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Metabolismo dos Lipídios SUMÁRIO 1. Introdução .........................................................................................................3 2. Síntese de ácido graxo e triacilglicerol ................................................................4 3. Bases da mobilização de triacilglicerol e oxidação de ácidos graxos ...................9 4. Final da mobilização de triacilglicerol e oxidação de ácidos graxos ...................12 5. Metabolismo dos lipídios: colesterol.................................................................15 6. Metabolismo dos lipídios: esteroides ................................................................24 Referências ..................................................................................................................... 28 Metabolismo dos Lipídios 3 1. INTRODUÇÃO Os lipídios são grandes biomoléculas derivadas de óleos dos hidrocarbonetos, servem principalmente como componentes estruturais das membranas e como forma de armazenamento de alimentos ricos em energia. As moléculas lipídicas individuais são muito menores (750 a 1.500 u) e não são classificadas como macro- moléculas por alguns autores. Entretanto, quando um elevado número de moléculas lipídicas se associa não covalentemente, resulta em estruturas muito grandes. As membranas celulares são construídas por enormes agregados que contém milhões de moléculas de lipídios. O termo metabolismo significa soma de todas as reações químicas quase sempre enzimas catalisadas que ocorrem nos organismos vivos. O metabolismo pode ser fracionado em catabolismo: é o processo degradativo do me- tabolismo em que moléculas complexas são convertidas em produtos simples, para o aproveitamento dos seus componentes e/ou para geração de energia. Um exemplo é a via lipolítica (degradação dos lipídios). O anabolismo ou biossíntese: é o proces- so no qual as biomoléculas são sintetizadas a partir de compostos mais simples. Todos os nutrientes fundamentais sofrem metabolismos por vias catabólicas e ana- bólicas diferentes, mas que se comunicam em algumas etapas. Se liga! A numeração dos ácidos graxos é feita a partir do carbono do grupo carboxila, com numeração crescente até o grupo metil. Seus carbonos podem ser designados também por letras gregas, em que α é o segundo carbo- no (ligada ao COOH) e o último carbono é chamado carbono ω (ômega). Se liga! Os ácidos graxos podem ser utilizados como fonte de energia, como componentes dos fosfolipídios e são armazenados na forma de triglicerídeos. Metabolismo dos Lipídios 4 2. SÍNTESE DE ÁCIDO GRAXO E TRIACILGLICEROL A lipogênese é o processo de síntese endógena de ácidos graxos. Para sintetizar ácidos graxos a principal fonte a partir da qual o organismo sintetiza são os car- boidratos, quando estão na forma de acetil-CoA. Todo excesso de glicose da dieta é convertido em glicogênio no fígado, quando na presença da insulina. Como esse armazenamento é limitado, a glicose entra para a via das pentoses-fosfato ou para a via glicolítica, quando na presença do glucagon. O piruvato, produto dessa via gli- colítica, é convertido em acetil-CoA, por meio do complexo da piruvato desidroge- nase (reação irreversível). Dessa forma, com uma ingestão elevada de carboidratos, o fígado passa a produzir grandes demandas de ATP via Ciclo de Krebs. Esse ATP, quando produzido em grandes quantidades, atua como modulador negativo do ciclo de Krebs, pois inibe a enzima isocitrato desidrogenase. Então, tem início um acú- mulo de isocitrato na mitocôndria e, consequentemente, acúmulo de citrato, uma vez que a reação de citrato para isocitrato é reversível. Esse citrato acumulado sai da mitocôndria e, no citoplasma, sofre ação da enzima citrato liase e, com gasto de energia, forma o oxaloacetato e acetil-CoA, usando para isso uma CoA-SH. É a partir desse Acetil-CoA, no citoplasma, que o organismo sintetiza ácidos graxos e colesterol. A síntese de ácidos graxos e triacilgliceróis ocorre no citoplasma e sua oxidação ocorre na mitocôndria, mas seu precursor, acetil-CoA, é formado na matriz mitocondrial. A síntese de ácidos graxos começa na mitocôndria com a formação de citrato como um transportador de 2 carbonos no transporte de acetil-CoA para o citoplasma. Acetil-CoA carboxilase fornece malonil-CoA para ser usado pelo com- plexo multienzimático, ácido graxo sintase. A regulação da síntese de ácidos graxos ocorre na acetil-CoA carboxilase e é controlada pelos hormônios insulina, glucagon e epinefrina (adrenalina). A síntese de ácidos graxos ocorre principalmente com a alimentação e é aumentada pela insulina. O palmitato, uma gordura saturada com 16 carbonos, é o produto final da síntese de ácidos graxos. O NADPH é necessário para a síntese de palmitato e alongamento das cadeias carbônicas. Existem etapas que devem ser realizadas para a síntese desses ácidos graxos. Na primeira etapa a lan- çadeira de citrato transporta acetil-CoA gerado na mitocôndria para o citosol, após essa reação o acetil-CoA não pode se mover através da membrana mitocondrial e deve ser convertido em citrato. O acetil-CoA e o oxaloacetato (OAA) sofrem uma con- densação irreversível pelo citrato sintase para formar o citrato, que é transportado pela membrana mitocondrial para o citosol. O citrato remanescente na mitocôndria é usado no ciclo do ácido cítrico (Krebs). Na segunda etapa o citrato é reconvertido em acetil-CoA e OAA pelo citrato liase, uma enzima intensificada pela insulina, em uma reação que requer energia, o ATP. Seguindo para a Etapa três, onde a acetil-CoA é convertida em malonil-CoA, um importante intermediário na síntese de ácidos gra- xos, pela acetil-CoA carboxilase em uma reação irreversível de limitação de taxa que Metabolismo dos Lipídios 5 consome ATP e requer biotina como cofator. Outro ponto importante dessa etapa é que o Malonil-CoA inibe a carnitina aciltransferase I evitando o movimento de ácidos graxos recentemente sintetizados através da membrana mitocondrial interna para a matriz, onde os ácidos graxos sofrem β-oxidação. A Etapa quatro ocorre a ação do complexo enzimático ácido graxo sintase, multifuncional que inicia e alonga a cadeia do ácido graxo em uma sequência de reação cíclica. O palmitato, um ácido graxo sa- turado com 16 carbonos, é o produto final da síntese de ácidos graxos. Uma glicose produz dois acetil-CoA e cada acetil-CoA contém dois carbonos, portanto, quatro mo- léculas de glicose são necessárias para produzir os 16 carbonos do ácido palmítico. Na penúltima Etapa, número cinco a oxaloacetato da clivagem do citrato é converti- da em malato. Por último, seguindo para Etapa seis, onde o malato é convertido em piruvato pela enzima málica, produzindo 1 NADPH. O NADPH é necessário para a síntese de palmitato e alongamento de ácidos graxos. O NADPH é produzido no cito- sol pela enzima málica e pela via da pentose fosfato, que é a sua fonte primária. Se liga! O metabolismo dos AG é assim chamada – β-oxidação – em razão da quebra sucessiva da ligação entre os carbonos α (segundo carbo- no, ligado ao grupo carboxila) e β (terceiro carbono) da cadeia do AG. Figura 1: Estrutura e formação dos triglicerídeos. Fonte: BigBearCamera/shutterstock.com Metabolismo dos Lipídios 6 Figura 2: Ácidos graxos. Fonte: Emir Kaan/shutterstock.com. As fontes de ácidos graxos variam da síntese no fígado à hidrólise de quilomí- crons derivados da dieta e da lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL) derivada do fígado. No fígado, o glicerol 3-fosfato é derivado da glicólise ou conversão do glicerol em glicerol 3-fosfato pelo glicerol quinase hepática. No tecido adiposo, o glicerol 3-fosfato é derivado apenas da glicólise. A Conversão de ácidos graxos em triacilgliceróis ocorre no fígado e tecido adiposo seguindo-se etapas nas reações. Na primeira, ocorrendo no estado alimentado, os ácidos graxos sintetizados no fígado ou liberados dos quilomícrons e VLDL pela lipase de lipoproteína capilar,são usa- dos para sintetizar triacilglicerol no fígado e tecido adiposo. Subsequentemente, na Metabolismo dos Lipídios 7 etapa seguinte, o glicerol 3-fosfato é derivado do DHAP (fosfato de dihidroxiacetona) durante a glicólise ou da conversão do glicerol em glicerol 3-fosfato pelo glicerol quinase hepática. O Glicerol 3-fosfato é o intermediário de carboidrato usado para sintetizar o triacilglicerol. O pinto final nessa etapa é que para diminuir a ingestão de carboidratos é a forma mais eficaz de diminuir a concentração sérica de triacil- glicerol. Na Etapa três, os ácidos graxos recentemente sintetizados ou derivados da hidrólise de quilomícrons e VLDL são convertidos em acil-CoAs graxos pela acil-CoA graxo sintetase. Na próxima reação, Etapa de número quatro a adição de 3 acil-CoAs graxos ao glicerol 3-fosfato produz triacilglicerol (TG) no fígado. Os triacilgliceróis hepáticos são empacotados em VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade) , que é armazenado no fígado e transporta os lipídios recém-sintetizados pela corrente sanguínea para os tecidos periféricos na Etapa cinco. Posteriormente a essa reação, na Etapa seis a síntese e o armazenamento de triacilglicerol no tecido adiposo reque- rem captação de glicose mediada por insulina, levando à glicólise e produção de gli- cerol 3-fosfato, que é convertido em triacilglicerol pela adição de 3 acil-CoAs graxos. A insulina inibe a lipase sensível ao hormônio, o que permite que as células adiposas acumulem triacilglicerol para armazenamento durante o estado de alimentação. A epinefrina e o hormônio do crescimento ativam a lipase sensível ao hormônio duran- te o jejum. Algumas etapas dessas reações na síntese de ácido graxo e triacilglicerol são devidamente reguladas. Uma delas é na formação de malonil-CoA a partir de ace- til-CoA, a etapa irreversível regulada na síntese de ácidos graxos, é controlada por dois mecanismos. A regulação alostérica da acetil-CoA carboxilase, a estimulação por citrato garante que a síntese de ácidos graxos prossiga no estado alimentado. A inibição do produto final por palmitato regula negativamente a síntese quando há um excesso de ácidos graxos livres. O processo de ciclagem entre as formas ativas e inativas de acetil-CoA carboxilase, o alto nível de AMP (carga de baixa energia) inibe a síntese de ácidos graxos por fosforilação da acetil-CoA carboxilase, que inativa a enzima, o glucagon e a epinefrina (estado de jejum) inibem a acetil-CoA carboxilase por fosforilação (por proteína quinase); a insulina, no estado alimentado, ativa a en- zima por desfosforilação (por fosfatase). Em um segundo momento, a inibição da acetil-CoA carboxilase aumenta a oxidação dos ácidos graxos, porque a malonil-CoA não está mais presente para inibir a carnitina aciltransferase I. A síntese de ácidos graxos e triacilglicerol possui características únicas. Entre elas temos: a síntese de ácidos graxos de cadeia mais longa e ácidos graxos insatu- rados. Os sistemas de alongamento de cadeia no retículo endoplasmático e na mi- tocôndria convertem o palmitato (16 carbonos) em estearato (18 carbonos) e outros ácidos graxos saturados mais longos. Uma segunda característica, é que a compar- timentação evita a competição entre a síntese de gordura e a oxidação de gordura. A síntese no citosol garante a disponibilidade de NADPH da via da pentose fosfato. O produto, palmitato, não pode sofrer oxidação imediata sem transporte de volta para a matriz. Por fim, o tecido adiposo não contém glicerol quinase, portanto, a estrutura Metabolismo dos Lipídios 8 do glicerol dos triacilgliceróis deve ser proveniente da glicólise. Nesse mesmo sen- tido, além de possuir particularidades a síntese de ácidos graxos possui interfaces com outras vias. Nesse sentido, a dessaturação de ácidos graxos para produzir áci- dos graxos insaturados ocorre no retículo endoplasmático em um processo comple- xo que requer oxigênio e tampouco NADH ou NADPH. Podemos destacar também que os ácidos graxos insaturados são armazenados em triglicerídeos, na posição carbono 2. Os ácidos graxos insaturados são usados na produção de fosfoglicerí- deos para as membranas celulares. A síntese de ácido graxo e triacilglicerol possui uma relevância clínica que devemos ter em mente. O ácido graxo dessaturase intro- duz ligações duplas na posição 9 do carbono. Assim, a dessaturase não pode criar ligações duplas além do carbono 9, impedindo a síntese de ácido linoleico e linolêni- co, os ácidos graxos essenciais da dieta. Saiba mais! A deficiência de ácidos graxos essenciais produz dermatite e má cicatrização de feridas. Saiba mais! Quando um excesso de ácidos graxos no fígado su- pera a capacidade de oxidação por exemplo, alcoólicos crônicos, há ressíntese de triacilglicerol e armazenamento em gotículas de gordura, o que produz um fígado gordo (esteatose). Saiba mais! Muitos fosfolipídios são derivados de ácidos graxos dessaturados, muitos dos quais são sintetizados pelo corpo. Metabolismo dos Lipídios 9 Figura 3: Diagrama da estrutura e tipo de ácido graxo. Fonte: BigBearCamera/shutterstock.com 3. BASES DA MOBILIZAÇÃO DE TRIACILGLICEROL E OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS Os ácidos graxos são mobilizados em jejum pela ativação da lipase sensível ao hormônio. Os ácidos graxos de cadeia longa são transportados para a matriz mito- condrial pela formação de ésteres de acilcarnitina e são catalisados pela carnitina aciltransferase. A β-Oxidação de ácidos graxos consiste em uma sequência repetida de quatro enzimas para produzir acetil-CoA. A oxidação de gordura no fígado não é regulada, porém, o único ponto de regulação da oxidação da gordura é a lipase sensí- vel ao hormônio na célula de gordura. A mobilização de triacilglicerol e oxidação de ácidos graxos seguem etapas de reação em suas vias. De forma geral, estamos falando aqui na lipólise e oxidação de ácidos graxos de cadeia longa, tendo em mente que existem os de cadeia médias e curtas. Como já sabemos a lipólise ocorre predominantemente em jejum. A enzima carnitina aciltransferase I é a reação limitante da taxa e é inibida pela malonil-CoA Metabolismo dos Lipídios 10 durante o estado de alimentação. Nesse sentido, no estado alimentado a liberação dessa enzima inibe a carnitina aciltransferase I. A oxidação dos ácidos graxos pro- duz a maior quantidade de energia de todos os nutrientes, quando isoladamente analisada. As etapas consistem, em um primeiro momento, na Etapa 1 em uma mobilização de ácidos graxos armazenados do tecido adiposo, a chamada lipólise, em um segundo momento as lipases sensíveis a hormônios no tecido adiposo hidro- lisam ácidos graxos livres e glicerol dos triacilgliceróis armazenados no tecido adi- poso. O glicerol liberado durante a lipólise é transportado para o fígado, fosforilado em glicerol 3-fosfato pela glicerol quinase e usado como substrato para a gliconeo- gênese. Na segunda etapa, os ácidos graxos livres liberados do tecido adiposo são transportados pela corrente sanguínea ligados à albumina, esses ácidos graxos po- deriam causar trombos por não serem hidrofílicos. Na Etapa 3, os ácidos graxos são entregues a todos os tecidos, por exemplo, fígado, músculo esquelético, coração, rim, exceto para o cérebro e os glóbulos vermelhos. Os ácidos graxos se dissociam da albumina e são transportados para as células, onde são acetilados (estabilizados) pela acil-CoA sintetase graxa no citosol, formando acil-CoAs graxos. Na Etapa 4, em um primeiro momento a lançadeira da carnitina transporta ácidos graxos acetilados de cadeia longa, maior ou igual a 14 carbonos, através da membrana mitocondrial interna, depois a carnitina aciltransferase I (reação de limitação de velocidade) está presente na superfície externa da membrana mitocondrial interna remove o grupo acil graxo do acil-CoA graxo e o transfere para a carnitina (acoplamento) para formar a acil graxo carnitina. A carnitina aciltransferase II na superfície interna da membra-na mitocondrial interna restaura o acil-CoA graxo tão rápido quanto é consumido. Os ácidos graxos de cadeia média são consumidos diretamente pelas mitocôndrias porque não dependem da lançadeira de carnitina. Os triglicerídeos de cadeia média são um tratamento dietético eficaz para crianças com deficiência de carnitina. Os triglicerídeos de cadeia média poupam glicose para o cérebro e os glóbulos verme- lhos e servem como combustível para todos os outros tecidos. Na Etapa 5, o sistema de oxidação consiste em quatro enzimas que agem sequencialmente para produzir um acil-CoA graxo que é dois carbonos mais curto que o original; e acetil-CoA, NADH e FADH2. A repetição dessas quatro reações, eventualmente, degrada as cadeias de carbo- no de números pares inteiramente em acetil-CoA. O acetil-CoA entra no ciclo do áci- do cítrico, que também está na matriz mitocondrial. Mobilização de triacilglicerol e oxidação de ácidos graxos possuem etapas que são devidamente reguladas. Nelas a lipase sensível aos hormônios é o único ponto na oxidação da gordura que é regulado por hormônios. A epinefrina e a norepinefri- na, presentes no jejum, estados de exercício físico, ativam a lipólise ao converter a lipase sensível ao hormônio em uma forma fosforilada ativa pela ativação da pro- teína quinase. A perilipina reveste as gotículas de lipídios nas células adiposas no estado não estimulado. A fosforilação da perilipina a remove da gotícula lipídica, de modo que a lipase sensível ao hormônio ativada pode atuar para mobilizar os ácidos Metabolismo dos Lipídios 11 graxos livres. A insulina, no estado alimentado, ativa a proteína fosfatase que inibe a lipólise ao converter a lipase sensível ao hormônio em uma forma desfosforilada inativa. Os glicocorticoides, o hormônio do crescimento e o hormônio tireoidiano induzem a síntese de lipase sensível ao hormônio, que fornece mais enzimas dispo- níveis para ativação, ou seja, a ativação por esses hormônios é indireta. A carnitina aciltransferase I é inibida alostericamente pela malonil-CoA para prevenir a oxidação não intencional do palmitato recentemente sintetizado. O Malonil-CoA é o precursor usado na síntese de gordura, e sua concentração reflete a síntese ativa de palmitato. Ele está ausente no estado de jejum quando os ácidos graxos estão sendo ativamen- te oxidados. Essa regulação é recíproca da oxidação e síntese de ácidos graxos. Figura 4: Conversão da acetil-CoAem malonil-CoA. (A) Reação catalisada pela acetil-CoA carboxilase. A enzima se liga covalentemente à biotina, que é carboxilada utilizando uma molécula de ATP. (B) A acetil-CoA carboxilase requer a presença de citrato que estimula a polimerização para a sua forma ativa. (C) A atividade da acetil-CoA carboxilase é regulada por um mecanismo de fosforilação/desfos- forilação. Esse, por sua vez, é controlado por hormônios que regulam o metabolismo do combustível: insulina, glucagon e adrenalina. Fonte: Autoria própria. Metabolismo dos Lipídios 12 4. FINAL DA MOBILIZAÇÃO DE TRIACILGLICEROL E OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS Os ácidos graxos de cadeia ímpar sofrem β-oxidação normal até que o propionil- -CoA seja produzido. O propionil-CoA é convertido por β-oxidação normal em metil- malonil-CoA e depois em succinil-CoA. Os ácidos graxos insaturados entram na via normal de β-oxidação na etapa que envolve a molécula trans-enoil. As deficiências na oxidação de ácidos graxos frequentemente produzem hipoglicemia não cetótica. Nesse momento, devemos nos questionar: quais são as características únicas da mobilização de triacilglicerol e oxidação de ácidos graxos? Em princípio, a síntese de corpos cetônicos serve como uma via de transbordamento durante o suprimen- to excessivo de ácido graxo geralmente de mobilização acelerada. Esta é a rota da Síntese dos corpos cetônicos. A síntese de corpos cetônicos ocorre, principalmente, no fígado a partir de restos de acetil-CoA. Os corpos principais corpos cetônicos são acetona, acetoacetato e β-hidroxibutirato e são usados como combustível pelos músculos, no estado de jejum, cérebro, no estado de fome e rins. Analise essa rota com calma e tranquilidade. Podemos destacar como características únicas que da β-oxidação a síntese de corpos cetônicos ocorre na matriz mitocondrial durante o estado de jejum, quando a β-oxidação excessiva dos ácidos graxos resulta em quantidades excessivas de acetil-CoA. Os corpos cetônicos (acetona, acetoacetato e β-hidroxibutirato) são usa- dos como combustível pelos músculos, principalmente esqueléticos e cardíacos, pelo cérebro e pelos rins. Os corpos cetônicos poupam glicose no sangue para uso pelo cérebro e pelos glóbulos vermelhos. Outra característica única envolve a 3-hi- droxi-3-metilglutaril coenzima A (HMG CoA), a sequência de reações bioquímicas que levam à (HMG CoA) é semelhante àquelas na síntese do colesterol. No entanto, na síntese de corpos cetônicos, a HMG CoA liase, em vez da HMG CoA redutase é usada. As condições associadas a um excesso de produção de corpos cetônicos incluem cetoacidose diabética, sensação de fome e gravidez. Um aumento no nível de acetoacetato ou β-hidroxibutirato produz um aumento no anion-gap na acidose metabólica. O anion-gap ou hiato aniônio ou intervalo aniônico é a diferença entre os cátions presentes no sangue (sódio) e os ânions (bicarbonato e cloro). O teste usual para medir corpos cetônicos no soro ou na urina é a reação do nitroprussiato, essa análise detecta apenas acetoacetato e acetona, um produto de decomposição es- pontânea do acetoacetato. Nesse teste, em razão do aumento da produção de NADH no metabolismo do álcool, o cetoácido primário que se desenvolve em alcoólatras é o β-hidroxibutirato, o NADH força a reação na direção do β-hidroxibutirato, que não é detectado por testes laboratoriais padrão. Outro ponto importante a destacar é que a acetona é uma cetona com odor frutado que pode ser detectada em um paciente submetido a um exame físico, hálito cetônico, por exemplo. Metabolismo dos Lipídios 13 A degradação dos corpos cetônicos no tecido periférico requer a conversão do acetoacetato em acetil-CoA, que entra no ciclo do ácido cítrico. Os corpos cetônicos são ácidos graxos de cadeia curta que não requerem um sistema de transporte espe- cial para entrar na célula e na mitocôndria. A conversão de β-hidroxibutirato de volta em acetoacetato gera NADH, que entra na cadeia de transporte de elétrons. Saiba mais! O fígado não pode usar cetonas como combustível, porque falta a enzima succinil-CoA: acetoacetato-CoA transferase, que é neces- sária para converter acetoacetato em acetil-CoA. Se liga! A vitamina B12 é um cofator no metabolismo dos áci- dos graxos de cadeia ímpar, e a succinil-CoA é usada como substrato para a gliconeogênese. Analisando a rota anterior, salientamos, em princípio, que os ácidos graxos de números ímpares sofrem oxidação pela mesma via que os ácidos graxos saturados, exceto que o propionil-CoA (3 carbonos) permanece após o ciclo final. Esmiuçando este raciocício, o propionil-CoA é convertido primeiro em metilmalonil-CoA e depois em succinil-CoA, um intermediário do ciclo do ácido cítrico que entra na via gliconeo- gênica. A vitamina B12 é um cofator para uma das enzimas (metilmalonil-CoA muta- se) nesta via. A principal diferença entre o metabolismo dos ácidos graxos de cadeia ímpar e o metabolismo dos ácidos graxos de cadeia par é que a succinil-CoA é usa- da como substrato para a gliconeogênese, e a acetil-CoA não. É importante frisar que o catabolismo de metionina, isoleucina e valina também produz propionil-CoA. Os ácidos graxos insaturados também são degradados entrando na β-oxidação no inter- mediário trans-insaturado, com redução ou rearranjo da ligação insaturada, conforme necessário. A oxidação peroxissômica de ácidos graxos de cadeia muito longa (20 a 26 carbonos) é semelhante à oxidação mitocondrial, mas não gera ATP. Saiba mais! A α-oxidação de ácidos graxos de cadeiaramificada de plantas ocorre com liberação de carboxila terminal como CO2. Metabolismo dos Lipídios 14 A relevância clínica dessas reações envolve a deficiência de carnitina ou deficiên- cia de carnitina aciltransferase prejudica o uso de ácidos graxos de cadeia longa por meio da lançadeira de carnitina visando a produção de energia. Os achados clínicos incluem dores musculares e fadiga após exercícios, aumento dos ácidos graxos li- vres no sangue e redução da produção de cetonas no fígado durante o jejum. Há hi- poglicemia não cetótica, o acetil-CoA da β-oxidação é necessário para a produção de cetonas. Nestes casos, a hipoglicemia ocorre porque todos os tecidos estão compe- tindo pela glicose por energia. Outra patologia que podemos destacar é a deficiência de acil-CoA desidrogenase de cadeia média (MCAD), a primeira enzima na sequên- cia de oxidação, é um distúrbio autossômico recessivo. Os achados clínicos incluem episódios recorrentes de hipoglicemia, porque todos os tecidos competem pela glicose, vômitos, letargia e produção mínima de cetona no fígado. Também podemos destacar a adrenoleucodistrofia, que é um distúrbio recessivo ligado ao X associa- do à oxidação peroxissômica defeituosa de ácidos graxos de cadeia muito longa. Os achados clínicos incluem insuficiência adrenocortical e anormalidades difusas na substância branca cerebral, levando a distúrbios neurológicos, como deteriora- ção mental progressiva e paralisia espástica. Também temos a doença de Refsum, que é uma doença autossômica recessiva caracterizada por uma incapacidade de degradar o ácido fitânico que envolve a deficiência de α-oxidação, um ácido graxo de cadeia ramificada derivado de planta que está presente em produtos lácteos. Os achados clínicos incluem retinite pigmentosa; pele seca e escamosa; polineurite crônica; ataxia cerebelar; e proteína elevada no líquido cefalorraquidiano. Podemos observar, o vômito jamaicano que é causado pela ingestão de frutas verdes da árvore akee que contém uma toxina, a hipoglicina. Esta toxina inibe as acil-CoA desidroge- nases de cadeia média e curta, levando à hipoglicemia não cetótica. Já a síndrome de Zellweger resulta da ausência de peroxissomos no fígado e nos rins. Isso resulta no acúmulo de ácidos graxos de cadeia muito longa, especialmente no cérebro. Saiba mais! Alguns pacientes podem estar em cetoacidose e ter uma glicemia normal caso tenham usado insulina pouco tempo antes de virem para a Unidade de Emergência. Outros podem ter glicemia > 250 mg/dl e não estarem em cetoacidose caso não preencham os demais requisitos para o seu diagnóstico. Metabolismo dos Lipídios 15 Figura 5: Visão geral da beta-oxidação hepática de ácidos graxos. Fonte: Sharon Janssens/shutterstock.com. 5. METABOLISMO DOS LIPÍDIOS: COLESTEROL O colesterol é um álcool integrante da fórmula de alguns lipídios, encontrado nas membranas celulares de todos os tecidos do corpo humano, que é transportado no plasma sanguíneo de todos os animais. Pequenas quantidades de colesterol também são encontradas nas membranas celulares das plantas. Consiste em um reagente necessários a biossíntese de vários hormônios, da vitamina D e da secre- ção biliar. Embora quase todos os tecidos sintetizem colesterol, o fígado, a mucosa intestinal, o córtex adrenal, os testículos e os ovários são os principais contribuintes para o pool de colesterol do corpo. Entre as principais funções do colesterol temos a constituição da membrana celular, síntese de bile e a síntese de hormônios esteroides. Os passos iniciais que levam à formação de colesterol dependem da estimulação pela insulina. O HMG CoA redutase, uma enzima limitadora da taxa na síntese do colesterol, essa enzima é blo- queada por estatinas e pelo próprio colesterol por feedback. As estatinas diminuem a síntese da coenzima Q, que pode ser responsável por problemas relacionados aos músculos que ocorrem ao tomar a droga. O isopreno, um intermediário na síntese do Metabolismo dos Lipídios 16 colesterol, também desempenha outras funções na coenzima Q e na ancoragem de proteínas na membrana. Os cálculos biliares se formam a partir da concentração ex- cessiva de colesterol e da concentração reduzida de ácidos biliares e fosfolipídios na bile. O tratamento da hipercolesterolemia consiste na diminuição da ingestão de co- lesterol, bem como sua síntese, e buscar o aumento da excreção do mesmo. Cerca de 70% a 80% do colesterol é convertido em ácidos biliares. Sais biliares primários provêm do fígado e sais biliares secundários de bactérias intestinais. O colesterol, o esteroide mais abundante no tecido humano, é importante componente das mem- branas celulares e é o precursor dos sais biliares e de todos os hormônios esteroi- des, incluindo a vitamina D, que é sintetizada na pele a partir do 7-deidrocolesterol. A síntese de colesterol ocorre no fígado e sua taxa de síntese é determinada pela atividade da enzima limitadora de taxa HMG CoA redutase. Os ácidos biliares são o principal produto da síntese do colesterol e são convertidos em formas secundárias pelas bactérias intestinais. Tudo começa com o Acetil-CoA. A hidroxi-3-metilglutaril coenzima A (HMG CoA) redutase é a enzima limitadora da taxa. O glucagon favorece a forma inativa da enzima. Já a insulina favorece a forma ativa. Em seguida, o mevalonato sofre várias transformações até chegar ao colesterol. O colesterol está presente nas membranas celulares, nos ácidos biliares, participa da formação da Vitamina D e Esteroides. As etapas propriamente ditas da síntese do colesterol consistem em: Etapa 1, onde o HMG CoA é formado pela condensação de três moléculas de acetil-CoA. No fígado, o HMG CoA também é produzido na matriz mitocondrial, onde atua como um intermediário na síntese de corpos cetônicos. Na Etapa 2 acontece a conversão de HMG CoA em mevalonato pela HMG CoA redutase é a etapa limitante da taxa na síntese do colesterol. Outro ponto importante é que o colesterol é um inibidor alostérico da HMG CoA redutase e também inibe a expres- são do gene da HMG CoA redutase, dando um duplo controle. As drogas estatinas, como atorvastatina, sinvastatina e pravastatina, atuam como inibidores competi- tivos com o mevalonato para a ligação à HMG CoA redutase. Também podemos destacar que: os hormônios controlam o ciclo entre as formas inativa e ativa da HMG CoA redutase por fosforilação e desfosforilação, respectivamente. O glucagon favorece a forma inativa e leva à diminuição da síntese de colesterol. Já a insulina favorece a forma ativa e leva ao aumento da síntese de colesterol. A diminuição da expressão de HMG CoA redutase mediada por esterol fornece uma regulação de longo prazo. Ou seja, a entrega de colesterol ao fígado e outros tecidos por lipopro- teínas plasmáticas, como lipoproteínas de baixa densidade (LDLs) e lipoproteínas de alta densidade (HDLs), leva a uma redução na síntese de novo de colesterol e uma di- minuição na síntese de receptores de LDL. O próximo passo, a Etapa 3 consiste em: isopentenil (farnesil) pirofosfato (IPP) é formado em várias reações do mevalonato e é o intermediário isoprenóide de cinco carbonos-chave na síntese do colesterol. O Pirofosfato de isopentenila (contendo isopreno) também é um precursor na síntese de outras moléculas celulares: A cadeia lateral da coenzima Q (ubiquinona). O doli- col, que atua na síntese de N-oligossacarídeos ligados em glicoproteínas. A cadeia Metabolismo dos Lipídios 17 lateral de heme, grupos geranilgeranil e farnesil que servem como âncoras de mem- brana altamente hidrofóbicas para algumas proteínas membranares. Prosseguindo, na Etapa 4 o esqualeno, uma molécula de 30 carbonos, é formado por várias reações de condensação envolvendo isopentenil pirofosfato. A Etapa 5 traz a conversão de esqualeno em colesterol requer várias reações e requer NADPH. Por fim, na Etapa 6 o colesterol é excretado na bile ou usado para sintetizar ácidos e sais biliares. A baixa solubilidade do colesterolcria uma tendência para formar cálculos biliares. As condições na bile que favorecem os cálculos biliares são: excesso de colesterol na bile, baixo teor de sais biliares, baixo teor de lecitina (um fosfolipídio emulsificante). Neste momento, é apropriado comentarmos sobre o tratamento da hipercoleste- rolemia. Uma estratégia seria a redução da ingestão de colesterol: entretanto, uma redução de 50% na ingestão apenas reduz o colesterol sérico em cerca de 5%. Outra estratégia seria a diminuição da síntese de colesterol ao inibir a HMG CoA redutase com estatinas, que é muito mais eficaz. Também poderíamos aumentar a excreção de colesterol com drogas de ligação de ácidos biliares (por exemplo, colestiramina): entretanto, este tipo de abordagem pode levar à deficiência de ácido e sais biliares e subsequente regulação positiva da síntese do receptor de LDL em hepatócitos para a síntese de sais biliares e ácidos usando colesterol. Os sais biliares e ácidos bilia- res são usados, principalmente, para emulsificar ácidos graxos e monoacilglicerol, e empacotá-los em micelas, junto com vitaminas solúveis em gordura, fosfolipídios e ésteres de colesterila, para reabsorção pelas vilosidades no intestino delgado. Os ácidos biliares primários (por exemplo, ácido cólico e ácido quenodesoxicólico) são sintetizados no fígado a partir do colesterol. Os mesmos são conjugados antes da secreção na bile com taurina (ácido tauroquenodesoxicólico) ou glicina (ácido glico- cólico). Essa síntese é inibida por feedback pelos ácidos biliares e estimulada pelo colesterol a nível de transcrição do gene; os níveis de 7 α-hidroxilase podem oscilar para mais ou para menos e isso pode afetar a via. As bactérias intestinais alteram os ácidos biliares no intestino delgado produzindo ácidos biliares secundários. Os áci- dos biliares são convertidos em ácido desoxicólico e litocólico (a glicina e a taurina são removidas). A circulação entero-hepática no íleo terminal recicla cerca de 95% dos ácidos biliares de volta para o fígado. A secreção de ácidos biliares reabsorvidos é precedida pela conjugação com taurina e glicina. A deficiência de sais biliares leva à má absorção de gordura e vitaminas lipossolúveis. Má absorção é um termo geral que se refere ao aumento da excreção fecal de gordura, chamado esteatorreia, com deficiências simultâneas de vitaminas (particularmente vitaminas solúveis em gordu- ra), minerais, carboidratos e proteínas. A fisiopatologia da má absorção é classifica- da como insuficiência pancreática, deficiência de sais biliares e doença do intestino delgado. Metabolismo dos Lipídios 18 Saiba mais! O nome se origina do grego chole- (bile) e stereos (sólido), e o sufixo químico -ol para um álcool, já que os pesquisadores identifi- caram o colesterol pela primeira vez na sua forma sólida em pedras de vesícula biliar, em 1784. Saiba mais! Componente essencial das membranas celulares: O colesterol é necessário para construir e manter as membranas celulares; regula a fluidez da membrana em diversas faixas de temperatura. Saiba mais! Mulheres são mais propensas de desenvolverem cardiopatias no período da menopausa em virtude do excesso de colesterol presente em seu sangue que não é mais convertido em hormônios. Saiba mais! Quando há uma redução de colesterol oriundo da dieta, o organismo tenta uma maneira de compensar essa carência aumentan- do a biossíntese. Esse é um dos motivos da dificuldade existente em reduzir as taxas sanguíneas de colesterol apenas com regime. Saiba mais! Excesso de colesterol no sangue, em longo prazo, causa a formação de placas ateromatosas, resultando em aumento da pressão sanguínea (estreitamento das artérias, reduzindo a habilidade de dilatação do vaso) e formação de coágulos (infarto do miocárdio e derrame). Metabolismo dos Lipídios 19 Figura 6: Síntese de colesterol e vias relacionadas. A via de síntese de colesterol é também fonte de origem de compostos que participam de variadas funções celulares. Estas estão evidenciadas nas caixas laranja. Síntese de colesterol. Fonte: Autoria própria Metabolismo dos Lipídios 20 Figura 7: Biossíntese do ácido mevalônico. Síntese de colesterol. Fonte: Autoria própria Metabolismo dos Lipídios 21 Figura 8: Biossíntese do farnesil pirofosfato. O farnesil pirofosfato é composto por três unidades iso- preno. Note que as unidades isopreno podem ser derivadas para o desvio trans-metilglutaconato, que “recupera” o HMG-CoA (ver texto para mais detalhes). ADP, adenosina difosfato. Síntese de colesterol. Fonte: Autoria própria Metabolismo dos Lipídios 22 Figura 9: Biossíntese de esqualeno. O esqualeno, uma molécula ainda linear, resulta da condensação de duas moléculas de farnesil pirofosfato. As seis ligações duplas permitem que a estrutura se dobre em um anel idêntico ao núcleo esteroide . Síntese de colesterol. Fonte: Autoria própria Metabolismo dos Lipídios 23 Figura 10: Estágios finais da biossíntese do colesterol. Estas reações ocorrem enquanto ligadas às proteínas de ligação do esqualeno e esteróis. FAD, flavina adenina dinucleotídio; NADH, nicotinamida adenina dinucleotídio reduzida. Fonte: Autoria própria Metabolismo dos Lipídios 24 6.METABOLISMO DOS LIPÍDIOS: ESTEROIDES O colesterol consiste no esteroide mais abundante no tecido humano, é impor- tante nas membranas celulares e é o precursor dos ácidos biliares e de todos os hormônios esteroides, incluindo a vitamina D, que é sintetizada na pele a partir do 7-deidrocolesterol. Os hormônios esteroides são sintetizados a partir do coleste- rol depois que ele é convertido em pregnenolona. As deficiências nas enzimas que convertem a progesterona em outros hormônios esteroides produzem a síndrome adrenogenital (hiperplasia adrenal congênita) em virtude da interrupção do feedback hipotálamo-hipofisário normal. A da síntese de hormônios esteroides a partir do co- lesterol ocorre no córtex adrenal. A camada externa do córtex, a zona glomerulosa, sintetiza mineralocorticoides, por exemplo, aldosterona; a zona fasciculada média sintetiza glicocorticoides, por exemplo, cortisol; e a zona reticular interna sinteti- za hormônios sexuais (por exemplo, androstenediona, testosterona). A síntese de hormônios esteroides começa com a clivagem da cadeia lateral do colesterol para produzir pregnenolona, o precursor C21 de todos os hormônios esteroides. O ACTH estimula a conversão do colesterol em pregnenolona no córtex adrenal. As hidroxi- lases do citocromo P450 (oxidases de função mista) catalisam a adição de grupos hidroxila em reações que usam O2 e NADPH. Se liga! Outras hidroxilases do citocromo P450 também atuam na desintoxicação de muitas drogas no fígado. Os hormônios esteroides no córtex adrenal contêm 21 (C21), 19 (C19) ou 18 (C18) átomos de carbono. A progesterona (C21) é sintetizada a partir da pregnenolona. A progesterona estimula o desenvolvimento das mamas, ajuda a manter a gravidez e ajuda a regular o ciclo menstrual. Os glicocorticoides (C21) são sintetizados na zona fasciculada. O cortisol promove a glicogenólise e a gliconeogênese em jejum e tem uma relação de retroalimentação negativa com o ACTH. Já os mineralocorticoides (C21) são sintetizados na zona glomerulosa. A aldosterona atua nos túbulos distais e coletores dos rins promovendo a reabsorção de sódio e a excreção de potássio e prótons. A angiotensina II estimula a conversão da corticosterona em aldosterona. É importante ressaltar que a 11-desoxicorticosterona e corticosterona são minera- locorticoides fracos d. Os andrógenos (C19) são sintetizados na zona reticular. Os 17-cetosteroides, dehidroepiandrosterona (DHEA) e androstenediona, são andróge- nos fracos. A testosterona é responsável pelo desenvolvimento das características Metabolismo dos Lipídios 25 sexuais secundárias nos homens. A mesma é convertida em dihidrotestosterona pe- la 5 α-redutase e em estradiol pela aromatase nos tecidos periféricos (por exemplo,próstata). Os estrogênios (C18) são sintetizados na zona reticular. O estradiol é res- ponsável pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias femininas e pela fase proliferativa do ciclo menstrual. São derivados da conversão de testostero- na em estradiol pela aromatase nas células da granulosa do folículo em desenvolvi- mento. Por fim, os ovários e testículos contêm apenas a enzima 17 α-hidroxilase, que favorece a conversão da progesterona em 17-cetosteróides, testosterona, 17-hidro- xiprogesterona e estrogênio (por meio de aromatização). A síndrome adrenogenital (hiperplasia adrenal congênita), é um grupo de distúrbios autossômicos recessivos associados a deficiências de enzimas envolvidas na síntese de hormônios esteroi- des adrenais a partir do colesterol. A diminuição da produção de cortisol em todos os tipos de síndromes adrenogenitais causa um aumento compensatório na secre- ção de ACTH e subsequente hiperplasia adrenal bilateral. As deficiências enzimá- ticas resultam em um aumento nos compostos próximos ao bloqueio enzimático; os compostos distais ao bloco são diminuídos. A deficiência de 21 α-hidroxilase, o tipo mais comum de síndrome adrenogenital, exibe características clínicas variáveis dependendo da extensão da deficiência enzimática. Casos menos graves são mar- cados apenas por masculinização em razão do aumento da produção de andróge- nos (ou seja, 17-cetosteroides e testosterona). Os casos mais graves também estão associados à deficiência de mineralocorticoides, levando à perda de sódio e, se não tratada, depleção de volume com risco de vida e choque. Os 17-hidroxiesteróides também estão diminuídos. A deficiência de 11 β-hidroxilase é marcada pela retenção de sal (aumento de 11-desoxicorticosterona), levando à hipertensão, masculinização (aumento de 17-cetosteroides e testosterona) e aumento de 11-desoxicortisol, um 17-hidroxicorticóide. A deficiência de 17 α-hidroxilase é marcada pelo aumento da produção de mineralocorticoides (hipertensão) e diminuição da produção de 17-ce- tosteróides e 17-hidroxicorticóides. Em resumo, todos os esteroides derivam de pregnenolona; e a pregnenolona é derivada do colesterol. A zona fasciculata é responsável pela síntese de glicocor- ticoides (por exemplo, cortisol). Já a zona glomerulosa pela síntese de mineralo- corticoides (por exemplo, aldosterona). É importante destacar que a Angiotensina II estimula a conversão de corticosterona em aldosterona. Por fim, a zona reticula realiza a síntese de hormônios sexuais (por exemplo, androstenediona, testostero- na, estrogênio). O estradiol provém da conversão de testosterona em estradiol pela aromatase nas células da granulosa do folículo em desenvolvimento. A síndrome adrenogenital exibe acúmulo de esteroides intermediários antes do bloqueio; pode- mos também observar a deficiência de intermediários após o bloqueio. A deficiência de 21 α-hidroxilase promove perda de sal. É a causa mais comum de síndrome adre- nogenital. A deficiência de 11 β-hidroxilase também há retenção de sal e pode levar à hipertensão arterial. Na deficiência de 17-hidroxilase também podemos visualizar Metabolismo dos Lipídios 26 retenção de sal, que leva à hipertensão, e diminuição de 17-hidroxicorticóides e cetosteroides. Figura 11: Via biossintética de esteroides. Note como a via se ramifica a partir do colesterol, levando, eventualmente, à síntese de mineralocorticoides (por exemplo, aldosterona), glicocorticoides (corti- sol), androgênios (testosterona) e estrogênios (estradiol). DHEA, dehidroepiandrosterona. Fonte: Autoria própria Metabolismo dos Lipídios 27 MAPA: RESUMO METABOLISMO DOS LIPÍDEOS METABOLISMO DOS LIPÍDEOSLipídeos Esteroides Triacilglicerol Ácidos graxos Relevância clinica Má cicatrização de feridas Dermatite Ácidos graxos Glicerol Síntese no citoplasma β-Oxidação na mitocôndria 7 Etapas Mobilizados Etapa 3 regulada Lipólise Lipase sensível a hormônio Jejum Epinefrina Insulina Norepinefrina Glicorticoides Estimula ColesterolHMG CoA redutase Estatinas Diminuem Síntese da coenzima Q Problemas Músculos Colesterol Colesterol Limitadora Pregne- nolona Todos derivam Suprarrenal Zona reticular Zona glomerulosa Zona fasciculada Hormônios sexuais Mineralo- corticoides Glicocorticoides Aldosterona Corticosterona Angiotensina II Cortisol Insaturados Excessivo Cadeia impar Cadeia impar β-oxidação Metilmalonil CoA Succinil CoA Propionil CoA Corpos cetônicos pPoupam glicose Fígado Acetoacetato Acetona Hidroxibutirato Cérebro Acetil-CoA Combustíveis Deficiência de carnitina Fígado gordo Acil-CoA desidrogenase Impossibilidade Todos Ácidos graxos Cadeia longa Adrenoleucodistrofia Hipoglicemia Músculo Esquelético Cardíaco Metabolismo dos Lipídios 28 REFERÊNCIAS AREAS, A. P. (org.). Bioquímica humana. São Paulo: Pearson, 2014. BÁSICA, Bibliografia; COMPLEMENTAR, Bibliografia. BIOQUÍMICA I. Porto Alegre: Artmed, 2001. BAYNES, J.; DOMINICZAK, M. H. Bioquímica médica. São Paulo: Manole, 2000. CONN, E. E.; STUMPF, P. K. Introdução à bioquímica. São Paulo: Editora Edgard Blucher, 2017. HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. Tradução André Krumel Portella et al. 5. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2012. HONG, Yuh Ching. Bioquímica clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2014. MORAN, L. A.; HORTON, H. R.; SCRIMGEOUR, K. G.; PERRY, M. D. Bioquímica. 5. ed. São Paulo: Pearson: 2013. NELSON, David L. Princípios de bioquímica de Lehninger. [Coordenação da tradução de] Ana Beatriz Gorini da Veiga et al. 6. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2014. VOET, D.; VOET, Judith G.; PRATT, C. W. Fundamentos de bioquímica: a vida em nível molecular. 4. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2014. sanarflix.com.br Copyright © SanarFlix. Todos os direitos reservados. 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