DA GEOGRAFIA ........................................................................................................1
TÓPICO 1 – A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO ............................................3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3
2 CONHECER E COMPREENDER ....................................................................................................3
3 SENSO COMUM E CONHECIMENTO CIENTÍFICO ...............................................................6
4 CIÊNCIA MODERNA .......................................................................................................................10
5 MÉTODOS CIENTÍFICOS ...............................................................................................................14
5.1 TIPOS DE MÉTODOS CIENTÍFICOS .........................................................................................14
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................19
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................22
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................24
TÓPICO 2 – EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO ...............27
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................27
2 EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS .......................................................................27
3 CIÊNCIAS HUMANAS E ABORDAGENS EPISTEMOLÓGICAS .........................................30
4 EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO .............................................................................................32
5 EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA ............................................................................................40
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................51
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................53
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................55
TÓPICO 3 – OS ANTECEDENTES DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA .........................................57
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................57
2 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DA ANTIGUIDADE ....................................................57
3 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DA IDADE MÉDIA ......................................................60
4 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO, O RENASCIMENTO E A CIÊNCIA
 MODERNA ..........................................................................................................................................61LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................66
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................70
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................72
UNIDADE 2 – EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO MODERNO ............75
TÓPICO 1 – GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX ..................................................................................77
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................77
2 INÍCIO DO CAMINHO GEOGRÁFICO CIENTÍFICO .............................................................77
3 A GEOGRAFIA DO SÉCULO XIX: ALEXANDER HUMBOLDT E CARL RITTER .............83
4 RATZEL E O DETERMINISMO NA GEOGRAFIA ....................................................................90
5 PAUL VIDAL DE LA BLACHE E AS MONOGRAFIAS REGIONAIS ....................................94
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................101
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................105
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................107
sumário
VIII
TÓPICO 2 – GEOGRAFIA – INÍCIO DO SÉCULO XX ................................................................109
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 A GEOGRAFIA EM RICHARD HARTSHORNE .......................................................................111
3 A GEOGRAFIA EM CARL SAUER .................................................................................................114
4 A GEOGRAFIA CULTURAL ............................................................................................................116
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................119
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................122
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................123
TÓPICO 3 – CRÍTICAS FRENTE À GEOGRAFIA .........................................................................127
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127
2 A CRÍTICA DA GEOGRAFIA TRADICIONAL .........................................................................127
3 O MOVIMENTO DE RENOVAÇÃO DA GEOGRAFIA ............................................................129
4 A NOVA GEOGRAFIA ......................................................................................................................132
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................137
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................139
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140
UNIDADE 3 – EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO – 
 PÓS-MODERNO ..........................................................................................................143
TÓPICO 1 – GEOGRAFIA HUMANISTA E CONTEMPORÂNEA ............................................145
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................145
2 A GEOGRAFIA HUMANISTA E O SER HUMANO INTEGRAL ...........................................146
3 A GEOGRAFIA CRÍTICA .................................................................................................................149
4 A FENOMENOLOGIA NA GEOGRAFIA .....................................................................................155
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................161
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................164
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................166
TÓPICO 2 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS, AMBIENTAIS E PÓS-MODERNAS ...............167
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167
2 A GEOGRAFIA HISTÓRICA ...........................................................................................................168
3 A GEOGRAFIA AMBIENTAL .........................................................................................................171
4 A GEOGRAFIA PÓS-MODERNA ..................................................................................................174
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................182
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................186
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................188
TÓPICO 3 – PERSPECTIVAS ATUAIS E A GEOGRAFIA NO BRASIL ....................................191
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................191
2 A NOVA GEOGRAFIA CULTURAL .............................................................................................191
3 PERSPECTIVAS ATUAIS DA GEOGRAFIA ................................................................................195
4 A GEOGRAFIA NO BRASIL ............................................................................................................196
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................205
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................210
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................212
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................213
1
UNIDADE 1
EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS
E A INSTITUCIONALIZAÇÃO
DA GEOGRAFIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender a diferença entre conhecimento geográfico e ciência geográfica;
 
• identificar as principais abordagens epistemológicas das ciências e da educação; 
• conhecer os principais períodos de construção do conhecimento 
geográfico até a sua institucionalização; 
• identificar os desafios e possibilidades da produção do conhecimento 
geográfico enquanto ferramenta de análise para compreender a realidade 
em determinados tempos históricos.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
TÓPICO 2 – EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIASHUMANAS E DA 
 EDUCAÇÃO
TÓPICO 3 – OS ANTECEDENTES DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
1 INTRODUÇÃO
O ser humano, diferente de outros seres vivos, desenvolve para sua 
sobrevivência faculdades específicas. Entre os animais, enquanto algumas espécies 
correm, outras possuem a força. Comumente se diz que o ser humano possui a 
inteligência como referência de poder para enfrentar seus inimigos naturais. São 
poderes mentais para explicar, prever e manipular fatos e fenômenos de seu 
ambiente de vida. Por isso mesmo, na história, esta espécie animal, o ser humano, 
foi definido como um animal racional. Ele distingue-se dos outros seres do universo 
pelo sentimento da descoberta, pela curiosidade, por possuir a capacidade de 
conhecer o mundo em que vive e ter consciência de suas sensações e de seus desejos. 
A capacidade de pensar permite que o ser humano não apenas conviva 
com a realidade, como também permite conhecê-la. Conhecer a realidade significa 
compreendê-la e explicá-la.
Partindo desta premissa é que pensamos na organização deste tópico. 
Conhecer a natureza do conhecimento científico, sobretudo da Geografia, é 
percorrer um caminho que colaborará, auxiliará na missão de melhor compreender 
a realidade, o espaço em que os seres humanos habitam. 
2 CONHECER E COMPREENDER
Tudo é conhecimento, e por meio dele buscamos respostas ao mundo que 
nos cerca e explicações da realidade. Mas afinal, o que é conhecer?
De acordo com Santos (1996, p. 23):
O conhecimento humano tem dois elementos básicos: um sujeito e um 
objeto. O sujeito é o homem, o ser racional que quer conhecer (sujeito 
cognoscente). O objeto é a realidade (as coisas, os fatos, os fenômenos) 
com que convivemos. O homem se torna sujeito do conhecimento 
quando está diante do objeto a ser conhecido. A realidade só se torna 
objeto do conhecimento perante um sujeito que queira conhecê-la. O 
próprio ser homem pode ser objeto do conhecimento humano.
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
4
É por meio do conhecimento estudado, elaborado e construído, que o ser 
humano penetra nas diversas áreas da realidade (economia, política, religião, 
educação, cultura, entre outras). Ao penetrar nestas áreas, o fenômeno do 
conhecimento é assim elaborado e construído. 
O sujeito capta as características e propriedades dos objetos, formando 
deles uma imagem mental. Por meio da imagem, o sujeito apodera-
se de propriedades que antes pertenciam apenas ao objeto. É a 
posse das propriedades e características do objeto que nos permite o 
entendimento e a explicação da realidade (SANTOS, 2002, p. 24).
Ao internalizar os modos de agir, pensar e falar, aos poucos as imagens 
se tornam verbalizadas, simbólicos, organizados e socialmente transformados pela 
linguagem, no caso a linguagem (diversidade de linguagens), produz conhecimento. 
Dá-se também o nome de conhecimento o saber acumulado pelo ser humano por 
meio das gerações, ou seja, um produto (cultural) que pode ser transmitido.
O ser humano possui maneiras básicas de conhecer os objetos estudados. 
Alguns exemplos podem ser citados, como o Conhecimento Sensorial ou 
Empírico, o primeiro contato do ser humano com a realidade se dá pelos 
sentidos. O Conhecimento Lógico ou Intelectual, o ser humano tem a capacidade 
de ultrapassar os dados recebidos pelos sentidos, ou seja, ele tem a capacidade 
de abstrair, de conservar as imagens dos objetos que captou, mesmo sem tê-los 
mais por perto; e o Conhecimento de Fé, que baseia-se na autoridade de terceiros, 
constitui um voto de confiança no que os outros afirmam (autoridade religiosa); 
Conhecimento Cultural/artístico; Conhecimento Prático/senso comum.
A realidade nem sempre é simples (visão senso comum), mas exige 
formas distintas de apropriação, intervenção, reformulação de visão de mundo, 
compreensão da realidade. A esse respeito, Cervo e Bervian (2010, p. 7) comentam:
[...] com relação ao ser humano, por exemplo, pode-se considerá-lo em seu 
aspecto externo e aparente e dizer uma série de coisas que o bom senso dita 
ou a experiência cotidiana ensinou. Pode-se também questioná-lo quanto 
a sua origem, sua realidade e destino e, pode-se, ainda, investigar o que 
foi dito por Deus por meio dos profetas e de seu filho Jesus. Finalmente, 
pode-se estudá-lo com o propósito mais científico e objetivo, investigando 
experimentalmente as relações entre órgãos e funções.
Os autores indicam quatro tipos de conhecimentos importantes para 
desvelar a realidade. O conhecimento popular/senso comum, o espontâneo ou 
empírico, o conhecimento do povo, do cotidiano. O conhecimento científico, que 
vai além do empírico, envolve as relações de causa e efeitos entre os fenômenos 
estudados. O conhecimento filosófico, o que ultrapassa os limites formais da 
ciência. O conhecimento teológico ou religioso, revelado pela fé divina ou crença 
religiosa (CERVO; BERVIAN, 2010).
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
5
Todos os tipos de conhecimento nos deixam muitas dúvidas, ao lado de 
algumas certezas. Mesmo sendo bem aparelhado, o ser humano é limitado em sua 
capacidade de captar as reais propriedades dos objetos estudados. Nas palavras 
freirianas: Incompleto, inconcluso, inacabado, o ser humano e por extensão o 
conhecimento por ele produzido, construído, elaborado.
O conhecimento dito científico diferencia-se do popular muito mais no 
que se refere a seu contexto metodológico do que propriamente seu conteúdo, 
diferença que ocorre entre todos os tipos de conhecimento. Para fins de 
conhecimento e compreensão dos tipos de conhecimentos, Trujillo (1984, p. 11) 
organizou suas características assim:
QUADRO 1 – CARACTERÍSTICAS DOS TIPOS DE CONHECIMENTOS
Conhecimento 
Popular
Conhecimento 
Científico
Conhecimento 
Filosófico
Conhecimento 
Religioso/Teológico
Valorativo
Reflexivo
Assistemático
Verificável
Falível
Inexato
Real/factual
Contingente
Sistemático
Verificável
Falível
Aproximadamente 
exato
Valorativo
Racional
Sistemático
Não verificável
Infalível
Exato
Valorativo
Inspiracional
Sistemático
Não verificável
Infalível
Exato
FONTE: Trujillo (1984, p. 11)
Qual desses conhecimentos julgamos mais verdadeiros? Qual deles é 
o mais verdadeiro? Não há um conhecimento mais importante que o outro, 
pois conhecemos para sentir segurança, para satisfazer nossa curiosidade, para 
compreender a realidade e, também, transformá-la. No entanto, para nossos estudos 
se faz necessário distinguir claramente o conhecimento científico do popular, pois 
ao mesmo tempo em que se aproximam, mantêm suas especificidades. 
Você, acadêmico, futuro professor, certamente já se deparou com as 
avaliações de nossa instituição. Realizadas por meio de questões dissertativas, 
você expôs seu pensamento apoiado no conhecimento científico/acadêmico, ou 
seja, você saiu de uma opinião e justificou de forma racional e acadêmica a sua 
posição. Esse exemplo pode ser estendido à sala de aula, quando deparando-se 
com o aluno e sua bagagem cultural frente à escola, com outro capital cultural, 
você reconhece o saber de seu educando por meio de metodologias mais 
participativas, em que o conhecimento científico possibilita ao educando que ele 
mesmo perceba sua cultura, o seu saber, e que pode ir além desse conhecimento, 
transpor o limite de sua existência ao assimilar e usar o conhecimento escolar em 
seu dia a dia (você, na academia, também o faz, ou seja, os conhecimentos que 
você estuda serão o conhecimento que fundamentará suas aulas).
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
6
3 SENSO COMUM E CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O conhecimento vulgar, espontâneo ou popular, às vezes denominado 
senso comum, se distingue do conhecimento científico pela forma, método e 
instrumentos do conhecer. Como vimos anteriormente, o significado da palavra 
conhecimento está ligado, em um primeiro momento, à experiência sensível,portanto o conhecimento do senso comum se faz e refaz no cotidiano, em nosso dia 
a dia, em que adquirimos um modo ou diversos modos de entender e atuar sobre 
a realidade. Isso ocorre de forma espontânea, e há também os comportamentos 
sociais que aprendemos desde criança. 
De acordo com Neto (1986, p. 6):
É a forma de conhecer a realidade em que se vive, age, mora, fala, 
integrando o homem ao seu meio. Para sobreviver, o homem teve 
que resolver alguns problemas práticos, como os do frio, calor, 
chuva, doença, sexo, amor, medo, morte. A experiência adquirida ao 
enfrentar esses problemas produziu uma forma de conhecer o mundo, 
e de enfrentá-lo, é o conhecimento empírico.
O conhecimento espontâneo, popular, empírico ou senso comum não se 
explica o porquê das coisas, pois está ligado ao instinto de sobrevivência, basta 
a si mesmo e tem fins práticos imediatos, não especula (filosofia) ou investiga 
(ciência), baseado principalmente na memória e na associação de experiências 
humanas (vividas) ou crenças (imaginadas).
Essas informações (conhecimento espontâneo) costumam ser 
naturalmente assimiladas e raramente questionadas. Isso porque, de alguma 
forma, elas resolvem as questões práticas do cotidiano, auxiliam na condução das 
rotinas diárias. É uma maneira encontrada para solucionar os problemas do dia 
a dia. É fruto da prática social, construído historicamente e passado às gerações 
mais novas. De acordo com Neto (1986), as suas características são as seguintes: 
valorativo, pois se fundamenta em uma seleção operada com base em estados 
de ânimo e emoções. Ele também é reflexivo em determinados momentos. É 
assistemático, pois se baseia na organização particular do sujeito cognoscente e 
não em uma sistematização de ideias. Verificável, está limitado no âmbito da vida 
diária. Falível/inexato, se conforma com a aparência, não permite a formulação 
de hipóteses sobre a existência de fenômenos situados além de suas percepções.
Por isso é conhecido como um conhecimento que preenche a vida diária 
sem preocupação, com um método e sem haver profunda reflexão sobre algo. De 
acordo com Chaves (2009, p. 14), subdivide-se em:
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
7
QUADRO 2 – TIPOS DE CONHECIMENTOS E EXEMPLO
Subdivisão Exemplo
Senso Comum A pressa é inimiga da perfeição.
Senso Prático Tampar as tomadas para que a criança não leve um choque.
Bom Senso Ceder o lugar no ônibus para uma pessoa mais velha ou uma mulher grávida.
Senso Crítico Decidir o voto depois de analisar a vida pregressa dos candidatos e suas promessas de trabalho.
FONTE: Chaves (2009, p. 14)
A vida humana desenvolve-se em torno do senso comum, que é 
adquirido através de ações não planejadas, surge instintivo, espontâneo, 
subjetivo, acrítico, permeado pelas opiniões, emoções e valores de quem o 
produz. A cultura popular é baseada no senso comum. Representa um conjunto 
de conhecimentos determinados pela interação dos sujeitos. Reúne elementos e 
tradições culturais, os quais estão associados à linguagem popular e oral. Inclui 
o folclore, o artesanato, as músicas, as danças, as festas, dentre outros, sendo 
crescentemente reconhecida.
Para o ensino de Geografia configura-se como um conhecimento de porta 
de entrada no processo de ensino-aprendizagem. É por meio dele que o aluno, 
em sala, relata as primeiras experiências vividas ou suas crenças, referente ao 
espaço em que vive e percebe. O conhecimento do cotidiano posteriormente será 
comparado ao conhecimento elaborado da escola, e após a comparação poderá 
ocorrer a ampliação de mundo, de visão do aluno no quesito Geografia. 
Da mesma forma e princípio é o que ocorre nas salas de aula dos cursos 
superiores em Geografia. O acadêmico, ao entrar no curso, traz com ele sua 
bagagem cultural sobre o conhecimento geográfico, e com o desenvolvimento dos 
estudos, o aprofundamento das teorias e as práticas pedagógicas nas aulas do curso 
de Geografia, o acadêmico passa do senso comum para o conhecimento elaborado, 
científico. Isso fica claro em seus artigos construídos, nas provas respondidas de 
maneira dissertativa, entre outros métodos e instrumentos de avaliação. Por meio 
dessas avaliações é que o tutor ou o docente poderão ver se houve aprendizagem 
em termos de assimilação de novos e diferentes tipos de conhecimentos.
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
8
FIGURA 1 – TIRINHA
FONTE: <https://pedromotasite.files.wordpress.com/2014/04/92efc-mutum115.jpg>. 
Acesso em: 17 set. 2018.
O conhecimento espontâneo, popular, tem seu valor enquanto processo 
de construção de conhecimento, porém no âmbito da Ciência (curso superior) 
deve ser superado pelo conhecimento científico. O conhecimento científico é uma 
conquista recente da humanidade e surgiu com a revolução Galileana. De acordo 
com Kestring (2004, p. 41):
[...] a característica básica do conhecimento científico é sua natureza 
crítica, mas uma crítica voltada para a própria ciência, daí seu caráter 
processual, pontual e sistemático e não somente progressivo [...] é um 
conhecimento que se adquire pela leitura, meditação e reflexão, ou 
seja, é um saber que tem método, disciplina e organização, não é um 
tipo de conhecimento ocasional, mas intencional.
O conhecimento científico lida com ocorrências ou fatos envolvendo as 
relações de causa e efeito, se objetiva formular, com linguagem rigorosa e apropriada, 
leis que regem os fenômenos observados. Ele é fruto do questionamento de uma área; 
de procedimentos passíveis de produção por outras pessoas; expõe-se à interlocução 
da comunidade de pesquisadores da área de saber em questão (no caso, a Geografia); 
trabalha com fenômenos regulares, em que as mesmas causas sucedem os mesmos 
efeitos entre fenômenos e grupos de fenômenos. Segundo Demo (2008), ao analisar o 
conhecimento científico é preciso compreender os critérios internos: 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
9
• Coerência: deve ter suas partes articuladas e com sentido. 
• Consistência: resistir às argumentações, pelo rigor teórico e metodológico. 
• Originalidade: uma pesquisa original que contribua com a produção de conhecimento.
• Objetivação: tentativa de descobrir a realidade social da mesma forma como 
se apresenta. 
• Externos: intersubjetividade, opinião da comunidade científica. 
A produção do conhecimento científico pode ser destacada como resultado 
de diferentes exercícios acadêmicos e pesquisas realizadas. Conforme Alves (2002), 
duas características são essenciais: a primeira é a busca por um conhecimento 
geral, universal, aplicável a todos os casos; a segunda é a falseabilidade, isto é, os 
enunciados científicos podem ser testados para se confirmar se são verdadeiros 
ou falsos. Uma proposição verificável é aquela sobre a qual, a partir de testes, 
podemos tomar uma decisão sobre sua verdade ou falsidade.
Lembre-se de que todo conhecimento científico é fruto de pesquisas 
científicas e acadêmicas, por isso é contradição imaginar que o aluno pesquisador 
criativo é aquele que sabe sem estudar, sem pesquisar, ou seja, o conhecer por 
meio científico se dá pela busca de ordem, a formulação de modelos e leis que 
explicam o funcionamento dos fenômenos e da natureza, o abandono dos valores 
e a busca de um saber objetivo, o uso de hipóteses e de experimentação que 
permite medir os eventos com precisão e o rigor do pensamento com a utilização 
do raciocínio lógico, também não deve ser visto como uma forma de conhecimento 
completamente distante do fazer humano, dotada de autoridade inquestionável.
FIGURA 2 – CONHECIMENTOS 
FONTE: <https://www.humorcomciencia.com/blog/175-metodo-cientifico/>.
Acesso em: 17 set. 2018.
DICAS
É importante que você reflita sobre os assuntos discutidos até o momento! 
Para isso, verifique exemplos de conhecimentos de senso comum, teológicos, filosóficos e 
científicos e a relação com o conhecimento geográfico, na casa, na família, no trabalho, na 
leitura de jornais, revistase na televisão. Discuta-os com seus colegas.
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
10
O conhecimento pode ser obtido de diversas maneiras, segundo Alves 
(2002), por imitação, pela experiência pessoal ou por outro conhecimento 
adquirido pela educação informal, transmitida pelos antepassados, pela lógica, 
pela fé e crença, e pela objetividade e evidência dos fatos. 
4 CIÊNCIA MODERNA
O ser humano é um ser em constante processo de produzir; ao tentar 
superar, pela ação coletiva, a contradição que a natureza lhe antepõe, torna o 
mundo habitável e humaniza a si mesmo. Nas palavras de Neto (1986), existem 
diferentes maneiras de explicar os fatos e fenômenos que envolvem o mundo 
em que vivemos, e a Ciência é uma delas. A Ciência é, portanto, uma forma 
de conhecimento, a atividade básica da ciência é a pesquisa. Por meio dela é 
possível conhecer e compreender o mundo. Diversos autores tentaram definir o 
que se entende por Ciência. Em sua obra Metodologia Científica, Lakatos e Marconi 
(2000, p. 21) citam que pode ser conceituada da seguinte forma:
Acumulação de conhecimentos sistemáticos; atividade que se 
propõe a demonstrar a verdade dos fatos e experimentar suas 
práticas; caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemático, 
exato, verificável, por conseguinte, falível; conhecimento certo do 
real pelas suas causas; conhecimento sistemático dos fenômenos 
da natureza e das leis que o regem, obtido pela investigação, pelo 
raciocínio e pela experimentação intensiva; conjunto de enunciados 
lógica e dedutivamente justificados por outros enunciados; conjunto 
orgânico de conclusões certas e gerais, metodicamente demonstrada 
e relacionadas com objeto determinado; corpo de conhecimento 
consistindo em percepções, experiências, fatos certos e seguros; 
estudo de problemas solúveis, mediante método científico, forma 
sistematicamente organizada de pensamento objetivo.
Por sua vez, Ander-Egg (1978, p. 15) apresenta que “a ciência é 
um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos 
metodicamente sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos 
de uma mesma natureza”. O autor ainda complementa, dizendo que a Ciência 
produz determinado tipo de conhecimento, e que em suas características possui: 
conhecimento racional, isto é, que tem exigências de método e está constituída 
por uma série de elementos básicos, tais como sistema conceitual, hipóteses, 
definições. Certo ou provável, já que não se pode atribuir à ciência a certeza 
indiscutível de todo saber que a compõe. Obtidos metodicamente, pois não se 
adquire ao acaso. Sistematizadores, não se trata de um conhecimento desconexo 
e disperso. Verificáveis, necessita de afirmações/hipóteses comprovadas pela 
observação. Relativos a objetos de uma mesma natureza, ou seja, objetos 
pertencentes à determinada realidade, que guardam entre si certos caracteres de 
homogeneidade (ANDER-EGG, 1978).
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
11
Outra forma de conceituar Ciência como uma sistematização de 
conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas 
sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar é realizada 
por Trujillo (1984, p. 8): “A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades 
racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de 
ser submetido à verificação”.
Acrescentamos, também, o pensamento de Fonseca (2002, p. 11-12) sobre 
o assunto:
É o saber produzido através do raciocínio lógico associado à 
experimentação prática. Caracteriza-se por um conjunto de modelos 
de observação, identificação, descrição, investigação experimental e 
explanação teórica de fenômenos. O método científico envolve técnicas 
exatas, objetivas e sistemáticas. Regras fixas para a formação de conceitos, 
para a condução de observações, para a realização de experimentos e 
para a validação de hipóteses explicativas. O objetivo básico da ciência 
não é o de descobrir verdades ou de se constituir como uma compreensão 
plena da realidade. Deseja fornecer um conhecimento provisório, que 
facilite a interação com o mundo, possibilitando previsões confiáveis 
sobre acontecimentos futuros e indicar mecanismos de controle que 
possibilitem uma intervenção sobre eles.
A Ciência teve sua origem quando os seres humanos organizaram de 
forma cumulativa os conhecimentos adquiridos sobre a realidade existente. 
Com o fim do período nômade na Terra, surgem as necessidades de se construir 
instrumentos e técnicas apropriadas. A cerâmica, a metalurgia, o vestuário e a 
habitação passaram a exigir conhecimentos adequados. Assim, os babilônicos se 
especializaram na Astronomia, os egípcios nos conhecimentos da Geometria, e 
os hititas na Metalurgia. Durante a Idade Média, os árabes contribuíram com 
muitos progressos na Matemática e na Álgebra. O monge Francis Bacon defendeu 
e organizou um novo comportamento de cientistas, fazendo experimentos. 
Na Idade Moderna aconteceu a Revolução Científica. De René Descartes e seu 
Discurso do Método até a Revolução Tecnológica (ocorrida após a Segunda Guerra 
Mundial), milhares de pessoas dedicaram suas vidas ao progresso científico.
Para interpretar as origens e o desenvolvimento da Revolução Científica, 
Prade (2004) cita que há três tradições ou mentalidades claramente definidas 
referentes ao fazer ciência no mundo e à busca de interpretação da realidade:
a) A organicista: explicava-se o universo material mediante analogias tomadas do 
mundo biológico; em tudo se observa crescimento e decadência. Ela se fundamenta 
nos tratados biológicos de Aristóteles, nas observações médicas de Galeano e no 
Almagesto de Ptolomeu, que representavam uma vasta lista de dados empíricos e 
proporcionava aos cientistas uma confiança acima de qualquer dúvida. 
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
12
b) A tradição mágica: a natureza vem descrita como uma obra de arte. Intérprete 
da natureza, o cientista era visto como um mago cujo poder derivava do fato 
de possuir os segredos naturais. O ideal do cientista era se tornar um místico a 
fim de ouvir a música mágica do universo. A inspiração que dera origem a essa 
atitude era atribuída a Hermes Trismegisto e sua obra Os escritos herméticos e 
a sabedoria egípcia. Os outros escritos herméticos continham a cabala judaica. 
Dentre muitos segredos dessa tradição, encontrava-se a doutrina neoplatônica 
da criação do mundo por meio de emanações do ser divino. A visão neoplatônica 
provocou um grande impacto no mundo intelectual do século XVI, a Utopia 
de Morus, os escritos de Copérnico e de Kepler. Convém ressaltar que entre os 
neoplatônicos, a alquimia gozou de uma reputação quase religiosa. Paracelso 
aplicou as teorias neoplatônicas à alquimia. 
c) A tradição mecanicista: se a tradição organicista viu o mundo como um 
organismo, e a tradição mágica como um mistério, a terceira, a mecanicista, o viu 
como uma máquina. Impressionados pela regularidade, fixidez e previsibilidade 
dos fenômenos, seus seguidores definiram os planetas em termos mecânicos, 
assim como o corpo humano e o reino animal. O Deus cristão foi adquirindo as 
características de um engenheiro. Na origem da visão mecanicista do universo 
se encontra a transformação econômica da época. A tarefa principal de um 
cientista era a de estudar a relação recíproca entre as distintas partes do universo, 
sistematizando-as como as várias peças de uma máquina.
Outro olhar para os modelos de se fazer Ciência é descrito por Chaui 
(1997), quando diz que, historicamente, três são as principais concepções de 
Ciência ou ideias de cientificidade. 
• Racionalista: afirma que a Ciência é um conhecimento racional dedutivo 
e demonstrativo.
• Empirista: afirma que a Ciência é uma interpretação dos fatos baseados em 
observação e experimentos que permitem estabelecer induções. 
• Construtivista: a Ciência é uma construção de modelos explicativos para arealidade e não uma representação da própria realidade.
Por sua vez, Boaventura de Souza Santos (1987), no livro Um discurso sobre 
as ciências, enquadra a ciência moderna em três momentos: 
• Paradigma da modernidade: é o dominante hoje em dia. Substancia-se nas 
ideias de Copérnico, Kepler, Galileu, Newton, Bacon e Descartes. Construído 
com base no modelo das ciências naturais, apresenta uma e só uma forma de 
conhecimento verdadeiro e uma racionalidade experimental, quantitativa e 
neutra. Essa racionalidade é mecanicista, pois considera o homem e o universo 
como máquinas; é reducionista, pois reduz o todo às partes e é cartesiano, pois 
separa o mundo natural-empírico dos outros mundos não verificáveis, como 
o espiritual-simbólico. Outros pormenores do paradigma: a) a distinção entre 
conhecimento científico e conhecimento do senso comum, entre natureza e 
pessoa humana, corpo e mente, corpo e espírito; b) a certeza da experiência 
ordenada; c) a linguagem matemática como o modelo de representação; d) a 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
13
medição dos dados coletados; e) a análise que decompõe o todo em partes; 
f) a busca de causas que aspira à formulação de leis, à luz de regularidades 
observadas, com vista a prever o comportamento futuro dos fenômenos; g) 
a expulsão da intenção; h) a ideia do mundo máquina; i) a possibilidade de 
descobrir as leis da sociedade.
 • Crise do paradigma dominante: tem como referências as ideias de Einstein 
e os conceitos de relatividade e simultaneidade, que colocaram o tempo e o 
espaço absolutos de Newton em debate; Heisenberg e Bohr, cujos conceitos 
de incerteza e continuum abalaram o rigor da medição; Gödel, que provou a 
impossibilidade da completa medição e defendeu que o rigor da matemática 
carece ele próprio de fundamento; Ilya Prigogine, que propôs uma nova visão 
de matéria e natureza. O homem encontra-se num momento de revisão sobre 
o rigor científico pautado no rigor matemático e de construção de novos 
paradigmas: em vez de eternidade, a história; em vez do determinismo, 
a impossibilidade; em vez do mecanicismo, a espontaneidade e a auto-
organização; em vez da reversibilidade, a irreversibilidade e a evolução; em 
vez da ordem, a desordem; em vez da necessidade, a criatividade e o acidente. 
• O paradigma emergente: deve se alicerçar nas premissas de que todo o 
conhecimento científico-natural é científico-social, todo conhecimento é local e 
total (o conhecimento pode ser utilizado fora do seu contexto de origem), todo 
conhecimento é autoconhecimento (o conhecimento analisado sob um prisma mais 
contemplativo que ativo), todo conhecimento científico visa constituir-se em senso 
comum (o conhecimento científico dialoga com outras formas de conhecimento 
deixando-se penetrar por elas). A ciência encontra-se num movimento de transição 
de uma racionalidade ordenada, previsível, quantificável e testável, para uma 
outra que enquadra o acaso, a desordem, o imprevisível, o interpenetrável e o 
interpretável. Um novo paradigma que se aproxima do senso comum e do local, 
sem perder de vista o discurso científico e o global.
A palavra Ciência pode ser entendida enquanto simplesmente o 
significado de conhecimento; no singular somente. Não se refere a um 
conhecimento qualquer, mas àquele que além de aprender e registrar fatos os 
demonstra por suas causas constitutivas ou determinantes. No plural refere-se às 
diferentes formas de realização do ideal de cientificidade, segundo os diferentes 
fatos estudados, investigados e os diferentes métodos e tecnologias empregados. 
IMPORTANT
E
A atividade científica não é tão neutra como se poderia pensar. Os cientistas 
sãos seres humanos sensíveis às tendências gerais da sociedade. Por sua vez, a Ciência não 
pode responder a todas as dúvidas e que é incapaz de oferecer uma verdade totalmente 
indiscutível. Referente à questão Ética e Ciência, hoje podemos manipular a vida e mudar 
a face do planeta. Estamos dispostos a continuar nesse sentido, embora saibamos que nos 
expomos a riscos ainda desconhecidos? Debata com seus colegas de sala.
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
14
5 MÉTODOS CIENTÍFICOS
Para que um campo do conhecimento seja considerado científico 
são necessários dois requisitos: que o campo do conhecimento possua, bem 
delimitados e caracterizados, os assuntos que pretende estudar/investigar e que o 
estudo/investigação desse assunto possua métodos próprios. Portanto, qualquer 
que seja a atividade científica é necessário um método ou um conjunto de métodos 
para que se possa realizar uma investigação sistematizada dos fenômenos 
pesquisados, procurando acumular maior número de informações sobre ele. 
O método pode ser definido como sendo os procedimentos do pesquisador 
ou o caminho que se estabelece para realizar a pesquisa científica. De acordo com 
Ruiz (2002, p. 137), “a palavra método é de origem grega e significa o conjunto 
de etapas e processos a serem vencidos ordenadamente na investigação dos fatos 
ou na procura da verdade”. Da mesma forma, Aranha (1991, p. 149) descreve que 
“etimologicamente, método vem de meta, ao longo de, e hodós, via caminho, [...] 
no estudo feito por uma ciência”. 
 
É possível investigar a realidade a partir dos mais variados aspectos em níveis 
diversos de profundidade e intenções (objetivos) diferentes, é por isso que existem 
muitos tipos de métodos. De acordo com Andery et al. (1996, p. 4), “o método não 
é único e nem sempre o mesmo para o estudo deste ou daquele objeto e/ou para 
este ou para aquele quadro da Ciência, uma vez que reflete as condições históricas 
do momento em que o conhecimento é construído”. Partindo desta premissa, o 
pesquisador compreenderá o processo histórico do conhecimento científico. 
Ao longo da história da Ciência criaram-se diferentes métodos. O 
desenvolvimento do pensamento racional feito na Antiguidade e na Idade Média 
foi uma preparação do terreno para instalar a modernidade e a Revolução Científica. 
Para os antigos, e também os medievos, o método era puramente racional, ligado 
à Filosofia e à Teologia. No período moderno ampliaram-se os métodos para as 
experiências dos laboratórios e as pesquisas de campo. A Revolução Científica não 
abandonou o método anterior, ao contrário, aprimorou-o, usando-o como ferramenta. 
A racionalidade com o uso da lógica simbólica, da dialética e da estatística, passou a 
ter novas fundamentações para determinar o que era e o que não era científico.
5.1 TIPOS DE MÉTODOS CIENTÍFICOS
Método e métodos situam-se em níveis claramente distintos, e de acordo 
com Lakatos e Marconi (2000), no que se refere a sua inspiração filosófica, ao 
seu grau de abstração, a sua finalidade mais ou menos explicativa, a sua ação 
nas etapas mais ou menos concretas da investigação e ao momento em que se 
situam. Com uma contribuição às tentativas de fazer distinção entre os termos, 
diríamos que o método se caracteriza por uma abordagem mais ampla, em nível 
de abstração mais elevado, dos fenômenos da natureza e da sociedade. 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
15
a) Método indutivo
Conforme Lakatos e Marconi (2000), indução é um processo mental por 
intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados. A 
indução realiza-se em três etapas: Observação dos fenômenos, descobrir as causas 
das manifestações; Descoberta das relações entre eles, por meio de comparação, 
encontrar a relação constante existente entre os fatos e fenômenos pesquisados; 
Generalizações da relação, entre os fatos e fenômenos semelhantes. Observação, 
classificação/agrupamentos por meio da relação constante, classificação por meio 
da generalização da relação observada. O conhecimento científico é o único caminho 
seguro para a verdade dos fatos. O conhecimento é fundamentado exclusivamente 
na experiência, sem levar em consideração princípios preestabelecidos. 
b) Método dedutivo 
Gil (1999) cita queo método dedutivo foi usado por Descartes a partir 
da matemática e de suas regras de evidência, análise, síntese e enumeração. 
Esse método parte do geral e, a seguir, desce para o particular. O protótipo do 
raciocínio dedutivo é o silogismo, que, a partir de duas proposições chamadas 
premissas, retira uma terceira chamada conclusão. 
c) Método hipotético-dedutivo
 Este método foi definido por Karl Popper a partir de suas críticas 
ao método indutivo. Para ele, o método indutivo não se justifica, pois, o salto 
indutivo de alguns, para todos exigiria que a observação de fatos isolados fosse 
infinita. Pode ser explicado a partir do seguinte esquema:
FIGURA 3 – MÉTODO POPPER
FONTE: O autor
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
16
d) Método dialético 
Pensa a realidade não como algo dado e estabilizado, mas procura identificar 
o processo, os conflitos existentes e as contradições envolvidas na análise de um 
problema de pesquisa. No método dialético, é preciso identificar pares dialéticos 
que estão em distintos polos da relação dialética. Dada uma tese, é necessário 
identificar sua antítese, para, ao analisar suas relações e interpenetrações, chegar a 
uma nova compreensão da realidade, a que o método chama de síntese.
e) Método sistêmico 
É um conjunto de passos sistematizados que nos leva a aplicar o 
Pensamento Sistêmico de maneira organizada, de modo que a cada passo se 
atinjam resultados que servem como entradas nos passos subsequentes. Este 
método trabalha o objeto que se pretende analisar inserindo-o como elemento de 
um sistema ou assumindo o próprio objeto como um sistema, que interage com 
o meio através de processos de trocas dinâmicas, já que o sistema é considerado 
aberto. Este método procura compreender a complexidade da realidade, bem 
como suas transformações, através dos processos sistêmicos e do feedback que 
acontece permanentemente entre o sistema e seu meio externo.
f) Método histórico 
No método histórico, conforme Lakatos e Marconi (2000), a investigação 
inicia-se a partir do estudo de acontecimentos, processos e instituições do passado, 
procurando explicar sua influência na vida social contemporânea. No método 
histórico o fenômeno é estudado numa perspectiva histórica. A partir da coleta, 
sistematização, análise e interpretação de dados pode-se compreender a origem 
histórica do fenômeno. O método histórico consiste em investigar acontecimentos, 
processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, 
pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas partes 
componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular 
de cada época. O método histórico preenche os vazios dos fatos e acontecimentos, 
apoiando-se em um tempo, mesmo que artificialmente reconstruído, que assegura a 
percepção da continuidade e do entrelaçamento dos fenômenos.
g) Método comparativo 
No método comparativo, segundo Lakatos e Marconi (2000), ele investiga 
coisas ou fatos e explicá-los segundo suas semelhanças e suas diferenças. O método 
comparativo é usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, 
quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento.
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
17
h)	Método	monográfico	ou	Estudo	de	caso 
Lakatos e Marconi (2000) citam que, partindo do princípio de que qualquer 
caso que se estude em profundidade, pode ser considerado representativo 
de muitos outros ou até de todos os casos semelhantes. Consiste no estudo 
de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou 
comunidades, com a finalidade de obter generalizações. 
i) Método estatístico 
Lakatos e Marconi (2000) comentam que, neste método, os procedimentos 
estão pautados nas Teorias das Probabilidades, que estabelecem relações de causa 
e efeito de diferentes situações da sociedade, ou de uma população qualquer, 
registrando possíveis variações e probabilidades de ocorrência de certos eventos. 
Assim, coletam-se dados que representam uma população, e, a partir desta amostra, 
são obtidos resultados e possíveis variações de resultados que passam por análises. 
j) Método tipológico 
De acordo com Lakatos e Marconi (2000), é utilizado para a elaboração 
de modelos ideais. O pesquisador, ao comparar fenômenos sociais complexos da 
realidade, elabora tipos ou modelos ideais, a partir de características essenciais 
dos fenômenos. Apresenta certas semelhanças com o método comparativo. Ao 
comparar fenômenos sociais complexos, o pesquisador cria tipos ou modelos 
ideais, construídos a partir da análise de aspectos essenciais do fenômeno. A 
característica principal do tipo ideal é não existir na realidade, mas servir de 
modelo para a análise e compreensão de casos concretos, realmente existentes.
k) Método funcionalista
Segundo Lakatos e Marconi (2000), estuda os fenômenos a partir de suas 
funções. Assim, as partes são mais bem entendidas compreendendo-se as funções que 
desempenham no todo. Segundo os autores, é o método de interpretação que, levando-
se em consideração que a sociedade é formada por partes componentes, diferenciadas, 
inter-relacionadas e interdependentes, satisfazendo, cada uma, funções essenciais da 
vida social, e que as partes são mais bem entendidas compreendendo-se as funções 
que desempenham no todo, o método funcionalista estuda a sociedade do ponto de 
vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema, organizado de atividades. 
l) Método estruturalista 
Para Lakatos e Marconi (2000), é utilizado para o estudo de culturas, 
linguagens etc., como um sistema em que os elementos constituintes mantêm 
entre si relações estruturais. Pode-se dizer que há no fenômeno uma estrutura 
comum invariante que pode ser revelada e ser construído um modelo que a 
represente. O método parte da investigação de um fenômeno concreto, eleva-se 
a seguir ao nível do abstrato, por intermédio da constituição de um modelo que 
represente o objeto de estudo, retomando, por fim, ao concreto, dessa vez como 
uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social. 
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
18
DICAS
SUGESTÃO DE AULA
Aula referente a Conhecimentos, Métodos e o ensino de Geografia.
Ano escolar: pode ser aplicada para qualquer idade.
Procedimentos: levar os alunos para fora da sala de aula, com seus cadernos e canetas para 
anotações. O professor conduzirá a atividade da seguinte forma:
a) Solicitar que os alunos anotem em seus cadernos a data, local, espaço da observação.
b) Anotar as condições do tempo/clima.
c) Propor atividades em que o aluno use os sentidos para observação. Exemplo: olfato, visão, 
tato, audição. Solicitar que os alunos toquem em uma árvore e que descrevam a sensação 
deste toque na árvore, anotando em seguida o ocorrido. Solicite que os alunos fiquem 
em silêncio e escutem os sons, após, anotar no caderno. Solicitar que anotem também as 
paisagens que estão vendo (você cria as atividades e elementos para observar e anotar).
d) Socialização (escolher alguns alunos para relatarem o que eles anotaram).
e) Escolher alguma categoria para análise, por exemplo, solo, paisagem. Comparar o 
conceito deste elemento com o que foi anotado pelo aluno: o que se distancia, o que se 
aproxima, o que faltou, o que foi além do conceito básico.
f) Finalizar tecendo comentários referentes à prática de observação e à importância de 
se ter um método para observar. Também é interessante relacionar a produção do 
conhecimento com os sentidos.
FONTE: O autor
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
19
A CIÊNCIA, PESQUISA CIENTÍFICA E A MOBILIDADE DE
FRONTEIRA NA GEOGRAFIA
Francisco Pereira da Silva Filho
Edvania Gomes de Assis Silva
Diego Silva de Oliveira
José Francisco de Araújo Silva
Bruno Tiago da Silva Pereira
Desde o princípio das civilizações, as sociedades de modo geralteriam 
se preocupado em fazer investigações a respeito de certos acontecimentos/
fenômenos na Terra, principalmente no que ocorria ao seu redor, mesmo que de 
forma rudimentar. Esta preocupação já fazia parte da sua sobrevivência, fazendo 
surgir a partir daí os princípios da ciência, que nada mais é que a investigação de 
fatos e fenômenos ocorridos no ambiente de forma sistemática, que auxiliaria no 
entendimento e no desenvolvimento da humanidade no espaço geográfico, ou 
seja, a busca do conhecimento.
Nesta perspectiva, Japiassú e Marcondes, em sentido mais amplo e clássico, 
discorrem que “a ciência é um saber metódico e rigoroso, isto é, um conjunto 
de conhecimentos metodicamente adquiridos, mais ou menos sistematicamente 
organizados, e suscetíveis de serem transmitidos por um processo pedagógico 
de ensino” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006, p. 44). Assim, a ciência surge como 
uma investigação organizada e coerente, que mesmo utilizando métodos simples 
pode conseguir certos conhecimentos que podem passar para outros indivíduos 
num processo de ensino pedagógico, desta forma, providenciando sua principal 
essência, a melhoria de vida dos indivíduos e sua adaptação no ambiente 
terrestre de forma mais harmônica. Entre diversos pesquisadores o conceito de 
ciência não é unânime, do ponto de vista etimológico, significa “conhecimento”. 
Mas devido ao estágio atual de desenvolvimento da ciência, essa definição 
passou a ser considerada inadequada, uma vez que existem outras formas de 
conhecimento que não são científicas. Nesta perspectiva, Gil (2006, p. 20) afirma 
que ciência é entendida como “uma forma de conhecimento que tem por objetivo 
formular, mediante linguagem rigorosa e apropriada – se possível com auxílio da 
linguagem matemática – leis que regem os fenômenos”. 
Desta forma, se pode observar que o termo ciência pode ser compreendido 
em dois sentidos: o lato sensu, com a acepção de “conhecimento” e o stricto sensu, 
aludido apenas ao conhecimento que se obtém através da “apreensão e do registro 
dos fatos, com a demonstração de suas causas constitutivas ou determinantes” 
(MARCONI; LAKATOS, 2007). Esta concepção de ciência e sua importância se 
reforçaram com o passar dos anos, com as civilizações gregas e romanas, devido 
às evidências físicas da natureza e das ações humanas e suas inter-relações, 
assim havendo a necessidade de se realizar investigações que providenciasse 
LEITURA COMPLEMENTAR
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
20
explicações mais condizentes com os acontecimentos provenientes da relação 
homem/natureza de forma racional, na incansável busca pelo conhecimento. 
Dentro desta linha, de forma mais moderna, segundo Japiassú e Marcondes 
(2006, p. 44), a ciência passa a ser vista como:
A modalidade de saber constituída por um conjunto de aquisições 
intelectuais que tem por finalidade propor uma explicação racional 
e objetiva da realidade. Mais precisamente ainda: é a forma de 
conhecimento que não somente pretende apropriar-se do real para 
explicá-lo de modo racional e objetivo, mas procura estabelecer entre 
os fenômenos observados relações universais e necessárias, o que 
autoriza a previsão de resultados (efeitos) cujas causas podem ser 
detectadas mediante procedimentos de controle experimental.
Nesta perspectiva, a ciência é vista como um importante instrumento de 
investigação, que procura estabelecer a aquisição do conhecimento intelectual no 
homem, através de procedimentos de controle experimental, para que ele possa 
entender os fenômenos observados e seus efeitos de formas universais, para que 
assim se possa chegar num conhecimento racional que auxilie no bem-estar da 
sociedade e de todo o ambiente no qual está integrado de forma equilibrada.
Porém, para a construção desta ciência e seus estudos é preciso existir uma 
comunicação científica, a partir do pesquisador e do seu projeto, para que haja diálogos 
entre a busca de informações, a dispersão e o uso destas informações, com o intuito 
de produzir os possíveis resultados a respeito da proposta da pesquisa, para assim 
se conseguir obter o conhecimento científico, tão importante para o pesquisador e 
ao mesmo tempo para a comunidade e área pesquisada (GIL, 2009). Estes estudos 
hoje são estimulados em todos os níveis de educação, desde a educação básica até 
os cursos de graduação e pós-graduação, principalmente no stricto sensu e no latos 
sensu, com a produção de dissertações, teses e artigos científicos.
No entanto, é preciso tomar cuidado com o possível senso comum da 
ciência, onde é apresentado como resultado, no cotidiano humano, de uma 
generalização da construção/observação de fatos experienciados diariamente e 
que sustentam, dessa forma, as opiniões e crenças que podem interferir direta ou 
indiretamente no resultado da pesquisa. Este senso comum científico, segundo o 
autor, é dotado de um baixo poder crítico, destituído de objetividade por estar preso 
às convicções pessoais, por trabalhar com uma linguagem vaga e por não poder 
submeter a um exame crítico sistemático. Tudo isso é fruto de um conhecimento 
comum, referente às experiências imediatas sobre fatos e fenômenos observados, 
que apesar de ser espontâneo, possui suas limitações (KOCHE, 2005). 
Por outro lado, o conhecimento científico, aliado ao senso comum e com uma 
investigação séria, pode ser visto como algo importante por ser bastante crítico, que 
auxiliaria na construção do conhecimento, devido à utilização de uma linguagem mais 
precisa e delimitada, que ajudaria a desenvolver os conceitos baseados na vivência 
empírica, dessa forma, permitindo a realização de experimentos que auxiliem na sua 
validade, possibilitando a discussão dos resultados, na comunidade científica, de 
forma intersubjetiva, auxiliando na construção do conhecimento científico. 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
21
Esta constatação mostra, para os pesquisadores de forma geral, que o 
conhecimento produzido no molde da ciência, através da teoria e experimentos, 
é de fundamental importância para a discriminação dos resultados válidos na 
construção do conhecimento científico. Isso mostra também, o sentimento de 
necessidade do ser humano de conhecer, de compreender o mundo que o cerca, e 
busca fazê-lo através de suas capacidades. Trata-se de uma relação que supõe três 
elementos: o sujeito, o objeto e a imagem que se tem da realidade.
Portanto, o homem pode adquirir conhecimento por meio de sensações, da 
percepção, da imaginação, da memória, da linguagem, do raciocínio e da intuição 
e por meio dos diversos tipos de conhecimento, como o conhecimento popular, o 
filosófico, o religioso e científico, mas para isso ele precisa usar métodos e técnicas 
que o auxilie no ganho deste conhecimento, ou seja, a veracidade dos fatos de 
forma organizada (GIL, 2006). Devido a esta discussão, e com o intuito de facilitar 
a pesquisa científica, surge a metodologia, que nada mais é do que o estudo dos 
métodos no campo científico, ou seja, selecionar os métodos empregados nos diversos 
campos da ciência, assim procurando seus fundamentos e validade, e suas relações 
com as teorias científicas, que auxiliam nos resultados das pesquisas (JAPIASSÚ; 
MARCONDES, 2006). Estes métodos e sua precisa utilização são importantes para o 
desenvolvimento de qualquer pesquisa, pois possibilita o caminho do pesquisador 
no incremento do processo de investigação do qual está envolvido.
FONTE: <https://www.editorarealize.com.br/revistas/joinbr/trabalhos/TRABALHO_EV081_MD1_
SA142_ID2128_12092017151344.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2018.
22
Neste tópico, você aprendeu que:
• A capacidade de pensar permite que o ser humano não apenas conviva com 
a realidade, como também pode conhecê-la. Conhecer a realidade significa 
compreendê-la e explicá-la. Ao internalizar os modos de agir, pensar e falar, 
aos poucos as imagens se tornam verbalizadas, simbólicos, organizados e 
socialmente transformados pela linguagem,no caso a linguagem (diversidade 
de linguagens), produz conhecimento. Portanto, dá-se também o nome de 
conhecimento o saber acumulado pelo ser humano por meio das gerações, ou 
seja, um produto (cultural) que pode ser transmitido.
• O conhecimento vulgar, espontâneo ou popular, às vezes denominado 
senso comum, se distingue do conhecimento científico pela forma, método 
e instrumentos do conhecer. O conhecimento dito popular para o ensino de 
Geografia configura-se como um conhecimento de porta de entrada no processo 
de ensino-aprendizagem. 
• A produção do conhecimento científico pode ser destacada como resultado de 
diferentes exercícios acadêmicos e pesquisas realizadas. Significa a necessidade 
de levar a ciência para frente, de renová-la constantemente, de recuperar 
interminavelmente a criatividade, de explorar todas as potencialidades 
imagináveis, de inventar alternativas onde menos se espera. 
• Existem diferentes maneiras de explicar os fatos e fenômenos que envolvem o 
mundo em que vivemos, e a Ciência é uma delas. A Ciência é, portanto, uma 
forma de conhecimento, a atividade básica da Ciência é a pesquisa. Por meio 
dela é possível conhecer e compreender o mundo.
• A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos 
metodicamente sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos 
de uma mesma natureza, produz determinado tipo de conhecimento que em 
suas características possui conhecimento racional, obtidos metodicamente, 
sistematizadores,	verificáveis,	relativos	a	objetos	de	uma	mesma	natureza.
• Para interpretar as origens e o desenvolvimento da Revolução Científica, Prade 
(2004) cita que há três tradições ou mentalidades claramente definidas referentes 
ao fazer ciência no mundo e à busca de interpretação da realidade: Organicista, 
Mágica e Mecanicista. Outro olhar para os modelos de se fazer Ciência é descrita 
por Chaui (1997), quando diz que, historicamente, três são as principais concepções 
de Ciência ou ideias de cientificidade: Racionalista, Empirista e Construtivista. 
Por sua vez, Boaventura de Souza Santos (1987), no livro Um discurso sobre 
as ciências, enquadra a ciência moderna em três momentos: Paradigma da 
modernidade, Crise do modelo dominante, Paradigma emergente.
RESUMO DO TÓPICO 1
23
• O método pode ser definido como sendo os procedimentos do pesquisador 
ou o caminho que se estabelece para realizar a pesquisa científica. A palavra 
método é de origem grega e significa o conjunto de etapas e processos a serem 
vencidos ordenadamente na investigação dos fatos ou na procura da verdade. 
Etimologicamente, método vem de meta, ao longo de, e hodós, via caminho.
24
1 (ENADE, 2008 – Questão 20): 
Neste ensaio, ‘ciência normal’ significa a pesquisa firmemente baseada em uma 
ou mais realizações científicas passadas. Essas realizações são reconhecidas 
durante algum tempo por alguma comunidade científica específica como 
proporcionando os fundamentos para sua prática posterior. [...] Suponhamos 
que as crises são uma pré-condição necessária para a emergência de novas 
teorias e perguntemos então como os cientistas respondem a sua existência. 
[...] De modo especial, a discussão precedente indicou que consideraremos 
revoluções científicas aqueles episódios de desenvolvimento não cumulativo 
nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por 
um novo, incompatível com o anterior. 
T. Kuhn. A estrutura das revoluções científicas. Editora Perspectiva. 
Tendo o texto acima como referência inicial e considerando a filosofia da ciência 
de Thomas Kuhn, assinale a opção incorreta.
a) ( ) A assunção de um paradigma ocorre depois que o fracasso persistente 
na resolução de um problema dá origem a uma crise.
b) ( ) A atividade científica madura desenvolve-se por meio de fases de ciência 
normal (paradigma), crise, revolução e novo paradigma.
c) ( ) A ciência normal é o período em que se desenvolve uma atividade 
científica com base em um novo paradigma.
d) ( ) Paradigma é uma concepção teórica associada a aplicações-padrão que 
são objetos de consenso em uma comunidade científica.
e) ( ) As revoluções científicas produzem efeitos desintegradores na tradição 
à qual a atividade da ciência normal está ligada.
FONTE: ENADE/Filosofia 2008. Disponível em: <http://www.filosofia.com.br/vi_prova.
php?id=49>. Acesso em: 18 set. 2018.
2 O senhor X é analfabeto, trabalha no campo, recebeu informações e 
conhecimentos de seu pai, sabe o momento certo de semear, colher. Ele tem 
conhecimento de que o mesmo tipo de cultura, todos os anos, no mesmo 
local, prejudica o solo. Estamos nos referindo ao conhecimento:
a) ( ) Hipotético.
b) ( ) Abstrato.
c) ( ) Popular/prático.
d) ( ) Matemático.
AUTOATIVIDADE
25
3 A palavra ciência é de origem latina “Scientia” que provém de “Scie” que significa 
“aprender” ou “conhecer”. O conhecimento científico resulta da investigação 
reflexiva, metódica e sistemática da realidade. O conhecimento científico é:
a) ( ) Dogmático.
b) ( ) Metafísico.
c) ( ) Provisório.
d) ( ) Popular.
4 Enquanto o método A parte de casos específicos para tentar chegar a uma 
regra geral (o que, muitas vezes, leva a uma generalização indevida), o 
método B parte da compreensão da regra geral para então compreender os 
casos específicos. A sequência correta do método A e B é:
a) ( ) Indutivo-dedutivo.
b) ( ) Dedutivo-indutivo.
c) ( ) Histórico-dedutivo.
d) ( ) Histórico-indutivo.
26
27
TÓPICO 2
EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS 
E DA EDUCAÇÃO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, nosso estudo centralizou-se em saber o que é o 
conhecimento, o conhecimento científico, a ciência e os métodos que usamos nas 
pesquisas científicas, os quais contribuem com o conhecimento geográfico. 
Passaremos a estudar agora as fontes, conceitos, possibilidades e limites 
do conhecimento (questões epistemológicas). Para isso, organizamos o tópico em 
três assuntos orientadores. 
Começaremos com a Epistemologia das Ciências Sociais. Depois, a 
Epistemologia da Educação, que compreende a discussão e reflexão em torno 
da gênese e desenvolvimento do conceito epistemologia presente nas obras e 
pensamentos de diversas correntes e autores na Educação.
E, por último, a Epistemologia e Pesquisa em Geografia, que apresenta o 
caminho percorrido pela Ciência Geográfica e suas várias vertentes e abordagens 
epistemológicas e como essas teorias se relacionam com o campo da pesquisa e 
ensino de Geografia.
2 EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS
Quando na atualidade falamos da gênese, desenvolvimento, estruturação 
e articulação da Ciência, dizemos que estamos tratando da Epistemologia, que 
é em certo sentido a teoria do saber científico que tem por fim o estudo crítico 
dos princípios, objetos, limites, relações e resultados das diversas ciências e/ou a 
investigação de todo conhecimento enquanto tal. Em alguns países, e em dados 
momentos históricos, a Epistemologia é sinônimo de Teoria do Conhecimento, ou 
Gnosiologia, ou Filosofia da Ciência. Nas palavras de Keim e Lopes (2012, p. 21-22):
[...] Na França significa o estudo dos problemas filosóficos relativos à 
Ciência. Contudo, em outros países, como nos EUA, tem significados 
distintos. Epistemologia é o estudo acerca dos problemas gerais em 
torno do conhecimento. Por exemplo, o que é o conhecimento? Como 
justificamos nossas crenças? Quais são as fontes do conhecimento? 
Quais os limites do conhecimento? Podemos conhecer algo? 
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
28
O termo Epistemologia vem do grego e pode ser traduzido como estudo 
do conhecimento ou teoria do conhecimento. De acordo com Severino (2011), 
em termos gerais, portanto, não há diferença entre Epistemologia e Teoria do 
Conhecimento. É muito comum encontrarmos quem acredita que Epistemologia 
(ou Teoria do Conhecimento) é a mesma coisa que Filosofia da Ciência. Isso 
parece acontecer porqueEpistemologia vem do termo grego episteme, que 
podemos traduzir tanto como “conhecimento” quanto “ciência”. Todavia, o 
termo “ciência”, tal como usamos hoje, tem outro significado. Usamos “ciência” 
para designar um grande campo de estudo que trata de fenômenos naturais e 
humanos, como a Física, Química, Biologia, História, Sociologia. Segundo Willians 
(2001), a epistemologia entrou em línguas europeias em meados do século XIX. 
Entretanto, como um assunto, já estava presente desde a Grécia Antiga, tanto nas 
discussões de Platão acerca do conhecimento como na obra de Aristóteles sobre 
a lógica do conhecimento científico, ou seja, o conhecimento disposto a partir 
de princípios básicos, por meio dos quais outros conhecimentos podem derivar 
ou vários fatos podem ser explicados. Posto isso, podemos afirmar que todos 
os filósofos, desde o início da civilização, se destinaram em algum momento à 
epistemologia. Em suas apreciações, os estudiosos tentam assinalar a verdade das 
crenças e aparências. No princípio da era moderna, a teoria do conhecimento foi 
avaliada em diversos contextos intelectuais que abarcavam discussões a respeito 
dos métodos e estrutura que objetivavam prover uma base para o que se entendia 
ser o verdadeiro conhecimento.
As tendências pioneiras dos filósofos gregos, como Platão, idealizam o 
conhecimento como a consciência absoluta e universal, independentemente de 
qualquer sujeito que tente apreendê-lo. Aristóteles buscou enfatizar os métodos 
lógicos e empíricos para a constituição do conhecimento, acolhendo a perspectiva 
de que tal conhecimento é uma apreensão de princípios universais. 
De acordo com Seifert (2008, p. 10):
A palavra grega epistéme significa conhecimento, mas em um sentido 
forte, como era usual para os gregos, mas não para nós, o que hoje 
chamaríamos de conhecimento absoluto, os gregos usavam esse termo 
para diferenciá-lo de outro tipo de saber, aquele que chamavam doxa, 
termo cuja tradução apropriada é opinião. E justamente, desde lá, 
consiste a tarefa fundamental da epistemologia, seja em determinar a 
diferença entre conhecimento (epistéme) e opinião (doxa). 
Os gregos perceberam que ter uma opinião que corresponde aos fatos não 
é necessariamente conhecer os fatos. Para refletir sobre o que já estudamos, seria 
pensar entre senso comum e conhecimento científico, informação e pesquisa, e 
informação geográfica e conhecimento geográfico.
TÓPICO 2 | EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS 
29
Já na era moderna, foram as duas vertentes epistemológicas que mantiveram 
o domínio sobre o debate concernente ao conhecimento: o empirismo, que vê o 
conhecimento como produto da percepção dos sentidos, e o racionalismo, que o vê 
como o produto da reflexão racional. Sendo o objeto da epistemologia o conhecimento, 
algumas questões básicas da teoria do conhecimento necessitam ser refletidas, então a 
questão fundamental passa a ser: De onde vêm e quais são os limites do conhecimento 
humano? Para elucidar a questão, Galliano (1999) cita sobre as duas correntes do 
pensamento filosófico da era moderna: o racionalismo e o empirismo. Os pensadores 
racionalistas pregavam que todo e qualquer conhecimento tem sua formação na 
razão e tudo que diz respeito a ele é essencialmente racional. O ser humano só pode 
conhecer por meio da mente humana. Os pensadores empiristas colocam, por outro 
lado, que o verdadeiro conhecimento só pode ser alcançado por meio da experiência. 
Assim, o conhecimento é alcançado a partir dos sentidos, nesse âmbito a verdade 
é que nós conhecemos as coisas, seja esse conhecimento alcançado por meio de 
nossas experiências sensoriais, seja através da razão, e a epistemologia compreende 
justamente a relação entre a realidade e as verdades produzidas sobre ela. 
Na visão do professor Severino (2011, p. 17): 
A Epistemologia é aquela que estuda os processos do conhecimento 
produzidos pelo ser humano, tanto do ponto de vista descritivo, como 
do ponto de vista crítico. Trata-se de saber como se dá o conhecimento 
humano, qual é o seu alcance e seu valor, até que ponto ele nos dá a 
verdade, em todas as formas de manifestações.
A partir da história da epistemologia, pode-se perceber que as teorias 
iniciais do conhecimento enfatizam o seu caráter constante e absoluto, ao passo que 
as teorias seguintes ressaltam sua relatividade, seu sucessivo desenvolvimento e, 
sobretudo, sua influência no mundo, assim como em seus sujeitos e objetos. O 
movimento parte de uma visão estática e passiva do conhecimento rumo a uma 
visão mais ativa e adaptável, dinâmica e provisória.
Por sua vez, no seu artigo referente à Epistemologia da Ancestralidade, 
Oliveira (2018, p. 3) escreve:
[...] há uma epistéme universal ou haveria uma epistéme de acordo 
com cada cultura? Sou daqueles que advogam que cada cultura produz 
seu próprio regime de signo, e que eles podem ser mais ou menos 
desterritorializados de acordo com o contexto em que surgiram e 
multiplicaram-se. [...] A cultura se constitui no modo de apreensão do 
real, e o real constitui-se como singularidade. Ora, o modo pelo qual 
eu apreendo o real depende da percepção que tenho da singularidade. 
Depende, sobremaneira, do observador que observa e não do que é 
observado. Os objetos do mundo não são independentes do observador. 
[...] A epistemologia necessita compreender as diferentes lógicas 
que coabitam o planeta, muito embora a epistemologia eurocentrada 
tenha propagado sua universalidade que não passa de uma operação 
ideológica. As propostas epistemológicas estão semeadas nos territórios 
de cultura. É mister, então, percorrer os caminhos da diversidade, e tecer 
redes que deem conta de conectar os pontos comuns e diagramar os 
pontos divergentes das epistemologias criadas e recriadas pelo mundo.
UNIDADE 1 | EPISTEMOLOGIA, FUNDAMENTOS E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA
30
O mundo contemporâneo conheceu a crítica aos regimes únicos de 
referência. Com o advento da pós-modernidade, caíram por terra as grandes 
explicações ou compreensões ditas universais/gerais do mundo. Oliveira (2018) 
comenta que em lugar do império da unidade descortinou-se a boa nova do 
evangelho da diversidade, por isso ele não compreende a epistemologia como um 
ramo da filosofia ocidental que se ocupa da questão do conhecimento, ele concebe 
a epistemologia como fonte de produção de signos e significados concernentes ao 
jogo de sedução que a cultura é capaz de promover.
3 CIÊNCIAS HUMANAS E ABORDAGENS EPISTEMOLÓGICAS
Embora seja evidente que toda a Ciência é Humana, pois resulta da 
atividade humana do conhecimento, as ditas Ciências Humanas referem-se 
àquelas que têm como objetivo o estudo do homem como ser social, elas reúnem 
criteriosamente conhecimentos organizados sobre a produção humana e do 
conhecimento, realizadas a partir de discursos específicos. De acordo com Chaui 
(1997), a situação da Ciência Humana é muito especial devido a três fatores. Seu 
objeto de estudo é recente, o ser humano como objeto científico é uma ideia surgida 
apenas no século XIX. Elas surgem após a consolidação das Ciências Matemáticas 
e Naturais, de modo que elas imitaram no início e copiaram o que aquelas ciências 
haviam estabelecido tratando o homem como uma coisa natural matematizável, ou 
seja, surge no período em que prevalecia a concepção empirista e determinista da 
Ciência. As Ciências Humanas acabaram trabalhando por analogias com as Ciências 
Naturais e seus resultados tornaram-se muito contestáveis e pouco confiáveis.
A complexidade de se estudar e pesquisar os atos humanos oferece 
algumas dificuldades. Martins (1999) cita que, como o objeto de conhecimento é 
o próprio ser humano, torna-se difícil manter distanciamento dele para se obter 
um saber imparcial. Quanto à experimentação é difícil identificar os diversos 
aspectos que influenciam os atos humanos. Quanto à matematização, não é 
possível identificar todos os dados. Quanto ao determinismo, o comportamento 
humano não é previsível. As dificuldades

Outros materiais