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O público e as multidões - Gabriel Tarde

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O público e as multidões, Gabriel Tarde
Objetivos do capítulo
Apresentar de onde procede o público, como ele nasce, como se desenvolve; suas
variedades; suas relações com seus dirigentes; suas relações com a multidão, com
as corporações, com os Estados; sua força para o bem ou para o mal e suas
maneiras de sentir ou de agir: eles o que nos propomos pesquisar neste estudo.
Público
"Uma coletividade puramente espiritual, como uma dispersão de indivíduos
fisicamente separados e entre os quais existe uma coesão inteiramente mental".
A relação que se estabelece num público consiste assim, numa relação social e
espiritual, bem mais avançada do que a formação de uma multidão.
O que marca esta passagem?
O público só pôde começar a nascer após o primeiro grande desenvolvimento -
invenção da imprensa, no século XVI.
O transporte da força a distância não é nada, comparado a esse transporte do
pensamento a distância.
O pensamento a distância pode se dar, por exemplo, com a leitura cotidiana e
simultânea de um mesmo livro (Bíblia, jornais). O que gera na massa uniforme de
seus leitores a sensação de formar um corpo social novo.
No século XVIII, esse público cresce rapidamente e se fragmenta, tornando-se
demasiado grande para poder se conhecer pessoalmente, percebendo que os
vínculos de uma certa solidariedade entre eles se estabeleciam por
comunicações impessoais de uma frequência e de uma regularidade suficiente.
O que caracteriza 1789, o que o passado jamais havia visto, é esse pulular de
jornais, avidamente devorados, que eclodem na época.
Três invenções mutuamente auxiliares tipografia, estrada de ferro, telégrafo o
formidável poder da imprensa, esse prodigioso telefone que ampliou
desmesuradamente a antiga audiência dos tribunos dos pregadores.
Multidão
Agrupamento mais natural, está mais submetida às forças da natureza; depende
da chuva ou do bom tempo, do calor ou do frio; ela é mais frequente no verão do
que no inverno.
“[...] as multidões se assemelham todas por certos traços; sua intolerância
prodigiosa, seu orgulho grotesco, sua suscetibilidade nascida da ilusão da
onipotência e a perda total do sentimento mutuamente exaltado. Entre a
execração e a adoração, entre o horror e entusiasmo, entre os gritos de vida e
morte, não há meio-termo para uma multidão”.
Multidão - Precisa de contato físico, do olhar/voz, para uma ação de conjunto.
Público - Pode-se pertencer ao mesmo tempo, e de fato sempre se pertence
simultaneamente, a vários públicos como a várias corporações ou seitas; mas só
se pode pertencer a uma única multidão de cada vez.
- Daí a Intolerância bem maior para com as multidões e, por conseguinte, para
com as nações onde domina o espírita das multidões, porque nelas o indivíduo é
tomado por inteiro, irresistivelmente arrastado por uma força sem contrapeso. E
daí também a vantagem associada à substituição gradual das multidões pelos
públicos, transformação que sempre é acompanhada de um progresso na
tolerância, quando não no ceticismo.
É verdade que de um público super excitado, como acontece com frequência,
irrompem às vezes multidões fanáticas que percorrem as ruas gritando viva ou
morte a qualquer coisa. Nesse sentido, o público poderia ser definido como uma
multidão virtual. Mas essa recaída do público na multidão, embora perigosa ao
mais alto grau, é afinal bastante rara; e, sem examinarmos se essas multidões
nascidas de um público não seriam, apesar de tudo, um pouco menos brutais que
as multidões anteriores a todo público, fica evidente que a oposição de dois
públicos, sempre prontos a se fundirem em suas fronteiras indecisas, é um perigo
bem menor para a paz social do que encontro de duas multidões opostas.
Público
Agrupamento de uma ordem superior, não se submete a tais variações caprichos
do meio físico, da estação ou mesmo do clima.
A marca da raça é bem menos profunda sobre o público do que sobre a multidão.
• O publicista exerce sobre seu público, embora muito menos intensa num
instante dado, é bem mais poderosa, por sua continuidade, que o impulso breve
e passageiro transmitido à multidão por seu condutor, além disso ela é
secundada, jamais combatida, pela influência bem menor que os membros de
um mesmo público exercem uns sobre os outros, graças à consciência da
identidade simultânea de suas idéias ou de suas tendências, de suas convicções
ou de suas paixões, cotidianamente atiçadas pelo mesmo fole de forja.
PUBLICISTA - Exemplo: Jornalista, influencer…
Ele sempre vai opinar em cima de uma ideia…
Tem influência sobre a forma em que vamos pensar…
A multidão, em geral, é muito menos homogênea que o público: não faltam
curiosos para fazê-la crescer, semi-adeptos que não tardam a ser
momentaneamente ganhos e assimilados, mas que não deixam de tornar penosa
uma direção comum desses elementos incoerentes.
A ação do publicista pode ser decisiva sobre seu público, a dupla seleção, a dupla
adaptação que faz do público um grupo homogêneo, bem conhecido do escritor
e facilmente manejável permite-lhe agir com mais força e segurança.
Agrupamento não tem vínculo afetivo;
Grupo: Tem objetivos em comum; Tem vínculo afetivo.
- Macro (Movimentos de massa):
- Multidões;
- Público - Comunhão de ideias, noção de pertencimento, é isso
permite que eu esteja em vários públicos e conseguir olhar vários
aspectos de um assunto, flexibilidade..
- Micro
- Pequeno grupo.
"E de se temer o homem de um único livro, disseram; mas o que é ele
comparado a homem de um único jornal? É esse homem, no fundo, é cada um
de nós, ou pouco quase. Eis o perigo dos novos tempos. Longe de impedir,
portanto, que a ação do publicista seja finalmente decisiva sobre seu público, a
dupla seleção, a dupla adaptação que faz do público um grupo homogêneo,
bem conhecido do escritor e facilmente manejável permite-lhe agir com mais
força e segurança” (p. 19).
Na verdade, porém, todo jornal tem seu gancho, e esse gancho, cada vez mais em
destaque, fixa a atenção da totalidade dos leitores, hipnotizados por esse ponto
brilhante. No fundo, apesar da miscelânea de artigos, cada folha tem sua cor
própria, sua especialidade, seja pornográfica, seja difamatória, seja política ou
outra qualquer, à qual o restante é sacrificado e sobre o qual o público se lança
avidamente. Pegando-o por meio dessa isca, o jornalista o leva aonde quiser.
Isso significa que devemos abolir a imprensa oficial como fonte de informação?
NÃO, por favor NÃO!
Precisamos diversificar as fontes; Reconhecer a sua "digital"; Buscar várias
análises, não ser ingênuos.
A não neutralidade está presente na imprensa oficial (com muito mais controle
externo), nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp (com muito mais dificuldade
de ter controle externo).
*O público, afinal de contas, não é mais que uma espécie de clientela comercial,
mas uma espécie muito singular e que tende a eclipsar o gênero.
Ora, o simples fato de comprar os mesmos produtos em lojas da mesma ordem,
de vestir-se na mesma costureira ou no mesmo alfaiate, de frequentar o mesmo
restaurante, estabelece entre as pessoas de um mesmo mundo certo vínculo
social e supõe entre elas afinidades que esse vínculo estreita e acentua" (p. 20).
“'Essa transformação de todos os grupos em públicos exprime-se por uma
necessidade crescente de sociabilidade que torna imperiosa a comunicação
regular dos associados através de uma corrente contínua de informações e de
excitações comuns. Ela é portanto inevitável. E convém saber que consequências
tem ou terá, segundo todas as probabilidades, sobre os destinos dos grupos assim
transformados, do ponto de vista de sua duração, de sua solidez, de sua força, de
suas lutas ou de suas alianças." (p. 23).
"Ora, é a partir do momento em que os leitores de uma mesma folha deixam-se
ganhar pela idéia ou a paixão que a suscitou que compõem realmente um
público”
"Não é apenas o público religioso ou o público estético, um nascido das igrejas, o
outro das escolas de arte, que è movido por um credo e um ideal, é também o
público científico, a público filosófico,em suas múltiplas variedades, e inclusive o
público econômico, o qual, traduzindo apetites, os idealiza […]”
Assim, seja qual for a natureza dos grupos entre os quais se divide uma sociedade,
tenham eles um caráter religioso, econômico, político ou mesmo nacional, o
público é, de certo moda, seu estado final e, por assim dizer, sua denominação
comum; é a esse grupo inteiramente psicológico, de estado de espírito em
perpétua mutação que tudo se reduz”.
Gabriel Tarde propõe uma epistemologia eminentemente relacional.
"Não há existência fora da relação e não há relação som diferença” (varas, 2007).
Conceito de Epistemologia Eminente Relacional: Contrapõe a ideia de que
temos uma única identidade, reforça a ideia de que como eu organizo a
sociedade e os grupos a partir do público eu estou falando o tempo inteiro de um
grupo e de pessoas que vão se constituindo nessa relação com os grupos em que
participam. Se eu aposto nessa lógica, eu estou dizendo de um processo que é
contínuo, que se faz na relação com o outro…

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