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História do urbanismo Século XVI ao XX Contexto histórico - Renascimento O período do renascimento tem origem em 1453, ocasião em que os turcos conquistam Constantinopla, pondo um fim no Império Romano do Oriente. Com a queda de Constantinopla, as principais rotas comerciais do Mar Mediterrâneo se deslocaram para o Oceano Atlântico. Expansão europeia A partir do século XVI tem início o período das grandes descobertas marítimas, a princípio reservadas às duas nações ibéricas: Portugal e Espanha. No século seguinte, juntam-se a elas: Holanda, Inglaterra e França, dando continuidade à expansão mundial da civilização europeia. Renascimento Humanismo Antropocentrismo Razão e ciência acima da fé Ciência Moderna Empirismo Os arquitetos se empenham em criar uma arquitetura matematicamente perfeita. Antecedentes medievais Organização social e econômica descentralizada: sistema feudal De acordo com GOITIA (1992), “ a cidade da época medieval, propriamente dita, só aparece em começos do ‘século XI, e desenvolve-se principalmente nos séculos XII e XIII. Até esse momento, a organização feudal e agrária da sociedade domina completamente. Burgos Cidades fortificadas da Idade Média: Segundo GOITIA (1992), “ a necessidade desta muralha, que é característica da cidade medieval, esteve, em muitos casos, na causa da origem das finanças municipais. Esta contribuição adquiriu rapidamente caráter obrigatório, e tornou-se extensiva, além da fortificação, a outras obras comuns, como a manutenção das vias públicas. Quem não se submetia a esta contribuição era expulso da cidade e perdia seus direitos. A cidade, portanto, acabou por adquirir uma personalidade legal que estava acima dos seus membros. Era uma comuna com personalidade jurídica própria e independente” . Características físicas Segundo GOITIA (1992), a cidade medieval por necessidades de defesa, “fica geralmente situada em locais dificilmente expugnáveis: colinas ou sítios abruptos, ilhas, imediações de rios”. Adapta-se a uma topografia irregular. O traçado das ruas tinha que resolver as dificuldades da localização, o que fazia com que elas fossem irregulares e tortuosas. As cidades renascentistas A atividade urbanística durante o século XV e XVI consiste, em grande parte, em alterações no interior das velhas cidades que, geralmente, modificam muito pouco a estrutura geral: Abertura de algumas ruas novas, com edifícios solenes e uniformes, Criação de novas praças, regulares ou quase regulares, para enquadramento de um monumento destacado, para representações ou festejos públicos. Benévolo “As cidades e as benfeitorias territoriais criadas durante a Idade Média, na Europa, bastam para as necessidades da sociedade renascentista e são modificadas só em parte; no resto do mundo, ao contrário, os conquistadores e os mercadores europeus encontram um enorme espaço vazio onde podem realizar novos grandes programas de colonização e urbanização”. Houve uma preocupação maior com a arquitetura do que com relação ao urbanismo. Benévolo Para Leonardo Benévolo “A cultura do Renascimento modifica as condições mentais do projeto arquitetônico, mas não consegue modificar da mesma forma a prática das intervenções urbanísticas”. Goitia “O renascimento é, acima de tudo, um movimento intelectual. No campo do urbanismo, as suas primeiras contribuições são insignificantes se as compararmos com a arquitetura do mesmo período e com as realizações cenográficas, com os grandes panos de fundo do final do barroco”. Propostas urbanísticas Houve, a produção, num primeiro momento, não de cidades, mas de teorizações e produções intelectuais quanto ao que seria a cidade ideal. Propostas e ideias baseadas principalmente em modelos geométricos, sendo o octógono a figura mais comumente utilizada. Esta geometrização dos espaços representa um desejo de ordem e disciplina que, à medida em que vai se delineando, entra em confronto com a irregularidade urbana medieval. Cidade Ideal Vários modelos de traçados foram idealizados: A cidade poligonal de oito ou mais lados, foi descrita como perfeita, caracterizada por sua organização circular: tabuleiro de xadrez, sendo a praça o centro estrutural para onde convergem as ruas retilíneas. Octógonos e Eneágonos. Cidade ideal História A cidade de Palmanova está localizada no nordeste da Itália, perto da fronteira com a Eslovênia. A cidade moderna começou como uma fortaleza construída pelo império veneziano nos séculos XVI e XVII para impedir ataques de forças austríacas e turcas. Características A cidade foi fundada em 1593, mas sua construção levou cerca de um século para ser concluída. Construída em uma formação de estrela concêntrica, a cidade é composta por três anéis que foram construídos em etapas. Urbanismo A cidade está dentro de uma área circular com um perímetro de 7 km. Este é cercado por um fosso, com nove baluartes interconectados em forma de setas, que se projetavam para fora da cidade para que os pontos pudessem defender uns aos outros. A entrada para a cidade é feita através de três portões. Ideais A ideia original de Palmanova era ser habitada por mercadores autossustentáveis, artesãos e agricultores. Os construtores impuseram uma harmonia geométrica em seu design, pois acreditavam que a beleza reforçava o bem-estar de uma sociedade. Cada estrada foi cuidadosamente calculada e cada parte do plano original da cidade deveria ser cumprida. Curiosidades Cada pessoa que residisse na cidade teria o mesmo grau de responsabilidade sobre a terra e teria de servir a um propósito específico. Apesar das condições e do layout elegante da nova cidade, quase ninguém aprovou a ideia de se mudar para lá. Em desespero, o governo veneziano perdoou uma quantidade de presos em 1622 e deu-lhes propriedade em Palmanova. A cidade tornou-se um monumento nacional em 1960. Urbanismo lento No geral, o emaranhado irregular das ruas medievais passa a ser cortado para dar lugar à construção de novos edifícios, mais regulares que os antigos, em ruas novas, de perfil mais reto e organizado. Destrói-se determinados trechos da malha urbana medieval, dando lugar a novas vias, novos edifícios, novos espaços a serem utilizados de forma diversa da original. As praças se tornam os pontos em que as principais arquiteturas são desenvolvidas e aparecem como espaço de lazer. Estas aparecem de forma mais geometrizada e organizada. Catedral de Florença Praça del Popolo Urbanismo espanhol: século XVI “As novas cidades seguem um modelo uniforme: um tabuleiro de ruas retilíneas, que definem uma série de quarteirões iguais, quase sempre quadrados; no centro da cidade, suprimindo ou reduzindo alguns quarteirões, consegue-se uma praça, sobre a qual se debruçam os edifícios mais importantes: a igreja, o paço municipal, as casas dos mercadores e dos colonos mais ricos” (Benévolo). Lei das Índias O campo propício à implantação de novas cidades com as características do desenho renascentista vai ser a colonização dos novos territórios descobertos, principalmente da América, onde tudo toma forma a partir da implantação das Leis das Índias, ou Ordenanças de Filipe II. Características Esse documento, composto de 148 ordenanças, é um perfeito modelo de como ocupar um território e aí estabelecer uma população. Define questões relativas à higiene, segurança, setorização para habitações, administração e indústrias, sem esquecer a questão da saúde, determinando localização de hospitais, com isolamento para doenças contagiosas. Modelo em tabuleiro O modelo em tabuleiro, idealizado pelos espanhóis no século XVI para traçar as novas cidades da América Central e Meridional, é aplicado pelos franceses e pelos ingleses no século XVII e no século XVIII, para a colonização da América Setentrional. Lima- Peru Cidades espanholas na América Vão ser os espanhóis, a partir de 1520, os responsáveis pelo surgimento de inúmeros núcleos urbanos utilizando esse modelo extremamente regular. Surgem,assim, cidades como Caracas, na Venezuela, e Lima, no Peru, que, como outras mais, apresentam um traçado rigorosamente retilíneo, com todas as ruas cruzando-se em noventa graus e se organizando a partir de uma praça central, denominada “Plaza Maior” ou “Plaza de Armas”. Havana – Cuba – séc XVII Praça maior O primeiro espaço a ser delimitado é, sem dúvida, o da Praça Maior, considerada à época como o símbolo da unidade cívica e constituindo o elemento central do urbanismo hispano-americano. Características da praça. Benévolo, 2002 A cidade deveria ser uma retícula regular de quarteirões iguais, em cujo centro deveria se dispor uma grande praça aberta (plaza mayor), central e voltada à realização de festividades; O tamanho da praça deveria ser proporcional ao número de habitantes, sem esquecer seu possível crescimento; A praça seria acessada por quatro ruas, voltadas aos quatro pontos cardeais e cada uma disposta a partir do ponto médio de cada lado, além de duas de cada um dos ângulos, que deveriam desembocar sem serem obstruídas pelos pórticos da praça. Sua largura seria definida conforme o clima (se quente, larga; se frio, estreita); Na praça deveriam ser dispostos os edifícios mais importantes: a igreja, o paço municipal e as casas dos mercadores e dos colonos mais ricos. No caso da necessidade de conversão dos nativos ao cristianismo, a igreja deveria ser antecedida por um grande pátio e ao lado da fachada estabelecida uma capela aberta; Reservados os principais lotes edificáveis ao redor da praça central, os demais seriam distribuídos ao acaso para aqueles colonos com condições de ali se estabelecerem. Os lotes não-atribuídos seriam destinados a futuros colonos. Problemas Entretanto, já era grande o número de cidades e vilas implantadas em território americano antes das ordenações, nos quais se pôde interferir apenas em parte. As cidades que surgiram com base em um plano regular, a partir do momento em que surge a necessidade de ampliação, tem o plano abandonado. Ausência do fator Humano As cidades surgidas a partir do início do Renascimento apresentam uma outra particularidade que é a ausência da população como elemento definidor de sua estrutura. A determinação de um plano preconcebido, a existência de um planejador que define direção, largura e regularidade das vias, que padroniza as fachadas e sua relação com ruas e praças proporciona o surgimento de uma cidade impessoal, onde o cidadão, não tem, na organização urbana, sua parcela de contribuição. Planejador A figura do planejador concentra o poder de estruturação urbana, deixando a cidade de ser um elemento orgânico para ser uma estrutura pensada cada vez mais em função de uma minoria estabelecida no poder. Circulação coletivizada A circulação dentro das cidades deixa de ser feita exclusivamente à pé, passando agora a ser a rua dividida entre os pedestres e os carros de tração animal - charretes e coches. Isto vai exigir um tratamento diferenciado da via pública, tanto no que se refere à largura quanto à declividade do terreno onde está implantada. Relação edifício/via pública elemento indissociável na organização do espaço urbano – rua como um todo arquitetônico. A via é um elemento de interligação e de valorização dos pontos importantes da cidade, permitindo ainda a melhor visualização dos edifícios a partir de diferentes localizações por parte do observador. Utilização do espaço viário O espaço viário urbano passa, então, com o Renascimento, a ser dividido e utilizado de três formas principais e diferenciadas: Espaços destinados basicamente ao tráfego, tanto de pedestres quanto de transportes de tração animal. Espaços para atividades recreativas e residenciais Espaços destinados ao trânsito de pedestres apenas. conclusão A cidade americana representativa da colonização espanhola vai ser o único momento do urbanismo renascentista no qual se consegue um total controle tanto em nível de projeto quanto de execução e uso dos espaços, o que vai fazer com que sejam utilizados por praticamente quatrocentos anos, mantendo sua funcionalidade mesmo depois de terminado o período de dominação colonizadora.