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POLÍTICAS PÚBLICAS E SUSTENTABILIDADE Autoria: Maria Carolina Almeida Dias Indaial - 2021 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI D541p Dias, Maria Carolina Almeida Políticas públicas e sustentabilidade. / Maria Carolina Almeida Dias – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 128 p.; il. ISBN 978-65-5646-388-9 ISBN Digital 978-65-5646-384-1 1. Sustentabilidade ambiental. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 333.72 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 A Globalização e Suas Interfaces .............................................. 7 CAPÍTULO 2 Pilares da Sustentabilidade e os Desafios Para o Desenvolvimento Econômico-Social ............................ 47 CAPÍTULO 3 Instrumentos Para o Planejamento de Políticas Públicas Para A Sustentabilidade ............................ 87 APRESENTAÇÃO Olá, estudante! Você está iniciando a leitura do livro Políticas Públicas e Sus- tentabilidade. Nele, encontrará informações que refletem sobre o processo de construção de um novo paradigma ambiental, frente ao crescimento da indústria e do desenvolvimento econômico a qualquer custo. Já podemos imaginar o quão desafiador esses aspectos podem ser tratados no âmbito político e das relações internacionais, não é mesmo? O atual modelo civilizatório não contribuiu para a construção de uma agenda ambiental de fato e isso requer uma análise muito profunda por parte daqueles que se dedicam a trabalhar com questões ambientais e, sobretudo, de profissio- nais que desejam atuar em áreas ligadas à sustentabilidade ambiental. Vamos conhecer a estrutura do livro? Ele foi construído com muita dedicação e estudos aprofundados, sendo estruturado da seguinte maneira: • Capítulo 1: A globalização e suas interfaces. • Capítulo 2: Pilares da sustentabilidade e os desafios para o desenvolvimento econômico-social. • Capítulo 3: Instrumentos para o planejamento de políticas públicas para a sus- tentabilidade. No primeiro capítulo, veremos como o processo de globalização impacta nas decisões e nas políticas ambientais em todo o mundo. Você compreenderá as fa- ses da globalização, sua relação com o modelo econômico vigente na atualidade e como a industrialização teve papel fundamental para a acentuação dos fluxos de mercadorias, pessoas, informações e capitais que temos na atualidade. Também irá conhecer e refletir, de maneira crítica, como a sociedade globa- lizada é pautada por desigualdades extremas, tanto nos aspectos econômicos, como no acesso ao conhecimento e à informação. Verá como a relação entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos ocorre de maneira rígida e que apenas um dos lados é valorizado: o lado desenvolvido do mundo. O papel do Estado Na- cional se ressignifica e organismos supranacionais ganham força, visando ampliar o debate acerca de diferentes assuntos, como a proteção ambiental, o comércio, entre outros, no âmbito das relações internacionais. Por fim, você verá sobre a geopolítica do meio ambiente, que reflete as re- lações desiguais entre os países do Norte, desenvolvidos e os países do Sul, subdesenvolvidos. Sobre esse assunto, você já deve imaginar que essa relação é muito conflituosa e que gera impactos sociais e ambientais muito severos, sobre- tudo nos países subdesenvolvidos, que veem, na chegada de capital estrangei- ro, uma mínima oportunidade de crescer. Porém, veremos que, na realidade, as externalidades negativas provenientes dessa exploração (Norte e Sul) somente favorecem os países desenvolvidos. Já no Capítulo 2, veremos mais profundamente o conceito de sustentabilida- de, como ele foi se construindo e modificando ao longo dos anos, a partir do apro- fundamento do debate ligado à agenda ambiental global e local. Nesse sentido, você conhecerá as dimensões que cercam o debate sobre a sustentabilidade e como, em alguns casos, ela pode ser contraditória. Além disso, trazemos a ideia do agir local para ter resultados globais. Nesse caso, veremos exemplos de ações que impactam positivamente a sociedade e desvinculam a ideia de desenvolvimento econômico atrelado à poluição, degra- dação ambiental e exploração de povos e culturas. Ou seja, você conhecerá um novo paradigma ambiental: a busca pela sustentabilidade. Por fim, o Capítulo 2 traz um debate acerca do desenvolvimento econômico e social por meio de ações sustentáveis que favorecem uma visão sistêmica da realidade e busca propor alternativas que garantam um meio ambiente digno e saudável para a presente e futuras gerações. Depois de conhecer o conceito de sustentabilidade, como ele foi construído e quais foram as contribuições para a ampliação do debate ambiental na agenda internacional, no Capítulo 3, vamos falar sobre os avanços que foram alcançados pela sociedade e, sobretudo, pelos movimentos sociais e ambientais, no que diz respeito às ações realizadas nos setores público e privado. Sendo assim, o conceito de sustentabilidade se insere na política, nas organi- zações e, inclusive, nos grupos sociais como artesãos, produtores rurais, peque- nos empresários, entre outros tantos que colaboram para a disseminação de um mundo mais sustentável, agindo localmente e contribuindo para toda sociedade. Dedique um tempo para a leitura e para realizar as atividades propostas. De- sejamos que você tenha um ótimo momento de estudos! Professora Maria Carolina Almeida Dias. CAPÍTULO 1 A Globalização e Suas Interfaces A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � entender o processo de globalização, desde suas fases iniciais até os dias atuais; � identificar as relações de poder entre os Estados, intrínsecas ao conceito de território; � discutir o processo de globalização de maneira crítica; � comparar situações em que há conflitos e tensões específicas relacionados às questões ambientais entre os Estados. 8 Políticas Públicas e Sustentabilidade 9 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Vamos iniciar nossos estudos falando sobre o processo da globalização e suas diferentes facetas. Podemos considerar que vivemos em um mundo globa- lizado, devido às grandes inovações e avanços dos meios de transporte e comu- nicação, entre outros fatores atrelados à intensidade de fluxos e informações que o mundo global possui. Mas ficam alguns questionamentos: será que, realmente, estamos mais conectados? Os Estados Nacionais estão mais abertos e relacio- nam-se mais facilmente em um mundo globalizado? Como o meio ambiente está inserido nessa globalização? Esses e outros questionamentos serão tratados neste capítulo a fim de su- perar algumas questões relacionadas à globalização e suas diferentes formas de atuação nas nações. Primeiramente, iremos nos referir às relações de poder e como a globalização se insere nesses relacionamentos, sejam eles entre Esta- dos, entre povos ou entre grandes corporações transnacionais. Posto isso, trataremos dos caminhos que poderemos percorrer como socie- dade globalizada. Quais são as possibilidades apresentadas pelo mundo global, como estamos inseridos atualmente e quais seriam as novas propostas a serem seguidas no futuro.Por fim, trataremos da geopolítica do meio ambiente, ou seja, como os países se inter-relacionam a respeito das questões ambientais e como atitudes individuais (por uma nação) podem afetar diferentes países no mundo, num contexto regional ou até mesmo global. Neste primeiro capítulo, você terá acesso a diferentes termos, conceitos e situações que se interligam ao nosso tema principal de estudo: compreender o processo de globalização e como ele influenciou a geopolítica do meio ambiente no âmbito das relações internacionais. Para compreender esse tema é fundamental entender como nossa socieda- de urbana e industrializada foi se desenvolvendo e alcançando níveis de degra- dação ambiental exorbitantes, que fizeram com que chegássemos à conclusão de que é necessário revermos nosso modelo de desenvolvimento, pois manter nosso nível de consumo e exploração dos recursos naturais não será viável. 2 A GLOBALIZAÇÃO E SUAS INTERFACES A globalização é um processo que está em constante transformação e tais modificações são provenientes dos avanços tecnológicos e da disseminação de 10 Políticas Públicas e Sustentabilidade conhecimento e da informação a diferentes nações do globo. Contudo, veremos que esse processo também é desigual e nem todos os países se inserem na glo- balização de maneira adequada. A partir do desenvolvimento deste primeiro capítulo, você será capaz de re- fletir criticamente sobre o processo de globalização e sobre o desenvolvimento econômico industrial ocorrido a partir do século XVII. Você também conhecerá as relações de poder entre as nações e os processos históricos que influenciaram a reprodução de um mundo com grandes potências mundiais, mas também com grandes nações subdesenvolvidas. Vamos iniciar nossa leitura! 2.1 GLOBALIZAÇÃO E RELAÇÕES DE PODER A globalização é um fenômeno em processo, em construção e em constante modificação. Alguns autores consideram que o processo de globalização se ini- ciou a partir das grandes navegações, em que se havia uma ordem mundial cen- trada no poder europeu, o qual trazia em si grandes conquistas e explorações de recursos naturais e, sobretudo, de povos considerados, por eles, como inferiores. A partir da expansão das colônias europeias, a globalização estava sendo inseri- da e começava a se desenvolver, ainda que de modo menos intenso. A partir da década de 1970, podemos considerar que a globalização se ins- talou de fato pelo mundo. Com a chamada Revolução Técnico-Científica-Informa- cional, trazida pela Terceira Revolução Industrial, a globalização tomou o espaço de estudos e pesquisas acerca das ações que poderiam ser afetadas a partir dos avanços dos meios de transporte e comunicação e pelas diferentes tecnologias então empregadas a fim de intensificar e aprimorar o processo produtivo, as tro- cas comerciais e os fluxos financeiros inseridos no mercado globalizado. O mundo, portanto, passou por diferentes transformações que acarretaram novas formas de relacionamento entre as nações. Passamos de um mundo com- posto por apenas uma potência regional, representada pela Europa nos séculos XV e XVI, para um mundo multipolar, representado pelas nações industrializadas a partir do século XVII. Essas ordens mundiais representadas por diferentes polos de poder estão pautadas por diversos modos de relacionamento entre as nações. Há o processo de desenvolvimento das economias industrializadas em detrimento da grande ex- ploração das economias ainda em desenvolvimento ou consideradas subdesen- 11 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 volvidas. Tal processo se estende até os dias atuais, em pleno século XXI, porém com algumas modificações que veremos por todo este capítulo. Em todos os momentos da história, houve alternâncias nos modos em que as nações relacionavam entre si e em como elas impunham seu poder. Referindo-se ao mundo multipolar (ou unipolar, se consideramos o poder exercido pelas nações europeias) do período das grandes navegações, o poder era instituído pela su- premacia europeia em suas conquistas, pela concentração do conhecimento em navegações e pelo desenvolvimento de armas para proteção de suas riquezas e imposição do poder em suas colônias, inicialmente nos continentes americano e africano e, posteriormente, nos continentes asiático e novamente no africano, através da Partilha da África. Vale lembrar que o continente asiático e, sobretudo, o continente africano, foram disputados e colonizados por potências europeias, que viam nesses conti- nentes possibilidades de exploração de recursos naturais e de mão de obra bara- ta, tal realidade não é muito distinta da que vemos hoje. Conhecer o processo de colonização no continente africano é fundamental para compreender as relações de poder trazidas pela exploração de países então chamados de subdesenvolvidos. Tais relações nós veremos muito durante este capítulo. Para saber mais sobre a Partilha da África, acesse o site: https://super.abril.com.br/ especiais/a-partilha-da-africa/. Temos, portanto, inicialmente, uma relação de poder muito forte, que é dada pela relação entre metrópole e colônia, que, atualmente, vai resultar em relações de influência entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento ou subde- senvolvidos. Com o passar dos anos, e com o desenvolvimento da indústria e aprimora- mento das técnicas, o mundo se via numa nova forma de imposição de poder, aquele relacionado a quem detém tecnologia suficiente para explorar os recursos naturais a fim de gerar matérias-primas e energia para a produção industrial. O mundo se via organizado em múltiplos polos de poder, relacionados à de- tenção das técnicas de produção e capacidade de comercialização dos produtos https://super.abril.com.br/especiais/a-partilha-da-africa/ https://super.abril.com.br/especiais/a-partilha-da-africa/ 12 Políticas Públicas e Sustentabilidade e reprodução de capital. Tal modelo esteve em vigor desde o início da industriali- zação, no final do século XVI até o início da Guerra Fria, em 1945. Tal período, marcado pela Guerra Fria, foi destinado ao embate entre duas grandes nações de polos ideológicos político e econômico severamente distintos, estamos nos referindo ao que foi chamado de mundo bipolar. Havia, portanto, uma relação de poder diversa composta por nações que desenvolviam tecnolo- gia nas mais diferentes áreas (bélica, espacial, industrial etc.) para construir sua hegemonia através do desenvolvimento de armas, no alcance de bons resultados econômicos, na construção de tecnologia espacial e, sobretudo, na dominação do sistema econômico a ser vigorado no mundo. O grande símbolo desse período foi o Muro de Berlim, que dividiu a Alema- nha nesses dois grandes blocos, representados e liderados pelos Estados Unidos e pela então União Soviética (que posteriormente diluiu-se em outros territórios, principalmente composto pela atual Federação Russa), o capitalista e o socialista, respectivamente. O período do mundo bipolar foi sacramentado pela queda do Muro de Berlim e pela prevalência da hegemonia capitalista, que ditou (e ainda dita) as regras do sistema econômico mundial. Posteriormente a esse fato, ocorrido em 1989, tem- -se um marco, que alguns autores consideram como o início, de fato, do mundo globalizado. É importante ressaltar que a Revolução Técnico-Científica-Informa- cional (Terceira Revolução Industrial) ocorreu justamente no período da Guerra Fria, no mundo bipolarizado. A Figura 1 traz um esboço das transformações ocorridas no mundo, nas or- dens mundiais e suas relações de poder entre as nações. FIGURA 1 – ORDENS MUNDIAIS E AS RELAÇÕES DE PODER FONTE: A autora As ordens mundiais, portanto, seguem alinhadas às relações de imposição e de poder exercidas pelas nações e entre as nações do mundo. Com o advento das indústrias, muitas transformações foram ocorrendo em todo o mundo, decor- rentes de novas formasde consumo, pela disseminação das empresas transna- cionais, pela ampliação da exploração dos recursos naturais e pela degradação 13 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 ambiental decorrente de todo o processo produtivo. Dessa maneira, é fundamen- tal compreender o papel que as organizações e as grandes corporações exercem no mundo e de maneira direta e indireta, nas relações internacionais. Com um mundo globalizado, as nações, os povos e, consequentemente, as grandes corporações transnacionais tornaram-se ainda mais interdependentes. Com isso, você deve imaginar que as nações se tornam muito mais abertas e flexíveis à chegada de novos fluxos (pessoas, capitais, mercadorias, entre outros), correto? Bom, na prática não é bem assim que ocorre. Diante dos interesses do capi- tal globalizado, as grandes potências econômicas e detentoras de tecnologias de ponta concentram o poder e ditam as regras na economia global, trazendo para o debate as questões relacionadas a quem tem o direito ou não de acessar o co- nhecimento globalizado da maneira como o conhecemos. A Figura 2 ilustra a interdependência entre os países e formação de redes que conectam cada uma das nações e regiões do mundo, sobretudo uma certa concentração dessas redes na Europa Ocidental, Ásia Oriental e América do Norte, onde historicamente concentraram-se a dominação econômica, a inovação e o conhecimento de modo geral. FIGURA 2 – FLUXOS COMERCIAIS – MUNDO FONTE: Adaptada de Didelon, Grasland e Richard (2008) 14 Políticas Públicas e Sustentabilidade A projeção azimutal polar do mapa na Figura 2 possibilita observar um ponto importante no mundo multipolar: a tríade, constituída pelos novos polos de poder, pós-Guerra Fria, constituindo um triângulo interconectado, abrangendo as regiões de influência dos Estados Unidos, Japão e União Europeia. Atividades de Estudo: 1) Analise o mapa a seguir e responda ao que se pede: FIGURA 3 – REGIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO MUNDIAL FONTE: Adaptada de Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006) 15 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 O mapa apresenta uma proposta de regionalização do espaço geográfico mundial no contexto pós-Guerra Fria, em que se havia instaurado uma nova ordem (ou desordem, como sugerem os au- tores) multipolar. De acordo com as redes e territórios inseridos na proposta e as relações entre eles, analise as afirmações a seguir: I- Podemos considerar que há múltiplos territórios inseridos como potências mundiais, que são os mesmos possuidores de forte identidade cultural. II- Os polos de poder apresentados no mapa são compostos, princi- palmente, pela Europa Ocidental, Estados Unidos e Japão. III- Os países compostos pela semiperiferia são aqueles que, atual- mente, representam o mundo subdesenvolvido ou subdesenvolvi- do industrializado. IV- A rede mundial está concentrada nas grandes potências mun- diais, influenciando as demais regiões, como as semiperiferias. Estão corretas as afirmações: a) ( ) I e II, apenas. b) ( ) I, II e III, apenas. c) ( ) II, III e IV, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) II e IV, apenas. Diante das desigualdades inerentes ao processo de globalização, temos o que Milton Santos (2015), um dos maiores geógrafos brasileiros reconhecido in- ternacionalmente, chamou por diferentes tipos e faces da globalização: • a globalização como fábula; • a globalização perversa; • uma globalização como a sociedade deseja, uma outra globalização. A globalização como fábula refere-se àquela que querem que acreditemos que exista. Dizem que os povos e nações vivem, atualmente, numa grande aldeia global, ou seja, partilham conhecimento, recursos e tecnologia entre si de maneira igualitária. Também é disseminada a ideia de que estamos na era da informação e do conhecimento e que todos possuímos meios suficientes para acessá-los da maneira adequada. Contudo, a globalização da forma como a vemos, intensificou ainda mais as 16 Políticas Públicas e Sustentabilidade desigualdades sociais e econômicas, gerando um novo processo de exclusão: a exclusão digital. Você já deve ter passado por essa situação: Alguém que você co- nhece não possui acesso à internet como seria o ideal? Você já se deparou com pessoas ou soube de alguém que sequer tinha uma conta corrente em um banco? É disso que estamos falando, dessa desigualdade de oportunidades. Posto isso, temos a segunda face da globalização, que é a da perversidade. Nações que detêm o conhecimento, a tecnologia e recursos suficientes para ex- plorar suas riquezas e as riquezas de nações subdesenvolvidas são aquelas que representam os grandes polos de poder econômico, cultural, político e bélico do mundo e que atuam em detrimento de nações que não possuem recursos ade- quados para se inserir no mundo globalizado. Em consonância a esse pensamento, Castells (2010, p. 14) diz que a glo- balização pode ser tanto includente como excludente e complementa: “Não se pode dizer que a globalização é negativa ou positiva, depende para quem, para quando, de onde e de como se é avaliado, porque às vezes pode ser positiva no econômico, mas negativa no meio ambiente, por exemplo”. Vale ressaltar também que, além disso, vivemos uma fase de grande valori- zação pelo conhecimento e informação, sendo um dos grandes avanços tecno- lógicos da atualidade: as novas formas de nos comunicar, a velocidade com que nos comunicamos e entre tantos outros meios de divulgação científica e informa- cional que temos disponíveis, ou seja, estamos inseridos na Era da Informação. Por fim, Milton Santos (2015) sugere uma outra globalização, pautada pela sustentabilidade ambiental, social e cultural, em que é possível haver um re- lacionamento menos desigual entre as nações, um maior respeito entre as di- ferentes culturas e que, acima de tudo, os povos tenham acesso adequado ao conhecimento e à informação. Neste momento, cabe falarmos sobre o que é a Divisão Internacional do Tra- balho: • Como se dá essas relações desiguais entre as nações? • Qual o papel que cada uma delas desempenha na economia mundial? Após diversas modificações que foram sendo acompanhadas pela evolução do sistema econômico capitalista e de inovações do mundo globalizado, a atual Divisão Internacional do Trabalho funciona da seguinte maneira: 17 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 FIGURA 4 – INFOGRÁFICO DA ATUAL DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO FONTE: A autora Na Figura 4, vemos que países desenvolvidos exploram recursos naturais de países subdesenvolvidos industrializados a fim de obter vantagens competitivas na produção de suas mercadorias de tecnologia superior. Outra característica é a inserção de suas empresas em países de diferentes continentes, as chamadas transnacionais, ou até mesmo a terceirização da produção (no todo ou em partes de seus produtos) em países subdesenvolvidos. Tal fato é pautado pelo pretexto de que há grandes investimentos nesses países, buscando desenvolvê-los. Em suma, a atual Divisão Internacional do Trabalho determina qual é o papel de cada país no processo produtivo de determinado produto ou de partes e peças deste. Com isso, países subdesenvolvidos de industrialização tardia ficam com a maior parte das externalidades negativas (poluição, desmatamento, exploração de áreas para extração mineral, mão de obra pouco qualificada, entre outras). No geral, tais países possuem leis ambientais menos rígidas, leis trabalhistas flexí- veis, o que afeta a sua realidade social e ambiental. Sabemos que, na realidade, as grandes transnacionais buscam países em que possam explorar seus recursos naturais e mão de obra a custos demasiada- mente reduzidos, acentuando as externalidades negativas de todo o processo de produção a esses países com menores recursos, que estão à margemdo mundo globalizado. Essa é a atual Divisão Internacional do Trabalho, que favorece paí- ses ricos, em detrimento de países subdesenvolvidos através da poluição, explo- ração de recursos naturais e de mão de obra mal paga. Portanto, podemos considerar que vivemos num mundo da globalização per- versa (citada por Milton Santos) e que as relações de poder poderão se dar por meio de setores como o cultural, bélico, político e, sobretudo, econômico. 18 Políticas Públicas e Sustentabilidade Com relação aos termos empregados neste capítulo, faz-se ne- cessárias algumas definições e esclarecimentos a respeito do que chamamos de globalização e mundialização. Alguns autores fazem distinção entre ambos. Com a disseminação das transnacionais e do mercado global, com certeza você já deve ter se deparado com algumas expressões de língua estrangeira, utilizou produtos fabricados fora de seu país, alimentou-se de comidas típicas de países de continentes distintos do seu. Isso é um exemplo do que chamamos de mundialização, que se refere, sobretudo, ao fato de que, com um mundo mais co- nectado, há maior compartilhamento e disseminação de culturas dis- tintas. E aí podemos ter uma outra relação de poder: a imposição de uma cultura sobre a outra, reduzindo valores tradicionais de determi- nados países. Já a globalização pode ser entendida como o processo mais amplo, de disseminação da cultura, ampliação dos fluxos de pesso- as, mercadorias, capitais. Ou seja, a globalização seria o processo de disseminação desse novo modelo de vida e de comércio, que vai impactar diretamente no modelo econômico atual. Sendo assim, mundialização e globalização são muito similares entre si e, muitas vezes, são tratadas como sinônimos. Para fins de esclarecimento, neste capítulo trataremos ambos os processos, de expansão das transnacionais pelo mundo e todo o poder com rela- ção às trocas comerciais relacionadas a elas e a disseminação e tro- cas culturais, como globalização. Com relação às questões culturais que envolvem os processos de disse- minação de conhecimento, cultura, entre outros, Hollywood pode ser um grande exemplo do que estamos tratando agora. Possuindo grandes produções cinematográficas que, historicamente fazem alusão ao modo de vida estadunidense, muitos costumes foram sendo incorpora- dos, mesmo que sutilmente, no cotidiano das pessoas espalhadas pelos países mundo afora. A massiva disseminação de redes de fast-food também é outra ma- neira de impor o modo de vida estrangeiro em determinados países. 19 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 Temos, portanto, uma forma de poder que chamamos de soft power, que é aquele inserido nas sociedades de uma maneira sutil e que, de certa maneira, traz benefícios ao país detentor desse poder. Um exemplo bem atual, diferente do esta- dunidense, é a cultura pop sul coreana, que vem exportando sua música e atrações cinematográficas ao mundo, inserindo-se na cultura jovem e que, através da arte, tem alavancado o setor cultural do país, trazendo recursos financeiros estrangeiros ao país que, até então, pouco se inseria nessa temática em escala global. A China é outro grande exemplo de influência das relações de poder, mas sob o aspecto financeiro. Por ser um país com um elevado e acelerado cresci- mento econômico, tem sido um exemplo a ser seguido por economias subdesen- volvidas e, por isso, exerce força e influência sobre as parcerias diplomáticas e comerciais que busca realizar (CHARLEAUX, 2019). Diante do exposto, portanto, é importante ressaltar que o termo soft-power foi cunhado, pela primeira vez, pelo cientista político Joseph Nye, ainda na década de 1990, para se referir ao modo com que alguns países conseguem influenciar outros, por meio de seus aspectos culturais, políticos, econômicos e comerciais. Esse mesmo cientista político citou em artigos mais recentes que o poder relacionado a países como a China e Rússia (países emergentes) denomina-se sharp power, para se referir ao poder relacionado especificamente a essas duas economias, contudo, ainda há divergências no uso desse termo ao se referir a es- sas economias. Para entender melhor esse assunto, sugerimos uma leitura com- plementar que auxiliará a compreender um pouco mais o contexto relacionado aos termos citados aqui. Para saber mais sobre o sharp power e o soft power e outras relações de poder contemporâneas, acesse a reportagem do Nexo Jornal, que apresenta de maneira bem explicativa a origem e as con- siderações a respeito desses termos originados na Ciência das Re- lações Internacionais. Disponível em: https://uniasselvi.me/3jMlsZh. A Figura 5 demonstra os termos utilizados e apresentados por Nye (2018), que representam bem os modelos de influência e poder entre os países: 20 Políticas Públicas e Sustentabilidade FIGURA 5 – RELAÇÕES DE PODER ENTRE PAÍSES FONTE: Adaptado de Charleaux (2018) De acordo com Charleaux (2018), e conforme vê-se na Figura 5, há uma linha tênue que difere o soft power do sharp power, contudo, pode-se compre- endê-los ao comparar duas situações: 1) a distribuição de sinais de rádio ou de internet por um determinado país e 2) a disseminação de notícias falsas por meio das redes de comunicação em massa. O primeiro exemplo trata-se do soft power, já o segundo, de sharp power. Percebe-se, então, que há um poder muito mais direto e coercitivo no segundo exemplo, o sharp power. Em suma, pode-se concluir que “grandes potências são acusadas de influen- ciar a política local em outros países por meio do fluxo de informação e, mais recentemente, das redes sociais; ou, de maneira mais direta, financiando orga- nizações locais” (CHARLEAUX, 2018, s.p.). Ou seja, as relações de poder entre as nações, na atualidade, podem se estabelecer através da aquisição de infor- mações, disseminação através de redes sociais e em como tais informações lhes dão poder, sobretudo, de influenciar outras nações e organizações. Vimos, portanto, que o sharp power é mais direcionado pelos pesquisadores e estudiosos das relações internacionais, quando se referem ao poder exercido por economias emergentes, como a China e a Rússia, por exemplo. Contudo, pode-se perceber que os Estados Unidos também utilizaram (e ainda utilizam) o sharp power. Até agora, vimos que as relações de poder no período da globalização podem ter diferentes caminhos. Há o processo que se estabelece a partir dos poderes li- gados a questões econômicas e políticas, por exemplo, mas também há grandes exemplos de países que até então são pouco reconhecidos no sistema econômico capitalista e que têm ganhado força devido ao seu poder de influência cultural em crescimento, como é o exemplo da Coreia do Sul, ou de seu avanço no desenvolvi- mento comercial recente, com grande impacto econômico, como é o caso da China. 21 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 Também vimos que a globalização é peça-chave para compreendermos as relações que se dão entre os países e suas interdependências. Com isso, con- forme diz o sociólogo Manuel Castells, aquele está inserido na globalização, tem poder e está em destaque na economia global. Aquele que não está inserido, fica- rá com a pior parte do processo e será marginalizado nas relações internacionais (CASTELLS, 2010). Resta-nos saber, portanto, quais são os novos papéis tomados pela socie- dade e pelo Estado e quais caminhos eles devem percorrer dentro dessa nova era que estamos vivenciando, já considerada uma nova revolução tecnológica: a revolução informacional. 1) Observe a Figura 6, que apresenta o mapa dos fluxos comerciais da Toyota (tenha atenção, pois ele está centralizado no continen- te asiático): FIGURA 6 – FLUXOS COMERCIAIS DA TOYOTA FONTE: Adaptada de Durand e Copinschi (2009) 22 Políticas Públicas e Sustentabilidade O mapa apresenta os locaisde produção e mercados da empre- sa japonesa Toyota. Analisando os itens da legenda e os elementos dispostos, responda as seguintes questões: a) É possível perceber que há uma clara representação da atual Di- visão Internacional do Trabalho. Identifique os países onde estão localizadas as linhas de montagem dos veículos ou locais de pro- dução de peças. Eles concentram-se em países desenvolvidos ou subdesenvolvidos? b) Observando a localização dos Centros de Pesquisa e Desenvolvi- mento (P&D), em quais países eles estão localizados? A maior par- te está localizada em países desenvolvidos ou subdesenvolvidos? c) Relacione os resultados das questões anteriores com a seguinte afirmação: A nova Divisão Internacional do Trabalho acentua o papel dos países subdesenvolvidos como locais de exploração de mão de obra barata, trazendo vantagens comerciais a apenas um dos lados: aos países desenvolvidos. 2.2 SOCIEDADE E ESTADO: NOVOS CAMINHOS? Diante do processo de globalização em intensa transformação, cabe-nos per- guntar: quais são os papéis do Estado e da sociedade em um mundo globalizado? Sabe-se que há uma redução nas distâncias, acredita-se numa maior flexibilidade dos países em receber novas pessoas, de diferentes lugares e receber empresas de diferentes regiões do planeta, contudo, não é bem assim que tais relações vêm seguindo seu curso. • Antes de mais nada, o que significa o termo Estado? Estado, com sua inicial maiúscula, refere-se ao Estado Nacional, ou ao país com reconhecimento internacional, por órgãos e instituições, como costumamos conhecer. Para que um Estado Nacional seja reconhecido, este deve possuir um povo, um território e um governo soberano, com poder de governar, legislar e controlar todo o território nacional. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), no mundo, há 193 países, ou seja, Estados Nacionais (ou também cha- mados de Estado-nação) (ONU, 2020). 23 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 A atuação dos Estados Nacionais no contexto da globalização se dá, muitas vezes, de maneira contraditória e veremos como esse processo envolve e implica diferentes questões relacionadas a problemas de ordem econômica, ambiental, política e cultural. Nesse processo, as economias são globais, contanto que suas atividades estejam direcionadas aos mercados financeiros (CASTELLS, 2010), tendo em vista o grande crescimento das transnacionais e a abertura do capital empresarial nas bolsas de valores, por exemplo. Como você pode ver, o papel do Estado Nacional na globalização acaba se tornando contraditório. Mas qual a razão desta contraditoriedade? Inicialmente, temos a ideia de que, para uma economia se tornar globalizada, a atuação das transnacionais deve ser intensa, não é mesmo? Na realidade, o Estado também possui um papel fundamental no estabelecimento dessas comu- nicações e desses fluxos comerciais internacionais. De acordo com Castells (2010), sem a disponibilidade dos Estados em pro- porcionar a abertura comercial, a desregulamentação e liberalização de suas eco- nomias e de colocarem à disposição a abertura de suas fronteiras, não é possível haver a globalização da economia como vemos atualmente. De acordo com o autor: Não é correto que somente as empresas transnacionais se- jam globalizadoras [...]. [...] a globalização do capital ou do comércio internacional não depende somente de que exista a tecnologia para globalizar ou a estratégia empresarial para fazê-lo: depende que os Estados realmente liberalizem, desre- gulamentem, privatizem, eliminem as fronteiras e isso é o que tem sido feito (CASTELLS, 2010, p. 14). Nesse ponto, é importante ressaltarmos o ciclo do sistema econômico capi- talista, como este foi se desenvolvendo e como o papel do Estado mudou drasti- camente à medida que o capitalismo foi se moldando às novas estruturas (a partir da industrialização e internacionalização das organizações) que foram sendo ins- tituídas ao longo dos anos. Com isso, temos que o capitalismo foi se desenvolvendo ao lon- go do tempo, após a formação dos Estados Nacionais e o desen- volvimento do mercantilismo, por volta dos séculos XVI ao XVIII, no então chamado capitalismo mercantilista, baseada no protecionismo. Tal corrente econômica segue fortalecida até o período da Primeira Revolução Industrial, no século XVIII e início do século XIX, ocorren- do principalmente na Inglaterra, quando o processo de acumulação de capital obteve números extremamente expressivos e o liberalismo era a corrente econômica predominante. Ou seja, o Estado pouco ou 24 Políticas Públicas e Sustentabilidade nada intervia na economia, através da chamada “mão livre do merca- do” preconizada por Adam Smith. Com isso, temos o que se chamou de capitalismo industrial, sobretudo quando o desenvolvimento da in- dústria se disseminou por outros países da Europa Ocidental. O liberalismo teve força até a crise de 1929, ou a chamada crise da superprodução, que forçou uma nova corrente econômica deno- minada keynesianismo, o qual buscava o bem-estar social (welfare state) através da ação estatal que garantiria a redução de crises e a manutenção do sistema. Esse período ficou marcado pela consoli- dação da indústria, o avanço das inovações nas redes de telecomu- nicações e pelas transnacionais se disseminando pelo mundo, ha- vendo uma abertura do capital empresarial ao mercado internacional. Sendo assim, temos o chamado capitalismo financeiro. Com o avanço tecnológico trazido pelo avanço das técnicas, sobretudo a partir de 1970, a industrialização avançou um patamar mais inovador, através do então chamado capitalismo informacional, que pode ser entendido por uma fase mais avançada do capitalismo financeiro. A partir de então, têm-se as transformações de um mun- do mais conectado, pautado pela disseminação massiva de informa- ções, capitais e de pessoas. A corrente vigente nesse período e que segue até os dias atuais é o neoliberalismo, que nada mais é do que uma evolução dos ideais liberalistas inseridos anteriormente. Uma ação que exemplifica bem essa corrente são as crescentes privati- zações, como ocorrido no Brasil a partir do início da década de 1990. Para compreender um pouco mais como se deu o processo de desenvolvimento do capitalismo apresentado, observe a Figura 7, que apresenta uma periodização dessas etapas e a corrente econô- mica vigente em cada uma delas. FIGURA 7 – FASES DO CAPITALISMO FONTE: Adaptado Bresser-Pereira (2020) e Carvalho (2018) 25 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 O processo de globalização, em sua fase mais avançada, encontra-se pre- sente a partir do período do capitalismo informacional, o qual podemos considerar que tem passado por transformações constantes no período atual. É possível per- ceber que os processos de desenvolvimento da globalização, da industrialização e do sistema econômico capitalista são intimamente interligados e interdependen- tes. Além disso, percebe-se também que o sistema econômico vigente é pautado por transformações constantes causadas por crises e fragilidades inerentes a ele. É importante destacar que, como foi dito, o sistema econômico capitalista é composto por fases distintas entre si, mas que, de certa maneira, estão interliga- das. Como o processo de modificações do sistema ocorre de maneira constante, atualmente, há uma tendência um tanto contraditória de ações estatais com a fi- nalidade de proteger sua economia, apesar de estarmos em um período marcado por uma corrente neoliberal. Nesse caso, em específico, referimos a um sentimento de aversão ao estran- geiro (pessoas e mercadorias) que tem crescido muito ultimamente. Esse senti- mento, chamado de xenofobia, afeta as nações de economias industrializadas e poderosas, inseridas na Europa e América do Norte, por exemplo. Em suma, es- tamos vivendo um momento histórico de transformações,de atitudes que podem contrariar outras, mas que todas fazem parte do mesmo processo de transforma- ção do sistema capitalista. Através do exposto, podemos concluir que, realmente, o processo de globali- zação não depende somente de esforços do setor empresarial e da disseminação das transnacionais, mas sim, de uma abertura política, administrativa e econômi- ca proporcionada pelos Estados Nacionais, através de correntes e doutrinas eco- nômicas que favoreçam tal processo, no caso atual, o neoliberalismo. Os Estados Nacionais, portanto, passam por uma ressignificação de seus papéis, algo naturalmente comum, diante das grandes transformações que vêm sofrendo diante da dinâmica do capital globalizado. A esse respeito, Fighera (1994, p. 112) diz, O crescente processo de interdependência que mostra a eco- nomia mundial hoje, tem na denominada revolução científico- -técnica um de seus pilares fundamentais. O impacto que esta tem exercido na esfera da produção, da informação e do trans- porte transcende amplamente o âmbito territorial sobre o qual um Estado (qualquer) exerce soberania. • Estaríamos, portanto, diante de uma crise dos Estados Nacionais? De certa maneira, sim. O papel que os Estados exercem sobre suas deci- sões e sobre pautas internas tornam-se dependentes de interesses mais amplos, que se sobrepõem aos interesses do povo e do território que compõem esse Es- 26 Políticas Públicas e Sustentabilidade tado. Tal crise vai impactar diretamente questões como as relações comerciais, internacionais, ambientais e até mesmo políticas de um determinado país. Surgem, então, os órgãos supranacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Organização Mun- dial da Saúde (OMS), entre outros exemplos. Tais órgãos vão direcionar as na- ções a diferentes questões relacionadas a assuntos de interesses em nível global. As Organizações Não Governamentais (ONGs) também ganham força no que diz respeito à atuação em setores esquecidos ou negligenciados pelo Estado, já que o seu papel está mais reduzido. Nesse ponto, vale ressaltar que as ONGs vão atuar, portanto, em questões sociais, ambientais, culturais, entre tantas outras questões que foram deixadas para trás nesse período de baixa ação estatal, haja vista que estamos num momento de corrente econômica neoliberal e, portanto, há cada vez menos ação do Estado na economia e o capital empresarial é que vai comandar, a priori, o direcionamento das ações, mesmo que indiretamente e, portanto, nas decisões políticas de determinados países. Ainda de acordo com Fighera (1994, p. 113): Na esfera internacional, cada dia resulta mais complexo decidir até onde chega a competência de um Estado no exercício de sua soberania, principalmente se em tal postura se envolvem interesses que outros Estados possam definir como inerentes ao “seu” interesse nacional. Não obstante, existem múltiplos problemas que têm transcendido o “nacional”. Neste momento, aqueles relativos ao ambiente, por exemplo, não distinguem nem reconhecem fronteiras porque muitos deles (aquecimento global, buracos na camada de ozônio etc.) têm um alcance pla- netário [...], porquanto nenhum Estado poderia tomar decisões que nos fatos afetem a outros Estados. Conforme a autora aponta, questões que envolvem situações que afetem mais de um país, são extremamente complexas e é imprescindível que se esta- beleçam normas que regulamentem tais questões e são nesses momentos que os órgãos supranacionais e instituições atuam, na cobrança e no monitoramento dessas ações. Fighera (1994) e tantos outros pesquisadores e pesquisadoras também apontam a redução do Estado no que se refere à atuação em setores como a segurança, meio ambiente e até mesmo na saúde. Trata-se, portanto, de um dis- tanciamento causado pela onda neoliberal que fez com que os países tomassem atitudes menos incisivas em determinadas questões, que acarretassem então em uma certa liberdade para o capital financeiro agir. 27 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 • Vamos exemplificar um pouco melhor essa situação ligada ao neolibera- lismo, através da questão ambiental. Países que destinam menos ações para a proteção do meio ambiente vão atrair empresas que poluem mais, devido à flexibilidade das leis ambientais ou a ausência da prática de tais leis. Com isso, países subdesenvolvidos no continente africano e asiático, por exemplo, são extremamente explorados em seus recursos naturais, por empresas com sede em países desenvolvidos. Nesse ponto, vale lembrarmos da atual Divisão Internacional do Trabalho (DIT), que foi citada anteriormente, e em como ela favorece apenas quem detém o poder econômico e tecnológico, em detrimento de países com baixo nível de desenvolvimento econômico. Essa exploração vai impactar os índices sociais de países subdesenvolvidos, tornando o processo de exploração um círculo vicioso de extinção ou a redução da qualidade ambiental e da qualidade de vida de seus habitantes. Com relação a isso, trataremos, mais adiante, sobre as relações Norte e Sul que envolvem a geopolítica do meio ambiente. • Vamos conhecer um exemplo bem atual do que vem acontecen- do no mundo, com relação a relação Norte e Sul? Utilizando o exemplo de um país africano, a República Demo- crática do Congo, vamos identificar suas riquezas minerais e as im- plicações que decorrem de sua exploração por parte de grandes em- presas transnacionais. Reflita sobre esse relato que apresenta uma situação referente à extração de cobalto, minério utilizado para fabricação de produtos de alta tecnologia: “Pegamos na areia que é libertada pela mina e lavamo-la. Depois trazemos o cobalto para o acampamento. Conse- guimos cerca de dois quilos por dia. Isso dá-nos o equivalente a 10 dólares. É um bom trabalho para todos nós [...]. O que é feito a partir dos metais e para onde são exportados, isso nós não sabemos [....]” (SCHLINDWEIN, 2019, s.p.). Diante do relato, vê-se uma clara ideia do que é estar na con- dição de um país explorado, responsável apenas por fornecer ma- téria-prima (de baixo valor agregado) para a produção de produtos inovadores (de alto valor agregado). 28 Políticas Públicas e Sustentabilidade FIGURA 8 – TRABALHADOR NA EXPLORAÇÃO DE MINÉRIOS NA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO FONTE: BBC (2019, s.p.) A partir disso, deixamos um questionamento a você: • Será que as relações coloniais (de dependência e exploração) terminaram quando houve a independência desses países, como por exemplo, a República Democrática do Congo? Além da desvalorização do trabalho daqueles que extraem o minério, há tam- bém outras externalidades negativas que acabam por ampliar as desigualdades, como a falta de segurança para executar o trabalho, a ausência ou o enfraquecimento das leis trabalhistas que deixam o trabalhador e a trabalhadora à margem de seus direitos, entre tantos outros problemas acarretados pela condição de explorado. A exploração do cobalto, no exemplo que vimos na Figura 8, destina-se às grandes empresas de tecnologia, com sede em países, veja só: desenvolvidos! De acordo com estudos e reportagens divulgadas internacionalmente, há in- dícios de violações dos Direitos Humanos, exploração ilegal de recursos naturais, corrupção, além do trabalho infantil detectado nas minas de cobalto. E quais em- presas são beneficiadas por essa exploração? A Apple, a Microsoft, a Google, a Tesla, entre outras (BBC, 2019) sediadas em países como a grande economia mundial, os Estados Unidos, por exemplo. Percebemos que, na realidade, a relação colonialista ainda não terminou e, de fato, quando o Estado não intervém, totalmente, a favor de proteger seus re- 29 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 cursos naturais e seu próprio povo, com a desculpa de que está buscando desen- volver economicamentesua nação, está na realidade dando abertura para que haja cada vez mais exploração de seus recursos e de sua força de trabalho. O exemplo da República Democrática do Congo é apenas um, dentre tantos outros, que vemos no mundo subdesenvolvido. Além de questões ambientais citadas e outras questões ligadas a temas como saúde e Direitos Humanos, há um outro debate muito frequente, quando a discussão é levada para a análise da diminuição da ação do Estado na economia: a violência. No caso citado da República Democrática do Congo, o poder militar paralelo representado por milícias fortemente armadas acaba por manter o controle do território, visando a seu financiamento através da exploração ilegal de recursos naturais e, além disso, ampliam e reforçam a precarização do trabalho no local (SCHLINDWEIN, 2019). A título de comparação, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Re- pública Democrática do Congo (RDC) e dos Estados Unidos da América (EUA), sede das empresas de tecnologia citadas anteriormente, apresenta um grande abismo social e econômico que existe entre ambos. Diante da Figura 9, vemos o quão atrasada social e economicamente está a República Democrática do Congo perante a nação com maior poder econômico do mundo, os Estados Unidos. FIGURA 9 – EUA E RDC – IDH 2018 FONTE: Human Development Reports (2018, s.p.) O IDH avalia o nível de acesso à educação, saúde e saneamento básico de um país e, muito mais que o Produto Interno Bruto (PIB), representa padrões 30 Políticas Públicas e Sustentabilidade sociais e econômicos de um país e é medido em uma escala de 0 a 1, sendo pró- ximo do 0, um IDH muito baixo, e próximo do 1, um IDH muito alto. A maioria dos IDHs de níveis muito altos são representados por países de- senvolvidos e que, historicamente, não sofreram com exploração ou outros pro- cessos que intensificam os problemas sociais e econômicos de um país. Ou seja, são Estados Nacionais fortalecidos e com uma certa soberania perante os demais países do mundo. Vê-se, portanto, que as condições de dependência tecnológica e econômica são muito fortes para o país africano e, dentro de uma lógica do sistema econô- mico vigente (que acentua as desigualdades) e do seu papel na Divisão Interna- cional do Trabalho (que não lhe é vantajosa), o país africano conta com apenas a garantia do mínimo para a aquisição de recursos financeiros necessários para manter-se inserido no mundo globalizado. Tendo em vista todo esse processo de falta de oportunidades, de desigualda- de social e econômica, é claro que países subdesenvolvidos, como a República Democrática do Congo, se sujeitarão a condições degradantes de exploração de sua força de trabalho e de seus recursos naturais. A título de conclusão, veja mais uma situação similar ao relatado no presente tópico, trazida por Porto-Gonçalves (2018, p. 63), que retrata um posicionamento do Estado brasileiro na ocasião da Conferência de Estocolmo em 1972: É emblemática dessa situação a posição do governo brasileiro na reunião de Estocolmo, convocada pela ONU para debater pela primeira vez o meio ambiente, em 1972, quando afirmou que a pior poluição era a pobreza e, a partir daí, convidava a que se trouxesse o desenvolvimento por meio de investimento no Brasil. À época dizia-se – “venham poluir no Brasil” – numa aceitação absolutamente acrítica de que o desenvolvimento naturalmente está associado à degradação ambiental – é o preço que se paga pelo progresso, aceitava-se. Perceba que há, no exemplo da República Democrática do Congo e na fala de Porto-Gonçalves (2018), uma referência à ideia de desenvolvimento atrelado à poluição, ou seja, ao desrespeito ao meio ambiente preconizado e viabilizado, sobretudo, pelo poder do Estado, ao permitir que venham empresas ou atividades econômicas a poluir e explorar os recursos naturais em nome do tão sonhado desenvolvimento. • A quem interessa esse pensamento que poluição é sinônimo de desen- volvimento econômico? 31 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 É claro que, quanto mais aberto estão os países subdesenvolvidos para a exploração de seus recursos, sob a lógica de estar se desenvolvendo economica- mente, interessa somente àqueles que são os detentores da tecnologia de ponta, da indústria inovadora e do conhecimento científico e tecnológico. Diante de tudo o que foi exposto, você deve estar imaginando que o Estado Nacional, portanto, não possui mais nenhuma soberania em seu território, que perdeu-se toda autonomia, diante de um mundo globalizado. Na realidade, o ge- ógrafo Milton Santos (2015) apresenta um alerta a uma realidade distinta e um pouco mais complexa. Podemos considerar que, num mundo globalizado, a soberania dos Esta- dos Nacionais foi ressignificada. Dependendo de como cada nação atua, have- rá uma intervenção maior ou menor na política interna de determinado país e em como este irá se inserir no mundo globalizado. De acordo com Santos (2015, p. 78), “O Estado altera suas regras e feições num jogo combinado de influências externas e realidades internas”, ou seja, não atua de forma passiva nas relações internacionais, nem ficam dependentes total- mente de decisões das grandes corporações transnacionais. Ainda de acordo com Santos (2015, p. 77): É o Estado nacional que, afinal, regula o mercado financeiro e constrói infraestruturas, atribuindo, assim, as grandes empre- sas escolhidas a condição de sua viabilidade. O mesmo pode ser dito das instituições supranacionais [...], cujos editos ou recomendações necessitam de decisões internas a cada país para que se tenha eficácia. Milton Santos (2015) considera, portanto, que os Estados têm um papel fun- damental no mundo globalizado e, como vimos anteriormente (CASTELLS, 2010), são eles que têm o poder de decisão de abertura ou não de seu capital ao merca- do internacional ou para aceitar ou não decisões de organismos supranacionais, como a ONU, a OMC, entre outros. No caso brasileiro, Santos (2015, p. 76) diz que temos um “território nacional da economia internacional”, havendo sim uma soberania nacional que, a priori, se sobrepõe aos desejos e forças do capital estrangeiro, mas que essa soberania pode ser influenciada por ele (o capital estrangeiro). São, portanto, diferentes maneiras de atuação das nações e das corpora- ções transnacionais no que diz respeito ao direito de explorar os recursos naturais de determinados países e nas suas formas de relações comerciais e econômicas. 32 Políticas Públicas e Sustentabilidade Temos, portanto, o que chamamos de geopolítica do meio ambiente, a qual ire- mos tratar no próximo tópico. Vale considerar o aspecto contraditório do papel do Estado nas relações com o capital financeiro global e em como são distintas as relações entre os países de acordo com a corrente econômica vigente, de maior ou menor atuação do Estado na economia e nas decisões políticas internas e externas. 1) Observe a manchete a seguir: FIGURA 10 – REPORTAGEM SOBRE O VAZAMENTO DE ÓLEO NA BAÍA DE GUANABARA FONTE: PAMPLONA, Nicola. Quase 20 anos depois do vazamento, pescadores brigam por indenização. Folha de São Paulo. São Paulo, p. 22-22. 26 out. 2019. Pelo que se percebe na manchete da reportagem, grandes de- sastres ambientais têm ocorrido com frequência no Brasil. Um dos maiores impactos, além do ambiental, é o social, tendo em vista que 33 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 muitas comunidades tradicionais e trabalhadores artesanais sofrem com os danos causados pelo meio ambiente. O petróleo, como sen- do um dos principais produtos exportados pelo Brasil, é altamente poluente e sua exploração tem sido a causa de muitos problemas ambientais em todo o mundo. Faça uma breve reflexão acerca do exposto, focando no papel do Estado em conter o processo de de- gradação ambiental e a exploração controladados recursos naturais. 2.3 A GEOPOLÍTICA DO MEIO AMBIENTE Imagine nossa sociedade predominantemente urbana, industrial e com alto níveis de consumo de bens duráveis e não duráveis. Para que ela se mantenha, são necessários alguns elementos fundamentais, como recursos naturais, que servirão de matéria-prima para fabricação de produtos de diferentes gêneros e como fontes de energia. Com isso, já podemos perceber que haverá uma forte dependência e uma alta demanda para acessar esses recursos por parte dos países, sejam eles de- senvolvidos ou não. Com isso, instaura-se a geopolítica do meio ambiente, que, de uma maneira geral, vai referir-se à relação que os países mantêm entre si, com base no acesso aos recursos naturais e, sobretudo, no controle e tecnologia para utilizá-los. Países que detêm meios, infraestrutura e tecnologia para explorar os recur- sos naturais estarão à frente nesse processo e já podemos imaginar o quão con- flituosa é essa relação. A disputa pelo acesso aos recursos naturais tem levanta- do diferentes debates em nível internacional e, como podemos acompanhar em diferentes momentos, o petróleo é um dos recursos mais visados pelas nações, sobretudo pelos EUA, um grande consumidor desse recurso energético. Para entender um pouco mais profundamente essa relação entre o acesso aos recursos naturais e desenvolvimento de uma nação, vale a pena retornar um pouco aos períodos anteriores da nossa história. 34 Políticas Públicas e Sustentabilidade No final do século XIX, um geógrafo alemão chamado Friederich Ratzel disseminou o conhecimento do que seria o determinismo geo- gráfico, ou seja, o desenvolvimento humano estaria diretamente ligado a sua disponibilidade de recursos a sua disposição para explorá-lo e apro- veitá-lo conforme seus costumes e necessidades (MORAES, 1990). Inspirado nas ideias de Ratzel, surge o conceito de espaço vital, que se denota como um espaço com recursos naturais disponíveis e com uma área suficiente para que houvesse a manutenção, a sobre- vivência e o desenvolvimento de nações e, aquelas que possuíssem seu espaço vital de modo satisfatório, estariam à frente das demais nações do mundo, ou seja, seria muito mais competitiva e se mante- ria na liderança dos demais países (MORAES, 1990). A título de exemplificação, o conceito de espaço vital foi ampla- mente utilizado na Alemanha, sobretudo com a finalidade de justificar o expansionismo alemão e a conquista de novos territórios, inclusive tal corrente de pensamento esteve ao lado de nazistas durante o pe- ríodo da Segunda Guerra Mundial (MORAES, 1990). Não somente o expansionismo alemão pode ser um bom exem- plo do conceito de espaço vital, mas, se observarmos a história de conquista de territórios por diferentes nações, o grande objetivo, na maioria das vezes, foi o de alcançar áreas com recursos naturais abundantes ou áreas em que pudesse haver maior exploração destes. A busca por colônias de exploração no século XVI no continente americano, o neocolonialismo no período do século XIX nos continentes africano e asiático, todas as formas de exploração dos países e as relações metrópole e colônia foram pautadas pela exploração de recursos naturais e o consequente enriquecimento da metrópole e a intensa exploração realizada na colônia. Tal processo deixou marcas e heranças nesses países colonizados e, por muitas situações, estende-se até os dias atuais, através da relação Norte e Sul, que trataremos mais adiante. Como dito anteriormente, é importante deixar claro que essas relações de exploração nas colônias deixaram heranças muito fortes no que diz respeito ao subdesenvolvimento e, em alguns casos, no esgotamento ou consumo parcial de alguns tipos de espécies florestais, minerais, entre outros. 35 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 Com a intensa industrialização, as nações viram-se diante de duas situações de necessidade: • ampliação da exploração e extração de matérias-primas para a produção industrial que estava em crescente aumento; • grande demanda por fontes de energia. Diante disso, a degradação ambiental estava em amplo crescimento e, so- bretudo, a busca por recursos para a produção industrial estava muito mais ele- vada. Tal situação se deu de maneira muito mais acentuada no início da industria- lização, no século XVIII, mas é uma realidade muito comum até nos dias atuais. Veja bem, se na fase atual da globalização, ter conhecimento e informação é fundamental, na Primeira Revolução Industrial, possuir recursos minerais e fontes de energia abundante era sinônimo de garantia de manutenção dos avanços tec- nológicos e desenvolvimento econômico. Países que se industrializaram primeiro foram aqueles que souberam explorar seus minérios a ponto de gerar energia, transformar matéria-prima para fabricação de máquinas e insumos necessários para que a industrialização se mantivesse crescente. Atrelada a essa necessidade crescente de recursos naturais e fontes de energia, é fato que países com alta demanda desses produtos necessitarão bus- car recursos em outros países. É aí que surge a grande questão desse tópico: • Países desenvolvidos irão explorar as riquezas naturais de países sub- desenvolvidos – como ocorre esse processo? Sabe-se que determinados países não tratarão essa problemática de ma- neira pacífica, mas a tentativa de exploração e de interdependência entre eles deve se dar da forma mais diplomática possível, o que nem sempre ocorre. Para entender melhor, vamos retomar ao exemplo dado no tópico anterior, a respeito da exploração de cobalto na República Democrática do Congo. O minério explorado não serviria para a produção de celulares ou equipamen- tos eletrônicos no país africano, mas, sim, para a fabricação desses produtos em países desenvolvidos ou, ao menos, a grande fatia do lucro da produção do mate- rial não ficaria na África, mas iria para o continente norte-americano, por exemplo. Não é incomum ocorrer esse tipo de situação, contudo, o exemplo dado é apenas uma parcela do problema. Mas, por quê problema? Você pode encontrar argumentos que dizem que as transnacionais e os países desenvolvidos buscam, de certa forma, terceirizar a extração de matérias-primas em países subdesenvolvidos e que, na realidade, eles estão levando o desenvolvi- mento a esses lugares, até então esquecidos pelo setor econômico dominante. 36 Políticas Públicas e Sustentabilidade Infelizmente, não é bem dessa maneira que todo esse processo ocorre. Como vimos, a exploração, então, é dada através da intensificação de externalidades ne- gativas que se enraizaram nas nações subdesenvolvidas em que o ciclo de explora- ção nunca se esgota e a pobreza é gerada e reproduzida nesses lugares. Sob a ótica do desenvolvimento a qualquer custo, muitos países estão sofrendo com tal exploração e ficando à margem dos Direitos Humanos e qualquer garantia que seus trabalhadores se mantenham saudáveis e o meio ambiente se recupere. Diante de tudo que foi exposto até agora, vale a pena falarmos sobre o con- texto geopolítico da relação Norte e Sul, em que se considera os países do Norte, como aqueles pertencentes ao grupo dos desenvolvidos e os países do Sul, como aqueles pertencentes ao grupo dos subdesenvolvidos. • As relações dos países em Norte e Sul se dão como um grande tabuleiro de xadrez. FIGURA 11 – GEOPOLÍTICA DOS PAÍSES DO NORTE E DO SUL FONTE: <https://uniasselvi.me/3m6ogSp>. Acesso em: 25 fev. 2021. A respeito do conflito gerado entre as forças do Norte e a superação dos paí- ses do Sul, a Figura 11 é uma boa representação da geopolítica ambiental que es- tamos tratando neste tópico. Em cada um dos lados, têm-se diferentes realidades e ganham aqueles que têm maior força, maior poder de influência e de decisão política e econômica. Em suma, países do Norte representam as grandes economias mundiais e foram aqueles que, em sua maioria,formaram colônias de exploração e detêm um poderio econômico e um arsenal militar fortalecido. São países que receberam, durante anos, os saldos decorrentes da exploração dos países do Sul. 37 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 E a grande crítica que gostaria de levar a sua reflexão é essa: por meio da exploração dos recursos de países do Sul, os países do Norte enriqueceram-se. Sob a alegação de superioridade sobre as culturas e povos do Sul, os países do Norte avançaram em tecnologia, inovação e acumularam riquezas para se desen- volver cada vez mais. A regionalização do mundo entre países do Norte e do Sul vai além dos as- pectos da localização geográfica baseada na linha do Equador. Ela representa uma nova relação de poder entre os países e a linha divisora do desenvolvimento vai separar, mesmo que imageticamente, países desenvolvidos e ricos, de países subdesenvolvidos, pobres e de elevada dependência econômica e tecnológica. Tudo isso se interliga à geopolítica do meio ambiente. A Figura 12 apresenta uma possibilidade de análise de como enxergar essas relações de poder e o território. FIGURA 12 – ESTADOS NACIONAIS E SEUS FATORES DE SOBERANIA FONTE: Adaptado de Morgenthau (2003 apud MARTINS; PIANOVSKI, 2013) 38 Políticas Públicas e Sustentabilidade Na Figura 12, o termo “território” aparece com destaque, pois percebe-se que muitos dos fatores do poder nacional estão diretamente ligados a ele. Recursos naturais, produção de alimentos, produção industrial, entre tantos outros fatores que se interligam ao território e fortalecem o poder dos Estados Nacionais. Vale a pena ressaltar a ideia de que, para cada Estado Nação, há um peso e um fator mais preponderante do que outro, mas que todos contribuem para o fortalecimen- to do poder nacional (MARTINS; PIANOVSKI, 2013). Para aprofundar seu conhecimento e compreender outras ques- tões relacionadas ao conceito de território no contexto do mundo glo- balizado, o artigo de Haesbaert e Limonad (2007) trata, com muita clareza, das acepções acerca do conceito e traz ao debate situações atuais sobre globalização e fragmentação. HAESBAERT, Rogério; LIMONAD, Ester. O território em tempos de globalização. Etc, Espaço, Tempo e Crítica. Revista Eletrônica de Ciências Sociais Aplicadas e outras coisas, Niterói, v. 1, n. 2, p. 39-52, 15 ago. 2007. Quadrimestral. Disponível em: https://www. unifal-mg.edu.br/geres/files/territorio%20globaliza%C3%A7ao.pdf. Acesso em: 20 ago. 2020. Diante desses fatores que envolvem o fortalecimento do poder e soberania dos Estados Nacionais, podemos concluir de que maneira o meio ambiente pode influenciar as relações geopolíticas mundiais e podemos propor alguns aspectos para o debate: as fontes de energia, o esgotamento de recursos naturais, a as- censão econômica de países em desenvolvimento, a poluição e o desmatamento em níveis regionais e, por fim, a tão debatida mudança climática. Com relação às fontes de energia, quanto maior o desenvolvimento indus- trial, comercial e urbano de um país, maior será sua demanda por energia. Assim, é fundamental que uma nação que esteja se desenvolvendo, parta para a busca de fontes de energia (alternativas ou não) para garantir a sua sobrevivência. • Podemos perceber, portanto, a forte ligação entre energia e recursos na- turais, não é mesmo? Vamos analisar a matriz energética mundial: 39 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 FIGURA 13 – MATRIZ ENERGÉTICA BRASIL E MUNDO (2019) FONTE: MME (2020, p. 1) Dentro das outras fontes renováveis utilizadas no Brasil e no mundo estão as fontes provenientes da biomassa sólida, biomassa líquida e das fontes eólica e solar. Vale lembrar que a energia hidroelétrica é considerada uma fonte de energia renovável e, as demais apresentadas na Figura 13, são fontes de energia não renováveis, sendo altamente poluentes, como os combustíveis fósseis derivados do petróleo, carvão mineral e o gás natural. Esses últimos representam a base da matriz energética, tanto no Brasil como no mundo, alcançando mais de 50% da matriz energética mundial e aproximando desse valor, quando nos referimos à matriz energética brasileira (Figura 13). Sendo esses recursos vitais para o desenvolvimento das atividades econômi- cas e sobrevivência de seres humanos e organizações, a preocupação com seu uso racional deve ser pauta das discussões das nações desenvolvidas ou não. 1) Se observarmos a matriz energética brasileira, veremos que ela possui mais de 45% de energia proveniente de fontes renová- veis, já se compararmos esse tipo de energia no mundo, esse valor não chega nem a 20%. Com isso, podemos concluir que o mundo é dependente de fontes de energia não renováveis, o que representa valores elevados de consumo de energia proveniente 40 Políticas Públicas e Sustentabilidade do petróleo, gás natural, entre outros combustíveis fósseis, por exemplo. Que tipos de impactos ambientais podem ser causados por esse tipo de energia (não renovável) e quais são as alterna- tivas que podem ser utilizadas para minimizar esses impactos? No intuito de subsidiar as discussões acerca da exploração e degradação dos recursos naturais, o World Wide Found for Nature (WWF) criou o Dia da Sobrecarga da Terra (ou o termo em inglês: Overshot Day). A partir de estudos em parceria com a organização Global Footprint Network (GFN), verifica-se o nível de consumo dos recursos naturais de cada país e a capacidade de reposição de tais recursos dentro do período de 1 (um) ano. Conclui-se que, para nossa sociedade global sobreviver, com seu nível de consumo atual, seriam necessários mais de um planeta Terra para repor todos os recursos necessários para a manutenção da humanidade. De acordo com a ONG, WWF-Brasil (2016, s.p.): Os dados da GFN apontam que a quantidade de emissão de CO² compõe mais da metade da demanda sobre a natureza. Os custos deste excesso ecológico estão se tornando cada dia mais evidente com o desmatamento, a seca, a escassez de água doce, a erosão do solo, a perda de biodiversidade e o acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera. Este último é uma preocupação constante por conta das mudanças climá- ticas. Consequentemente, os governos têm como prioridade tomar medidas para definir como melhorar o desempenho eco- nômico de longo prazo de sua nação sem deixar de pensar em ações para melhorar a relação do homem com a natureza. De acordo com o relatório, nações desenvolvidas são as que mais contri- buem para o intenso uso dos recursos naturais e tal exploração, construída, prin- cipalmente, desde os anos de 1970, fez com que a demanda por recursos naturais tornasse muito superior à capacidade do planeta em renová-los (WWF-BRASIL, 2020). Constrói-se, assim, um modelo de exploração da natureza que prevalece o ideal desenvolvimentista sobre o conservacionista. O Dia da Sobrecarga da Terra caiu, nos últimos anos, em meados do mês de agosto e, portanto, conclui-se que nós, seres humanos, vivemos em torno de quatro meses “em dívida” com o planeta Terra. Apesar de todos os esforços e buscas de alternativas de reduzir esse tempo de “dívida”, pouco se avançou nessa questão. Sabe-se, porém, que no total desse cálculo realizado pela Global Footprint Network (GFN), cada país contribui de maneira distinta para esse resultado e, sendo assim, uns países consomem mais recursos do que outros. 41 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 • O que você acha que pode ocorrer a respeito do consumo desigual de recursos naturais entre os países? Bom, tratando-se de geopolítica do meio ambiente, já se imagina que países podem entrar em conflito entre si, visando à busca por novas áreas de exploração dos recursos necessários para manutenção de suas atividades econômicas. O re- sultado disso é uma tensão constanteentre os países e, sobretudo, ao crescente medo de haver conflitos diretos entre as nações. A respeito desse fator de crescente disputa geopolítica ambiental, encontram- -se tanto os países desenvolvidos, que podem (e já estão) esgotando seus recursos naturais, como os países subdesenvolvidos em vias de crescimento, visando à ga- rantia de exploração da natureza e seu tão sonhado desenvolvimento econômico. A consequência direta desses problemas é o crescente desmatamento, ele- vados índices de poluição (do ar, águas, solo...), e outros mais que acarretam sérios problemas internos ou externos, podendo ocorrer situações de impacto re- gional ou até mesmo global. Um exemplo bem interessante relacionado a isso é a atenção que nações de todo o mundo têm com a Floresta Amazônica. De dimensões internacionais, a maior floresta tropical do mundo é muito visada por organismos e instituições am- bientais de países europeus, norte-americanos, entre outros países que se preo- cupam com a preservação daquela floresta. Neste momento, vale compreender um pouco mais sobre os ser- viços ambientais que uma floresta como a Amazônica pode oferecer. Para além dos interesses econômicos para a exploração da área, os interesses ambientais para a Amazônia focam na preservação de espécies da fauna e da flora, na manutenção do equilíbrio climático proporcionado pela floresta em pé e, sobretudo, pela manutenção dos povos indígenas e extrativistas que vivem historicamente no local. A título de exemplificação, um país que não cumpre sua agenda ambiental pode sofrer retaliações econômicas sérias de países que investem na preservação do meio ambiente. Salvo algumas críticas a respeito disso, a importância de se preservar a floresta como a Ama- zônia vai além dos aspectos ambientais ou culturais, podendo alcan- çar parâmetros econômicos muito fortes e relevantes para um país. 42 Políticas Públicas e Sustentabilidade Vale ressaltar um ponto importante que ainda foi pouco discuti- do até o momento: a importância das populações tradicionais para a manutenção da natureza, preservação e uso racional dos recursos naturais. É importante reconhecer que os saberes tradicionais pre- servam uma riqueza cultural imensa e que tal reconhecimento pode auxiliar a manutenção e o uso correto dos recursos naturais. Finalizando as questões relacionadas à geopolítica ambiental, vale a pena tratar sobre o problema das mudanças climáticas, sendo este um outro ponto da geopolítica do meio ambiente muito difundido na atualidade. Há cientistas que não compactuam com a ideia de que há alterações climáticas severas decorrentes da ação humana, por outro lado, há cientistas que garantem que sim, há um nível de impacto muito acentuado nas mudanças climáticas, sobretudo no período pós Primeira Revolução Industrial e, portanto, causado pela ação humana. O fato é que eventos climáticos extremos vêm ocorrendo e há indícios muito claros de que a dinâmica de oscilação da temperatura nos polos Norte e Sul tem sofrido alterações intensas e que os níveis de degradação ambiental estão eleva- dos, acarretando muitos problemas ambientais e que poderão afetar a todos. • Antes de finalizar este tópico, focando em mais um aspecto da geopolí- tica do meio ambiente, vale lembrar da atuação dos órgãos supranacio- nais nessa temática. A ONU, através de organismos especializados no tema, desenvolve diversas reuniões, encontros e acordos entre os países, visando a uma ação em conjunto para superar os problemas ambientais causados pelo ideal desenvolvimentista tão disseminado nos últimos 50 anos. A agência que cuida das questões ambientais no âmbito da ONU chama-se Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a qual tem sede em Nairóbi, Quênia, foi criada na Conferência de Estocolmo, em 1972 e represen- tou um dos primeiros esforços para se discutir questões ambientais globais. Ou- tros exemplos de encontros internacionais para o meio ambiente é a Conferência da ECO-92, no Rio de Janeiro e o Acordo de Paris em 2016, por exemplo. Sobre a importância geopolítica do PNUMA, é fundamental entender seu pa- pel de liderar e incentivar países a que se engajem em questões relacionadas à proteção ambiental, buscando melhores condições de vida e a garantia de um meio ambiente preservado para as presentes e futuras gerações. Suas áreas de 43 A Globalização e Suas InterfacesA Globalização e Suas Interfaces Capítulo 1 atuação são: “mudança climática, desastres e conflitos, gestão de ecossistemas, governança ambiental, químicos e resíduos, eficiência de recursos, e meio am- biente em estudo” (PNUMA, 2020, s.p.). Em suma, podemos concluir que, diante de tudo o que foi exposto, as nações desejam seu desenvolvimento, exploram ao máximo seus recursos naturais, que- rem todo o bônus dessa exploração, mas pouco reconhecem a importância dos impactos causados pelo consumo exacerbado dos recursos naturais. Ou seja, querem o bônus, mas rejeitam o ônus. Ou melhor, relegam o ônus às nações subdesenvolvidas, como é o caso apresentado anteriormente pela exploração do cobalto na República Democrática do Congo. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Estamos chegando ao final do nosso primeiro capítulo. Nele, vimos alguns processos fundamentais para compreendermos a globalização e como ela atua de maneira distinta nas nações pelo mundo. Com o avanço das técnicas e o elevado desenvolvimento econômico e in- dustrial, nossa sociedade se tornou predominantemente urbana e industrializada, o que afetou diretamente a vida dos seres humanos, impondo modos e padrões de consumo que causam cada vez mais impacto ao meio ambiente, mas que ali- mentam e contribuem para o crescimento desse modelo degradante de cresci- mento que criamos. Vale lembrar que, no início do capítulo, vimos a globalização e suas diferentes faces propostas pelo geógrafo Milton Santos, em que ele tece alguns argumentos propondo uma análise crítica da sociedade na qual nos inserimos e traz um olhar de esperança para um mundo que queremos ter, uma nova globalização é possível. Para tal, é necessário romper com alguns paradigmas desenvolvimentistas que provêm apenas o crescimento de uma pequena parcela da sociedade e das nações do mundo: o Norte desenvolvido. A reprodução da pobreza causada pela histórica exploração dos países chamados Sul subdesenvolvido é motor de impulsionamento de economias desenvolvidas, o que torna esse processo deveras contraditório. Também vimos que, diante de um mundo globalizado, os Estados Nacionais buscam maneiras para se manterem inseridos na globalização, com o objetivo de não ficar à margem desse processo, mas que, ao mesmo tempo, buscam medi- das para se proteger de possíveis intervenções externas que impactem sua eco- nomia local. 44 Políticas Públicas e Sustentabilidade Sim, é um processo complexo de entender, mas que com um pouco de dedi- cação isso pode se tornar mais compreensível. Basta ter a ideia de que o modelo econômico vigente é pautado por transformações e por diferentes correntes que ora estão mais em evidência, ora não (como ocorrem em alguns casos em que os Estados Nacionais agem com protecionismo econômico, mesmo em tempos de neoliberalismo). A título de conclusão e buscando gerar reflexões para o final deste capítulo, faça uma breve análise da relação de exploração Norte e Sul, a qual vimos nos tó- picos que você acabou de ler. Países que foram explorados há séculos, de modo geral, continuam sendo explorados nos dias atuais. Como podemos entender tal situação como adequada? A resposta disso vai influenciar a ideia do mundo que queremos, da nova globalização e em um mundo mais justo e, consequentemen- te, com menor degradação ambiental e maior proteção de nossos recursos na- turais. Vale a pena refletir sobre essas questões e buscar meios para contribuir para esse novo modelo de desenvolvimento, pautado na sustentabilidade ambien- tal, cultural, econômica e social. REFERÊNCIAS
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