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Fundador e Presidente do Conselho de Administração: Janguê Diniz Diretor-Presidente: Jânyo Diniz Diretor de Inovação e Serviços: Joaldo Diniz Diretoria Executiva de Ensino: Adriano Azevedo Diretoria de Ensino a Distância: Enzo Moreira Créditos Institucionais Todos os direitos reservados 2020 by Telesapiens Genética Humana A AUTORA DÉBORA MARTINS PAIXÃO Olá. Meu nome é Débora Martins Paixão. Sou Doutora em Zootecnia, com uma experiência técnico-profissional na área de Educação a distância de mais de 3 anos. Passei por empresas com o Instituto de Pesquisas e Educação Continuada Economia e Gestão de Empresas-PECEGE; Briwet Consulteria; @ agronomiaconcursos; e Aprova Concurso. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem significam: OBJETIVO Breve descrição do objetivo de aprendizagem; + OBSERVAÇÃO Uma nota explicativa sobre o que acaba de ser dito; CITAÇÃO Parte retirada de um texto; RESUMINDO Uma síntese das últimas abordagens; TESTANDO Sugestão de práticas ou exercícios para fixação do conteúdo; DEFINIÇÃO Definição de um conceito; IMPORTANTE O conteúdo em destaque precisa ser priorizado; ACESSE Links úteis para fixação do conteúdo; DICA Um atalho para resolver algo que foi introduzido no conteúdo; SAIBA MAIS Informações adicionais sobre o conteúdo e temas afins; +++ EXPLICANDO DIFERENTE Um jeito diferente e mais simples de explicar o que acaba de ser explicado; SOLUÇÃO Resolução passo a passo de um problema ou exercício; EXEMPLO Explicação do conteúdo ou conceito partindo de um caso prático; CURIOSIDADE Indicação de curiosidades e fatos para reflexão sobre o tema em estudo; PALAVRA DO AUTOR Uma opinião pessoal e particular do autor da obra; REFLITA O texto destacado deve ser alvo de reflexão. SUMÁRIO Padrões de Genealogia Mendelianos .................................12 Mendel: regras da herança................................................. 12 Cruzamentos monoíbrido: os princípios da dominância e da segregação ...................................................... 13 Métodos simples de notação .............................................. 17 Como prever os resultados dos cruzamentos genéticos ............................................................... 17 Segunda Lei de Mendel ..................................................... 19 Genética de populações ......................................................21 Aplicações de Genética de populações .............................. 21 Estimativa das Frequências Alélicas .................................. 24 A lei de Hardy-Weinberg ................................................... 26 Demonstração da Lei de Hardy-Weinberg ............... 27 Determinação das frequências alélicas e genotípicas em populações em equilíbrio .................................................. 29 Genes codominantes ............................................... 29 Dominância completa (quando não se conhece a frequência dos heterozigotos) ................................. 30 Equilíbrio de Hardy-Weinberg ................................ 31 Estrutura dos ácidos nucleicos e replicação do DNA .......33 Estrutura dos ácidos nucleicos ......................................... 33 Estrutura química dos ácidos nucléicos ...................... .............................................................................. 34 Estrutura molecular ............................................... 36 Replicação do DNA ......................................................... 39 Genética e evolução ............................................................43 Teoria da evolução ............................................................ 43 Teoria da evolução no século XXI .......................... 45 Níveis de análise genética ................................................. 47 Construção das árvores filogenéticas ................................. 48 Evolução no Brasil ............................................................ 49 9 UNIDADE 01 Genética Humana LIVRO DIDÁTICO DIGITAL Genética Humana10 Você sabia que a genética é uma das ciências que tem grande impacto sobre nós? Ela explica as semelhanças que temos com nossos parentes, nossa formação embrionária, doenças genéticas e o mais importante, explica nossa biometria única. Isso mesmo, você é único! A genética começou com os estudos do mecanismo de herança genética, por de Gregor Mendel, publicado em 1866. Anos mais tarde, em 1953, a estrutura do DNA foi elucidada e a genética teve seu grande momento de esclarecimento; recentemente genomas inteiros estão sequenciados. As frequências alélicas, genotípicas e fenotípicas de uma população, assim como a distribuição dos alelos podem ser observadas por metodologias da genética de populações. A evolução do genoma ocorre devido a duplicação e embaralhamento de éxons, duplicação dos genes para formar famílias de genes, duplicação do genoma inteiro e transferência horizontal de genes entre organismo. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Genética Humana 11 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: OBJETIVOS Interpretar os princípios básicos da hereditariedade. Classificar os ácidos nucleicos e a estrutura molecular dos cromossomos. Descrever o Código da vida: DNA a proteína, RNA não-codificantes. Identificar as aplicações da Genética evolutiva. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! 1 2 3 4 Genética Humana12 Padrões de Genealogia Mendelianos OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender os primeiros modelos de mecanismo de transmissão das características dos organismos dos pais para os filhos. Isto será fundamental para iniciarmos os estudos de Genética Humana. Aqui, os alunos utilizam um roteiro bem elaborado, sobre o tema, possibilitando compreender as competências da Unidade. E então? Motivado para desenvolver este desafio? Então vamos lá. Avante! Mendel: regras da herança Charles Darwin (1809-1882), um dos biólogos mais influentes do século 19, desenvolveu a teoria da evolução por meio da seleção natural e publicou suas ideias no livro, “A Origem das Espécies em 1859”. Darwin conseguiu reconhecer que a hereditariedade era fundamental para a evolução e realizou amplos cruzamentos genéticos com diferentes organismos. Entretanto, ele nunca compreendeu a natureza da herança, e estes questionamentos permaneceram não elucidados em sua teoria da evolução. Mas, “o esclarecimento”, veio, com a utilização de ervilhas por Mendel. Essa abordagem foi bem sucedida por vários motivos. Entre eles, foi a escolha do material a ser estudado, a ervilha Pisum sativum, possuia vantagens na investigação genética; pois era uma planta de fácil cultivo e podia ser cultivada no jardim do monastério; cresce com relativa facilidade, finalizando uma geração em uma única estação de crescimento. A ervilha também produz muitos descendentes, o que permitiu Genética Humana 13 que Mendel determinasse as razões matemáticas significativas nas características que observava nos descendentes; além disso, tinha a disposição grande número de variedades de ervilhas e muitas características diferentes e geneticamente puras. DEFINIÇÃO Em resumo, a teoria de Charles Darwin dizia que todas as espécies vinham de um único ancestral comum, e que esse ancestral foi aos poucos, e lentamente, evoluindo e originando todas as espécies do planeta. Além disso, supôs também que um indivíduoherdaria as características de seus pais em medidas iguais, isto é, 50% de cada progenitor. Em meados do século 19, o monge austríaco Gregor Mendel, contemporâneo de Darwin, criou as bases de outra revolução na biologia, que acabou por dar origem a uma ciência, classificada como genética. As suposições de Mendel, publicadas em 1866, sob o título “Experimentos na hibridização de plantas”, vieram para explicar o mecanismo de herança das características dos organismos. O próprio Mendel e vários outros estudiosos da época tinham esse objetivo, utilizando diferentes espécies vegetais e animais. Cruzamentos monoíbrido: os princípios da dominância e da segregação Mendel iniciou o seu experimento selecionando variedades de ervilhas durante dois. Entre os pré-requisitos verificou que cada variedade era geneticamente pura (homozigotos para cada um dos traços que ele escolheu estudar); ao verificar por duas gerações que os traços dos descendentes eram os Genética Humana14 mesmos que de seus genitores. Ele realizou vários cruzamentos entre as diferentes variedades. Embora as ervilhas façam a autofertilização (cada planta cruza com ela mesma), Mendel fez cruzamentos entre diferentes plantas ao abrir os botões antes que as anteras (órgãos sexuais masculinos) estivessem totalmente desenvolvidas, removia as anteras e então pulverizava o estigma (órgãos sexuais femininos) com pólen das anteras de uma planta diferente. Mendel começou a estudar os cruzamentos mono-híbridos, cujos genitores tinham apenas uma única característica diferente. Em um experimento, Mendel cruzou uma ervilha de geração pura (homozigota) para sementes lisas com uma que era pura para sementes rugosas. A primeira geração de um cruzamento é a geração P (parental). Após cruzar as duas variedades na geração P, Mendel observou a descendência do cruzamento. Os descendentes a partir dos genitores na geração P são a geração F1 (primeira geração filial). Quando Mendel examinou a geração F1 deste cruzamento, descobriu que eles expressavam apenas um dos fenótipos presentes na geração original: todas as sementes F1 eram lisas. Mendel realizou 60 desses cruzamentos e sempre tinha esse resultado. Ele também fez cruzamentos recíprocos: em um cruzamento, o pólen (gameta masculino) era retirado de uma planta com sementes lisas e em seu cruzamento recíproco, o pólen era retirado de uma planta com sementes rugosas. Os cruzamentos recíprocos também tinham o mesmo resultado: toda F1 era lisa. Mendel continuou seus estudos na estação seguinte, plantou as sementes de F1, cultivou as plantas que germinavam a partir destas sementes e permitiu que as plantas fizessem a autofertilização, produzindo uma segunda geração filial, a chamada geração F2. Ambos os traços da geração P surgiram na geração F2, Mendel contou p número de sementes Lisas e rugosas em F2. Ele observou que o número de sementes lisas e rugosas constituía uma proporção de aproximadamente 3:1, ou seja, 3/4 das sementes da geração F2 eram lisas e 1/4 era rugosa. Genética Humana 15 Para avaliar o papel do acaso na produção de desvios entre os números observados e esperados, um teste estatístico chamado de teste qui-quadrado foi usado. Mendel conduziu cruzamentos mono-híbridos para todas as sete características estudadas em ervilhas e, em todos os cruzamentos obteve o mesmo resultado: F1 um fenótipo semelhante a um dos genitores, e em F2 ambos os fenótipos e na razão aproximada de 3:1. E agora como explicar esses resultados? A existência de sementes lisas e rugosas nas plantas de F2 poderiam ser explicadas apenas se, as plantas F1 tivesse obrigatoriamente dois fatores genéticos, que codificassem uma mesma característica. IMPORTANTE Os fatores genéticos (agora chamados alelos) que Mendel descobriu são, por convenção, designados por letras. Os heredogramas são diagramas que mostram as relações entre os membros de uma família. Mendel, ainda observou, que quando dois gametas (um de cada genitor) se unem para produzir um zigoto, isso ocorre independente: o alelo do genitor masculino se une com o alelo do genitor feminino para produzir o genótipo dos descendentes. Descobriu também que quando os alelos estão presentes em heterozigose (acontece no cruzamento apenas de ervilhas puras para característica), um desses alelos seria dominante; e o outro alelo teria seus os traços suprimidos; os quais ele chamou de recessivo. Genética Humana16 Usando as relações numéricas regulares pode-se concluir: que os genes existem em pares; que cada linhagem parental tinha duas cópias idênticas de um gene (diploides e homozigotas); os alelos se separam durante a produção de gametas na meiose. Ou seja, cada gameta tem uma só cópia de um alelo, na terminologia atual, os gametas são haploides. O número diploide dos genes seria restaurado na união dos gametas de forma independente. DICA A identificação de características (doenças) causadas por alelos recessivas são mais difíceis de ser identificadas; uma vez que os pais podem não manifestar a característica. Muitas vezes é preciso várias gerações, representadas por heredogramas, para acompanhar a transmissão de um alelo recessivo. Mendel estava totalmente comprometido com seu experimento, vocês também concordam? Mendel com seus achados formulou “A Primeira Lei de Mendel”, que trouxe grandes ganhos para pesquisa: 1. O princípio da dominância: em um heterozigoto, um alelo pode ocultar a presença de outro. Alguns alelos controlam a expressão de outro alelo mesmo em uma única cópia. Mendel confirmou este princípio ao permitir que suas plantas F2 se auto fertilizassem e produzissem a geração F3; 2. O princípio da segregação: em um genótipo heterozigoto, os dois alelos da célula diploide segregam-se independente na formação dos gametas. A base biológica desse fenômeno é o pareamento e a subsequente separação de cromossomos homólogos durante a meiose. Genética Humana 17 Métodos simples de notação Como prever os resultados dos cruzamentos genéticos O quadrado de Punnett foi desenvolvido pelo geneticista inglês Reginald C. Punnett em 1917; formado ao desenhar uma grade, colocando os gametas produzidos por um genitor ao longo da linha superior e os gametas produzidos pelo outro genitor no lado esquerdo; gerando o genótipo dos descendentes produzidos pela fusão desses gametas. Ao contar, podemos determinar os tipos de descendentes produzidos e suas razões. Figura 1: Quadrado de Punnett. O gameta com alelo A se une com um gameta com alelo a da planta baixa, gerando os genótipos dos descendentes (AA, Aa e aa). Aa AaX A a A a AA Aa Aa aa Fonte: @commons. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Punnett_miguelferig.png Genética Humana18 Mendel também usou a probabilidade, que expressa “quão provável é a ocorrência de determinado evento”. Além disso, usou o princípio de que dois ou mais eventos são chamados eventos independentes quando a ocorrência ou não ocorrência de um dos eventos, não afeta a ocorrência ou a não ocorrência dos outros. SAIBA MAIS A expansão binomial assume a forma, em que p é igual à probabilidade de um evento, q é igual à probabilidade do evento alternativo e n é igual ao número de vezes que o evento ocorre. IMPORTANTE Uma ferramenta útil para analisar os cruzamentos genéticos é o cruzamento-teste, no qual o indivíduo de genótipo desconhecido é cruzado com outro indivíduo de genótipo homozigoto recessivo para identificar o genótipo desconhecido. Agora vamos estudar o princípio da segregação de Mendel, conhecida como “Segunda Lei de Mendel”. Genética Humana 19 Segunda Lei de Mendel Mendel analisou o cruzamento diíbrido. Por exemplo, cruzou variedade homozigota de ervilha com sementes lisas e amarelas (RRVV) e outra variedade homozigota com sementes rugosas e verdes (rrvv). A geração F1 forneceu apenas descendentes com sementes lisas e amarelas. Ao fazer a autofertilização, obteve a seguinte geração em F2:315 sementes lisas e amarelas (R-V-); 101 sementes rugosas e amarelas (rrV- ); 108 sementes lisas e verdes (R-vv) e 32 sementes rugosas e verdes (rrvv). Ou seja, houve segregação independente dos alelos no cruzamento diíbrido, resultando em duas classes de sementes amarelas e lisas e sementes verdes e rugosas que se assemelhavam às linhagens parentais, e outras duas variedades de sementes verdes e lisas e sementes amarelas e rugosas que apresentam novas combinações de características. Mendel reconheceu que estes traços apareciam em uma razão aproximadamente: 9/16 dos descendentes eram lisas e amarelas; 3/16 eram rugosas e amarelas, 3/16 eram rugosas e verdes e 1/16 era rugosa e verde. Este princípio afirma que os alelos em diferentes locos se separam independentemente um do outro na meiose. IMPORTANTE Geralmente, é comum considerar que o princípio da segregação e o princípio da segregação independente se referem a dois processos diferentes. O princípio da segregação independente é uma extensão do princípio da segregação. O princípio da segregação afirma que os dois alelos de um loco se separam quando os gametas são formados. E o princípio da segregação independente afirma que, quando estes dois alelos se separam, sua separação é independente da separação dos alelos em outros locos. Genética Humana20 DICA Segunda Lei de Mendel, também chamada de Lei da Segregação Independente, estabelece que “os fatores (alelos) para duas ou mais características se distribuem independentemente durante a formação dos gametas e se combinam ao acaso”. Contudo, é aplicada apenas para aqueles genes que estão localizados em cromossomos não homólogos ou ainda para aqueles que estão distantes uns dos outros. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a primeira lei de Mendel ou lei da segregação dos fatores determina que os alelos se segregam, separam-se, durante a formação dos gametas, sendo que, assim, pai e mãe transmitem apenas um alelo para seus descendentes”. E a segunda Lei de Mendel, também chamada de Lei da Segregação Independente estabelece que “os fatores (alelos) para duas ou mais características se distribuem independentemente durante a formação dos gametas e se combinam ao acaso”. Genética Humana 21 Genética de populações OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender como genética de populações estuda as frequências alélicas, genotípicas e fenotípicas de uma população, bem como a distribuição alélicas sob influências evolutivas. E, a base da genética de populações, que é a lei ou princípio de Hardy-Weinberg. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Aplicações de Genética de populações A genética de populações estuda as frequências alélicas, genotípicas e fenotípicas de uma população, além da distribuição dos alelos nas populações sob influência das quatro forças evolutivas: seleção natural, deriva gênica, mutação e fluxo gênico. A teoria da genética populacional é fundamentada em estudos de frequências alélicas. Cada gene possui alelos em diferentes frequências na população e, ao analisá-los, um indivíduo diploide pode ser homozigoto ou heterozigoto. Os cálculos das frequências são à base da teoria da genética de populações. Genética Humana22 IMPORTANTE Genótipo dominante, nem sempre é a mais frequente em uma população, isto vai depender da frequência do alelo que o determina. Por exemplo, a doença de Huntington é autossômica dominante, sendo o fenótipo normal, recessivo. Encontramos poucos indivíduos afetados; pois a frequência alélica para a doença é baixa. Pelo estudo da genética de populações humanas, pode-se analisar aspectos das doenças hereditárias, efeitos disgênicos das radiações e dos produtos químicos (agentes mutagênicos), bem como os efeitos da medicina entre outros. Para se compreender melhor nosso estudo, é necessário conhecer alguns conceitos essenciais, como: DEFINIÇÃO População: Essa é fácil! Qualquer conjunto de indivíduos que podem se entrecruzar; pessoas de uma comunidade, de uma cidade, estado ou nação entre outras: 1. Conjunto gênico ou pool gênico: envolve todos os alelos contidos no conjunto dos indivíduos que se cruzam de uma população, em um dado instante; 2. Frequência alélica: corresponde à porcentagem que um determinado alelo se encontra em relação a todos os outros alelos de um gene, em uma determinada população; Genética Humana 23 3. Frequência genotípica: corresponde à porcentagem com que um genótipo de um conjunto o alelo se encontra em uma dada população; 4. Frequência fenotípica: refere se à porcentagem com que um determinado fenótipo se manifesta em uma dada população. A genética de populações tem importantes influências nas ciências da saúde, agricultura, zoologia entre outras. Vamos compreendê-las? �Aconselhamento genético em relação a doenças hereditárias; programas de rastreamento populacional de doenças genética em alguns grupos populacionais do que em outros, entre outros; �Determinar a probabilidade de ocorrência de uma determinada doença hereditária em um indivíduo, quando não há história familiar da doença; �Dos testes de DNA e a interpretação estatística dos seus resultados; � Importante no diagnóstico clínico e na identificação das frequências de diferentes distúrbios. Por meio da genética de populações conseguimos determinar as diferenças nas frequências de doenças gênicas entre os membros de grupos isolados geneticamente e os indivíduos da população originaria; �Usada no delineamento de estudos de amostragem, conhecimento e preservação da variação genética entre as populações humanas distribuídas por todo o mundo. Genética Humana24 Estimativa das Frequências Alélicas Uma população é grande demais para ser estudada completamente, portanto à análise é feita por meio de uma amostra representativa. A variação genética é a base da evolução e a magnitude da variabilidade genética em uma população afeta seu poder de adaptação à mudança ambiental. EXPLICANDO DIFERENTE+++ Uma frequência é uma proporção ou uma porcentagem, em geral expressa como uma fração decimal. As frequências genotípicas e alélicas da amostra são, então, usadas para representar o pool de genes da população. A soma de todas as frequências genotípicas é sempre igual a 1. A tabela 1 apresenta dados de uma amostra de pessoas submetidas a genotipagem para identificação do tipo sanguíneo M-N. Esses tipos sanguíneos são determinados por dois alelos de um gene no cromossomo 4: LM, que produz o tipo sanguíneo M, e LN, que produz o tipo sanguíneo N. As pessoas heterozigotas LMLN têm sangue do tipo MN. Genética Humana 25 Tabela 1: Frequência dos tipos sanguíneos M-N em uma amostra de 6.129 indivíduos. Tipo sanguíneo Genótipo Número de indivíduos Frequência genótica M LMLM 1.787 nMM/N=0,29 MN LMLN 3.039 nMN/N=0,49 N LNLN 1.303 nNN/N=0,22 Total 6.129 1 LM, que produz o tipo sanguíneo M, e LN, que produz o tipo sanguíneo N. As pessoas heterozigotas LMLN têm sangue do tipo MN. D=Frequência genotípica de MM; H= frequência de MN e R =frequência de NN. Fonte: Elaborada pela autora com base em Snustad e Simmons (2013) Para estimar as frequências dos alelos LM e LN, apenas calculamos a incidência de cada alelo entre todos os alelos da amostra: 1. Como cada indivíduo da amostra tem dois alelos do locos do tipo sanguíneo, o número total de alelos na amostra é o dobro do tamanho da amostra (12.258): 2. A frequência do alelo LM é o dobro do número de homozigotos LMLM mais o número de heterozigotos LMLN, tudo isso dividido pelo número total de alelos da amostra: 3. A frequência do alelo LN é o dobro do número de homozigotos LNLN mais o número de heterozigotos LNLN, tudo isso dividido pelo número total dealelos da amostra Genética Humana26 Desse modo, se representa a frequência do alelo LM e representa a frequência do alelo LN, estimamos que na população da qual a amostra foi retirada, Além disso, como LM e LN representam 100% dos alelos desse gene específico, p+ q= 1. A lei de Hardy-Weinberg Em 1980, Hardy e Weinberg publicaram artigos independentes que descreviam a relação matemática entre as frequências alélicas e as frequências genotípicas; denominado princípio de Hardy-Weinberg que: para qualquer lócus gênico, as frequências relativas dos genótipos, em populações de cruzamentos ao acaso (panmíticas), permanecem constantes, de geração a geração, a menos que certos fatores perturbem esse equilíbrio. A mutação, seleção, deriva genética (ou oscilação genética) e migração (ou fluxo gênico) são eventos que causam desequilíbrio nas frequências (fatores evolutivos). IMPORTANTE A principal premissa do princípio de Hardy-Weinberg é que a reprodução aleatória em relação ao gene em estudo. Portanto, formam um pool de gametas que, por ocasião da fertilização, combinam-se aleatoriamente para produzir os zigotos da próxima geração. Se esses zigotos tiverem chances iguais de sobreviver até a fase adulta, as frequências genotípicas criadas por ocasião da fertilização serão reservadas, e quando a próxima geração se reproduzir, essas frequências aparecerão de novo na prole. Embora o modelo de Hardy-Weinberg pareça não se aplicar às populações humanas, uma vez que elas não atendem Genética Humana 27 em conjunto a todas as premissas mencionadas, esta é importante porque possibilita: 1. Descrever a composição populacional em termos de frequências alélicas; 2. Conhecer as frequências dos diferentes genótipos, mesmo quando alguns não estejam expressando seu fenótipo; possibilita observar, doença rara; e 3. Avaliar os possíveis efeitos dos fatores evolutivos (mutação, seleção, migração e deriva genética) na constituição genética de uma população. SAIBA MAIS Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Capítulo 1: “Beiguelman, Bernardo. Genética de Populações Humanas. Ribeirão Preto: SBG, 2008. 235p”. Fonte: Disponível em: https://bit.ly/363YROv. Acesso em: 22 out.2020. Demonstração da Lei de Hardy-Weinberg Considere hipoteticamente um conjunto gênico, que é uma mistura de genes que irão dar origem à geração seguinte. Nesse conjunto gênico, qualquer gameta masculino tem igual probabilidade de se unir a qualquer gameta feminino. Assim, as frequências genotípicas esperadas no zigoto da próxima geração podem ser previstas, desde que se conheçam as frequências dos alelos considerados, A e a. Suponha-se que seja a frequência de A e a frequência de a. Cruzando-se dois indivíduos heterozigotos para o loco em https://bit.ly/363YROv Genética Humana28 questão (Aa x Aa), será́ obtida a distribuição genotípica mostrada na Tabela 2. Assim, as frequências genotípicas esperadas para a geração seguinte são: frequência esperada de AA frequência esperada de Aa frequência esperada de AA Obedecendo-se as premissas que garantam o equilíbrio de Hardy-Weinberg, as frequências gênicas se mantêm constantes de geração a geração (Tabela 2). IMPORTANTE Se as frequências genotípicas (e consequentemente as alélicas) permanecessem em equilíbrio, não haveria evolução. Portanto, os fatores evolutivos são indispensáveis para sobrevivências das populações. Tabela 2: Distribuição genotípica na prole dos indivíduos heterozigotos (Aa x Aa) ♀ ♀ A(p) A (q) A (p) AA (p2) Aa (pq) a (q) Aa (pq) Aa (q2) Fonte: Elaborado pela autora (2020). Genética Humana 29 Determinação das frequências alélicas e genotípicas em populações em equilíbrio Genes codominantes Em uma população hipotética em equilíbrio, considere um determinado lócus autossômico codominante com dois alelos, A e a. Sendo as frequências alélicas são 0,8 e 0,2, respectivamente, para A e a. Então, as frequências genotípicas poderão ser calculadas. As combinações possíveis dos dois alelos em estudo são AA, Aa e aa. Esses três genótipos ocorrem com as seguintes frequências: Para alelos codominantes, as frequências alélicas podem ser calculadas: 1. Por contagem de alelos: Exemplo, analisemos uma população de 2 mil indivíduos, na qual a distribuição dos diferentes grupos sanguíneos (fenótipos) do sistema MN seja a seguinte: M=680 indivíduos (genótipo: MM); MN=950 indivíduos (genótipo: MN); N=370 indivíduos (genótipo: NN); Total =2.000 indivíduos. Considerando que cada indivíduo do grupo M possui 2 alelos M e cada indivíduo MN possui apenas um alelo M, a frequência p do alelo M, nesta amostra, é igual ao número de alelos M dividido pelo número total de alelos contidos na amostra, ou seja: Genética Humana30 Do mesmo modo, a frequência q do alelo N é obtida pela razão: número de indivíduos do grupo N x 2 + número de indivíduos MN dividido pelo número total de alelos contidos na amostra, ou seja: Assim, a frequência do alelo M=0,58 ou 58% e a do alelo N=0,42 ou 42%. 1. Pelas fórmulas das frequências genotípicas correspondentes: Dominância completa (quando não se conhece a frequência dos heterozigotos) EXEMPLO Preste atenção a esse exemplo! Em uma dada população em equilíbrio, a frequência de indivíduos sensíveis à feniltiocarbamida (PTC) é de 70% e a de insensíveis, 30%. Deseja-se saber qual é a frequência dos alelos A (sensibilidade) e a (insensibilidade). Nesse caso, ocorrem três classes genotípicas (AA, Aa e aa) e apenas duas classes fenotípicas (sensíveis e insensíveis), já́ que a sensibilidade gustativa ao PTC é dominante sobre a insensibilidade. Portanto, não se pode extrair a raiz quadrada Genética Humana 31 da frequência fenotípica dos sensíveis, pois ela engloba duas classes genotípicas (AA e Aa). Por isso, só́ se pode calcular, inicialmente, a frequência do alelo a, a partir da classe fenotípica dos insensíveis, que corresponde à frequência genotípica dos indivíduos homozigotos aa. Considerando-se: AA=p^2, Aa=2pq, aa=q^2, obtém-se a frequência q do alelo t extraindo-se a raiz quadrada da frequência genotípica: A frequência dos indivíduos AA será́: p2; a dos indivíduos heterozigotos Aa: 2pq ; e a dos indivíduos aa: q2. Equilíbrio de Hardy-Weinberg Existem processos com capacidade de alterar a constituição genética da população, por interferem no processo de herdabilidade dos alelos de uma geração para outra. Denominados processos sistemáticos (migração, a mutação e a seleção); e processo dispersivo (que surge em pequenas populações pelos efeitos de amostragem). O desiquilíbrio na frequência alélica provocado pela migração se deve: a taxa de migração (m) e diferença na frequência gênica que existir entre os imigrantes e os nativos. Já no caso da mutação, a taxa de mudança de frequências alélica existe, mais em geral são muito lentas, com taxas nos valores entre 10-4 e 10-8, por geração. A seleção é o processo mais eficiente para alterar o equilíbrio de Hardy-Weinberg; age sobre a distribuição dos alelos selecionados. Genética Humana32 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a genética de populações estuda as frequências alélicas, genotípicas e fenotípicas de uma população. Pelo estudo da genética de populações humanas, pode-se analisar aspectos das doenças hereditárias, efeitos disgênicos das radiações e dos produtos químicos (agentes mutagênicos), bem como os efeitos da medicina entre outros. A genética de populações tem importantes influências nas ciências da saúde, agricultura, zoologia entre outras. Em 1980, Hardy e Weinberg publicaram artigos independentes que descreviam a relação matemática entre as frequências alélicas e as frequências genotípicas; denominado princípiode Hardy-Weinberg. Se as frequências genotípicas (e consequentemente as alélicas) permanecessem em equilíbrio, não haveria evolução. Genética Humana 33 Estrutura dos ácidos nucleicos e replicação do DNA OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender como o DNA foi identificado, sua função como fonte de informação genética e a replicação. Vamos considerar sua estrutura química e biológica. O conceito de “chave genética” associado à molécula do DNA torna o seu estudo imprescindível, principalmente nas disciplinas das áreas biológicas. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Estrutura dos ácidos nucleicos A vida é mantida pela diversidade genética entre os indivíduos, e as instruções de codificação para maioria dos organismos vivos via expressão dos ácidos nucleicos. Não compreendiam como as informações genéticas eram armazenadas e transmitidas. Contudo, mesmo antes da “elucidação” da estrutura do DNA, os pesquisadores reconheciam que, independentemente da natureza do material genético, ele tinha quatro características importantes: 1. O material genético tem necessariamente a capacidade de armazenar informações complexas em grande quantidade e através destas, codificar características e as funções de um organismo; 2. O material genético precisa se replicar de forma confiável. Uma vez que, todos nós começamos a partir de uma única célula fecundada, sofrendo bilhões de divisões celulares. Genética Humana34 Em cada divisão celular, o código genético deve ser transmitido para as células descendentes com grande precisão; 3. O material genético codifica o fenótipo. O produto de um gene é uma proteína ou uma molécula de RNA, e é essencial um mecanismo eficiente na leitura do DNA na transcrição. E eficácia no processo de tradução; 4. O material genético precisa possuir variabilidade genética, entre as mais comuns estão os Polimorfismos de Nucleotídeo Único (SNP). Estrutura química dos ácidos nucléicos Os conceitos da estrutura do DNA contribuíram para identificar os fatores da informação genética. Mendel identificou as regras básicas da hereditariedade em 1866, mas ele não tinha ideia da estrutura física da informação da hereditariedade. No início do século 20, Walter Sutton, seguidor de Mendel demonstrou que cromossomos obedecem a suas leis. A primeira evidência de que o DNA era o portador da informação da hereditariedade foi através dos experimentos (transformação) de Fred Griffith, em 1928, um médico inglês estudando a bactéria que causa pneumonia: Streptococcus pneumoniae. SAIBA MAIS Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos consulta e aprofundamento, no: Artigo: “As interpretações dos estudos de Avery, MacLeod e Maccarty sobre a natureza química do “fator transformante” em bactérias. Fonte: Disponível em: https://bit. ly/385Ud42. Acesso em: 22 out.2020. https://bit.ly/385Ud42 https://bit.ly/385Ud42 Genética Humana 35 A estrutura química dos ácidos nucleicos é simples e praticamente não varia entre as diferentes espécies; sendo constituídos de sequências de nucleotídeos. Cada nucleotídeo é formado por: uma base nitrogenada, que pode ser uma purina (adenina ou guanina) ou uma pirimidina (timina ou citosina, no DNA; uracila ou citosina, no RNA); Açúcar (pentose: desoxirribose, no DNA; e ribose, no RNA); e um grupo fosfato (PO4). O conjunto de base + açúcar (pentose) denomina-se nucleosídeo. Já, o nucleotídeo é o conjunto de base + açúcar + fosfato. A pentose (açúcar) e bases nitrogenadas diferenciam os ácidos nucleicos: DNA (ácido desoxirribonucleico), que contém desoxirribose, e RNA (ácido ribonucleico), que contém ribose. No RNA não há timina, e sim uracil. O grupo fosfato apresenta- se invariável, tanto no DNA quanto no RNA. O DNA encontra- se principalmente nos cromossomos, o RNA é encontrado no nucléolo (estrutura nuclear) e no citoplasma, havendo muito pouco nos cromossomos. Figura 2: Estrutura do DNA e RNA Fonte: @pixabay. https://pixabay.com/pt/illustrations/dna-biologia-ci%C3%AAncia-dna-h%C3%A9lice-163710/ Genética Humana36 Estrutura molecular Além das diferenças em sua composição química, o DNA e o RNA mostram diversidade quanto à sua estrutura molecular. REFLITA O DNA precisa de uma estrutura que seja ao mesmo tempo versátil, com toda a informação genética dos genes e, ao mesmo tempo, ser capaz de se reproduzir de forma que suas filhas recebam uma cópia idêntica e se dividam. Em 1953, J. D. Watson e F. C. Crick, com base em estudos de difração de raios X, propuseram um modelo para a estrutura molecular do DNA que responderam “os questionamentos” na época: 1. Molécula de DNA é uma longa fita ou fita de nucleotídeos, formando uma configuração semelhante à de uma escada de corda, enrolada de forma helicoidal; 2. Forma helicoidal (escada), o açúcar e o fosfato são os componentes verticais (corrimãos); e as bases nitrogenadas são os degraus, para que estes se formem, as ligações entre as bases são feitas por pontes de hidrogênio, sendo duplas entre as bases adenina e timina, e triplas entre guanina e citosina; 3. O modelo também propôs requer duas fitas polinucleotídicas antiparalelas, ou seja, posicionam em direções opostas: uma na direção 5’→3’ e a outra na direção 3’→5’. Genética Humana 37 Figura 3: Estrutura do DNA Fonte: @pixabay. Foi demonstrado que o DNA é formado por duas fitas polinucleotídicas que se dispõem em espiral em torno de um mesmo eixo imaginário, mas com polaridades opostas. Cada fita de DNA tem sua polaridade determinada pela orientação dos componentes açúcar e fosfato. Quando uma fita termina no átomo de carbono 5’ da molécula de desoxirribose, que constitui sua extremidade 5’, a fita oposta termina no carbono 3’ do açúcar, denominando-se extremidade 3. Assim, a extremidade 5’ de uma fita tem orientação oposta à extremidade 3’ da outra, daí a denominação de fitas “antiparalelas”. A estabilização da dupla- hélice é dada pela interação entre as bases complementares oponentes e as bases que vão se superpondo. O espaço ocupado por duas bases opostas é pequeno, o que obriga a associação, por meio de pontes de hidrogênio, entre uma base grande (púrica) e outra pequena (pirimídica); uma vez que; duas bases grandes não caberiam nesse espaço e duas pequenas não se aproximariam https://pixabay.com/pt/vectors/dna-h%C3%A9lice-c%C3%ADrculos-4043148/ Genética Humana38 o suficiente para interagir. Essas associações complementares ocorrem entre adenina e timina e entre guanina e citosina, por serem combinações mais estáveis. Portanto, as quantidades de bases púricas e pirimídicas são iguais, ou seja, A+G=C+T. Verifica-se, igualmente, que as quantidades de adenina e timina são equivalentes e o mesmo ocorre com a guanina e a citosina, tendo-se, assim: A=T e G=C. Diante desse contexto, ao considerar uma fita a ser descrita, com a seguinte composição: 5’-ATGCGTCAG-3’, sua fita complementar deverá ser 3’-TACGCAGTC-5’. IMPORTANTE A relação G+C/A+T é igual em todos os indivíduos da mesma espécie, mas varia de uma espécie para outra. A forma original da dupla-hélice do DNA, proposta no modelo de Watson e Crick, é denominada β-DNA, mas ainda existem outras formas (A-DNA e Z-DNA). A conformação que o DNA adota depende de vários fatores: nível de hidratação, sequência de DNA, direção e grau do super enrolamento, modificações químicas das bases, tipo e concentração de íons metálicos e presença de poliamidas em solução. Genética Humana 39 Figura 4: A forma original da dupla-hélice do DNA, proposta no modelo de Watson e Crick, é denominada β-DNA Fonte: @pixabay. O conceito de gene modificou-se ao longo do tempo; pode ser definido como o segmento de DNA que codifica uma cadeia polipeptídica ou RNA não codificadores (nRNA); constituídos de regiões que os antecedem (promotores); região codificadora (éxons); bem como sequências que não são traduzidas (íntrons), que se intercalam comos éxons. Replicação do DNA O conteúdo de DNA das células humanas constitui o que se denomina de genoma humano. Esse genoma subdivide-se em duas partes: o genoma nuclear, onde se encontra à maior parte da informação genética total, e o genoma mitocondrial, que corresponde à informação genética restante. O genoma humano nuclear apresenta em torno de 33% do conteúdo de DNA na forma de genes estruturais e sequências a associadas a eles. A maior parte (67%) está na forma de DNA extragênico. A replicação do DNA é o processo complexo e indispensável, pelo qual uma célula duplica seu DNA antes da divisão. https://pixabay.com/pt/illustrations/dna-dupla-h%C3%A9lice-modelo-sulco-menor-694798/ Genética Humana40 IMPORTANTE A replicação é semiconservativa: cada fita de DNA serve como molde para a síntese de uma nova molécula de DNA. A replicação do DNA ocorre ao mesmo tempo, em vários pontos da dupla fita do DNA, podendo ser uni ou bidirecional, no sentido 5’-3’. O ponto no qual ela se origina é chamado “forquilha de replicação ou origem de replicação ou ponto de crescimento”. O primeiro passo começa com a helicase rompendo as pontes de hidrogênio, mantendo junto um par de bases, em um sítio de iniciação. Outra enzima, conhecida como primase, usa nucleotídeos de RNA complementares para formar uma pequena sequência de RNA denominada “iniciador de RNA, desencadeador ou primer”, no início de cada segmento de DNA a ser duplicado. Esse iniciador de RNA é necessário, uma vez que o DNA-polimerase, o reconhece e começa a produção da nova fita de DNA. O iniciador de RNA é reconhecido pela DNA-polimerase, que então polimeriza os nucleotídeos complementares às bases da fita-molde de DNA. A nova fita de DNA alongando-se, à medida que se formam as ligações de hidrogênio entre as bases complementares. O iniciador de RNA é removido enzimaticamente, sendo substituído por bases complementares ao DNA. As ligações necessárias entre os nucleotídeos da nova fita de DNA são realizadas cataliticamente pelas ligases. Como as fitas parentais são antiparalelas, a replicação do DNA só́ pode prosseguir continuamente em uma das fitas, na direção 5’-3’, denominada fita de replicação continua. Ao longo da fita 3’- 5’, chamada fita de replicação descontínua, a Genética Humana 41 nova fita de DNA se forma por meio de pequenos segmentos de mil a 2 mil bases em procariotos e de 200 bases em eucariotos, denominados fragmentos de Okazaki, em homenagem ao seu descobridor. Na fita de replicação descontínua, é necessário uns pequenos segmentos de RNA como iniciadores ao longo dos fragmentos. A seguir, uma exonuclease remove o iniciador de RNA, o DNA é inserido nessa região pela DNA-polimerase I e, finalmente, os segmentos de DNA são unidos pela DNA-ligase. A enzima responsável pela síntese de DNA (DNA- polimerase III) é complexa, compreendendo diversas subunidades. Figura 5: Eucarioto Fonte: @pixabay. https://pixabay.com/pt/illustrations/c%C3%A9lula-animal-biologia-eucariota-1608621/ Genética Humana42 Nos eucariotos, há diferentes enzimas para as fitas de replicação continuam e descontinuam. Durante a replicação, os erros são eliminados por um complexo mecanismo de reparo, onde as bases incorporadas erroneamente são removidas e substituídas pelas corretas. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a informação genética de organismos eucariótica está armazenada no DNA. Assim, como o DNA, o ácido nucleico RNA são polímeros de unidades repetidas de nucleotídeos, as quais são compostas por quatro tipos de bases nitrogenadas (Adenina, guanina; citocina; timina (DNA) e Uracila (RNA). A replicação é semiconservativa, as fitas de DNA se separam e cada uma serve de molde para a síntese de uma nova fita. E que toda síntese de DNA é feita no sentido 5′-3′; por isso a replicação ocorre de maneira contínua em uma fita (a fita líder) e descontínua na outra (a fita tardia). Genética Humana 43 Genética e evolução OBJETIVO Ao término deste capítulo você poderá compreender a teoria evolutiva, postulada por Charles Darwin, por meio de dados coletados durante uma viagem de exploração por cinco anos. Quando Darwin postulou sua teoria, em 1859, não havia ideia alguma sobre genética. O conhecimento molecular reforça a ideia de que praticamente todas as espécies usam o mesmo código genético para a síntese de proteínas, assim, poderiam ter evoluído de um ancestral comum. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Teoria da evolução À medida que as mutações se acumulam no DNA ao longo de muitas gerações, ocorre efeitos significativos no fenótipo dos organismos. Em quase todas as espécies, ao menos parte da variação observável, tem base genética. Em meados do século 19, Charles Darwin e Alfred Wallace, ambos contemporâneos de Mendel, propuseram que as modificações genéticas tornam possível modificar a espécie, ou seja, evoluir com o tempo. Os pesquisadores de Darwin e Wallace revolucionaram os conceitos científicos da época. Eles introduziram uma nova perspectiva na Biologia, o conceito da existência de um parentesco entre todos os seres vivos em razão da descendência de um ancestral comum. Entretanto, quando essas ideias foram propostas, o trabalho de Mendel sobre hereditariedade ainda estava percurso e o novo ramo da ciência, a genética ainda não Genética Humana44 estava estabelecida. Na verdade, as pesquisas sobre evolução biológica foram estimuladas quando as descobertas de Mendel foram redescobertas no início do século XX, e seguiram um novo rumo quando, no fim do século, surgiram as técnicas de sequenciamento do DNA. Por meio das informações da genética mendeliana e de populações à seleção natural, com a contribuição de outras diversas ciências (botânica, citologia, embriologia, morfologia, paleontologia entre outras), resultou a teoria sintética da evolução, também denominada síntese moderna ou neodarwinismo, que propôs: “nas populações, as variações hereditárias, geradas de pequenas mutações, estão sob a ação da seleção natural, que modifica as frequências dos alelos nessas populações, conduzindo à maior adaptação dos seres vivos ao seu ambiente”. Além disso, segundo a teoria sintética, a seleção natural mais mutações; e outros fatores (variação no número e na estrutura dos cromossomos, recombinação genética, migração de grupos de indivíduos (ou fluxo gênico) e deriva genética) contribuem para a evolução. Na segunda metade do século XX, por meio dos avanços da genética molecular e expansão da genômica, trouxe modificações à teoria sintética. Além disso, no final da década de 1960, surgiu a teoria neutralista, formulada por Motoo Kimura, segundo a qual a maioria das substituições nucleotídicas que se tornam fixadas nas populações seriam neutras quanto à sua aptidão, mas a evolução por deriva genética na ausência de seleção natural seria possível. Um dos argumentos dessa teoria é que os polimorfismos genéticos que ocorrem não alteram a expressão da proteína. Essa teoria originou um debate entre neutralismo e selecionismo, ou seja, sobre a importância relativa da deriva genética e da seleção positiva (seleção que preserva mutações favoráveis) na evolução molecular. https://pt.wikipedia.org/wiki/Deriva_gen%C3%A9tica https://pt.wikipedia.org/wiki/Sele%C3%A7%C3%A3o_natural Genética Humana 45 EXPLICANDO DIFERENTE+++ Nas mutações neutras não ocorre perda ou alteração na função da proteína; na mutação sem sentido é uma mutação que gera um dos três códons de parada (UAA, UAG, UGA), mutação com alteração ou perda de sentido alteram a proteína, pois causam a substituição de um aminoácido na proteína em formação e a mutação silenciosa pelo fato do código degenerado, não alteram a sequência deaminoácidos produzida pelo gene modificado e sua função permanece a mesma. Na década de 1970, Niles Eldredge e Stephan Jay Gould, propuseram a teoria do equilíbrio pontuado, segundo a qual haveria períodos de rápida mudança morfológica (especiação), intercalados a períodos de estabilidade adaptativa (estase) o que desacordava com teoria da evolução por seleção natural em um aspecto. Darwin sugeria que as modificações morfológicas ocorreriam gradualmente. Estudos posteriores evidenciaram a existência de um padrão de especiação às vezes gradual, outras vezes pontual e ainda um terceiro padrão, caracterizado por gradualismo e estase. Portanto, a evolução não é composta por um único processo típico, mas vários modos de se processar ao longo do tempo. Teoria da evolução no século XXI Jablonka e Lamb, (2010) dividiam aspectos sobre a evolução em quatro dimensões: além do sistema genético que é a base da teoria sintética consideram o sistema epigenético (no qual a informação pode ser transmitida às células-filhas, sem envolver alteração nucleotídica do DNA, o sistema de herança comportamental e entre os seres humanos, o sistema de herança Genética Humana46 simbólica, especialmente a linguagem e outras formas de comunicação simbólica, como fornecedores de variações sobre as quais a seleção natural pode atuar. Por meio das técnicas de genética molecular podemos observar as semelhanças e as diferenças entre os materiais genéticos de diversos organismos; acompanhar a herança genética de marcas de DNA ao longo de processos históricos no tempo. Organismos com sequências de DNA muito semelhantes descendem de um ancestral comum recente, ao passo que organismos com sequências de DNA menos semelhantes têm um ancestral comum mais remoto. Portanto assim, consegue- se estabelecer as relações históricas entre os organismos. Essas relações são chamadas de árvore filogenética, ou estudo de filogenia, palavra derivada do grego que significa “a origem das tribos”; ferramenta importante do estudo da evolução (Figura 1). Figura 6: Árvore genealógica simplificada na filogenética molecular Fonte: @pexels. https://www.pexels.com/pt-br/foto/adulto-analise-anonimo-biologia-3825527/ Genética Humana 47 Níveis de análise genética A evolução é um dos princípios fundamentais de toda a biologia. Theodosius Dobzhansky, um importante líder dos primórdios da genética evolutiva, declarou “nada na biologia faz sentido exceto sob a óptica da evolução”. A evolução é observada, diretamente, como por exemplo, na resistência aos pesticidas pelos insetos. A evolução é apoiada pelo registro fóssil, pela anatomia comparativa, pela embriologia, pela distribuição de plantas e animais (biogeografia) e pela genética molecular. A evolução biológica refere-se a mudança genética que ocorre em um grupo de organismos. Dois fatores devem ser enfatizados: há uma mudança genética; e a evolução ocorre em grupos de organismos; o que evolui é o pool de genes comum a um grupo de organismos. Além disso, pode ser compreendida como um processo de duas etapas. Primeiro: surge a variação genética, originada no processo de mutação, que produz novos alelos e na recombinação, que mistura os alelos em novas combinações. Esses dois processos são aleatórios e produzem variação genética de forma contínua, independente da necessidade da evolução. A segunda etapa no processo de evolução é o aumento e a redução das frequências das variantes genéticas. Podemos diferenciar entre dois tipos de evolução que ocorrem em um grupo de organismos conectados pela reprodução. A anagênese refere-se à evolução que ocorre em um único grupo (uma linhagem) com o passar do tempo. Outro tipo de evolução é a cladogênese, a divisão de uma linhagem em duas. Quando uma linhagem se divide, os dois ramos não têm mais um pool de genes em comum e evoluem independentemente um do outro. Novas espécies surgem a partir da cladogênese. Genética Humana48 Construção das árvores filogenéticas SAIBA MAIS A única figura no livro de Darwin, The Origin of Species, mostrou como ele imaginava as espécies se ramificando, tendo um antepassado comum relativamente recente e que tiveram tempo limitado para divergirem umas das outras. O que poderia explicar as semelhanças entre os genomas de diferentes organismos. O número de árvores com raiz possíveis para um grupo de organismos é: N é igual ao número de organismos incluídos na filogenia e o símbolo != representa o fatorial, o produto de todos os integrantes de N a 1. Como o número de organismos na filogenia aumenta, consideravelmente, o número de árvores com raiz possíveis se torna astronômico. Evidentemente, é impossível escolher a melhor árvore ao comparar todas as possibilidades. Entretanto existem várias abordagens diferentes para deduzir as relações evolutivas e construir as árvores filogenéticas. Na abordagem por distância, as relações evolutivas são deduzidas com base no grau geral de similaridade entre os organismos. Características fenotípicas diferentes ou sequências de genes são examinadas e os organismos são agrupados com base na sua similaridade geral. Uma segunda abordagem, chamada abordagem da máxima parcimônia, deduz as relações filogenéticas com base no menor número de mudanças evolutivas que devem ter ocorrido desde que os organismos tiveram pela última vez um ancestral em comum. Genética Humana 49 Uma terceira abordagem, chamada de máxima verossimillhança e métodos bayesianos, nesta abordagem, uma filogenia com maior probabilidade de produzir as características observadas nos organismos estudados é preferida em relação à filogenia com menor probabilidade. Evolução no Brasil No Brasil, foi demonstrada a presença dos humanos na floresta amazônica desde 11,3 mil anos atrás, mediante estudos de um sítio arqueológico em Monte Alegre (Pará). Em Minas Gerais (nas localidades de Lapa do Boquête, Vale do Peruaçu, e Lapa Vermelha e Santana do Riacho, Lagoa Santa) e no Piauí́ (no Boqueirão da Pedra Furada, São Raimundo Nonato) foram encontradas evidências remotas, anteriores a 10 mil anos. Datações feitas a partir de carvões originados de fogueiras e pedras lascadas indicam uma ocupação humana que remonta a 60 mil anos. No entanto, entre os arqueólogos, existem divergências. A entrada das populações migrantes no continente americano provavelmente ocorreu pelo estreito de Bering, vindos da Mongólia ou da Sibéria, em uma ou mais rotas de migração terrestres, interiores, costeiras ou marítimas. Pesquisadores, com base em resultados de estudos do DNA mitocondrial, sugere uma entrada única no continente, em torno de 16 mil a 20 mil anos atrás. Os estudos de DNA que investigam genomas de humanos atuais e hominíneos do passado indicam que a espécie Homo sapiens passou por uma ampla mistura genética desde sua formação e que seu índice evolutivo aumentou. Em várias partes do mundo, as etnias humanas vêm-se tornando cada vez menos distintas. Os grupos humanos que viviam em locais diferentes mantiveram contatos suficientes para evitar que evoluíssem para uma espécie separada. Com a inexistência de barreiras geográficas, reprodutivas e sociais, seria de se supor que o tempo da evolução estivesse esgotado. No entanto, isso não acontece. Por meio do projeto HapMap, sabe-se que cerca de 7% dos genes humanos sofreram evolução relativamente recente, em torno de 5 mil anos atrás. Genética Humana50 IMPORTANTE Novos genes podem evoluir através da duplicação de éxons, embaralhamento de éxons, duplicação de genes e duplicação de genomas inteiros. Os genes podem ser transmitidos entre organismos distantes pela transferência horizontal de genes. O conceito de que a raça humana é “um grupo de indivíduos de uma espécie que se distinguem pelas diferentes frequências alélicas”, já não está completo. Uma vez que, barreiras geográficas, reprodutivas, políticas e culturais são praticamente inexistentes; o que proporciona maior fluxogênico entre as populações. O âmbito de variação genética entre duas populações é apenas ligeiramente distinto do observado entre indivíduos da mesma população. Nesse sentido, os estudos de polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) e de sequências Alu, bem como o rastreamento do DNA mitocondrial, abrem caminhos para o conhecimento das relações entre as variações genéticas e seus efeitos bons ou nocivos sobre a vida humana; e contribuem significativamente para o conhecimento de sua evolução. Uma área relativamente nova da genética dedica-se ao estudo da evolução e do desenvolvimento, sendo chamada, abreviadamente, evodevo. DICA Devido ao fato de que as espécies praticamente usam o mesmo código genético para a síntese de proteínas é um argumento considerável para uma ancestralidade comum. Genética Humana 51 EXPLICANDO DIFERENTE+++ A evolução é a mudança genética que ocorre em um grupo de organismos. É um processo de duas etapas: (1) surge a variação genética e (2) ocorre mudança na frequência dos alelos. As técnicas moleculares oferecem várias vantagens para o estudo da evolução. A variação na sequência de DNA pode ser analisada por meio de polimorfismos de comprimento do fragmento de restrição, microssatélites e dados de sequenciamento direto. Uma espécie pode ser definida como um grupo de organismos capazes de cruzar um com outro e estão isolados do ponto de vista reprodutivo deles de outra espécie. A especiação alopátrica surge quando uma barreira geográfica evita o fluxo gênico entre duas populações. Com o passar do tempo, as duas populações adquirem diferenças genéticas que podem levar a mecanismos de isolamento reprodutivo. A especiação simpátrica surge quando o isolamento reprodutivo existe na ausência de barreira geográfica. Ela pode surgir sob circunstâncias especiais. As relações evolutivas (uma filogenia) podem ser representadas por uma árvore filogenética, composta por nós que representam organismos e ramos que representam suas conexões evolutivas. As abordagens para construir as árvores filogenéticas incluem a abordagem por distância, a abordagem da máxima parcimônia e a abordagem da máxima verossimilhança e métodos bayesianos. Genética Humana52 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a evolução é a mudança genética que ocorre em um grupo de organismos. É um processo de duas etapas: primeiro surge a variação genética e depois ocorre mudança na frequência das variantes genéticas. Os métodos moleculares oferecem várias vantagens para o estudo da evolução. E a evolução do genoma ocorre devido a duplicação e embaralhamento de éxons, duplicação dos genes para formar famílias de genes, duplicação do genoma inteiro e transferência horizontal de genes entre organismo. Genética Humana 53 REFERÊNCIAS BEIGUELMAN, Bernardo. Genética de Populações Humanas. Ribeirão Preto: SBG, 2008. 235p. Disponível em: https://bit. ly/363YROv. Acesso em: 20 out. 2020. HARTL DL, Clark AG. Princípios de genética de populações. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2010. JABLONKA E, LAMB MJ. Evolução em quatro dimensões: DNA, comportamento e a história da vida. São Paulo: Companhia das Letras; 2010. LODISH, H. et al. Biologia celular e molecular. 7. ed. - Dados eletrônicos. - Porto Alegre: Artmed, 2014. PIERCE, B. A. Genética: um enfoque conceitual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. ISBN: 978-1-4641-0946-1. STRACHAN, T.; Read, A. Genética Molecular Humana. 4aEd. Porto Alegre: Artmed Editora LTDA. 2013. SNUSTAD, D. Peter; Simmons, M. J. Fundamentos de genética. 6. ed.-Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. https://bit.ly/363YROv https://bit.ly/363YROv 9 UNIDADE 02 Genética Humana LIVRO DIDÁTICO DIGITAL SUMÁRIO Célula e cromossomos.........................................................12 Células .............................................................................. 12 Células Eucarióticas ............................................... 13 Morfologia e classificação dos cromossomos .................... 16 Cromossomo na interfase ...................................... 19 Cromossomo metafásicos ....................................... 22 Técnicas para o estudo dos cromossomos humanos ........... 22 Mitose e Meiose ...................................................................27 Ciclo Celular ..................................................................... 28 Controle do ciclo celular ........................................ 30 Mitose ............................................................................... 31 Prófase ................................................................... 32 Metáfase ................................................................. 32 Meiose .............................................................................. 33 Meiose I ....................................................... 34 Prófase I ....................................................... 34 Zigóteno ....................................................... 34 Paquíteno ..................................................... 35 Diplóteno ..................................................... 36 Diacinese ..................................................... 37 Anáfase I ...................................................... 37 Telófase I .................................................... 38 Meiose II ................................................................ 38 Prófase II ..................................................... 38 Metáfase II ................................................... 38 Anáfase II .................................................... 39 Telófase II .................................................... 39 Gametogênese ................................................................... 39 Variação no Número, na Estrutura dos Cromossomos e Anomalias ...........................................................................41 Morfologia e classificação dos cromossomos .................... 41 Notação cromossômica ..................................................... 43 Alterações Numéricas ....................................................... 45 Alterações estruturais ........................................................ 46 Consequências clínicas ..................................................... 48 Herança Monogênica ..........................................................50 Conceitos gerais ................................................................ 50 Construção de genealogias ................................................ 53 Tipos de herança ............................................................... 53 Herança autossômica .............................................. 54 Herança autossômica dominante .................. 54 Herança autossômica recessiva .................... 55 Herança ligada ao sexo ..................................................... 56 Exemplos de doenças recessivas ligadas ao sexo .... 57 Herança dominante ligada ao sexo .................................... 58 Exemplos de doenças dominantes ligadas ao X ...... 59 Tipos especiais de herança monogênica ............................ 59 Alelos múltiplos ..................................................... 59 Codominância ......................................................... 60 Herança mitocondrial ............................................. 60 Genética Humana10 Você sabia que a célula é a base de toda vida? Cada célula é um conjunto complexo de moléculas capaz de adquirir substâncias, obter e armazenar energia e pôr em prática diversas atividades, entre elas a reprodução. Os cromossomos possuem duas funções fundamentais: a transmissão confiável e a expressão da informação genética. Na mitose, uma célula se divide para dar origem a duas células-filhas, cada uma com o mesmo númeroe com os mesmos tipos de cromossomos da célula original. Já, a meiose é uma forma especializada de divisão celular que ocorre em determinadas células dos testículos e dos ovários para produzir espermatozoides e ovócitos secundários haploides. Os principais agentes mutagênicos físicos são as radiações ionizantes e as radiações ultravioleta. As alterações cromossômicas podem ser classificadas em dois grandes grupos: numéricas e estruturais. As alterações numéricas correspondem à perda ou ao acréscimo de um ou mais cromossomos e podem ser de dois tipos: euploidias e aneuploidias. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Genética Humana 11 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: OBJETIVOS Interpretar a complexidade da célula eucariótica. Estudar a divisão celular. Identificar número, estrutura e as anomalias cromossômicas. Identificar os diferentes tipos de herança monogênica. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! 1 2 3 4 Genética Humana12 Célula e cromossomos OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender a complexidade de uma célula, sua morfologia a classificação e estrutura de seus cromossomos. Detalhes sobre herança monogênica, ligada ao sexo e holândrica. Aqui, os alunos poderão compreender o tema desta unidade, “Estrutura e Função dos cromossomos”, de forma simples. E então? Motivado para desenvolver este desafio? Então vamos lá. Avante. Células No início do século 19, antes dos experimentos de Gregor Mendel com ervilhas, os biólogos observaram, o que se chamou de célula. Cada célula é um conjunto complexo de moléculas capaz de trocar substâncias, obter e armazenar energia e realizar diferentes atividades, entre elas se replicarem. SAIBA MAIS As formas de vida mais simples, os vírus, não são constituídos de células, mas só exercem sua função dentro das células. As células vivas são constituídas de diferentes tipos de moléculas; sendo a mais abundante, a água. Moléculas pequenas, como sais, açúcares, aminoácidos e algumas vitaminas, (e Genética Humana 13 algumas moléculas maiores) dissolvem-se com facilidade na água, assim todas essas substâncias que possuem essa interação com a água são denominadas hidrofílicas. E já as moléculas que não interagem com água, são denominadas hidrofóbicas. O interior de uma célula é denominado citoplasma. As moléculas que constituem as células têm estrutura e função variadas. Amido é um carboidrato constituído principalmente de glicose com ligações glicosídicas, armazenam energia química para as atividades celulares. Já os lipídios ou gorduras são moléculas orgânicas insolúveis em água e solúveis em certas substâncias orgânicas, tais como álcool, éter e acetona. Sendo importantes constituintes de muitas estruturas nas células, fonte de energia, isolante térmico, auxilio na absorção das vitaminas A, D, E e K (lipossolúveis) entre outros. As proteínas são as moléculas mais diversificadas nas células. Cada proteína é constituída de um ou mais polipeptídios, que são cadeias de aminoácidos. As proteínas estão presentes em todos os seres vivos e estão envolvidas nos processos e funções celulares, replicação do DNA, a resposta a estímulos e o transporte de moléculas. Muitas proteínas são enzimas que catalisam reações bioquímicas vitais para o metabolismo. As células são envolvidas por uma camada fina, a membrana, os principais elementos são lipídios e proteínas. Também existem membranas dentro das células, denominadas organelas. As paredes e as membranas celulares separam o conteúdo celular do ambiente externo, além disso, as membranas celulares interagem com substâncias desse meio. Essa interação fornece à célula informações vitais sobre as condições do ambiente, além do feedback das atividades celulares. Células Eucarióticas As células eucarióticas são, em geral, pelo menos dez vezes maiores que as células procarióticas e têm sistemas complexos https://www.todamateria.com.br/vitaminas/ Genética Humana14 de membranas internas, alguns dos quais estão associados a organelas visíveis e bem organizadas. A mitocôndria é uma dessas organelas, cuja função é produzir a maior parte da energia das células, usando o processo de respiração celular. Já as células de algas e vegetais contêm outro tipo de organela, o cloroplasto, que capta a energia solar e a converte em energia química. Tanto as mitocôndrias quanto os cloroplastos são delimitados por membranas. Figura 1: Célula eucariótica Fonte: @pixabay. Todas as células eucarióticas possuem núcleo delimitado por membrana) e organizado em estruturas denominadas cromossomos. Os cromossomos são visíveis individualmente durante a divisão celular (metáfase), quando estão condensados e espiralados. https://pixabay.com/pt/illustrations/c%C3%A9lula-animal-biologia-eucariota-1608621/ Genética Humana 15 SAIBA MAIS Parte do DNA de uma célula se encontra em mitocôndrias ou cloroplastos. O DNA é mais resistente à degradação, do que as demais moléculas orgânicas. Um pequeno número de moléculas de células é suficiente para obter DNA; e multiplicá-lo por técnicas moleculares. Os rRNA e tRNA participam da produção da proteína. Eles estão frequentemente associados a um sistema de membranas, o retículo endoplasmático. O retículo pode estar conectado ao complexo de Golgi, um conjunto de bolsas e vesículas membranáceas que participam da modificação química e do transporte de substâncias dentro das células. Outras organelas pequenas, delimitadas por membrana, também podem ser encontradas em células eucarióticas como os lisossomos produzidos pelo complexo de Golgi que contêm diferentes tipos de enzimas digestivas, e os peroxissomos associados ao metabolismo de substâncias como gorduras e aminoácidos. Os formatos e as atividades das células eucarióticas são influenciados por um sistema de filamentos, fibras e moléculas associadas que, em conjunto, constituem o citoesqueleto, que é responsável pela motilidade e deslocamento de substâncias para locais específicos nas células. Já aprendemos sobre a estrutura do DNA na Unidade I, a próxima etapa envolve os cromossomos, que são estruturas que compactam o material genético. Essa característica é importante, pois permite que a longa molécula de DNA fique contida em um pequeno espaço, aspecto importante tanto para replicação quanto para transcrição. Genética Humana16 Morfologia e classificação dos cromossomos Os cromossomos são estruturas localizadas no interior do núcleo das células; onde se localizam os genes. A maioria dos eucariotos não só possui maior quantidade de DNA em relação aos procariotos, como esse DNA está compactado em vários cromossomos, e cada cromossomo está presente em duas cópias (diploides) ou mais (poliploides). O conteúdo de cromossomos e DNA das células é definido pelo número (n) de cromossomos diferentes, pelo conjunto cromossômico e pelo conteúdo de DNA associado (C). Para células humanas o conteúdo de DNA associado é cerca de 3,5 pg. O número normal de cromossomos humanos é 46, ou 23 pares. Desses cromossomos, 44 (ou 22 pares) são homólogos nos dois sexos e são chamados de autossomos. Os dois restantes são os cromossomos sexuais, que são homólogos na mulher (XX) e diferentes no homem (XY). Esses cromossomos contêm os genes responsáveis pela determinação do sexo. O X e o Y apresentam apenas algumas regiões homólogas. Para observação do comportamento dos cromossomos, existem duas fases do ciclo celularmais adequados: a interfase e a metáfase. Quanto à sua forma, os cromossomos metafásicos são constituídos por duas cromátides unidas pelo centrômero (constrição primária). O centrômero divide as cromátides em braços cromossômicos, sendo denominados p, os braços curtos ou superiores ao posicionamentodo centrômero. E de q, os braços longos ou inferiores. As extremidades dos braços cromossômicos são denominadas telômeros. Genética Humana 17 Figura 2: Cromátides em braços cromossômicos Braços curto e longo de um cromossomo Centrômetro P Curto Q Longo Fonte: @commons. É o centrômero que determina a classificação dos cromossomos humanos em três tipos: metacêntricos, quando o centrômero é central ou mediano e divide o cromossomo em dois braços iguais; submetacêntricos, quando o centrômero está um pouco distante do centro, dividindo o cromossomo em braços ligeiramente desiguais; e acrocêntricos, quando o centrômero está mais próximo de uma das extremidades do cromossomo, dividindo-o em dois braços completamente desiguais. Os cromossomos acrocêntricos podem possuir uma constrição secundária no braço curto (p) em consequência a esse estreitamento, sua extremidade apresenta-se quase https://commons.wikimedia.org/wiki/File:CromossomoBracos.png Genética Humana18 separada do restante do cromossomo, mostrando uma forma arredondada, denominada satélite, constituída também de cromatina. As constrições secundárias são responsáveis pela produção de nucléolos, razão pela qual são denominadas regiões organizadoras nucleolares. SAIBA MAIS No cromossomo X, foram conservados vários genes originalmente presentes e suas características estruturais, ao contrário do cromossomo Y, que conservou poucos genes (menos de uma centena), reduzindo o seu tamanho. A função genética do Y é associada basicamente na indução do desenvolvimento masculino no início da fase embrionária e na manutenção da espermatogênese. Os cromossomos X e Y, devido à sua origem evolutiva comum, contêm segmentos de DNA homólogos em ambas as extremidades, principalmente nos braços curtos proximais de ambos, denominadas regiões pseudo-autossômicas. Genética Humana 19 Cromossomo na interfase Na interfase, o material genético apresenta-se como filamentos emaranhados e densamente corados, formando a cromatina, uma desoxirribonucleoproteína formada de partes iguais de ácido desoxirribonucleico (DNA) e proteínas histônicas (ricas em arginina e lisina) e não histônicas (proteínas ácidas). EXPLICANDO DIFERENTE+++ Estudos evidenciam que as fibras de cromatinas estão formadas por um eixo de histonas, não necessariamente contínuo, em torno do qual se enrola uma molécula contínua de DNA. Ao microscópio eletrônico, essa estrutura mostra-se, na interfase, uma imagem semelhante à de um colar de contas: cada “conta” está constituída por uma partícula central (core) formada por quatro tipos diferentes de moléculas de histona. O DNA, então, enrola-se em torno dessa partícula central, formando o nucleossomo, que é a subunidade básica da estrutural da cromatina. São conhecidas cinco classes de histonas: duas histonas de cada classe (H2A, H2B, H3 e H4) agregam-se para formar um nucleossoma, juntamente com DNA. A histona H1 é necessária para que os complexos histona-DNA formem uma fibra de 30 nm de espessura, enrolando assim o DNA de uma forma ainda mais eficaz. Cada nucleossomo está formado por uma partícula central de histona envolvida por uma espiral de DNA, cujo comprimento corresponde a uma volta e 3⁄4 de volta, abrangendo cerca de 140 pares de bases. Os nucleossomos estão unidos entre si por segmentos de DNA, chamados DNA de ligação e formados por 15 a cem pares de bases; esse DNA de ligação está associado à quinta histona, H1 (Figura 3). Genética Humana20 Figura 3: Fases de compactação do DNA DNA dupla hélice DNA hélice Nucleossomos Cromação Cromossomo Fonte: @freepik. As histonas que compõem o core são essenciais para o empacotamento do DNA. Além do enrolamento primário da dupla-hélice do DNA, há um enrolamento secundário ao redor das histonas (constituindo os nucleossomos) e um enrolamento terciário dos nucleossomos para formar as fibras de cromatina que compõem alças em uma estrutura de proteínas ácidas não histônicas. Portanto, essas proteínas não histônicas também fazem parte da estrutura do cromossomo, sendo sua função contribuir para a conformação estrutural do cromossomo e/ou para a regulação gênica. Genética Humana 21 DICA Quando a cromatina é isolada dos núcleos interfásicos, não é possível reconhecer os cromossomos individuais. Em vez disso, observa-se um aglomerado irregular de nucleoproteína (heterocromatina). A cromatina pode apresentar-se sob dois aspectos. A eucromatina, que constitui a maior parte do cromossomo, apresenta fibras menos condensadas e coloração uniforme durante a interfase. A heterocromatina corresponde a regiões cromossômicas mais densamente espiralizadas e, por isso, são coradas com mais intensidade. IMPORTANTE Há uma correlação entre a condição estrutural do material genético e sua atividade transicional, durante a divisão, quando o DNA está́ compactado em cromossomos visíveis, não há transcrição. Por outro lado, quando ele está́ desespiralizado, há transcrição. A heterocromatina pode ser constitutiva ou facultativa. A constitutiva consiste em regiões especiais que normalmente não são expressas e correspondem a regiões de DNA altamente repetitivo. A heterocromatina facultativa resulta da inativação de cromossomos inteiros de uma linhagem celular, embora eles possam expressar-se em determinadas circunstâncias, como é o Genética Humana22 caso de um dos cromossomos X da fêmea dos mamíferos, que é geneticamente inativo. Cromossomo metafásicos Os cromossomos só́ podem ser visualizados individualmente durante a fase de metáfase na divisão celular. Essa é a melhor fase para a visualização dos cromossomos, que estão condensados ao máximo. Nessa fase, apresentam- se formados por dois filamentos, as cromátides, unidas pelo centrômero ou constrição primária. A citogenética como ciência, trouxe grande contribuição não só́ para os estudos das doenças humanas, como também para estudos das populações, sua origem e evolução. Estima-se que em torno de 20 mil anormalidades cromossômicas tenham sido registradas em bancos de dados laboratoriais. DICA O conjunto cromossômico característico da espécie é denominado cariótipo. A ordenação dos cromossomos de um cariótipo segundo a classificação padrão (de acordo com o tamanho do cromossomo e a posição do centrômero em cada par) é denominada cariograma ou idiograma. Técnicas para o estudo dos cromossomos humanos O momento ideal para estudar os cromossomos humanos é durante a metáfase da divisão mitótica, pois nessa fase que os cromossomos se apresentam espiralizados ao máximo. Por Genética Humana 23 isso, devem ser utilizados tecidos com alta taxa de multiplicação celular (alto índice mitótico) para estudos. A técnica mais usada para estudo de cariótipo humano é o cultivo de linfócitos de sangue circulante periférico, essa técnica tem a vantagem de oferecer grande número de metáfases em apenas três dias e de eliminar a necessidade de biópsias, como no cultivo de fibroblastos. O cultivo de linfócitos emprega-se um agente mitogênico, como a fitohemaglutinina, que estimula a atividade mitótica e tem ação aglutinante sobre as hemácias. Existem basicamente duas técnicas para cultivo de linfócitos humanos: a macrotécnica e a microtécnica. A diferença entre elas, é que na primeira coleta-se um volume maior de sangue (5 ml) e as hemácias são excluídas por sedimentação, enquanto na microtécnica o volume de sangue é menor (0,2 ml) e trabalha-se com o sangue total (utilizada para análise cariotípica de recém- nascidos). Os principais procedimentos utilizados em laboratórios clínicos e de pesquisa são as técnicas de bandeamento cromossômico. Bandas Q.: Os cromossomos submetidos a esse tratamento apresentam faixas ou bandas com diferentes intensidades de fluorescência, sendo tal padrão característico e constante para cada par cromossômico. Tais faixas ou bandas foram designadas de bandas Q (de quinacrina). Essa técnica apresenta uma vantagemespecifica na identificação do cromossomo Y, que se cora intensamente com quinacrina, mesmo quando a célula está em interfase. 1. Bandas G.: Os cromossomos são submetidos à digestão pela tripsina, que desnatura as proteínas cromossômicas, sendo corados com Giemsa (daí o nome de bandas G). Esse padrão é o único para cada cromossomo humano e possibilita sua definição inequívoca; 2. Bandas R.: Na obtenção dessas bandas, os cromossomos são tratados com calor para obtenção de desnaturação controlada e, depois, corados com Giemsa. O resultado de bandas claras Genética Humana24 e escuras representa o inverso daquele produzido pelos bandeamentos Q e G, daí a sua designação de bandas reversas (R). Esse tipo de bandeamento é usado especialmente quando algumas regiões cromossômicas se coram mal pelos padrões das bandas G ou Q. Esse é o método padrão em alguns laboratórios europeus, por exemplo; IMPORTANTE Uma banda cromossômica é definida como um segmento que pode ser distinguido dos dois segmentos vizinhos de forma inequívoca. Cada braço do cromossomo é subdividido em regiões 1, 2, entre outras, partindo sempre do centrômero. Por exemplo, 5p3 indica a região 3 do braço curto do cromossomo 5. Ainda, cada região pode ser subdividida em bandas e sub- bandas. 1. Bandas C. Nessa técnica, a coloração também é feita com Giemsa, após tratamento com hidróxido de sódio, são coradas regiões específicas, em que o cromossomo apresenta DNA altamente repetitivo, como nas regiões dos centrômeros e outras regiões nos braços longos dos cromossomos 1, 9 e 16, porção distal do cromossomo Y correspondendo à heterocromatina constitutiva, motivo de sua denominação banda C; 2. Bandas NOR.: Essas bandas coram especificamente as regiões organizadoras nucleolares, ou seja, as constrições secundárias dos cromossomos com satélites, como é o caso dos cromossomos dos grupos D e G (exceto o Y). Essas regiões constituem o centro de processamento para a produção de ribossomos e de RNA ribossômico; 3. Bandas T.: Marcam as regiões teloméricas ou terminais dos cromossomos (daí sua denominação); Genética Humana 25 4. Bandeamento G de alta resolução ou padrão de bandas de prometáfase é obtido por meio do padrão de bandas G ou R, que cora cromossomos em estágio inicial da mitose, quando os cromossomos estão na prófase ou prometáfase. Usado na suspeita de uma anomalia cromossômica estrutural sutil). Um dos mais importantes avanços tecnológicos em citogenética molecular dos últimos anos foi o desenvolvimento da tecnologia da Hibridização in situ por Fluorescência (FISH). Essa tecnologia é usada para detectar a presença ou ausência, o número de cópias e a localização cromossômica de uma determinada sequência de DNA nos cromossomos de um indivíduo. Baseia-se na capacidade de uma fita simples de DNA, utilizada como sonda, associar-se com sua sequência complementar desconhecida, durante a metáfase. Essa técnica também pode ser usada para estudar cromossomos de células interfásicas, tendo a vantagem adicional de fornecer resultados muito rapidamente. Cariotipagem por espectro multicolorido utiliza um conjunto de sondas de pintura cromossômica de todos os cromossomos humanos, a fim de preparar um cariótipo humano multicolorido, ou cariótipo espectral, no qual cada par de cromossomos homólogos pode ser identificado com base em sua coloração única. Pode ser útil na detecção de pequenos rearranjos cromossômicos, tanto constitucionais (anormalidades do desenvolvimento), quanto adquiridos (como no câncer). Hibridização genômica comparativa (CGH, do inglês Comparative Genomic Hybridization) é muito usada em genética do câncer para detectar regiões de amplificação gênica ou perda de alelos. Citometria de fluxo baseia-se na ligação diferencial de corantes fluorescentes as sequências específicas de DNA, alguns se ligam a sequências GC (ricas em genes) e outros a sequências AT (pobres em genes), possibilitando a separação dos cromossomos por meio do processo de citometria de fluxo, Genética Humana26 resultando em um histograma do tamanho dos cromossomos, denominado cariótipo de fluxo. Aplicado na construção de bibliotecas de DNA cromossomo-específico e na produção de coloração de cromossomos para FISH. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a célula possui um conjunto complexo de moléculas usadas para obter e armazenar energia, e pôr em prática Vimos, que as células eucarióticas têm sistemas complexos de membranas internas, algumas das quais estão associados a organelas visíveis e/ou delimitando estruturas, como o núcleo das células; onde estão os cromossomos constituídos de uma molécula bifilamentar de DNA e de uma variedade de proteínas. O número normal de cromossomos humanos é 46, ou 23 pares. Desses cromossomos, 44 (ou 22 pares) são homólogos nos dois sexos e são chamados de autossomos. E os cromossomos do genoma humano podem ser identificados citologicamente por vários procedimentos de coloração. Genética Humana 27 Mitose e Meiose OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender uma das mais surpreendentes atividades realizadas por uma célula viva, a divisão celular. A célula usa dois mecanismos diferentes para se dividir: a mitose e a meiose, cada um deles com objetivos específicos. A mitose multiplica e meiose divide o número de células. A interfase é uma fase ativa, em que a célula não só́ continua a realizar as funções bioquímicas básicas da vida, como também replica seu DNA e as outras estruturas celulares na preparação para a divisão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Mitose e meiose são dois processos de divisão celular que envolvem replicação cromossômica e divisão celular. A mitose leva ao crescimento dos organismos e a reposição das células mortas. Portanto, o material genético, constituído de DNA e empacotado nos cromossomos, é transmitido de modo constante de uma célula para suas descendentes. A meiose é o processo de divisão celular que os indivíduos de reprodução sexuada utilizam para formar os seus gametas nas células do aparelho reprodutivo. Por intermédio desse processo, o material genético é reduzido à metade nos gametas para garantir a manutenção da quantidade de DNA necessária para cada espécie. E, além disso, nesse processo ocorre a troca de material genético entre os cromossomos de origens diferentes (materno e paterno), aumentando a variabilidade na espécie, o que é de grande interesse evolutivo. Genética Humana28 SAIBA MAIS Na divisão das células eucarióticas é preciso que os cromossomos e todos os demais componentes celulares sejam duplicados e dividido igualmente e de forma aleatória entre as duas células- filhas. O retículo endoplasmático e o complexo de Golgi são fragmentados por ocasião de divisão e, mais tarde, reconstituídos nas células-filhas. Ciclo Celular Toda vez que uma célula eucariótica se divide, passa por uma série de fases que, juntas, constituem o ciclo celular. O G (do inglês gap) é o intervalo da replicação do DNA. Os intervalos da interfase são G1 (período de pré-síntese do DNA ou intervalo 1); S (período de síntese do DNA); e G2 (período de pós-síntese do DNA). Durante o período G1, a célula sintetiza proteínas, lipídeos e carboidratos; que serão utilizadas para a formação das membranas das duas novas células que se formarão a partir da célula mãe. É o período do ciclo celular que mais varia em duração, entre os diferentes tipos de células. Por exemplo, as células do fígado, que têm crescimento lento, permanecem em G1 por vários anos, enquanto as células de crescimento rápido, como as da medula óssea, permanecem nessa fase por 16 a 24 horas. Células embrionárias precoces podem omitir inteiramente o período G1.Genética Humana 29 Figura 4: Representação esquemática do ciclo celular Mitoses CICLO NUCLEAR Sínteses de DNA Interfase Fonte: @commons. Na fase S começa a replicação do material genético da célula. Ao término da síntese de DNA, a produção de RNA e a síntese de proteínas são retomadas. Em G2, a célula continua desenvolvimento e duplicando as organelas. Já com o volume da célula aumentado, ocorre a divisão celular. Algumas células com menor frequência de divisão podem ficar por tempo indeterminado em G0, ou seja, a célula permanece ativa, mas sem se preparar para a divisão; voltando a replicar quando estimulada. Genética Humana30 A mitose tem um tempo de duração que varia de célula para célula em uma mesma espécie. Na espécie humana, por exemplo, em células de medula óssea, o período de divisão tem a duração de 30 minutos a uma hora, enquanto a interfase estende- se de 41 a 49 horas. Quando os ciclos celulares são longos, o período G1 é mais prolongado, ao contrário dos ciclos celulares curtos, nos quais ele é rápido. IMPORTANTE Dois processos opostos, divisão celular e morte celular (apoptose), regulam o número de células dos organismos vivos. Após o nascimento, a mitose e a apoptose protegem o corpo. A mitose promove crescimento do organismo e repõe células danificadas por diferentes lesões. Já a apoptose remove células da pele danificadas por agentes mutagênicos como a radiação ultravioleta da luz solar, por exemplo. Essas células são desprendidas e eliminadas pelo corpo, ou então poderiam se tornar cancerosas. Assim, há um balanço entre o crescimento e a perda tecidual, coordenado pelos processos de mitose e apoptose. Controle do ciclo celular A mudança do estado de repouso (quiescência) para um estado de crescimento ativo é um pré-requisito para o início do ciclo celular completo para a maioria das células. Os sinais químicos que controlam o ciclo celular provêm de fora e de dentro da célula. Os sinais externos podem ser hormônios, que agem à distância; e fatores de crescimento, que atuam mais localmente, por exemplo. Os sinais internos da célula podem ser proteínas de dois tipos: as ciclinas e as quinases, que Genética Humana 31 interagem para ativar os genes cujos produtos, por sua vez, ativam a mitose. Todos os eucariotos regulam a progressão pelo ciclo celular por meio do complexo ciclina-CDK, embora os detalhes de sua estrutura e seu mecanismo de ação possa diferir levemente de um organismo para outro. A falha de qualquer um dos pontos de controle resultará em instabilidade genética. O mau funcionamento do fuso pode causar aneuploidias, enquanto a falta de duplicação do polo do fuso pode levar a poliploidia. Defeitos no ponto de controle do dano de DNA podem resultar em alterações cromossômicas, como translocações, deleções e amplificação de genes, entre outras. SAIBA MAIS O número de divisões que uma célula deve sofrer está relacionado com o processo denominado “relógio celular”, associado as regiões cromossômicas terminais, denominadas telômeros. A cada mitose, os telômeros perdem certo número de nucleotídeos, encurtando gradualmente os cromossomos, tendo em vista que a cada replicação do DNA são perdidos de 8 a 12 nucleotídeos nas extremidades de cada cromossomo. Cerca de 50 divisões após, uma quantidade crítica de DNA telomérico é perdida, o que constitui um sinal para a célula cessar a mitose. A célula pode até permanecer viva, mas não se divide novamente, ou pode morrer, dependendo do seu ciclo. Mitose As células somáticas, descendentes de uma célula original, o zigoto, passam durante a sua vida por duas fases: a interfase, na qual a célula está realizando funções metabólicas e de replicação Genética Humana32 do DNA, e a fase de divisão ou mitose, na qual a célula cessa funções e se divide. A mitose é um processo contínuo, mas, para ser facilmente compreendido, costuma-se dividi-lo nas fases prófase, metáfase, anáfase e telófase, conforme a Figura 3. Figura 5: Representação da mitose dividindo as fases prófase, metáfase, anáfase e telófase Fonte: @pixabay. Prófase A prófase inicia-se pela condensação da cromatina dos cromossomos dos eucariotos. Os cromossomos tornam-se gradativamente mais curtos e espessos, sendo visíveis com no final da metáfase. As duas cromátides-irmãs de cada cromossomo permanecem unidas pelo centrômero. Enquanto isso, a membrana nuclear dissolve-se, os nucléolos desaparecem, os cromossomos espalham-se e se inicia a formação do fuso acromático ou fuso mitótico. Esse fuso consiste em microtúbulos formados por uma proteína chamada tubulina, observados ao microscópio como fibras em fuso. As fibras do fuso ligam o cinetócoro (estrutura situada junto ao centrômero dos cromossomos) aos centríolos, estruturas que constituem o ponto de origem do fuso acromático. Metáfase Nessa fase, os cromossomos atingem o máximo de condensação. PASSO A PASSO Depois que as fibras do fuso se fixam a placa equatorial, cada cromossomo move-se aleatoriamente plano imaginário https://pixabay.com/pt/vectors/ci%C3%AAncia-biologia-c%C3%A9lulas-sem-t%C3%ADtulo-41575/ Genética Humana 33 equidistante dos polos do fuso. O alinhamento cromossômico adequado é um importante ponto de controle do ciclo celular, tanto na mitose quanto na meiose. O sinal para o alinhamento cromossômico provém do cinetócoro (complexo proteico do centrómero), e a natureza química desse sinal é a desfosforilação de algumas proteínas a ele associadas. Ao fim da anáfase, as cromátides-irmãs de cada cromossomo iniciam sua separação, até́ ficarem unidas somente pelos centrômeros (assemelhando-se à letra X). Na telófase, o centrômero de cada cromossomo divide- se longitudinalmente, e as cromátides-irmãs, agora chamadas de cromossomos-filhos, vão se separando e dirigindo para os polos da célula, visto que as proteínas que uniam as cromátides são dissolvidas. Assim, vão 2n cromossomos para cada polo. O papel dos centrômeros aqui é muito importante, pois estes orientam cada cromossomo-filho para um dos polos. O papel dos microtúbulos do fuso é também importante, pois seu encurtamento progressivo puxa os cromossomos em direções opostas para os polos. Os cromossomos sem centrômeros não têm como se orientar na direção dos polos celulares. Na última fase da mitose, após os dois conjuntos cromossômicos atingirem os polos opostos da célula, os cromossomos sofrem descondensação progressiva, as fibras do fuso se desintegram e a tubulina fica armazenada na célula. Formam-se novas membranas nucleares e a célula começa a se dividir. As organelas também se dividem ou se distribuem para o citoplasma das duas novas células. Meiose Nas células que vão sofrer meiose, a síntese de DNA ocorre na interfase, antes dessa divisão. Na meiose, ocorre uma divisão cromossômica para duas divisões celulares: a meiose I ou divisão reducional (onde os cromossomos estão subdivididos em duas cromátides, mas os seus centrômeros não) e a meiose Genética Humana34 II ou divisão equacional, que é muito semelhante à mitose, porém, os cromossomos estão em número haploide. A meiose ocorre apenas nas células das linhagens germinativas femininas e masculinas e é precedida por uma única duplicação do DNA. Meiose I Quando essa divisão se inicia, o DNA já́ está replicado de modo semelhante ao que ocorre na mitose e, como a mesma, o processo se subdivide em quatro fases: prófase I, metáfase I, anáfase I e telófase I. Prófase I É a fase mais longa da meiose e onde ocorrem fenômenos da maior importância biológica. Essa fase está́ subdividida em cinco subfases ou estágios: leptóteno, zigóteno, paquíteno, diplóteno e diacinese. PASSO A PASSO No leptóteno, os cromossomos, já́ replicados, iniciam sua condensação meiótica e aparecem como filamentos longos e delgados. Cada cromossomo do par homólogo. Ao longo dos filamentos, existem regiões mais espessas (cromômeros) e menos espessas alternadas fortemente coradase que apresentam um padrão típico para cada cromossomo, podendo corresponder cada cromômero a maior condensação de cromatina. Ao longo do filamento, os cromômeros distribuem-se da mesma maneira que as contas em um colar. À medida que os cromossomos se condensam mais, os cromômeros adjacentes fusionam-se em estruturas maiores. Zigóteno No zigóteno, os membros de cada par homólogo aproximam-se, até́ ficarem lado a lado, ao longo do seu comprimento. Esse pareamento dos cromossomos homólogos, iniciando pelas suas extremidades, é denominado sinapse. O Genética Humana 35 processo de pareamento dos homólogos envolve a formação da estrutura, chamada complexo sinaptonêmico e sua formação é importante para que a troca entre cromátides (crossing-over) ocorra nos segmentos homólogos. Paquíteno Durante a fase do paquíteno, os cromossomos parecem mais curtos e mais condensados, e cada homólogo pode ser identificado duplicado. Cada par de homólogos pareado é chamado bivalente. Os homólogos permanecem unidos por meio do complexo sinaptonêmico. Cada bivalente é formado por dois cromossomos homólogos ou quatro cromátides, por isso ele é chamado, também, de tétrade. DEFINIÇÃO Cromossomos homólogos são os que portam os mesmos lócus gênicos, sendo um de origem materna e o outro de origem paterna, considerando-se uma célula diploide. Durante o paquíteno quando os cromossomos homólogos estão pareados, pode ocorrer um fenômeno importante, que gera variabilidade genética, o crossing-over (permuta). Esse envolve uma troca entre segmentos de cromátides homologas, que tem consequências muito importantes na reprodução sexuada. É a maneira em que o material genético dos cromossomos maternos e paternos pode ser recombinado. Genética Humana36 Figura 6: Desenho esquemático crossing-over Cromátide Fonte: @commons. SAIBA MAIS Estudos com microscopia eletrônica indicam que os cromossomos X e Y apresentam-se unidos apenas pelas porções distais dos seus braços curtos, o que sugere homologia apenas nessas extremidades. Diplóteno No estágio diplóteno, os cromossomos homólogos começam a se afastar, contudo esse afastamento não é completo. Os homólogos permanecem unidos em alguns pontos ao longo https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Crossing-over_scheme_PL.svg Genética Humana 37 das cromátides, chamados quiasmas (indicativos de permutações cromossômicas e visíveis ao microscópio ótico). Os quiasmas tendem a se mover para as extremidades dos cromossomos, processo chamado de terminalização dos quiasmas. SAIBA MAIS A permutação e a formação de quiasmas não são eventos raros, sua frequência varia de acordo com a espécie e, principalmente, com o tamanho dos cromossomos. Diacinese Na fase diacinese, os cromossomos continuam encurtando e condensando, enquanto os quiasmas completam seu movimento de terminalização (com exceção dos cromossomos maiores, que completam sua terminalização apenas na anáfase I). O complexo sinaptonêmico desaparece e os bivalentes começam a se organizar na zona equatorial da célula, formando a metáfase I. Tanto na linhagem germinativa feminina quanto na masculina, a diacinese marca o fim da prófase I. Na linhagem germinativa feminina, porém, observa-se que o diplóteno é muito mais longo, constituindo o dictióteno, estágio de prófase suspensa, no qual as células podem permanecer por vários anos. Anáfase I Durante essa fase, os cromossomos homólogos separam- se um do outro, dirigindo-se para os polos opostos da célula. A principal diferença entre a anáfase mitótica e a anáfase I da meiose é que, nesta última, não há divisão dos centrômeros, ocorrendo apenas separação dos homólogos, indo cada um deles (origem paterna e materna) para a extremidade oposta. A Genética Humana38 distribuição dos membros de cada par de homólogos é ao acaso, isto é, se considerarmos dois pares de cromossomos, poderão resultar as seguintes combinações em cada polo celular. Cada homólogo continua constituído por duas cromátides-irmãs unidas pelo centrômero, assim permanecendo até́ a anáfase II. Telófase I Quando os cromossomos chegam aos polos da célula, a membrana nuclear é reconstituída. Os cromossomos espiralizados não se descondensam completamente, estando em número haploide (n) em cada extremidade da célula. Cada cromossomo, porém, mantem-se constituído por duas cromátides. Meiose II As duas células resultantes da meiose I passam imediatamente para a meiose II, sem que haja uma interfase típica. Não ocorre replicação dos cromossomos entre essas duas divisões, os cromossomos presentes no início da meiose II são idênticos aos que estavam presentes no fim da meiose I. Prófase II Essa fase é praticamente inexistente, uma vez que os cromossomos não perdem sua condensação durante a telófase I. Assim, após a formação do fuso e o desaparecimento da membrana nuclear, as células resultantes da telófase I entram logo em metáfase II. Metáfase II Nesta fase, cada cromossomo, constituído por duas cromátides-irmãs unidas pelo centrômero, dispõe-se no plano equatorial da célula, prendendo-se ao fuso por meio do centrômero. A principal diferença entre as metáfases I e II é que, na II, os cromossomos estão duplicados, mas em número Genética Humana 39 haploide, enquanto na metáfase I eles também estão duplicados, mas dispostos aos pares, na placa equatorial da célula. Anáfase II A principal diferença entre as anáfases I e II é que, na primeira, os cromossomos estão em número haploide, mas duplicados, enquanto na segunda eles estão em número haploide, cada um constituído apenas por uma cromátide (n). Telófase II Nesta essa fase, os cromossomos já́ estão nos polos celulares, formando-se uma membrana nuclear ao redor de cada conjunto haploide (n). Ao fim da telófase II, a meiose está completa, resultando teoricamente em quatro novas células haploides (gametas); assim, o núcleo de cada célula contém 1/4 do material cromossômico presente no início do processo meiótico. Gametogênese A gametogênese no homem é denominada espermatogênese e ocorre nos testículos. E na mulher, denomina-se ovulogênese e ocorre nos ovários. PASSO A PASSO Na ovulogênese, ao redor dos três meses de vida intrauterina, as ovogônias (ou oogônias), existentes nos ovários, começam a crescer e se diferenciar em ovócitos (ou oócitos) primários, parando suas mitoses em torno do quinto mês de vida pré́-natal. Aos sete meses, todos os ovócitos primários do feto encontram- se rodeados por um conjunto de células, formando um folículo primário. Os ovócitos primários entram em meiose I, chegando até́ o final da prófase I, quando a divisão é suspensa em um estágio denominado dictióteno, no qual se encontram todos os ovócitos primários, por ocasião do nascimento, assim perdurando até́ a Genética Humana40 puberdade. Quando essa fase é atingida, cada ovócito primário reinicia sua primeira divisão meiótica, originando duas células de tamanhos diferentes: o ovócito secundário (maior, com mais quantidade de citoplasma) e o primeiro corpúsculo polar (menor, praticamente sem citoplasma). A partir da menarca (primeira menstruação), esse processo passa a ocorrer mensalmente, durando cerca de 45 anos, até́ a menopausa (fim do período reprodutivo feminino). O ovócito secundário, liberado na tuba uterina, sofre a segunda divisão meiótica, que só́ vai se completar no momento da fertilização. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a célula usa dois mecanismos diferentes para se dividir: a mitose e a meiose. A mitose ocorre nas células somáticas, garantindo o crescimento dos organismos e a reposição de células mortas, onde o DNA contido nos cromossomos é transmitido de da célula mãe para as células filhas. A meiose ocorre nas células reprodutivas, e é o processode divisão celular que os seres de reprodução sexuada utilizam para formar os seus gametas; estas células possuem a metade do DNA contido em uma célula somática. Ainda, durante a meiose, há troca de material genético entre os cromossomos de origens diferentes (materno e paterno), o que aumenta a variabilidade dos gametas, sendo de grande interesse para as espécies. Além disso, vimos que o ciclo celular é regulado por sinais extracelulares e intracelulares. Genética Humana 41 Variação no Número, na Estrutura dos Cromossomos e Anomalias OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender que as células humanas são diploides e contêm 46 cromossomos, sendo 44 autossomos e dois cromossomos sexuais, que são XX no sexo feminino e XY no sexo masculino. Na fase metáfase mitótica, todos os 46 cromossomos são constituídos de duas cromátides- irmãs idênticas. E que variações no número de cromossomos e mesmo alterações em parte de um cromossomo levam a alterações fenotípicas no ser humano. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Morfologia e classificação dos cromossomos O número normal de cromossomos humanos é 46, ou 23 pares. Desses cromossomos, 44 (ou 22 pares) são homólogos nos dois sexos e são chamados de autossomos. Os dois restantes são os cromossomos sexuais, que são homólogos na mulher (XX) e diferentes no homem (XY). Quanto à sua forma, os cromossomos metafásicos são constituídos por duas cromátides unidas pelo centrômero, também chamado de constrição primária. O centrômero divide as cromátides em braços cromossômicos, os braços curtos (p); os braços longos (q); e nas extremidades dos braços cromossômicos encontram-se os telômeros. Genética Humana42 É o centrômero que determina a classificação dos cromossomos humanos em três tipos: metacêntricos; submetacêntricos; e acrocêntricos (como já foi visto). Quanto ao tamanho, os cromossomos são considerados grandes, médios, pequenos e muito pequenos, sendo classificados, em ordem decrescente de tamanho, em sete grupos denominados de A a G e numerados, aos pares, de 1 a 22, além dos cromossomos sexuais, que podem ser classificados à parte ou nos respectivos grupos originais. Na Tabela 1, encontra-se a classificação dos cromossomos humanos, estabelecida pelos citogeneticistas em um encontro realizado em Denver (Colorado), em 1960. Tabela 1: Classificação dos cromossomos humanos Grupos Características morfológicas No dos pares No nas células A Grandes; metacêntricos (1 e 3) e submetacêntricos (2) 1, 2, 3 6 B Grandes; submetacêntricos 4,5 4 C Médios; a maioria é submetacêntrica 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e X 15 (M) ou 16 (F) D Médios; acrocêntricos 13,14,15 6 E Pequenos; metacêntricos ou submetacêntricos (16) e submetacêntricos (17 e 18 16, 17, 18 6 F Muito pequenos; metacêntricos 19, 20 4 G Muito pequenos; acrocêntricos 21, 22 e Y 5 (M) ou 4 (F) TOTAL 46 Fonte: Strachan, T. (2013) Genética Humana 43 Notação cromossômica A Tabela 2 mostra as principais notações para referir- se às alterações cromossômicas. Os cariótipos são descritos pelo número de cromossomos, acompanhado da constituição cromossômica sexual e de qualquer alteração presente. Por exemplo, as notações cromossômicas de um homem e de uma mulher normais são, respectivamente, 46,XY e 46,XX. As alterações cromossômicas devem ser precedidas por vírgula, após os cromossomos sexuais, por exemplo: uma criança do sexo masculino com síndrome de Down devida à trissomia do cromossomo 21 é definida como 47,XY,+21, enquanto uma menina com deleção do braço curto do cromossomo 5 (síndrome do “miado-do-gato”) será́ representada como 46,XX, 5p- ou 46,XX, del (5p). A notação 46,XY, t(2;4) (p2.3;q2.5) corresponde a um homem com uma translocação recíproca envolvendo o braço curto do cromossomo 2, na região 2 banda 3, e o braço longo do cromossomo 4, na região 2 banda 5. Tabela 2 - Notações utilizadas nas fórmulas cariotípicas Notação Significado ace acêntrico (=sem centrômero) arr microarranjo cen centrômero cgh hibridização genômica comparativa del deleção der derivado dic dicêntrico (=com dois centrômeros) dup duplicação fra sítio frágil h constrição secundária iso isocromossomo ins inserção inv inversão Genética Humana44 ish hibridização in situ, inserção mar cromossomo marcador mat origem materna p braço curto de qualquer cromossomo pat origem paterna pter extremidade do braço curto q braço longo de qualquer cromossomo qter extremidade do braço longo r cromossomo em anel rcp translocação recíproca rob translocação robertsoniana s satélite t translocação ter extremidade, ponta ou terminal + ganho de um cromossomo ou de parte dele - perda de um cromossomo ou parte dele / mosaicismo : quebra cromossômica :: quebra e junção Fonte: Strachan, T. (2013). Esse sistema de notação cariotípicas abrange também os resultados dos estudos com FISH (hibridização fluorescente in situ). Por exemplo, um cariótipo 46, XX. FISH del (15) (q11.2) (D15S10) refere-se a uma mulher com uma microdeleção envolvendo 15q11.2, identificada pela análise de hibridização in situ, usando uma sonda para o lócus D15S10 (D15S10) DNA do cromossomo 15 sítio 10). Esse indivíduo possui a síndrome de Prader-Willi ou de Angelman. As alterações numéricas e estruturais dos cromossomos constituem as mutações cromossômicas que, como as mutações gênicas, consistem em uma fonte de variação importante para a evolução das espécies. As alterações cromossômicas podem ser classificadas em dois grupos: numéricas e estruturais. Genética Humana 45 Alterações Numéricas As mutações cromossômicas pertencem a três categorias: rearranjos cromossômicos, aneuploides e poliploides As espécie possuem um número característico de cromossomos, no caso dos seres humanos são 23 pares (diploide- 2n). O grau de ploidia é número de genomas (ou complementos cromossômicos) de uma espécie. Portanto, os seres humanos são diploides, possuindo 23 pares de cromossomos. Contudo, nossos gametas (espermatozoide e ovulo) são células haploides (não estão em dose dupla-n). O genoma humano refere-se ao conjunto de sequências de DNA dentro dos 23 pares de cromossomos nos núcleos. Nas denominadas alterações numéricas (perda ou adição) de cromossomos: as euploidias são as responsáveis pela alteração do genoma do indivíduo (conjunto de todos os cromossomos); já a aneuploidia, altera apenas perda ou acréscimo de cromossomo (Tabela 2). Alterações Numéricas Número de Cromossomo Euploidias Haploidia n Triploidia 3n Tetraplodia 4n Aneuploidias Nulissomia 2n-2 Monossomia 2n-1 Trissomia 2n+1 Tetrassomia 2n+2 Elaborada pela autora (2020). Analisando a Tabela 2, vemos que as euploidias correspondem a múltiplos dos genomas haploides: triploidia (2n + n=3n), tetraploidia (4n) ou mais genomas. Referindo-se aneuploidias, a ocorrência pode surgir pela não separação de dos cromossomos homólogos durante a https://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%A9cie https://pt.wikipedia.org/wiki/Cromossomo Genética Humana46 anáfase I e/ou das cromátides-irmãs nana anáfase II da meiose, pode haver aumento ou perda de cromossomo na combinação dos gametas para formar o zigoto (Tabela 2). SAIBA MAIS O mosaicismo refere-se aos indivíduos que possuem duas os mais linhagem de células somáticas; neste caso a não separação dos cromossomos na anáfase da mitose é a responsável pelo evento na formação do zigoto. Os principais distúrbios de número de cromossomo (Tabela 2) são a trissomia do 21, trissomia do 18 e trissomia do 13. Nas aneuploidias de cromossomos sexuais têm-se: síndrome de Turner (45, X); síndrome de Klinefelter (47, XXY; 47, XYY e 47, XX). A maioria das anormalias autossômicas pode ser diagnóstica ao nascimento, no caso de cromossomos sexuais só na puberdade (ou hoje temos sequenciamento). Alterações estruturais Os rearranjos cromossômicos alteram a estrutura dos cromossomos; por meio da duplicação, deleção, invertido e translocaçãode um segmento de cromossomo. A recombinação se trata de um fenômeno celular normal da meiose entre cromossomos homólogos; gerando variabilidade genética e princípios na evolução. As deleções ocorrem espontaneamente ou através de agentes externos (radiações, drogas, vírus, entre outras). Malformações podem ocorrer, se houver exposição intra- uterina a agentes mutagênicos. A síndrome do cri-du-chat ou Genética Humana 47 “miado-do-gato”, é um exemplo de deleção do cromossomo 5. Polimorfismo de nucleotídeo único (SNP) são transmitidas para as células-filhas. A síndrome de DiGeorge/velocardiofacial é gerada por uma microdeleção do cromossomo 22q 11. As inserções e as deleções causam efeito amplo dentre as alterações estruturais; uma vez mutação de sentido alterado pode ocorrer (proteína funcionalmente diferente) A expansão de sequência de trinucleotídeos está associada a algumas doenças hereditárias humanas. A quebra de um cromossomo produz duas extremidades, que podem se rearranjar de diferentes modos: restaurando a estrutura original do cromossomo; perdendo as extremidades rompidas; um ou mais segmentos quebrados de um cromossomo podendo se unir a outro cromossomo ou a segmentos cromossômicos. A maioria das duplicações resulta de um crossing- over desigual entre cromátides homólogas, durante a meiose, produzindo segmentos adjacentes duplicados e/ou deletados Alteração na mudança na localização dos genes (inversões e translocações). Inversão ocorre a quebra em duas regiões diferentes do cromossomo, seguida pela reunião do segmento invertido. A Inversão pode ser pericêntrica (quando o centrômero se situa dentro segmento invertido) e paracêntrica (quando o centrômero se situa fora do segmento invertido). O processo de translocação possibilita a transferência de um segmento de DNA em outro cromossomo não homologo. Cerca de 4% dos pacientes com síndrome de Down têm 46 cromossomos, um dos quais tem uma translocação robertsoniana entre o cromossomo 21q e o braço longo de um dos outros cromossomos acrocêntricos (em geral o cromossomo 14 ou 22). Cromossomo Filadélfia (translocação Filadélfia) refere-se a uma anormalidade cromossômica associada à leucemia mielóide crônica A translocação cromossômica recíproca é realizada nos braços longos dos cromossomos 9 e 22. Genética Humana48 Consequências clínicas As alterações cromossômicas podem causar consequências sérias e, até mesmo, letais. Embriões com trissomia do cromossomo 13 ou trissomia do cromossomo 18 podem sobreviver, mas ambos resultam em diversas malformações de desenvolvimento, síndrome de Patau e síndrome de Edwards, respectivamente. As Monossomias autossômicas possuem consequências ainda mais catastróficas que as trissomias e, são invariavelmente letais nos primeiros estágios de vida do embrião. Possuir cromossomos sexuais extras pode causar muito menos efeito do que ter um cromossomo autossomo extra. Pessoas com cariótipos 47, XXX ou 47,XXY geralmente “funcionam” dentro da normalidade, e homens 47,XXY têm problemas relativamente menores quando comparados a pessoas com qualquer trissomia autossômica. A monossomia em mulheres 45, X pode ter poucas consequências importantes; já em homens a monossomia, 45, Y é sempre letal. Não é óbvio porque a triploidia é letal em humanos e em outros animais. Com três cópias de cada autossomo, a dosagem de genes autossomos é balanceada não devendo causar problemas. Triploides são sempre estéreis, pois um tríplex de cromossomos não pode parear e segregar corretamente na meiose. Genética Humana 49 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que qualquer dano que introduza uma alteração na dupla-hélice do DNA representa uma ameaça à constituição genética da célula. As alterações cromossômicas podem ser classificadas em dois grandes grupos: numéricas e estruturais. As alterações numéricas correspondem à perda ou ao acréscimo de um ou mais cromossomos e podem ser de dois tipos: euploidias e aneuploidias. As alterações na estrutura dos cromossomos são classificadas em dois tipos: aquelas nas quais há́ alteração no número de genes: deleções, duplicações, cromossomos em anel e isocromossomos; e aquelas nas quais há́ mudança na localização dos genes: inversões e translocações. Genética Humana50 Herança Monogênica OBJETIVO Ao término deste capítulo você terá conhecido sobre os principais tipos de herança monogênica, incluindo os tipos especiais: alelos múltiplos, codominância e herança mitocondrial. Veremos que para montagem de uma genealogia é preciso obter informações do indivíduo afetado ou um parente próximo quando a circunstância exige. Além disso, existe vários exemplos de doenças ou anomalias determinadas por gene com herança monogênica. Então vamos lá. Avante! Conceitos gerais Herança monogênica é o tipo de herança determinada por um gene apenas, apresentando genótipos e fenótipos distribuídos conforme padrões característicos. Se o gene se localiza em cromossomos autossômicos, a herança é denominada autossômica e o gene é autossômico; e quando o gene se situa nos cromossomos sexuais, a herança é ligada ao sexo e o gene é ligado ao sexo. A constituição genética de um indivíduo chama-se genótipo, sendo denominado de fenótipo a manifestação externa de seu genótipo. A posição que o gene ocupa no cromossomo é denominada lócus. Os genes que ocupam o mesmo lócus, no par de cromossomos homólogos são chamados alelos. Em geral, alelos são as formas alternativas de um gene ou de uma sequência de DNA, em um dado lócus. Cada indivíduo possui dois conjuntos haploides de genes, um originado de sua mãe, e Genética Humana 51 o outro de seu pai. Quando os dois membros de um par de alelos são iguais, o indivíduo é homozigoto quanto a esses alelos; quando ambos os alelos diferem, o indivíduo é heterozigoto. IMPORTANTE O genótipo seria o conjunto de genes do indivíduo e o fenótipo, o conjunto de características físicas, bioquímicas e fisiológicas determinadas por esses genes, sendo influenciado ou não pelo meio ambiente. Característica dominante é aquela que se manifesta mesmo quando o gene que a determina encontra-se em dose simples (e o indivíduo é heterozigoto para esse gene), característica recessiva é a que se manifesta apenas quando os alelos do gene estão em dose dupla (e o indivíduo é homozigoto para esse gene). Nos heterozigotos, cada alelo do par gênico considerado determina a formação do seu respectivo produto, seja ou não seu fenótipo distinguível daquele do homozigoto. Segundo dados da literatura, são conhecidos mais de 20 mil características normais e patológicas que apresentam herança monogênica obedecendo as leis de Mendel. Sendo mais de 90% associadas a herança autossômica, menos de 10% a herança ligada ao sexo e uma pequena proporção (< 1%) ligada a herança mitocondrial. Na Tabela 1, encontram-se exemplos de características humanas hereditárias de herança autossômica dominante ou recessiva. Genética Humana52 Tabela 2: Exemplos de características monogênicas humanas normais e seus diferentes tipos de herança Características Tipos de herança Bico de viúva AD Capacidade de enrolar a língua AD Cerume no ouvido • cera úmida, amarela e pegajosa • cera seca, cinza e quebradiça AD AR (presente em 85% dos japoneses Covinha na face AD Covinha no queixo AD Hiperextensibilidade do polegar AD Lóbulo da orelha livre AD Lóbulo da orelha aderido AR Incapacidade de enrolar a língua AR Insensibilidade gustativa à feniltiocarbamida AR Mecha branca no cabelo AD Presença de pelos nos cotovelos AD Presença de sardas AD Sensibilidade gustativa à feniltiocarbamida AD AD = autossômica dominante; AR = autossômica recessiva. Fonte: Strachan, T.e Read, A. (2013) Genética Humana 53 Construçãode genealogias O estudo da herança de uma característica é feito pela análise de genealogias ou heredogramas, que constituem um método abreviado e simples de representação dos dados de uma família. A construção de um heredograma ajuda o clínico a identificar o padrão de herança da doença, seguindo os indivíduos da família. O diagnóstico permite um aconselhamento genético aos afetados ou a seus familiares; e a probabilidades de seus descendentes a manifestar a doença. O heredograma é uma representação gráfica das relações de parentesco da família. Os indivíduos do sexo masculino são representados por quadrados, enquanto os do sexo feminino são representados por um círculo. Estes símbolos quando casados são ligados por um traço horizontal unindo o casal. Já os filhos desse casamento são indicados por traços verticais unidos ao traço horizontal do casal O indivíduo afetado deve ser assinalado por uma seta. No heredograma ainda pode incluir: as gerações (numeradas com algarismos romanos, colocados em geral à esquerda, em ordem crescente); os indivíduos de cada geração (numerados com algarismos arábicos); idade de cada indivíduo da família (abaixo do símbolo correspondente). Todos os indivíduos devem ser representados (abortos e natimortos, até pessoas muito próximas). Tipos de herança Algumas pessoas são portadoras do alelo associado a doença, o que significa que eles próprios não têm a doença, mas tem o gene mutado e podem passá-lo para seus filhos. Por isso a importância de saber a herança do fenótipo de interesse. Genética Humana54 Herança autossômica Herança autossômica dominante É um tipo de herança que ao seguir um heredograma, o fenótipo do alelo dominante expressa tanto em Homozigose como em heterozigose; independente do sexo. Vamos analisar o exemplo, abaixo: A presença de sarda é determinada por um par de alelos autossômicos. A presença de sardas é determinada por alelos dominante A que codifica para presença de sardas e o alelo recessivo a para ausência de sardas, abaixo estão listados todos os possíveis genótipos e fenótipos da herança autossômica dominante: Alelos Genótipos Fenótipos A e a AA Presença de sardas Aa Presença de sardas aa Ausência de sardas Explicando os genótipos: Os cruzamentos possíveis são :AA x AA; AA x Aa; AA x AA; Aa x Aa; Aa x AA e aa x aa. Na herança autossômica dominante; somente do cruzamento Aa X Aa e aa X aa, poderão nascer indivíduos sem sarda (aa). Os indivíduos AA e Aa terão o mesmo fenótipo. No caso de uma doença, um indivíduo não afetado portador o alelo mutado, pode transmitir a doença para os descendentes. Quando a característica é dominante ocorre em todas as gerações (não há saltos de gerações) só́ os afetados têm filhos afetados, e em média, um afetado tem 50% de chance dos seus filhos serem também afetados. Um exemplo é a doença do rim policístico ou de herança autossômica dominante (DRPAD), apresentando heterogeneidade genética e expressividade variável. Genética Humana 55 A Acondroplasia é um tipo de nanismo determinado por um gene autossômico dominante que afeta o crescimento de ossos longos como os das pernas, braços e dedos. Ressalta-se que não existem indivíduos homozigotos dominantes, pois a ausência do alelo recessivo é letal. As mutações no gene FGFR3 (gene do receptor do fator de crescimento fibroblástico 3), associadas à acondroplasia, são mutações de ganho de função, que causam ativação desse gene independentemente do ligante. Herança autossômica recessiva Característica autossômica recessiva é aquela, cujo, os alelos do gene que a determina estão localizados em um cromossomo autossomo e se manifestam apenas quando estão presentes em dose dupla no genótipo. A característica é autossômica quando aparece igualmente em homens e mulheres; e pode ser transmitida diretamente de homem para homem. A característica é recessiva quando há́ saltos de gerações, os afetados, em geral, possuem genitores normais; portanto, indivíduos não afetados podem ter filhos afetados; e em média, 25% dos irmãos de um afetado são também afetados. EXEMPLO O Albinismo é um exemplo de herança recessiva, resultado da falta de produção melanina na pele, nos pelos e nos olhos. Esse distúrbio se deve a uma mutação no gene que carrega a informação para a produção da enzima produtora do pigmento. A distrofia miotônica é um distúrbio multissistêmico, sendo a forma mais comum de distrofia muscular em adultos. A forma clássica desse distúrbio, a distrofia miotônica 1, é causada Genética Humana56 por uma expansão de repetições do códon CTG na região não traduzida 3′ do gene da proteinoquinase da distrofia miotônica (DMPK). A epidermólise bolhosa (EB) consiste em um grupo de distúrbios clinicamente heterogêneos, caracterizado por bolhas, erosões e cicatrizes na pele e nas membranas mucosas em resposta a trauma mecânico ou fricção, podendo também surgir de modo espontâneo. No Brasil, os dados epidemiológicos são pouco conhecidos, mas existem alguns dados mundiais sobre essa doença. Os subtipos dominante e recessivo resultam de mutações gênicas localizadas no cromossomo 3p21.3 (lócus do gene COL7A1- colágeno). Herança ligada ao sexo A herança ligada ao sexo corresponderia aos genes situados nos cromossomos sexuais X e Y. Sabe-se, no entanto, que os cromossomos X e Y, no sexo masculino, apresentam poucas regiões homólogas (pareiam-se apenas pelas pontas dos braços curtos), motivo pelo qual a maioria dos genes situados no X não tem lócus correspondente no Y. Além disso, o cromossomo Y apresenta poucos genes, entre os quais os relacionados com a determinação do sexo masculino, genes para estatura, tamanho dentário e fertilidade. Entre os primeiros, há o gene HYS, que se relaciona com a produção de um antígeno de membrana, denominado antígeno H-Y (histocompatibilidade Y), e o gene SRY, que desempenha um papel crítico na determinação do sexo gonadal. Tanto o Y quanto o X possuem lócus para determinação do sexo masculino, parecendo haver ainda alguns genes em autossomos. Os braços distais dos cromossomos X e Y podem trocar material durante a meiose humana. A herança pelo cromossomo Y é denominada herança holândrica, isto é, a transmissão se dá́ apenas de homem para Genética Humana 57 homem. Visto que o número de genes situados no cromossomo Y é pequeno em relação ao número de genes que se localiza no X, a herança ligada ao sexo pode ser denominada também de herança ligada ao X. Nas mulheres, as relações de dominância e recessividade dos genes situados no X são semelhantes às dos autossomos, pois elas possuem dois cromossomos X. Assim, as mulheres podem ser homozigotas para o alelo A (XAXA), heterozigotas (XAXa) ou homozigotas para o alelo h (XaXa). Nos homens, que são hemizigotos para os genes situados no cromossomo X, pois só́ possuem um deles, qualquer gene se manifesta no seu fenótipo. Genotipicamente, os homens podem ser XAY ou XaY, apresentando os fenótipos correspondentes a cada genótipo desses. Exemplos de doenças recessivas ligadas ao sexo A displasia ectodérmica anidrótica é a mais frequente das displasias ectodérmicas. Esse tipo de displasia caracteriza- se pela ausência de pelos e defeitos ou ausência de glândulas sudoríparas, sebáceas e mucosas. Devido à redução em sua sudorese (hipoidrose), há incapacidade de suportar temperaturas elevadas. O gene para a displasia ectodérmica anidrótica está localizado no braço longo do cromossomo X, na região Xq12-q13.1. A distrofia muscular Duchenne é uma miopatia progressiva que resulta em degeneração progressiva e fraqueza muscular. A maioria dos meninos afetados tem de usar cadeira de rodas, em torno dos 11 anos, devido à grave fraqueza muscular proximal nos membros inferiores. Nas mulheres, a data de início e a gravidade da doença dependem do grau de inativação do cromossomo X. Outras doenças relacionadas a genes localizados no cromossomo X com herança recessiva: Cegueirapara a cor Genética Humana58 verde e vermelha; Doença de Norrie; Megalocórnea; Retinite pigmenta; Retinosquise; Síndrome do X frágil entre outras. Herança dominante ligada ao sexo A característica é ligada ao sexo (ou ligada ao X) quando não se distribui igualmente nos dois sexos; e não há transmissão direta de homem para homem. A característica é ligada ao sexo e dominante quando existe mais mulheres afetadas do que homens afetados; e os homens afetados têm 100% de suas filhas também afetadas, mas 100% de seus filhos do sexo masculino são normais, já́ as mulheres afetadas podem ter 50% de seus filhos de ambos os sexos também afetados. A herança dominante ligada ao X pode ser confundida com a herança autossômica dominante, ao exame dos descendentes das mulheres afetadas. Ela se distingue, no entanto, pela descendência dos homens afetados, onde todas as filhas são afetadas, mas nenhum dos filhos o é. A distrofia muscular Becker, é um exemplo. Esta doença é causada por uma mutação no gene da distrofina. É clinicamente muito semelhante à distrofia muscular Duchenne, mas seu curso é bem mais suave, pelo fato de que as deleções do gene DMB (Distrofia muscular Becker) alteram a sequência de aminoácidos apenas de parte da proteína. A idade média de início da doença é de 11 anos; muitos pacientes continuam caminhando até́ a idade adulta. A expectativa de vida é um pouco reduzida. Alguns pacientes continuam assintomáticos até́ a quinta ou sexta década de vida. A frequência de afetados é de 1/20.000 nascimentos do sexo masculino; e localização cromossômica é no Xp21.2 Em um tipo de Hidrocefalia ligada ao X, o aqueduto cerebral, (aqueduto de Sylvius ou ducto mesencefálico), não consegue fazer com que a drenagem do líquido cerebrospinal se faça adequadamente. Pode gerar sequelas graves se não for tratada, e, mesmo se o for, pode acarretar deficiência mental e Genética Humana 59 outros comprometimentos neurológicos. O gene responsável por esse tipo de hidrocefalia situa-se no cromossomo X (Xq28). Exemplos de doenças dominantes ligadas ao X Na incontinência pigmentar é também conhecida como síndrome de Bloch-Sulzberger ou incontinência pigmentar tipo II, as meninas afetadas, em geral são heterozigotas e apresentam lesões de pele vesiculares eritematosas inflamatórias, ao nascer. Mais tarde, aparecem as pigmentações semelhantes a “bolo- mármore”. Essa doença é causada por mutações no gene IKBKG, relacionado com o sistema imune e localizado em Xq28. O Raquitismo é o defeito relacionado com a absorção intestinal do cálcio ou com a reabsorção do fósforo, acarretando baixos níveis sanguíneos e altos níveis urinários de fosfato. Os afetados apresentam também metabolismo anormal da 1,25-di- hidroxivitamina D (vitamina D). O gene responsável por essa doença localiza-se no braço curto do cromossomo X (Xp22.2- -p22.1). Além da Amelogênese imperfeita. Tipos especiais de herança monogênica Alelos múltiplos Quando uma característica apresenta mais de dois alelos diferentes para o mesmo lócus, esses alelos são denominados alelos múltiplos. Várias mutações do gene normal produzem alelos diferentes, que podem ser dominantes ou recessivos em relação ao original. Exemplo: no sistema sanguíneo ABO, existem no mínimo, quatro alelos (A1, A2, B e O). Um indivíduo pode possuir qualquer combinação de um mesmo alelo (A1A1, A2A2,BB,OO) ou de dois alelos diferentes (A1A2, A1B, A1O, A2B, A2O). Os alelos múltiplos, assim considerados, referem- se apenas a genes localizados nos autossomos. Genética Humana60 IMPORTANTE Se uma série de alelos for localizada no cromossomo X, a mulher transmitirá um ou outro alelo para um determinado descendente, enquanto o homem terá́ apenas um alelo para transmitir. A síndrome de Rett é uma doença que ocorre quase exclusivamente no sexo feminino e consiste em uma deficiência progressiva no desenvolvimento neurológico. No início da vida, a criança tem desenvolvimento aparentemente normal, porém, entre 6 e 18 meses, ela entra em um período de atraso e estagnação do crescimento. O desenvolvimento do crânio se torna lento, podendo resultar em microcefalia. Em geral, os pacientes sobrevivem até́ a idade adulta, porém cedo sofrem morte súbita inexplicável. A maioria das meninas com síndrome de Rett consiste em casos únicos na família. Alguns pacientes com síndrome de Rett atípica têm mutações em um alelo de outro gene, também localizado no cromossomo X, o CDKL5 (cyclin-dependent kinase-like 5 gene). Codominância Quando ambos os alelos de um par de genes se expressam independentemente no heterozigoto, sendo seus fenótipos perfeitamente distinguíveis, diz-se que esses genes são codominantes. Exemplo: genes A e B do sistema sanguíneo ABO; no heterozigoto AB, há produção de ambos os antígenos, A e B. Herança mitocondrial É a herança de distúrbios codificados por genes contidos no DNA mitocondrial (mtDNA). Uma doença causada por Genética Humana 61 mutação no mtDNA é herdada exclusivamente da mãe. Assim, apenas as mulheres podem transmitir as doenças mitocondriais, passando as mutações para toda a sua prole de ambos os sexos. Contudo, essa transmissão não parece ser tão simples, pois a expressão de alguns genes mitocondriais depende da interação com genes nucleares, cujo mecanismo ainda não está totalmente esclarecido. As doenças mitocondriais caracterizam-se mais frequentemente por miopatias e encefalopatias, problemas dos músculos e do encéfalo, respectivamente. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a herança monogênica é o tipo de herança determinada por um único gene; e pode ser autossômica ou ligada ao sexo, dominante ou recessiva. O genótipo é a constituição genética de um indivíduo, e fenótipo é a manifestação externa de seu genótipo. O estudo da herança de uma característica é feito pela análise de genealogias ou heredogramas, um método abreviado e simples de representação dos dados de uma família. A herança autossômica pode ser dominante ou recessiva. Quando o gene se localiza nos cromossomos sexuais a característica é dita ligada ao X ou ligada ao sexo, uma vez que o cromossomo X carrega muitos genes e o Y carrega principalmente, aqueles responsáveis pelo sexo masculino e as características sexuais secundárias masculinas. A herança ligada ao sexo, ou ao X, também pode ser dominante ou recessiva. E a herança é denominada holândrica para os genes situados no cromossomo Y. Genética Humana62 REFERÊNCIAS BEIGUELMAN, Bernardo. Genética de Populações Humanas. Ribeirão Preto: SBG, 2008. 235p. Disponível em: https://bit. ly/363YROv. Acesso em: 20 out. 2020. HARTL DL, Clark AG. Princípios de genética de populações. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2010. LODISH, H. et al. Biologia celular e molecular. 7. ed. - Dados eletrônicos. - Porto Alegre: Artmed, 2014. MOORHEAD, P. S., NOWELL, P.C., MELLINAN, W. J., BATTIPS, D. M. e HUNGERFORD, D.A (1960). Chromosome preparations of leukocytes cultured from human peripheral blood. Exp. Cell Res. 20: 613-616. PIERCE, B. A. Genética: um enfoque conceitual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. ISBN: 978-1-4641-0946-1. STRACHAN, T.; Read, A. Genética Molecular Humana. 4aEd. Porto Alegre: Artmed Editora LTDA. 2013. SNUSTAD, D. Peter; Simmons, M. J. Fundamentos de genética. 6. ed.-Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. https://bit.ly/363YROv https://bit.ly/363YROv 9 UNIDADE 03 Genética Humana LIVRO DIDÁTICO DIGITAL SUMÁRIO Transcrição e processamento de RNA ...............................12 Tipos de RNA ................................................................... 12 Transcrição e Processamento do RNA ............................... 15 Transcrito Primário ........................................................... 18 Processamentode RNA ..................................................... 20 Splicing do RNA ................................................... 21 Caps de 7-metilguanosina ...................................... 25 Poliadenilação 3’ .................................................... 25 Tradução e Código Genético ..............................................27 Introdução: Proteínas ........................................................ 27 Padrões Estruturais fundamentais ...................................... 29 Organização Estrutural das Proteínas ................................ 30 Código genético ............................................................... 32 RNA transportador ............................................................ 33 RNA Ribossomal .............................................................. 34 Síntese de Proteína ............................................................ 35 Processamento pós-traducional ......................................... 37 Regulação da expressão gênica em eucariotos ..................41 Conceitos gerais ................................................................ 41 Regulação da Expressão Gênica em Eucariotos................. 42 Regulação do remodelamento da cromatina ............ 43 Regulação da transcrição ........................................ 44 Promotores ................................................... 45 Fatores de Transcrição ................................. 45 Regulação pós-transcricional da expressão gênica .......................................................... 48 Regulação da tradução ...................................................... 52 Erros Inatos do Metabolismo .............................................55 Conceitos gerais ................................................................ 55 Classificação ..................................................................... 57 Manifestações clínicas e tratamento .................................. 58 Mutações ........................................................................... 60 Base molecular das mutações ............................................ 65 Mutações espontâneas ............................................ 65 Mutações induzidas ................................................ 67 Substâncias químicas ................................... 67 Agentes mutagênicos físicos ........................ 68 Reparo do DNA ................................................................ 68 Genética Humana10 Você sabia que as formas e os comportamentos característicos de diferentes tipos celulares resultam de diferentes padrões de expressão do mesmo genoma? A síntese de RNA é dividida em três estágios: iniciação, alongamento e término. Transcrição é a síntese de um transcrito de RNA complementar a um filamento de DNA de um gene. A iniciação da transcrição por RNA polimerase II requer a assistência de vários fatores de transcrição basais. Aliado a esses fatores de transcrição existem sequências reguladoras denominadas acentuadores e silenciadores que modulam a eficiência da iniciação. A expressão gênica é regulada tanto em nível transcricional como em nível traducional. A maioria dos genes eucarióticos é segmentada em sequências codificadoras (éxons), e sequências não codificadoras (íntrons). A maioria dos genes codificadores de polipeptídios usando splicing alternativo podem gerar múltiplos polipeptídios. Tradução é a conversão das informações armazenadas na sequência de nucleotídeos do transcrito para sequência de aminoácidos da proteína. O processo de tradução é dividido em iniciação, alongamento e término das cadeias polipeptídicas e é controlado pelas especificações do código genético. Os Erros Inatos do Metabolismo são clássicos distúrbios genéticos, tornando-se importante conhecê-los para um bom aconselhamento familiar que inclua, principalmente, o prognóstico do paciente e o risco de recorrência da doença. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Genética Humana 11 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: OBJETIVOS Explicar o processo transcrição e processamento de RNA. Identificar o processo de tradução e o Código Genético. Identificar os princípios da regulação da expressão gênica em eucariotos. Identificar os Erros Inato do Metabolismo. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! 1 2 3 4 Genética Humana12 Transcrição e processamento de RNA OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender as diferentes fases dos processos de transcrição, processamento do RNA e tradução celular. Além disso, aprenderemos sobre os princípios da regulação gênica e erros inatos do metabolismo. Estudos fundamentais da disciplina Genética Humana. Aqui, os alunos poderão ter uma visão dos processos essenciais para sobrevivência dos organismos. E então? Motivado para desenvolver este desafio? Então vamos lá. Avante. Tipos de RNA As formas e os comportamentos característicos de diferentes tipos celulares resultam de diferentes padrões de expressão do mesmo conjunto de genes. A expressão é regulada tanto em nível transcricional como em nível traducional. Estudos em larga escala de transcritos humanos têm demonstrado um reflexo direto da expressão gênica. O dogma central da biologia tinha o princípio de que as informações contidas no DNA seriam transcritas em moléculas de mRNA (RNA mensagem) e traduzidas em proteína. Porém mais recentemente, sabemos que além das classes moléculas de rRNA (RNA ribossômico) e tRNA (RNA transportador), também temos vários outros RNA não codificantes (nRNA). Os RNA transportadores (tRNA) identificam o aminoácido (códons no mRNA) e os transportam até o maquinário de tradução. Os RNA ribossômicos (rRNA) formam o maquinário da tradução, responsáveis pela síntese protéica. Os snRNA (RNA nucleares Genética Humana 13 pequenos) estão envolvidos no processamento dos pré-mRNA fazendo partes dos spliceossomos, responsáveis pela retirada íntrons dos pré-mRNA no núcleo. Um grupo de nRNA agem na regulação da expressão genética, tais como o miRNA (micro RNA), siRNA (RNA de interferência pequeno) e o aRNA (RNA antisentido). Os micro-RNA (miRNA) maduro possui comprimento de 20 a 22 nucleotídeos (ação da enzima DICER), que se liga ao mRNA alvo, impedindo a tradução, degradação do mRNA alvo. O silenciamento por siRNA (RNA de interferência) acontece pela ligação dos pequenos RNAs de fita dupla (dsRNAs) a sequência de mRNA-alvo, levando a clivagem ou repressão traducional. O sistema CRISPR é formado por pequenos fragmentos de RNA, capazes de reconhecer a molécula de DNA e realizar modificações genéticas precisas e específicas nas cadeias de DNA ou gerar rearranjos genômicos. CRISPR RNAs são encontrados nos procariotos, onde atuam na defesa contra DNA estranho e vêm sendo estudado no campo da medicina. SAIBA MAIS Os cinco tipos de RNA: tRNA, rRNA, snRNA siRNA e miRNA, ao contrário dos mRNA, não geram polipeptídios (não são traduzidas). Genética Humana14 Figura 1: RNA Fonte: @pixabay. EXPLICANDO DIFERENTE+++ Dicer é uma enzima nuclease que cliva moléculas de RNA dupla fita (dsRNA) formando precursores como os miRNAs e de siRNAs, dois tipos de pequenas moléculas de RNA envolvidas em mecanismos de RNA de interferência (RNAi). Quando o pareamento entre a fita guia e o mRNA envolve diversas bases, o mRNA será degradado pela ação catalítica de uma das subunidades de RISC: a enzima Argonauta. A enzima Dicer corta RNA de dupla fita, de modo a formar siRNA ou miRNA. Estes RNAs processados são incorporados no complexo RISC, o qual tem como alvo moléculas de RNA mensageiro, onde atuam impedindo o processo de tradução. https://pixabay.com/pt/illustrations/dna-biologia-ci%C3%AAncia-dna-h%C3%A9lice-163710/ https://pt.wikipedia.org/wiki/Enzimahttps://pt.wikipedia.org/wiki/Nuclease https://pt.wikipedia.org/wiki/Mol%C3%A9cula https://pt.wikipedia.org/wiki/RNA https://pt.wikipedia.org/wiki/MiRNA https://pt.wikipedia.org/wiki/SiRNA https://pt.wikipedia.org/wiki/Rna_de_interfer%C3%AAncia https://pt.wikipedia.org/wiki/Cat%C3%A1lise_enzim%C3%A1tica https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Argonauta_(Biologia)&action=edit&redlink=1 Genética Humana 15 SAIBA MAIS Para saber mais acesse o artigo Interferência por RNA: uma nova alternativa para terapia nas doenças reumáticas, disponível em: https://bit.ly/2sBLir9. Transcrição e Processamento do RNA A síntese de RNA ocorre por um mecanismo semelhante ao da síntese de DNA. As RNA polimerases ligam-se a sequências nucleotídicas específicas, regiões promotoras. E, com a ajuda de proteínas denominadas fatores de transcrição, iniciam a síntese de moléculas de RNA nos sítios de início da transcrição perto dos promotores. Os humanos possuem três RNA-polimerases nucleares e uma quarta, usada nas mitocôndrias. As RNA-polimerases nucleares têm funções distintas e usam diferentes tipos de promotores: a polimerase I (pol I) transcreve especificamente os genes de RNA ribossomal, exceto rRNA 5S; a polimerase II (pol II) transcreve todos os genes codificadores de proteínas e muito dos genes que codificam RNAs funcionais, incluindo o snoRNAs (pequeno RNA nucleolar), que modificam o RNA ribossômico e os microRNAs que regulam a tradução; e a polimerase III (pol III) é utilizada para transcrever os genes do tRNA e o RNA ribossomal 5S, junto com alguns outros pequenos RNAs. https://bit.ly/2sBLir9 Genética Humana16 Figura 2: RNA ribossômicos e fatores de transcrição Fonte: @pixabay. PASSO A PASSO A síntese de RNA ocorre em uma região específica, reconhecida por fatores de transcrição. Ao contrário das DNA- polimerases, as RNA-polimerases não necessitam de um primer (molde) para começar a polimerização. Nesta localização os filamentos da dupla hélice se separam, e apenas um filamento serve de molde para a síntese do RNA. A sequência nucleotídica da molécula de RNA é complementar à do filamento-molde de DNA, mas a uracila substitui a timina. A região promotora possui uma sequência de DNA característica para que a RNA- polimerase II reconheça e se ligue e para o início da transcrição. À medida que a enzima se move ao longo do DNA, alonga-se a fita de RNA, desenrolando a dupla-hélice de DNA, expondo um novo segmento da fita-molde, com o qual pareiam os nucleotídeos da fita de RNA em crescimento. A finalização consiste no reconhecimento do sítio (sequência de nucleotídeo característico), a partir do qual, nenhuma base mais é adicionada à fita de RNA. Após a última base ser adicionada, tanto a RNA- polimerase II quanto a fita de RNA são liberadas, formando o RNA heterogêneo nuclear (hnRNA) ou pré-mRNA no núcleo. https://pixabay.com/pt/illustrations/dna-string-biologia-3d-1811955/ Genética Humana 17 O pré-mRNA para sair do núcleo sofre processamento pós- transcricional. A iniciação da transcrição por RNA polimerase II requer a assistência de vários fatores de transcrição basais, que necessitam interagir com promotores na sequência correta para iniciar a transcrição eficaz. Cada fator de transcrição basal é designado TFllX (do inglês, Transcription Factor X for RNA polymerase II/fator de transcrição X para RNA polimerase II), em que X é uma letra que identifica o fator individual. TFIID é o primeiro fator de transcrição basal a interagir com o promotor contém uma proteína de ligação a uma região sequência específica no promotor chamada a TATA (TBP). SAIBA MAIS Existem sequências importantes na região promotora, para o reconhecimento do complexo proteico dar início a transcrição. No início da região promotora (posição +1) localiza-se a região mais próximo do sítio de início da transcrição, a sequência consenso TATAAAA (leitura na direção 5’ 3’ no filamento não molde), na posição -30. A sequência CAAT se encontra na posição -80, sequência de consenso GGCCAATCT. Dois outros elementos conservados são: sequência GC (consenso GGGCGG) e a sequência de octâmeros (consenso ATTTGCAT), envolvidos na eficiência de um promotor na iniciação da transcrição. Acentuador (enhancer) é um conjunto de elementos curtos, ativos em cis, que podem aumentar a atividade transcricional de um gene eucariótico específico. Um silenciador apresenta propriedades similares ao acentuador, mas em vez de aumentar, inibe a atividade transcricional de um gene específico. Genética Humana18 DICA Os pares de bases que precedem o sítio de iniciação recebem prefixos negativos (-), aqueles que sucedem o sítio de iniciação (em relação à direção de transcrição) recebem prefixos positivos (+). As sequências nucleotídicas que antecedem o sítio de iniciação são denominadas sequências da região 5’; as que se encontram após o sítio de iniciação são sequências da região 3’. Os promotores reconhecidos pela RNA polimerase II são constituídos de elementos conservados curtos na região 5’ em relação ao ponto de partida da transcrição Como já comentamos, o papel dos diferentes miRNAs está associada na regulação da expressão de muitos genes. Além disso, para poucas dúzias de genes humanos, a regulação expressão depende da origem parental devido ao imprinting genômico. DICA O imprinting genômico é um processo epigenético por meio do qual alelos em um loco carregam uma impressão da sua origem parental que governa o processo de expressão. Transcrito Primário O RNA heterogêneo nuclear (hnRNA) é formado por regiões codificadoras que são transcritas e traduzidas (éxons) e Genética Humana 19 regiões não codificadoras que são transcritas, mas que não são traduzidas (íntrons), por isso ele é muito mais longo do que a informação que codifica. Os íntrons são segmentos de hnRNA eliminados ainda no núcleo, como parte do processamento do RNA mensageiro. SAIBA MAIS A maioria dos genes que codificam proteínas provavelmente surgiu como sequências interrompidas e, certamente, a organização de éxons e íntrons foi importante nos primórdios evolutivos dos genes, supondo-se que as sequências de íntrons tenham propiciado o surgimento de novas e úteis proteínas. O número de íntrons é altamente variável, mas nem todos os genes os possuem, como, por exemplo, os genes que codificam as histonas. Os íntrons podem ser classificados em diversos grupos, de acordo com os mecanismos de encadeamento (excisão/clivagem dos íntrons e rearranjo dos íntrons): do grupo I (auto excisão - transcrito primário dos RNAs ribossômicos); grupo II (auto excisão - transcritos primários dos mRNA e tRNA produzidos nas mitocôndrias); grupo III (transcrito primário do mRNA proveniente do núcleo). Os mRNA (grupo III) são maiores do que os RNAs dos outros grupos, mais abundantes, e sua remoção necessita de um mecanismo muito mais complexo para remoção dos íntrons e reorganização dos éxons. Em células humanas um conjunto de aproximadamente 250 genes sintetizam rRNA 5S utilizando a RNA-polimerase III, a qual também transcreve algumas outras espécies de pequenos RNAs. Os rRNAs 28S, 18S e 5,8S são codificados por genes Genética Humana20 consecutivos em uma unidade transcricional única de 13 kb que é transcrita pela RNA-polimerase I. Os transcritos de RNA são recobertos por proteínas de ligação ao RNA durante ou imediatamente após a síntese. Essas proteínas protegem os transcritos gênicos contra a degradação por ribonucleases, enzimas que degradam moléculas de RNA, durante o processamento e o transporte até o citoplasma. A meia-vida média de um transcrito gênico em eucariotos é de aproximadamente cinco horas. Processamento de RNA Os transcritos de RNA da maioria dos genes eucarióticos são submetidos a uma série de reações de processamento para produzir um mRNA maduro ou um RNA não codificante, antes de serem transportados até o citoplasma. A transcrição de um gene produz inicialmenteum transcrito primário de RNA que é complementar ao comprimento total do gene, incluindo tanto íntrons como éxons. Por exemplo, o gene do colágeno tem 37.000 pares de nucleotídeos, mas dá origem a uma molécula de mRNA com apenas 4.600 nucleotídeos. A distrofia muscular de Duchenne (DMD) possui herança recessiva ligada ao cromossoma X, acomete meninos e afeta os músculos estriados e o miocárdio. O gene distrofina é o maior gene humano identificado, contendo 79 éxons, pelo menos sete promotores diferentes tecidos específicos e dois locais de poliadenilação. Ainda o RNA da distrofina é diferencialmente processado, produzindo múltiplos transcritos que codificam um conjunto de isoformas da proteína. A maioria das mutações identificadas são deleções em aproximadamente 60-65% dos casos de DMD, duplicações têm sido observadas em 5%-15% e os casos remanescentes podem ser causados por pequenas mutações tais como microdeleções, microinserções, mutação de ponto, ou mutações de splicing. Genética Humana 21 SAIBA MAIS Para saber mais sobre o assunto leia o artigo Estudo Clínico e Molecular na Distrofia Muscular de Duchenne. Fonte: Disponível em: https://bit.ly/2PAI3JB. Acesso em: 22 out.2020. No caso do rRNA, além da sequência de reações de clivagem, o transcrito primário também sofre uma variedade de modificações bases-específicas. Este extenso processamento de RNA é conduzido por vários pequenos RNAs nucleolares distintos, os quais são codificados por cerca de 200 genes diferentes no genoma humano. As moléculas maduras de tRNA também sofrem extensas modificações nas bases, e cerca de 10% das bases de qualquer tRNA são versões modificadas de A, C, G ou U. Splicing do RNA O comprimento dos íntrons varia muito, cerca de 50 a milhares de pares de nucleotídeos de comprimento que são excisadas (clivados) durante o processamento do RNA, na fase pós-trasncricional no núcleo. Essa excisação é realizada pelo processo denominado, splicing. O splicing se caracteriza por uma série de reações, por meio das quais os segmentos intrônicos são removidos e descartados, enquanto os segmentos de éxons remanescentes são encadeados (unidos) em uma única sequência de RNA. https://bit.ly/2PAI3JB Genética Humana22 IMPORTANTE A possibilidade de recomposição alternativa do transcrito levou à sugestão de que os íntrons podem participar da regulação da expressão gênica. DICA O splicing ocorre dentro de uma grande estrutura chamada de spliceossomo, uma das maiores e mais complexa entre as estruturas moleculares. O spliceossomo é composto por cinco moléculas de RNA e quase 300 proteínas. Os componentes do RNA são pequenos RNA nucleares, variando de 107 a 210 nucleotídeos de comprimento; esses snRNAs se associam a proteínas para formar pequenas partículas de ribonucleoproteínas nucleares (snRNPs). Cada snRNP contém uma única molécula de snRNA e múltiplas proteínas. O spliceossomo é composto por cinco snRNPs (U1, U2, U4, U5 e U6) e algumas proteínas não associadas a um snRNA. Genética Humana 23 Figura 3: Esquema do processo de splicing Fonte: @commons. PASSO A PASSO O processo de splicing do RNA consiste em uma série de reações, por meio das quais os segmentos intrônicos são excisados, enquanto os segmentos de éxons remanescentes são unidos em uma única sequência de RNA. Para realização dos splicing, nos eucariotos superiores, os íntrons apresentam pequenas sequências de nucleotídeos iguais ou muito semelhantes, situadas nas suas extremidades ou próximas a eles, conhecidas como pequenas sequências de consenso, que atuam como sinal para a sua remoção. As extremidades dos íntrons consistem em um sítio de splicing 5’ (sequência doadora), formado pelo dinucleotídeo GU (também representado por GT, no DNA) e um sítio de splicing 3’ (ou sequência aceptora), formado pelo dinucleotídeo AG. A presença constante desses nucleotídeos nas duas primeiras posições (GU no RNA, GT no DNA) e nas duas últimas (AG em ambos) dos íntrons dos genes nucleares é denominada regra GU- AG (regra GT-AG). Portanto, essas sequências de consenso dos https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Splicesome.pdf?uselang=pt-br Genética Humana24 íntrons são reconhecidas por proteínas especificas que formam um complexo molecular, denominado spliciossomo. Uma vez que o spliceossomo reconhece um sítio doador, ele percorre a sequência de RNA até encontrar o próximo sítio aceptor de splicing. Levando à clivagem e à liberação de um RNA intrônico em forma de laço. Um tipo de processamento que leva a diferentes produtos gênicos é o splicing alternativa, no qual o mesmo pré-mRNA pode ser unido em mais de uma maneira para gerar múltiplos mRNAs. Neste caso é preciso o uso de sítios de clivagem 3′ múltiplos, no qual dois ou mais sítios potenciais para clivagem e poliadenilação são encontrados no pré-mRNA. O uso de um sítio de clivagem alternativo pode ou não produzir proteína diferente, isso vai depender se a posição desse sítio estiver antes ou após o códon de término. SAIBA MAIS Mutações em sítios de splincing podem causar fenótipos mutantes, responsáveis por doenças hereditárias em seres humanos, como hemoglobinopatias. Cada gene estrutural da globina humana possui três éxons (sequências que codificam a globina) e duas sequências não codificadoras denominadas íntrons, que são transcritos nas células eritroides. Mutações nas regiões de “splicing” e em outras regiões não traduzidas acarretam fenótipos talassêmicos por ação de novos sítios com diminuição ou adição de segmentos extras, além de provocar a instabilidade do mRNA processado. Genética Humana 25 Caps de 7-metilguanosina Em eucariotos, a população de transcritos primários em um núcleo é denominada RNA nuclear heterogêneo (hnRNA), devido a, grande variação nos tamanhos das moléculas de RNA presentes. As principais partes desses hnRNA são sequências de íntrons não codificadores, que são excisadas dos transcritos primários e degradadas no núcleo; constituindo, as moléculas de pré-mRNA, submetidas a várias etapas de processamento antes de sair do núcleo. Os transcritos também são recobertos por proteínas de ligação ao RNA durante ou imediatamente após a síntese. Essas proteínas os protegem contra a degradação por ribonucleases, enzimas que degradam moléculas de RNA, durante o processamento e o transporte até o citoplasma. A meia- vida média de um transcrito gênico em eucariotos é de aproximadamente cinco horas. O Caps de 7-metilguanosina são acrescentados às extremidades 5’ dos transcritos primários. O cap 5’ apresenta as funções de proteger o transcrito do ataque de exonucleases 5’ → 3’ (evitando a degradação das moléculas de); facilitar o transporte dos mRNAs do núcleo para o citoplasma; facilitar o encadeamento (união) do RNA; facilitar a ligação da subunidade 40S dos ribossomos citoplasmáticos ao mRNA durante a tradução. Poliadenilação 3’ Caudas poli(A) são acrescentadas às extremidades 3’ dos transcritos, gerados por clivagem e não por término da extensão da cadeia. A cauda poli(A) 3’ é uma extensão de poliadenosina com 20 a 200 nucleotídeos de comprimento; este processo é denominado poliadenilação. A sequência AAUAAA (às vezes AUUAAA) sinaliza a clivagem 3’ para a maioria dos transcritos da polimerase II. As caudas poli (A) do pré-RNA eucarióticos promovem estabilidade e têm papel importante em seu transporte do núcleo para o citoplasma, estabilização de pelo menos algumas Genética Humana26 moléculas de mRNA no citoplasma e aumento do reconhecimento do mRNA pela maquinaria ribossômica. E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter compreendido que a síntese de RNA é catalisada pela enzima RNA polimerases, que o processo é semelhante à síntese de DNA em muitos aspectos. A maioria dos genes eucarióticos é segmentadaem sequências codificadoras, chamadas éxons, e sequências não codificadoras, chamadas íntrons. O significado biológico dos íntrons ainda está em discussão. Os transcritos de RNA dos genes eucarióticos são submetidos a uma série de reações de processamento para produzir um mRNA maduro, antes de serem transportados até o citoplasma. Parte dos transcritos são traduzidos em proteína ou produzem RNA não codificante. Genética Humana 27 Tradução e Código Genético OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender o processo pelo qual as informações genéticas armazenadas nas sequências do mRNA resultam em sequências de aminoácidos formando os polipeptídicos. O código genético é constituído de trinucleotídeos. Aprenderá que as moléculas de RNA transportador atuam como adaptadores, mediando a interação entre aminoácidos e os trinucleotídeos (códons) no mRNA no processo de tradução. Este processo é dividido em iniciação, alogamento e término das cadeias polipeptídicas. A enorme diversidade funcional das proteínas é resultado, em parte, de suas estruturas tridimensionais complexas e dos processamentos pós-traducional. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Introdução: Proteínas Tradução é o processo pelo qual, as informações genéticas armazenadas em “trincas” de nucleotídeos no mRNA, são usadas para codificar as sequências de aminoácidos que irão formar as proteínas essenciais para nossa sobrevivência. As proteínas possuem múltiplas funções no organismo humano, entre elas: estruturais (paredes celulares, membranas nucleares, conteúdo citoplasmático e organelas); enzimas (catálise de reações biológicas, com extraordinária especificidade); atividades metabólicas celulares (controlando toda a fisiologia do organismo), anticorpos (papel importante nas infecções e nos transplantes) e hormônios (proteínas formadas em órgãos Genética Humana28 específicos e transportadas pelo sangue para outras regiões do organismo, com a finalidade de regular o seu funcionamento normal). Uma célula pode traduzir grandes quantidades de uma determinada proteína, apenas com uma ou mais cópias de um gene. Uma célula do sistema imunológico humano, por exemplo, pode produzir duas mil moléculas de anticorpo idênticas por segundo. Além disso, um mRNA pode ser traduzido por vários ribossomos simultaneamente, cada um em um ponto diferente ao longo da mensagem, resultando em polipeptídios de diferentes comprimentos. DICA Cada polipeptídio possui uma longa sequência de aminoácidos unidos por ligações covalentes. Os aminoácidos diferem entre si pelos grupos laterais (designados R, de Radical). A grande variação de grupos laterais garante a diversidade estrutural das proteínas. Os aminoácidos possuem a composição química básica, em que –COOH é um grupo ácido carboxílico e –NH2 é o grupo amino, básico. A diferença entre um aminoácido e outro está no radical (R) que se liga a esses grupos. Dois aminoácidos se unem por meio de ligações peptídicas, formadas pela reação de um grupo amino de um aminoácido, com o grupo carboxila do aminoácido seguinte. Essas cadeias laterais são de quatro tipos: grupos hidrofóbicos ou apolares; grupos hidrofílicos ou polares; grupos ácidos ou de carga elétrica negativa; e grupos básicos ou de carga elétrica positiva. A diversidade química dos grupos laterais dos Genética Humana 29 aminoácidos é responsável pela enorme versatilidade estrutural e funcional das proteínas. DICA Todos os aminoácidos, exceto a prolina, contêm um grupo amino livre e um grupo carboxila livre. As proteínas podem ser compostas por um ou mais polipeptídios, cada um dos quais pode ser submetido a modificações pós-traducionais. Interações entre a proteína e diferentes fatores podem alterar substancialmente a conformação da proteína: um cofator, como um cátion bivalente (Ca2+, Fe2+, Cu2+ ou Zn2+) ou uma pequena molécula que é requerida para uma atividade enzimática funcional (como NAD+); ou um ligante (molécula que a proteína ligue especificamente). Padrões Estruturais fundamentais Os fatores de transcrição são proteínas que contém pelo menos dois domínios funcionais: um de ligação com o DNA e outro de ligação com a RNA polimerase. Essas proteínas controlam, quando, onde e como os genes serão transcritos, sendo a base para o controle da expressão gênica. Domínios de proteínas são unidades estruturais, funcionais, evolutivas e estão envolvidos em interações proteína-proteína. Formam estruturas autônomas separadas do restante da proteína e capazes de interagir especificamente com o DNA-alvo. Relativamente pequenos (60-90 resíduos), projetam-se na superfície das proteínas, conectadas ao restante da proteína por regiões flexíveis. Genética Humana30 O Domínio Hélice-volta-hélice está presente em muitas proteínas ligadores de DNA. Apresentam-se como “dímeros” de forma a reconhecer a sequência palindrômica no DNA e forma um eixo de simetria com DNA. As super-hélices ocorrem em muitas proteínas fibrosas, como o colágeno da matriz extracelular, a proteína muscular tropomiosina, a α-queratina no cabelo e o fibrinogênio nos coágulos sanguíneos. As folhas β-pregueadas ocorrem geralmente, em conjunto com α-hélices, no centro da maioria das proteínas globulares. O dedo de Zinco possui homeodomínios. IMPORTANTE Outra estrutura importante de uma proteína é a ponte dissulfeto. Elas podem se formar entre os átomos de enxofre de um grupo sulfidrila (-SH) em dois aminoácidos que podem residir em uma mesma cadeia polipeptídica ou em cadeias polipeptídicas distintas. Organização Estrutural das Proteínas A estrutura primária de um polipeptídio é sua sequência de aminoácidos, especificada pela sequência nucleotídica de um gene. Em alguns casos, os produtos primários da tradução contêm sequências curtas de aminoácidos, chamadas inteínas, que se auto excisam dos polipeptídios nascentes. A estrutura secundária é produzida por dobramentos da sequência primária, devido a ligações químicas entre aminoácidos muito próximos entre si, criando sítios ativos ou aspecto estrutural. Essa estrutura confere organização espacial ao esqueleto polipeptídico, dando funcionalidade à molécula. Genética Humana 31 A estrutura terciária de um polipeptídio é seu dobramento global no espaço tridimensional. A estrutura terciária de uma proteína é mantida principalmente por muitas ligações não covalentes relativamente fracas. É a organização completa em três dimensões de todos os átomos na cadeia polipeptídica, em decorrência da interação entre os aminoácidos e água circulante, incluindo os grupos laterais, bem como o esqueleto polipeptídico. E a estrutura quaternária diz respeito à associação de dois ou mais polipeptídios em uma proteína multimérica. Essa estrutura só existe em proteínas com mais de um polipeptídio. É a união de várias estruturas terciárias que assumem formas espaciais bem definidas. Existem quatro tipos diferentes de interações não covalentes: (1) ligações iônicas, (2) ligações de hidrogênio, (3) interações hidrofóbicas e (4) interações de van der Waals. As ligações iônicas são forças intensas em algumas condições, mas são interações relativamente fracas no interior aquoso de células vivas porque as moléculas polares de água neutralizam parcialmente ou protegem os grupos eletricamente carregados. As ligações de hidrogênio são interações fracas entre átomos eletronegativos (que têm carga negativa parcial) e átomos de hidrogênio (eletropositivos) que estão ligados a outros átomos eletronegativos. As interações hidrofóbicas são associações de grupos apolares entre si quando presentes em soluções aquosas em razão da sua insolubilidade em água. As interações de van der Waals são atrações fracas entre átomos muito próximos. Todas as informações necessárias para determinação do formato de uma proteína, geralmente, estão na estrutura primária da proteína. Em alguns casos, o dobramentoda proteína envolve interações com proteínas denominadas, chaperonas. As chaperonas que ajudam os polipeptídios nascentes a formar a estrutura tridimensional apropriada. Genética Humana32 Código genético O código genético descreve a relação entre a sequência de bases nitrogenadas do mRNA e a sequência de aminoácidos na cadeia polipeptídica correspondente. O código genético é uma “trinca de nucleotídeos”, sabemos que há quatro bases possíveis para ocupar cada uma das três posições em um códon. Portanto, 43=64 códons possíveis, o que permite a formação de 20 aminoácidos comumente encontrados nos polipeptídios. Assim, o número possível de diferentes polipeptídios é grande, uma vez que, o número de diferentes sequências de aminoácidos possíveis em um polipeptídio que contém 100 aminoácidos é de 20100. Em meados da década de 1960, o código genético foi desvendado em sua maior parte e apresenta as seguintes características: 1. O código genético é constituído de trinucleotídeos. Três nucleotídeos no mRNA especificam um aminoácido no produto polipeptídico; 2. O código genético é degenerado porque, em média, cada aminoácido é especificado por cerca de três códons diferentes. Alguns aminoácidos (como leucina, serina e arginina) chegam a ser especificados por até seis códons, enquanto outros são menos representados. A degeneração do código genético geralmente envolve a terceira base do códon (base wobble); 3. É considerado não ambíguo, isto é, uma trinca só́ pode codificar um aminoácido. Por exemplo, o aminoácido fenilalanina pode ser codificado por dois códons diferentes: UUU e UUC; 4. É um código sem superposição, ou seja, uma dada base pertence a uma só́ trinca ou códon; 5. É, também, contínuo não existindo espaçamento entre os códons; Genética Humana 33 6. O código genético é quase universal. Com poucas exceções, os códons têm o mesmo significado em todos os organismos vivos, desde vírus até os seres humanos; 7. Existem códons de iniciação e de finalização ou terminação. Tanto em procariotos quanto em eucariotos, o códon AUG é usado para iniciar cadeias polipeptídicas, correspondendo ao aminoácido metionina. Três códons, UAG, UAA e UGA, especificam o término da cadeia polipeptídica. Os eucariotos têm um fator de liberação único que reconhece os três códons de término. Nas mitocôndrias de mamíferos existem quatro possibilidades (UAA, UAG, AGA e AGG). RNA transportador A tradução da mensagem codificada por um mRNA na sequência de aminoácidos de um polipeptídio requer outro tipo de moléculas de RNA, o RNA transportador (tRNA). O RNA transportador (tRNA), contêm uma sequência de trinucleotídeos, o anticódon, que é complementar à sequência do códon no mRNA e emparelha suas bases com a sequência de códon durante a tradução. Há de um a quatro tRNA, para cada um dos 20 aminoácidos. Os aminoácidos unem-se aos tRNA por ligações de alta energia (muito reativas) (simbolizadas por ~) entre os grupos carboxila dos aminoácidos e as terminações 3’-hidroxila dos tRNA. Há pelo menos uma aminoacil-tRNA sintetase para cada um dos 20 aminoácidos. Os tRNA são transcritos na forma de moléculas precursoras maiores que passam por processamento pós-transcrição. As moléculas de tRNA maduras contêm vários nucleosídios que não estão presentes nos transcritos primários dos genes de tRNA. Esses nucleosídios incomuns, como inosina, pseudouridina, di- hidrouridina, 1-metilguanosina e vários outros, são produzidos por modificações, catalisadas por enzima, dos quatro nucleosídios incorporados ao RNA durante a transcrição. Genética Humana34 Figura 4: Configuração em folha de trevo do tRNA destaque códon e anticódon Fonte: @commons. O número de vezes que qualquer mRNA pode ser traduzido é uma função da afinidade de seu sítio de iniciação pelos ribossomos e de sua estabilidade (o mRNA de bactérias tem meia-vida de alguns minutos, o mRNA de eucariotos geralmente é estável por várias horas e até́ dias). RNA Ribossomal Um ribossomo funcional apresenta duas subunidades, uma subunidade ribossômica maior e uma subunidade ribossômica menor. A subunidade 60S contém três tipos de moléculas de rRNA: rRNA 28S, rRNA 5,8 e rRNA 5S, bem como cerca de 50 proteínas ribossomais. A subunidade 40S contém o rRNA 18S e mais de 30 proteínas ribossomais. Os ribossomos fornecem a maquinaria necessária para a síntese polipeptídica. Os RNAs que compõem esse complexo são predominantemente responsáveis pela função catalítica dos ribossomos. A subunidade menor do ribossomo liga-se ao mRNA, enquanto a subunidade maior https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Codon-Anticodon_pairing.svg?uselang=pt-br Genética Humana 35 apresenta dois sítios para a ligação de aminoacil-tRNAs, referidos como sítio P (peptidil) e sítio A (aminoacil). DICA Os genes de rRNA 5, rRNA 8S, rRNA 18S, rRNA 28S de eucariotos estão presentes em arranjos consecutivos nas regiões organizadoras nucleolares dos cromossomos. Os seres humanos têm cinco pares de organizadores nucleolares nos braços curtos dos cromossomos 13, 14, 15, 21 e 22. Os genes de rRNA 5S em eucariotos não estão localizados nas regiões organizadoras nucleolares, mas distribuídos em vários cromossomos. O processamento de rRNA e a montagem do ribossomo nos eucariotos ocorrem no nucléolo. Após a iniciação da tradução de um mRNA por um ribossomo, e sua movimentação ao longo do mRNA, outros ribossomos podem se ligar ao mesmo mRNA. Assim, as estruturas polirribossômicas (polissomos) resultantes, representam múltiplas cópias de um polipeptídio a partir da mesma molécula de mRNA. Síntese de Proteína A síntese proteica se dá́ em duas fases: transcrição e tradução. O mRNA produzido pelos genes no núcleo após processado é transferido para o citoplasma, onde se liga aos ribossomos e a outros componentes para iniciar a tradução e a síntese polipeptídica. O RNA mensageiro transcrito a partir de genes das mitocôndrias e cloroplastos é traduzido em ribossomos específicos dentro dessas organelas. Genética Humana36 Os ribossomos são grandes complexos RNA-proteína, compostos por duas subunidades. Nos eucariotos, ribossomos citoplasmáticos têm uma grande subunidade 60S e uma menor subunidade 40S. O processo de tradução, do qual participam muitos componentes celulares: mRNA, tRNA, ribossomos (rRNA + proteínas), aminoácidos, moléculas de armazenamento de energia (ATP) e vários fatores proteicos. PASSO A PASSO Na iniciação da tradução o cap 5’ do mRNA é reconhecido por certas proteínas-chave que se ligam à subunidade menor do ribossomo, que percorre a extremidade 5’ UTR do mRNA na direção 5 → 3’a fim de encontrar um códon de iniciação compatível (AUG-metionina). Cada códon especifica um aminoácido, e o processo de decodificação utiliza diferentes moléculas de tRNA contendo o anticódon. Os tRNAs transportam os aminoácidos ativados até́ o complexo de iniciação (ao qual se liga a grande subunidade do ribossomo). O tRNA que transporta o segundo aminoácido forma pontes de hidrogênio entre seu anticódon e o segundo códon do mRNA. A seguir, os dois primeiros aminoácidos estabelecem ligações peptídicas entre eles, com o auxílio de uma ribozima. A parte do ribossomo que mantém juntos o mRNA e o tRNA tem dois sítios: o sítio P (de peptidil) mantém a cadeia polipeptídica crescente e o sítio A (de aminoacil) mantém o próximo aminoácido a ser adicionado à cadeia. A tradução continua até́ que a mensagem seja lida por inteiro, e o término da síntese se dá́ quando é encontrado um dos códons finalizadores (UAG, UAA ou UGA) no mRNA. O polipeptídio completo irá então sofrer um processamento que pode incluir clivagem e modificação das cadeias laterais. Genética Humana 37 IMPORTANTE A cadeia polipeptídica possui variadas funções. Se um códon de finalização surgir no meio de uma molécula de mRNA em virtude de uma mutação, a cadeia polipeptídica será́ terminada prematuramente. DICA Em eucariotos, a sequência 5’ACCAUGG3’(sequência de Kozak), se encontrada em volta do códon de início transcrição AUG no mRNA; servindo de sinalizador para os tRNA na transcrição. Processamento pós-traducional Os produtos primários da tradução podem sofrer uma variedade de modificações durante ou após a tradução. Grupos químicos simples ou complexos são frequentemente adicionados por ligação covalente às cadeias laterais de certos aminoácidos. Além disso, polipeptídios podem ser clivados para gerar um ou mais produtos polipeptídicos. Genética Humana38 Tabela 1: Principais tipos de modificações dos polipeptídios Tipo de modificação (grupo adicionado) Aminoácido (s) alvo Notas Fosforilação (PO4-) Tyr, Ser, Thr Realizada por cinases específicas; pode ser revertida por fosfatases Metilação (CH3) Lys Realizada por metilases; revertida por demetilases Hidroxilação (OH) Pro, Lys, Asp Hidroxiprolina (Hyp) e hidroxilisina (Hyl) são particularmente comuns no colágeno Acetilação (CH3) Lys Realizada por uma acetilase; revertida por uma desacetilase Carboxilação (COOH) Glu Realizada por uma γ-carboxilase N-glicosilação (carboidratos complexos) Asna Ocorre inicialmente no retículo endoplasmático, com modificações posteriores sendo realizadas no Complexo de Golgi O-glicosilação (carboidratos complexos) Ser, Thr, Hylb Ocorre no Complexo de Golgi; menos comum que a N-glicosilação Glicosilfosfatidilinositol (glicolipídeo) Asp c Serve para ancorar proteínas à camada externa da membrana plasmática Miristoilação (ácido graxo C14) Ser, Thr, Hyl b Serve como âncora à membrana Genética Humana 39 Palmitoilação (ácido graxo C16) Gly d Serve como âncora à membrana Farnesilação (grupo prenil C15) Cys e Serve como âncora à membrana Geranilgeranilação (grupo prenil C20) Cys c Serve como âncora à membrana aIsso é especialmente comum quando asparagina (Asn) está presente na sequência Asn-X-(Ser/Thr), em que X é um aminoácido diferente de Pro. bHidroxilisina. cNa extremidade C-terminal do polipeptídeo. dNa extremidade N-terminal do polipeptídeo. euma ligação S-palmitoil. Fonte: Strachan, T. (2013). Algumas proteínas, sobretudo aquelas de membrana, são modificadas pela adição de grupos lipídicos acil ou prenil. Estes grupos adicionados servem como âncoras de membrana, sequências hidrofóbicas de aminoácidos que mantêm a proteína recém-sintetizada embebida na membrana plasmática ou na membrana do retículo endoplasmático. Clivagens maiores são observadas na maturação do mRNA de proteínas plasmáticas, hormônios polipeptídicos, neuropeptídeos e fatores de crescimento. Sequências sinalizadoras de clivagem são frequentemente utilizadas para marcar proteínas tanto para a exportação como para o transporte para uma localização intracelular específica. Genética Humana40 Uma molécula de mRNA pode às vezes especificar mais de um polipeptídeo funcional, como resultado de clivagens pós- traducionais de um precursor polipeptídico grande. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que após uma série de etapas de maturação, o mRNA migra para o citoplasma, onde é traduzido. Diferentemente do DNA, as moléculas de RNA são normalmente fitas simples. A síntese de polipeptídios ocorre nos ribossomos, tanto no citoplasma como no interior de mitocôndrias. A informação sequencial codificada no RNA é decodificada nos ribossomos por meio de um código genético em trincas, determinando a estrutura básica do polipeptídio. Os produtos primários da tradução podem sofrer uma variedade de modificações durante ou após a tradução; resultando em proteínas com ampla diversidade estrutural e funcional. Genética Humana 41 Regulação da expressão gênica em eucariotos OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender que a regulação da expressão gênica eucariótica pode ocorrer na transcrição, no processamento ou na tradução. Durante a ativação da transcrição, a cromatina é remodelada por complexos multiproteicos. Os genes eucarióticos têm diversos tipos de sequências reguladoras, como os promotores, silenciadores e reforçadores, que consistem em sítios de ligação para proteínas conhecidas como fatores de transcrição, que se ligam ao DNA e podem ter efeitos variados sobre a transcrição, aumentando, diminuindo ou modulando o seu nível. A regulação pós- traducional também pode interferir na expressão gênica. Então vamos lá. Avante! Conceitos gerais Entre os eucariotos, organismos multicelulares, as células com o mesmo genoma se expressam de formas diferentes conforme o tipo celular, momento de desenvolvimento, ambiente; tornando ainda mais complexa a regulação gênica. Dependendo da situação, o mesmo gene poderia ter perfil de expressão exatamente oposto. Ou seja, a regulação gênica vem como um dos principais fatores responsáveis pela complexidade fisiológica dos indivíduos. A separação espacial dos processos da expressão gênica torna possível a regulação em diferentes locais. A regulação pode ocorrer no núcleo, em nível de DNA ou RNA, ou no citoplasma, Genética Humana42 em nível de RNA ou polipeptídio. No início do desenvolvimento embrionário, a diferenciação está controlada por fatores de origem materna, onde os próprios genes do embrião começam a se tornar ativos no estágio de quatro células, embora os embriões continuem a usar o mRNA de origem materna por bom período de tempo. DICA Os genes estão acuradamente regulados para se tornarem ativos no momento específico em que um dado produto gênico é necessário. As necessidades regulatórias dos organismos superiores podem ser divididas em dois tipos: (a) regulação com efeitos de longo prazo, que envolve a diferenciação morfológica e funcional permanente; (b) regulação com efeitos de curto prazo, que resulta em respostas imediatas, porém transitórias, a um dado estímulo. Regulação da Expressão Gênica em Eucariotos As células eucarióticas pode ser regulada de diferentes modos: (1) o alto conteúdo de DNA associado com as histonas e outras proteínas, formando estruturas compactas de cromatina (modificadas durante a expressão gênica, no interior do núcleo); (2) antes de serem transportados para o citoplasma, os mRNAs são processados (cada um desses processos pode ser regulado de modo a influir na quantidade e nos tipos de mRNAs disponíveis para a tradução); (3) depois da transcrição, o transporte dos mRNAs para o citoplasma também pode ser regulado para Genética Humana 43 modular a disponibilidade desses RNAs à tradução; (4) os mRNAs têm meias-vidas variáveis; (5) as taxas de tradução podem ser moduladas, bem como o processamento, as modificações e a degradação das proteínas. Regulação do remodelamento da cromatina Como já vimos em unidades posteriores, o DNA eucariótico, combina-se com histonas e outras proteínas, formando a cromatina, que constitui os cromossomos. O maior grau de compactação da cromatina pode inibir o reparo, a replicação e a transcrição do DNA. A conformação da cromatina controla a expressão gênica, tanto em curto prazo, de modo que as células respondam a condições metabólicas e ambientais flutuantes, como em longo prazo, como programas de desenvolvimento estendidos. A remodelagem da cromatina pode ocorrer de diferentes maneiras, por meio de: �Alteração da composição ou do posicionamento dos nucleossomos, facilitando a transcrição gênica; �Modificações das histonas, relaxando sua associação com o DNA; �Metilação do DNA, isto é, adição de grupamentos metila às suas bases (com mais frequência à citosina), reprimindo a transcrição mediante inibição da ligação dos fatores de transcrição ao DNA. Existe uma relação inversa entre o grau de metilação e o grau de expressão gênica, ou seja, os genes que são transcritos ativamente estão desmetiladosou com baixo nível de metilação. Mudanças duradouras na conformação são a base dos efeitos epigenéticos, ou seja, mudanças na expressão gênica que não dependem de mudanças na sequência de DNA. Para alguns genes, efeitos epigenéticos dependem da origem parental, Genética Humana44 processo chamado de imprinting genético. A transcrição necessita uma conformação da cromatina aberta, enquanto a heterocromatina possui uma conformação fechada e altamente empacotada e reprime a expressão gênica. Pequenas moléculas não codificantes de RNA estão envolvidas no estabelecimento da heterocromatina estável. SAIBA MAIS Histonas em nucleossomos estão sujeitas a muitas modificações diferentes que afetam resíduos de aminoácidos específicos nas caudas. Modificações comuns incluem a acetilação e mono- metilação, dimetilação ou trimetilação de lisinas e fosforilação de serinas. As diversas proteínas não histônicas na cromatina incluem enzimas que adicionam ou removem grupos modificados para ou a partir de histonas de DNA. Eles são, portanto, ligados diferencialmente a cromatina, dependendo de sua conformação e estado de modificação. Regulação da transcrição Os genes eucarióticos têm diversos tipos de sequências reguladoras, como os promotores, silenciadores e reforçadores (enhancers). A atividade de transcrição também pode ser regulada por fatores de transcrição especiais, os fatores de transcrição basais e a RNA polimerase. Genética Humana 45 Promotores Os promotores são sequências de DNA que funcionam como sítios de reconhecimento para a maquinaria da transcrição, com localização adjacente aos genes por eles regulados. As sequências reguladoras localizadas no promotor são consideradas de atuação cis, quando afetam apenas a expressão do gene adjacente, e de atuação trans, quando atuam sobre genes distantes, geralmente sobre ambas as cópias de um gene em cada cromossomo. Os reforçadores (também chamados acentuadores ou enhancers) são sequências de DNA situadas a uma distância variável dos genes estruturais, que aumentam o nível da transcrição de genes que lhes estão próximos ou distantes, e interagem com os promotores. Uma vez que os reforçadores se situam a distâncias dos promotores, existe um mecanismo de dobramento ou inversão do DNA, que permite a interação simultânea de vários elementos reguladores, pela formação de uma ou mais alças ou laços complexos do DNA. A maioria dos acentuadores é específica para o tecido. Os silenciadores são sequências curtas de DNA, também de atuação cis, que reprimem o nível da transcrição. Frequentemente agem de modo tecido-específico ou cromossomo-específico para controlar a expressão gênica. Um repressor pode se ligar a sítios próximos de um sítio ativador e evitar que o ativador entre em contato com o aparato basal de transcrição. Um terceiro mecanismo possível de ação do repressor é a interferência direta com a montagem do aparato basal de transcrição, bloqueando o início da transcrição. Fatores de Transcrição A transcrição dos genes é um processo altamente regulado, permitindo que o organismo faça a regulação dos efeitos de longo ou curto prazo. A transcrição é um nível importante de controle nas células eucarióticas, e esse controle demanda alguns Genética Humana46 tipos diferentes de proteínas e elementos regulatórios. E muitas dessas proteínas parecem ter no mínimo dois domínios químicos importantes: um domínio de ligação ao DNA e um domínio de ativação da transcrição. Os fatores de transcrição são proteínas que se ligam ao DNA e facilitam ou reprimem a síntese de RNA, a primeira etapa no processo de transferência de informação do genótipo para o fenótipo. Cada fator de transcrição pode afetar a expressão de múltiplos genes, então uma pequena mudança genética que afete a expressão de um único fator de transcrição pode influenciar muitos genes adicionais, tornando tanto mais difícil ou mais fácil a união da RNA polimerase ao promotor do gene. A ativação da transcrição parece implicar interações físicas entre as proteínas. Muitos fatores de transcrição eucarióticos têm motivos estruturais característicos que resultam de associações entre aminoácidos dentro de suas cadeias polipeptídicas (dedo de zinco, hélice-volta-hélice, zíper de leucina e hélice-alça-hélice). Os fatores de transcrição com motivos de dimerização como o zíper de leucina ou a hélice-alça-hélice poderiam, em princípio, combinar-se a polipeptídios semelhantes a eles mesmos para formar homodímeros ou a polipeptídios diferentes para formar heterodímeros. Essa segunda possibilidade sugere um modo de alcançar padrões complexos de expressão gênica. Portanto, seria possível obter modulações sutis da expressão gênica por variação em relação aos motivos. A liberação da RNA-polimerase pode ocorrer de diferentes formas. Em alguns casos, o ativador traz consigo um complexo de remodelagem da cromatina que remove um bloqueio nucleossômico à RNA-polimerase em processo de alongamento da transcrição. Em outros casos, o ativador se comunica com a RNA-polimerase (através de um coativador). Por fim, a RNA- polimerase requer fatores de alongamento para efetivamente transcrever através da cromatina. Genética Humana 47 O controle da transcrição nos eucariotos no seu início é regulado por fatores que afetam mudanças na estrutura da cromatina, fatores de transcrição e proteínas regulatórias de transcrição. E ainda pesquisas indicam que a transcrição também pode ser controlada por fatores que afetam a parada e o alongamento da RNA polimerase após o início da transcrição. O aparato basal de transcrição composto por RNA polimerase, fatores de transcrição e outras proteínas se monta no promotor central. Quando ocorre o início da transcrição, a RNA polimerase se move downstream, transcrevendo o gene estrutural e produzindo um RNA. Genes expressos de forma coordenada nas células eucarióticas são capazes de responder ao mesmo estímulo porque têm sequências regulatórias pequenas em comum com seus promotores ou acentuadores. Por exemplo, diferentes genes eucarióticos para choque término apresentam um elemento regulatório comum upstream dos seus sítios de início. Essas sequências regulatórias de DNA são chamadas de elementos de resposta, ou seja, sítios de ligação para os ativadores da transcrição. A transcrição dos genes hsp70 em resposta ao aumento da temperatura é mediada por um fator de transcrição do choque térmico. A transcrição de genes eucarióticos também é controlada por diversos fatores de transcrição especiais, como os que participam da regulação dos genes induzíveis por calor e hormônios. Esses fatores ligam-se a elementos de resposta ou, de modo mais geral, as sequências denominadas acentuadores adjacentes a um gene. Hormônios esteroides e suas proteínas receptoras formam complexos que atuam como fatores de transcrição para regular a expressão de genes específicos. Hormônios peptídicos interagem com proteínas receptoras ligadas à membrana e ativam um sistema sinalizador que regula a expressão de genes específicos. Exemplos: insulina regula os níveis sanguíneos de glicose; somatotropina é um hormônio do crescimento; e prolactina atua no tecido mamário das fêmeas. Genética Humana48 Nos hormônios esteroides como o estrogênio, o complexo hormônio/receptor liga-se aos elementos de resposta hormonal (HRE) e, então, estimula a transcrição. Regulação pós-transcricional da expressão gênica Nos eucariotos, a transcrição acontece no núcleo e os pré-mRNAs são processados antes de se deslocarem para o citoplasma para tradução, criando oportunidades para controle gênico após a transcrição. Portanto, apesar da maior parte da regulação de genes eucarióticos ocorrer na transcrição, pesquisas recentes mostram que os mecanismos pós-transcricionais também têm papéis importantes na regulação da expressão de genes eucarióticos. Transcritos primários são muitas vezes sujeitos a splicing alternativo.O splicing alternativo possibilita que um pré-mRNA possa se organizar de diferentes maneiras, gerando diferentes proteínas em diferentes tecidos ou em distintos períodos do desenvolvimento. Os éxons podem ser saltados ou incluídos, ou sítios doadores e receptores variáveis podem ser utilizados. Muitos genes eucarióticos sofrem a recomposição alternativa, e a regulação da recomposição é um meio importante do controle da expressão gênica nas células eucarióticas. O splicing é controlado por reforçadores e supressores que ligam proteínas como as SR (proteína reguladora de splicing) e hnRNP. O splicing alternativo é geralmente tecido específico. Genética Humana 49 SAIBA MAIS A quantidade de mRNA disponível depende tanto da taxa de síntese de mRNA, quanto da taxa de degradação do mRNA. O RNA celular é degradado por ribonucleases, enzimas que degradam especificamente o RNA. A maioria das células eucarióticas tem 10 ou mais tipos de ribonucleases, e existem diferentes vias de degradação do mRNA. Para proteger essas molecular, proteínas ligadoras poli(A) se ligam normalmente à cauda poli(A) e contribuem para seu efeito acentuador da estabilidade mRNA. A existência dessas proteínas na extremidade 3′ do mRNA protege o cap 5′. Quando a cauda poli(A) é encurtada abaixo de um limite crítico, o cap 5′ é removido, e as nucleases degradam o mRNA ao remover os nucleotídeos a partir da extremidade 5′. Essas observações sugerem que o cap 5′ e a cauda poli(A) do mRNA eucariótico interajam fisicamente um com outro, o mais provável é que a cauda poli(A) se dobre sobre si mesma de forma que os PABPs (regulate mRNA fate by controlling stability) entrem em contato com o cap 5′. Parte da degradação do RNA ocorre em complexos especializados chamados corpúsculos P. Genética Humana50 Figura 5: Vários DNAs Fonte: Disponível em: @freepik. Outras partes do mRNA eucariótico, incluindo as sequências na região 5′ não traduzida (5′ UTR), a região codificadora e a 3′ UTR, também afetam a estabilidade do mRNA. Os mRNAs eucarióticos de vida curta têm uma ou mais cópias de uma sequência consenso composta por 5′-AUUUAUAA-3′, chamada de elemento rico em AU, na 3′ UTR. Os mRNAs contendo os elementos ricos em AU são degradados por um mecanismo no qual os microRNAs participam. Ainda existe o controle por meio de RNA não codificantes. O fenômeno da interferência por RNA, conta com a participação de pequenas moléculas de RNA conhecidas como RNA de interferência curtos (siRNA) ou microRNA (miRNA). Essas moléculas, com 21 a 28 pares de bases, são produzidas a partir de moléculas maiores de RNA bifilamentar, pela ação enzimática Genética Humana 51 de proteínas (endonucleases específicas para RNA bifilamentar). Essas endonucleases “dividem” um grande RNA em pedaços pequenos e são denominadas enzimas DICER. PASSO A PASSO Os miRNAs regulam os genes que inibem a tradução dos seus mRNAs complementares. No citoplasma, siRNA (RNA de interferência curto) e miRNA (Micro RNA) são incorporados a partículas de ribonucleoproteínas. O siRNA ou miRNA bifilamentar nessas partículas são desenrolados, e um de seus filamentos é eliminado. Então, o filamento simples de RNA remanescente é capaz de interagir com moléculas específicas de mRNA. Essa interação é mediada por pareamento de bases entre o filamento simples de RNA no complexo RNA-proteína e uma sequência complementar na molécula de mRNA alvo. Os RNA associados a RISC que ocasionam a clivagem do mRNA alvo são denominados siRNA. Quando o pareamento do RNA no RISC com sua sequência-alvo é imperfeito, o mRNA não é clivado e a tradução do mRNA é inibida; esse efeito são devido a asssociação microRNA. Esses complexos rompem o RNA, inibem a tradução, afetam a degradação do RNA e silenciam a transcrição. Em outras situações outros siRNAs silenciam a transcrição ao alterar a estrutura da cromatina. Esses siRNAs se combinam com proteínas para formar um complexo chamado RITS (silenciamento transcricional do RNA) que é análogo ao RISC. O componente siRNA do RITS se liga a essa sequência complementar no DNA ou uma molécula de RNA no processo de ser transcrito e reprime a transcrição ao atrair enzimas que metilam as caudas das proteínas histona. A adição dos grupos metila às histonas faz com que elas se liguem ao DNA mais firmemente, restringindo o acesso das proteínas e enzimas necessárias para fazer a transcrição. Alguns miRNAs, também se ligam a sequências complementares no DNA e atraem enzimas que metilam o DNA, o que leva à supressão da transcrição. Genética Humana52 Alguns dos RNA que induzem RNA de interferência são derivados da transcrição de outros elementos no genoma, como transpósons e transgenes, e são derivados de vírus de RNA. IMPORTANTE Os RISC de diferentes organismos têm tamanhos e composições diferentes. Todos, porém, contêm pelo menos uma molécula da família de proteínas, denominada de Argonauta. A função dessas proteínas não é totalmente compreendida. Os mecanismos de RNA de interferência se conservaram em todos os eucariotos, inclusive os humanos, nos quais constituem um mecanismo de defesa natural contra infecções virais, podendo vir a contribuir para a terapia gênica no futuro. Regulação da tradução O ponto final da expressão gênica é a presença ou a atividade do produto proteico do gene. Em alguns casos, a tradução de um mRNA pode ser regulada pelo grau de demanda da proteína pela célula. A tradução pode ser regulada por intermédio dos níveis intracelulares de proteínas, o que é conhecido como autorregulação (regulação autógena). Um de seus exemplos mais conhecidos é o das tubulinas α e β, componentes das subunidades dos microtúbulos em eucariotos, que inibem a tradução do mRNA da tubulina. A síntese das tubulinas é estimulada nas baixas concentrações de subunidades livres e inibida nas altas concentrações. Outro exemplo desse tipo de regulação pós- traducional é o controle da tradução do mRNA dos receptores de ferritina e de transferrina. Para o funcionamento de muitas Genética Humana 53 enzimas celulares são necessários átomos de ferro solúvel, mas o excesso de ferro é tóxico para as células. No interior da célula, o ferro está ligado a uma proteína chamada transferrina. Outros casos de regulação da tradução podem envolver modificações posteriores nas proteínas, incluindo clivagem e ligação covalente a carboidratos e lipídeos, que são importantes para a função e a localização correta das proteínas no interior da célula. Além disso, a regulação da função proteica, como a da atividade enzimática, exerce um papel essencial no controle do comportamento celular. Em geral, o nível das proteínas reguladoras pode ser modificado por diferentes fatores: (a) velocidade da transcrição do gene em RNA; (b) processamento do RNA; (c) transporte do mRNA do núcleo para o citoplasma; (d) velocidade da tradução do mRNA em cadeia polipeptídica; (e) velocidade de degradação do mRNA; (f) processamento pós-traducional do polipeptídio; e (g) velocidade de degradação da proteína. Os ribossomos, aminoacil tRNAs, fatores de iniciação e fatores de alongamento são necessários para a tradução das moléculas de mRNA. A disponibilidade desses componentes afeta a taxa de tradução e, portanto, influencia a expressão gênica. Por exemplo, a ativação dos linfócitos T (células T) é decisiva para o desenvolvimento das respostas imunológicas a vírus. Os linfócitos T estão normalmente no estágio G0 do ciclo celular e não estão se dividindo ativamente. Ao serem expostos a antígenos virais, então, os linfócitos T específicos são ativados e sofrem rápida proliferação. Também existem mecanismos para a regulação da tradução de mRNAs específicos. O início da tradução em alguns mRNAs é regulado por proteínas que se ligam à 5′ UTR dos mRNAs e inibem a ligação dos ribossomos, semelhante à maneira na qual as proteínas repressoras se ligam aos operadores e impedem a transcrição dos genes estruturais.A tradução de alguns mRNAs é afetada pela ligação de proteínas a sequências na 3′ UTR. Genética Humana54 Todos esses mecanismos de controle correspondem a situações especificas. Entretanto, talvez o método de controle mais econômico e mais difundido nos eucariotos, seja o de controlar a produção da proteína no nível da transcrição do gene. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a síntese proteica ocorre em duas fases: transcrição e tradução. A tradução consiste na transmissão da informação genética do mRNA para polipeptídio, sendo mais complexa nos eucariotos. A regulação da expressão gênica nos eucariotos pode ocorrer em diferentes etapas: da cromatina (interferência na estabilidade das histonas) aos produtos proteicos (regulação autógena entre outros). Os genes eucarióticos têm diversos tipos de sequências reguladoras, como os promotores, silenciadores e reforçadores, que interagem nos sítios de ligação para o complexo de ligação dos fatores de transcrição. Estes se ligam ao DNA e junto com a RNA polimerase, podem ter efeitos variados sobre a transcrição, aumentando, diminuindo ou modulando o nível da expressão gênica. O início da tradução é afetado pelas proteínas que se ligam a sequências específicas na extremidade 5′ do mRNA. A disponibilidade de ribossomos, tRNAs, fatores de iniciação e de alongamento e de outros componentes do aparato de tradução, influencia a taxa de tradução. Genética Humana 55 Erros Inatos do Metabolismo OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender que os erros inatos do metabolismo são distúrbios de natureza genética que geralmente correspondem a um defeito enzimático capaz de acarretar a interrupção de uma via metabólica. Que as mutações na sequência dos nucleotídeos do material genético de um organismo e podem levar a rotas metabólicas alteradas. Múltiplos sistemas de reparo do DNA desenvolveram-se para preservar a integridade das informações genéticas nos seres vivos. E os distúrbios humanos hereditários causados por defeitos na via de reparo do DNA são relatados, mostrando a importância desse processo para saúde humana. Então vamos lá. Avante! Conceitos gerais A partir de 1900, quando as leis de Mendel foram redescobertas, diversas características com herança mendeliana foram identificadas em diversos organismos. Em 1909, o médico e bioquímico britânico, Archibald Garrod publicou um livro intitulado “In born Errors of Metabolism” (Erros Inatos do Metabolismo), no qual descrevia além da alcaptonúria, outras doenças metabólicas como o albinismo, porfiria e pentosúria. Genética Humana56 EXPLICANDO DIFERENTE+++ Os aspectos genéticos da doença alcaptonuria que foi uma das primeiras alterações para a qual a herança mendeliana recessiva foi proposta, os sintomas mais visíveis era a cor da urina, que se tornava escura quando exposta ao ar. Foi sugerido se tratar de um erro no metabolismo, pela disfunção de uma via bioquímica. Promovendo, alguma falha de síntese, degradação, armazenamento ou transporte de moléculas no organismo. Embora essa condição fosse rara na população, era frequente entre filhos de pais consanguíneos, sendo assim explicada pelas leis de Mendel. Essa foi a primeira conexão entre genes e seu efeito fisiológico. SAIBA MAIS Para saber mais sobre este assunto acessa a Base de dados OMIM (Online Mendelian Inheritance in Man). Fonte: Disponível em: https://bit.ly/2sJR3TK. Acesso em: 22 out.2020. Esses erros do metabolismo são considerados a causa das Doenças Metabólicas Hereditárias (DMH). Na maior parte das vezes, essas condições são decorrentes de mutações herdadas, que segregam na família por gerações. Eventualmente podem ocorrer novas mutações em células germinativas. Um exemplo, em recém-nascidos, é a incidência de fenilcetonúria, um distúrbio do metabolismo dos aminoácidos, é de apenas 1 em 10.000. No entanto, os genes mutantes em células somáticas https://bit.ly/2sJR3TK Genética Humana 57 contribuem para enfermidades humanas mais prevalentes, como cardiopatia e câncer. Esse grupo de doenças representa cerca de 10% de todas as doenças genéticas. E ainda hoje, são tidos por muitos profissionais como casos extremamente raros de se deparar durante a prática clínica sendo, muitas vezes, a última hipótese diagnóstica. Contudo atualmente, os hospitais possuem profissionais conhecidos como conselheiros genéticos, especializados em orientar as pessoas, acerca dos riscos de herdar ou transmitir doenças genéticas. A incidência isolada de cada uma das doenças metabólicas é pequena, até porque trata-se de doenças que, em geral, têm herança autossômica recessiva. No Brasil, estima-se a prevalência isolada de algumas doenças, como da Doença da Urina de Xarope de Bordo com prevalência de 1:43000 e da Deficiência de Biotinidase com 1:125000 recém nascidos vivos. A situação sobre o conhecimento DMH transformou-se a partir das últimas décadas com o desenvolvimento de novas técnicas laboratoriais, como a cromatografia e eletroforese de proteínas. Além disso, a tecnologia do DNA possibilitou a detecção das causas moleculares dos erros inatos. Classificação Tratando-se de alterações metabólicas bastante distintas, os Erros Inatos do Metabolismo (EIM) possuem diversas classificações. Entre elas: Categoria 1 que, engloba as alterações que afetam um único sistema orgânico ou apenas um órgão, como o sistema imunológico e os fatores de coagulação ou túbulos renais e eritrócitos; e a Categoria 2, que abrange um grupo de doenças cujo defeito bioquímico compromete uma via metabólica comum a diversos órgãos, como as doenças lisossomais, ou restrito a um órgão apenas, porém com manifestações humorais e sistêmicas, como a hiperamonemia nos defeitos do ciclo da ureia. Devido a grande variabilidade de alterações da Categoria 2, as doenças metabólicas hereditárias que a compõem são divididas em três Genética Humana58 diferentes grupos conforme suas características fisiopatológicas e fenótipo clínico: �Grupo I: Distúrbios de síntese ou catabolismo de moléculas complexas. Os distúrbios do grupo I apresentam sintomas permanentes que tendem a acentuar com o passar do tempo, como facies grosseira, dismorfias, visceromegalias, neurodegeneração, entre outros, respeitando a localização do acúmulo; �Grupo II: Erros inatos do metabolismo intermediário que culminam em intoxicação aguda ou crônica. As manifestações levam, de maneira geral, à intoxicação aguda e recorrente ou crônica e progressiva; �Grupo III: Deficiência na produção ou utilização de energia. Manifestam-se, comumente, através de hipoglicemia, hipotonia generalizada, miopatia, insuficiência cardíaca, retardo de crescimento e até morte súbita, entre outros sintomas. Exemplos desse grupo são as glicogenoses, hiperlacticemias congênitas, doenças mitocondriais da cadeia respiratória e defeitos na oxidação de ácidos graxos. Entre os distúrbios de síntese ou catabolismo de moléculas complexas estão as doenças lisossomiais, que são as mucopolissacaridoses e as esfingolipidoses, assim como as doenças peroxissomiais. Manifestações clínicas e tratamento O diagnóstico clínico correto das DMH é dificultado pelo enorme número de doenças de grande complexidade, pela variedade de sintomas clínicos, além de serem consideradas, extremamente, raras pela maioria dos profissionais e avaliam a história da doença e um bom exame físico contribui, imensamente, para um diagnóstico preciso através da identificação de sinais característicos de cada grupo de erros inatos do metabolismo. Portanto, pode-se conduzir de forma mais precisa a realização Genética Humana 59 de exames laboratoriais confirmatórios; tratamento precoce, a fase de desenvolvimento; e aconselhamento genético. Existem algunscritérios e sinais que podem ajudar a diagnosticar Doença Metabólica Hereditária: �Hipotonia, hipoglicemia, irritabilidade, acidose, distúrbio hidroeletrolítico, entre outros; �Crianças que, em associação aos citados acima, apresentem odores peculiares ou dismorfias; � Perda de habilidades adquiridas anteriormente; �História de recorrência familiar ou consanguinidade entre os pais. A fenilcetonúria, por exemplo, tratada com dieta pobre em fenilalanina é importante mesmo na vida adulta no que se refere aos benefícios sobre as funções neuropsicológicas do paciente e, também, à saúde fetal durante a gravidez de mulheres com hiperfenilalaninemia. A manutenção da dieta pela mãe diminui a incidência no feto de retardo mental, microcefalia, defeitos congênitos do coração e retardo de crescimento intrauterino. O diagnóstico rápido é essencial para impedir o agravamento e a irreversibilidade dos sintomas, podendo até salvar a vida do paciente em alguns casos. Poder juntar dados clínicos com o resultado de testes indiretos (como a dosagem sanguínea de substância acumulada, identificação de metabólitos na urina e visualização de estruturas anormais em materiais de biópsia) é uma saída para o início de um tratamento eficaz. Os procedimentos de análise incluem a coleta de material para análise laboratorial; o tratamento do desequilíbrio metabólico a exemplo da desidratação, acidose, hipoglicemia e distúrbio eletrolítico; a remoção de metabólitos tóxicos seja por transfusão sanguínea ou estimulando a excreção; a suspensão da ingesta de proteínas e carboidratos por cerca de 24 horas, mantendo nutrição parenteral, e, quando possível, a Genética Humana60 suplementação com cofatores que podem aumentar a atividade da enzima residual. Com a manifestação aguda controlada, segue-se para o controle permanente. Este pode relacionar-se diretamente com a dieta. O tratamento através da dieta, comumente, está direcionado para a redução de substrato acumulado, para a suplementação de um produto, para a estimulação do bloqueio metabólico com cofatores ou precursores enzimáticos, ou ainda para a desintoxicação por metabólitos. Outros procedimentos são utilizados em doenças específicas com relativo sucesso, como o transplante de medula óssea para alguns tipos de mucopolissacaridoses, atenuando os sintomas de forma significativa. A terapia de reposição enzimática já vem se tornando realidade eficaz para algumas doenças de depósito lisossômico, como a doença de Gaucher, a doença de Fabry e a mucopolissacaridose I, e, somada à terapia gênica, representa grande esperança para que se altere, radicalmente, o prognóstico de muitos pacientes portadores de Doenças Metabólicas Hereditárias. Mutações Durante o ciclo celular, a diversidade genética é gerada por dois mecanismos: a recombinação gênica e a mutação. A recombinação é um processo que ocorre durante a formação dos gametas (Meiose) e tem o papel de “rearranjar” o conjunto gênico de um organismo, gerando novas combinações a partir de um material pré-existente, fornecido pelos conjuntos gênicos dos genitores. Com a mutação, novos sequências nucleotídeos de alelo podem ser gerado e com isso novas versões do material genético pré-existente. Do ponto de vista evolutivo, novas versões alélicas geram novos fenótipos, e, com isso, um novo número de respostas que um organismo possa dar a diferentes estímulos. Por isso as mutações são o motor da evolução. Genética Humana 61 Mutações podem ser causadas por erros de cópia do material durante a divisão celular, por exposição à radiação ultravioleta ou ionizante, mutagênicos químicos, ou vírus. SAIBA MAIS As alterações em nucleotídeos individuais são classificadas em transições, quando envolvem a substituição de uma purina por outra purina, e de uma pirimidina por outra pirimidina. Ou de transversões, quando a troca é de uma purina por uma pirimidina, ou vice-versa. Também podem ocorrer alterações como deleções e adições de nucleotídeos. Purinas (adenina e guanina) e Pirimidinas (timina e citosina). O impacto dessas alterações é variável e classificado de acordo com o efeito na informação para produção da proteína. �As mutações silenciosas consistem em trocas de nucleotídeo, que resultam num códon sinônimo, a proteína resultante possui a mesma sequência de aminoácidos codificados pela sequência original; �Nas mutações sinônimas ou neutras ocorre a substituição por aminoácidos funcionalmente similares, as propriedades da proteína são preservadas; �Na mutação de sentido alterado, o aminoácido é substituído por outro funcionalmente diferente, alterando as propriedades e a funcionalidade da proteína; � A mutação sem sentido resulta na substituição de um códon codificante por um códon de terminação, acarretando o término prematuro da tradução, e a síntese de uma proteína truncada. Genética Humana62 As inserções e as deleções têm um impacto mais amplo; quando o número de nucleotídeos não é múltiplo de três, ocorre a alteração em todos os nucleotídeos subsequentes, deslocando a janela de leitura na transcrição ou/e refletindo na tradução, a partir do ponto em que ocorreu a deleção ou a inserção. Os processos que acarretam as mutações também podem produzir reversão das mutações, restabelecendo assim a sequência original. DICA Mutação regressiva é quando um par de nucleotídeos numa sequência de DNA conserta a sequência original, restaurando o fenótipo original. Outro tipo de alteração consiste na expansão de sequência de nucleotídeos que pode expandir seu número de cópias. A expansão de sequência de trinucleotídeos está associada a algumas doenças hereditárias humanas. Conhece-se hoje mais de uma dezena de doenças neurodegenerativas resultantes da expansão de repetições de CAG sendo as mais comuns: a doença de Huntington (HD); ataxia espinocerebelar do tipo 1, 2, 6, 7 e 12 (SCA1, SCA2, SCA6, SCA7 e SCA12, respectivamente); ataxia espinocerebelar do tipo 3 (SCA3), também conhecida como doença de Machado-Joseph (DMJ); atrofia dentato-rubro- palido-luisiana (DRPLA) e atrofia muscular espino-bulbar (SBMA). Nestas doenças, os indivíduos afetados carregam trechos de CAG anormalmente expandidos e instáveis em regiões exônicas, que codificam trechos expandidos, em geral maiores que 40 poliglutaminas (poliGln) nas proteínas correspondentes. Todas essas doenças seguem uma herança autossômica dominante, exceto SBMA que é ligada ao cromossomo X. Têm várias características em comum, a principal delas é que https://www.infoescola.com/genetica/fenotipo/ Genética Humana 63 todas são degenerativas, nas quais a morte neuronal ocorre progressivamente em diferentes regiões do sistema nervoso central. O impacto das alterações ainda depende da região do DNA que foi modificada, a mutação nas sequencias codificantes tem um impacto diferenciado das mutações que ocorrem em íntrons. Mutações nas regiões promotoras ou próxima a elas exercem influência no controle da expressão gênica. Quando a frequência populacional de uma mutação é muito elevada (≥ 0,01) recebe a classificação de polimorfismo. Em seres humanos, o tipo mais comum de mutação pontual é de C para T. Ou seja, SNP, polimorfismo de nucleotídeo único. DICA A anemia falciforme é causada por uma mutação que causa a substituição do ácido glutâmico pelo ácido valina, provocando uma alteração na forma da proteína. As alterações no formato dos glóbulos vermelhos do sangue os tornam incapazes de transportar oxigênio. As regiões não codificantes apresentam maior variabilidade que as regiões codificantes. Entre as regiões não codificantes destaca-se o DNA de sequencias repetitivas, estas estão dispersas no genoma, como as sequencias denominadas LINES e SINES, e as sequencias com repetições em tandem (VNTR). O DNA satélite compreende sequencias longas de DNA altamente repetitivas (>104 cópias), de 100 a 2.000 pares de bases, que constituem uma fração importante dogenoma dos eucariontes superiores, variando de 25% em algumas espécies até 50% em outras. Os minissatélites são representados por sequência de DNA moderadamente repetitiva de 10 a 100 pares de bases. Os https://www.infoescola.com/doencas/anemia-falciforme/ https://www.infoescola.com/bioquimica/acido-glutamico/ https://www.infoescola.com/sangue/hemacias/ Genética Humana64 microssatélites (STR ou short tandem repeats) compreendem sequencias de DNA moderadamente repetitivas de 2 a 9 pb, altamente polimórficas. A Tabela 2 apresenta a forma como as mutações devem ser descritas cientificamente. Tabela 2: Nomenclatura para descrição das mutações Substituição de aminoácidos Código de uma letra: A=alanina; C=cisteina; D=ácido aspártico; E=ácido glutâmico; F=fenilalanina; G=glicina; H=histidina; I=isoleucina; K=lisina; M=metionina; N=asparagina; P=prolina; Q=glutamina; R=arginina; S=serina; T=treonina; V=valina; W=triptofano; Y=tirosina; X=fim. O código de três letras também é aceito. -R117H ou Arg117His=substitui arginina 117 pela histidina (o códon iniciador metionina é o códon 1). -G542X ou Gly542Stop=glicina 542 substituída pelo códon de terminação. Substituição de nucleotídeo O A do códon de iniciação ATG é +1; a base imediatamente precedente é -1. Não há zero. Número do nucleotídeo seguido pela alteração. Se necessário, usar g ou c para designar sequencias genômicas e de cDNA. Para sequências intrônicas, quando apenas a sequência de cDNA é conhecida, especificar o número do íntron com IVS (do inglês intervening sequence) ou pelo número da posição no éxon mais próxima. - 1162G>A - substitui guanina na posição 1162 pela adenina. - 621+1G>T ou IVS4+1G>T - substitui G por T na primeira base do íntron 4; éxon 4 termina no nt 621 Genética Humana 65 Deleções e inserções Use del para deleções e ins para inserções. Como nos itens anteriores, nas mudanças no DNA, primeiro vem a posição do nucleotídeo ou do intervalo, e nas mudanças em aminoácidos, o símbolo do aminoácido vêm primeiro. -F508del - deleção fenilalanina 508. -6232-6236del ou 6232-6236delATAAG - deleção 5 nucleotídeos (os quais podem ser especificados) começando com nt 6232. -409-410insC - inserção C entre nt 409 e 410 Fonte: (Antonarakis et al., 1998). Base molecular das mutações A acurácia da maquinaria de replicação do DNA e a eficiência do sistema de reparo contribuem decisivamente para evitar doenças genéticas, assim, como a não exposição a agentes mutagênicos. A frequência de mutações está associada ao seu tamanho. E a frequência de mutação é influenciada por diversos fatores em humanos é de 1 mutação/109 nucleotídeos (nt). Mutações espontâneas As alterações químicas que os nucleotídeos sofrem, muitas vezes espontaneamente, são de três formas principais: desaminação de bases, perda de bases e formação de dímeros de pirimidina. 1. A tautomerização é um processo espontâneo e na maioria das vezes reversível, onde os átomos de hidrogênio se movem de sua posição nas bases, gerando pareamentos incorretos; Genética Humana66 IMPORTANTE O efeito da incorporação de bases tautoméricas se reflete na replicação do DNA; uma vez que, as bases purinas e pirimidinas no DNA e RNA podem existir sob formas tautômeros. Essas modificações estão associadas ao envelhecimento e ao câncer. 2. Desaminação hidrolítica é a perda de um grupo amino (-NH2) que certas bases podem sofrer como resultado de reações de hidrólise. As bases que sofrem desaminação são: Guanina, Citosina e Adenina, mas a reação mais comum acorre em Citosinas que resultam em uma Uracila. Essa alteração influencia na ligação complementar entre as bases nitrogenadas.; 3. Depurinação: erro na replicação do DNA formando sítios sem a presença purinas. A perda de uma adenina, por exemplo, faz com que a molécula de DNA fique com uma base timina em uma das cadeias e com ausência da base complementar na outra cadeia (chance de alteração do par de bases). Essas lesões são resultantes de radiação ionizante, radicais livres ou ação de agentes alquilantes que desestabilizam a ligação N-glycosidica, causando mutagênese e carcinogênese; 4. A influência da luz ultravioleta no DNA, provoca fotodimerização, (C-C, C-T ou T-T). O dímero de timina (T-T) é o que se forma com maior frequência. Estes dímeros impedem a ação das polimerases do DNA, impedindo a replicação. Genética Humana 67 IMPORTANTE O tipo mais comum é a perda de bases púricas (taxa de 5 mil perdas por célula/por dia). A perda de uma base púrica (A ou G) é denominada despurinação, enquanto a de uma base pirimídica (C ou T) é denominada despirimidinação. Mutações induzidas Agentes mutagênicos podem ser substâncias químicas (Bases análogos, Alquilantes, intercalantes) ou agente física (radiação, radiação ionizante: raio X, gama). Substâncias químicas 1. Bases análogas que podem substituir purinas e piridiminas na síntese do DNA; tais a 5-bromouracila (5-BrU) (análogo da timina); 2-aminopurina (2-AP) (análogo de purina de guanina e adenina); 2. O ácido nitroso (HNO2) reage com as bases e as transforma. Adenina em hipoxantina (provoca a substituição de um par A-T por um par G-C); guanina em xantina. E citosina em uracila (provocando a substituição de um par G-C por um par A-T); 3. Substâncias intercalantes do DNA, como proflavina, acridinas e brometo de etídeo, causam mutações do tipo deleção ou inserção de bases. Se o agente se intercala-se no lugar da base; quando o DNA duplica o agente é perdido, resultando em uma supressão. 4. Agentes alquilantes, há transferência de grupos metil e etil para os sítios reativos das bases e dos fosfatos (nitrosaminas, Genética Humana68 metil-nitrosoguanidina). A guanina tem maior prevalência (GCAT). Agentes mutagênicos físicos Os agentes mutagênicos de natureza físicas principais são os raios ultravioletas (luz UV) e as radiações ionizantes (dos tipos alfa, beta, gama, raios X, raios cósmicos e feixes de nêutrons). Os agentes ionizantes causam mutações pontuais ou quebras nas ligações fosfodiéster da cadeia do DNA 1. A radiação UV induz a dimerização de bases pirimídicas afetando as camadas de células superficiais, podem ser classificadas como agudas (imediatas) ou crônicas (a longo prazo). Lesão típicas no DNA são dímeros de Ciclobutil. 2. As radiações ionizantes (raios X, raio gamas e raios cósmicos), ao atravessarem os tecidos vivos geram partículas carregadas que se origina de sua interação com a matéria. O tipo de radiação e sua intensidade podem provocar inserções ou deleções pontuais, ou ainda danos mais graves ao DNA. As células em divisão são mais sensíveisà terapêutica de raio X; 3. O calor estimula a quebra das ligações N-glicosídicas; ligação que unem a base ao açúcar aos nucleotídeos, levando a um sítio AP (apúrico ou apirimídico). Reparo do DNA Durante a síntese de DNA, as DNA polimerases confere, consertando a maioria de bases não pareadas (revisão). Os sistemas de reparo costumam ser de alta precisão e classificados em diversos tipos gerais, tais como reparo por excisão de base, reparo de malpareamento e reparo por excisão de nucleotídeo entre outros. Mutações em genes envolvidos no reparo do DNA podem trazer consequências graves para a integridade física molecular Genética Humana 69 do indivíduo. As lesões não reparadas no DNA levam a mutações, bloqueio do aparato de replicação e transcrição, ativação de mecanismo de checagem do ciclo celular e morte da célula. Para o reparo do genoma, todas as alterações na molécula do DNA precisam ser detectadas e reparadas. A própria natureza da molécula de DNA permite que um erro (gap) na sequência seja reparado; usando como molde a fita complementar por meio da DNA polimerose I. Outra enzima importante no processo é a DNA ligase que liga os nucleotídeos após a correção feita pela DNA polimerase I. O DNA quando danificado, pode ser reparado por vários mecanismos, incluindo químicareversa, reparo de excisão, e reparo de quebras de fita dupla. Figura 6: Reparos do DNA Fonte: @freepik. As células podem retirar a base alterada usando a enzima glicosilase, que detecta uma base alterada e a remove do DNA, Genética Humana70 formando o sítio AP (sítio APURINICO, quando faltam as bases A ou G), ou sítio APIRIMIDICO (quando faltam as bases C ou T). Os sítios são reconhecidos por endonuclease AP que age sobre a ligação fosfodiester deixando um primer final, para a DNA polimerase inicia a síntese para substituir o nucleotídeo errado. A resposta ao dano de DNA (DDR, em inglês DNA damage response) é mediada por alterações na atividade proteica através de modificações pós-traducionais (fosforilação, ubiquitinação, sumoilação, poli-ADP-ribosilação, acetilação e metilação). Existem diferentes glicosilases que removem lesões específicas, como bases metiladas. a uracila-DNA glicosilase corrige um problema causado pela instabilidade natural da citosina. A deaminação da citosina ocorre espontaneamente em uma baixa taxa, produzindo uracila. A revisão dos erros pode tem um limite de eficiência. Enzimas de reparo podem ser induzidas pelos danos provocados no DNA. As metiltransferases são induzidas pelo DNA alquilado durante a resposta adaptativa. Quando a forquilha de replicação se depara com um dímero na sequência, ela para e reinicia a síntese em um ponto distante do dímero, produzindo um gap no DNA sera reconhecido por enzima de recombinação- recA, que se ligará nessa região. A proteína RecA promove tanto o reparo por recombinação, como é mediadora da indução (genes SOS). As vias de reparo de DNA são procedimentos usados para preservar a informação genética das células, erros podem levar a vias de morte celular programada (apoptose). A doença conhecida como xeroderma pigmentoso (XP) (lesões graves na pele, inclusive câncer de pele) é resultado de deficiências no sistema de reparo de DNA; devido a formação de dímeros de pirimidinas após exposição às radiações ultravioletas presentes na luz solar. A síndrome de Cockayne e tricotiodistrofia Genética Humana 71 são causados por defeitos de reparo por excisão de nucleotídeo; afetando à transcrição. O câncer colorretal hereditário sem polipose (também conhecido como síndrome de Lynch) é causado por defeitos hereditários na via de reparo no pareamento do DNA. A sequenciamento do genoma Humano vem mostrando que SNP (troca de um único nucleotídes em um segmento do DNA analisado- Polimorfismo de Nucleotídeo Único)) ou o conjunto deles (haplótipos) estão associados com muitas síndromes e tipos de câncer. Discutiremos sobre as tecnologias emergentes da terapia gênica humana na próxima unidade. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. O DNA é a molécula da vida possui nosso código genético com todas as instruções que permitem às células realizar suas funções e se reproduzir, perpetuando, dessa forma, os sistemas biológicos. A replicação é um processo extremamente eficiente. Somente 1 a cada 109 a 1010 nucleotídeos incorporados pela polimerase do DNA ocorre de maneira incorreta e não obedece a princípios da dupla-hélice (atividade revisora). Os erros inatos do metabolismo são distúrbios de natureza genética que geralmente correspondem a um defeito enzimático capaz de acarretar a interrupção de uma via metabólica. Mutações em genes envolvidos no reparo do DNA podem trazer consequências graves para a integridade física molecular do indivíduo. Alguns tipos de câncer também estão associados a defeitos nas vias de reparo do DNA. Genética Humana72 REFERÊNCIAS ALBERTS B, JOHNSON A, LEWIS J, RAFF M, ROBERTS K, WALTER P. Molecular Biology of the Cell. 4th edition, New York: Garland Science, 2002. BEIGUELMAN, Bernardo. Genética de Populações Humanas. Ribeirão Preto: SBG, 2008. 235p. Disponível em: https://bit. ly/363YROv. Acesso em: 20 out. 2020. ELHUSNY, A. S; FERNANDES-CALDATO, M. C. Erros Inatos do Metabolismo: Revisão de literatura. 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Biologia Molecular Básica. 3ª edição, Porto Alegre: Mercado Aberto, 2003. https://bit.ly/363YROv https://bit.ly/363YROv https://bit.ly/31usp7N 9 UNIDADE 04 Genética Humana LIVRO DIDÁTICO DIGITAL SUMÁRIO Imunogenética e grupos sanguíneos ..................................12 Conceitos .......................................................................... 12 Antígenos .............................................................. 14 Anticorpos ............................................................. 15 Células e moléculas que participam das respostas imunes .................................................................... 18 Competência imunológica ...................................... 20 Tolerância imunológica .......................................... 20 Sistemas de grupos sanguíneos eritrocitários .................... 21 Sistema de grupos sanguíneos ABO ........................ 22 Sistemas de grupos sanguíneos eritrocitários .................... 24 Sistema de grupos sanguíneos MNSs ...................... 26 Resposta imune inata ........................................................ 27 Resposta imune adquirida ................................................. 29 Genômica .............................................................................32 Sequenciamento Genômico ............................................... 32 Sequenciamento ..................................................... 35 Genômica comparativa ...................................................... 37 Genes ................................................................................ 39 Plasticidade e fluxo genômico ........................................... 42 Base genética do câncer ......................................................47 Definição de câncer ........................................................... 47 Base genética do câncer .................................................... 49 Proto-oncogenes e oncogenes ................................. 50 Proliferação celular ........................................................... 57 Cânceres comuns .................................................... 57 Fatores ambientais e o câncer ........................................... 61 Terapia Gênica ....................................................................64 Conceitos de terapias genéticas ......................................... 64 Requerimentos básicos para Terapia Gênica ...................... 66 Biofármico ............................................................. 67 Terapia Gênica em seres humanos ..................................... 68 Terapia gênica: Genes ............................................. 70 Terapia gênica: Futuro ............................................ 73 Processo de terapia ....................................... 73 Genética Humana10 Você sabia que cada um de nós é único biologicamente? Os sistemas ABO e RH são os principais grupos sanguíneosem humanos e no caso de transfusão é preciso checar a compatibilidade paciente e doado. Há áreas que se destacam na imunogenética como as doenças autoimunes; deficiências imunológicas; mecanismos de transplantes; e os grupos sanguíneos. A era do sequenciamento nos mostra que o genoma humano é formado por aproximadamente três bilhões de pares de bases distribuídos em 24 cromossomos. E que apenas 3% do nosso genoma é transcrito. A genômica comparativa mostrou a importância do SNP, transposons, íntros entre outros. E contribuem para o estudo do câncer. O câncer é um conjunto de doenças complexas que se diferenciam, conforme o tipo celular do qual se originam. A terapia gênica consiste em inserir uma cópia ativa de determinado gene nas células de um indivíduo que tem alelos mutantes desse gene e contribuindo para o tratamento de diferentes doenças somáticas ou hereditárias. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Genética Humana 11 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: OBJETIVOS Definir o processo imunogenética e grupos Sanguíneos. Interpretar as descobertas da “era genômica”. Identificar os princípios da base Genética do Câncer. Explicar os conceitos teoria da Terapia Gênica. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! 1 2 3 4 Genética Humana12 Imunogenética e grupos sanguíneos OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender a definição de Imunogenética. Conhecer as relações antígeno e anticorpo; o conjunto células do sistema imune; sistemas de grupos sanguíneos eritrocitários entre outros. Distinguir o contexto de Resposta Imune Inata e Resposta Imune adaptativa. E então? Motivado para desenvolver este desafio? Então vamos lá. Avante. Conceitos Cada um de nós, possuímos uma combinação de genes única e diferente um do outro. Essa distinção também ocorre entre os tecidos: sangue, todos os órgãos do corpo. Os tipos sanguíneos são determinados pela presença, na superfície das hemácias, de antígenos que podem ser de natureza bioquímica variada, podendo ser compostos por carboidratos, lipídeos, proteínas ou uma mistura desses compostos. Estes antígenos eritrocitários são independentes do Complexo principal de histocompatibilidade (HLA), o qual determina a histocompatibilidade humana e é importante nos transplantes. Em humanos os principais grupos são o ABO e RH. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%ADgeno Genética Humana 13 DICA Apesar dos sistemas ABO e RH serem responsáveis por mais de 98% dos problemas de incompatibilidade sanguínea. Dependendo da situação, os 2% dos fatores (MN, outros) restantes, devem ser testados para atender suas especificidades. A imunogenética estuda os aspectos genéticos dos anticorpos, antígenos e suas interações. Em ciências biomédicas algumas áreas da imunogenética são muito importantes como estudo das doenças autoimunes; estudo das deficiências imunológicas; estudo dos mecanismos de transplantes; estudo dos grupos sanguíneos entre outros. DICA O lócus ABO está localizado no cromossomo 9 no 9q34.1-q34.2, possuí 7 éxons que ocupam mais de 18 kb de DNA genômico. O alelo A e B diferem um do outro devido a sete substituições de nucleotídeos. Os resíduos de aminoácidos da posição 266 e 268 determinam a especificidade A ou B da glicosiltransferase codificada. O alelo O difere do A pela deleção de uma guanina na posição 261. A deleção causa a tradução de uma proteína sem atividade enzimática. O funcionamento do sistema imunológico baseia-se nas relações antígeno e anticorpo. O sistema imunológico responde ao antígeno produzindo uma substância denominada de anticorpo, Genética Humana14 que é específica para aquele antígeno. O anticorpo tem a função de eliminar os antígenos. O sistema ABO é o mais importante, logo as pessoas do grupo O apresentam naturalmente anticorpos contra os grupos sanguíneos A, B, AB. Se receberem sangue de um desses tipos, destruirão essas hemácias; o que pode gerar uma série de distúrbios como: queda brusca da pressão arterial, insuficiência renal, coagulação intravascular disseminada. O paciente começa a sangrar e, em 5% a 10% dos casos, essa reação pode ser fatal. Ou seja, uma transfusão incompatível pode induzir à morte. E no mais, o desenvolvimento de uma resposta imunológica adaptativa ou adquirida proporciona uma reação mais eficaz contra as diferentes infecções que atingem os organismos. Portanto, raramente ocorre o acometimento duas vezes por enfermidades como sarampo, varíola, coqueluche e assim por diante. Isso se deve graças à memória imunológica. O sistema imune tem a capacidade de distinguir e reconhecer o que é próprio, do que é não-próprio do organismo. Isso acontece através das moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) e linfócitos-T. Vamos compreender alguns conceitos? Antígenos DEFINIÇÃO Antígeno é uma proteína estranha ao organismo que provoca uma resposta imune especifica na célula (anticorpo). Um antígeno pode ser bactérias, fungos, protozoários, vírus ou outra substância interpretada como ameaça. Genética Humana 15 EXPLICANDO DIFERENTE+++ Antígeno é toda substância estranha ao organismo que desencadeia a produção de anticorpos, constituído principalmente, por uma proteína ou um polissacarídeo, encontrado nos envoltórios dos agentes infectantes. Na presença do antígeno, um organismo imunocompetente pode manifestar uma resposta imune ou uma tolerância. Possui natureza multiepitópica. DICA Imunogénio é qualquer substância capaz de induzir uma resposta imunológica. Quando introduzido no organismo faz com que este responda, produzindo defesas. Anticorpos Os anticorpos, também denominados de imunoglobulinas (Ig), são proteínas circulantes produzidas em resposta à exposição a antígenos, apresentando-se na forma de proteínas do tipo γ-globulina, e especificidade para um epítopo das moléculas que compõem um antígeno. As regiões de especificidade do anticorpo são denominadas parátopos ou sítios combinatórios (sítios de ligação de um anticorpo ao antígeno). Portanto, as reações antígeno-anticorpo dependem, particularmente, de sítios mutuamente ajustáveis e específicos, conhecido como sistema de “chave-fechadura”. Genética Humana16 DICA Epítopo é a menor porção de antígeno com potencial de gerar a resposta imune; sendo a área da molécula do antígeno que se liga aos receptores celulares e aos anticorpos. Ou seja, o sítio de ligação específico que é reconhecido por um anticorpo ou por um receptor de superfície de um linfócito T. Os anticorpos são classificados em regulares (estímulos naturais e possui ocorrência esperada) e irregulares (que resultam como resposta a aloantígenos e possui ocorrência inesperada). DICA Aloantígenos são moléculas reconhecidas como moléculas estranhas ao organismo, derivadas de um indivíduo geneticamente diferente. Os anticorpos são moléculas em forma de “Y” com dois sítios de ligação idênticos, complementares a uma pequena porção da superfície da molécula de antígeno. Analisando o sítio de ligação de antígeno nos anticorpos revela que eles são formados por diversas alças de cadeias polipeptídicas que sobressaem das extremidades de um par de domínios proteicos justapostos. Diferentes anticorpos permitem uma enorme diversidade de sítios de ligação de antígenos pela alteração apenas do comprimento e da sequência de aminoácidos nessas alças sem mudar a estrutura proteica básica. Genética Humana 17 Toda espécie molecular de origem biologia isolada ou que provém uma célula, vírus, substância sintética, que quando introduzida em um organismo são capazes de gerar a formação de anticorpos. Os haptenos referem-se as moléculas de menor tamanho, que resultam em uma resposta imune, contudo de uma maneira diferente.IMPORTANTE A imunogenicidade é a capacidade de induzir ou reagir a uma resposta imunológica, a antigenicidade é a capacidade de uma substância em se ligar a um antígeno. Em humano, os anticorpos podem ser classificados em imunoglobulinas IgA, IgD, IgE, IgG e IgM, sendo que algumas classes são subdivididas, de acordo com as diferenças estruturais. A Imunoglobulina A (IgA) estruturalmente é um dímero apresentando duas frações Fab (sítios de ligação) o que confere a esta um alto poder de neutralização. Localiza-se em secreções seromucosas, como a saliva, as lágrimas, os fluidos nasais, o suor, entre outras, nas quais apresentam claramente a função de defender as superfícies externas expostas do corpo contra o ataque dos microrganismos. Quase todas as Imunoglobulinas D (IgD) apresentam-se, em conjunto com as Imunoglobulinas M (IgM), na superfície de grande parte dos linfócitos B, em que aparentemente podem atuar como receptores, suas funções ainda não estão bem esclarecidas. O principal papel da IgE parece ser a proteção das superfícies mucosas externas, por meio de uma reação infamatória Genética Humana18 aguda. Concentrações muito baixas de Imunoglobulinas E (IgE) encontram-se presentes no soro e apenas poucas células plasmáticas sintetizam essa imunoglobulina. Em uma resposta secundária, a Imunoglobulina G (IgG) é a principal e mais abundante imunoglobulina a ser sintetizada. Possui a capacidade de atravessar a placenta, e com isso proporciona uma linha de defesa contra as infecções nas primeiras semanas de vida do bebê. Essa imunoglobulina difunde mais rapidamente que as outras em espaços extravasculares, nos quais tem a função de neutralizar toxinas bacterianas, de combinar-se com microrganismos e facilitar a fagocitose. Por fim, as IgM são a primeira classe de imunoglobulina produzidas após a ativação do linfócito B; secretado como um pentâmero e geralmente presente na corrente sanguínea e não nos tecidos; agentes aglutinantes muito eficazes, aparecendo cedo na resposta à infecção. Células e moléculas que participam das respostas imunes As principais células e moléculas que participam das respostas imunes são: linfócitos B; linfócitos T; células B de memória; células NK (Natural Killer Cell) e NKT (T Natural Killer); receptores de antígenos das células B ou imunoglobulinas; receptores de antígenos das células T, moléculas de classe I e classe II do complexo de histocompatibilidade principal; citocinas e moléculas acessórias. Genética Humana 19 SAIBA MAIS As células exterminadoras naturais ou células NK são um tipo de linfócitos citotóxicos importantes para o funcionamento do sistema imunitário inato. Possui importante função no combate a infecções virais e células tumorais. A principal função das células B é a produção de anticorpos contra antígenos. Os antígenos podem ser exógenos (antígenos produzidos por células que não pertencem ao hospedeiro, como os liberados por bactérias) ou endógenos (produzidos dentro das células do hospedeiro, resultantes de infecção por parasitas intracelulares, como vírus e bactérias, ou de transformação da célula). Os Linfócitos T são um grupo de glóbulos brancos (leucócitos) responsáveis pela defesa do organismo contra agentes desconhecidos (antígenos). Funcionalmente, os linfócitos T podem ser divididos em três subpopulações, cada uma delas com funções específicas: 1. Linfócitos T efetores, citolíticos ou citotóxicos (TC) são responsáveis pela resposta imune celular, participam da lise de células alogênicas de órgãos transplantados de doadores não compatíveis. E estão envolvidos com a morte de células tumorais e de células infectadas por vírus e outros tipos de parasitas. Apresentação de peptídeos antigênicos aos Linfócitos T CD8+ (Citotóxicos); 2. Linfócitos T auxiliares (TA) (ou TH, de helper) possuem papel importante na regulação da resposta imune, atuando na atividade dos linfócitos T e linfócitos B, assim como das células fagocitárias. Esses linfócitos são multifuncionais, pois reconhecem os antígenos estranhos apresentados nos macrófagos, produzem citocinas, atuam sobre os linfócitos TC, Genética Humana20 induzindo-lhes a capacidade citolítica, estimulam a produção de anticorpos pelos linfócitos B, participam da hiper-sensibilidade tardia e provocam a ativação dos macrófagos; 3. Linfócitos T supressores (TS) – Participam da atividade reguladora da função imunológica adaptativa, inibindo ou suprimindo a resposta imune. Moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC), também conhecido como complexo de antígenos leucocitários humanos (HLA, de human leucocyte antigen), consiste em um segmento do braço curto do cromossomo 6 (6p21.3), que contém uma série de genes intimamente ligados e relacionados de maneira importante à resposta imune, que codificam as moléculas que apresentam antígenos aos linfócitos T. Essas moléculas podem ser divididas em três classes: classe I, II e III. Competência imunológica A Competência imunológica ou imunocompetência é a capacidade do organismo de formar anticorpos contra antígenos estranhos. Essa capacidade tem início no feto, pouco antes do seu nascimento. Portanto, a imunocompetência, ainda não está́ totalmente desenvolvida no bebê, que apresenta imunidade temporária contra algumas doenças, por meio das imunoglobulinas IgG maternas que atravessam a placenta, durante sua vida intrauterina; e ao leite materno que inicialmente contém colostro, substância rica em IgA, que protege o recém- nascido contra algumas infecções respiratórias e digestivas. Depois, o leite substitui o colostro, acrescentando anticorpos contra alguns parasitas intestinais. Tolerância imunológica O termo tolerância imunológica refere-se a um processo de não- reatividade específica para determinado antígeno, e é Genética Humana 21 induzida por prévia exposição àquele antígeno. A tolerância pode ser induzida para antígenos não-próprios, mas o aspecto mais importante da tolerância é a autotolerância, que impede que o organismo elabore um ataque contra seus próprios constituintes. A tolerância periférica é fundamental para prevenir a reatividade excessiva do sistema imunológico a várias entidades ambientais (alérgenos, flora intestinal entre outros). Problemas na tolerância central ou periférica causam doença autoimune, resultando em síndromes como lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, diabetes tipo 1, síndrome polimenócrina autoimune tipo 1 (APS-1), síndrome de desregulação imune – IPEX, potencialmente contribui para asma, alergia, doença do intestino inflamatório. Já a tolerância imunitária na gravidez é o que permite que a gestante seja geneticamente distinta do embrião/feto com uma resposta autoimune silenciada o suficiente para evitar um aborto involuntário. Sistemas de grupos sanguíneos eritrocitários O médico austríaco, Karl Landsteiner, observou que quando misturava amostras de sangue de pessoas diferentes dois resultados poderiam ser observados: os sangues se misturavam sem que houvesse qualquer reação; ou os sangues não se misturavam, havendo uma intensa reação que levava à destruição das hemácias (glóbulos vermelhos). Já em 1902, DeCostello e Starli descreveram o comportamento do grupo AB. Somente em 1940 houve a descrição do sistema Rh, realizada pelos cientistas Landsteiner e Wiener. Os sistemas de grupos sanguíneos consistem em marcadores clinicamente essenciais em transfusões de sangue, transplantes de órgãos e obstetrícia, na incompatibilidade materno-fetal. Sendo ainda, usados em genética forense entre outros, na identificação individual e na investigação de paternidade. Genética Humana22 Os polimorfismos dos sistemas de grupos sanguíneos originaram-se, principalmente por mutações pontuais, sobretudo os polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs); além das recombinações gênicas, deleções e inserções ao longo da evolução dos genes e alelos que codificam essessistemas. Na International Society for Blood Transfusion (ISBT; Sociedade Internacional de Transfusão Sanguínea) são registrados mais de 300 antígenos, dos quais 270 estão agrupados em cerca de 30 sistemas de grupos sanguíneos diferentes. Existem sistemas de antígenos que são muito comuns entre os indivíduos da espécie humana e outros muitos raros. Sistema de grupos sanguíneos ABO Os antígenos de grupos sanguíneos são ocasionados pela variabilidade genética, que, por sua vez, ocorre devido a proteínas e glicoproteínas que se concentram na membrana plasmática das células sanguíneas. A definição de grupos sanguíneos é dada pelo anticorpo existente, pois nem todo polimorfismo observado na molécula das superfícies de eritrócitos constitui caracteristicamente um grupo sanguíneo. No sistema de grupos sanguíneos ABO, existe uma relação inversa recíproca, no individuo, entre os antígenos presentes nas hemácias e os anticorpos presentes no soro, o que não ocorre em outros sistemas sanguíneos, em que os anticorpos correspondentes aos antígenos não estão presentes no soro, a não ser que sejam formados por sensibilização. O sistema de grupo sanguíneo ABO possui ou não antígenos nas superfícies dos seus eritrócitos e anticorpos contra os antígenos na corrente sanguínea, isto é, o tipo A tem anticorpos anti-B, o tipo B tem anticorpos anti-A, o tipo AB não possui anticorpos e o tipo O tem anticorpos anti-A e anti-B. Os antígenos do sistema sanguíneo ABO não se restringem à membrana dos eritrócitos, podendo ser encontrados também em Genética Humana 23 muitas células, como linfócitos, plaquetas, endotélio, capilares venosos e arteriais, células sinusoides do baço, medula óssea, mucosa gástrica, além de secreções e outros líquidos, como saliva, sêmen, leite e urina. IMPORTANTE Os anticorpos regulares anti-A e anti-B somente começam a ser produzidos pelo organismo humano após o nascimento, em torno do terceiro mês. A partir dessa época, a concentração de anticorpos do sistema sanguíneo ABO vai aumentando, e atinge seu máximo na adolescência. Figura 1: Hemácias Fonte: @pixabay. As técnicas mais simples empregadas para a determinação dos grupos sanguíneos são provas de hemaglutinação, feitas em tubos de ensaio ou lâminas, com antissoros contendo anticorpos https://pixabay.com/pt/illustrations/hem%C3%A1cia-sangue-humano-micro-5280112/ Genética Humana24 de especificidade conhecida e em níveis elevados. Normalmente, usam-se antissoros comerciais anti-A e anti-B. Na ausência destes, podem-se usar soros de indivíduos do grupo A e do grupo B, uma vez que esses indivíduos possuem anticorpos regulares anti-A (grupo B) e anti-B (grupo A). Na era pós-genoma, a determinação dos grupos sanguíneos pode ser feita diretamente no genótipo, por meio da genotipagem de grupos sanguíneos, principalmente em pacientes que receberam transfusão recente (quando existe hemácias do doador na circulação do receptor, em pacientes com autoanticorpos); ou ainda em pessoas que mostram resultados inconclusivos na fenotipagem eritrocitária (por dificuldades técnicas na análise sorológica, o que pode ocorrer nas investigações forenses) ou estudos de associações com doenças, por exemplo. As técnicas de genotipagem mais usadas são reação em cadeia da polimerase (PCR) alelo especifica, PCR-RFLP ou RFLP (polimorfismo de comprimento de fragmentos de restrição), PCR-ASP (com uso de iniciadores ou primers alelo específicos) e a técnica de microarranjos. Sistemas de grupos sanguíneos eritrocitários O sistema Rh (inicialmente denominado Rhesus) foi descrito pela primeira vez na avaliação da doença hemolítica do recém-nascido ou eritroblastose fetal, em 1939; sendo caracterizada pela destruição das hemácias do feto ou do recém- nascido. As consequências desta doença são graves, podendo levar a criança à morte. PASSO A PASSO Durante a gestação pode ocorrer casos que permitem a passagem de hemácias do feto para a circulação materna (barreira hemato-placentária (BHP)). Portanto se o feto possui sangue fator Rh positivo, os antígenos existentes em suas hemácias Genética Humana 25 estimularão o sistema imune materno a produzir anticorpos anti- Rh, que ficarão no plasma materno e podem, por serem da classe IgG, passar pela BHP, provocando lise nas hemácias fetais. A produção de anticorpos obedece a uma cascata de eventos e, por isto, a produção de anticorpos é lenta e a quantidade pequena no primeiro contato. A partir da segunda gestação ou após a sensibilização por transfusão sanguínea, se o filho for Rh + novamente, o organismo materno já conterá anticorpos para aquele antígeno e o feto poderá desenvolver a eritroblastose fetal. Para prevenção, após o nascimento da criança profilática injeta na mãe Rh-, soro contendo anti Rh. A aplicação logo após o parto destrói as hemácias fetais que possam ter passado pela placenta no nascimento ou antes. IMPORTANTE Com relação ao sistema sanguíneo Rh, um indivíduo Rh- (negativo) deve receber somente sangue de indivíduos Rh-. Quando se desconhece o grupo sanguíneo do receptor, em casos de emergência, por exemplo, deverá ser-lhe transfundido sangue de indivíduos Rh-. Quando há́ necessidade de transfusões sanguínea frequentes, em casos de indivíduos talassêmicos ou com anemia falciforme, deve haver a maior similaridade antigênica possível entre doador e receptor, porque os indivíduos politransfundidos, por receberem grandes volumes de sangue, ficam mais expostos a estímulos de antígenos que eles não possuem. Genética Humana26 Sistema de grupos sanguíneos MNSs Depois do sistema ABO, o segundo sistema de grupos sanguíneos a ser descoberto foi o MN, por Landsteiner e Levine, em 1927. A herança do sistema de grupos sanguíneos MN depende de um par de alelos codominantes M e N, do lócus MN, situado no cromossomo 4 (4p28.2-q31.1) e que determina os genótipos MM, MN e NN e os fenótipos correspondentes. O polipeptídio do grupo M difere daquele do grupo N em dois aminoácidos: M têm serina e glicina, enquanto N tem leucina e ácido glutâmico; MN tem os quatro aminoácidos referidos. Mais tarde, foi descoberto que, na mesma região cromossômica em que se situa o lócus do sistema de grupos sanguíneos MN, está localizado o lócus Ss, do grupo sanguíneo Ss, na direção 3’. As especificidades antigênicas Ss receberam essa denominação pelo fato de que o anticorpo anti-S foi reconhecido primeiramente em Sidney, na Austrália. As diferenças estruturais entre S e s consistem na substituição de metionina (presente em S) por treonina (presente em s) na posição 29. As combinações alélicas MN e Ss são herdadas juntas, como os seguintes haplótipos: MS, NS, Ms, Ns. As duas últimas combinações são as mais frequentes nas populações. O sistema sanguíneo MNSs tem grande aplicação como marcador genético de resposta imunológica. As principais células da função imunológica são os linfócitos, as células apresentadoras de antígenos e as células efetoras. DICA A determinação do sistema MNSs é feita separadamente, usando- se antissoros anti-M, anti-N, anti-S e anti-s. Genética Humana 27 Resposta imune inata A ação imunológica tem sido classificada em imunidade inata e imunidade adaptativa. A imunidade inata refere-se a uma resposta rápida e caracterizada a um numeroso, mas limitado, tipos de estímulos. Provém de barreiras físicas, químicas e biológicas, células especializadas e moléculas solúveis, contido nos indivíduos, mesmo sem o contato prévio com imunógenos ou agentes estranhos, e não se altera qualitativa ou quantitativamente após o contato. Os órgãos do sistema imunológico primários envolvem medula óssea e Timo; são nesses órgãos que as células se diferenciam das células tronco, proliferam e amadurecem tornando-se linfócitos funcionais. E os órgãos secundários envolvem linfonodos, tonsilas, baço, adenoides e pelo apêndice cecal; responsáveis pela recepção e multiplicação dos linfócitos B e linfócitos T,após entrarem em circulação. É iniciada a resposta imune adquirida, por isso possuem aglomerados de células. Ao nascer o ser humano tem um sistema imunológico celular natural ou inato, que é a principal defesa de primeira linha contra organismos invasores. Nesses casos, a imunidade inata atua mantendo a doença sob controle até a resposta imune adaptativa ser ativada. A atuação da imunidade inata pode ocorrer em vários estágios da infecção. O sistema imune inato é composto pelos seguintes componentes: Barreiras físicas e mecânicas: impendem a invasão de moléculas e agentes infecciosos (pele, trato respiratório, membranas, mucosas, fluidos corporais, tosse, espirro). Barreiras físicas e químicas (constituída por epitélios, substâncias antimicrobianas sintetizadas nas superfícies epiteliais https://www.infoescola.com/citologia/celulas-tronco/ https://www.infoescola.com/histologia/mucosa/ https://www.infoescola.com/fisiologia/tosse/ https://www.infoescola.com/fisiologia/espirro/ Genética Humana28 e cílios do sistema respiratório); células (Linfócitos NK, Células Dendríticas, Macrófagos e Polimorfonucleares); citosinas (proteínas que regulam as atividades das células da imunidade inata e do sistema imunológico como um todo) e proteína de sangue (Sistema complemento e mediadores infamatórios). As barreiras biológicas são formadas por microrganismos colonizadores da pele e o trato gastrintestinal, protegendo o estabelecimento de outros microrganismos patogênicos (relação simbiótica com o corpo). A resposta imune secundária é a vacinação, que estimula uma resposta imune primária a um antígeno e resulta em células de memória que podem de forma rápida produzir resposta secundária se o mesmo antígeno invadir o organismo. A seleção clonal e as respostas primária e secundária também ocorrem nos linfócitos T. As principais células efetoras da imunidade inata (respondem ativamente a um estímulo) são: macrófagos, neutrófilos, células dendríticas e células Natural Killer – NK. Os principais mecanismos de ação dessas células na imunidade inata são: fagocitose, liberação de mediadores inflamatórios, síntese de proteínas de fase aguda (citocinas, quimiocinas, C-reativa, amiloide entre outros). O mecanismo de ação inicia com a identificação molecular dos agentes estranhos; depois há ativação de vias bioquímicas intracelulares que produz modificações vasculares e teciduais; ativação e proliferação celulares, gerando de novos produtos envolvidos na quimioatração e migração de células especializadas na eliminação e remoção do agente agressor, e no final do processo a recuperação tecidual com o restabelecimento funcional do tecido ou órgão resposta imune adaptativa. Genética Humana 29 O complexo de histocompatibilidade principal humano, MHC, é formado por um grupo de genes polimórficos, chamado complexo HLA (human leukocyte antigen). Esse complexo inclui mais de 120 genes funcionais, dos quais cerca de 20% estão associados à imunidade; e situam-se no cromossomo 6, divididos em classes I, II e III. Distúrbios da imunidade inata podem ser importantes na fisiopatologia de doenças autoimunes. Resposta imune adquirida A imunidade adaptativa, especifica ou adquirida é a terceira linha de defesa contra potenciais ameaças ao organismo. Destaca-se a especificidade para diversas moléculas e a sua capacidade de memória, o que leva a respostas mais intensas se ocorrerem uma segunda infecção pelo mesmo organismo invasor. Na imunidade adaptativa, existem três aspectos muito importantes, que não existem na imunidade natural: discriminação, que é a capacidade de um organismo reconhecer o que lhe é próprio e o que lhe é estranho, sendo vital para a sua sobrevivência; memória, que é a capacidade de lembrar contatos prévios com um antígeno; e especificidade, pois cada anticorpo reage com um antígeno especifico. A imunidade adaptativa possui muitos componentes que podem ser classificados em duas classes principais: a imunidade humoral e a imunidade celular, ambas interagindo significativamente para efetuar a resposta imune. A imunidade humoral é o principal mecanismo utilizado na defesa contra microrganismos extracelulares e toxinas. É mediada através de anticorpos, que são produzidos pelos linfócitos B. A ligação antígeno-anticorpo assegura que os Genética Humana30 anticorpos somente ativam os mecanismos efetores, quando for necessário. A imunidade celular é mediada por linfócitos T e consiste na eliminação de infecções provocadas por microrganismos intracelulares. A apresentação do antígeno é feita pelas células apresentadoras de antígenos (APCs). A imunidade adquirida também pode ser classificada em imunidade ativa e imunidade passiva. A imunidade ativa é induzida pela exposição a um antígeno; o indivíduo imunizado tem um papel ativo na resposta ao antígeno; pode ser natural ou adquirida através de doença; ou passiva (vacina). Já na imunidade passiva a imunização é feita pela da transferência de anticorpos específicos de um indivíduo imunizado para um não-imunizado. A imunidade passiva é chamada de natura (transferência de anticorpos maternais para o feto); artificial (passagem de anticorpos prontos, como num soro anti-ofídico). A resposta imune adquirida, mediada pelos linfócitos B e T, apresenta uma série de propriedades que coordenam suas respostas, tais: �Especificidade: o sistema imunológico identifica o antígeno e produz uma resposta imunológica específica a ele; �Diversidade: o sistema imune identifica grande número antígenos diferentes e produzir resposta específica; �Memória imunológica: a exposição do sistema imunológico a antígenos permiti aumentar sua habilidade em responder a esse mesmo antígeno novamente. Isso porque, são produzidas formação de células de memória com vida longa, capazes de reconhecer esses antígenos por anos. https://www.infoescola.com/saude/imunizacao/ https://www.infoescola.com/biologia/memoria-imunologica/ Genética Humana 31 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter entendido que a imunogenética estudar os aspectos genéticos dos anticorpos, antígenos e suas interações. O lócus ABO está localizado no cromossomo 9 no 9q34.1-q34.2. O funcionamento do sistema imunológico baseia- se nas relações antígeno e anticorpo. O sistema imune tem a capacidade de distinguir e reconhecer o que é próprio, do que é não-próprio do organismo. Uma propriedade fundamental do antígeno é a natureza química da estrutura multiepitópica de suas moléculas. Os anticorpos, também denominados de imunoglobulinas (Ig), são proteínas circulantes produzidas em resposta à exposição a antígenos. As principais células e moléculas que participam das respostas imunes são: linfócitos B; linfócitos T; células B de memória; células NK (Natural Killer Cell) e NKT (T Natural Killer); receptores de antígenos das células B entre outras. A Competência imunológica ou imunocompetência é a capacidade do organismo de formar anticorpos contra antígenos estranhos. Os sistemas de grupos sanguíneos consistem em marcadores clinicamente essenciais em transfusões de sangue, transplantes de órgãos e obstetrícia, na incompatibilidade materno-fetal. Genética Humana32 Genômica OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender a importância do sequenciamento genômico. O resultado da genômica comparativa na descrição dos genes e sua plasticidade e fluxo genômico. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Sequenciamento Genômico A biologia molecular e as tecnologias avançaram muito, chegar no que chamamos “era das ômicas”. O Projeto Genoma Humano (PGH) teve seu primeiro rascunho em 2001, e somente em abril de 2003 o projeto foi finalizado. Os resultados do sequenciamento mostraram que ogenoma humano é formado por aproximadamente três bilhões de pares de bases distribuídos em 24 cromossomos. E que apenas 3% do nosso genoma foi categorizado como passível de ser transcrito em moléculas de RNA, podendo então ser convertidos em proteínas. A expectativa era um alto grau de éxon, o que não aconteceu! O PGH trouxe consigo o desenvolvimento de tecnologias avançadas para estudo dos genomas, inaugurando uma nova era na pesquisa biológica, denominada popularmente de “a era das ômicas”. Vejamos na Tabela 1, as áreas de pesquisas que se beneficiaram, com o grande número de informações produzidas com a nova geração de sequenciadores. O estudo dos genomas recebeu a denominação de genômica. O termo genômica vai além da genética. Enquanto a genética Genética Humana 33 se refere principalmente à hereditariedade, seus mecanismos e consequências. Já a genômica relaciona-se aos aspectos relativos à biologia celular e molecular, como diferentes tipos de mapas genômicos, sequenciamento dos ácidos nucleicos, reunião, armazenamento e manuseio de dados, identificação de genes, função e interação dos genes, evolução de genomas e outras áreas interdisciplinares que se relacionam a uma grande variedade de genomas em diferentes organismos. DICA Observaram que os genes ativos geralmente são separados por grandes segmentos de DNA não codificador, grande parte do qual consiste em sequências repetidas derivadas de elementos de transposição (elementos transponíveis ou transpósons), como as sequências LINE, SINE e Alu, uma miscelânea de sequências únicas; e DNA compactado (heterocromatina). Concluiu que os genes não estão distribuídos uniformemente entre os 23 pares de cromossomos humanos, sendo os cromossomos 17, 19 e 22 os que possuem maior densidade gênica, ao contrário dos cromossomos 4, 13, 18, X e Y possuem as menores densidades. Quanto ao número de genes, o cromossomo 1 é o que contém o maior número e o Y, o menor. Os genes variam em tamanho, número de éxons e número de íntrons. Por exemplo, a forma de Duchenne é a mais comum e grave das distrofias musculares; sendo de herança recessiva ligada ao cromossoma X; atinge ambos os sexos; e afeta os músculos estriados e o miocárdio. Originando-se de mutações no gene da distrofina, o maior gene humano com 79 éxons. Já os genes de histonas não contêm íntrons, mas existem genes Genética Humana34 que contêm mais de 300 íntrons, como o gene TTN, da proteína muscular Titina. Muitos genes (mais de 50%) produzem mais de uma proteína, por meio de splicing alternativos, cada gene codifica, em média, 2 ou 3 mRNAs diferentes, o que permite que as células humanas produzam um número muito maior de proteínas. Tabela 1: “A era ômica” Farmacogenômica Desenvolvimento de medicamentos individualizados, com base no perfil genético do indivíduo, em uma condição específica. Filogenômica Análise de dados de sequências genômicas obtidos pela genômica funcional, para a resolução de questões evolutivas. Genômica Análise dos genomas, que contêm todas as informações biológicas necessárias para a vida e/ ou reprodução dos organismos. Glicômica Análise dos carboidratos de uma célula ou tecido. Metabolômica Análise das proteínas e vias enzimáticas envolvidas no metabolismo celular. Metagenômica Análise dos genomas dos organismos presentes em um dado ambiente, também chamada genômica ambiental. Proteômica Análise do Proteoma, que é o conjunto de todas as proteínas de uma célula ou tecido. Toxicogenômica Análise dos efeitos de substâncias químicas tóxicas sobre os genes, inclusive mutações e alterações da expressão gênica causadas pelas toxinas. Transcritômica Análise do transcritoma, que é o conjunto de todos os RNAs mensageiros transcritos, e análise qualitativa e quantitativa dos genes que se expressam em uma célula ou tecido. Genética Humana 35 Sequenciamento O sequenciamento genômico é uma técnica que permite distinguir, na ordem correta, a sequência de nucleotídeos de uma molécula de DNA ou RNA, visando conhecer a informação genética contida neste genoma. Atualmente, existem diversas tecnologias voltadas para o sequenciamento do DNA, transcriptona, proteína em larga escala; revolucionou o estudo de diversas áreas, principalmente a ciência biomédica, por permitir descobrir a causa de inúmeras doenças. E essas informações permitem saber se um determinado gene é sofre algum tipo de regulação da expressão ao nível transcricional devido ao ambiente. SAIBA MAIS A partir do sequenciamento dos genomas de microrganismos, é possível a compreensão sobre as funções, relações evolutivas, resistência a antibióticos e outros aspectos metabólicos necessários ao desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas. A genômica pode ser classificada em genômica estrutural e genômica funcional. A genômica estrutural corresponde ao sequenciamento, organização e análise das informações genéticas nucleotídicas contidas em um genoma, por meio de mapas físicos e gênicos de seus cromossomos. Esses mapas, construídos mediante uso de diversos métodos de sequenciamento do genoma inteiro, indicam os locais relativos dos genes, marcadores moleculares e segmentos cromossômicos, essenciais para o posicionamento dos segmentos cromossômicos e o alinhamento dos segmentos sequenciados de DNA em uma sequência de genoma inteiro. Foi observado que sequências Genética Humana36 genômicas têm aproximadamente 99,9% de semelhança entre indivíduos de diferentes etnias, sendo a maior parte das diferenças correlacionadas com polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) e as variações no número de cópias (CNVs). A genômica funcional estuda as funções de todos os genes de um genoma ou de todos os genes expressos em uma célula ou um tecido, com base nos RNAs transcritos, nas possíveis proteínas codificadas e nos elementos reguladores dos genes, além de caracterizar as funções dos genes, obtém informações sobre o tempo e a quantidade de sua expressão. Assim, junto com as tecnologias de alta resolução possibilitam o conhecimento simultâneo das interações de imensa quantidade de produtos gênicos. A varredura do genoma inteiro testa todos os cromossomos de um indivíduo, por meio do maior número possível de lócus marcadores polimórficos, para verificar se existe ligação ou associação a um lócus patogênico investigado. Figura 2: Sequenciamento de DNA Fonte: @freepik. https://www.freepik.com/free-vector/set-structures-deoxyribonucleic-acid_5984917.htm Genética Humana 37 DICA A possibilidade de compreensão de como uma determinada mutação está associada a um determinado fenótipo, tem importantes implicações nas doenças genéticas humanas: a resposta a estas perguntas pode apontar aos cientistas a direção de um tratamento ou mesmo a cura. Genômica comparativa A genômica comparativa é a área da genômica referente à comparação entre genomas de organismos diversos, quanto ao tamanho do genoma, ao número, a função e a organização de genes, as relações evolutivas, a evolução de genes e genomas e outros aspectos, evidenciando suas semelhanças e diferenças. O tamanho do genoma é o DNA total contido em um genoma nuclear haploide, sendo conhecido como valor C (C, de constância desse valor em uma espécie) e é medido como o número total de pares de bases dos nucleotídeos, geralmente em milhões de pares de bases (pb) ou mega bases (Mb), ou em bilhões de pares de bases (Gb). A expectativa pós-sequenciamento seria que o tamanho do genoma aumentasse com a sua complexidade, contudo não foi o observado; alguns organismos unicelulares, como as amebas, possuem maior quantidade DNA do que eucariotos mais complexos, como os humanos. A partir dessa referência conclui- se que não existe correlação significativa entre o tamanho do genoma e a complexidade morfológica do organismo, fenômeno denominam “paradoxo do valor C”. Dependendo do grupo considerado, os efeitos da variação no tamanho genômico no nívelcelular podem resultar em correlações do conteúdo de DNA com tamanho corporal, taxa metabólica, Genética Humana38 taxa de desenvolvimento, complexidade orgânica, distribuição geográfica e nicho ecológico. Exemplo, Mosca-das-frutas, possui aproximadamente 18.000 genes, enquanto o ser humano possui cerca de 20.000 genes. Deve-se fazer catalogação e a comparação de dezenas de fatores em projetos de genômica comparativa. 1)o número de genes por cromossomo entre diversas espécies, 2)o número médio de éxons ou íntrons de cada gene, 3)a distribuição de nucleotídeos A, C, T ou G pelos genes, 4)a utilização de códons preferenciais nos genes codificadores de proteínas, 5)a utilização de pares de nucleotídeos (ou dinucleotídeos) entre os genes, 6) o compartilhamento de domínios funcionais de proteínas, 7) a presença de promotores e o tipo de promotores que devem ser “ativados” para a expressão gênica, dentre diversos outros fatores que podem ser descritos e comparados entre diferentes genomas, 8)sequências repetitivas, 9)elementos transponíveis e oriundos de transferência lateral ou 10)atuação de micro-RNAs, 11)mecanismos epigenéticos de metilação de citosinas e de modificações, 12)pós-traducionais em histonas entre outros. A super expressão ou o silenciamento de determinado(s) gene(s) em determinada circunstância celular pode permitir o tratamento da doença ou até cura. A genômica comparativa de proteínas (proteômica) permite observar quais proteínas, seus agrupamentos e vias bioquímicas atuantes. SAIBA MAIS Os 20-25.000 genes humanos não estão todos ativos num mesmo instante. Por exemplo, os genes chamados de house-keeping estão normalmente expressos em todas as células, sendo responsáveis pelo metabolismo basal celular. Contudo, estima-se que esses genes, sejam equivales a 10% de todos os genes presentes no genoma. Os outros 90% seriam transcritos apenas diante de algum estímulo. Genética Humana 39 Já a genômica comparativa de metabólitos secundários produzidos permite entender quais vias metabólicas ou subprodutos destas. Diferentes organismos conseguem produzir para fins diversos, metabólicos relacionados à adaptação diante de condições fisiológicas as quais foram expostos. DICA O número de genes codificadores de proteínas, presentes em um genoma nuclear haploide, é referido como valor G (G, de gene number). Ao verificarem que o número de genes codificadores de proteínas, não mostra correlação linear com a complexidade dos organismos, essa contradição foi chamada de paradoxo do valor G, em analogia ao paradoxo do valor C. Genes Os genes de um genoma que são compartilhados entre outros genomas são chamados de conservados. O gene que codifica as proteínas histonas, por exemplo, que são proteínas responsáveis por ligar ao DNA e permitir a compactação deste no núcleo celular são altamente conservados em todos os organismos eucarióticos, e estão ausentes apenas nas bactérias. DICA Segundo considerações os mecanismos de evolução darwiniana, todos os organismos vivos tiveram um ancestral no passado. Genética Humana40 Para ser conservado um gene precisa estar presente ao longo de inúmeros organismos de genomas conhecidos e que sejam distantes filogeneticamente. Em eucariotos, é encontrado um alto grau de homologia entre os genes tanto em espécies de parentesco próximo quanto distante. Por exemplo, o chimpanzé́ tem, aproximadamente, 98%, o camundongo 80% e o cão 75% de seus genes em comum com os humanos, mas também a galinha e o ouriço-do-mar, a Drosophila, o verme cilíndrico, a levedura e certas plantas compartilham respectivamente 60, 50, 40, 30 e 20% de seus genes com os humanos. DICA As sequências conservadas são sequências similares ou idênticas em ácidos nucleico ou proteína por meio das espécies (sequências ortólogas) ou dentro de um genoma (sequências parálogas). Conservação indica que uma sequência foi mantida por seleção natural. Uma sequência altamente conservada é aquela que permaneceu relativamente inalterada desde muito tempo atrás na árvore filogenética, e, portanto, muito longe no tempo geológico. Exemplos de sequências altamente conservadas incluem componentes do ribossomos presentes em todos os domínios da vida, as sequências homeobox difundidas entre eucariotas. Uma vez, que o código genético é degenerado; assim são as sequências parecidas das proteínas codificadas pelo gene que definem se ele é ou não conservado quando essas sequências são comparadas entre diversos organismos. O número de genes que codificam para atividades biológicas básicas, como a replicação do DNA, a transcrição e a tradução tende a ser similar entre as espécies, mesmo quando os genomas possuem tamanho diferente, o que sugere que tais https://pt.wikipedia.org/wiki/Sequ%C3%AAncia_biol%C3%B3gica https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cido_nucleico https://pt.wikipedia.org/wiki/Homologia_(biologia) https://pt.wikipedia.org/wiki/Genoma https://pt.wikipedia.org/wiki/Homologia_(biologia) https://pt.wikipedia.org/wiki/Homologia_(biologia) https://pt.wikipedia.org/wiki/Sele%C3%A7%C3%A3o_natural https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rvore_filogen%C3%A9tica https://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_de_tempo_geol%C3%B3gico https://pt.wikipedia.org/wiki/Ribossomo Genética Humana 41 funções são codificadas por um conjunto básico de genes que não varia entre as espécies. Em contrapartida, o número de genes que participam da biossíntese, metabolismo de energia, transporte e funções reguladoras difere entre as espécies, tendendo a ser maior nas espécies com genomas maiores. DEFINIÇÃO Genes conservados, e que são derivados de um mesmo gene num organismo ancestral, são denominados genes ortólogos. Quanto à organização dos genes codificadores de proteínas em eucarioto seguem 1)densidade gênica muito variável; 2) regiões cromossômicas com baixa densidade gênica, principalmente no genoma humano (aproximadamente, 20% de seu total); 3) íntrons (relacionado com o tamanho do genoma; 4) Sequências repetitivas (maior em genomas extensos); 5) uma ordem do genoma ancestral comum e pelo fato da ordem gênica não ter sido alterada por fatores evolutivos (Colinearidade ou sintenia entre genomas relacionados); 6) duplicações de segmentos e famílias multigênicas. SAIBA MAIS Entre os humanos, alguns cromossomos têm alta densidade de genes, como o cromossomo 22 (1 gene/64 kb), enquanto outros a têm baixa, como o cromossomo 13 (1 gene/155 kb). Um único gene do genoma humano pode possuir mais de 100 íntrons; e sequencias repetitivas equivalente a aproximadamente 50%. Genética Humana42 Genes ocorrem a partir da duplicação de genes ancestral, representando 4% do genoma e; seu papel é importante na evolução, dando origem a novos genes, muitas vezes com novas funções. As famílias multigênicas representam grupos de genes relacionados evolutivamente a partir de um gene ancestral, como as famílias da α-globina e da β-globina, que formam a superfamília de globina da hemoglobina humana. Devido ao grande conjunto de organismo sequenciado atualmente, quando uma nova espécie é sequenciada, já é possível estabelecer a função de uma boa parte dos genes desse genoma. Uma vez, que já sabemos informações de genes conservados. Plasticidade e fluxo genômico O processo de plasticidade e fluxo genômico é um tema de relevância acadêmica e comercial, principalmente a partir do sequenciamento do genoma por meio da técnica de Sanger e os sequenciadores de segunda e terceira geração. Geneticistas e biólogos moleculares descobriram que grande da parte da diversidade genética pode ser consequência de uma variedade de mecanismos e fenômenos celulares. Os Elementos Genéticos Móveis (EGMs) estão presentes em grande número, em praticamente todas as formas de vidas conhecidas; sendo considerado um dos principais agentes responsáveis pela diversidade e variação genética, podendo inclusive contribuir como mediadores da adaptação a novos nichos. Os elementostransponíveis podem transpor de um local do genoma para outro, e podem inserir uma cópia dele para um novo sítio. Os eventos de transposição são necessários para a evolução dos genomas, uma das hipóteses é que, poderiam influenciar o mecanismo de splicing (embaralhamento de éxons), modificando à estrutura éxon/íntron dos genes eucarióticos. A partir desse Genética Humana 43 embaralhamento, podem ser criados novos genes em decorrência da nova localização de partes de genes existentes. A Transferência horizontal ou lateral de genes ocorre quando um ou mais genes passam de uma espécie para outra. O termo horizontal significa à transmissão de alelos entre espécies na mesma geração. E a transmissão vertical, refere-se àquela a que os alelos são transmitidos na mesma espécie e de uma geração para a seguinte. As sequências de DNA não codificadoras envolvem: elementos estruturais dos cromossomos (centrômeros, telômeros, origens de replicação entre outros), sequências intergênicas, íntrons de genes codificadores de proteínas, sequências cis-reguladoras com atuação nos níveis de DNA e RNA (promotores, reforçadores e elementos reguladores das regiões 5 e 3′ não traduzidas), genes de RNA não codificador, pseudogenes e sequências repetitivas. A presença de splicing alternativo (encadeamento alternativo) aumenta na mesma proporção em que aumenta a complexidade do organismo, sendo provável que esse mecanismo tenha contribuído para a evolução da complexidade deste; e possa acarretar evoluções futuras. Quando o fenômeno é defeituoso pode provocar vários tipos de câncer e doenças congênitas. As consequências da exclusão de um único éxon podem ser danosas para um organismo. A deleção ou remoção de éxons responde por, aproximadamente, 40% desse tipo de processamento genético em humanos. Um modo de usar o encadeamento alternativo em terapia é induzindo as células a incluírem um éxon que normalmente seria deletado, como já́ foi realizado com células humanas em cultura, para corrigir defeitos nos genes BRCA1 (breast cancer 1), envolvido no câncer de mama, e SMN2 (atrofia muscular espinal), ligado à atrofia muscular espinal. Em espécies altamente diversas como a nossa, há determinadas variações entre os genomas em que, um Genética Humana44 determinado gene de um indivíduo, pode ter um nucleotídeo citocina “C” em uma posição e outra pessoa apresentar um nucleotídeo timina “T” nesta mesma posição de um gene. Se essa diferença for polimórfica e isso significa que deve estar presente em pelo menos 1% dos indivíduos do grupo que se analisa, essas mudanças são denominadas de SNPs. Na sigla em inglês, o SNP significa Single Nucleotide Polymorphism ou polimorfismo de um único nucleotídeo. Os polimorfismos são importantes de ser catalogados porque muitos deles podem causar ou predispor a doenças; e é interessante que o indivíduo tenha um diagnóstico cada vez mais precoce das doenças que ele possa vir a ter. SAIBA MAIS Doença conhecida como Anemia falciforme consiste exatamente em uma mudança de bases, de um adenina “A” para timina“T no gene da cadeia beta da hemoglobina que causa uma mutação do aminoácido ácido glutâmico para valina na sexta posição desta cadeia. Essa mutação faz com que a hemoglobina do anêmico tenha formas distorcidas e não carreguem eficientemente o oxigênio através do sangue. O exemplo mais conhecido de elementos SINE (Short Intersed Elements) é a sequência Alu, presente na espécie humana e nos primatas. Estima-se que estejam presentes em um milhão e 500 mil cópias no genoma humano, totalizando cerca de 10% do genoma. É possível que a origem dos elementos Alu esteja relacionada à retrotransposição do RNA 7SL. Com base nessa hipótese, podemos afirmar que Alu é um tipo de pseudogene processado, pois seria um pseudogene modificado da sequência que transcrevem o RNA 7SL. A variabilidade das populações Genética Humana 45 humanas tem sido estudada em relação aos polimorfismos de inserção de sequências Alu. Como várias dessas inserções são recentes na história dos humanos, nem todas estão presentes em uma dada posição em todos os seres humanos, caracterizando, portanto, polimorfismos na nossa espécie. Apenas uma pequena parte do genoma de organismos complexos codifica proteínas, a outra grande parte dos RNAs transcritos compõem o chamado RNA não codificador (ncRNA). Estes estão associados à regulação de vários processos celulares como splincing alternativo, a edição do RNA, o silenciamento gênico, a compensação de dose, a impressão genômica, a metilação do DNA e a formação da heterocromatina. Alguns tipos de RNA não codificador, como o RNA telomerásico (envolvido na síntese dos telômeros cromossômicos) e outros pequenos RNAs, possuem níveis de expressão relativamente constantes, desempenham papéis estruturais ou catalíticos necessários para a viabilidade celular e, por isso, podem ser chamados RNAs não codificadores constitutivos. Os ncRNA são o RNA de interferência (RNAi) e microRNAs (miRNAs). Este vem sendo usado em estudos genômicos funcionais, na produção de modelos animais e em aplicações terapêuticas por empresas farmacêuticas que buscam alvos promissores para novos medicamentos. Além disso, as empresas de biotecnologia consideram que o silenciamento de um gene pelo RNAi poderia ser uma terapia viável no tratamento do câncer e de infecções virais. Os microRNAs (miRNAs) e os siRNAs possuem muitas semelhanças, diferenciando- se fundamentalmente em sua biogênese. E atuam por vias relacionadas na diferenciação da retina em camundongos, no desenvolvimento craniofacial e dentário em mamíferos e na proteção contra o estresse celular, cuja alteração está relacionada com o desenvolvimento de psoríase em humanos. No mesmo ano da criação do PGH foi criado o Projeto Epigenoma Humano (PEH), cujo objetivo é identificar, catalogar Genética Humana46 e interpretar a importância gênica dos padrões de metilação em todos os genes, na maioria dos tecidos (estudos de epigenética). O ncRNA assim como o íntron, complexos proteicos e epigenéticos, formam uma rede de regulação gênicas que podem conter os segredos da complexidade dos organismos. Outras questões éticas vêm surgindo, à medida que os conhecimentos relativos ao nosso genoma aumentam. Escolha das características genéticas dos seus filhos, discriminação baseada na constituição genética dos indivíduos suscetíveis a doença genética pelos planos de saúde, até que ponto uma pessoa quer conhecer sua constituição genética, entre outras. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o Projeto Genoma Humano (PGH) é um projeto público internacional criado para desenvolver mapas genéticos e físicos detalhados do genoma humano, bem como conhecer toda a sua sequência de nucleotídeos; iniciado em 1990. A genômica comparativa é área da genômica dedicada à comparação entre genomas de organismos diversos, quanto ao tamanho do genoma, ao número, a função e a organização de genes, as relações evolutivas, a evolução de genes e genomas e outros aspectos, evidenciando suas semelhanças e diferenças. A análise do transcritoma permiti identificar a variação da expressão gênica em diferentes situações. Já a proteômica fornece informações sobre estrutura, localização e função das proteínas, suas interações com outras proteínas, ácidos nucleicos e metabolitos e modificações pós- traducionais. A genômica junto com as demais “ômicas” ajudam a explicar a complexidade de nossa identidade única. Genética Humana 47 Base genética do câncer OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender a definição e a base genética associada ao câncer. O que acontece com a proliferação celular de uma célula normal e uma doente. E saber quais os fatores ambientais que já foramassociados a câncer. Então vamos lá. Avante! Definição de câncer DEFINIÇÃO O câncer é um conjunto de doenças complexas que se diferenciam, conforme o tipo celular do qual se originam. As doenças que constituem o câncer variam em sua idade de início, velocidade de desenvolvimento, capacidade invasiva e em seu prognóstico e capacidade de resposta ao tratamento. Contudo, em nível molecular, todos os tipos de câncer mostram características comuns, que os reúnem em uma classe ampla de doenças. Todos os cânceres evidenciam duas características principais: a proliferação celular descontrolada; identificado por crescimento e divisão celulares anormais. E as metástases, um processo que permite que as células cancerosas se disseminem e invadam outras partes do corpo. Nas células normais, a Genética Humana48 proliferação e a invasão são controladas por genes que se expressam em ocasiões e locais apropriados. Diferente das doenças cromossômicas, monogênicas e multifatoriais, cuja anormalidade genética se encontra no DNA de todas as células do organismo (inclusive os gametas) e podem ser transmitidas de geração para geração. O câncer é uma doença genética das células somáticas, originando-se geralmente de mutações em genes que controlam a multiplicação celular somática. O acúmulo dessas mutações torna o câncer uma doença genética comum entre os humanos. As células normais apresentam uma regulação controlada do seu crescimento. A passagem para um crescimento celular desregulado chama-se neoplasia e o conjunto de células resultantes é denominado neoplasma ou tumor. É comum, entretanto, o uso do termo “neoplasia” como sinônimo de neoplasma ou tumor. Os tumores podem ser benignos ou malignos. Os benignos não se espalham entre tecidos adjacentes, nem formam metástases, mas podem causar problemas por pressão mecânica. Os tumores malignos mostram crescimento desregulado, podem se espalhar tanto para os tecidos vizinhos, quanto por metástases, formando um novo foco tumoral. Os principais tipos de tumores classificam-se em carcinomas (tecido epitelial), sarcomas (tecido conectivo), linfomas (tecido linfático), gliomas (células gliais do sistema nervoso central - SNC) e leucemias (órgãos hematopoiéticos). Os cânceres mais prevalentes são derivados de populações celulares que se dividem ativamente, por exemplo, de células epiteliais do intestino, pulmão ou próstata. Já, as formas mais raras de câncer desenvolvem-se a partir de populações de células que geralmente não se dividem, por exemplo, células musculares ou nervosas diferenciadas. Genética Humana 49 SAIBA MAIS A denominação dos tumores deriva, geralmente, dos tecidos que os originam. Por exemplo, miomas e adenomas são tumores benignos de músculos e glândulas, respectivamente. O carcinoma ovariano e o sarcoma osteogênico são neoplasmas malignos do epitélio ovariano e do tecido ósseo. No mundo, entre 100 e 350 em cada grupo de 100 mil pessoas morrem de câncer a cada ano. Mas apesar, da taxa de mortalidade por câncer ainda seja alta, houve enorme progresso na detecção e no tratamento de diferentes tipos de câncer. Base genética do câncer Existem duas classes de genes que constituem apenas uma pequena proporção do genoma inteiro, mas têm papéis importantes no desenvolvimento do câncer (proliferação celular descontrolada). A função normal desses genes é manter a sequência de eventos pelos quais uma célula cresce e se divide (ciclo celular). Esses genes são os proto-oncogenes que regulam o crescimento celular e a diferenciação normal, e os genes supressores de tumor (ou antioncogenes) que regulam o crescimento anormal, inibindo-o. Genética Humana50 Proto-oncogenes e oncogenes DEFINIÇÃO O oncogene é uma versão alterada do gene normal, denominado de proto-oncogene. Os proto-oncogenes não teriam sido mantidos no genoma se não tivessem um papel vital no metabolismo celular normal. Os oncogenes são genes dominantes no nível celular que codificam proteínas estimuladoras do crescimento, as quais contribuem para o descontrole da divisão celular e o fenótipo maligno da célula. Derivam, portanto, de genes celulares normais expressos sob uma forma alterada e atuam sinergicamente, nenhum deles sozinho causando câncer. A maioria dos oncogenes não apresenta mutações na linhagem germinativa que originem síndromes de câncer familiar. Exceção são as proteínas dos genes RB1 (Retinoblastoma 1) e TP53 (proteína de tumor), designadas como pRB e p53, respectivamente. O gene que codifica a ciclina D1, por exemplo, está mais expresso em certos tumores, dentre eles os de mama, bexiga, pulmão e esôfago. Nas células cancerosas, a amplificação do DNA cria múltiplas cópias do gene CCND1, elevando a ciclina D1 a níveis, que podem contribuir para uma entrada descontrolada na fase de Síntese no ciclo celular. Genética Humana 51 SAIBA MAIS Em células eucarióticas, o ciclo celular é dividido em 3 fases principais: Intérfase, na qual ocorre crescimento da célula e preparo para a divisão propriamente dita (G1, S e G2); Fase mitótica (Fase M), na qual ocorrerá a separação dos cromossomos da célula-mãe e Citocinese, erros nesses processos podem acarretar na morte celular ou no desenvolvimento de células tumorais. Na Tabela 2 estão expostos alguns ocongenes. Em certos tumores de paratireoide e nos linfomas de células B, o gene CCND1 (Protein Coding, Cyclin D1) é afetado por alterações cromossômicas, como as translocações, expressando-se anormalmente. Da mesma forma, acontece no gene CCNE (cyclin E) envolvido em leucemias e em tumores de mama e colo. O gene EGFR, que codifica o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR), está amplificado em 35 a 50% dos astrocitomas malignos (espécie de tumor cerebral), em 20% dos glioblastomas (outro tipo de tumor cerebral) e em 10 a 30% dos melanomas e cânceres de mama, ovário, cabeça e pescoço. O gene FGFR, do receptor do fator de crescimento fibroblástico (FGFR), está mais expresso em cerca de 20% dos tumores de mama. A atividade de MDM2 (Mouse double minute 2 homolog) é equivalente, em seu efeito, à inativação do gene TP53 (protein called tumor protein p53). A expressão aumentada do gene MDM2 é encontrada principalmente em tumores de tecido adiposo, sarcomas de tecidos moles, osteossarcomas e carcinomas esofágicos. Células cancerosas apresentam Genética Humana52 níveis altos de telomerase ativa, que ajudam a protegê-las da senescência, tornando-as, assim, imortais. A Tabela 2 apresenta os principais oncogenes que alteram o controle do ciclo celular e suas consequências. Tabela 2: Oncogenes, produto e origem Oncogene Produto oncogênico Origem ABL1 Tirosinoquinase Leucemia de camundongo ARAF1 Serino/treoninoquin Sarcoma de camundongo BCL2 Proteína da membrana mitocondrial, que impede a eficiência da apoptose Linfoma/leucemia de células β BRAF Fator citoplasmático de transdução de sinal Sarcoma de camundongo CRK Ativador de tirosinoquinase Sarcoma de ave ERBB2 Receptor de fator de crescimento Leucemia eritroblástica de ave ETS1 Fator de transcrição nuclear Eritroblastose de ave ETS2 Fator de transcrição nuclear Eritroblastose de ave FES Tirosinoquinase Sarcoma de gato FGF4 Fator de crescimento fibroblástico FGR Tirosinoquinase Tirosinoquinase Sarcoma de gato FMS Tirosinoquinase; receptor de fator de crescimento Sarcoma de gato FOS Fator de transcrição nuclear Osteossarcoma de camundongo HRAS Proteína ligadora de GTP (proteína G) Sarcoma de rato; eritroleucemia JUN Fator de transcrição nuclear Fibrossarcoma de galinha KIT Tirosinoquinase Sarcoma de gato Genética Humana 53 KRAS Proteína ligadora de GTP (proteína G) Sarcoma de rato; eritroleucemia LMYC Fator de transcrição nuclear Mielocitomatose de ave MET Receptor de fator de crescimento do hepatócito MOS Serino/treoninoquinase Sarcoma de camundongo MYB Fator de transcrição nuclear Mieloblastose de galinha MYC Fator de transcriçãonuclear Mielocitomatose de galinha MYCN Fator de transcrição nuclear Mielocitomatose de ave; neuroblastoma; Ca de pulmão NRAS Proteína ligadora de GTP (proteína G) Neuroblastoma NTRK1 Receptor de fator de crescimento neurotrófico PDGFB Polipeptídeo β do fator de crescimento plaquetário Sarcoma de macaco RAF1 Serino/treoninoquinase Leucemia de camundongo REL Proteína nuclear Reticuloendoteliose de ave RET Receptor de fator de crescimento Neoplasia endócrina múltipla ROS1 Tirosinoquinase Sarcoma de ave SEA Receptor de fator de crescimento Eritroblastose de ave SKI Proteína nuclear Sarcoma de ave SRC Tirosinoquinase Sarcoma de Rous (galinha) THRA Receptor do hormônio tireóideo α 1 Leucemia eritroblástica de ave THRB Receptor do hormônio tireóideo β Leucemia eritroblástica de ave YES Tirosinoquinase Sarcoma viral Yamagushi Genética Humana54 Tabela 3: Oncogenes e genes supressores de tumor que alteram a regulação do ciclo celular e consequências Oncogenes Alteração gênica Consequência BCL2 Superexpressão devida a translocação Bloqueia a apoptose próxima a um forte reforçador CDK4 Amplificação Promove entrada na fase S CDK4 Mutação Resistência à inibição pela p16; promove entrada na fase S CCND1 Amplificação ou superexpressão Promove entrada na fase S EGFR Amplificação Promove a proliferação celular por ativação da via do EGFR FGFR Amplificação Promove a proliferação celular por ativação da via do FGFR MDM2 Amplificação Mimetiza a perda da p53 com a perda de função dos pontos de controle de G1/S, S e G2/M RAS Amplificação Promove a proliferação celular por transmissão do sinal de crescimento RAS Mutação Inativa a GTPase; ativa a via do GFR TERT Superexpressão Células não entram em senescência Genética Humana 55 Genes supressores de tumor Alteração Consequência BAX Mutação Falha na promoção da apoptose de células danificadas BUB1 Mutação Perda da função do ponto de controle da formação do fuso CDH1 Mutação Perda da inibição por contato; invasão dos tecidos e metástases CDKN1A Mutação Perda das funções dos pontos de controle de G1/S e S TP53 Mutação Perda das funções dos pontos de controle de G1/S, S e G2/M RB1 Mutação Promove a proliferação celular; liberação do fator de transcrição E2 BCL2=B-cell cll/lymphoma 2; DK4=cyclin-dependent kinase 4; CCND1=cyclin D1; EGFR = receptor do fator de crescimento epidérmico; FGFR =receptor do fator de crescimento fibroblástico; MDM2=MDM2 protooncogene; HRAS=hras protooncogene, GTPase; TERT=telomerase reverse transcriptase; BAX= bcl2-associated x protein; BUB1=bub1 mitotic checkpoint serine/threonine kinase; CDH1=cadherin 1; CDKN1A=cyclin-dependent kinase inhibitor 1A; TP53=tumor protein p53; RB1= Retinoblastoma. Fonte: Modificada de Strachan et. al, 2013 https://www.omim.org/entry/151430?search=151430&highlight=151430 https://www.omim.org/entry/123829?search=123829&highlight=123829 https://www.omim.org/entry/168461?search=168461&highlight=168461 https://www.omim.org/entry/164785?search=164785&highlight=164785 https://www.omim.org/entry/164785?search=164785&highlight=164785 https://www.omim.org/entry/190020?search=190020&highlight=190020 https://www.omim.org/entry/187270?search=187270&highlight=187270 https://www.omim.org/entry/187270?search=187270&highlight=187270 https://www.omim.org/entry/600040?search=600040&highlight=600040 https://www.omim.org/entry/602452?search=602452&highlight=602452 https://www.omim.org/entry/602452?search=602452&highlight=602452 https://www.omim.org/entry/192090?search=192090&highlight=192090 https://www.omim.org/entry/116899?search=116899&highlight=116899 https://www.omim.org/entry/191170?search=191170&highlight=191170 https://www.omim.org/entry/180200?search=180200&highlight=180200 Genética Humana56 SAIBA MAIS Os genes protetores regulam diretamente o ciclo celular. São genes de suscetibilidade para câncer. Como exemplos, os genes RB1 (Protein Coding, RB Transcriptional Corepressor 1), TP53, WT (Wild type) e APC (Polipose adenomatosa coli). Sendo esse último associado a câncer colorretal poliposo hereditário e câncer colorretal não poliposo hereditário. Entre as doenças humanas, cujo falhas do reparo do DNA está envolvido, se encontra o xeroderma pigmentoso, uma rara condição autossômica recessiva que inclui grande susceptibilidade a câncer da pele e sensibilidade extrema à luz solar. As pessoas com essa doença também apresentam forte predisposição ao câncer de pele, com uma incidência variando de 1.000 a 2.000 vezes que a encontrada nas pessoas não acometidas. Outra doença é uma forma hereditária de câncer de cólon, o câncer de cólon não poliposo (HNPCC). Esse é um dos cânceres de cólon hereditários mais comuns (15%). Ainda te Anemia Falciforme, Síndrome de Werner entre outras. A Síndrome de Bloom corresponde pela deficiência de crescimento pré e pós-natal, baixa estatura, fotossensibilidade, telangiectasia entre outras. Os homens são estéreis, as mulheres têm fertilidade reduzida e curta duração do período reprodutivo. A doença é causada por mutações no gene BLM, localizado no cromossomo 15q26.1, e o defeito genético no sistema de reparo do DNA é devido a mutações no gene RECQL3, pertencente à família gênica das DNA-helicases, que auxiliam o desenrolamento da dupla-hélice do DNA, durante sua replicação. Genética Humana 57 Proliferação celular As células do câncer se dividem rápida e continuamente, criando tumores que comprimem as células normais e acabam desviando os nutrientes de tecidos saudáveis. As células de um tumor avançado podem se separar do tumor e se deslocar para locais distantes no corpo; onde se implantam e desenvolvem novos tumores; onde estabelecem tumores secundários (metástase). Mesmo não estando entre um dos países com a maior taxa de mortalidade em decorrência do câncer, no Brasil, esta é a segunda maior causa de mortes chegando a 13% e ficando atrás apenas das mortes causadas por problemas circulatórios como diabetes, infarto, hipertensão, e outras. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até o ano de 2030, 27 milhões de pessoas serão acometidas por essa doença. Fatores de risco como o sobrepeso, dieta com pouca ou nenhuma ingestão de frutas e legumes, sedentarismo, tabagismo e alcoolismo expõe cada vez mais pessoas ao risco de desenvolver vários tipos de câncer que poderiam ser evitados. Segundo dados do INCA, o Instituto Nacional de Câncer, no Brasil, o tipo de câncer mais comum é o de pele não melanoma, mas por ser um tipo de baixa letalidade, não figura entre os maiores causadores de morte. Entre os homens, o câncer mais comum é o de próstata, seguido pelo de pulmão, cólon e reto, estômago, cavidade oral, laringe e bexiga. Já entre as mulheres os tipos mais comuns são os de mama, colo do útero, cólon e reto, glândula tireoide, pulmão, estômago e ovário. Cânceres comuns No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma). A próstata é uma glândula que só o sexo masculino possui e que se localiza na parte baixa do abdômen, produz parte do sêmen, http://www.dicasdemulher.com.br/assunto/cancer http://www.dicasdemulher.com.br/assunto/diabetes Genética Humana58 líquido espesso que contém os espermatozoides, liberado durante o ato sexual. É considerado um câncer da terceira idade, devido acometer cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, sofrer metástase e levar à morte. A maioria, contudo, cresce de forma tão lenta, levando cerca de 15 anos para atingir 1 cm³; que não chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem. E as principais causas são má alimentação, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, uso de anabolizantes, obesidade e fatores genéticos. O câncer de pulmão é o segundo mais comum em homens e mulheres no Brasil (sem contar o câncer de pele não melanoma). É o primeiroem todo o mundo desde 1985, tanto em incidência quanto em mortalidade. Cerca de 13% de todos os casos novos de câncer são de pulmão. O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão. Os sintomas geralmente não ocorrem até que o câncer esteja avançado. Mutações em diferentes genes, como TP53, RB1, FHIT (fragile histidine triad gene), EGFR, KRAS, BRAF, ERBB2, MET, STK11(serine/threonine protein kinase 11) e PARK2 (parkin), a amplificação e a deleção de vários genes, bem como o gene de fusão ALK/EML4 (anaplastic lymphoma kinase), estão associados ao câncer de pulmão. O câncer colorretal atinge a região do intestino grosso e do reto. Os principais sintomas são diarreia, prisão de ventre, gases, dor na região do abdômen, náuseas, vômitos e emagrecimento geralmente só no estágio mais avançados. E pode estar associado ao consumo exagerado de bebida alcoólica, de carne vermelha, de alimentos processados, tabagismo e sedentarismo são os fatores principais para o desenvolvimento desse tipo de câncer, que envolve o intestino grosso e o reto. Na maior parte dos casos a doença tem cura, se for diagnóstico precocemente. O câncer de estômago é a segunda causa de morte por câncer no mundo entre homens e mulheres. O principal fator de risco é https://www.omim.org/entry/601153?search=601153&highlight=601153 https://www.omim.org/entry/602216?search=602216&highlight=602216 https://www.omim.org/entry/602216?search=602216&highlight=602216 https://www.omim.org/entry/105590?search=105590&highlight=105590 https://www.omim.org/entry/105590?search=105590&highlight=105590 Genética Humana 59 o contato com a bactéria H. pylori. Essa bactéria é responsável por até 53% dos casos. Outros fatores que podem desencadear a doença são de origens ambientais, comportamentais e genéticos. Uma alimentação saudável rica em frutas e verduras que possuem vitaminas C, E e betacaroteno contribuem para uma diminuição das incidências. O câncer na glândula tireoide acomete mais mulheres que homens, e isto deve estar associado a fatores hormonais. Fatores ambientais, alimentos que fazem parte da dieta e questões genéticas também podem estar ligados ao desenvolvimento da doença. O câncer de mama o mais comum entre as mulheres de todo o mundo; não tem somente uma causa. A idade é um dos principais fatores de risco para a doença (cerca de quatro em cada cinco casos ocorrem após os 50 anos). Outros são o histórico menstrual de mulheres que tiveram a menstruação antes dos 12 anos e entraram na menopausa após os 55 anos, além de obesidade, gravidez tardia e o histórico familiar. Formas de redução dos riscos incluem dieta saudável, prática de exercícios e amamentação, mas a melhor maneira de prevenir é fazendo o autoexame. Depois dos 20 anos, a mulher deve fazer o autoexame da mama mensalmente e com o médico pelo menos a cada 3 anos. Após os 40, a consulta com o médico deve ser anual. Um diagnóstico precoce aumenta as chances de cura e diminui a necessidade de intervenções cirúrgicas. Grande parte dos casos de câncer de mama hereditário resulta de mutações germinativas nos genes supressores de tumor BRCA1 e BRCA2 (genes supressores de tumor), sendo que as mulheres que herdam alelos mutantes de BRCA1 apresentam, além do câncer de mama, frequência elevada de câncer no ovário. O vírus HPV é o principal fator de risco para o câncer do colo do útero. Além dos fatores genéticos e tabagismo. Depois do câncer de pele, este é o que possui maiores chances de prevenção e cura. A detecção pode ser feita através do exame de http://www.dicasdemulher.com.br/assunto/menopausa http://www.dicasdemulher.com.br/assunto/amamentacao Genética Humana60 papanicolau. A doença se manifesta entre os 20 e 29 anos, mas também existe o risco para mulheres na faixa entre 50 e 60 anos. O câncer de pele melanoma tem alta frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país; contudo o melanoma representa apenas 3% das neoplasias malignas do órgão. Possui grande importância, devido à sua alta possibilidade de provocar metástase. As leucemias são neoplasias do tecido hematopoiético, com acúmulo ou multiplicação irregular de células leucêmicas, originadas de uma linhagem celular pluripotente, que substituem progressivamente as células normais e se infiltram na maioria dos tecidos. Podem resultar de mutações somáticas, muitas das quais consistindo em alterações cromossômicas características (translocações e inversões) nas células da medula óssea. SAIBA MAIS Os proto-oncogenes são genes que controlam as funções celulares normais; quando sofrem mutação, se tornam oncogenes que estimulam a proliferação celular. Eles tendem a ter ação dominante. Os genes supressores de tumor inibem a proliferação celular; quando sofrem mutação, permitem a proliferação celular. Os genes supressores de tumor podem ter ação recessiva. Organismos heterozigotos para os genes supressores de tumor são, geralmente, predispostos para o câncer. Genética Humana 61 Fatores ambientais e o câncer O meio ambiente é responsável por 80% dos casos de câncer e diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, entre eles o efeito do fumo, dieta, obesidade, álcool e radiação Ultra Violeta. Substâncias químicas, como benzeno (usado como solvente industrial), benzo[a]pireno (encontrado no cigarro) e bifenis policlorados (PCBs, usados em transformadores industriais e capacitores) também estão envolvidas. A maioria dos fatores ambientais associados com câncer causa mutações somáticas que estimulam a divisão celular ou influenciam o processo celular normal. Desvendando-se os mecanismos básicos de funcionamento dos genes, cria-se uma perspectiva revolucionária no tratamento das neoplasias. Seu princípio é a reposição de um gene mutante por uma cópia correta, restaurando o funcionamento celular normal e alterando terapeuticamente o fenótipo maligno. Com base nas classes de genes participantes no desenvolvimento das neoplasias, as terapias genéticas podem ser divididas em três grupos Terapia de supressão do gene tumoral (TSGT), objetivando matar a célula ou alterar seu padrão de crescimento, comportamento, capacidade de invasão e disseminação metastática, terapia do gene suicida, que consiste na transdução de um gene que transforma uma pró-droga atóxica em uma substância tóxica. E Terapia genética imunomoduladora, que consiste em um método para induzir uma resposta imune contra as lesões metastáticas. A alimentação está sendo estudada como um fator de risco para o câncer. Alguns estudos mostram que as frutas e vegetais sem amido podem proteger contra os cânceres de boca, esôfago e estômago. Os alimentos que contêm níveis significativos e nitritos e nitratos (picles, salsichas, embutidos e outros tipos de enlatados) são responsáveis pelos altos índices de câncer de estômago. Os defumados e os churrascos devido à presença do alcatrão (da fumaça do carvão), a mesma substância encontrada Genética Humana62 na fumaça do cigarro, também tem ação carcinogênica. Os alimentos preservados em sal (carne-de-sol, charque e peixes salgados) também estão relacionados ao desenvolvimento de câncer de estômago. Portanto, observe a quantidade de sódio nas tabelas nutricionais dos produtos antes de comprá-los. O consumo de álcool também pode aumentar o risco de câncer de fígado e câncer colorretal principalmente em mulheres. O uso combinado de álcool e tabaco aumenta o risco de câncer de faringe e a laringe supraglótica. Envolvido também nos cânceres de fígado, reto e, possivelmente, mama. Pesquisar tem demonstrado que o tipo de bebida (cerveja, vinho, cachaça, entre outros) é indiferente. A obesidade também é um fator de risco para o câncer da vesícula biliar. Os indivíduos que adoram se expor ao sol de forma prolongada e frequente, por atividades profissionais e/ou de lazer, formam um grupode maior risco de contrair câncer de pele, principalmente se a for pele clara. Assim, não importa a ocasião, use chapéus, guarda-sóis, óculos escuros e filtros solares para se proteger. É necessário evitar a exposição em horários em que os raios ultravioletas são mais intensos, ou seja, das 10 às 16 horas. Estudos mostram uma forte relação entre atividade física e um menor risco de câncer colorretal. Alguns estudos mostram que a atividade física protege contra o câncer de mama na pós menopausa e contra o câncer de endométrio. Beber água com grandes quantidades de arsênico está associado aos cânceres de pele, bexiga e pulmão. Genética Humana 63 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o câncer pode ser definido como um grupo de doenças complexas, com comportamentos diferentes, conforme o tipo celular do qual se originam. As principais características que diferem as células cancerosas das células normais são: crescimento e multiplicação descontrolados; perda da inibição por contato; perda da afinidade celular específica; falha nos genes do fator de crescimento; insensibilidade aos sinais externos de interrupção do crescimento; resistência à apoptose entre outros. Os genes cujas mutações causam o câncer se classificam em duas categorias: os proto-oncogenes, que controlam o crescimento e a diferenciação celular normal, mas, se ativados, transformam-se em oncogenes, e os genes supressores de tumor, que são os genes protetores e de manutenção, que inibem o crescimento celular anormal, reparam danos do DNA e mantêm a estabilidade genômica. As síndromes de câncer hereditário são defeitos genéticas cujas neoplasias malignas parecem se aglomerar em certas famílias. O diagnóstico e a terapia do câncer vêm recebendo resultados promissores. Genética Humana64 Terapia Gênica OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender os principais conceitos da Terapia Gênica, estudos experimentais e as perspectivas da terapia genética. Então vamos lá. Avante! Conceitos de terapias genéticas A terapia gênica é uma ferramenta que usa a tecnologia de genética molecular no tratamento de doenças. Essa consiste em inserir uma cópia ativa (normal) de determinado gene nas células de um indivíduo que tem alelos mutado desse gene. Assim, o gene inserido pode amenizar os efeitos do gene defeituosos. O contexto da terapia é amplo, com potencial para tratar doenças causadas por desordens em genes recessivos (fibrose cística, hemofilia, distrofia muscular e anemia falciforme), doenças genéticas adquiridas como câncer, e determinadas infecções virais, como AIDS. Entre as técnicas mais amplamente utilizadas está a do DNA recombinante, na qual a cópia normal do gene é inserida em um vetor (plasmídio, nanoestruturado ou viral) e por eles introduzi-lo no paciente. O vetor viral é o mais utilizado, por sua eficiência em invadir células e nelas introduzir seu material genético. Mas há desvantagens. A terapia gênica ainda obtém resultados dúbios. No caso da fibrose cística (distúrbio respiratório grave), introduzindo cópias do gene normal nas células pulmonares, não conseguiu o resultado esperado. Melhores resultados foram encontrados em tratamentos em distúrbios do sistema imune e de células do Genética Humana 65 sangue com a introdução de genes normais utilizando técnicas com células da medula óssea. Contudo, mesmo com o número crescente de estudos clínicos para terapia gênica, é preciso aperfeiçoamento da técnica; existem barreiras para transferir genes exógenos para as células humanas, conseguir que um o gene seja expresso e limitar as respostas imunológicas aos produtos dos genes e aos vetores. Portanto, não é biologicamente simples. Fármacos de origem gênica estão sendo desenvolvidos; e já existe um grupo de terapias direcionadas ao câncer. Esses medicamentos inibem a atividade dos produtos de oncogenes envolvidos no desenvolvimento dos tumores. O anticorpo monoclonal é um dos fármacos no tratamento do câncer de mama, causando a morte das células doentes. Quando administrado com outros quimioterápicos, reduz a recorrência do câncer e aumenta a sobrevida dos pacientes, em comparação ao tratamento apenas com quimioterapia. SAIBA MAIS A terapia gênica pesquisada em sua maior parte se concentra apenas em células somáticas, chamada de terapia gênica somática; oferecendo benefícios para os pacientes, contudo não afeta os genes das futuras gerações. A terapia que envolve as células reprodutivas, ou linhagem celular é tecnicamente possível, contudo, existem questões éticas a ser debatidas. Genética Humana66 Requerimentos básicos para Terapia Gênica Hoje há várias modalidades de tratamentos genéticos disponíveis. Até pouco tempo atrás, no entanto, a maioria dos tratamentos fornecidos por médicos geneticistas se consistia em aconselhamento e tratamentos sintomáticos. O tratamento dos erros inatos do metabolismo envolve ajuste na dieta, fórmulas especializadas e suplementação com vitaminas/cofatores. As novas modalidades de tratamento vêm se desenvolvendo para doenças não metabólicas: biofármacos, tratamento como estratégias de medicina personalizada, clonagem de tecidos, terapia gênica e correção gênica. Os requerimentos para terapia gênica efetiva estão destacados na Tabela 4. Em geral, três tipos básicos de informação precisam estar disponíveis e compreendidos: a natureza da mutação envolvida, o tipo de função que o gene exerce e um método efetivo de transferência gênica (vetor). Tabela 4: Requerimentos para a terapia gênica Expressão gênica suficientemente entendida Possibilidade de transferência de genes para as células Patogênese da doença suficientemente entendida Tecnologia de recombinação genética Gene alvo clonado Gene alvo identificado Expressão suficiente e apropriada do gene no momento apropriado Expressão suficiente e adequada do gene para o período de tempo adequado Célula(s)-alvo conhecida Fonte: Strachan, T. (2013) Genética Humana 67 SAIBA MAIS A clonagem pode ser usada em diferentes níveis; por exemplo a clonagem de uma sequência específica de DNA pode ser utilizada para obter material para pesquisas posteriores. Estes esforços possuem grande potencial para tratamentos médicos. Biofármico O primeiro medicamento produzido em massa utilizando a engenharia genética foi a insulina humana formada a partir de bactérias Escherichia coli alteradas, em 1982. O desenvolvimento destes medicamentos aumentou enormemente o tratamento para muitos distúrbios. Atualmente, as pessoas são tratadas com insulina sintética em vez de extraí-la de animais (década de 1970). A deficiência de hormônio do crescimento humano (Growth Hormone Deficiency, GHD) foi descoberta na década de 1920. Estratégias iniciais utilizavam GH extraído de bovino, o que levou ao diagnóstico de encefalite (“Mal da vaca Louca”). Na década de 1950, começaram os primeiros tratamentos com GH extraído da pituitária humana (cadáver). Atualmente, há várias companhias que produzem o hormônio hGH por engenharia genética. É importante ressaltar que muitos ensaios clínicos com terapia gênica são positivos, mas mesmo diante de limitações, pesquisas com terapia gênica continuam a avançar. Veja exemplos de ensaios clínicos em andamento na Tabela 5. Genética Humana68 Tabela 5: Ensaios clínicos com terapia gênica Deficiência de adenosina desaminase AIDS/HIV Câncer Doença arterial coronariana Fibrose cística Distrofia muscular de Duchenne Deficiência de hormônio do crescimento Hemoglobinopatias Hemofilia B Hipercolesterolemia Erros inatos do metabolismo (múltiplos) Doença de Parkinson Fonte: Strachan, T. (2013) Terapia Gênica em seres humanos Existem 6.000 doenças humanas hereditárias catalogadas e poucas são tratáveis, atualmente. Poucaspartes são tratadas com biofármicos, como é o caso da insulina a diabéticos. Os pré-requisitos para esse tipo de tratamento são ausência do metabólito, o medicamento deve ser uma pequena molécula que pode ser distribuída pelo sistema circulatório para os tecidos apropriados, ou em casos que é possível controlar os sintomas por modificação da alimentação. Outra parte dessas doenças hereditárias podem ser tratadas por meio da terapia gênica, uma metodologia promissora de tratamento entre outras terapias. Um transgene é um gene ou material genético transferido entre dois organismos por via natural ou por técnicas de engenharia genética. E diz transgênico, o organismo que contém um ou mais genes transferidos artificialmente de outra espécie. Quando a terapia gênica é eficaz, o transgene sintetiza o produto gênico ausente e restaura o fenótipo normal do paciente. Genética Humana 69 PASSO A PASSO Todos os protocolos atuais e passados de terapia gênica de células somáticas são procedimentos de acréscimo de genes. Apenas acrescentam cópias funcionais do gene anômalo (mutado) do paciente aos genomas das células receptoras. Eles não substituem o gene anômalo por um gene funcional. E sim, os genes introduzidos são inseridos em sítios aleatórios nos cromossomos das células hospedeiras. O protocolo a ser alcançado no futuro é substituir o gene anômalo (mutado) por um gene funcional. A terapia gênica humana é efetuada de acordo com diretrizes rigorosas contida no National Institutes of Health (NIH). Cada procedimento proposto de terapia gênica é fiscalizado minuciosamente por comissões de revisão de âmbito local (instituição ou centro médico) e, nacional (NIH). Portanto, é preciso cumprir exigências para a aprovação de um procedimento de terapia gênica. Entre elas: 1. O gene tem de ser clonado e bem caracterizado, isto é, deve estar disponível na forma “normal”; 2. É preciso que haja um método eficaz de administração do gene ao(s) tecido(s) ou às células alvos; 3. Os riscos da terapia gênica para o paciente devem ter sido avaliados com rigor e ser comprovada; 4. Não pode haver outros métodos de tratamento da doença; 5. Deve haver dados de experimentos preliminares com modelos animais ou células humanas, que têm de indicar que a terapia gênica proposta provavelmente será eficaz. A proposta de uma terapia gênica não será aprovada pelas comissões de revisão local e nacional até que as exigências estejam convencidas do cumprimento de todas as condições citadas anteriormente. Genética Humana70 Terapia gênica: Genes O primeiro tratamento por terapia gênica em seres humanos ocorreu em 1989, quando uma menina de 4 anos com imunodeficiência combinada grave por deficiência de adenosina desaminase (ADA- SCID) recebeu o transgene. A SCID (imunodeficiência combinada grave) é uma doença autossômica rara do sistema imune e pode levar a morte. Crianças afetadas pelas diversas formas de SCID (ibidem) têm baixíssima resistência a infecções e, se não forem tratadas, morrem em geral antes dos seis meses de idade. A terapia gênica dessa paciente, bem como a realizada a partir de 1991 em um segundo paciente de nove anos de idade, teve resultados positivos. A partir do final de abril de 2008, foram também divulgados os primeiros resultados de ensaios clínicos de fase I/II para tratamento da amaurose congênita de Leber (abreviada LCA, do inglês Leber’s congenital amaurosis). A LCA é uma doença que provoca cegueira progressiva, algumas de causa genética já bem conhecida, como a deficiência da RPE65, uma enzima necessária para produzir o derivado de vitamina A. A maioria dos ensaios clínicos de terapia gênica tem sido aplicado em estudos de câncer, em pacientes em estágios avançados. O efeito desejável de qualquer tratamento para o câncer é o de provocar a morte seletiva das células tumorais. No caso de tumores sólidos, como tumores originados no sistema nervoso central, isso é possível mediante terapia gênica localizada. Estratégias vêm sendo desenvolvidas nesse sentido. Genética Humana 71 Tabela 6: Genes e estratégias para terapias de tumores do sistema nervoso central Estratégia Exemplos Funcionamento Genes suicidas: indução de morte celular programada seletiva das células tumorais HSV_TK (timidina cinase de herpesvírus) Bloqueio da síntese di DNA quando na presença de uma pró- droga Vírus oncolítico com replicação condicional HSV-1 Onyx- 015 Replicação somente e células em divisão ou tumorais. Indução de apotose FasL, TraiL Ativação da Apoptose Ligantes de alta afinidade Receptor de transferrina Endereçamento específico de drogas ao tumor Estratégia corretiva P53, Rb, p16, PTEN Correção dos genes eleminados nos tumores Terapia gênica imunitária Interleucinas, interferons, TNF-α Ativação da resposta imune antitumoral Supressão da angiogênese Angiostatina, endostatina Bloqueio do crescimento de novos vasos sanguíneos RNA de interferência VEGF, EGFR, IGFR Redução da expressão de Oncongenes Combinação com terapia celular Células-tronco neurais ou mesenquimais como produtoras de vetores virais Produção continuada e localizada dos vetores virais Fonte: Adaptada de Linden & Lenz (2007) Genética Humana72 SAIBA MAIS O procedimento apelidado de “técnica de genes suicidas” consiste em introduzir nas células tumorais um gene que não existe no genoma humano e codifica a enzima timidina cinase, proveniente do genoma do herpesvírus. A presença dessa enzima em uma célula humana mata a célula na presença de uma droga chamada ganciclovir, pois a timidina cinase transforma o ganciclovir em uma toxina. A toxina, por sua vez, só afeta células que se multiplicam.’ Embora a eficácia da tecnologia para tratamento de tumores seja ainda controversa, alguns estudos obtiveram resultados animadores. Dentre eles, um ensaio clínico de fase I/II na Finlândia, da ressecção de tumores extremamente agressivos do sistema nervoso central, denominados glioblastomas. Algumas doenças neurodegenerativas estão no grupo de experimentos clínicos, como a doença de Parkinson (DP). A DP é caracterizada por perda progressiva de neurônios na parte compacta da substância negra do mesencéfalo e alterações funcionais em outros núcleos do tronco cerebral, acompanhada da formação de inclusões intracelulares denominadas corpos de Lewy. Estratégias de terapia gênica para tratamento da doença de Parkinson incluem a indução da produção local de dopamina no estriado, a oferta de fatores neurotróficos para reduzir a perda progressiva de neurônios dopaminérgicos ou, ainda, a compensação do desequilíbrio funcional na rede de comunicação celular dos núcleos da base. Genética Humana 73 Terapia gênica: Futuro Os ensaios clínicos de terapia gênica são encerrados, quando é identificado alguns efeitos adversos, evitando risco de agravamento. Em muitos casos, o procedimento usado foi considerado seguro, ou com efeitos adversos, discretos e toleráveis. A habilidade de fazer modificações pontuais no genoma humano tem sido alvo de pesquisas desde o conhecimento do DNA. E no futuro, é esperado que as substituições gênicas dirigidas sejam o método de escolha para terapia gênica de diferentes doenças. As terapias gênicas são procedimentos recentes que ainda se encontram em fase experimental; utilizando testes em modelos e ensaios pré-clínicos. Essas pesquisas validam a eficácia de uma estratégia terapêutica, bem como permitem detectar potenciais riscos a seres humanos, analisando modificações dos vetores e outros componentes que possam diminuir a segurança para uso humano. Processo de terapia Embora vários protocolos de terapia gênica sejam bem- sucedidos, o processo é complexo. E várias técnicas necessitam de revisão ou mais estudos. Na Tabela 7, são apresentados alguns protocolos, aprovados e publicados para uso clínico, exemplificando a doença, o alvo e o tipo do vetor empregado.Vetores possuem um papel importante para o avanço da terapia gênica no sentido da aplicação à prática médica. Cresce, contudo, a expectativa de utilização de vetores virais mais seguros, como os vetores derivados de vírus adenoassociado. Genética Humana74 IMPORTANTE As principais dificuldades enfrentadas nas pesquisas de terapia gênica são: eficiência da transferência; duração da expressão; segurança do procedimento; reação imunitária. O vetor ideal é o inserido no paciente e que não induz reações alérgicas ou processo inflamatório, nem aumente as funções normais, ou influencie nas deficiências ou atividades deletérias. Ainda, deve ser seguro não somente para o paciente, mas também para o meio ambiente. Finalizando, o vetor deve ser capaz de expressar o gene, por toda a vida do paciente. Os vetores comumente usados incluem retrovírus, adenovírus e vírus adeno-associados geneticamente modificados. SAIBA MAIS Cada técnica de introdução de material genético exógeno difere entre si e depende do tipo de aplicação proposto. Algumas são mais eficientes, outras mais aptas a carrear genes grandes (>10kB) e integrar-se ao genoma, permitindo uma expressão permanente. Genética Humana 75 Tabela 7: Protocolos de terapia gênica Doença Objetivo Células-alvo Modo de liberação Países com o protocolo Deficiência de adenosina deami- nase Substituição da deficiência de adenosina deaminase Sangue Retrovírus Itália, Holan- da e Estados Unidos Deficiência de α 1-antitripsina Substituição de α 1-anti- tripsina Epitélio respiratório Lipossoma Estados Uni- dos AIDS Inativação do antígeno de apresentação do HIV Sangue e medula Retrovírus Estados Uni- dos Câncer Aprimoramen- to da função imune Sangue, medula e tumor Retrovírus, lipossoma, eletroporação e transferên- cia mediada por células Áustria, China, França, Alemanha, Itália, Holan- da e Estados Unidos Câncer Remoção tumora Tumor Retrovírus, DNA não complexado, transferência mediada por células Estados Uni- dos Câncer Quimioprote-ção Sangue e medula Retrovírus Estados Uni- dos Câncer Marcação de células-tronco Sangue, medula e tumor Retrovírus Canadá, França, Suécia e Estados Unidos Fibrose cística Substituição enzimática Epitélio respiratório Adenovírus e lipossoma Inglaterra e Estados Uni- dos Hipercolesterole- mia familiar Substituição de receptores lipoprotéticos de baixa den- sidade Fígado Retrovírus Estados Uni-dos Genética Humana76 Anemia de Fan- coni Liberação do gene de com- plemento C Sangue e medula Retrovírus Estados Uni- dos Doença de Gau- cher Substituição da glucocere- brosidase Sangue e medula Retrovírus Estados Uni- dos Hemofilia B Substituição do fator IX Fibroblas- tos da pele Retrovírus China Artrite reuma- toide Liberação de citocina Membrana sinovial Retrovírus Estados Uni- dos Fonte: Gonçalves, A. R. G. e Paiva, R. M. A. (2017) Tabela 8: Vetores usados na terapia gênica Vetor Vantagens Desvantagens Retrovírus Transferência eficiente Transfere DNA apenas para as células em divisão, insere aleatoriamente o risco de produzir vírus do tipo selvagem Adenovírus Transfere para células que não estão em divisão Provoca reação imunológica Vírus associado ao adenovírus Não provoca reação imunológica Mantém pequena quantidade de DNA, difícil processar Herpes-vírus Pode ser inserido em células do sistema nervoso, não provoca reação imunológica Difícil produzir em grandes quantidades Lentivírus Pode acomodar genes maiores Questões de segurança Lipossomos e outros vetores revestidos de lipídio Sem replicação, não estimula reação imunológica Baixa eficiência Genética Humana 77 Injeção direta Sem replicação, direcionado para tecidos específicos Baixa eficiência, não trabalha bem dentro de alguns tecidos Tratamento de pressão Seguro, porque os tecidos são tratados fora do corpo e então transplantados para o paciente Mais eficiente com pequenas moléculas de DNA Gene gun (DNA revestido com pequenas partículas de ouro e disparado para o tecido) Sem necessidade de vetor Baixa eficiência Fonte: Pierce, B. A. (2017) Portanto, o balanço dos efeitos dos ensaios clínicos de terapia gênica mostra que o processo está em desenvolvimento. E a terapia gênica de células somáticas é propícia para o tratamento de muitas doenças humanas hereditárias. Atualmente, a ascensão das técnicas biotecnológicas promove o aprimoramento da terapia gênica, como para outros tratamentos como células-tronco pluripotentes induzidas em pacientes portadores de doenças genéticas; imunoterapia com células T do receptor do antígeno quimera; e edição genômica pelo sistema CRISPR/Cas9 (sistema Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats/ Associated Proteins). Genética Humana78 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. A terapia gênica é o acréscimo de uma cópia normal de um gene ao genoma de um paciente que tem cópias anômalas (mutados) do gene. Ela foi implantada com sucesso em 1990 e hoje é usada para tratar doenças genéticas, câncer e doenças infecciosas. Os resultados dos testes de DNA para genes mutantes associados a doenças hereditárias permitem que os conselheiros genéticos informem às famílias sobre a doença. A terapia gênica de células somáticas está em estágio experimental para o tratamento de muitas doenças humanas hereditárias; no entanto, os resultados obtidos até hoje são ambíguos. Genética Humana 79 REFERÊNCIAS ALBERTS B, JOHNSON A, LEWIS J, RAFF M, ROBERTS K, WALTER P. Molecular Biology of the Cell. 4th edition, New York: Garland Science, 2002. BEIGUELMAN, Bernardo. Genética de Populações Humanas. Ribeirão Preto: SBG, 2008. 235p. Disponível em: https://bit. ly/363YROv. Acesso em: 20 out. 2020. BORGES-OSÓRIO, M.R. e ROBINSON, W.M. Genética Humana. 2 Ed. 2001, Artmed. ELHUSNY, A. S; FERNANDES-CALDATO, M. C. Erros Inatos do Metabolismo: Revisão de literatura. Revista Paraense de Medicina. 20 (2). 2006. 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STRACHAN, T.; Read, A. Genética Molecular Humana. 4aEd. Porto Alegre: Artmed Editora LTDA. 2013. ZAHA A, FERREIRA HB, PASSAGLIA LMP. Biologia Molecular Básica. 3ª edição, Porto Alegre: Mercado Aberto, 2003. Padrões de Genealogia Mendelianos Mendel: regras da herança Cruzamentos monoíbrido: os princípios da dominância e da segregação Métodos simples de notação Como prever os resultados dos cruzamentos genéticos Segunda Lei de Mendel Genética de populações Aplicações de Genética de populações Estimativa das Frequências Alélicas A lei de Hardy-Weinberg Demonstração da Lei de Hardy-Weinberg Determinação das frequências alélicas e genotípicas em populações em equilíbrio Genes codominantes Dominância completa (quando não se conhece a frequência dos heterozigotos) Equilíbriode Hardy-Weinberg Estrutura dos ácidos nucleicos e replicação do DNA Estrutura dos ácidos nucleicos Estrutura química dos ácidos nucléicos Estrutura molecular Replicação do DNA Genética e evolução Teoria da evolução Teoria da evolução no século XXI Níveis de análise genética Construção das árvores filogenéticas Evolução no Brasil Célula e cromossomos Células Células Eucarióticas Morfologia e classificação dos cromossomos Cromossomo na interfase Cromossomo metafásicos Técnicas para o estudo dos cromossomos humanos Mitose e Meiose Ciclo Celular Controle do ciclo celular Mitose Prófase Metáfase Meiose Meiose I Prófase I Zigóteno Paquíteno Diplóteno Diacinese Anáfase I Telófase I Meiose II Prófase II Metáfase II Anáfase II Telófase II Gametogênese Variação no Número, na Estrutura dos Cromossomos e Anomalias Morfologia e classificação dos cromossomos Notação cromossômica Alterações Numéricas Alterações estruturais Consequências clínicas Herança Monogênica Conceitos gerais Construção de genealogias Tipos de herança Herança autossômica Herança autossômica dominante Herança autossômica recessiva Herança ligada ao sexo Exemplos de doenças recessivas ligadas ao sexo Herança dominante ligada ao sexo Exemplos de doenças dominantes ligadas ao X Tipos especiais de herança monogênica Alelos múltiplos Codominância Herança mitocondrial Transcrição e processamento de RNA Tipos de RNA Transcrição e Processamento do RNA Transcrito Primário Processamento de RNA Splicing do RNA Caps de 7-metilguanosina Poliadenilação 3’ Tradução e Código Genético Introdução: Proteínas Padrões Estruturais fundamentais Organização Estrutural das Proteínas Código genético RNA transportador RNA Ribossomal Síntese de Proteína Processamento pós-traducional Regulação da expressão gênica em eucariotos Conceitos gerais Regulação da Expressão Gênica em Eucariotos Regulação do remodelamento da cromatina Regulação da transcrição Promotores Fatores de Transcrição Regulação pós-transcricional da expressão gênica Regulação da tradução Erros Inatos do Metabolismo Conceitos gerais Classificação Manifestações clínicas e tratamento Mutações Base molecular das mutações Mutações espontâneas Mutações induzidas Substâncias químicas Agentes mutagênicos físicos Reparo do DNA _Hlk27304483 _Hlk27250031 _Hlk27254288 _Hlk53937623 _Hlk53937755 _Hlk53937849 _Hlk53938097 _Hlk53933669 _Hlk53938842 _Hlk53933703 _Hlk53938489 _Hlk53938647 _Hlk27294594 _Hlk53934967 _Hlk53935552 _Hlk53935505 _Hlk53934093 _Hlk53934929 _Hlk53934403 _Hlk53934760 _Hlk53934581 _Hlk53935979 _Hlk53937177 _Hlk53937067 _GoBack _Hlk54280583 _Hlk54280639 _Hlk54280617 _Hlk54280701 _Hlk27311210 _Hlk27323858 _Hlk27320989 _GoBack _Hlk27324659 _Hlk27323933 _Hlk27325626 Imunogenética e grupos sanguíneos Conceitos Antígenos Anticorpos Células e moléculas que participam das respostas imunes Competência imunológica Tolerância imunológica Sistemas de grupos sanguíneos eritrocitários Sistema de grupos sanguíneos ABO Sistemas de grupos sanguíneos eritrocitários Sistema de grupos sanguíneos MNSs Resposta imune inata Resposta imune adquirida Genômica Sequenciamento Genômico Sequenciamento Genômica comparativa Genes Plasticidade e fluxo genômico Base genética do câncer Definição de câncer Base genética do câncer Proto-oncogenes e oncogenes Proliferação celular Cânceres comuns Fatores ambientais e o câncer Terapia Gênica Conceitos de terapias genéticas Requerimentos básicos para Terapia Gênica Biofármico Terapia Gênica em seres humanos Terapia gênica: Genes Terapia gênica: Futuro Processo de terapia