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Fichamento Clientelismo e polícia no Brasil do século XIX GRAHAM, Richard Rio de Janeiro ed UFRJ,

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Fichamento: 
Clientelismo e polícia no Brasil do século XIX. GRAHAM, Richard. Rio de Janeiro: ed. UFRJ,
1997
1 - Fatores de Unidade
Os conceitos de casa e família afetavam profundamente a natureza da política. A importância dessas
instituições, como unidades básicas da ordem política, onde famílias e unidades domésticas aparecessem de várias formas, o ideal partilhado universalmente tomava como certo que fossem chefiadas por um homem. O pai exercia autoridade legal sobre toda a unidade doméstica, e a lei delegava a ele o direito de punir seus membros, fosse esposa, filho, criado ou escravo.
A lei considerava a propriedade dos filhos vivendo com a família, também independentemente de sua idade, como pertencente ao pai. Quando a Constituição proibiu que um adulto vivendo com o pai (filho-família) votasse, tentando com isso assegurar que cada família dispusesse de apenas um voto, reconheceu a autoridade paterna. As mulheres, ainda que maiores, solteiras ou viúvas, independência de vontade, eram consideradas como sexo frágil. O termo "pai de família" (paterfamilias) implicava não apenas cuidado, mas autoridade. O Estado dava proteção especial à família. A lei proibia uma pessoa de legar a maior parte de sua propriedade a qualquer um que não fosse da família, protegendo-a assim dos caprichos do interesse individual. Exceções a essa regra são indicativas: um filho podia ser deserdado por insultar publicamente o pai, ou uma filha por se casar sem o consentimento dele – a não ser que, ao fazê-lo, ela subisse de posição social.
As famílias representavam importante fonte de capital político. Naturalmente, como em outros lugares, elas dedicavam-se a aumentar sua propriedade, e, ao longo de várias gerações sucessivas, famílias bem-sucedidas acumularam recursos significativos. Os limites de uma família iam muito além do pai, da mãe e dos filhos. A proteção em troca de lealdade, imposta pelos vínculos familiares, estendia-se primeiramente a uma ampla gama de relacionamentos consangüíneos e, em seguida, a um número igualmente grande de ligações por meio de casamento. Ser padrinho, afilhado, compadre ou comadre no Brasil, como em outras culturas ibéricas, envolvia obrigações religiosas e materiais importantes, e portanto de influência e até mesmo de autoridade. Todos esses laços familiares implicavam obrigações mútuas de ajuda nas eleições ou na garantia de cargos no governo, de tal modo que, por extensão, muitas vezes alguém se referia de forma figurada a um protegido como afilhado, e a seu protetor como padrinho.
Quanto aos “Agregados”, muitas vezes os documentos descreviam uma pessoa livre como um "agregado à minha família" ou como um "morador nas minhas terras", abreviados na prática como agregado e morador. Um agregado ou morador dependia de outra pessoa, especialmente para ter casa, ou pelo menos um espaço onde viver e, mais importante, um lugar social. Podia até ser um membro da família, mesmo um parente respeitado, irmã ou irmão desprovidos de uma fonte de renda independente
Alguns chefes de família lideravam um grupo ainda maior composto de outros pais de família, que lhes deviam favores ou para os quais os primeiros podiam representar uma ameaça. "Os Sitiantes", dizia um contemporâneo, "vivem à sombra das grandes" famílias latifundiárias e escravocratas. Os pequenos sabiam que o caminho mais sábio era buscar a proteção dos mais poderosos. Comerciantes de pequenas cidades e proprietários de vendas rurais também dependiam dessas grandes famílias, pois mesmo quando membros destas deviam dinheiro a um comerciante, o eventual pagamento dependia da boa vontade do devedor, a não ser que o dono da loja encontrasse um magnata ainda mais poderoso para defender seus interesses.
Da família, membros da casa, agregados e outros dependentes, um fazendeiro formava seu séquito, ou clientela. Os clientes dependiam de seu chefe, e em retribuição ofereciam-lhe lealdade. Se o chefe de uma unidade doméstica exercesse com sucesso autoridade sobre seus membros, podia esperar que outras instituições do Estado reconhecessem a sua jurisdição; por conseguinte, em geral exigia obediência estrita dentro dos limites de seu domínio. O tamanho da clientela era a medida de um homem. A posse de vasta quantidade de terra e quando necessário, a propriedade de escravos, demonstrava sucesso e ajudava enormemente a ampliação do séquito de uma pessoa, mas o recurso crucial continuava sendo a lealdade de outros. O sistema fundiário, por exemplo, era um poderoso estímulo à prática do clientelismo. Sesmarias sobrepostas umas às outras, e os direitos tradicionais de posseiros, junto à virtual ausência de agrimensura, ou registros territoriais, criavam um sistema caótico de reivindicações potencialmente conflitantes, que sacrificava o fraco e premiava a força, fosse esta medida em riqueza, homens armados ou influência política
2 - Controle Social
O objetivo da ação política, das eleições e das nomeações para cargos públicos originava-se das diretrizes da organização social brasileira, duas em particular: primeira, prática e prédica. Infundiam constantemente a ideia de que todas as relações sociais consistiam de uma troca de proteção por lealdade, benefícios por obediência, e que a recalcitrância merecia punição; segunda, toda instituição servia virtualmente para acentuar a hierarquia social, insistindo em que para cada indivíduo havia um lugar bem determinado, embora a mais importante distinção fosse entre os ricos
e os pobres.
O paradigma familiar orientava as relações sociais entre lideranças e liderados, e em seu interior mesclavam-se força e benevolência. Obediência e lealdade compravam favores. Obediência e lealdade permitiam ao dependente escapar ao uso da força pelo patrão. Obediência e lealdade asseguravam assistência protetora e por conseguinte criavam uma importante defesa contra a força que outros possíveis líderes empregassem. A ameaça de punição e a promessa de benevolência descreviam as vidas de esposas e filhos, escravos, agregados, pequenos proprietários, comerciantes de vilas e outros seguidores do patrão,envolvendo-os numa poderosa rede de obrigações devidas e doações esperadas. Essas realidades também tingiam todas as outras relações de poder, sobretudo as francamente políticas. Essas técnicas de controle - premiar a obediência com benevolência e usar a força para punir a desobediência - foram elaboradas de modo específico para os escravos. O escravocrata, mais do que qualquer um, embora da mesma forma que todos aqueles que pertenciam às camadas superiores, enfrentava o problema fundamental de como fazer os outros agirem de acordo com a sua vontade e não segundo a deles mesmos. O senhor deve ser severo, justiceiro e humano". Sem dúvida os escravos domésticos, bem como os artesãos, desfrutavam de comida e roupas melhores do que os escravos da lavoura, e sobretudo tinham maiores possibilidades de serem libertados por serviços de excepcional lealdade; mas com igual facilidade podiam ser rebaixados ao trabalho agrícola. Tais relações entre senhores e escravos simplesmente exageravam os controles que os pais exerciam sobre suas famílias e unidades domésticas, e assim a família fornecia a linguagem da escravidão. A alforria dos escravos, por exemplo, estimulava o bom comportamento, pois comprovava que a lealdade e a obediência eram premiadas. A frequência com que os escravocratas outorgavam liberdade a escravos individualmente surpreendia os visitantes estrangeiros no século XIX, e a sociedade manifestava aprovação àqueles que o faziam. A proporção dos livres entre negros e mulatos no Brasil chegou a 74% em 1872, o que correspondia a 44% da população total-35. Mas a libertação dos escravos dependia de sinais de que aceitavam os valores daqueles que os emancipavam. Algumas vezes, eles alforriavam um escravo sob a condição específica de que continuasse trabalhando lealmente durante um certo número de anos, ou até a morte do dono, e a lei permitia que a alforria pudesse ser revogada em caso de ingratidão, como insultar o antigodono.
Para lidar com os pobres livres, a elite também contava com a ameaça de punição. A conscrição servia bem a este fim. O recrutamento forçado parecia uma resposta apropriada aos delitos considerados menores. A justificativa para a convocação podia residir no fato "ele nunca trabalha", ou é um homem "sem ofício". O Congresso tentou substituir o recrutamento forçado pelo sorteio, um membro da Sociedade Auxiliadora da Agricultura de Pernambuco observou que "antes da lei de recrutamento por sorteio, aqueles que não trabalhavam, e não tinham meio algum de vida, eram mandados para o exército; tendo-se extinto esse meio de corrigir os que não trabalham, muito necessário será [agora] uma lei que torne o trabalho obrigatório". O sorteio, contudo, tornou-se letra morta, e o recrutamento forçado continuou - sem dúvida com a mesma finalidade. Obediência e lealdade significavam antes de tudo trabalho, e os que desafiavam as regras terminavam recrutados. 
"Se o recrutamento [forçado] fosse aplicado às classes abastadas", se a repressão "recaísse sobre as pessoas gradas", esse sistema de arrolamento militar teria "voado pelos ares"41. Mas o recrutamento forçado continuou para os pobres, e servia de instrumento através do qual eles podiam ser controlados por seus superiores e até mesmo, como veremos, obrigados a votar conforme as ordens. Proteger os pobres do recrutamento forçado também significava formar uma clientela.
Nome: LUIZ CARLOS GONÇALVES DA SILVA; e
Mat: 122172484

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