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ACONSELHAMENTO PASTORAL FAMILIAR Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Vanessa Roberta Massambani Ruthes CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Tathyane Lucas Simão Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Welder Lancieri Marchini Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 250 R974a Ruthes, Vanessa Roberta Massanbani Aconselhamento pastoral familiar / Vanessa Roberta Massan- bani Ruthes. Indaial: UNIASSELVI, 2018. 129 p. : il. ISBN 978-85-69910-87-9 1. Teologia Pastoral. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Vanessa Roberta Massambani Ruthes Doutoranda em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Possui Mestrado em Teologia pela mesma Instituição. Possui Especialização em Bioética pela PUCPR; Especialização em Espiritualidade pela Faculdade Vicentina e Especialização Princípios Educacionais pela PUCPR. Possui Aperfeiçoamento em Ética de la investigación con seres humanos pela UNESCO; e Aperfeiçoamento em Ensino de Filosofia pela UFPR. Licenciada em Filosofia e Pedagogia. Atua como professora e gestora tanto na Iniciativa Privada, quanto no Setor Público. É consultora e palestrante. Possui livros publicados na área de Teologia e Filosofia, como também vários artigos em periódicos científicos e em jornais de circulação. Sumário APRESENTAÇÃO ....................................................................01 CAPÍTULO 1 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral .................9 CAPÍTULO 2 As Técnicas de Aconselhamento Pastoral ........................43 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 As Diferentes Abordagens do Aconselhamento Pastoral ...................................................71 Aconselhamento Pastoral Familiar ..................................103 APRESENTAÇÃO O presente livro “Aconselhamento Pastoral Familiar”, apresenta a temática de Aconselhamento Pastoral de forma introdutória e ampla. No primeiro capítulo “Os fundamentos do Aconselhamento Pastoral”, vamos apresentar uma definição de Aconselhamento Pastoral, bem como compreender as diversas correntes psicológicas que o fundamentam. Também estudaremos sobre a presença do Aconselhamento Pastoral nas Sagradas Escrituras e por fim conhecer os seus pressupostos teológicos. No segundo capítulo “As técnicas de Aconselhamento Pastoral”, vamos conhecer os objetivos fundamentais do Aconselhamento Pastoral e as diversas técnicas que podemos utilizar. Também vamos estudar sobre a comunicação interpessoal no processo de Aconselhamento, bem como compreender o Aconselhamento Pastoral como um processo de acompanhamento e não como intervenção. No terceiro capítulo “As diferentes abordagens do Aconselhamento Pastoral”, vamos abordar o Aconselhamento pastoral a partir de públicos específicos; com os enfermos, com jovens e adolescentes, com a comunidade, enfim, vamos examinar as diferentes formas de abordagem do Aconselhamento Pastoral com esses temas. No quarto e último capítulo “Aconselhamento Pastoral Familiar” abordaremos o Aconselhamento Pastoral junto a família, e para tal, vamos conhecer sobre a história da família ao longo dos tempos e seus conceitos. Vamos estudar sobre a história da terapia familiar, conhecer os fundamentos bíblicos-teológicos do casamento e da família e por fim, compreender o aconselhamento pastoral nas relações pais-filhos e com os casais. Salienta-se que o Aconselhamento Pastoral é uma temática complexa, que envolve em si questões relacionadas a várias áreas do conhecimento. Entretanto, é também uma atividade importante e necessária no trabalho pastoral. Por isto, esta obra tem o objetivo de fornecer subsídios para a formação pessoas que atuam com este trabalho. Boa leitura! CAPÍTULO 1 Os Fundamentos do A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer os diferentes pressupostos e definições do Aconselhamento Pastoral. � Identificar as diferentes correntes psicológicas que fundamentam o Aconselhamento Pastoral. � Analisar as diferentes bases do Aconselhamento Pastoral. � Analisar o Aconselhamento Pastoral nas Sagradas Escrituras. � Conhecer os pressupostos teológicos do Aconselhamento Pastoral. Aconselhamento Pastoral 10 Aconselhamento Pastoral Familiar 11 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 Contextualização Neste capítulo, vamos conhecer os diferentes pressupostos e definições do Aconselhamento Pastoral, identificar as diferentes correntes psicológicas que o fundamentam, analisar as suas diferentes bases, como também buscar entender os fundamentos bíblicos e teológicos desta área do conhecimento. É importante ressaltar que há uma enorme diferença entre Terapia e Aconselhamento Pastoral. Todo líder religioso pode atuar como aconselhador pastoral, porém nem todo aconselhador pode atuar como terapeuta, uma vez que para tal é necessária uma formação específica na área de psicologia. Assim sendo, Aconselhamento Pastoral e Terapia são coisas distintas, a primeira leva em consideração o indivíduo como ser religioso, a segunda considera a pessoa como um ser psíquico. O presente material não tem a intenção de esgotar o referido tema, sendo ele um estudo introdutório sobre o Aconselhamento Pastoral. A presente temática é complexa e envolve dedicação com alguns conceitos e etimologias e, neste sentido, convidamos o leitor a desenvolver um estudo analítico-crítico sobre o respectivo tema para aprofundá-lo, bem como distingui-lo do conceito de terapia, que muitas vezes é confundido ou mal interpretado. Definição de Aconselhamento Pastoral Antes de propormos uma conceituação de Aconselhamento Pastoral, vamos nos aprofundar em outros termos, tais como: Aconselhamento, Counseling e Coaching, que são concepções correlatas. Estes conceitos, etimologias e epistemologias contribuem no processo de entendimento sobre o que vem a ser, de fato, Aconselhamento Pastoral. Sendo este um conceito complexo e sistemático, sua definição pressupõe a compreensão e entendimento destes termos por primeiro, pois nos darão uma maior clareza conceitual, bem como uma compreensão epistemológica, permitindo assim uma leitura e interpretação crítica do tema. Aconselhamento, Counseling e Coaching, que são concepções correlatas. Estes conceitos, etimologias e epistemologias contribuem no processo de entendimento sobre o que vem a ser, de fato, Aconselhamento Pastoral. 12 Aconselhamento Pastoral Familiar O Que é Aconselhamento? A partir do senso comum ou popularmente falando, podemos conceituar Aconselhamento como um ato ou efeito de aconselhar, uma orientação, um encaminhamento, uma recomendação, uma consulta. Seria o ato de dar ou pedir conselhos, uma ação de trocar ideias ou opiniões para chegar a uma conclusão. Aconselhamento = Orientação, Auxílio, Conselho Podemos também entender o Aconselhamento como uma atitude de persuasão ou como uma atitude de orientação. Uma espécie de auxílio, advertência ou orientação que um profissional, seja ele pedagogo, psicólogo ou aconselhador, desenvolve junto à outra pessoa no que tange as decisões que este possa tomar com relação à escolha de algo. Perante a etimologia, a palavra aconselhar vem do grego synavlía (συναυλία), cuja tradução significa dar conselhos ou sugestões,chamar a atenção, avisar sobre, admoestar, opinar, repreender levemente, censurar algo, insinuar, orientar, propor, recomendar, sugerir. Na compreensão de Schneider-Harpprecht (1998), aconselhamento é a práxis de ajudar as pessoas com problemas de saúde, problemas psíquicos, problemas sociais, problemas espirituais e outros, por meio de uma pessoa ou de um grupo qualificado, levando aquela pessoa a se recuperar ou a entender o que se passa ao seu redor. O problema não é sinônimo de confusão ou de dúvida, pois não indica caos ou, ainda, ausência de compreensão. O problema é, sim, a compreensão de que uma determinada realidade não tem um sentido único, ou seja, de que ela pode ser analisada a partir de diferentes perspectivas. 13 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 A práxis trata-se de um processo dialético entre teoria e prática. A atividade prática se sujeita, conforma-se à teoria, do mesmo modo que a teoria se modifica em função da prática. Para Hoch (2005), Aconselhamento é a busca por formas autênticas de vivência, já para Ruthe (1993), o mesmo termo deve ser empregado atrelado a várias circunstâncias, tais como: fornecer informações, dar conselhos, criticar, elogiar, encorajar, apresentar sugestões e interpretar ao cliente o significado do seu comportamento, com a finalidade de proporcionar libertação emocional do indivíduo e facilitar o seu desenvolvimento, constituindo um ramo da psicologia científica. Carl Rogers (1977) delibera Aconselhamento como “uma série de contatos diretos com o indivíduo, com o objetivo de lhe oferecer assistência na modificação de suas atitudes e comportamento”. Estas definições de Aconselhamento, apresentadas anteriormente, embora corretas e oportunas, são um tanto quanto vagas, tendo em vista que apenas estamos iniciando nossa reflexão sobre o tema. Posteriormente, ao aprofundarmos a questão do Aconselhamento Pastoral, tal termo receberá novo sentido. O Que é Counseling? Quando estamos falando de Counseling ou de Aconselhamento, estamos falando, a bem da verdade, da mesma coisa, o que muda é a sua aplicação no tempo e no espaço. Assim sendo, podemos dizer que são sinônimos quanto a sua interpretação e conceituação. O Counseling é mais utilizado em empresas, escritórios, instituições públicas, está mais presente na área de Gestão, enquanto que o Aconselhamento é mais utilizado e presente em igrejas, em pastorais, comunidades, escolas, consultórios, clínicas, dentre outros. Counseling = Aconselhamento 14 Aconselhamento Pastoral Familiar Counseling é uma expressão inglesa que significa Aconselhamento. Trata-se de um processo de comunicação entre duas ou mais pessoas, que tem como objetivo ajudar determinada pessoa a fazer as suas próprias escolhas, seja no âmbito pessoal, social, profissional ou religioso. O Counseling parte do princípio de que cada pessoa tem dentro de si os recursos necessários para resolução de seus próprios problemas, e se serve de técnicas para ajudar a pessoa a se ajudar, não sendo necessário impor nada, absolutamente nada para esta pessoa, tendo assim uma postura extremamente ética em sua técnica de abordagem. Esta técnica surgiu com o psicólogo norte-americano Carl Rogers, nos EUA, na década de 50 do século XX. O Counseling direciona toda a atenção na pessoa em primeiro lugar, e não no problema propriamente que ela apresenta, havendo uma valorização da pessoa humana e de suas relações, sentimentos, emoções, racionalidade, dentre outros. Ajudar determinada pessoa a fazer as suas próprias escolhas. Cada pessoa tem dentro de si os recursos necessários para resolução de seus próprios problemas. Carl Rogers (1902-1987) foi um psicólogo norte-americano. Desenvolveu a Psicologia Humanista, que tem como premissa básica colocar o ser humano no centro de toda ação, antes mesmo do problema. Esta abordagem psicológica salienta todos os aspectos positivos da vida como promotores de saúde mental. Ela considera a pessoa como responsável pelas suas ações e consequentemente pela sua vida, sendo capaz de encontrar as diferentes vias para a realização da liberdade. O profissional do Counseling, conhecido como conselho/conselheiro, tem como objetivo clarificar as opções diante da crise pessoal, religiosa ou profissional do cliente/paciente, ajudando-o de forma rápida e pontual, através do aconselhamento. Esta área vem crescendo, e os profissionais vêm atuando em diversos segmentos: empresas, clínicas e nas comunidades, com o chamado Aconselhamento Matrimonial ou Aconselhamento Pastoral. 15 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 O Que é Coaching? Coaching é um conjunto de recursos que utiliza técnicas, ferramentas e conhecimentos de diversas ciências, como a administração, gestão de pessoas, psicologia, neurociência, recursos humanos, planejamento estratégico, dentre outras áreas, visando resultados em vários contextos, seja pessoal, profissional, social, familiar, religioso/espiritual ou financeiro. Coaching = Aconselhamento = Desenvolvimento pessoal Coaching significa tirar um indivíduo de seu estado atual e levá-lo ao estado melhor e desejado de forma rápida e satisfatória. Destaca-se que coaching não é psicoterapia nem consultoria. A essência do coaching é ajudar a pessoa a crescer, orientando-a a caminhar em uma nova direção. O objetivo do coaching é levar o indivíduo a aprender com as próprias experiências. O coaching é um processo de descobertas da própria pessoa voltada para a sua realidade e seu futuro. O coach procura ativar a capacidade da própria pessoa de buscar respostas para as suas questões e a orienta à autodescoberta e interatividade. O coaching é um processo e uma competência que tem como base o aperfeiçoamento e desenvolvimento pessoal. O processo de coaching é uma oportunidade de visualização clara dos pontos individuais, fortes e fracos, de aumento da autoconfiança, de quebrar barreiras de limitação, para que as pessoas possam conhecer e atingir seu máximo potencial e alcançar suas metas de forma clara, objetiva, consciente e, principalmente, assertiva, desenvolvendo assim suas habilidades e competências em favor do seu bem e da instituição. Na atualidade, é comum as pessoas buscarem por espiritualidade, mas não aderirem a uma religião específica. Observamos também que dentro do contexto religioso/espiritual a busca por equilíbrio interior é constante, sempre bem-vinda e positiva. Além disso, as pessoas buscam por crescimento espiritual e satisfação pessoal, na esperança de alcançar a felicidade e resolver seus conflitos internos, e nesta perspectiva, procuram por um coach e não propriamente por um líder religioso. 16 Aconselhamento Pastoral Familiar Este profissional tende a oferecer à pessoa equilíbrio e harmonia por meio de suas orientações. Este profissional nada mais é que um mediador, um aconselhador, que colabora com o desenvolvimento pessoal daquela pessoa de forma neutra e ética, procurando trabalhar a mediação, levando o indivíduo a ter suas próprias convicções, sem nada impor. Afinal, o Que é Aconselhamento Pastoral? Segundo Fernandes (2012), o Aconselhamento Pastoral é um ramo de aconselhamento em que conselheiros pastorais geralmente integram pensamento psicológico moderno e método com formação religiosa tradicional, em um esforço para tratar de questões psicoespirituais, além do espectro tradicional de serviços de aconselhamento. “O primeiro serviço que alguém deve ao outro na comunidade é ouvi-lo. Assim como o amor a Deus começa com o ouvir a sua Palavra, assim também o amor ao irmão começa com aprender a escutá-lo. É prova do amor de Deus para conosco que não apenas nos dá sua Palavra, mas também nos empresta o ouvido. Portanto, é realizar a obra de Deus no irmão quando aprendemos a ouvi-lo. Cristãos e especialmente os pregadores, sempre acham que têm algo a “oferecer” quandose encontram na companhia de outras pessoas, como se isso fosse o seu único serviço. Esquecem que ouvir pode ser um serviço maior do que falar. Muitas pessoas procuram um ouvido atento, e não o encontram entre os cristãos, porque esses falam quando deveriam ouvir. Quem não ouve a seu irmão, em breve também não ouvirá a Deus. Quem não consegue ouvir demorada e pacientemente, estará apenas conversando à toa e nunca estará realmente falando com outros, embora não esteja consciente disso”. Fonte: Howard Clinebell (apud DIETRICH BONHOEFER, 1987, p. 69). 17 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 Segundo Ferreira (2011), o Aconselhamento Pastoral pode ser definido como uma relação de ajuda em que uma pessoa, o conselheiro, procura assistir outra pessoa, nos problemas e desafios religiosos que aquela pessoa está enfrentando na sua vida. Tem como objetivo ajudar a pessoa a desenvolver ou alcançar a sua maturidade cristã ou, quem sabe, o querigma, a partir das mudanças de sua forma de pensar. Querigma é o Primeiro Anúncio. A palavra tem origem no grego Kerissen, que significa primeiro anúncio. Proclama e apresenta Jesus Cristo morto, ressuscitado e glorificado para termos uma experiência de mudança de vida, graças à fé. Querigma significa o Primeiro Anúncio da Boa-Nova do acontecimento Jesus de Nazaré, realizado na força do Espírito Santo, baseado no testemunho pessoal dos apóstolos. O aconselhamento pastoral, enquanto prática, deve estar inserido no contexto cultural no qual está presente e com ele estabelecer um processo dialógico. Como afirma Schneider- Harpprecht (1997, p. 74-75): “Partindo da noção do ser humano como ser falante que precisa compreender o seu mundo, o termo ‘cultura’ significa as construções do discurso humano através do qual os seres humanos controlam o seu comportamento social, o conjunto diversificado dos textos falados e escritos que relaciona pessoas num determinado tempo e espaço físico nas mais diversas formas e atividades que criam produtos materiais, frutos de trabalho e arte. O uso da metáfora do texto para fazer referência ao material cultural aponta para a desconstrução do sentido através da interpretação como tarefa da pesquisa. A cultura é a rede de inscrições de sentido que se constrói, molda e perpassa as relações sociais e precisa ser decifrada e des-construída. O Aconselhamento Pastoral participa desse trabalho de interpretação. Entendemos sob Aconselhamento Pastoral as atividades em que a comunidade cristã procura realizar o ministério da poimênica, quer dizer, o ministério da ajuda mútua dos cristãos e da ajuda para aqueles que a procuram nos conflitos da vida. Aconselhamento acontece através da conversação pastoral 18 Aconselhamento Pastoral Familiar e de outras formas de comunicação metodologicamente refletidas em atos de construção e desconstrução de sentido e relaciona a tradição simbólica do Cristianismo com a biografia das pessoas e com a sua atuação concreta. O Aconselhamento Pastoral participa do discurso da teologia que, como uma forma do discurso religioso no qual a sociedade simboliza as condições contingentes da vida individual e social, fundamenta, critica e conduz a ação comunicativa dos cristãos em determinadas igrejas a partir dos textos fundantes do Cristianismo. O Aconselhamento Pastoral desenvolve a sua teoria no diálogo crítico com o discurso da sociedade sobre a assistência e a terapia de pessoas. Ele sempre faz parte de uma cultura específica e implica a reflexão sobre a relação da prática da fé cristã com a cultura dos aconselhadores e dos aconselhandos no processo de aconselhamento. Como dizem Arthur Kleinman e John Patton, o aconselhador é um “minietnólogo” que observa e descreve indivíduos, famílias, pequenos grupos e comunidades na sua particularidade cultural dentro do contexto maior da sociedade”. Uma pessoa que exerce a missão do Aconselhamento Pastoral, segundo Ferreira (2011), desenvolve um tipo de trabalho e abordagem marcados à partida por alguns pressupostos que estabelecem limites, desde logo, na relação com a pessoa que procura ajuda ou aconselhamento. Para o autor, esse tipo de limites, em primeiro lugar, tem a ver com aquilo a que podemos, talvez, chamar a posição de poder do conselheiro: O aconselhamento pastoral tem enquadramento próprio. Sendo que a tarefa do aconselhamento é o acompanhamento de alguém que chega e pede ajuda específica. Não basta apenas ouvir, mas é preciso saber ouvir e interferir no momento exato, possibilitando uma maior compreensão da dificuldade a ser enfrentada, por parte do próprio aconselhado. A relação de ajuda terá como finalidade fazer com que a própria pessoa, que busca auxílio, compreenda-se e seja capaz de olhar para os próprios problemas (FERREIRA, 2011, p. 1). Ferreira (2011) também se preocupa com a questão da relação do Aconselhamento Pastoral com a liderança de fé, que tende a ser uma problemática no espaço religioso e na própria relação de Aconselhamento Pastoral, dificultando o diálogo e, consequentemente, o aconselhamento. 19 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 Nos casos em que o conselheiro é também o líder na comunidade de fé, o aconselhando tende a colocar-se automaticamente num patamar de submissão. Tende a ficar intimidado, a não se abrir, a ter necessidade de medir as palavras muito bem e resguardar-se mais do que faria eventualmente com um técnico anônimo, ou alguém que não represente qualquer espécie de poder para aquela pessoa, mas também, para o conselheiro esta não é uma situação fácil de gerir. É extremamente difícil, para quem dispõe de uma certa influência no aconselhando, resistir à tentação de direcionar, optando por outras posturas de aconselhamento, esquecendo que deve ser a própria pessoa (o aconselhando) a encontrar o seu próprio percurso e as soluções para os problemas que, afinal, também são essencialmente seus. Fonte: Ferreira (2011, p. 2). O termo “poimênica” vem do grego “poimén”, que significa “pastor”. Sendo assim, a poimênica tem a ver com o trabalho pastoral. Podemos entender também como Teologia pastoral, a parte da Teologia que trata da instituição do ministério cristão, das ordens sacras, seu significado, da vocação, do ministro e da renovação dela, da sua vida interior e das relações sociais, do comportamento na família, na paróquia e na nação, da sua posição e atitude espiritual no culto e na celebração dos ritos e sacramentos e, por fim, da cura de almas, no púlpito. Qualquer que seja a necessidade que o aconselhado tenha, o conselheiro constatará que as pessoas têm um objetivo comum que é fundamentalmente egocêntrico. Em casos assim, é dever do conselheiro ajudar a desenvolver a maturidade espiritual e psicológica do aconselhado. Oliveira (2013), por sua vez, afirma que Aconselhamento Pastoral deve ser entendido em seu sentido mais amplo, ou seja, como a ação do/a pastor/a, indivíduos cristãos e/ou a própria comunidade que, subsidiados por ferramentas bíblico-teológico-pastorais, além do auxílio da área da psicologia, juntos, ajudam e proveem o apoio poimênico, como: cura, nutrição espiritual e orientações à(s) pessoa(s) e/ou grupo em meio a momentos difíceis, de angústias e/ou crises, com vistas a seu desenvolvimento, crescimento e libertação. 20 Aconselhamento Pastoral Familiar Essa compreensão do aconselhamento pastoral encontra base teórica em Clinebell (1998), pastoralista norte-americano que desenvolve seu método a partir de três elementos principais: crescimento, libertação e integralidade. Na sua visão, a poimênica, na atualidade, deve se concentrar nas seguintes funções: cura, sustentação, orientação, reconciliação e nutrição. Aspectos importantes para um trabalho de acompanhamento e aconselhamento pastoral a pessoas e/ou grupo que enfrentam crises (OLIVEIRA, 2013, p. 2). Para Clinebell (2011), o AconselhamentoPastoral é uma coluna da Igreja que mantém de pé seus relacionamentos, fazendo reconciliações constantes na vida das pessoas. A poimênica proporciona à Igreja relacionamentos profundos que capacitam pessoas para a cura, libertação e crescimento de seu próximo. À semelhança do convívio de Jesus com seus discípulos, é no interior da comunidade de fé que surgem as situações para o tratamento de vidas. De acordo com Clinebell (2011, p. 25), o Aconselhamento Pastoral, “que constitui uma dimensão da poimênica, é a utilização de uma variedade de métodos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a lidar com seus problemas e crises de uma forma mais conducente ao crescimento. Desta forma, a poimênica e o Aconselhamento estão interligados e devem agir juntos, porém não são a mesma coisa. O Aconselhamento Pastoral é o trabalho específico do líder religioso no acompanhamento de vidas, tratando seus problemas pessoais com apoio da Teologia e da pastoral e com auxílio de técnicas da psicanálise e da psicologia. Assim sendo, no entender de Clinebell (2011), a poimênica é proporcionada pela Igreja como um todo que acolhe e trata pessoas, contribuindo para o crescimento e cura de vidas no meio da comunidade de fé ou na sociedade em geral. Nota-se que uma precisa da outra. Se houver poimênica e faltar Aconselhamento Pastoral, o trabalho fica incompleto e vice-versa. No entender de Friesen (2004), o Aconselhamento Pastoral procura cuidar das tensões interiores e dos diferentes complexos que interferem na qualidade de vida das pessoas, bem como libertar as pessoas de atitudes impróprias e distorções de percepção quanto à realidade, dos medos, das culpas e das iras inadequadas. Por isso, o Aconselhamento Pastoral utiliza-se da fundamentação teórica e espiritual oferecida pela Palavra de Deus, com os recursos que o conselheiro obtiver, como subsídio, da biologia, da pedagogia, da psicologia e da filosofia para atingir tal propósito. 21 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 Segundo Friesen (2004), aconselhar pode ser definido como “proclamação do perdão dos pecados” e aconselhamento como a “comunicação da Palavra de Deus”. Para o autor, no Aconselhamento Pastoral é estabelecido um diálogo que tem por objetivo levar “ao rompimento com a vida nas trevas”. Neste diálogo são “utilizados os princípios bíblicos para a orientação da conduta e das decisões”. O Aconselhamento Pastoral é aquele que é realizado em nome de Jesus Cristo. Segundo Silva (2016), a prática do Aconselhamento Pastoral é um processo interativo de comunicação que deve levar em conta as diferentes dimensões do ser humano. Isso significa que, ao mesmo tempo em que o Aconselhamento Pastoral procura colher as informações referentes à vida do aconselhado e propor resoluções perante as dificuldades, do ponto de vista religioso e espiritual ele não deixará de considerar as demais dimensões dessa vida, sejam elas de ordem econômica, cultural, emocional ou política. Nesse sentido, o Aconselhamento Pastoral não se opõe ao uso de conhecimentos multidisciplinares, valorizando inclusive a articulação com outras ciências no processo de ajuda ao indivíduo. Fonte: Silva (2016, p. 23). Segundo Fernandes (2012), o Aconselhamento Pastoral é um ramo de aconselhamento em que conselheiros pastorais geralmente integram pensamento psicológico moderno e método com formação religiosa tradicional, em um esforço para tratar de questões psicoespirituais, além do espectro tradicional de serviços de aconselhamento. Para este autor, o que distingue o Aconselhamento Pastoral de outras formas de aconselhamento e psicoterapia é o papel e a responsabilidade do conselheiro e sua compreensão e expressão do relacionamento pastoral. Conselheiros são representantes para a Igreja do mundo espiritual e seu significado afirmado por suas comunidades religiosas. Assim, o Aconselhamento Pastoral oferece um relacionamento com essa compreensão da vida e da fé. O Aconselhamento Pastoral usa ambos os recursos psicológicos e teológicos para aprofundar o seu entendimento da relação pastoral. 22 Aconselhamento Pastoral Familiar Assim sendo, segundo Fernandes (2012), Aconselhamento Pastoral visa primeiramente despertar, alimentar e desenvolver a partir da reflexão teológica sobre a tradição bíblica da sabedoria, que era utilizada nos tempos bíblicos, e como Cristo, representa a essência da sabedoria em seu modelo ministerial. Fernandes (2012) destaca que o Aconselhamento Pastoral seria uma das dimensões da poimênica, que acontece no meio da comunidade de fé como um ministério natural da Igreja em cuidar de vidas que se achegam durante o ciclo da vida, visando sua integralidade centrada no espírito com propósito de crescimento, assim executando a práxis teológica na sua forma direta. De acordo com Clinebell (1987), o objetivo maior do Aconselhamento pastoral é “libertar”, “potencializar” e “sustentar integralidade centrada no espírito”. A definição de termos básicos é a seguinte, segundo o autor: A poimênica e o aconselhamento pastoral compreendem a utilização por pessoas que exercem o ministério, de relacionamentos de indivíduos para indivíduos ou de pequeno grupo para potencializar a ocorrência de potencialização curativa e crescimento de indivíduos e seus relacionamentos. Poimênica é o ministério amplo e inclusivo de cura e crescimento mútuos dentro de uma congregação e de sua comunidade durante o ciclo de vida (CLINEBELL, 1987, p. 24). Assim sendo, segundo Fernandes (2012), a poimênica então acontece no meio da comunidade de fé como um ministério natural da Igreja em cuidar de vidas que se achegam durante o ciclo da vida, visando sua integralidade centrada no espírito com propósito de crescimento. Segundo Clinebell (1987), o Aconselhamento Pastoral que constitui uma dimensão da poimênica é a utilização de uma variedade de métodos de cura (terapêuticos), objetiva ajudar as pessoas a lidar com seus problemas e crises de uma forma mais conducente ao crescimento e, assim, experimentar a cura de seu quebrantamento. No entender de Fernandes (2012), a espiritualidade é um mecanismo importante para se fortalecer a resiliência do fiel, para que o mesmo possa desenvolver recursos positivos para lidar com as crises ou mudanças que ocorrem durante todo o ciclo de sua vida, e neste sentido, o Acompanhamento Pastoral tem a contribuir no processo de formação e discernimento. Para Clinebell (1987), o Aconselhamento Pastoral é uma função reparadora, necessária para o crescimento das pessoas, que são seriamente comprometidas ou bloqueadas por crises existenciais, e nesta linha de raciocínio, o aconselhador tem papel relevante e indispensável, assim como o de um terapeuta. Entretanto, cada um tem uma função específica. 23 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 As Diversas Correntes Psicológicas Que Fundamentam o Aconselhamento Pastoral A Psicologia vem sendo uma ferramenta imprescindível para o bom aproveitamento, eficiência e melhor abrangência no desenvolvimento do Aconselhamento Pastoral. Nesta perspectiva, passamos a ter diversas correntes psicológicas que passaram a fundamentar a Psicoterapia Pastoral e o Aconselhamento Pastoral propriamente, porém temos que ter claro que uma coisa é a psicologia/terapia e outra é o Aconselhamento Pastoral. A mais aprimorada está na chamada Psicologia Humanista, desenvolvida pelo psicólogo Carl Rogers (1977), que tem uma nova visão terapêutica a qual busca uma relação mais estreita com o “cliente” (termo da psicologia considerado mais adequado do que o termo “paciente”). Destacamos, entretanto, que o líder religioso não pode simplesmente aplicar técnicas da psicologia em seu trabalho pastoral, se este não for psicólogo. Segundo Gomes (2012), a partir de Carl Rogers, que compreendia “aconselhamento” e “psicoterapia” como tendo o mesmo significado, o uso das técnicasda terapia não diretiva centrada no cliente se estendeu para além do âmbito da psicologia, medicina e psiquiatria, e assim, vários grupos de profissionais passaram a ter formação em aconselhamento. Este aconselhamento não diretivo não consiste em dar conselhos, mas num caminhar lado a lado de conselheiro e cliente (ROGERS, 1977). Nesta perspectiva, a Psicologia Transpessoal se assemelha com o Aconselhamento Pastoral, que busca caminhar com o aconselhado, levando o mesmo a obter as suas próprias conclusões. A Psicologia Humanista surgiu no século XX, tem como principal característica considerar o ser humano como um todo. Seu objetivo era dar uma resposta diferente, abordando os problemas do ser humano, oferecendo uma perspectiva da área da saúde ao invés da doença. Ela se baseia no fato de que há múltiplos fatores envolvidos na saúde mental. Todos eles convergem e estão interligados: as emoções, o corpo, os sentimentos, o comportamento, os pensamentos. A abordagem humanista exalta a saúde mental e todos os atributos positivos da vida. A Psicologia Humanista defendia a experiência do consciente, a integridade do ser humano, o livre- arbítrio, a espontaneidade e a criatividade do indivíduo. https://amenteemaravilhosa.com.br/12-emocoes-poderosas/ 24 Aconselhamento Pastoral Familiar A Psicologia Humanista teve como desdobramento histórico a Psicologia Transpessoal. Dentre os psicólogos humanistas, Carl Rogers é possivelmente o que mais contribuiu para a Psicologia do Aconselhamento e, consequentemente, para o Aconselhamento Pastoral de forma indireta. Entretanto, há na Psicologia Humanista uma dimensão existencialista, que será legada ao Aconselhamento e ao Aconselhamento Pastoral, consequentemente, sob o viés cristão a partir da ótica religiosa. Segundo Braz (2004), os dois grandes representantes e divulgadores da Psicologia Humanista foram: Abraham Maslow e Carl Rogers. Maslow preocupou-se em desenvolver uma abordagem que pudesse ser usada com promoção de bem-estar psicológico e social. Procurou compreender as mais elevadas realizações que os homens são capazes de alcançar. Define, então, a autoatualização como elemento central de sua teoria, que pode ser entendida como a experiência plena e intensa em que cada escolha é uma opção para o crescimento, concretizando o seu potencial, reconhecendo as defesas que impedem o seu crescimento, trabalhando com o objetivo de deixá-las para trás. Ressaltando que o estado de autoatualização não é estático, mas sim uma conquista diária, desta forma, vivenciada pelo homem como situações de amor pleno, experiências religiosas ou simplesmente vivências cotidianas. Toda pessoa possui uma tendência inata para tornar-se autorrealizadora, e algumas vezes a sociedade pode ajudá-lo ou atrapalhá-lo no seu desenvolvimento. O indivíduo possuiria, assim, algumas necessidades básicas a serem alcançadas ou desenvolvidas: fisiológicas, de segurança, de amor e pertinência, de estima dos outros e de si e de autorrealização, em que cada uma deveria ser satisfeita de acordo com o nível de preponderância, necessidades básicas ou inferiores precederiam às mais “nobres”. Fonte: Kahhale e Rosa (2002, p. 87). Rogers (1977, p. 43) definia o conceito de relações de ajuda como sendo “as relações nas quais pelo menos uma das partes procura promover na outra o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida”, ou ainda, “uma situação na qual um dos 25 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 participantes procura promover numa ou noutra parte, ou em ambas, uma maior apreciação, uma maior expressão e uma utilização mais funcional dos recursos internos latentes do indivíduo”. Para Rogers (1977), era importante que o terapeuta e o cliente conseguissem obter uma boa comunicação com a pessoa em relação, em especial no sentido de lhe fazer entender que estava a compreendê-la empaticamente, de acordo com o quadro de referências dela, a fim de poder contribuir no processo de colaboração no seu tratamento. Podemos transpor esta perspectiva para o Aconselhamento Pastoral sem nenhum problema, apenas temos que destacar que o aconselhador não realiza o trabalho de terapeuta, ou seja, não trabalha com as questões psíquicas e sim com as questões religiosas, de ordem espiritual. Em Rogers, o aconselhamento psicológico está focalizado no presente, mais orientado para a ação do que para a reflexão, e mais centrado na prevenção do que no tratamento (processo inverso à psicoterapia); portanto, aconselhar, conforme Rowland (1992), é mais que dar conselhos ou prescrever condutas, no entanto, trata-se de ajudar o sujeito a compreender a si próprio e a situação em que se encontra e ajudá-lo a melhorar a sua capacidade de tomar decisões que lhe sejam benéficas. Para Gomes (2012), Rogers desenvolveu a psicoterapia não diretiva e centrada no cliente, a partir de uma prática que visava auxiliar as pessoas que enfrentavam problemas, conflitos e crises, fazendo com que ajudassem a si próprias. Esta forma de aconselhamento enfatiza a autoajuda dos clientes na resolução de seus conflitos internos através da compreensão e reeducação de suas emoções. A Psicoterapia Pastoral No entender de Fernandes (2012), as pessoas que buscam a ajuda para problemas físicos, emocionais ou interpessoais também estão sofrendo espiritualmente, e nesta perspectiva, os terapeutas e profissionais da área de saúde humana devem necessariamente prestar atenção na dimensão espiritual da experiência humana, para que se possa entender as necessidades e sofrimentos de nossos clientes, auxiliando-os no seu processo de cura e crescimento, e assim também devem agir os aconselhadores pastorais. 26 Aconselhamento Pastoral Familiar Segundo Fernandes (2012), a Psicoterapia Pastoral é um trabalho mais árduo, é quando o conselheiro acompanha durante um longo prazo uma pessoa que necessita de tratamento devido a um trauma que precise de acompanhamento especializado. Este trabalho é geralmente exercido por pessoas que se dedicam a este ministério e se capacitam com técnicas e métodos psicoterápicos, visando à reconstrução de vidas. Segundo Szassa (1995), a Psicoterapia Pastoral: É o nome que damos a um tipo específico de influência pessoal: fazendo uso da comunicação, uma pessoa, identificada como psicoterapeuta, exerce influência supostamente terapêutica sobre outra pessoa, identificada como paciente. Esse processo, claro, nada mais é que constituinte especial de uma classe muito mais ampla – aliás, uma classe tão imensa que praticamente todas as interações humanas nela se enquadram (SZASSA apud HURDING, 1995, p. 31). No entanto, para Clinebell (1987), é a utilização de métodos terapêuticos reconstrutivos de longo prazo, quando o crescimento é profundo ou cronicamente diminuído por experiências de não satisfação de necessidades básicas na infância ou por múltiplas crises na vida adulta. O cuidado pastoral é o ministério multifacetado de cuidar do bem-estar e crescimento espiritual de pessoas de todas as idades. Assim sendo, a Psicoterapia Pastoral: É um processo assistencial a longo prazo, que procura alcançar mudanças fundamentais na personalidade do aconselhando, desvendando e tratando sentimentos ocultos, conflitos intrapsíquicos e memórias reprimidas dos primórdios da vida. O uso de métodos psicoterápicos por pastores destina-se a capacitar pessoas a alterar aspectos fundamentais de suas personalidades e de seus esquemas de comportamento para tornar estes mais criativos e construtivos (CLINEBELL, 1987, p. 32). Assim, como podemos observar, não temos uma única concepção de Psicoterapia Pastoral, o que é muito rico e relevante. Já para Cordioli (2003), a Psicoterapia Pastoral: Ocorre num contexto de uma relação de confiança emocionalmente carregada em relação ao terapeuta; a psicoterapia ocorre emum contexto terapêutico, no qual o paciente confia que o terapeuta irá ajudá-lo e acredita que este objetivo será alcançado; existe um racional, um esquema conceitual (teoria) ou um mito que provê uma explicação plausível para o desconforto (sintoma ou problema) e um procedimento ou ritual para ajudar o paciente a resolvê-lo (CORDIOLI, 2003, p. 21). 27 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 Para Fernandes (2012), o trabalho de um líder religioso consiste em perspectivas religiosas, éticas e psicológicas e tem o objetivo de fazer com que a comunidade testemunhe a sua fé. A psicologia, neste caso, entra como forma de complementação para o líder religioso, o conselheiro deve identificar os sentimentos, comportamentos e pensamentos problemáticos. Fernandes (2012) conclui que o trabalho de um religioso e de um psicólogo, juntos, pode levar as pessoas a conhecerem mais de sua própria força, tanto da sua resiliência psicológica, da profundidade, da internalização da sua própria espiritualidade, e saibam em que grau a sua espiritualidade está para a sua capacidade de resistência psicológica, ou seja, leva as pessoas a conhecerem a si mesmas. Segundo Braz (2004), dentro da psicoterapia, um dos domínios que tocam a dimensão espiritual é a culpa. A pesquisadora afirma que a culpa é um sintoma bastante frequente nos quadros de depressão, problemas conjugais ou alimentares, ou parte de uma perturbação secundária. Essa é uma situação- problema que o aconselhador tem que estar atento e saber trabalhar com a mesma. Braz (2004) destaca que a Psicologia Humanista é relevante para o entendimento da natureza holística do ser humano. Tem como principal princípio a autorrealização humana como forma de crescimento, contribuindo assim para a retirada da percepção de que algo está em falta, e sendo ele o seu próprio mestre e único detentor de sua vida e do seu desenvolvimento. A Psicoterapia Pastoral é um processo pelo qual um terapeuta ou o Aconselhador Pastoral ajuda a analisar e a reorganizar a personalidade de uma pessoa. É como se fosse um trabalho de reconstrução psicológica ou espiritual, ou seja, o próprio indivíduo é quem vai identificar pontos de mudança necessários ao longo do seu amadurecimento, e com o apoio do terapeuta ou do aconselhador, vai encontrar estratégias que permitam a respectiva coragem e estratégias para a mudança necessária ao longo do processo de acompanhamento e de diálogo. O objetivo da Psicoterapia Pastoral é ajudar o indivíduo a assimilar “insights” do seu comportamento diário com o aconselhador ou terapeuta, e, com isso, promover mudanças nos seus hábitos ou rotina religiosa e/ou espiritual, bem como social, se for o caso. 28 Aconselhamento Pastoral Familiar Atividade de Estudos: 1) Como vimos, a relação entre a Psicologia e o Aconselhamento Pastoral pode ser muito construtiva. Hoch (1985), em seu artigo Psicologia a Serviço da Libertação – Possibilidades e Limites da Psicologia na Pastoral de Aconselhamento, destaca e reforça áreas em que a Psicologia pode ser parceira do Aconselhamento Pastoral. Assim, leia o trecho a seguir e elabore um mapa mental destacando estas áreas. “O Aconselhamento Pastoral não precisa ter receio de se tornar herético quando coloca a pessoa humana no centro de suas preocupações. Também Deus se fez homem para resgatar a pessoa humana em toda a profundeza da sua humanidade. Só que, ao contrário da Psicologia, a Teologia e o Aconselhamento Pastoral não se limitam à dimensão antropológica da pessoa. O antropocentrismo é apenas provisório e instrumental. O objetivo último do aconselhamento é a relação da pessoa com Deus. Na medida, porém, em que esta relação da pessoa com Deus se medeia e se concretiza no relacionamento com as demais pessoas, com a sociedade, com a natureza e consigo mesmo, o cristão, até por uma questão de obediência a Deus e na preocupação pela vivência concreta da sua fé, precisa se inteirar da situa ção na qual vive o seu interlocutor, inclusive da sua situação psicológica. O conhecimento da pessoa humana em todas as suas dimensões é indispensável para o trabalho com as dificuldades e com o sofrimento humano. Portanto, na medida em que a constituição psíquica faz parte do ser pessoa, não há como excluir a psicologia da poimênica. Quem exclui a psicologia, exclui a psique, e quem exclui a psique está excluindo uma parcela marcante do próprio ser. Como podemos deixar de considerar as dimensões psicológicas em nosso envolvimento poimênico com pessoas, se são justamente fatores psicológicos que frequentemente estão na raiz de múltiplas formas de sofrimento humano? Se nós não nos relacionarmos com as pessoas nesse nível do seu ser pessoa, nós estaremos compartimentalizando o nosso interlocutor e deixando-o sozinho numa dimensão fundamental da sua vida. E, não raro, justamente naquela onde ele vem se sentindo mais sozinho e desorientado. 29 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 A seguir, vou mencionar algumas áreas, nas quais entendo que a psicologia possa ser uma parceira de ajuda ao Aconselhamento Pastoral: a) Cada pessoa tem necessidades e motivações de ordem física, emocional, social e espiritual, que têm origens profundas e que frequentemente são desconhecidas pela própria pessoa. Os problemas e as angústias que daí resultam, bem como as soluções mais adequadas, só poderão ser encontrados se a raiz mais profunda é descoberta ou, pelo menos, vislumbrada. A psicologia pode ajudar tanto ao pastor como ao pastorando a aprofundar a problemática, ou seja, a colocar a descoberto a real natureza do problema. Isto previne o Aconselhamento Pastoral de ser superficial na busca por soluções. Isso naturalmente exige muita cautela por parte do pastor. Ele não deve exceder os limites da sua competência e penetrar mais a fundo do que ele posteriormente tem condições de trabalhar. b) Conhecimentos de psicologia podem ajudar o agente pastoral a identificar o tipo de relacionamento que se estabelece entre ele e o seu interlocutor. A poimênica é uma atividade que acontece no âmbito da Igreja, mas que escapa das suas instâncias de controle. A conversação poimênico-pastoral é de caráter sigiloso e transcorre a nível da intimidade pessoal, sendo o seu conteú- do tão imprevisível e diversificado quanto o é a própria vida humana. Isto representa uma oportunidade, mas se constitui igualmente num perigo para a poimênica. Eis que ela dá oportunidade a que se desenvolvam relacionamentos os mais diversos entre os interlocutores que precisam ser identificados pelo conselheiro pastoral. Onde isto não acontece, os parceiros da poimênica podem, sem o desejarem conscientemente, se envolver em formas de relacionamento indesejáveis e prejudiciais à finalidade a que se propõem. A psicologia pastoral pode ajudar o agente pastoral a identificar já no início tais fenômenos e, com a devida habilidade e respeito, até mesmo convertê-los em um instrumento de conscientização das necessidades e desejos do seu interlocutor. c) Como já dissemos acima, toda pessoa no trato com seus semelhantes faz uso da psicologia e de mecanismos de persuasão dos quais nem sempre tem consciência. Isso vale também para o agente pastoral ao lidar com dificuldades de outra pessoa. Assim sendo, e já que é inevitável o emprego da psicologia, é preferível que isso seja feito de forma consciente e 30 Aconselhamento Pastoral Familiar responsável. Até porque, em não sendo uma atitude consciente e planejada, existe o perigo do agente se tornar vítima dos seus mecanismos inconscientes, por exemplo, o desejo de exercer autoridade e poder sobre o seu interlocutor ou a necessidade de ter pessoas que dependam dele. A própria responsabilidade poimênica requer que o conselheiro pastoral tenha consciência, tão aproximada quanto possí vel, do que está fazendo e de que forma está empregandoa psicologia. A psicologia pastoral serve para a elucidação desse fato. d) A psicologia ajuda o conselheiro pastoral a melhorar a sua capacidade de detectar, identificar ou, em alguns casos, até diagnosticar problemas no seu parceiro de diálogo. A falta de conhecimentos básicos de psicologia pode fazer com que certos problemas psicológicos que costumam ocorrer no seio de uma comunidade deixem de ser identificados e, por isso mesmo, subestimados e que depois acabem se transformando em dramas pessoais e familiares. Quantos problemas de violência na família são confundidos como sendo causados por desemprego ou por desajuste matrimonial, porém, se olhados mais a fundo, se revelam como sendo fruto de um desequilíbrio psicológico ou emocional. Quantos suicídios por causas ignoradas têm a sua origem numa depressão que ninguém, nem mesmo o pastor, soube identificar. Em casos extremos, mas nem tão raros assim, encontramos obreiros nossos, na mais sincera e ingênua intenção de fé e testemunho cristão, preocupados em expelir demônios de pessoas que, na verdade, estão acometidas de histeria ou de outras formas de doenças psicológicas. Há igualmente pessoas que nos procuram com perguntas e problemas de fé, tais como a incapacidade de se relacionarem com Deus e que, sem o saberem, são expressões de conflitos emocionais, não raro, adquiridos já na infância. Para evitar mal-entendidos, quero deixar claro que não estou pleiteando que o pastor se ponha a tratar de casos como os que acabei de mencionar: Para isso lhe falta, geralmente, a formação adequada. E é bom que ele saiba que não é psicólogo e nem mé dico. O que estou querendo dizer é que o agente pastoral deveria ter um conhecimento elementar de psicologia para poder identificar problemas de natureza psicológica e para poder encaminhar tais casos a profissionais competentes para deles tratarem. Para alguns pastores não é fácil aceitar o fato de que eles não são a pessoa indicada para tratar de todos os problemas que surgem em sua comunidade. Nós precisamos aprender a delegar tarefas. Às vezes, delegar é a melhor maneira de ajudar. 31 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 Mas para isso precisamos, antes de mais nada, aprender a distinguir o que é e o que não é da nossa competência pastoral! Reconhecer as possibilidades da psicologia para o serviço pastoral na Igreja, tendo em vista a libertação ampla da pessoa e da sociedade, não implica em deixar de apontar para os seus limites” (HOCH, 1985, p. 259-262). As Diversas Correntes Psicológicas Que Fundamentam o Aconselhamento Pastoral O quadro a seguir procura demonstrar resumidamente as demais correntes psicológicas que fundamentam o Aconselhamento Pastoral, e embora saibamos que a maior influência está na Psicologia Transpessoal, se faz necessário conhecer outros fundamentos. Realizamos isso por meio desta metodologia comparativa, objetivando ser um pouco mais didático quanto à transposição destes conteúdos científico- religiosos, uma vez que eles estão diretamente ligados pelo viés do racionalismo e não pelo subjetivismo. Quadro 1 – As correntes psicológicas que fundamentam o Aconselhamento Pastoral BEHAVIORISMO Tem por suas raízes o funcionalismo, o instrumentalismo e o associacio- nismo. Skinner afirmava que o comportamento é essencialmente fruto de um condicionamento operante. Segundo Fernandes (2012), o uso de algu- mas de suas práticas religiosas e sociais permite um certo “relacionamen- to” com o aconselhamento e com o cuidado pastoral. A GESTALT A Gestalt-terapia busca manter uma perspectiva holística diante das pes- soas, onde afirma a complexidade das pessoas e dos acontecimentos e inclui todas as dimensões pertinentes, incluindo a religiosidade. A Ges- talt-terapia objetiva o “funcionamento unitário do homem como um todo”. A PSICANÁLISE Freud reconhece que a religião vem para preencher uma necessidade crítica de dependência e de apoio, e é contra a insegurança da vida. O rompimento com a religião traz um aumento significativo da neurose. Nem todo mundo é igualmente capaz de ser ateu. A religião é importante contra a neurose, então, se ao considerar a religião uma neurose, talvez seja uma neurose necessária. 32 Aconselhamento Pastoral Familiar A PSICOLOGIA ANALÍTICA: Jung criou alguns dos mais conhecidos conceitos psicológicos, incluindo o arquétipo, o inconsciente coletivo, o complexo e a sincronicidade. Ele viu a psique humana como "de natureza religiosa", e fez desta religiosidade o foco de suas explorações. Jung é um dos mais conhecidos contribuintes contemporâneos para análise de sonhos e simbolização. Os junguianos tendem a tratar as crenças religiosas e os comportamentos de uma forma positiva, oferecendo referências psicológicas para termos tradicionais reli- giosos como "alma", "mal", "transcendência", “sagrado” e “Deus “. A ANÁLISE TRANSACIONAL Esta terapia se baseia na descoberta de soluções para os comportamen- tos adaptativos. O cliente e o terapeuta devem trabalhar em conjunto de forma respeitosa para a implementação de várias técnicas terapêuticas que ajudarão o cliente a alcançar seu resultado desejado. O foco principal da análise transacional é capacitar pessoas com a capacidade de atingir bem-estar psicológico. A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL Esta terapia está interessada em explorar bem-estar extremo. Maslow arti- culou esses conceitos-chave como "autorrealização" de Psicologia Huma- nista, e depois ultrapassou-o com o seu ideal na Psicologia Transpessoal de "autotranscendência”. Segundo Fernandes (2012), o transpessoalismo participa das raízes-árvores do cuidado pastoral mediante seus vínculos com o misticismo cristão, o que força seu próprio crescimento em direção ao céu. A PSICOLOGIA HUMANISTA É uma categoria do pessoalismo. Edward Spranger afirmava que o objeto de estudo da psicologia é a experiência humana, analisando seu significa- do tendo em mente os alvos da vida e valores de alguém. Segundo Fer- nandes (2012), a empatia é um dos aspectos mais importantes da terapia humanista. Sem empatia, o aconselhador ou terapeuta não compreende os pensamentos do cliente como este desejaria. A PSICOLOGIA EXISTENCIAL Trata-se de uma terapia centrada na pessoa, caminha para a autodireção e compreensão de seu próprio desenvolvimento. Parte do pressuposto de que uma pessoa já tem em si os recursos necessários para crescer, pro- põe-se criar as condições para fazê-la emergir de uma situação da qual ela pode sair. Fonte: Adaptado de Fernandes (2012). 33 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 Fonte: Bíblia de Jerusalém. O Aconselhamento Pastoral Nas Sagradas Escrituras O Aconselhamento Pastoral também está fundamentado na Bíblia, nela encontramos inúmeras passagens de aconselhamento, onde tanto Jesus como seus discípulos realizaram tal tarefa de forma missionária, profética e evangelizadora. Destaca-se que o intuito não é profissional, portanto cabe aqui fazer uns parênteses e deixar claro que a tarefa e missão do aconselhador pastoral não é de ser um profissional que objetive lucro com esta tarefa, e bem na verdade, nunca foi este o princípio. Encontramos algumas passagens bíblicas que fundamentam o Aconselhamento Pastoral que parecem pertinentes para nossa reflexão: Quadro 2 – Aconselhamento Pastoral fundamentado na Bíblia Teleios: (Hb 5:14), (Cl 1:28) (Jo 2:5) Plenitude, maturidade; Fato de ser inteiro; Completo e maduro em Cristo. Parákletos: (II Co 1:3,4 / At 13:15); (Hb 3:13); (Fl 1:9) Ideia de consolação; Exortação; Oração. Nouthésis: (Tt 2:15; I Ts 5:11) Admoestar; Exortar; Ensinar; Repreender. No Antigo Testamento, a imagem de “pastor de ovelhas” foi atribuída aos “líderes religiosos de Israel”. Moisés e Josué são exemplos desses líderes (HOCH, 1985). Então Moisés disse o seguinte: “Ó Deus Eterno, que dás a vida a todos, indica um homem que possa guiar o povoe comandá-lo na batalha, para que a tua gente não seja como ovelhas que não têm pastor” (Nn. 27,17). No entanto, baseando-se nas denúncias do profeta Ezequiel, Hoch (1985) afirma que muitos destes líderes não corresponderam com o que se espera de pastores. “Vocês, autoridades, são os 34 Aconselhamento Pastoral Familiar pastores de Israel. Ai de vocês, pois cuidam de vocês mesmos, mas nunca tomam conta do rebanho […]. Vocês não tratam as fracas, não curam as doentes, não fazem curativos nas machucadas, não vão buscar as que se desviam, nem procuram as que se perdem” (Ez. 34.2-4). De acordo com Hoch (1985), esse descuido por parte dos líderes de Israel fez com que Ezequiel anunciasse “o fim do seu pastoreio” e o próprio Deus passa a cuidar das suas ovelhas, sendo o bom e justo pastor. “Eu, o Senhor Eterno, digo que eu mesmo procurarei e buscarei as minhas ovelhas […], eu mesmo serei o pastor do meu rebanho e encontrarei um lugar onde as ovelhas possam descansar […]. Procurarei as ovelhas perdidas, trarei de volta as que se desviaram, farei curativo nas machucadas e tratarei as doentes“ (Ez.34.11-16). Já no Novo Testamento, através da encarnação do Verbo Divino, a imagem do bom pastor que cuida de suas ovelhas é atribuída a Jesus. No Novo Testamento, Hoch (1985) cita a passagem de Marcos 6.34, em que Jesus se compadece do povo que está como ovelhas sem pastor, bem como João 10.11-18, onde Jesus assume ser o “bom pastor” que veio para dar vida completa para as ovelhas, que conhece e protege cada uma delas, que chega a dar a sua própria vida pelas ovelhas (HOCH, 1985). A partir de Jesus, fica muito evidente que o Aconselhamento Pastoral implica num modo de ser e agir e acontece através de relacionamentos: consigo mesmo, com o Transcendente, com o/a outro/a, com o cosmos. E, como afirma Hoch (1985, p. 98), o paradigma do relacionamento pastoral é o “relacionamento do próprio Deus com seu povo”. Esse relacionamento acontece concretamente através de Jesus, que é o Emanuel, o Deus conosco, o Deus [que] se relaciona com seu povo em meio ao seu sofrimento e o faz em forma humana, ou seja, através da linguagem de um relacionamento fraterno, em moldes reais, que a mais humilde das pessoas seja capaz de entendê-la […] experimentá-la. Para Friesen (2004), é Jesus quem inaugura o modo de ser e de agir poimênico e também permanece como exemplo e critério para toda poimênica cristã atual. Jesus de Nazaré, a partir da sua forma de agir individual, a partir da sua consciência interior e a partir do seu efeito sobre o meio e de sua época (ilustrado pelas histórias bíblicas), pode ser visto como o inaugurador do comportamento poimênico [...]. Ainda no Novo Testamento, o apóstolo Paulo afirma que, além 35 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 de Cristo ser o próprio pastor, ele também preparou pessoas para o serviço cristão a fim de que o seu corpo seja edificado. “Essas pessoas receberam diferentes dons, sendo um deles o dom de pastorear” (cf. Efésios 4.11-12). Dessa forma, a imagem que anteriormente havia sido desvinculada dos líderes religiosos de Israel e atribuída somente a Deus, volta a ser relacionada também com pessoas, com o Sagrado, através dos dons concedidos pelo próprio Deus por meio da fé (NASCIMENTO, 2008). Alguém que é chamado para estar ao lado de outrem para ajudá-lo com seu conselho; estar ao lado define bem o aconselhamento bíblico. Construir um relacionamento de ajuda é animar, encorajar, confortar e trazer a esperança de que a mudança é possível. Figura 1 – Sagrada Escritura como fonte do aconselhador pastoral Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=biblia>. Acesso em: 22 jan. 2017. 36 Aconselhamento Pastoral Familiar O Aconselhamento Pastoral pressupõe um diálogo entre Deus e o ser humano, na perspectiva da fé cristã, do qual o aconselhador tem grande reponsabilidade em mediar esta ação, seja por meio da oração, da escuta, da Bíblia. Um conselheiro pastoral é um guia espiritual. Por isso, cabe ao conselheiro possibilitar ajuda adequada à pessoa, oportunizando para que ela tenha um melhor entendimento da sua situação. Segundo Walsh (2005), para indivíduos e famílias superarem crises, é importante acreditar que podem recorrer um ao outro, assim também o apoio às Escrituras Sagradas. "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados" (Tg 5:16). Para Bessa (2013), o Aconselhamento Pastoral se alicerça nas Escrituras e tem como elementos básicos a pessoa do conselheiro ou aconselhador, a Bíblia e a orientação do Espírito Santo, sem o qual este não se processa. Em outras palavras, esta atividade está diretamente associada a uma missão evangelizadora. Ouvir “com ouvidos de ouvir”, como propõe o Evangelho, isto é, prestar atenção, estar disponível para tentar entender o outro através daquilo que ele fala, quer no discurso verbal, quer na expressão dos sentimentos, falando com a boca, mas também com os olhos, o corpo e a alma, esta é uma das tarefas e missão do aconselhador. Também encontramos, no Novo Testamento, exemplos de como o Cristo prestava atenção ao que se passava a sua volta, mesmo em meio ao ruído da multidão. Certa vez, já perto das portas de Jericó, Jesus foi confrontado com um pobre cego que, à beira do caminho, pedia esmola (Mc. 10, 46-52). Ao perceber que Jesus passava e uma multidão o seguia, gritou incessantemente, até ser ouvido. Os discípulos tentaram fazê-lo calar, mas ele berrava ainda mais, dirigindo-se diretamente ao Mestre, até que este lhe deu espaço, atenção e lhe resolveu o seu problema. Segundo Krause (2006), a poimênica e o Aconselhamento Pastoral, num primeiro momento, podem ser entendidos como atividades relativas ao “pastor”, “pastoril”, “próprio dos pastores espirituais”, entretanto, a poimênica não se limita apenas à função do/a pastor/a como ministro/a ordenado/a, não pressupõe uma visão meramente espiritual do ser humano e nem tem exclusivamente a comunidade eclesial como sua destinatária. Krause (2006) fundamenta seu raciocínio citando 1 Pd. 2, 5, por meio da fé, todas as pessoas são tornadas pedras vivas e podem deixar que Deus as “use na construção de um templo espiritual onde [...] servirão como sacerdotes consagrados a Deus”. 37 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 Os Pressupostos Teológicos Pastorais do Aconselhamento Pastoral Segundo Krause (2006), o termo poimênica provém da antiga língua grega, da palavra “poimén”, que quer dizer “pastor de ovelhas”. A palavra “pastoral” também deriva desta raiz e da própria Teologia Pastoral. Teologia Pastoral é uma forma ou um nível de teologia voltada para a evangelização. Tem seus procedimentos próprios, sua linguagem definida e destinatários. Situa-se no meio entre a reflexão existencial concreta e a teologia acadêmica. Essa incorporou o método conhecido como VER, JULGAR, AGIR, CELEBRAR E AVALIAR. É uma teologia feita em centros de formação, grupos do CEB, e em centros de teologia para leigos. Também pode ser definida como Teologia Prática ou um ramo da teologia que cuida da prática da própria teologia, ou seja, colocar o que a teologia fala no campo de ação. Do ponto de vista Teológico-Pastoral, segundo Krause (2006), a partir de Jesus, fica muito evidente que o Aconselhamento Pastoral implica num modo de ser e agir, bem como acontece através de relacionamentos: consigo mesmo, com o Transcendente, com o/a outro/a, com o cosmos. Como afirma Hoch (2003), o paradigma do relacionamento pastoral é o “relacionamento do próprio Deus com seu povo”. Esse relacionamento acontece concretamente através de Jesus, que é o “Emanuel”, o “Deus conosco”. No Novo Testamento, o apóstolo Paulo afirma que, além de Cristo ser o próprio pastor, ele também preparou pessoas para o serviço cristão a fim de que o seu corpo fosse edificado.É dentro desta perspectiva que o fiel procura no pastor um refúgio, um abrigo, um porto seguro, e que nasce a figura do aconselhador pastoral. Segundo Hoch (2003), “a Bíblia é um livro de poimênica”, um livro que é repleto de experiências de cura e de revelações. 38 Aconselhamento Pastoral Familiar Schneider-Harpprecht (1998) apresenta a palavra “paraclesis”, que significa “admoestação e consolação”, como um conceito-chave para o Aconselhamento Pastoral no Novo Testamento. Segundo o teólogo, a base para a admoestação e consolação seria a misericórdia de Deus que justifica a pessoa pecadora. Já para Ferreira (2011), a missão do aconselhador tem seu fundamento no ouvir, e este ouvir não é realmente algo fácil, trata-se de uma virtude que precisa ser exercitada, aprendendo a ficar calado, não interrompendo o ouvinte, não se distraindo com coisas externas ou interiores e, principalmente, depois de ouvir, evitar fazer um julgamento que censure a pessoa ajudada ou imponha a vontade e opinião do aconselhador. Segundo Oliveira (2013), as pessoas, quando procuram o cuidado pastoral, chegam profundamente machucadas, tristes, magoadas, sem esperança. O papel do/a conselheiro/a pastoral é prover sempre uma esperança realística e segura quanto a mudanças da realidade provocadora de conflitos, dramas ou crises. Segundo Ferreira (2001), só o ato de ouvir já é uma missão, uma evangelização, uma grande ajuda para quem precisa de uma companhia e não tem com quem desabafar. Além disso, o objetivo final do aconselhador deve ser a compreensão. É possível detectar o problema real do ajudado quando se percebe que em sua fala ele repete muitas vezes o que o incomoda mais, se destacando entre outros fatores. Também é possível deduzir o que o ajudado quer dizer implicitamente através de suas palavras. No entender de Ferreira (2011), só depois de escutar é hora de corresponder à expectativa do ajudado e falar. Essa resposta é uma afirmação de compreensão, mas antes de resolver o problema, a primeira coisa que o ajudado e ajudador precisam saber é se este compreende aquele, mesmo que para isso precisem tentar várias vezes. Então, a principal resposta que o ajudado necessita ouvir é: “eu entendi você”. Por isso é importante que o ajudador exponha para o ajudado como compreendeu a questão, resumindo o que ele disse. O/a conselheiro/a pastoral “deve procurar criar um clima que desperte o interesse em participar das sessões de aconselhamento [...]. É importante que isso seja comunicado ao casal de maneira calorosa e autêntica” (SATHLER- ROSA, 2010, p. 139). Para Silva (2016), na teologia, o aconselhamento se apresenta na postura da inclusão e de abertura para diferentes aspectos, ou seja, escolas teológicas (científicas), porém não se contrapõem a sua natureza divina, muito pelo contrário, elas acabam por se complementarem nos modelos e concepções do aconselhamento pastoral, por exemplo, nas perspectivas bíblicas, psicológicas, sociológicas e filosóficas. 39 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 Segundo Silva (2016), o Aconselhamento Pastoral, além da interface com outras disciplinas da teologia, especialmente com as atividades práticas da teologia, conforme Schneider-Harpprecht (1998), acontece numa interligação com outras dimensões da vida religiosa comunitária, formando assim uma rede de saberes necessária à formação do aconselhador. A interligação dessas dimensões faz com que todas adquiram um significado poimênico, que, por sua vez, poderá incluir elementos litúrgicos, elementos de missão e elementos diacrônicos, podendo gerar, por exemplo, atividades de oração, testemunho, louvor, visitação, entre outras, tendo assim uma dimensão um pouco maior do objeto como um todo. Clinebell (1987) observa que o fim último do Aconselhamento Pastoral é o crescimento espiritual integral das pessoas e a Teologia Pastoral, assim como a mediação do pastor tem muito a contribuir neste processo de redescoberta e formação humana. Algumas Considerações No século XIX, acreditava-se que todos os problemas poderiam ser resolvidos pelo uso da razão, porém não foram e não são poucos os desafios nesses últimos dois séculos, que vêm sendo marcados por profundas crises e transformações. Neste cenário, as igrejas e/ou pastores/as que dão atenção ao trabalho de Aconselhamento Pastoral oferecem importante contribuição a este setor da sociedade, ajudando na formação humana e pastoral. Também temos neste bojo a modernidade, que traz novos valores e novos modos de se conceber a vida. Termos como velocidade, individualismo, relativismo e consumismo assumem proeminência e orientam os relacionamentos afetivos, a religiosidade, os pensamentos e, até, o aconselhamento. Nesta perspectiva, precisamos considerar o ser humano como um ser sistêmico para entender a espiritualidade e a religiosidade como um aspecto importante no processo terapêutico e fundamental para o seu bem-estar. O diálogo entre psicologia e religião é algo amplo e complexo, entretanto extremamente rico e relevante para a formação humana e religiosa, que exige de nós uma dedicação especial, com leituras, estudos, pesquisas e outros conhecimentos, a fim de fundamentar esta área que está em desenvolvimento. Assim, também entendemos a disciplina de Aconselhamento Pastoral como algo 40 Aconselhamento Pastoral Familiar relativamente novo e complexo e que está em pleno desenvolvimento, podendo surgir novas etimologias, bem como, novas epistemologias quanto ao seu conteúdo e estrutura. Referências BESSA, Daniela Borja. Aconselhamento pastoral: desafio para a igreja local. Via teológica, v. 14, n. 28, dez. 2013. BRAZ, Rebeca Maria Maciel. O Sentido Religioso na Psicologia. Monografia do curso de Bacharelado em Psicologia. Brasília: UniCEUB, Junho/2004. CLINEBELL, Howard John. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 1987. COLLINS, Gary R. Aconselhamento cristão: edição século 21. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011. FERNANDES, Emanuel Lino. Resiliência nas relações familiares: um estudo das práticas de aconselhamento pastoral. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012. FERREIRA, Valdecir. Serviço de Escuta: técnica de aconselhamento pastoral. Subsídio de formação: CNBB, Brasília, 2011. FRANKL, V. E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 18. ed. São Paulo: Sinodal, 2003. FRIESEN, Albert. Cuidando do ser: treinamento em aconselhamento pastoral. 3. ed. Curitiba: Esperança, 2004. GOMES, Sandro José. Terapia Centrada no Cliente no Aconselhamento Pastoral. In: Revista Psique, n. 8, jan-dez. 2012. HOCH, Lothar C. Psicologia a Serviço da Libertação - Possibilidades e Limites da Psicologia na Pastoral de Aconselhamento. Revista Estudos Teológicos, v. 25. n. 3, 1985. HOCH, Lothar C.; NOÉ, Sidnei V. Comunidade Terapêutica: cuidando do ser através de relações de ajuda. São Leopoldo: Sinodal, 2003. 41 Os Fundamentos do Aconselhamento Pastoral Capítulo 1 INFOPÉDIA. Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico. Porto: Porto Editora, 2003-2017. Disponível em: <https://www.infopedia.pt/ dicionarios/linguaportuguesa/aconselhamento>. 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Cuidado pastoral em tempos de insegurança: uma hermenêutica contemporânea. 2. ed. São Paulo: Aeste, 2010. SCHIPANI, Daniel S. O caminho da sabedoria no aconselhamento pastoral. São Leopoldo: Sinodal, 2004. SCHNEIDER-HARPPRECHT, C. A teologia prática no contexto da América Latina. São Leopoldo: Sinodal, 1998. SILVA, Edméa Correa da. Aconselhamento: Um Contraste entre o Aconselhamento Pastoral e a Literatura de Autoajuda. In: Revista Científica da Faculdade de Pindamonhangaba. São Paulo, 2016. WALSH, F. Fortalecendo a resiliência familiar. São Paulo: Roca. 2005. 42 Aconselhamento Pastoral Familiar CAPÍTULO 2 As Técnicas de Aconselhamento Pastoral A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Identificar e entender o Aconselhamento Pastoral como um processo de acompanhamento. � Entender e estudar as diversas técnicas de Aconselhamento Pastoral. � Analisar a estruturação do Aconselhamento Pastoral como um processo de acompanhamento em diferentes técnicas pastorais. � Compreender as técnicas de comunicação interpessoal no processo de Aconselhamento Pastoral. � Conhecer e estudar algumas técnicas pastorais. � Compreender a importância da análise crítica e da análise do contexto histórico e social frente ao aconselhado. 44 Aconselhamento Pastoral Familiar 45 As Técnicas de Aconselhamento Pastoral Capítulo 2 Contextualização Neste capítulo, vamos promover um estudo analítico sobre o Aconselhamento Pastoral, procurando compreender os seus objetivos fundamentais, buscando entender o mesmo como um processo de acompanhamento, que não deve ser realizado isoladamente, mas em conjunto com outras áreas do saber e com a Igreja. Entendemos que para que o Aconselhamento Pastoral tenha sucesso é necessária uma boa comunicação entre as partes envolvidas. Neste sentido, vamos explorar neste capítulo a relação da comunicação com o Acompanhamento Pastoral, analisando e compreendendo como a mesma acontece na relação interpessoal e intrapessoal. Também vamos estudar e compreender algumas técnicas de Aconselhamento Pastoral, que possam servir de exemplos para a formação do aconselhador e que venham a contribuir para a comunidade, consequentemente, objetivando assim o bem-estar de todos. Por fim, vamos refletir sobre a importância da promoção de um olhar crítico e da análise do contexto histórico e social frente o aconselhado. Tal reflexão tem como objetivo promover uma postura que desenvolva o não envolvimento entre aconselhado e aconselhador. Os Objetivos Fundamentais do Aconselhamento Pastoral O ser humano vive em constantes conflitos que envolvem diversas dimensões da vida. Independentemente se estes são de ordem pessoal, social ou espiritual, cabe à Igreja, pela sua estrutura e potencialidade, a função e a capacidade de instruir e orientar seus fiéis. Desta forma, ela estará colaborando para uma formação humana e cristã. Entretanto, é necessário saber qual é o papel e a função da Igreja, bem como do aconselhador pastoral diante desta realidade circundante, é neste sentido que aqui apresentamos, resumidamente, os seus objetivos fundamentais, tais como promover cura, restauração, consciência, respeito, dignidade. Essas são algumas questões a que o Aconselhamento Pastoral busca responder. Para Clinebell (2011), o Aconselhamento Pastoral se manifesta nos papeis 46 Aconselhamento Pastoral Familiar curativo, apoiador, orientador e reconciliador exercidos pelo conselheiro, e visa à integralidade, levando as pessoas a descobrirem seus potenciais e atentar para os seus aspectos da vida humana. • Entendemos a importância em saber a diferença entre o papel de um conselheiro pastoral e um psicoterapeuta profissional e, assim, saber encaminhar de forma apropriada e adequada as pessoas que precisam de ajuda profissional; • O conselheiro pastoral precisa saber trabalhar com sabedoria bíblica, compaixão cristã e conhecimento psicológico básico em relação aos problemas e dificuldades dos que lhe peçam ajuda, numa perspectiva bíblico-pastoral; • É preciso identificar o Aconselhamento Pastoral como um ministério na comunidade cristã e ter este como um papel missionário; • O objetivo do Aconselhamento Pastoral é subsidiar a igreja e a comunidade com mais um ministério eclesiástico, que venha a acompanhar os membros da igreja no que diz respeito à sua vida espiritual; • É preciso compreender da importância do Aconselhamento Pastoral para a saúde emocional da comunidade cristã; • O Aconselhamento Pastoral tem por objetivo trabalhar com os membros da igreja em diversos setores da sua vida; • O Aconselhamento Pastoral permite que desenvolvamos um autoexame na sua prática ministerial para a eficiência do processo de amadurecimento da fé; • Permite um autoconhecer, entender a si mesmo como uma melhor pessoa; • Permite um apoio nos momentos de crise, conflitos e tensões. Para Friesen (2004), o objetivo do aconselhamento pastoral é tratar das tensões interiores e dos diferentes complexos que interferem na quali- dade de vida, libertando as pessoas das distorções de percepção quanto à realidade, bem como dos medos, das culpas, dentre outros. Segundo Souza (2013), a pessoa humana não é fragmentada, mas deve ser entendida a partir de sua multidimensionalidade. Neste sentido, o aconselhador ou o conselheiro deve contemplar essas áreas, pois esta demanda possibilita um trabalho de salvação. Nesta direção, Souza (2013) nos aponta algumas ideias que ajudam a fundamentar o Aconselhamento Pastoral. O quadro a seguir apresenta as qualidades desejadas, bem como os objetivos fundamentais dessas qualidades para a sua formação. 47 As Técnicas de Aconselhamento Pastoral Capítulo 2 Quadro 3 – Qualidades a serem desenvolvidas Fonte: Gomes, Silva e Gomes (2010). Qualidade Objetivo Fundamental do Aconselhador Pastoral Escutar • Precisamos de um conhecimento imparcial e completo da situação do aconselhado. • Contextualização dos fatos que envolvem o aconselhado. • Como o ponto da “cura” reside naquilo onde a pessoa não quer que ninguém chegue, precisamos saber interpretar certas “deixas” para ajudar a pessoa a vencer o trauma e abrir-se sem reservas. • O ponto mais importante no aconselhamento é ouvir. Calma e paciência • Ser gentil e educado. • Evitar qualquer atitude de pressa. • Deixar a pessoa confortável. • Criar um clima de confiabilidade. Humildade • Abertura para aprender. • Reconhece os seus limites. • Abertura ao diferente. Maturidade • Ter firmeza naquilo que você pensa e crê. Não cair na manipulação da pessoa, estabelecendo sua opinião com calma, não sendo influenciável em relação às tentativas da pessoa se esquivar de suas responsabilidades. Olhar objetivo • Ter a distância necessária para não se envolver emocionalmente. Esta distância objetiva ajuda a enxergar outros pontos. • Não misturar nossos sentimentos com os da pessoa passando para ela uma impressão de que a estamos apoiando nas suas motivações. É indispensável uma frieza de espírito para combinarmos empatia e confrontação. Confidencialidade e ética • Manter a confidencialidade e a ética nos temas abordados. Isto é o que constrói a confiança no acompanhamento de um caso. • Não devemos ficar dizendo coisas íntimas com o intuito de se autoafirmar como conselheiro. • Toda área de confidencialidade tem seu limite no sentido de estar debaixo de uma liderança. Religiosidade • Conhecimento da Palavra de Deus na profundidade do caráter, dos princípios
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