Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
~ MECANICA DAS ROCHAS.~~ (Versão 3) Paulo Gustavo C. ·Lins Antonio Airton Bortolucci Tarcísio 8. Celestino Notas de aula da disàplina Mecânica das Rochas da Escola de Engenharia de São Carlos da USP e da Escola Politécnica da UFBA. Salvador, BA. São Carlos, SP. Julho.de 2006. SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO 1.1 - HISTÓRICO . 1.2 - RELAÇÃO COM OUTRAS DISCIPLINAS 1.3- MOTIVAÇÕES DO RÁPIDO DESENVOLVIMENTO 1.4 - O ÂMBITO DA MECÂNICA DAS ROCHAS ~ ~~ = ~6~~~~J~ ~~~gES EM MECÂNICA DAS ROCHAS 1. 7 - ASPECTOS PECULIARIARES DOS MACIÇOS ROCHOSOS 1.8 - CASOS HISTÓRICOS 1.9 - FONTES DE INFORMAÇÃO EM MECÂNICA DAS ROCHAS 2 - CARACTERIZAÇÃO DOS MACIÇOS ROCHOSOS 2.1 - INTRODUÇÃO 2.2 - DEFINIÇÕES 2.3 - DESCRIÇÃO DAS DESCONTINUIDADES 2.4 - TÉCNICAS DE PROSPECÇÃO 3 - ESCAVAÇÕES SUBTERRÂNEAS EM ROCHA 3.1 - INTRODUÇÃO 3.2 - MÉTODOS CONSTRUTIVOS 3.3 - COMPORTAMENTO DO MACIÇO 3.4 - DIMENSIONAMENTO DO SUPORTE 3.5 - INSTUMENTAÇÃO 4 - CLASSIFICAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS 4.1 - INTRODUÇÃO 4.2 - OS PRIMEIROS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO 4.3 - O SISTEMA RMR DE BIENIAWSKI 4.4 - O SISTEMA Q DE BARTON 5 - TENSÕES EM MACIÇOS ROCHOSOS 5.1 - INTRODUÇÃO 5.2 - DEFINIÇÕES 5.3 - TENSÕES NA TURAJS 5.4 - TENSÕES INDUZIDAS 5.5-DETERMINAÇÃO DE TENSÕES POR INSTRUMENTAÇÃO 6. DEFORMABILIDADE DOS MACIÇOS ROCHOSOS 6.1 -INTRODUÇÃO 6.2 - DEFINIÇÕES 6.3 - ENSAIOS DE LABORATÓRIO 6.4 - ENSAIOS DE CAMPO 6.5 - ENSAIOS SÍSMICOS .6 - ESTIMATIVAS DO MÓDULO DE DEFORMABILIDADE 89 go g2 g6 98 101 6. 7 - COMPORTAMENTO DEPENDENTE DO TEMPO 102 6.8- DEFORMABILIDADE DE DESCONTINUIDADES 104 7 - RESISTêNCIA DOS MACIÇOS ROCHOSOS 7.1 - INTRODUÇÃO 107 7.2- DEFINIÇÕES 107 7.3 - TIPOS DE RUPTURA EM ROCHA 112 7.4- ENSAIOS DE LABORATÓRIO 113 7.5-CRITÉRIOS DE RESISTtNCIA PARA ROCHAS 115 7.6-SOLICITAÇÃO TRIAXIAL EM ROCHAS FRATURADAS 121 8 - COMPORTAMENTO MECÂNICO DE DESCONTINUIDADES 8.1 - INTRODUÇÃO 125 8.2- COMPORTAMENTO DE DESCONTINUIDADES LISAS 127 8.3-COMPORTAMENTO DE DESCONTINUIDADES RUGOSAS 128 8.4 - DESCONTINUIDADES PREENCHIDAS 133 8.5 - INFLUtNCIA DA ÁGUA 133 9 - HIDRÁULICA DE MACIÇOS ROCHOSOS 9.1 - INTRODUÇÃO 135 9.2 - DEFINIÇÕES 137 9.3 - FLUXO EM UMA DESCONTINUIDADE 140 9.4 - FLUXO EM UM MACIÇO ROCHOSO 142 9.5 - ENSAIOS DE CAMPO 144 9.6 - TÉCNICAS DE MODELAGEM 145 10- ESTABILIDADE DE TALUDES EM ROCHA 10.1 - INTRODUÇÃO 148 10.2 - DEFINIÇÕES 149 10.3- PROBLEMA FUNDAMENTAL 150 10.4 - MODOS DE RUPTURA 152 10.5 - MÉTODOS PROBABILfSTICOS 158 Capítulo 1 INTRODUÇÃO 1.1 - HISTÓRICO Desde a remota antigüidade a rocha sempre desempenhou um papel importante na vida do ser humano. Cavernas serviam de abrigo, pedras eram instrumentos e armas, elevações rochosas eram escolhidas como local para construção de cidades mais protegidas de ataques, o próprio uso da rocha como material de construção é muito antigo (de MELLO & TEIXEIRA, 1966). Trabalhos subterrâneos de mineração já eram desenvolvidos na era pré-cristã, conhece-se o caso de uma galeria inclinada aberta, em 400 A.C., até uma profundidade de mais de 100m. Durante a Renascença, em 1556, Agricola descreveu em seu "De Re Metal11rgid' métodos relativos ao desenvolvimento de cavidades subterrâneas para mineração, tais métodos restringiam-se a máquinas rudimentares e eventualmente o uso do fogo para enfraquecimento da rocha a ser escavada (KANJI, 1976). A necessidade de um melhor conhecimento do comportamento dos maciços rochosos cresceu partir do século XIX com o advento da dinamite e a melhoria dos processos de perfuração que permitiram a realização de trabalhos de maior envergadura em rocha (KANJI, 1976). Tais obras consistiam principalmente de túneis ferroviários como o de S. Gotardo, com 15 km de extensão, construído entre 1872 e 1880, e onde durante a construção ocorreram cerca de 800 mortes, provocadas por problemas de higiene e falta de ventilação. Outra construção de destaque é o túnel ferroviário de Simplon, com 18 km de extensão, chegando a mais de 2.300 m abaixo do pico do Monte Leone e cuja execução demorou 8 anos, sendo aberto ao tráfego em 1906. Nesta obra descobriu-se que a temperatura da crosta terrestre aumenta com a profundidade cerca de 1 ºC por cada 30 a 45 m de profundidade, o conhecido grau geotérmico (de MELLO & TEIXEIRA, 1966). Por volta de 1920 importantes experiências nos túneis suíços de Amsteg e Ritan demonstraram a deformabilidade das rochas, que até então eram admitidas indeformáveis. Nesta época o geólogo suíço Albert Heim postulou o estado hidrostático de tensões nos maciços rochosos em profundidade. Em 1926, V. Schmidt e F. Fenner aplicaram o critério de resistência de Coulomb pela primeira vez em cálculos de estabilidade de túneis. Durante a 2.". Guerra Mundial tomaram impulso as obras hidroelétricas subterrâneas, desenvolveram-se ensaios de deformabilidade em galerias, para o dimensionamento de blindagem de túneis com pressão interna e casas de força subterrâneas de grandes dimensões (de MELLO & TEIXEIRA, 1966). Capítulo 1 - Introdução (Versão 3) 2 Dois eventos trágicos, os acidentes ocorridos nas Barragens de Malpasset em 1959 e Vajont em 1963, _ lev~ a um incremento na investigação do comportamento dos maciços rochosos. Naquele momento notou ser necessária uma melhor compreensão do comportamento dos maciços rochosos para a execução de obras com padrões de segurança e de economia aceitáveis. O estabelecimento da Mecânica das Rochas como uma especialidade ocorreu principalmente a partir da década de 1960. Sendo que a designação desse novo ramo da mecânica apareceu por volta de 1955. Um marco significativo foi a publicação das primeiras obras a sistematizar o conhecimento existente, o livro de J. A. Talobre intitulado "La Mécanique des Roches" editada em 1957, e o livro do Prof. L. Müller "Der Felsbau" em 1963. Os progressos alcançados na compreensão do comportamento dos maciços rochosos marcaram o início do fim da era da "experiência" (onde os indivíduos solucionavam problemas com critérios subjetivos e pessoais) passando para uma abordagem mais objetiva e racional. (ROCHA, 1981). É interessante observar que a Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas (ISRM) foi constituída em 1962 e teve seu primeiro congresso em Lisboa, em 1966. Este congresso marcou um passo decisivo na consagração da nova disciplina, tendo um papel destacado o Dr. Manoel Rocha do LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) em Lisboa, Portugal. A ISRM continua a organizar seus congressos a cada 4 anos. Atualmente a Mecânica das Rochas ainda é apresentada como disciplina isolada em poucos cursos de graduação no Brasil, sendo a presença da disciplina mais comum em programas de pós-graduação. No Brasil a disciplina foi ministrada em cursos de graduação pela primeira vez na década de 1960 na Escola de Engenharia de São Carlos da USP. 1.2 - RELAÇÃO COM OUTRAS DISCIPLINAS Tal qual acontece com outras disciplinas novas, a Mecânica das Rochas agregou e conferiu unidade a conhecimentos sobre maciços rochosos que existiam em outras disciplinas. Dentre estas disciplinas destacam-se: Mecânica dos Solos, Petrografia, Geologia (especialmente a Geologia de Engenharia), Teoria da Elasticidade, Teoria da Plasticidade, Reologia, Mecânica da Fratura, Mecânica do Contínuo, Métodos Numéricos e Hidráulica de Meios Porosos e Fraturados. · Três razões podem explicar o fato de a Mecânica das Rochas aparecer posteriormente à Mecânica dos Solos: 1) a alta complexidade dos fenômenos envolvidos; 2) as altas competências dos maciços rochosos; e 3) o fato das obras importantes em maciços rochosos terem sido precedidas por obras em maciços de solo. 1.3 - MOTIVAÇÕES DO RÁPIDO DESENVOLVIMENTO O rápido desenvolvimento da Mecânica das Rochas deve-se ao surgimento de importantes problemas na área e de conhecimentos e técnicas que pennitirarn a solução destes problemas. Dentro da Engenharia Civil destacam-se o crescimento das dimensões das obras e o conseqüenteaumento das solicitações que chegaram ao limite da resistência de alguns Capítulo 1 - Introdução (Versão 3) 3 maciços rochosos. No caso de obras subterrâneas, o aumento das dimensões e das profundidades também trouxe novos desafios. Na Engenharia de Minas preocupações de ordem econômica e segurança, além do aumento das profundidades atingidas pelas minas subterrâneas e das alturas dos taludes, são inspiradores do desenvolvimento da Mecânica das Rochas. A Engenharia de Petróleo tem contribuído para a dinamização da Mecânica das Rochas através da sua necessidade de executar economicamente e manter estáveis furos de grande profundidade, entre outras atividades. No campo das Geociências existe para a Mecânica das Rochas o desafio de entender os fenômenos de deformação e ruptura da crosta terrestre, além de investigar os fenômenos envolvidos na ocorrência de sismos. 1.4 - O ÂMBITO DA MECÂNICA DAS ROCHAS Para fins de Engenharia a distinção entre solo e rocha é realizada de forma não rigorosa. As rochas são, via de regra, materiais menos deformáveis e mais resistentes, não sendo questão de fundamental interesse definir uma fronteira clara entre um solo duro e uma rocha branda. A variação da deformabilidade e resistência destes materiais pode ser percebida na Tabela 1.1. Tabela 1.1- Faixa de variação de parâmetros de deformabilidade e resistência de diferentes solos e rochas (modificado de ROCHA, 1981). Material Módulo de Deformabilidade Coesão Ângulo de Atrito (GPa) (MPa) f) Areias 0,005 - 0,045 - 30- 40 Argilas 0,001 - 0,050 O- 0,25 30- 35 Argilitos e siltitos 0,4- 30 0,5 - 12 30- 55 Calcários 0,5 - 100 0,5 - 40 30- 50 Quartzitos 20-100 15- 30 45- 65 Granitos e gnaisses 0,4- 100 0,4- 25 35- 65 Xistos 0,4- 80 0,4- 20 30- 65 ROCHA (1981) apresenta um critério de distinção entre solos e rochas segundo o qual "os solos são os terrenos constituídos por partículas soltas ou agregadas de tal modo que se podem separar facilmente mediante agitação dentro d' água". É importante frisar o fato de que ao referido critério correspondem materiais que exibem propriedades tecnológicas muito diversas, em especial deformabilidade e resistência, que são as propriedades de maior interesse para o Engenheiro. O aspecto específico que levou a individualização da Mecânica dos Solos, em relação à Mecânica de outros materiais, foi a presença e a influência da água· nos seus interstícios. O que distinguiria então a Mecânica das Rochas seria a presença de descontinuidades no maciço. Para ROCHA (1981), a Mecânica das Rochas seria "a mecânica de um meio cortado por srtpeificies de descontinuidades". A presença de descontinuidades em maciços rochosos é uma das questões centrais em Mecânica das Rochas. Exige o tratamento de materiais intactos de comportamento complexo, interceptado por descontinuidades que delimitam blocos isolados. Isso no caso Capítulo 1- Introdução (Versão 3) 4 de descontinuidades extensas (quando comparadas à escala da obra), chamadas de descontinuidades persistentes. No caso de descontinuidades não persistentes, além dos comportamentos isolados do material e das descontinuidades, surge o problema de interação ~tre os dois. 1.5 - O PROJETO DE OBRAS EM ROCHAS Um projeto de Engenharia pode ser definido como uma atividade sócio-econômica, na qual, princípios científicos, de engenharia e comportamentais, em conjunto com informações técnicas e experimentais são aplicados, com habilidade, imaginação e senso crítico, na criação de dispositivos, processos e sistemas, economicamente viáveis, agradáveis esteticamente e ambientalmente aceitáveis, para o beneficio da sociedade. O processo de projetar engloba todas as atividades e eventos que podem ocorrer desde o reconhecimento da necessidade social ou oportunidade até sua especificação detalhada ou solução aceitável (BIENIA WSKI, 1989). BIENIA WSKI (1989) divide os estágios no processo de um projeto de Engenharia em: 1) Reconhecimento de uma necessidade. 2) Estabelecimento do proble~a, identificação dos objetivos e lançamento do projeto. 3) Coleta de informações. 4) Formulação conceitua! em acordo com os critérios de projeto: busca de um método, teoria, modelo ou hipóteses. 5) Análise dos componentes da solução. 6) Síntese para criação de soluções alternativas. 7) Valoração das idéias e da solução. 8) Otimização. 9) Comunicação. 10) Implementação. Todos os estágios estão sujeitos a uma retro-alimentação. Os métodos de projeto podem ser reunidos em três categorias, sendo usual aplicar os três tipos de métodos em uma mesma obra. As categorias de projeto são: 1) MÉTODOS ANAÚTICOS: o projeto é realizado baseado em resultados de técnicas de análises como as soluções analíticas fechadas, métodos numéricos, (MEF, :MDF, MEC, etc.), simulações analógicas (elétricas e fotoelásticas) e modelagem fisica. 2) MÉTODOS OBSERVACIONAIS: onde o comportamento da obra é inferido utilizando-se os resultados de instrumentação ou observação efetuados durante a construção. Embora considerado um método separado, é usado para verificar os resultados e as previsões dos outros métodos. Esta seria a abordagem do "projetar enquanto constrói" ("design as yo11 go"). 3) MÉTODOS EMPÍRICOS: utilizam-se estudos de obras anteriores para prever o comportamento de obras posteriores. Um exemplo clássico, em Mecânica das Rochas, são as classificações geomecânicas. Existe uma .nítida diferença entre o projeto de uma estrutura convencional (edificios, pontes ... ) e um projeto em rocha. Em um projeto convencional as cargas aplicadas são determinadas primeiro e o material é prescrito com as resistências e características de Capítulo 1- Introdução (Versão 3) 5 deformação apropriadas, seguindo a geometria estrutural selecionada. Na Mecânica das Rochas o projetista trabalha com maciços rochosos complexos, e as propriedades dos materiais não podem ser estabelecidas e muitas vezes só serão conhecidas em fases avançadas da construção. As cargas aplicadas à estrutura de suporte dependerão não só das tensões iniciais do maciço, mas também da geometria e seqüência de escavação, das propriedades do material empregado para suporte, etc. A própria geometria da obra pode ser condicionada pelas características geológicas (BIENIA WSKI, 1989). 1.6 MODELAGEM E PREVISÕES EM MECÂNICA DAS ROCHAS Ao contrário de um projeto de estruturas convencionais, onde é possível uma normatização dos procedimentos de cálculo, cada construção em rocha é única. Desta forma, é necessário elaborar um modelo que permita estudar o comportamento do protótipo (a estrutura em campo). Um modelo é uma representação ou abstração de um sistema ou processo (STARFIELD & BLELOCH, 1986). Os modelos são construídos para: 1) definir um problema, 2) organizar as idéias, 3) compreender os dados, 4) comunicar e testar a compreensão, 5) realizar previsões. Um modelo é acima de tudo uma ferramenta intelectual. Os modelos são um importante instrumento utilizado na solução de problemas de engenharia. Na elaboração de um modelo é necessário inicialmente conhecer as características da estrutura (funções, dimensões, materiais, etc.). Em seguida é necessário teorizar a representação da estrutura (em relação a sua geometria, ao comportamento dos materiais, solicitações, etc.) elaborando um Modelo Conceitual, ou seja uma descrição qualitativa do comportamento da estrutura. Via de regra, o Modelo Conceitual é bastante complexo, e contempla todo o conhecimento sobre o comportamento da estrutura. O passo seguinte é a elaboração de uma representação "matematizada" do Modelo Conceitual, nascendo assim o Modelo de Cálculo. Dificilmente se consegue simular todos os detalhes contidos no Modelo Conceitual, assim, no Modelo de Cálculo usualmente são representados apenas os aspectos mais relevantes do Modelo Conceitual. Os próprios Modelos de Cálculo podem possuir diferentes graus de simplificação. Muitos problemas podem ser solucionados simplesmentea partir do Modelo Conceitual, não sendo necessário, ou possível, a elaboração de um Modelo de Cálculo. A Figura 1.1 ilustra as etapas de construção do modelo. A questão de elaboração de modelos é tratada, dentre outros, em STARFIELD & BLELOCH (1986), STARFIELD &CUNDALL (1988) e de ZAGOTTIS (1976). Protótipo Modelo Modelo de Conceituai Cálculo Estrutura "real " f-+- Descrição i- Representação em campo. . qualitativa do matematizada do comportamento modelo conceituai. protótipo. Figura 1.1- Etapas na elaboração de um modelo para estudo de um problema de Engenharia. Capítulo 1- lnaodução (Vcrsio 3) 6 Na elaboração de um modelo várias questões genéricas devem ser abordadas podendo-se enumerar as seguintes: 1) O propósito do modelo, suas expectativas e suas limitações. 2) Como escolher o nível de detalhamento apropriado. 3) Se o problema se presta a uma simulação ou a uma abordagem analítica. 4) Se é necessário uma representação do tempo contínua ou discreta. 5) Se deve ser construído um modelo determinístico (admite-se conhecer o valor exato de todas as variáveis envolvidas) ou probabilístico (trabalha-se com elementos de incerteza do problema). A resposta a estas questões depende do propósito do modelo, assim pode-se notar como é infrutífero falar sobre um modelo fora de seu contexto. Não se pode criticar ou valorar um modelo a menos que se conheça o problema ao qual o modelo está endereçado (STARFIELD & BLELOCH, 1986). Questões peculiares que devem ser abordadas na modelagem de um maciço rochoso são apresentadas no item 1.7. A modelagem de um problema pode ser estudada de forma sistemática através do diagrama de Holling (Figura 1.3). O diagrama divide o espaço "compreensão do problema-dados disponíveis" em quatro regiões. Na região 1 existe uma boa coleção de dados mas limitada compreensão do problema; nesta região a estatística é uma boa ferramenta para modelagem. Na região 3 existe boa quantidade de dados e compreensão do problema; para problemas nesta região modelos teóricos podem ser elaborados, validados e utilizados com convicção. Principalmente para problemas onde existe limitação de informações disponíveis (regiões 2 e 4), uma alternativa de projeto é aumentar a compreensão e os dados durante a própria obra, através do acompanhamento da instrumentação, o que permite verificar e/ ou modificar as hipóteses de projeto, esta idéia é exatamente a dos métodos observacionais (STARFIELD & CUNDALL, 1988). f/) o "'O ro Cl 1 3 1 __ ___ _ __ ____ __ J _________ _ ___ _ _ _ _ 4 1 1 1 1 2 Compreensão Figura 1.2 - Diagrama de Holling (STARFlELD & CUNDALL, 1988). Um dos objetivos da elaboração do modelo é a expectativa de prever o comportamento da estrutura, durante e após a sua construção. A necessidade de previsões está presente em diversas ativjdades humanas (história, religião, política, guerra, economia, agricultura, etc.). Dentro da engenharia a necessidade de previsões também é corrente (tráfego, cus.tos, impacto ambiental, etc.). Para a realização de uma previsão são necessárias informações sobre o problema. No caso geotécnico as informações, isto é as propriedades dos materiais, apresentam uma larga faixa de variação, sendo muitas vezes dispersas e incompletas. Os modelos de cálculo para realização de previsões têm evoluído consideravelmente nos últimos anos. Capítulo 1- Introdução (Versão 3) 7 LAMBE (1973) divide as previsões em 3 tipos quanto ao momento da sua realização e o conhecimento dos resultados no momento da previsão (Tabela 1.2). Previsões do tipo A são realizadas antes da ocorrência do evento. Previsões do tipo B são aquelas realizadas durante a construção, sendo que se o resultado da previsão é conhecido a previsão recebe a denominação de B1. Já as previsões do tipo C são realizadas após o evento, e a indicação C1 é dada se o objeto da previsão é conhecido. Previsões do tipo A são as mais desejáveis. Previsões do tipo B1 podem ser utilizadas nos métodos observacionais. Previsões do tipo C1 são na verdade "autopsias", que entretanto podem contribuir bastante para o aumento no conhecimento sobre um determinado assunto. Porém, pode ser muito suspeito utilizar previsões do tipo C1 para provar a boa qualidade de uma técnica de previsão. Ti revisão Momento da revisão Resultados no momento da revisão B B1 e C1 antes do evento durante o evento durante o evento após o evento a ós o evento não conhecido conhecido não conhecido conhecido Os métodos de projetos analíticos, sejam eles soluções analíticas fechadas ou até mesmo métodos numéricos, possuem graus de simplificações diversos. Quanto maior o grau de simplificação, a capacidade de previsão destes métodos fica mais atrelada à determinação dos seus parâmetros de entrada de maneira semi-empírica. Nestas situações cria-se uma inter-relação entre métodos e dados para que a capacidade de previsão destes métodos seja razoável. Os dados, ao invés de grandezas físicas claramente mensuráveis, são "valores de projeto" cuja determinação recai na "experiência" do projetista. Nestes métodos, a precisão da previsão depende menos da qualidade do método e mais da qualidade da seleção dos dados utilizados. É necessário que ó projetista tenha conhecimento, para os métodos adotados, das simplificações, da forma de seleção dos parâmetros e da ordem de grandeza do erro cometido nas previsões realizadas. O desenvolvimento de métodos de projeto mais elaborados, capazes de descrever melhor o problema em estudo, contribui para uma mudança deste paradigma. Mesmo assim a utilização de métodos refinados em conjunto com o resultado da instrumentação de campo é uma alternativa excelente para a construção de obras em rochas. 1. 7 - ASPECTOS PECULIARIARES DOS MACIÇOS ROCHOSOS A dificuldade de realizar previsões da resposta de engenharia das rochas e dos maciços rochosos deriva em grande parte da presença de descontinuidades e sua variabilidade. A roéha tem seu comportamento individualizado em relação a outros materiais de engenharia, em grande parte, pela presença de descontinuidades (juntas, planos de acamamento, falhas). A resposta da própria rocha intacta é complexa e dificil de descrever teoricamente. Em uma escala microscópica uma dada rocha é constituída de um agregado de grãos de minerais que possuem propriedades fisicas bastante diferentes. Pode ainda conter micro- fissuras inter e intra-granulares, podendo possuir características de anisotropia e resposta mecânica não linear (BROWN, 1995). A seguir são descritos aspectos que são Capítulo 1 - Introdução (Versão 3) 8 reconhecidamente relevantes no comportamento dos maciços rochosos, muitos destes aspectos estão interrelacionados, estando sua defuúção amarrada à defmição de outros. • Homogeneidade x heterogeneidade Um maciço é dito heterogêneo se as propriedades de interesse (permeabilidade, resistência, deformabilidade, etc.) ou os materiais constituintes variam com a posição no espaço. Em uma visão estrita todos os maciços apresentam alguma heterogeneidade. De um ponto de vista prático diz-se que um maciço é homogêneo se a variação da propriedade de interesse não for relevante. A heterogeneidade das propriedades da rocha pode apresentar ou não um padrão estatístico. Caso se identifique este padrão as técnicas de geoestatística podem ser muito úteis. A geoestatística permite a análise da variação das propriedades da rocha em função da sua localização no espaço. • lsotropia x anisotropia Uma rocha é dita isotrópica se, em qualquer direção analisada, suas propriedades não apresentam variação significativa. Caso se verifique a variação da propriedade com a direção a rocha é dita anisotrópica (Figura 1.3). A característica de anisotropia está presente nas rochas principalmente por causa da orientação preferencial da sua estrutura ou micro- estrutura, ou pela presença de planos de acamamento, ou planos de clivagem. Algumas rochas, como alguns granitos,apesar de não aparentar claramente uma anisotropia, podem possuir um considerável grau de anisotropia em suas propriedades de deforrnabilidade. Outras rochas, como filito, ardósia e xisto, aparentam e possuem marcante anisotropia. Nestas rochas, a resistência à compressão uniaxial pode variar de 5 a 10 vezes, em função da direção das tensões de carregamento (BROWN, 1995). (a) (b) Figura 1.3 - Seção de maciço (a) isotrópico e (b) anisotrópico. • Meio contínuo ou descontinuo Os maciços rochosos apresentam descontinuidades que vão de escalas microscópicas até escalas quilométricas. A hipótese de considerar o maciço rochoso como um meio contínuo ou como um meio descontínuo (fraturado) depende da relação entre as dimensões da obra Capítulo 1 - Introdução (Versão 3) 9 e a espaçamento entre as descontinuidades (Figura 1.4). Uma ilustração disso para um problema mecânico é ilustrado na Figura 1.5, onde pode ser observado que se a obra tiver dimensões representadas pela situação 1, onde o espaçamento entre as descontinuidades é maior que a dimensão de interesse, o maciço pode ser considerado contínuo. Caso a obra tenha dimensões como as das situações 4 ou 5 pode-se trabalhar em termos de um "contínuo equivalente". Em situações intermediárias a consideração das descontinuidades individualmente é interessante ou impreterível. (] (a) Meio continuo: é valida a abordagem de meio contínuo. X,_ (e) Meio fraturado: a escolha da forma de modelagem deve ser realizada com cuidado. (b) Meio altamente fraturado: a abordagem de meio contínuo equivalente pode ser válida. (d) Meio pouco fraturado: deve ser tratado como um meio descontinuo. Figura 1.4 - Escolha do tipo de modelo para estudo de fluxo na fundação de uma barragem. 5. Maciço altamente fraturado Figura 1.5 - Dimensão da obra em relação ao espaçamento das descontinuidades (HOEK et ai., 1995). Capíndo 1 - Introdução (Versão 3) 10 • Efeito escala Uma das principais peculiaridades da Mecânica das Rochas é o fato de que em muitos casos as propriedades medidas dependem da escala em que o ensaio é realizado, o chamado efeito escala. Quanto à resistência, por exemplo, invariavelmente quanto maior o tamanho da amostra menor será a resistência obtida. Este inconveniente exige a realização de ensaios no laboratório e no campo, em diferentes escalas, e o desenvolvimento de modelos para sua interpretação e previsão do comportamento do maciço. A presença de descontinuidades e a variabilidade espacial são as principais causas do efeito escala em rocha. • Idealização do comportamento tensão x deformação Na engenharia geotécnica clássica distinguiam-se os problemas em problemas de deformabilidade e problemas de estabilidade, os primeiros eram tratados através da elasticidade linear e os seguintes pela teoria da plasticidade (fERZAGHI, 1943). Assim a análise dos problemas era realizada considerando a relação tensão x deformação do material como elástico linear (Figura 1.6a) ou ógido plástico (Figura 1.6b). Em parte esta divisão era definida pela limitação de ferramentas disponíveis na época. Atualmente com a proliferação das ferramentas computacionais é possível solucionar problemas com a consideração de relações constitutivas mais realísticas. Por questões didáticas a própria organização do presente texto é feita em termos de estudos de deformabilidade e estudos de resistência. (j' (a) Modelo elástico linear (j' E (b) Modelo rígido plástico Figura 6 - Modelos clássicos de representação da relação tensão x deformação de materiais geotécnicos. • Presença da água A água pode afetar o desempenho mecânico das rochas em duas formas distintas. O primeiro efeito refere-se à ação da água como agénte intempérico, reduzindo a resistência e aumentando a deformabilidade. O segundo efeito refere-se à aplicação do principio das tensões efetivas de Terzaghi. Segundo BROWN (1995) evidencias experimentais e argumentos teóricos sugerem que, para uma grande variedade de propriedade de materiais e Capítulo 1- Introdução (Versão 3) u condições de ensaio, a resposta da rocha depende não das tensões totais ou tensões aplicadas a IJ , mas das tensões efetivas: (1) onde u é a pressão neutra (ou pressão de água nas descontinuidades), Ô;; é o delta de Kronecker (ô= 1, quando i = j, ô= O, quando i *D e a~ 1 é uma constante para um dado caso. Para rochas altamente porosas como um arenito, o valor de a se aproxima da unidade, este é o valor para solos e descontinuidades. Para rochas com porosidade muito baixa, o valor de a se reduz consideravelmente abaixo da unidade. Seguramente a pressão da água nos poros ou nas juntas reduz a tensão efetiva e por conseqüência a resistência ao cisalhamento. Estes aspectos serão discutidos em detalhes em capítulos seguintes. • Alteração e alterabilidade Alteração é a mudança fisica ou química da rocha por reações com o ar ou soluções aquosas. A alterabilidade é o potencial que uma rocha tem de se alterar. Trata-se de um processo análogo à corrosão comum em outros materiais de engenharia. A alteração pode afetar as características mecânicas da rocha intacta. Um material que possuía boas qualidades de resposta mecânica em subsuperficie, pode tomar-se totalmente inadequado após algum tempo de exposição às condições atmosféricas ou de percolação de água. É importante, portanto, conhecer o comportamento de maciços rochosos, não só na sua condição in silll, mas também após algum tempo expostos às novas condições de trabalho. 1.8 - CASOS HISTÓRICOS A seguir são descritos três casos históricos que ilustram as peculiaridades de um projeto em rocha. Os dois primeiros são as catástrofes das barragens de Vajont (Itália) e Malpasset (França) que marcaram o desenvolvimento da Mecânica das Rochas. O terceiro caso, que ilustra a retro-alimentação de um projeto, é relativo à fundação da Barragem principal de ltaipu. A barragem de Vajont foi construída, em arco de concreto, no norte da Itália no · final da década de 1950. Problemas de instabilidade nos taludes do reservatório foram detectados em 1959, ocorrendo um deslizamento em 1960. Em 9 de outubro de 1963 um talude rochoso do reservatório rompeu, com uma extensão de aproximadamente 2km. Uma massa de cerca de 275 milhões de m3, com uma velocidade de aproximadamente 25 m / s, entrou no reservatório. O movimento gerou uma onda d'água que passou sobre a crista da barragem. Cinco comunidades que existiam a jusante foram atingidas pela onda da enchente, causando a morte de mais de 2000 pessoas. Apesar da enorme quantidade de água que passou por cima da barragem, é interessante notar que ela permaneceu intacta (MÜLLER, 1987). A barragem de Malpasset, no sul da França, era uma barragem de arco com aproximadamente 60m de altura máxima e 223m de comprimento. No dia 2 de dezembro de 1959 a barragem rompeu bruscamente. A cidade de Frejus, 7km a jusante, foi atingida pela água e detritos. Mais de 300 pessoas morreram no desastre. A ruptura de Malpasset foi Capítulo 1 - Introdução (V enio 3) · 12 a primeira ruptura de uma barragem em arco. A definição das causas da ruptura ainda é polêmica, entretanto diversas lições foram tiradas do acidente (LONDE, 1987). Alguns dos estudos realizados posteriormente à ruptura, com ensaios de percolação radial em corpos de prova cilíndricos, mostraram que a permeabilidade do material de fundação é altamente influenciável pelo estado de tensões. 1;.mbora não seja uma definição final, os resultados dos ensaios de percolação radial dão base para uma das principais hipóteses da causa da ruptura, como ilustrado na Figura 1.7: com o enchimento do reservatório a descontinuidade existente a jusante teria tido sua permeabilidade reduzida, aumentando, em decorrência, as pressões neutras na base da cunha, o que caracterizaria a formação de um mecanismo de escorregamento (LONDE, 1987). (a) Vista em planta y N.A. -- ~ Pressão~ Neutra 1;j DescontinuidadePenneabilidade Ki e) Situação antes do enchimento J N.A. Descontinuidade a jusante (b) seçao transversal N.A. Descontinuidade Permeabilidade 0.01Ki ou menor (d) Situação após o enchimento Figura 1. 7 - Descrição da ruptura da Barragem de Malpasset. Um caso que ilustra a retro-alimentação em um projeto de Mecânica das Rochas é o da fundação da Barragem principal e da casa de força da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Esta estrutura estava fundada em um maciço de rocha basáltica com descontinuidades sub- horizontais, que poderiam gerar uma instabilidade da barragem. Aspectos relacionados com o cronograma da construção e com a deformabilidade e a resistência do maciço de fundação levaram a uma solução de tratamento da fundação. Optou-se pela construção de túneis ao longo das descontinuidades que foram posteriormente preenchidos com concreto, constituindo chavetas de travamento da descontinuidade (Figuras 1.8 e 1.9). Capítulo 1 - Introdução (Versão 3) CHAVETAS OE TRAVAMENTO (CONCRETO) Figura 1.8 - Barragem de ltaipu - Seção da barragem principal e casa de força o 'FLUXO o (7C ) , .. ~I) ~ ,.,,.. ,,.,,. n 1 .. ,.no \D ~~'1 ft\ D/\ " " •Q J o - D D ~ l:ii -~~. ~ ~ o ~ )( o ' ~ ~ - 1 Ili l r. a::I r:::I =~ .. ~·- -;:;- ~ .. Zl - gi = '-tt- "r - 'r ':va c;i -- ', 1 1 ~ a D - o m:zmz - CHAVETAS De TRAVAMENTO (CONCRETO) = -TúNEJS De DRENAGEM ~ 100m Figura 1.9 - Chavetas para reforço da fundação da barragem principal. 13 Conforme pode ser observado na Figura 1.10, a instrumentação mostrou uma melhor resposta do maciço com a construção do reforço da fundação (ABR.AHAO et aL , 1983). Capítulo 1 - Introdução (Versão 3) - ·- . ------- ~- .::;J ,.., . EN0-914ENT( V -.. ~ PARCIAloc - r RESERVA Te HIO ./' +1 o .... , ', ! -1 ~ -2 -' ~ -3 ·. ... • 5 Figura 1.10- Resultado da instrumentação da fundação da barragem principal (ABRAHÃO et al, 1983). 1.9 - FONTES DE INFORMAÇÃO EM MECÂNICA DAS ROCHAS UVROS ABGE (1998) Geologia de Enge11haria. ABGE, São Paulo. 14 BIENIA WSKI, Z.T. (1989) Engineering rock mass dassifications. Wiley, N ew York. 251 p. BROWN, E.T. (Ed.) (1981) Rock charactmºz.ation, Testing, a11d Moniloring: ISRM S11g,esled Melhods. Pergamon, Oxford. BROWN, E .T. (Ed.) (1987) Anafytical and comp111a1ional melhods in engineering rock mechanics. Allen & Unwin, London. FRANKLIN, J.A. & DUSSEAULT, M.B. (1989) Rock E 11gineeri11g. McGraw-Hill, New York. GOODMAN, R.E. (1976) Melhods oj geological engineering in discontin11011s rocks. West, St. Paul,NM. GOODMAN, R.E. & SHI, G.H. (1985) Block lheory a11d its applications lo rot"k mgineering. Frentice-Hall, Englewood Cliffs, NJ. GOODMAN, R.E. (1989) Introd11clion lo rock mechanics. 2nd ed.Willey, N ew York. 562p. HOEK, E. (2000) Practical Rock E11gi11eering. http://www.rocscience.com/ roc/ Hoek/ Hoek.htm HOEK, E. & BRAY, J.W. (1981) Rock slope engineering. 3ed. Institution of Mining and Metallurgy, London. 402p. HOEK, E. & BROWN, E.T. (1980) U11dugro1111d excavalions i11 rock. Institution of .Mining and Metallurgy, London. · HOEK, E.; KAISER, P.K; BAWDEN, W.F. (1995) Sllj>port oj 11ndergro11nd excavalion in hard rock. Balkema, Rotterdam. 215p. HUDSON,J.A. & HARRISON,J.P. (1997) Engineering RockMechanics-An I111rod11clion lo lhe Principies. Pergamon, Oxford. 444p. JAEGER, J.C. & COOK, N.G.W. (1979) Fundamtntals oj rock mechanics. 3 ed. Chapman & Hall, London. ROCHA, M. (1981) Mecânica das Rochas. LNEC, Lisboa. 445p. Capítulo 1- Introdução (Versão 3) PERIÓDICOS Canadian Geotech11ical jo11T11al, Canadian National Research Council, Toronto, Canada. Geolech11ical Testing]o11mal, American Society for Testing Materiais (ASTM). 15 lnlmiational ]011rnal of Rock Mechanics a11d Mining Sciences & Geomechanics Abstrads, Pergamon Press, Ltd., Oxford. joHf11al of lhe Geolechnical and Geoenvironmenlal Engi11ming, Proceedings of the American Society of Civil Engineering (ASCE), New York. Rock Mechanics, Springer-Verlag, Viena. S oÚJs e Rochas, Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), São Paulo. Undefl,ronnd Space, American Underground Association, Pergamon Press Ltd., Oxford. ANAIS DE CONGRESSOS EUROCK- ISRM Intemational Symposium. Congress of the lntemational Society for Rock Mechanics (ISRM). North American Rock Mechanics Symposium. US Rock Mechanics Symposium Simpósio Sulamericano de Mecânica das Rochas. Eventos específicos preparados por organizações como ISRM, !COI.D, CBMR/ ABMS, e outras. BIBLIOGRAFIA ABRAHÃO, R. A.; SILVEIRA, J .F .A. & PAES DE BARROS, F. (1983) Itaipú mass dam foundations: design and performance during construction and preliminary filling of the reservoir. ln: CONGRESS OF1HE ISRM, Melboume. p.C191-C197. BIENIA WSKI, Z.T. (1989) Engineeri11g rock mass classi.ftcalions. Wiley, N ew York. 251 p. BROWN, E.T. (1995) The nature and fundamentais of rock engineering. ln: HUDSON, J.A., BROWN, E.T., FAIRHURST, C. & HOEK, E. (eds.), Comprehen.rivt Rock E11gineering. v.1 , p.1-23. de MELLO, V.F.B. & TEIXEIRA, A.H. (1966) Mecânica das rochas. Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos. de ZAGOTTIS, D . (1976) Os modelos matemáticos no projeto estrutural de barragens - Relato Geral do Tema II. ln: SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS, XI. Fortaleza, Ceará. GOODMAN, R.E. (1989) lntroduclio11 lo rock mecha11ics. 2nd ed.Willey, New York. 562p. HOEK, E.; KAISER, P.K.; BAWDÉN, W.F. (1995) S1pport of 11ndefl,ro11nd excavalio11 in hard rock. Balkema, Rotterdam. 215p. HUDSON, J.A. (1995) Rock properties, testing methods and site characterization. ln: HUDSON, J.A., BROWN, E .T., FAIRHURST, C. & HOEK, E. (eds.), Comprehensive Rock Enginming. v.3, p.1-39. KANJI, M.A. (1976) F1111dame11tos de mecânica das rochas. São Paulo. LONDE, P. (1987) The Malpasset Dam Failure. Engineering GeoÍO!J, v.24, p.295-329. MÜLLER, L. (1987) The Vajont catastrophe - A personal review. Engineenitg Geoloo, v.24, p.423-444. ROCHA, M. (1981) Mecânica das rochas. LNEC, Lisboa. 44Sp. SHEPHERD, R. & FROST, J.D. (1995) Foil11m in Civil Engineering: Slmcl11ral Fo11ndalions and Geoenvironmmtal Cases S t11dies. ASCE, N ew York. STARFIELD, A.M. & BLELOCH, A.L. (1986) Blliiding modeis for conservation and wildlife managemmt. Macmillan Publishing Company, New York. Capítulo 1- Introdução (Versão 3) 16 STARFIELD, A.M. & CUNDALL, P.A. (1988) Towards a Methodology for Rock Mechanics Modeling. I11ternational ]011rnal of Rock Mechanics and Mi11ing Sciences & Geomechanics Abstracts, v.25, n.3, p.99-106. TERZAGHI, K. (1943) Theoretical soil mechanics. John Wiley & Sons, N. York. , i Capítulo 2 CARACTERIZAÇÃO DOS MACIÇOS ROCHOSOS 2.1 - INTRODUÇÃO A caracterização de um maciço rochoso tem por objetivo criar um modelo (tipo de rocha, espessura das camadas, características das descontinuidades, água subterrânea, comportamento das rochas, etc.) que represente o maciço com o detalhamento capaz de fornecer as informações necessárias para a execução de uma dada obra de engenharia. Na elaboração deste modelo busca-se identificar zonas estruturalmente homogêneas, isto é, regiões do maciço que tenham características e respostas mecânicas semelhantes. De um modo não rigoroso pode-se dizer que se busca encontrar regiões que possuam a mesma classificação geomecânica. O processo de criação de um modelo (geométrico/estrutural/mecânico) para o maciço é realizado principalmente de forma indutiva, isto é, partindo de informações pontuais busca- se estimar a composição global do maciçó. Este exercício de indução pode ter um acréscimo dedutivo com o auxílio do Geólogo que conheça um modelo para a origem geológica da região. Uma característica importante do levantamento de maciços rochosos é que os estudos de caracterização não se limitam à fase anterior à elaboração do projeto. Durante a execuçãoda obra e até posteriormente à sua construção são realizados ensaios para levantar novas informações, confirmando ou não o comportamento previsto. Sob determinada ótica, a instrumentação da obra pode ser considerada um tipo de ensaio "em escala real". As características do levantamento geológico dependem do tipo e importância da obra, do próprio maciço rochoso e da fase de projeto. Sem tomar como regra geral, pode-se, agrupar atividades de levantamento em: 1) estudos preliniinares (compilação de dados pré-existentes, análise de mapas geológicos, fotos aéreas, imagens de satélite, visitas a campo, etc.); 2) estudos para projeto (sondagens, investigações geofisicas, galerias, valas, levantamento estrutural, etc.); 3) estudos durante a construção (instrumentação, ensaios in !itn, etc.). Nos maciços rochosos as propriedades de interesse de engenharia costumam apresentar grande variabilidade. O tratamento das informações apenas de maneira determinística, Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) 18 utilizando valores médios pode levar a resultados contra a segurança ou dimensionamentos anti-econômicos. A análise das propriedades através de ferramentas estatísticas e geoestatísticas são caminhos que vêm ganhando espaço. Uma discussão detalhada do levantamento de campo pode ser encontrada em ABGE (1998), HASUI & MIOTO (1992) e em GOODMAN (1976). Programação de estudos para implantação de barragens são detalhados por OLIVEIRA et al. (1970) e VAZ (1969). Etapas da caracterização geotécnica para implementação de túneis são descritas por DINIS da GAMA (1997). 2.2 - DEFINIÇÕES A seguir serão apresentadas algumas definições de termos necessários para a descrição de um maciço rochoso. Estes termos são, em sua maioria, adaptados ou partilhados com a Geologia Estrutural. Uma visão mais aprofundada destes aspectos pode ser obtida em ABGE (1998), HASUI & MIOTO (1992). Um maciço rochoso (rock mass) pode ser definido, segundo a ISRM (1978), como um meio constituído de blocos de rocha intacta (meio continuo) separados fisicamente por descontinuidades Guntas [diáclases], falhas, estratificações, etc.), que podem conter ou não material de preenchimento. As propriedades mecânicas e hidráulicas do maciço serão governadas pelas propriedades da rocha intacta e também pelo número, posição, natureza e condições das descontinuidades. Descontinuidade é o termo geral para qualquer descontinuidade mecânica do maciço rochoso e que tenha nenhuma ou baixa resistência à tração. É o termo coletivo para a maioria das feições com origens em diferentes fenômenos geológicos, tais como planos de acamamento, planos de xistosidade, zonas de fraqueza e falhas. As descontinuidades dos maciços rochosos são o resultado de sucessivas solicitações mecânicas e térmicas sobre o maciço ao longo de sua história. Muitas delas podem ter suas características explicadas quantitativamente em bases mecânicas. Uma família de descontinuidades corresponde a um grupo de descontinuidades que ocorrem num arranjo paralelo ou semi-paralelo e que possuam características semelhantes. A Figura 2.1 ilustra uma seção de um maciço com duas famílias de descontinuidades. F1 F2 Figura 2.1- Maciço rochoso com duas famílias de descontinuidades. Junta é uma quebra de origem geológica na continuidade de um corpo de rocha ao longo da qual não houve nenhum deslocamento relativo visível, paralelo a seu próprio plano. Falha é uma fratura ou zona fraturada ao longo da qual houve um deslocamento" relativo visíve~ paralelo a seu próprio plano. As paredes podem ser estriadas e polidas, resultado dos deslocamentos cisalhantes (Figura 1.2). Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) 19 (a) Junta (b) Falha Figura 2.2 - Representação de uma junta e uma falha. As dobras são ondulações adquiridas por feições planares (camadas, bandamente) atra,-és de deformação não homogênea de massas rochosas (Figura 2.3). As dobras têm concavidade que podem se voltar para cima ou para baixo (HASUI & MIOTO, 1992). Figura 2.3 - Representação de uma dobra. Foliação é o termo que se aplica a determinadas feições planares que permeiam as rochas metamórficas. Corresponde a vários tipos de estruturas, dos quais uma das mais importantes é a Xistosidade, que é decorrente da orientação paralela de minerais, agregados minerais, ou objetos geológicos (por exemplo, seixos) de forma placóide ou achatada, ou de orientação planar de minerais alongados. A xistosidade em rochas de granulação muito fina recebe o nome de clivagem ardosiana. Em rochas gnáissicas, é chamada gnaissosidade. Tais feições podem se associar a dobras e, neste caso, ter disposição paralela ao plano axial (xistosidade plano-axial). Estratificação é o termo utilizado para descrever a estrutura produzida pela deposição de sedimentos em camadas (estratos), lâminas, lentes e outras unidades essencialmente tabulares. É um sinônimo de acamamento. 2.3 - DESCRIÇÃO DAS DESCONTINUIDADES Como foi afirmado anteriormente, as descontinuidades desempenham um importante papel no comportamento dos maciços rochosos. Com o intuito de padronizar o levantamento das descontinuidades a ISRM (1978) publicou uma sugestão de métodos para a descrição de descontinuidades de maciços rochosos. A caracterização do maciço é realizada utilizando 1 O parâmetros: 1) Orientação 2) Espaçamento 3) Persistência 4) Rugosidade 5) Resistência das Paredes 6) Abertura 7) Preenchimento Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) 8) Condições de Percolação 9) Número de famílias 10) Tamanho dos blocos 20 O levantamento destes 10 parâmetros é realizado em campo através da observação de afloramentos (seções expostas e representativas do maciço). Usualmente este levantamento é feito por um geólogo, com auxílio de uma bússola, martelo, e outros instrumentos portáteis. 2.3.1 - Orientação A orientação é a atitude da descontinuidade no espaço, podendo ser descrita pela direção do mergulho (azimute) e o mergulho da reta de maior declividade do plano da descontinuidade (Figura 2.4). A detenninação da orientação é feita com o auxílio de bússola e clinômetro ou por fotogrametria. Direção do Mergulho ou Rumo do Mergulho (Dip Direction) Mergulho (Dip) Norte Figura 2.4 - Orientação de uma descontinuidade. A orientação das descontinuidades, em relação a uma estrutura de engenharia, controla as possibilidades de condiçõ~ de instabilidade e desenvolvimento de deformações excessivas. A importância da orientação cresce quando outras condições para grandes deformações estão presentes, tais como baixa resistência ao cisalhamento e um número suficiente de descontinuidades ou famílias de juntas que propiciem a ocorrência de um movimento. As orientações das descontinuidades detenninarão a forma dos blocos individuais ou dos mosaicos que formam o maciço rochoso. A orientação das descontinuidades é estudada usualmente através das chamadas projeções estereográficas. Inicialmente, toma-se uma esfera de referência, sendo que o plano passa pelo centro desta. A interseção entre o plano e a esfera define um árculo, a projeção deste árculo é chamada de "grande círculo". Tomando-se uma reta normal ao plano e que passe pelo centro da esfera de referência, a interseção desta reta com a esfera define um ponto chamado "pólo". Cada pólo corresponde a uma orientação de descontinuidade e, portanto, uma concentração de pólos define um conjunto de descontinuidades com, aproximadamente, mesma orientação (família de descontinuidades). Na Figura 1.5, estão indicados os elementos de uma projeção estereográfica no hemisfério inferior de urna esfera. Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (V crsão 3) 21 Dependendo do critério de projeção são gerados os chamados diagramas de igual área ou igual ângulo. Uma discussão detalhada sobre o assunto pode ser encontrada em HASUI & MIOTO (1992) e em GOODMAN (1976). Paradefinir a orientação de uma família de descontinuidades são realizadas diversas leituras em campo, que podem ser representadas . em um único diagrama. Existem técnicas estatísticas para tratar estes dados permitindo definir orientações médias (Figura 2.6). Esfera de Grande círculo Figura 2.5 - Definição de grande círculo e pólo. " ~ (a) Pólos obtidos em levantamento de campo (b) Contornos de densidade de pólo " (e) Pólos e grandes cirçulos médios das 3 familias de descontinuidades Figura 2.6 - Representação do tratamento estaústico de descontinuidades. Capítulo 2- Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) 22 2.3.2 - Espaçamento O espaçamento é a distância perpendicular entre descontinuidades adjacentes. Refere-se usualmente ao espaçamento médio ou modal de uma familia de juntas (Figura 2.T). O espaçamento das descontinuidades adjacentes condiciona o tamanho dos blocos individuais de rocha intacta. Um intenso fraturamento, caracterizado por um pequeno espaçamento, confere ao maciço características de meio contínuo e um comportamento mais próximo do comportamento dos materiais granulares, enquanto que para grandes espaçamentos teremos fundamentalmente caractensttcas de meio descontínuo (dependendo do tamanho da obra) e comportamento dependente das propriedades das descontinuidades (orientações, número de familias, resistências, etc.) e da rocha intacta. Estes efeitos estão relacionados com a persistência das descontinuidades. Como no caso da orientação, a importância do espaçamento aumenta quando outras condições para deformação estão presentes. Além das propriedades mecânicas o espaçamento tem grande influência na permeabilidade do maciço e nas características de percolação. ~2 Figura 2.7 - Espaçamento entre descontinuidades. 2.3.3 - Persistência Persistência é a continuidade de uma descontinuidade conforme observada em um afloramento. Pode ser uma medida aproximada de sua extensão em área ou comprimento de penetração da descontinuidade. Se a descontinuidade acaba em rocha sã ou em outra descontinuidade então é denominada não persistente. Uma descontinuidade cujas extremidades não se encontram nos afloramentos, ou na área de influência da obra, é denominada persistente. A região da rocha intacta compreendida entre os extremos de descontinuidades subseqüentes é chamada de ponte rochosa. A persistência é considerada, para efeito de caracterização de descontinuidades, como um dos parâmetros de maior importância. Isso porque ela pode alterar substancialmente todas as propriedades-chave do maciço (resistência, deformabilidade e permeabilidade). No entanto, devido principalmente à limitação visual dos afloramentos, é muito dificil visualizar e quantificar a não persistência de descontinuidades. No entanto, há casos em que a não persistência de descontinuidades é notória e nesses casos é possível definir um grau de persistência utilizando, por exemplo, a equação 1.1. Capitulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) 23 Considerando o traço das descontinuidades ~. e o traço da ponte rochosa 4 conforme ilustrado na Figura 2.8, pode-se fazer uma definição bidimensional de persistência como: (2.1) Assim, uma descontinuidade será não persistente se k<1. Quanto menor o índice k, maior será a contribuição da rocha intacta nas propriedades da descontinuidade. //// //:.// Figura 2.8 - Representação bidimensional da persistência. Um exemplo prático desse procedimento foi feito por Müller, 1963 (apud Rocha, 1981), que analisando um maciço com descontinuidades não persistentes, similar ao esboço indicado na Figura 2.9, definiu o "grau de desenvolvimento das descontinuidades", k, como sendo a razão entre o somatório das áreas descontínuas e a área total. Figura 2. 9 - Definição do "grau de desenvolvimento das descontinuidades". O comportamento de um maciço com descontinuidades não persistentes é muito influenciado pelo imbricamento, ou seja, pela. forma como os blocos de rocha se "encaixam". Na Figura 2.10 estão representadas duas descontinuidades, uma persistente (a horizontal) e um não persistente (a vertical). É evidente que, na prática, para que a não persistência da descontinuidade vertical seja considerada é importante analisar o tamanho do imbricamento (ib) : se ib for pequeno (milimetros?) a não persistência não pode ser assumida. Regra geral, a não persistência pode ser admitida se o tamanho do imbricamento for compatível com o tamanho da obra. Ou seja, quanto maior a dimensão da obra maior deve ser o tamanho do imbricamento, para que a não persistência possa ser levada em conta. Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) 24 Figura 2.10 - lmbricamento. 2.3.4 - Rugosidade A rugosidade é caracterizada pela medida das irregularidades da superficie da descontinuidade em relação ao plano médio da descontinuidade. Irregularidades em grande escala são chamadas ondulações. A rugosidade e a ondulação contribuem para a resistência ao cisalhamento. Essa contribuição é tanto maior quanto maior for a inclinação da irregularidade e quanto maior for o tamanho da irregularidade. O tamanho da irregularidade tem um papel similar ao imbricamento, já abordado no item anterior. Patton (1966) mostra que as juntas rugosas, com irregularidades que mergulham contra a direção do cisalhamento e que tenham inclinação i (em relação ao plano médio da descontinuidade), têm um ângulo de atrito igual ao ângulo de atrito da junta plana acrescido do ângulo de inclinação da irregularidade (z). Nota-se, portanto, que o ganho na resistência ao cisalhamento de descontinlJ,Ídades consideradas rugosas pode ser extremamente significativo. Barton e Choubey (1976) apresentam um modelo para previsão da resistência ao cisalhamento de juntas rugosas utilizando a equação: (2.2) onde, CJn é a tensão normal efetiva atuante na junta,JRC é o coeficiente que leva em conta a rugosidade da descontinuidade, ]CS é a resistência à compressão das paredes (próximo parâmetro a ser descrito) e cl>b é o ângulo de atrito básico (obtido de ensaios de resistência residual ao cisalhamento em superficies planas não alteradas da rocha) . 2.3.5 - Resistência das paredes Resistência das paredes refere-se à resistência à compressão das paredes adjacentes a uma descontinuidade. Esta resistência deve ser menor que a da rocha intacta devido à alteração das paredes proporcionada pela presença das descontinuidades. Se as paredes estão em contato, a resistência das paredes é uma importante componente da resistência ao cisalhamento. A resistência pode ser estimada pelo Esderômetro de Schmidt ou através de testes manuais, conforme descritos na Tabela 2.1. Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (V crsão 3) 25 Tabela 2.1- Ensaios expeditos para estimar a resistência de materiais geológicos (ISRM, 1978). Grau Descrição Identificação de Resistência à compressão campo mmpksaproximada(MP~ SI Argila muito mole Facilmente penetrada < 0,025 várias polegadas com o pulso. S2 Argila mole Facilmente penetrada 0,025-0,05 várias polegadas com o dedo polegar. S3 Argila firme Pode ser penetrada várias 0,05- 0,10 polegadas com o dedo polegar com moderado esforço. S4 Argila rígida Prontamente amolgado 0,10-0,25 pelo dedo polegar mas penetrada somente com grande esforço. S5 Argila muito rija Prontamente recortada 0,25-0,50 pela unha. S6 Argila dura Recortada com > 0,50 dificuldade pela unha. RO Rocha Marcada pela unha 0,25 - 1,0 extremamente fraca R1 Rocha muito fraca Esmigalha-se sob 1,0 - 5,0 impacto da ponta do martelo de geólogo, pode ser raspada pelo canivete R2 Rocha fraca Raspada com dificuldade 5,0 - 25 pelo canivete, marcada com firme pancada do martelo de geólogo R3 Rocha Não pode ser marcada 25- 50 medianamente pelo canivete. Pode ser resistente fraturada por um único golpe de martelo R4 Rocha resistente Requer mais de um 50 - 100 golpe para fraturar-seR5 Rocha muito Requer muitos golpes 100 - 250 resistente para fraturar-se R6 Rocha Podem ser apenas > 250 extremamente lascadas pelo martelo resistente Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (V crsão 3) 26 2.3.6 - Abertura Abertura é a distância perpendicular entre as paredes adjacentes de urna descontinuidade, cujo espaço intermediário é preenchido por ar ou água (Figura 2.1 1). Mesmo as descontinuidades mais fechadas desempenham um importante papel na condutividade hidráulica do maciço. Figura 2.11 Abertura de uma descontinuidade. 2.3. 7 - Preenchimento Preenchimento é o material que separa as paredes adjacentes de uma descontinuidade e que usualmente é mais fraco que a rocha que lhe deu origem. A distância perpendicular das paredes é chamada de "espessura" preenchida, distinguindo-se da "abertura" de uma feição falhada ou aberta. O comportamento fisico de uma descontinuidade preenchida depende de vários fatores, destacando-se: espessura, tipo de material, presença d'água, condições de permeabilidade, carreamento, condições de carreamento e pontos de contato. 2.3.8 - Condições de Percolação As condições de percolação referem-se ao fluxo d'água e umidade livre, visíveis em descontinuidades individuais ou no maciço rochoso corno um todo. A percolação d'água através do maciço rochoso resulta principalmente do fluxo através de descontinuidades (permeabilidade secundária). No caso de certas rochas sedimentares a permeabilidade primária do material rochoso pode ser significante, já que parte da percolação ocorre através dos poros. 2.3.9 - Número de Famílias O número de famílias é a quantidade de famílias de descontinuidades que compõem um sistema de descontinuidades. O maciço rochoso pode conter também descontinuidades individuais. O comportamento mecâruco do maciço é essencialmente afetado uma vez que o número de famílias determina o quanto o maciço se deforma sem provocar o fraturamento da rocha intacta. 2.3.10 -Tamanho dos Blocos Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) 27 O tamanho dos blocos é a dimensão dos blocos de rocha que resultam da orientação das famílias de descontinuidades que se interceptam e do espaçamento das famílias individuais. Descontinuidades individuais podem também influenciar o tamanho e a forma dos blocos. 2.4 - TÉCNICAS DE PROSPECÇÃO Além da descrição das descontinuidades observadas nos afloramentos outros trabalhos são realizados para a caracterização do maciço rochoso. Podem ser abertos poços e valas para vistoria do maciço e conseqüente obtenção de novos afloramentos. Dependendo das dimensões da obra, galerias subterrâneas podem ser abertas também. As sondagens mecânicas e as técnicas de prospecção geofisica são dois importantes instrumentos de caracterização do maciço, e sua utilização será discutida em detalhes a seguir. Ensaios de caracterização hidráulica também podem ser compreendidas como técnicas de prospecção, entretanto estes serão tratados apenas no Capítulo 9. 2.4.1 - Sondagens mecânicas A preocupação fundamental na execução de sondagens deve ser a obtenção de testemunhos representativos de todas as camadas e descontinuidades atravessadas. Para isto a técnica habitual consiste na abertura de furos por meio de amestrador duplo, com coroa diamantada. A perfuração é feita pela coroa mediante a rotação do amestrador sob a ação da força transmitida pelas hastes de sondagem. Os detritos são retirados do furo mediante circulação de_ água a qual exerce função primordial na própria operação de desagregação da rocha, em especial no resfriamento da coroa. O testemunho da rocha vai entrando no retentor ficando ajustado ao seu tubo interior, o qual não tem movimento de rotação pois os tubos exterior e interior do retentor estão ligados na parte superior por meio de rolamento esfera. Os amestradores ou barriletes têm habitualmente entre 1 e 2 metros. Para extrair o testemunho basta retirar as hastes do furo pois existe junto da coroa um anel aberto com seção em cunha, designado mola retentora, que se encrava e puxa o testemunho, partindo-o na base, se a rocha não estiver fraturada (COULON, 1992). Os equipamen tos para realização das sondagens rotativas estão ilustrados na Figura 2.12. Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) ---- I ' . . ~ .. . --.--..m-...-.- -· .. . . cmo..•....n ... ·:1--.... - Figura 2.12 - Equipamento de sondagem rotativa. 28 A recuperação de testemunhos de sondagem rotativa pode fornecer importantes informações sobre as descontinuidades. Uma perfuração planejada e executada cuidadosamente, com obtenção de testemunho, seguida de uma descrição detalhada e da inspeção do furo, pode fornecer informações aproximadas sobre muitos dos dez parâmetros sugeridos pela ISRM para descrição das descontinuidades. O RQD (Rock Q11ali!J Designation) é um índice que estima o grau de compartimentação do maciço, sendo calculado como a percentagem de recuperação de peças com mais de 1 Ocm (ver Figura 2.13). O RQD deve ser detemúnado em testemunhos com dimensões mínimas NX (54mm de diâmetro). Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) -------1 L=38 cm -------~ L=17 cm -------1 L=O E o o o CN li nenhum pedaço na linha ]i central maior que 10 cm .S -------~ L=20 cm -------1 L=43 cm (----- ---~ L=Ocm sem recuperação ________ J Quebra mecânica durante o processo de cravação .s e: Cll E ·e: o. E o (.) Í:L > 10 cm RQD= IL X 100% 38+ 17 +20+43 RQD= 200 X 100% RQD=59% Figura 2.13- Cálculo do RQD. 29 A orientação dos testemunhos · de sondagens pode ser feita por um procedimento que assinale, no topo da primeira amostra de uma manobra, uma marca de referência. No LNEC foi desenvolvida uma técnica conhecida como amostragem integral. Uma haste é fixada com calda de cimento em um furo de pequeno diâmetro (por exemplo EX - 37,71/21,46mm), que é sobrefurada em um diâmetro maior (por exemplo HX - 99,23/76,20mm). Desta forma possibilita-se a retirada de um testemunho com o mesmo comprimento do trecho integral perfurado, incluindo zonas com fragmentos e vazios, que aparecerão preenchidos com calda, preservando a posição relativa original. 2.4.2 - Prospecção geofísica As técnicas de prospecção geofisica (sísmica, elétrica, resistividade) podem ser um importante instrumento na caracterização do maciço rochoso. Particularmente, a prospecção sísmica, através do estudo da propagação das ondas, permite estimar a distribuição espacial dos materiais, além de fornecer informações sobre deformabilidade do maciço. Várias configurações de fonte e receptores (geofones), conectados . a sismógrafos, podem ser utilizadas na prospecção sísmica como, por exemplo, a ilustrada na Figura 2.14. Geofones (receptores) ~~ Fonte l,; Figura 2.14- Prospecção sísmica. Capítulo 2- Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) 30 O ensaio pode ser realizado com outras configurações como na técnica "dow11-hole" onde o geofone é colocado em um furo de sondagem e a fonte fica na superfície. A técnica "11p- hole" apresenta uma configuração inversa. A fonte situa-se dentro do furo e o geofone na superfície. Na técnica "cross-hole" tanto fonte como geofones são colocados em furos de sondagem (Figura 2.15). Fonte Fonte / 1.c/ ~ Geofone Haste (a) Ensaio "down-hole" (b) Ensaio "up-hole" l/ Fonte \ Haste (e) Ensaio "cross-ho/e" Figura 2.15 - Diferentes configurações de ensaios sísmicos. BIBLIOGRAFIA ABGE (1998) Geologia de E11ge11haria. São Paulo, ABGE. 587p. COULON, F.K. (1992) Mecânica das rochas. UFRGS, Porto Alegre. 97p. DEERE, D.U. & DEERE, D.W. (1988) The rock quality designation (RQD) índex in pratice. In: Rock classi.ftcatio11forengi11eerigp111poses, ASTM STP 984. p.91-101. DOURADO, J.C. (1984) A 11tilizafào da sísmica 11a detem1ittafàO de parâmetros elásticos de maciços rochosos e te"osos i11 sit11. ABGE, São Paulo. 12p. DINISda GAMA, C. (1997) O relatório geotécnico e sua importância para o projecto de túneis. ln: CONGRESSO NACIONAL DE GEOTECNIA, Lisboa. p.897-904. GOODMAN, R.E. (197 6) Methods oJ geological e11gi11eering i11 disco11tino11S rocks. West, St. Paul, NM. HASUI, Y & MIOTO, J .A. (1992) Geologia estrt1il1ral aplicada. ABGE/Votorantim. 459p. Capítulo 2 - Caracterização dos Maciços Rochosos (Versão 3) 31 ISRM (1978) Métodos para a descrição q11a11titativa de dtsco11tinuidades tm maciços rochosos. Tradução n.12, ABGE,1983, São Paulo. 132p. OLIVEIRA, A.M.S.; GUIDICINI, G. & NIEBLE, C.M. (1970) Quadro-roteiro de trabalhos em geologia aplicada a barragens. ln: SEMANA PAULISTA DE GEOLOGIA APLICADA, 2, São Paulo. v.2, p.409-413. ROCHA, M. (1981) Mtcá11ica das rochas. LNEC, Lisboa. 445p. VAZ, L.F. (1969) Estudo geológico de barragens. ln: SEMANA PAULISTA DE GEOLOGIA APLICADA, 1, São Paulo. v.lll, p.V1-V22. Capítulo 3 ESCAVAÇÕES SUBTERRÂNEAS EM ROCHA 3.1 - INTRODUÇÃO As obras subterrâneas podem ser classificadas em dois grandes grupos: 1) aquelas cuja localização é imposta pelo serviço que desempenharão, sendo traçadas a partir de pontos já integrados na infra-estrutura existente, não obstante o tipo de terrenos em que ocorram; e 2) as que são definidas em conformidade com o conhecimento geológico geotécnico do subsolo, visando a realização de operações específicas, o caso das explorações mineiras, dos depósitos radioativos, das instalações militares e dos túneis para geração de energia elétrica (DINIS da GAMA, 1997). Quando comparado com obras ClVlS convencionais, os túneis apresentam diversas peculiaridades. Em um túnel, o maciço não é apenas carregamento, mas também é parte da estrutura. Em uma concepção "antiga" de projeto o revestimento seria a estrutura e resista ao peso do maciço (Figura 3. la). Em uma concepção mais atual o revestimento e maciço são a estrutura, o que implica em um projeto mais econômico (Figura 3.lb). (b) Conce pçao atual Figura 3.1 - Concepções de dimensionamento do suporte de um túnel. Vários aspectos diferenciam o projeto de uma estrutura convencional de um projeto de túnel. Nas estruturas convencionais os métodos de cálculo estão bem sedimentados, não há diferenças conceituais significativas entre diferentes métodos, além do que existe um bom conhecimento da geometria e comportamento do material. No projeto de túneis os existem vários métodos de cálculo com diferenças substanciais de conceitos, e são de razoável dimensão as incertezas em relação a geometria e comportamento do material. Um outro Capítulo 3 - Escavações Subterrâneas em Rocha (Versão 3) 3J demento de complicação é que um túnel é essencialmente um problema tridimensional, onde as soluções unidimensionais e bidimensionais são aplicáveis com grandes restrições. Na construção de um túnel boa parte da atividade de projeto pode ser desenvolvida durante a própria construção. O tempo dedicado às atividades de projeto, antes do irúcio da construção, normalmente, não é maior do que o tempo dedicado às mesmas atividades durante a fase de construção (Figura 3.2). Isso significa que há uma profunda interação entre projeto e construção de obras geotécnicas. O projeto e a construção de um túnel são atividades que sofrem muitas retro-alimentações. Cada etapa da atividade Qevantamento geológico, investigações geotécnicas, escolha do método construtivo, etc.) pode ser revisada e atualizada antes ou durante a construção, conforme ilustrado na Figura 3.3. A intensa retro-alimentação notável em uma construção deve-se em grande parte ao devado grau de incerteza existente neste tipo de projeto, estas incertezas são diminuídas com o avanço das atividades de investigação, projeto, construção e instrumentação . .E CI> ·e Q. CI> '1:) ------- CI> ~ ;.... -o :~ <( Concepção e Dimensionamento - - - - Túneis Construção Estruturas convencionais Figura 3.2 - Desenvolvimento de atividades de projeto no projeto e construção de túneis. Geologia 1 nvestigações geotécnicas Experiência, estimativa Modelo mecânico Conceito de segurança, __. hipóteses de ruptura Estimativa do risco __.,.. Instrumentação de campo Determinação do estado__. atual de segurança Investigações de campo e escolha do trajeto Características do maciço: Tensões in situ. resistência. agua. descontinuidades. anisotropia. etc. Escolha do método de escavação e elementos estruturais. Análise estática do sistema. Aspectos contratuais Construção do túnel. ·seguro· Nã Figura 3.3 - Etapas da construção de um túnel. Capítulo 3 - Escavações Subterrâneas em Rocha (Versão 3) 34 3.2 - MÉTODOS CONSTRUTIVOS Os métodos construtivos de escavações subterrâneas em rocha podem ser separados em dois grandes grupos: 1) Métodos de escavação mecanizada e 2) Métodos de desmonte com explosivos (drill-a11d-blas~. No primeiro estão os métodos que utilizam máquinas para a realização da escavação. Existe uma grande variedade de equipamentos com diferentes caracteósticas para os mais diversos tipos de maciço, algumas destas máquinas estão ilustradas na Figura 3.4. Os métodos de escavação mecanizada utilizam as chamadas tecnologias de escavação mecânica em base conúnua. Estas tecnologias vêm se desenvolvendo bastante e tomando- se imbatíveis em determinadas situações. As máquinas de escavação em base conúnua podem ser classificadas em dois grupos: 1) Máquinas de escavação a seção plena, as TBM (T111111el Bori11g Machine) utilizadas em escavação horizontal e as chamadas de raise borers utilizadas em escavação vertical. 2) Máquinas que atacam uma parte da face de cada vez, com uma cabeça cortante (roadheadm) montada na ponta de uma lança móvel. Três tipos de roadheaders podem ser identificados: tipo cabeça perfurante, tipo cabeça escarificante e tipo rompedor hidráulico. (a) TBM (Tunnel Boring Machine) (b) Rompedor hidráulico (e) Fresa ou Roadheader Figura 3.4 - Equipamentos de escavação mecânica em base contínua. Capítulo 3 - Escavações Subterrâneas em Rocha (Versão 3) 35 Atualmente existem TBMs com capacidade de escavação inclusive em rochas duras. A escavação com TBMs em maciços mais brandos ou bastante fraturados, podem exigir que o TBM disponha de couraças, similar aos shields (máquinas usadas para escavação de túneis em solos) que protegem a região em escavação ainda não revestida. Os TBMs possuem uma face cortante que desagrega o material na frente de escavação sendo pressionada por uma bateria de macacos hidráulicos que se apoiam no revestimento já instalado. Neste momento a couraça protege a região ainda não revestida. Em seguida os macacos são recolhidos e é instalado um novo segmento de revestimento e o ciclo do processo é reiniciado. A Figura 3.5 ilustra a seqüência de escavação de um TBM com couraça. t Face cortarte •rrunk• Cauda r ;4 t t 1 I· t + )( ·I nçp--- 1 1 t 1 Local do novo anel após empurrlo 8 Figura 3.5 - Seqüência de avanço de um TBM com couraça. Historicamente, os métodos de desmonte com explosivos (drill-and-blas!) têm sido a regra para escavações em larga escala em maciços competentes. As cargas explosivas são colocadas no interior de furos feitos no maciço rochoso, buscando-se compatibilizar as Capítulo 3 - Escavações Subterrâneas em Rocha (Versão 3) 36 especificações dos explosivos com as características geomecânicas do maciço a ser escavado. Atualmente o fenômeno de fragmentação por detonação nos maciços não fraturados é compreendido como formado de duas fases: uma dinâmica e uma semi-estática. Na fase dinâmica a carga dentro do furo deflagra uma reação. Uma onda de choque de compressão é transmitida à parede do furo, e se desloca em expansão radial e axial no maciço rochoso, até encontrar uma superficie livre ou um meio de impedância diferente. A partir deste ponto a onda se divide em duas: uma de compressão secundária e outra de reflexão. A onda de reflexão pode apresentarpulsos de compressão ou tração. Durante a fase dinâmica quatro tipos de fraturamento podem ser identificados: a) fraturas radiais oriundas das tensões de tração perpendiculares aos pulsos de compressão; b) fraturas tangenciais por ação cisalhante oriundas de deformações diferenciadas; c) fraturas paralelas à face livre, por ação das tensões de tração produzidas pelas ondas refletidas na interface rocha-ar; d) fraturas originadas pela ação combinada de esforços. Convém salientar que, apesar da importância da fase dinâmica, a sua contribuição energética na fragmentação do maciço rochoso gira em tomo de apenas 3 a 5% da energia total. Entretanto, sem a sua presença, para maciços não fraturados, ficaria impossível a fragmentação somente pela ação da fase semi-estática (ROLIM, 1993). Durante a fase semi-estática, os gases provenientes da detonação, ao percorrer as fendas de tração ou micro-fissuras oriundas da fase dinâmica, agindo por ação de cunha, propagam essas fraturas, separando parte do maciço em fragmentos de rocha. A medida que os gases são liberados, ocorre o lançamento dos blocos, produzindo novas fraturas por ação de requebramento e choque entre blocos, consumando-se o desmonte (ROLIM, 1993). Conhecido o fenômeno de fragmentação é fácil perceber que a geometria dos furos e a seqüência de detonação são dois fatores definidores do resultado do desmonte. Duas formas típicas para disposição dos explosivos na escavação de um túnel, em cunha e em paralelo, são ilustradas na Figura 3.6. Avanço Avanço .._._ .._._ ~ . 17 . 1i • 15 • 11 • s • .s .; . s . 3 . •s ,. • 's . 2 . 2 •'ª . •'ª . s •' 13 10 12 • 9 . ; • • 3 • , • , • • • ... 2• 1 3 ••• . s •' • s • •s• . 2 , 8 • 8 • • .- •'ª • 12 • 11 • 13 .8 . s . 3 .s .s 4 • •• . s •'ª .•s •'ª oo~~~~~ ~~~~~~ Figura 3.6 - Formas típicas de disposição dos explosivos na escavação de um túnel. Os métodos onde a mecanização não é a técnica principal da escavação atendem a várias denominações: NA TM (Novo Método Austríaco de Túneis - New A11stria11 T111111elli11g MethodJ, RSST (Rapid Shotmte S11pported T111rnelling MethodJ, métodos de convergência- confinamento, etc .. Existindo ainda tecnologias mistas como NMT (Non11tgia11 Method of T111111ellin~. Dentre estas diversas denominações o NA TM merece um destaque por dois motivos: 1) ser referência para escavações de túneis no Brasil, e 2) representar uma série de princípios que permitem a execução da obra de forma mais econômica. Capítulo 3 - Escavações Subterrâneas cm Rocha (V crsão 3) 37 A definição do NATM (e até mesmo a sua existência enquanto método), como pode ser observado em GOLSER (1996), é matéria controversa. A Sociedade Austríaca de Pesquisas Rodoviárias define o NA TM da seguinte forma: "O Novo Método Austríaco de Túneis (NATM) segue um conceito segundo o qual o maciço (rocha ou solo) circundando a escavação toma-se um elemento de suporte da escavação, através da ativação, dessa parte do maciço, como se fosse um anel de suporte." O NA TM exige, ainda, que alguns procedimentos sejam implementados, visando uma construção segura e eficiente: • considerações das características geomecânicas do maciço, • instalação de medidas de suporte adequadas no momento correto, evitando estados de tensão ou de deformação indesejáveis, • arco invertido estaticamente efetivo executado no momento adequado, emprestando ao anel de suporte a função estática de um tubo fechado • otimização da resistência do revestimento em função das deformações permitidas, • observação instrumental também para o controle desta otimização. Nas escavações com desmonte por explosivos podem ser detectados vários elementos relacionados com a seqüência de escavação adotada (calota, bancada, frente de escavação, atraso do suporte, etc.). Estes elementos são ilustrados na Figura 3.5. Uma discussão mais detalhada sobre seqüências construtivas é apresentada no item 3.2.2. ncoragens Calota Bancada provisório Figura 3. 7 - Elementos da seqüência construtiva em uma escavação por desmonte. Uma ·série de equipamentos auxiliares está usualmente presente em uma escavação por desmonte. Retro-escavadeira e martelete pneumático são alguns destes equipamentos. Nos últimos anos, os condicionantes ambientais, tecnológicos e econômicos vêm abrindo espaço ao desenvolvimento de outras tecnologias de escavação. O desmonte hidráulico por . exemplo, que é realizado através de jatos d'água sob alta pressão que fragmentam a rocha. A aplicação desta técnica é limitada pela resistência do material. Com um jato d'água de 69.MPa é possível cortar uma rocha com resistência a compressão de 130tv!Pa. Já foram Capítulo 3 - Escavações Subterrâneas em Rocha (Versão 3) 38 desenvolvidos jatos d'água com pressão de impacto de mais de 13001V!Pa. Este tipo de tecnologia vem também sendo utilizada em associação a escavação mecânica, como em wna freza, por exemplo. 3.2.1 - Tipos de suporte Os principais tipos de suporte aplicados em escavações subterrâneas são: 1) concreto projetado, 2) concreto moldado, 3) elementos pré-moldados, 4) ancoragens (chwnbadores, tirantes), 5) telas metálicas 6) cambotas. Além do suporte propriamente dito diversas técnicas de melhoria de maciços podem ser utilizadas nas escavações subterrâneas como: injeção de cimento, congelamento, enfilagem, pré-corte, etc .. Concreto projetado é o nome genenco dado ao concreto aplicado pneumaticamente e compactado dinamicamente sob altas velocidades. A flexibilidade da aplicação do concreto projetado o tem tomado um dos principais elementos de suporte de escavações subterrâneas. O uso do concreto projetado em escavações subterrâneas foi pioneiro em obras civis, sendo atualmente utilizado também no suporte de escavações "permanentes" em minas. A Figura 3.8 ilustra os equipamentos utilizados na projeção do concreto. (a) Concreto projetado a seco o v6cuo •jud8 • l'Mta.w o Ux>. - rom. normel (b) Concreto projetado via úmida Figura 3.8 - Equipamentos de concreto projetado. Capítulo 3 - Escavações Subterrâneas em Rocha (Versio 3) 39 O concreto moldado é utilizado em escavações subterrâneas de obras c1vts como revestimento definitivo (Figura 3.9). Elementos de concreto pré-moldado também podem ser utilizados (Figura 3.10). (a) Forma ' Parafuso de fixação 1 a. Concretagem (b) Esquema de concretagem Figura 3.9- Concreto moldado para túneis. SEGMENTO CHAVE (a) Montagem manual (b) Montagem mecânica Figura 3.10 - Concreto pré-moldado como suporte de túneis. As ancoragens são elementos lineares de suporte que atuam comprimindo o maciço nas suas imediações e por conseqüência mobilizam a resistência do maciço por confinamento. Desta forma mesmo que as ancoragens atuem somente numa porção do maciço pode ocorrer uma superposição de efeito de confinamento dando a essa porção uma excelente solidez, como pode ser observado no modelo ilustrado na Figura 3.tla. Dependendo da situação as ancoragens podem ser utilizadas em associação a telas metálicas, que teriam o papel de impedir o movimento de pequenos blocos de rocha entre duas ancoragens (Figura 3.1 tb). As ancoragens também podem ser utilizadas para combater instabilidades estruturais localizadas. Capítulo 3 - Escavações Subterrâneas em Rocha (Versão 3) 40 (a) Modelo de funcionamento para as ancoragens em um maciço fraturado (b) Ancoragem com tela metálica Figura 3.11- Funcionamento das ancoragens e ancoragem com tela. Quando uma ancoragem exerce compressão sobre o maciço ela é dita ativa e recebe a denominação de tirante. Na situação onde para a ancoragem começar a trabalhar é necessário que o maciço apresente algum movimento e mobilize a resistência da ancoragem ela é dita passiva e recebe a denominação de chumbador. Existem diversos tipos de ancoragem, que funcionam por diferentes mecanismos. Um primeiro tipo é um tirante com coquilha expansiva, cuja ancoragem é fixada mecanicamente (Figura 3.12).
Compartilhar